Exercícios Sobre Contos

[Pages:6]Exerc?cios Sobre Contos

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes

Observe o fragmento abaixo de um conto de Clarice Lispector:

"Nas ?rvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no ch?o caro?os secos cheios de circunvolu??es, como pequenos c?rebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as ?guas. No tronco da ?rvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte n?o era o que pens?vamos. Ao mesmo tempo que imagin?rio ? era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas d?lias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudos, o abra?o era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega ? era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante. As ?rvores estavam carregadas, o mundo era t?o rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crian?as e homens grandes com fome, a n?usea subiu-lhe ? garganta, como se ela estivesse gr?vida e abandonada. A moral do jardim era outra. Agora que o cego a guiara at? ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vit?rias-r?gias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva n?o lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposi??o era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabe?a rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheio adocicado... O jardim era t?o bonito que ela teve medo do Inferno."

(LISPECTOR, C. Amor. La?os de fam?lia. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. P. 25)

1. A personagem Ana, uma dona de casa comum, tem um momento privilegiado de revela??o quando desce errado do ponto e acaba indo parar quase sem querer no Jardim Bot?nico. Neste momento, v?rias imagens v?o configurando um universo de sensa??es inesperadas em contato com uma natureza que sempre esteve no mesmo lugar.

Por que agora a percep??o desse mundo se torna diferente? a) Porque a autora refor?a a condi??o alienada da personagem. b) Porque a autora conduz a personagem a um conto-de-fadas onde apenas cabe a mentira de suas aspira??es pessoais. c) Porque a personagem consegue perceber uma verdade que estava escondida dentro dela mesma. d) Porque a personagem vive um momento psic?tico que pode lev?-la ao suic?dio. e) Porque a autora permite que a personagem desloque para o Jardim Bot?nico as suas aspira??es frustradas que apenas empobrecem aquele espa?o.

2. Quando o narrador descreve as percep??es da personagem e sequencia tr?s senten?as conclusivas de um estado de esp?rito (A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte n?o era o que pens?vamos), o verbo "ser" funciona como:

a) Uma valoriza??o da morte dentro dos padr?es habituais. b) Um modo de percep??o privilegiada do circuito natural dos fen?menos. c) Um modo de conclus?o falida e frustrante em rela??o ao sentido da vida.

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes

d) Uma natural condi??o de n?o se aceitar o fim das coisas. e) Uma impress?o equivocada quanto ao sentido pr?tico dos fen?menos.

3. Nas senten?as "Os troncos eram percorridos por parasitas folhudos, o abra?o era macio, colado. Como repulsa que precedesse uma entrega ? era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante", o travess?o encerra uma rela??o ?ntima com a natureza ao mesmo tempo assustadora, j? que ela:

a) Elimina qualquer possibilidade de compreens?o do seu papel naquele contexto. b) Estabelece uma dist?ncia do seu universo dom?stico, o que torna improv?vel qualquer

rela??o futura com a humanidade. c) Imprime aos poucos na sua personalidade uma repulsa por qualquer fen?meno que possa

vir tir?-la do seu acomodamento. d) Reprime a sua pr?pria natureza para dar condi??es de uma personalidade doentia se

manifestar, ?nica capaz de revelar a sua verdade. e) Consegue reunir em seu imagin?rio opostos que afirmam uma nova fase em sua vida.

4. Em "...o mundo era t?o rico que apodrecia.", a ant?tese revela uma extraordin?ria capacidade de percep??o da personagem porque:

a) Deduz aquele universo a uma compreens?o pobre da sua pr?pria din?mica de funcionamento.

b) Induz a um equ?voco em rela??o ao real valor dos fen?menos percebidos. c) Subentende a limita??o da heran?a do universo dom?stico da personagem que n?o

descola de qualquer poss?vel compreens?o fora dele. d) Revela a necessidade de compreens?o total do movimento das coisas que naquele

momento s? possa ser captado por meio de uma imagem figurada. e) Torna a personagem incapaz de futuramente compreender fora das imagens figuradas.

5. Quando a personagem pensa nas crian?as e nos homens grandes com fome, h? uma revers?o de perspectiva de sentimentos em rela??o ?quele universo que acaba lhe subindo uma n?usea na garganta e a moral do Jardim Bot?nico se torna outra. Depois de uma s?rie de novas percep??es espantosas, ela termina com uma senten?a terr?vel: "O jardim era t?o bonito que ela teve medo do Inferno."

