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AS LISTAS NAS AULAS DE L?NGUA PORTUGUESANílvia PantaleoniIntrodu??oO assunto que me interessa e que me proponho a tratar neste capítulo desta obra dedicada a aplica??es das teorias do texto e da escrita a práticas de ensino de língua portuguesa nas últimas séries do Ensino Fundamental s?o as listas. Praticamente, n?o encontrei pesquisas relacionadas a elas. Por isso a minha aparente indecis?o inicial. Mas, decididamente, quero tratar das listas, das enumera??es de todos os tipos que recebem etiquetas como: lista telef?nica, lista de espera, cardápio, rol, catálogo, inventário, sumário, índice. A lista dos tipos de “lista” é extensíssima. Meu primeiro argumento a favor das listas em sala de aula é um argumento de autoridade. Lista é um gênero textual empregado desde a mais remota antiguidade. Ainda em defesa da lista, recorro aos PCN. O negrito na cita??o destaca a “lista”. Um texto n?o se define por sua extens?o. O nome que assina um desenho, a lista do que deve ser comprado, um conto ou um romance, todos s?o textos. A palavra “pare”, pintada no asfalto em um cruzamento, é um texto cuja extens?o é a de uma palavra. O mesmo “pare”, numa lista de palavras come?adas com “p”, proposta pelo professor, n?o é nem um texto nem parte de um texto, pois n?o se insere em nenhuma situa??o comunicativa de fato. (PCN. Primeiro e Segundo Ciclos: Língua Portuguesa, 1998:29)Para confirmar minha escolha, recorro novamente aos PCN que enfatizam os textos que caracterizam os usos públicos da linguagem:Sem negar a import?ncia dos textos que respondem a exigências das situa??es privadas de interlocu??o, em fun??o dos compromissos de assegurar ao aluno o exercício pleno da cidadania, é preciso que as situa??es escolares de ensino de Língua Portuguesa priorizem os textos que caracterizam os usos públicos da linguagem. Os textos a serem selecionados s?o aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflex?o crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a frui??o estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participa??o numa sociedade letrada. (PCN. Terceiro e Quarto Ciclos: Língua Portuguesa, 1998:24)Finalizo minha introdu??o-justificativa, parafraseando as orienta??es dadas aos avaliadores das cole??es de livros didáticos de Língua Portuguesa, edi??o de 2014, pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Uma exigência ao tratamento que os autores devem dar à produ??o escrita refere-se à plausibilidade. As propostas de produ??o escrita n?o podem deixar de considerar a escrita como uma prática socialmente situada, propondo ao aluno condi??es plausíveis de produ??o do texto. O que é mais admitido, aceito e razoável que uma lista?1. A profus?o de listasAcredito que o gênero textual escrito que tenha mais circula??o atualmente seja a lista. Além de atualíssimas, elas, as listas, existem há muitos séculos. Provavelmente, as primeiras tabuletas de argila na antiga Babil?nia serviram de suporte para os códigos em forma de listas enumerativas que forneciam a base das leis e para as listas de bens e mercadorias que circulavam para a garantia da posse dos ricos comerciantes. Mais adiante, proponho uma atividade de produ??o textual que parte de uma lista de solu??es para a falta de dinheiro criadas pelo Homem Mais Rico da Babil?nia.A fun??o básica das listas escritas é mnem?nica. Na verdade, também elaboramos e reelaboramos incessantemente listas mentais. Seu papel parece ser o de organizar nossos espa?os mentais, numa incessante mudan?a da hierarquiza??o que fazemos de nossas necessidades. Um anseio que sempre nos persegue é de estabelecer e organizar prioridades. O interessante é que a lista que representa um acúmulo tende à elimina??o item por item e só ficamos satisfeitos quando ela é totalmente finalizada. Em muitos casos, a elimina??o do último item da lista coincide com a finaliza??o de um trabalho, de um projeto, de uma atividade qualquer. E a sensa??o é de alívio.Existem listas que s?o perenes, outras que s?o descartáveis; existem listas curtas e listas intermináveis. Existem listas de palavras e listas de enunciados. As palavras, mesmo dispostas verticalmente – que é sua fei??o mais comum – guardam entre si uma coerência clara porque toda lista que se preze é pragmática, utilitária e seu contexto preenche e transborda seus limites. No dia a dia, duas listas sobressaem: