1ª edição

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sum?rio

Pref?cio: Hebe e eu................................................................................ 7 CAP?TULO 1: "Voc?s v?o me massacrar"................................................... 13 CAP?TULO 2: "Uma fam?lia muito pobre, mas alegre".................................. 28 Cap?tulo 3: "Foi um amor que parecia um inferno".................................. 45 Cap?tulo 4: "Adeus, meu amor, Serafim"................................................. 63 Cap?tulo 5: "?s vezes, me meto em cada aperto..."................................ 80 Cap?tulo 6: "Meu sucesso crescia a cada dia"......................................... 98 Cap?tulo 7: "E o Agnaldo?"..................................................................... 117 Cap?tulo 8: "N?s queremos e podemos"................................................. 127 Cap?tulo 9: "Se tocarem uma m?sica de que eu goste..."....................... 145 Cap?tulo 10: "Eu estava ficando Am?lia demais"..................................... 160 Cap?tulo 11: "Queridinho, eu tenho que descer uma escada"................. 176 Cap?tulo 12: "Precisamos de vergonha na cara"..................................... 192 Cap?tulo 13: "Xuxa, eu sou voc? amanh?".............................................. 205 Cap?tulo 14: "Nunca consegui ganhar tanto dinheiro"............................. 218 Cap?tulo 15: "? dif?cil ter apenas um cora??o"......................................... 232 Posf?cio: Eu e Hebe................................................................................ 253 Agradecimentos............................................................................................. 259 Mensagem de Marcello Camargo a sua m?e.................................................. 261 Mensagem de Claudio Pessutti a sua tia Hebe............................................... 263

PREF?CIO

HEBE E EU

M inha av? materna, dona Candoca, foi quem me apresentou a Hebe Camargo. Era ela, a minha av?, quem controlava o seletor de canais da modern?ssima TV importada de 18 polegadas que tinha lugar de destaque na sala de visitas do apartamento em Copacabana. E era para l? que eu ia, quase todo dia, depois da aula. Eram tr?s os canais. No canal 6, a TV Tupi, parte da fam?lia gostava de assistir ao Rep?rter Esso e ao Grande Teatro de Sergio Britto. O canal 13, da TV Rio, exibia meus programas favoritos, quase todos shows humor?sticos, como Noites Cariocas e O Riso ? o Limite. Ao 9, a TV Continental, ningu?m assistia. Quer dizer, quase ningu?m. Pelo menos uma vez por semana, minha av? sintonizava o menosprezado canal 9. Era quando ia ao ar o programa da Hebe Camargo.

N?o era dif?cil entender por que ela gostava tanto da Hebe. Dona Candoca era leitora ass?dua da Revista do R?dio, mas rejeitava os cantores populares, que considerava vulgares. Nada

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hebe

de Marlene ou Emilinha Borba, ou qualquer outra cantora que fosse presen?a constante na R?dio Nacional, celeiro de artistas que mobilizavam f?-clubes. Na Nacional, sua ?nica concess?o eram as novelas. Ouvia todas. Dona Candoca era uma sonhadora. E Hebe Camargo cumpria as exig?ncias que ela impunha para quem considerava uma boa cantora. Elegante, refinada e rom?ntica, cantava contracenando com um bot?o de rosa vermelho. N?o sei por que eu achava que a rosa era vermelha. Afinal, a TV era em preto e branco.

Eu me lembro de um Natal em que os netos fizeram uma vaquinha para comprar um presente para dona Candoca. O que ela mais gostaria de ganhar? Um disco da Hebe, ? claro. Entregue e desembrulhado o presente, uma das m?sicas do LP logo se destacou no repert?rio: "Quem ??", de Osmar Navarro e Oldemar Magalh?es.

Quem ? que lhe cobre de beijos Satisfaz seus desejos E que muito lhe quer Quem ??

Durante muito tempo, a Hebe cantando "Quem ??" ocupou o primeiro lugar no hit parade daquela casa. Minha av? adorava. E, agora, confesso: eu tamb?m.

N?o muito depois daquele Natal, me mudei do Rio com meus pais e descobri que a TV podia oferecer mais op??es que os tr?s canais cariocas. Em S?o Paulo, eram cinco as esta??es. Eu via o S?tio do Picapau Amarelo na Cultura, o programa da Bibi Ferreira na Excelsior, o Grande Show Uni?o na Record, os

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Pref?cio

teleteatros do TV de Vanguarda e do TV de Com?dia na Tupi. Al?m disso, quase todo dia tinha algum programa da Hebe na TV Paulista. Ela era uma estrela absoluta em S?o Paulo. Era dif?cil, no hor?rio nobre, girar o seletor de canais e n?o esbarrar em algum show apresentado por ela. Descobri um jeito de matar as saudades da televis?o carioca, do Rio e da minha av?: assistindo aos programas de Hebe na TV Paulista.

N?s ainda mor?vamos na capital paulista quando Hebe se casou e largou a carreira. Foi uma como??o, refletida nas muitas p?ginas de jornais e revistas que cobriram a cerim?nia de casamento com D?cio Capuano, o nascimento do filho do casal, Marcello, o cotidiano de dona de casa que ela abra?ava e as muitas especula??es sobre sua volta ? vida art?stica.

S? vi alvoro?o maior quando Hebe voltou de verdade e estreou na TV Record. Antes de a Globo lan?ar o Fant?stico, era Hebe o programa que dominava o hor?rio nobre aos domingos. O sof? no palco do Teatro Record no qual a mais querida apresentadora do Brasil recebia seus convidados virou uma institui??o nacional. Ningu?m tinha prest?gio suficiente neste pa?s se n?o se sentasse ali para ser entrevistado. O programa na Record durou oito anos, e, depois dele, Hebe afastou-se de novo da televis?o.