Desta maneira, fica estabelecido no fragmento que a personagem ter? de: a) Aprender a conviver com os sobressaltos da sua sensibilidade est?tica e emocional. b) Suprimir qualquer coisa que saia fora do seu cotidiano. c) Se afastar de naturezas selvagens para n?o dar espa?o ao contradit?rio. d) Fugir de si mesma para poder se encontrar apenas no seu pl?cido ambiente dom?stico. e) Aprender a fingir uma vida que lhe afaste o mais poss?vel de tudo que lhe possa ser espantoso.

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes

Leia o texto, a seguir, extra?do do conto A hora e vez de Augusto Matraga, e responda ?s quest?es 6 a 8.

"J? Nh? Augusto, incans?vel, sem querer esperdi?ar detalhe, apalpava os bra?os do Epif?nio, mulato enorme, de musculatura embatumada, de bicipitalidade maci?a. E se voltava para o Juruminho, caboclo franzino, vivo no menor movimento, ?gil at? no manejo do garfo, que em sua m?o ia e vinha como agulha de coser:

? Voc?, compadre, est?-se vendo que deve de ser um corisco de chegador!... E o Juruminho, gostando. ? Chego at? em porco-espinho e em tatarana-rata, e em homem de vinte bra?os, com vinte foices para sarilhar!... Deito em ponta de chifre, durmo em ponta de faca, e amanhe?o em riba do meu colch?o!... Est? a? nosso chefe, que diga... E mais isto aqui... E mostrou a palma da m?o direita, lanhada de cicatrizes, de pegar punhais pelo pico, para desarmar gente em agress?o. Nh? Augusto se levantara, excitado: ? Opa! Oi-ai!... A gente botar voc?, mais voc?, de longe, com as clavinas... E voc? outro, a?, mais este compadre de cara s?ria, p'ra voltearem... E este companheirinho chegador, para chegar na frente, e n?o dizer at?-logo!... E depois chover sem chuva, com o pau escrevendo e lendo, e arma-de-fogo debulhando, e homem mudo gritando, e os do-lado-de-l? correndo e pedindo perd?o!...

Mas, a?, Nh? Augusto calou, com o peito cheio; tomou um ar de acanhamento; suspirou e perguntou: ? Mais galinha, um peda?o, amigo? ? 'Tou feito. ? E voc?, seu barra? ? Agradecido... 'Tou encalcado... 'Tou cheio at? ? tampa! Enquanto isso, seu Jo?ozinho Bem-Bem, de cabe?a entornada, n?o tirava os olhos de cima de Nh? Augusto. E Nh? Augusto, depois de servir a cacha?a, bebeu tamb?m, dois goles, e pediu uma das papoamarelo, para ver: ? N?o faz conta de balas, amigo? Isto ? arma que cursa longe... ? Pode gastar as ?ito. Experimenta naquele p?ssaro ali, na pitangueira... ? Deixa a cria??ozinha de Deus. Vou ver s? se corto o galho... Se errar, voc?s n?o reparem, porque faz tempo que eu n?o puxo dedo em gatilho... Fez fogo.

? M?o mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois... Ferrugem em bom ferro!"

(ROSA, J. G. Sagarana. 71.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.394-395.)

6. O trecho "? Voc?, compadre, est?-se vendo que deve de ser um corisco de chegador!..." pode ser substitu?do, sem preju?zo do sentido original, por

a) "? Voc?, parceiro, sem grande alarde, bem de mansinho, consegue tudo o que quer!...". b) "? Amigo, creio que voc? ? muito mais eficiente com o garfo do que com a faca!...". c) "? Amigo, pelo visto, voc? ? um caboclo muito bom de garfo!...". d) "? Companheiro, a julgar pelo que vejo, voc? deve ser muito ligeiro no ataque!...".

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes

e) "? Companheiro, est?-se vendo que voc? transforma tudo num verdadeiro cavalo de batalha!...".