a lista de tarefas e a lista de compras. Parecem simples, mas n?o s?o. As duas s?o exemplos da exigência de um princípio que as rege e de uma estrutura visível. O princípio é o da necessidade e a estrutura é vertical. Mais um motivo para confirmar que a lista, qualquer que seja, n?o é um amontoado de palavras sem nexo. Por menos índices visíveis que apresentem, toda lista que se preze tem coes?o e coerência.Quando a secretaria da escola elabora as listas com os nomes dos alunos de cada turma, de cada ano, de cada curso, ela emprega princípios de organiza??o tanto da forma quanto do conteúdo. Esses princípios s?o materializados em critérios. Por exemplo, a lista de uma turma deve seguir a ordem alfabética; a lista deve ter entre 30 e 40 nomes; a lista n?o pode incluir nomes de irm?os; e por aí v?o as exigências. ? claro que atualmente é possível alimentar um programa de computador com os dados de todos os alunos para gerar essas listas. O professor, no entanto, quando as recebe, pode ter uma surpresa desagradável ao ver que dois ou três alunos que deveriam ficar em turmas diferentes est?o juntos prometendo dissabores, pois s?o potencialmente elementos perturbadores das aulas. ? verdade! N?o existe lista perfeita!? enorme a extens?o dos tipos de listas que circulam nas diversas esferas. Como exemplo, só na esfera do poder judiciário existem listas extensíssimas de precatórios, processos penais, processos civis. Os próprios códigos e toda produ??o escrita impressa, nessa e em outras esferas, se organizam por meio de sumários e índices, ou seja, por meio de listas. A lista mais extensa que existe é a lista das palavras nos dicionários e nas enciclopédias. Tema para ser explorado em outra oportunidade.Mais uma esfera para ressaltar a import?ncia das listas: a científica. Todo saber científico se organiza por taxionomias, ou seja, por listas que distinguem e sistematizam a nomenclatura de grupos típicos dentro de um campo científico. A esfera burocrático-administrativa é a campe? das listas, e é preciso reconhecer que muitas delas n?o nos s?o simpáticas. Fugimos da lista de devedores do Serasa e sonhamos com a lista quase inatingível dos ganhadores dos prêmios da Loteria Federal.O princípio maior que rege as listas é o da sele??o. Mesmo as listas aparentemente aleatórias como os inventários que reúnem elementos díspares, selecionam. ? o princípio organizador da sele??o que garante a coerência das listas. E toda sele??o é situada, é contextualizada, é pragmática. Grandes poetas elaboraram poemas-inventários, poemas-listas. Manoel de Barros sirva de exemplo: O efeito-lista também está presente em muitas cr?nicas. O que se diz, de Drummond (1985:103), come?a assim: “Que frio! Que vento! Que calor ! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira!”?Ainda é preciso tratar do acervo e do catálogo. Acervo de acordo com o Houaiss significa grande quantidade, mont?o, acúmulo de coisas. Por extens?o, é o conjunto de bens que integram o patrim?nio de um indivíduo, de uma institui??o, de uma na??o. Pois bem, o grande bibliófilo brasileiro José Mindlin e sua mulher, Guita, doaram toda sua biblioteca para a USP que recebeu o nome de Biblioteca?Brasiliana Guita e José?Mindlin. No catálogo digital da BBM, constam cerca de 3.000 títulos disponíveis para livre acesso. O site disponibiliza diferentes tipos de materiais que abordam temas variados da história do Brasil. As cole??es de livros de literatura e de história, mapas, iconografias, e uma cole??o de periódicos dos séculos XIX e XX s?o particularmente significativos. Observem quantas coisas diferentes, mas interligadas existem neste acervo. O pesquisador pode consultar os livros no próprio site ou fazer o download. Basta consultar o catálogo. Aliás, catálogo é uma palavra de origem grega que significa lista ou fichário em que se relacionam, de maneira ordenada, os livros e documentos diversos de uma biblioteca.Para finalizar esta parte, trago pequenos trechos de um dos inventários que mais me emocionam. Encontrei o tomo I das Obras Poéticas de Cláudio Manoel da Costa no catálogo digital da BBM. Trata-se da lista dos bens do poeta inconfidente Cláudio Manoel da Costa que foram confiscados quando ele foi preso acusado de trai??o ao regime português. Alguns dias depois, o poeta aparece enforcado em sua cela. A seguir, a cópia fac-símile da capa do livro e um pequeno excerto do inventário