Nesse per?odo, eu voltei para o Rio, formei-me em jornalismo e deixei Hebe de lado. At? receber, como rep?rter da sucursal carioca da revista Veja, a pauta que me reaproximaria dela: cobrir sua estreia na TV Bandeirantes. Hebe retornava ? televis?o mais uma vez, e eu fui enviado para S?o Paulo a fim de entrevist?-la -- al?m de assistir ao primeiro programa na nova emissora, naturalmente. Fui recebido na famosa casa do Morumbi onde ela morava com o segundo marido, o empres?rio L?lio Ravagnani.

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Me senti honrado. N?o era qualquer um que se sentava no sof? de Hebe -- e era o sof? da sua sala de estar, n?o uma pe?a de cenografia! Mas, acredite, quem parecia honrada era ela. E a estrela n?o entendia por que a Veja, "uma revista s?ria", estava interessada no seu regresso ? TV. "Isso ? assunto?", me perguntou. "Claro que ?", respondi. "Voc? ? a Hebe Camargo."

Depois disso, eu s? via Hebe na telinha. De vez em quando ela era citada em uma ou outra nota na coluna que mantive no Jornal do Brasil e ainda mantenho no Globo. At? o dia em que ela me achou, por telefone, no estacionamento de um shopping center no Rio. J? estava doente. Tinha passado um tempo afastada do hor?rio nobre -- agora no SBT -- para cuidar da sa?de, mas uma semana antes do telefonema havia retomado as atividades. Foi um programa emocionante, que celebrou a sua volta ? TV. Amigos na plateia, amigos no palco, todo mundo queria mostrar ? Hebe o quanto ela era querida. E foi sobre esse sentimento que eu escrevi na minha coluna daquela semana. A TV e a Hebe viveram um casamento perfeito por mais de sessenta anos. Sem a Hebe, a TV tinha ficado sem gra?a. Com ela de volta, a televis?o fazia sentido novamente.

Pois ali, no estacionamento do shopping, o celular tocou e algu?m me disse que Hebe Camargo queria falar comigo. Fiquei paralisado. Era ela mesma do outro lado da linha. Queria agradecer pelo que eu tinha escrito na coluna. Me deu vontade de chorar. Chorei. Ali, no estacionamento do shopping, imaginei quantos elogios, quantas homenagens a Hebe j? tinha recebido, e mesmo assim ainda se dava ao trabalho de telefonar para agradecer ?quele que talvez tenha sido o menos importante dos elogios, a mais singela das homenagens. Querendo mostrar a

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intimidade que tinha com ela, falei da minha av?, do programa da TV Continental, do disco que n?s, os netos, compramos, da minha can??o preferida... No fim, cantamos em dueto "Quem ??". Eu n?o podia v?-la, mas tenho certeza de que a Hebe estava segurando a gargalhada diante de minha desafina??o.

Voltamos a nos ver quando ela recebeu o pr?mio Faz Diferen?a, do jornal O Globo, em uma festa no hotel Copacabana Palace. N?o nos falamos, pois era dif?cil chegar perto dela. Era a mais requisitada de todos os premiados. Dos donos do jornal aos estagi?rios que cobriam a festa, todos queriam ficar perto dela. Eu n?o tive a menor chance. A certa altura da noite, trocamos olhares. Acho que foram olhares c?mplices e que, em pensamento, reprisamos nosso dueto cantando baixinho:

"Quem ? que lhe cobre de beijos?"

Quis o destino que eu encontrasse a Hebe mais uma vez, quando fui convidado para escrever sua biografia. Durante um ano e meio convivi com ela, coletando dados para descrever a trajet?ria de uma personalidade esfuziante, que ajudou a contar a hist?ria da televis?o brasileira. Imposs?vel n?o lembrar todos os nossos encontros. Imposs?vel n?o lembrar minha av?.

Ah... e minha intui??o estava certa. Enquanto apurava informa??es para minha pesquisa, descobri que as flores preferidas da Hebe eram as rosas vermelhas, rosas da mesma cor que eu identificava no velho aparelho de TV em preto e branco da dona Candoca.

Que este livro seja um brinde, como os muitos com que ela celebrou a alegria de viver. "? vida", ela costumava dizer enquanto batia ta?as de champanhe. Com este livro, eu brindo com a Hebe: ? vida!

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CAP?TULO 1

"Voc?s v?o me massacrar"

J ? estava tudo pronto no est?dio principal da TV Cultura, em S?o Paulo. Era a noite de 17 de agosto de 1987, uma segunda-feira. A arena de dois andares estava montada. O cartunista Paulo Caruso aguardava em seu posto a hora de registrar as express?es da entrevistada e dos entrevistadores. Luz ajustada, c?meras posicionadas. Os jornalistas convidados para fazer as perguntas j? ocupavam seus lugares. Como era h?bito na ?poca, mesmo em est?dios de TV, cada entrevistador tinha um cinzeiro ? sua frente. Quase todos j? tinham posicionado seus ma?os de cigarro num lugar de f?cil acesso. Ali estavam Boris Casoy, da Folha de S.Paulo, Giba Um, da Folha da Tarde, o escritor Ruy Castro, Ricardo Kotscho, do Jornal do Brasil, Jos? Roberto Paladino, da revista Afinal, Ot?vio Mesquita, da TV Manchete, e Le?o Lobo, tamb?m da Folha da Tarde. Quando o jornalista Augusto Nunes, apresentador do programa, entrou em cena, logo percebeu que nem tudo estava t?o pronto assim.

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