dos bens sequestrados:As listas mais prosaicas n?o s?o menos importantes. Como você faz sua lista de compras de supermercado? Existem vários critérios. Por exemplo: Passear pelo c?modos da casa ou do apartamento e verificar o que acabou. Na cozinha, abrir os armários e a geladeira; no banheiro e na lavanderia, fazer a mesma coisa. Posso ter uma listinha previamente preparada onde vou ticando o que preciso e acrescentando novos itens. ? importante definir o que comprar, onde comprar e quanto gastar. Preocupa??es rotineiras de uma lista de compras. Outra lista famosa nos dias de hoje é a lista de presentes de casamento. Quem já n?o sentiu um frio na barriga ao clicar no(s) site(s) da(s) loja(s) escolhida(s) pelos noivos? Esta é uma lista de desejos para os convidados-gênios da l?mpada. Tudo isso que estou apontando para meus leitores é só aparentemente leviano, no entanto pode se transformar em atividades de reda??o bem interessantes para os alunos. As listas s?o ponto de partida ou ponto de chegada de muitas produ??es textuais individuais ou em grupo. Volto a tratar disso mais adiante. Antes, os conceitos para subsidiar as atividades que proponho na última parte deste capítulo.2. Intertextualidade, paráfrase e enumera??oO conceito de intertextualidade, como o próprio nome indica, diz respeito à rela??o que se estabelece entre textos. Se examino de perto, verifico que os textos mais antigos v?o sendo absorvidos e transformados em textos que se atualizam principalmente quanto ao estilo. S?o textos com novas roupagens, novos adere?os. Frequentemente, s?o textos menores que os que lhes deram origem. Os textos mais antigos s?o matrizes de outros textos mais recentes: os textos derivados. Textos literários exemplares s?o matrizes de muitos textos derivados. Quando me apodero desses textos para transformá-los em novos textos, estou empregando a paráfrase. Meserani trata de modo bem didático de dois tipos de paráfrase: a reprodutiva e a criativa.A paráfrase reprodutiva é a que traduz em outras palavras um outro texto, de modo quase literal. ? o que fa?o aqui ao tratar da paráfrase. N?o crio nada, baseio-me em Meserani que, por sua vez, baseou-se em Sant?Anna que certamente baseou-se em autores mais antigos, o que n?o lhe nega a autoria do texto. N?o posso ser criativa, posso ser enfática em alguns aspectos e reduzir e anular outros que n?o me interessam quando estou reproduzindo o texto de outros autores. O importante é que n?o deixo de citá-los. A paráfrase reprodutiva é uma atividade recorrente nas aulas de qualquer matéria na medida em que os alunos precisam fixar, expandir e sintetizar textos básicos passando a entendê-los de tal forma que os incorporam absorvendo defini??es, conceitos e estruturas, ferramentas básicas para a aquisi??o do conhecimento em qualquer área. Já, a paráfrase criativa é libertadora, ela ultrapassa os limites do texto original, matriz, e parte para voos próprios (rasantes ou de longo alcance) dependendo do parafraseador. Há paráfrases criativas maravilhosas e, muitas outras, a maioria, de valor passageiro. S?o exercícios cotidianos que todos fazemos. Ninguém resiste a parafrasear provérbios, por exemplo. O fundamental na paráfrase criativa é o desdobramento do texto matriz que se expande em novos significados em novos contextos, em novas situa??es comunicativas. A intertextualidade n?o pode ser confundida com a simples cópia, muito menos com o plágio. Antigamente, antes do advento da imprensa, existia a profiss?o de copista. O que se passava em sua cabe?a enquanto copiava os textos encomendados, n?o posso imaginar, mas é provável que a sua cópia, depois alguns exemplares feitos, se tornasse automática. Posso compará-lo à figura do antigo projetista de filmes que, depois de passar a fita dez vezes n?o prestava mais aten??o a ela, ficando sua mente ocupada com outros pensamentos. Hoje, mesmo n?o sendo copistas, temos a sensa??o de estarmos fadados à cópia, pois parece que tudo já foi dito, já foi escrito e temos o temor de, ao escrever, n?o estarmos sendo autênticos, pela nítida sensa??o de que alguém já disse aquilo que pretendemos expressar. ? aqui que entra a novamente a quest?o da intertextualidade, quer dizer, o que existe, na realidade, é que n?o podemos fugir de todo conhecimento de textos que fomos acumulando durante a vida. Quando nos dispomos a escrever sobre determinado assunto, tudo o que já lemos sobre ele é ativado por nossa memória, como se ela funcionasse como um grande hipertexto, ficando em sinal de alerta, e acabamos por dialogar com todos esses textos ao escrevermos o nosso.Vale ainda a pena tratar da paródia. Ela nada mais é do que a paráfrase brincalhona, irreverente, sem compromisso com a verdade, sempre relacionada com situa??es comunicativas recorrentes e conhecidas e com propósitos muitas vezes ferinos. O estilo de muitos jornalistas, além de parafrástico, é também entremeado de paródias. A paródia pode ser uma imita??o c?mica de uma composi??o literária como é o caso do soneto de Juó Bananere, pseud?nimo de Alexandre Marcondes Machado, que dialoga de modo bem humorado com o famoso soneto Via Láctea de Olavo Bilac.Finalmente, a enumera??o. ? forma de organiza??o das listas. Para a retórica clássica, a enumera??o é um recurso que consiste na adi??o de coisas relacionadas entre si. Quando as coisas enumeradas aparentemente n?o se relacionam, a enumera??o toma o nome de inventário. N?o existem pesquisas aprofundadas, na linguística textual, sobre a enumera??o. Já a linguística de base cognitiva reconhece dois tipos: enumera??o homogênea e enumera??o heterogênea. A enumera??o homogênea caracteriza-se por uma estrutura de três elementos e é recorrente principalmente na descri??o de seres e de coisas. Por exemplo: José, triste, cabisbaixo e com ar de poucos amigos, saiu do cinema e caminhou em dire??o do estacionamento quando foi abordado por dois desconhecidos.A enumera??o heterogênea caracteriza-se por uma estrutura com um número maior de elementos de diferentes classes. O inventário é uma enumera??o heterogênea. O Protocolo Vegetal, de Manoel de Barros e o Treslado do sequestro feito aos bens do doutor Cláudio Manoel da Costa s?o exemplos de enumera??es heterogêneas. Mesmo apresentando elementos de diferentes classes, as enumera??es heterogêneas têm sua coerência garantida, pois participam de campos sem?nticos organizados pelo autor e reconhecido pelos leitores. O início de um poema de Jacques Prévert serve de ilustra??o:Ainda existe o recurso da enumera??o na organiza??o dos textos. Esta, sim, é tratada pela linguística textual. Adam, em uma obra básica, trata dos organizadores enumerativos, classificando-os em aditivos: por exemplo, e, ou, também, assim como, ainda, igualmente, além disso; e marcadores de integra??o linear que abrem uma série: por exemplo, de um lado, inicialmente, primeiramente; que indicam a continuidade de uma série: por exemplo, em seguida, depois, em segundo lugar; e que fecham uma série: por exemplo, por outro lado, enfim, finalmente, concluindo, para terminar. As listas mais simples podem ser organizadas numericamente. ? o caso das listas com até dez partes. 1.2.3.4. Muitas vezes, s?o usados os ordinais. 1?. 2?. 3? Primeiro, Segundo, Terceiro. Nas listas mais simples, existe ainda a op??o pelas letras do alfabeto. a) b) c). E assim por diante. Existem modelos para as listas mais complicadas, como é o caso do sumário onde existem partes submetidas a partes maiores. A hierarquia entre as partes pode ser representada por números e letras. 1. 1.a 1.b 1.c 1d. 2. 2.a 2.b 2.c.Falta tratar das atividades com listas nas aulas de língua portuguesa. As propostas a seguir s?o de vários níveis de dificuldade. Mas todas s?o adequadas para as últimas séries do Ensino Fundamental.3. As listas nas aulas de língua portuguesaAs atividades de produ??o escrita com listas s?o simples e motivadoras. Na maioria das vezes, a lista é o ponto de partida, mas também pode ser o produto final da atividade. Entre tantas possibilidades destaco quatro: a lista do censo e o google; o poema-inventário e a paráfrase reprodutiva; sete solu??es, sete paráfrases reprodutivas e a paráfrase criativa; o diário e o conto policial.3.1 A lista do Censo e o GoogleTive a ideia da atividade quando pesquisava o site do PNLD. Eu procurava informa??es a respeito das orienta??es dadas pelos especialistas aos autores de livros didáticos a respeito das produ??es escritas. Esbarrei na página que trazia a lista das escolas estaduais de todas as cidades de todos os estados da federa??o. Fui levada a clicar no link SP, pois tive curiosidade em saber o número de escolas estaduais por cidade. Como existem cidades pequenas, médias, grandes e metrópoles, perdi-me na lista imensa, no formato Excel, do Censo de 2012 que elencava todas as cidades em ordem alfabética. Tomei a decis?o de levantar apenas as cidades que tivessem uma única escola estadual. A partir deste critério, comecei a ler, linha a linha os nomes das pequeninas cidades perdidas entre as outras. Isso já constituiu uma alegria, pois amo os nomes das cidades, acho fantástica a imagina??o dos habitantes que as denominaram. Quando cheguei à letra C, já tinha uma interessante lista com nomes variadíssimos. Só a pesquisa do léxico proporcionaria atividades interessantes. Cidades com nomes de elementos naturais, com nomes indígenas, com nomes de habitantes ilustres, tudo misturado. Uma atividade possível é a separa??o das cidades por tipos de nomes. Mas minha proposta aqui é outra.O professor apresenta este pequeno recorte do censo escolar (ver quadro a seguir) e prop?e que cada aluno selecione duas cidades da lista, preferencialmente, duas cidades das quais nunca tenha ouvido falar. Se os alunos preferirem (e, pela experiência que tenho, eles preferem), os nomes das cidades s?o sorteados.O passo seguinte fica condicionado à possibilidade de aula no laboratório de informática ou na casa do aluno que deve fazer uma visita virtual às duas cidades selecionadas usando o Google Mapas, na Internet. Os dados que o aluno achar interessantes das duas cidades servem de material para a primeira produ??o escrita: duas propagandas para divulgar o que cada cidade oferece para o turista, apesar de ser t?o pequena. A atividade pode se encerrar na aula seguinte com um “programa de televis?o” quando os alunos-apresentadores têm, em média, três minutos cada um para divulgar a cidade que achou mais interessante. ? claro que a ordem da apresenta??o das cidades deve ser pela ordem alfabética.Posso desdobrar a atividade em mais uma produ??o escrita. O aluno deve estabelecer uma rota entre as duas cidades que lhe coube. Para isso, volta a pesquisar, na Internet, a localiza??o das duas cidades, as possibilidades de locomo??o, as rodovias, as paradas, o tempo de viagem. Se, por sorte, lhe coube duas cidades vizinhas, ele pode trocar uma cidade com outro colega. Com o material da pesquisa, o aluno monta um roteiro de uma cidade a outra, descrevendo três momentos interessantes da viagem como, por exemplo, parques florestais, rios, sítios pitorescos, paradas para descanso, a situa??o da rodovia.Finalmente, posso combinar com o professor de geografia uma aula conjunta para se debater as vantagens e desvantagens da vida nas pequenas cidades do interior de S?o Paulo que os alunos pesquisaram.3.2 O poema-inventário e a paráfrase reprodutivaO texto acima, Talism?s, de Jorge Luís Borges, é um estranho poema que apresenta um inventário de elementos aparentemente díspares, numa enumera??o heterogênea. A sugest?o é a expans?o desse poema-inventário, ou seja, o aluno deve elaborar uma paráfrase reprodutiva, inserindo em cada verso a defini??o do elemento em quest?o. Para isso, duas obras de referência devem ser consultadas: o dicionário e a enciclopédia. No primeiro, os nomes comuns; no segundo, os nomes próprios.O passo seguinte é a leitura em voz alta, de cada verso expandido pelos alunos. Assim: o um aluno lê a expans?o que fez do primeiro verso; em seguida, o aluno que tiver feito uma expans?o diferente lê a sua expans?o do mesmo verso. Até que todos as expans?es de todos os versos sejam lidas e comentadas. Mais uma sugest?o. Partindo da suposi??o de que todos temos talism?s. O professor pode solicitar que seus alunos enumerem, em forma de lista, pelo menos sete talism?s, criando seu poema-inventário por meio de uma paráfrase criativa. 3.3 Sete solu??es, sete paráfrases reprodutivas e a paráfrase criativaHá alguns anos, encontrei um livro muito interessante que cuja história se situava na antiga Babil?nia. Nele, um rico homem dá conselhos financeiros aos seus contempor?neos. Numa determinada parte, ele apresenta sete solu??es para quem deseja enriquecer. Depois de apresentar cada uma das solu??es de modo injuntivo, o homem a ilustra com uma história e finaliza parafraseando a solu??o. Pensei: isso pode ser interessante para uma proposta de reda??o. Apesar de tudo se passar na Babil?nia, (ou justamente pelo fato de se passar num lugar distante no tempo e no espa?o e fazer parte do nosso imaginário) o que era verdadeiro há tantos séculos continua sendo verdade hoje. Esta atividade de produ??o de paráfrase criativa divide-se em duas partes. Na primeira, basta ler as sete solu??es e ligá-las às paráfrases reprodutivas correspondentes da coluna ao lado. Isso para que o aluno tenha condi??es de escolher, com mais seguran?a, duas solu??es e criar uma história, unindo as duas e provando que s?o solu??es efetivas. A história criada a partir das duas solu??es é uma paráfrase criativa. A seguir, o quadro com as sete solu??es. Se fossem seguidas, mudariam a vida de muita gente. Mas isso é outra história!3.4 O diário e o conto policialEsta é uma atividade mais adequada para o último ano do Ensino Fundamental. Já coloquei em prática esta proposta de produ??o escrita a partir de uma lista e garanto que, se o professor souber contar com a simpatia da classe para as atividades individuais e em grupo que comp?em a proposta, todos v?o tirar bastante proveito e se divertir muito. Em primeiro lugar, o professor vai propor uma li??o de casa inusitada para seus alunos na última aula da semana. Para tanto, ele entrega, em papel sulfite A4, frente e verso, um quadro parecido com este:FRENTEVERSOnome:..........................................................................HORAS?BADOHORADOMINGO88991010111112121313141415151616171718181919202021212222O professor combina o seguinte: todos devem durante o final de semana marcar com muita precis?o tudo o que fizeram, hora a hora. Quando duas coisas importantes acontecerem numa mesma hora, é preciso marcar as duas. Quando os alunos perguntarem o motivo, o professor diz que é preciso confiar nele e que na primeira aula da semana, quando eles entregarem a atividade, v?o entender o motivo. Em segundo lugar, na primeira aula da semana, o professor recolhe as listas das atividades do fim de semana. Assim que terminar, ele recorta o nome do aluno, coloca um código qualquer na tira com o nome e na folha com as listas. As listas ficam dessa forma sem identifica??o.Em terceiro lugar, (nesse momento os alunos já est?o curiosos) o professor pede para que os alunos formem grupos de quatro a cinco participantes. Ou ele mesmo estabelece os grupos. ? o momento de o professor apresentar a proposta. A produ??o em grupo de um conto policial em que acontece um crime misterioso que deverá ser solucionado por um detetive. Os suspeitos do crime s?o interrogados pelo detetive. Na última parte do conto, deve ser recriada a clássica cena das histórias policiais: todos os suspeitos reunidos numa sala na presen?a do detetive que revela quem é o criminoso. Apresentada a proposta, o professor, tomando o cuidado de n?o entregar as listas das atividades do fim de semana para os próprios participantes do grupo, faz a distribui??o das mesmas para os grupos, revelando que está entregando os interrogatórios dos suspeitos do crime que eles v?o criar e desvendar. ? preciso deixar claro que as listas que os alunos recebem s?o a base para a cria??o dos personagens suspeitos do crime e que, um deles, o criminoso, está mentindo quando diz ter feito tal coisa na hora do crime. Quer dizer que as listas s?o essenciais para a montagem do enredo do conto policial. A reda??o do conto demora algumas aulas. O professor, com a concord?ncia dos alunos, pode auxiliar na constru??o das cenas e dos personagens. Ele deve ficar atento principalmente em rela??o à verossimilhan?a. Finalmente, os contos s?o digitados, revisados pelos autores com a ajuda do professor e distribuídos para classe. A partir da socializa??o dos contos e a consequente descoberta de como as listas foram utilizadas, organiza-se uma discuss?o a respeito dos pontos fortes e dos pontos fracos da atividade.Considera??es FinaisEscrevi sobre um tema que considero fascinante. Muita coisa ainda dá para se tratar nas aulas de língua portuguesa (e também de outras disciplinas) a respeito das listas. ? evidente que lista é um nome genérico, é um hiper?nimo. Posso fazer uma lista de muitos de seus hip?nimos. Deixo isso por conta de cada um. Só espero ter contribuído com a lembran?a de um gênero t?o singelo, mas que pode ser o ponto de partida para muitas atividades de produ??o textual. Sua presen?a é t?o pervasiva que, nessa nova era digital, a lista impera na organiza??o hipertextual desses novos espa?os, ganhando novas configura??es reticulares que têm contribuído para o armazenamento, organiza??o e divulga??o das informa??es de todas as esferas de produ??o e de comunica??o do conhecimento. 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