7. A partir da leitura do texto, considere as afirmativas a seguir.

I. A passagem registra o momento que antecede a entrada de Nh? Augusto no bando de Jo?ozinho Bem-Bem, a convite do pr?prio chefe jagun?o. II. Apegado ao lema "P'ra o c?u eu vou, nem que seja a porrete!", Nh? Augusto tem, ao lado de Jo?ozinho Bem-Bem e seu bando, a oportunidade de ver seu lema concretizado. III. Os coment?rios de Nh? Augusto bem como sua familiaridade com "uma das papo-amarelo" caracterizam-no como um homem "bom de briga" aos olhos de Jo?ozinho Bem-Bem. IV. Por um dado momento, a presen?a de Jo?ozinho Bem-Bem e seu bando reacende, em Nh? Augusto, o antigo lado jagun?o, duramente combatido atrav?s da penit?ncia.

Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II s?o corretas. b) Somente as afirmativas I e IV s?o corretas. c) Somente as afirmativas III e IV s?o corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III s?o corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV s?o corretas.

8. Um dos aspectos distintivos de Jo?o Guimar?es Rosa ? seu trabalho laborioso com a linguagem. A esse respeito e com base no texto, considere as afirmativas a seguir.

I. O termo "bicipitalidade" ? um exemplo de neologismo. Colocado ao lado do adjetivo "maci?a", expressa a ideia da grande for?a muscular de Epif?nio. II. O trecho "com o pau escrevendo e lendo" constitui um exemplo de recria??o de um dito popular cujo sentido original ?: o n?o cumprimento do combinado ocasionar? puni??o. III. A express?o "Ferrugem em bom ferro!" caracteriza-se como uma constru??o po?tica que exprime, atrav?s dos termos "ferrugem" e "ferro", a falta de destreza do protagonista com a arma de fogo. IV. As express?es "chover sem chuva" e "homem mudo gritando" configuram-se como exemplos de inadequa??o vocabular, e seu uso revela o baixo n?vel cultural do protagonista.

Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II s?o corretas. b) Somente as afirmativas I e IV s?o corretas. c) Somente as afirmativas III e IV s?o corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III s?o corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV s?o corretas.

9. Leia a seguinte passagem de "A hora e a vez de Augusto Matraga": "O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, n?o trabalhando um nada e vivendo no estad?o. Mas, ele, tinham-no visto mourejar at? dentro da noite de Deus, quando havia luar claro.

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes

Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda nenhuma e nem nenhuma arma para ca?ar e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o ter?o ou os meses dos santos. Mas fugia ?s l?guas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de m sica que escuma tristezas no cora??o."

Sagarana. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1984, p.359.)

a) Identifique o casal que vive junto com o protagonista da narrativa. b) Explique o comportamento do protagonista no trecho acima, confrontando-o com sua trajet ria de vida. c) O que h? de contradit rio no descanso dominical a que o narrador se refere

Texto para as quest?es 10 e 11. Negrinha

"Negrinha era uma pobre ?rf? de sete anos. Preta? N?o; fusca, mulatinha escura, de cabelos ru?os e olhos assustados. Nascera na senzala, de m?e escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa n?o gostava de crian?as. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no c?u. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balan?o na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vig?rio, dando audi?ncias, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma ? "dama de grandes virtudes apost licas, esteio da religi?o e da moral", dizia o reverendo. ?tima, a dona In?cia. Mas n?o admitia choro de crian?a. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona In?cia era mestra na arte de judiar de crian?as. Vinha da escravid?o, fora senhora de escravos ? e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e zera ao regime novo ? essa indec?ncia de negro igual."

LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do s?culo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

10. A narrativa focaliza um momento hist?rico-social de valores contradit?rios. Essa contradi??o infere-se, no contexto, pela:

a) Falta de aproxima??o entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. b) Receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. c) Ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crian?as. d) Resist?ncia da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. e) Rejei??o aos criados por parte da senhora, que preferia trat?-los com castigos.

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

Material de apoio

Literatura

Professor: Diogo Mendes 11. Leia o fragmento do conto "Negrinha", de Monteiro Lobato, integrante da colet?nea Negrinha, e assinale o que for correto.

a) 1. Tendo em vista o fragmento acima, pode-se afirmar que uma das principais caracter?sticas do conto ? a ironia.

b) 2. A personagem dona In?cia ? constru?da a partir do contraste entre apar?ncia "excelente senhora", "dama de grandes virtudes apost licas") e ess?ncia "dona do mundo", "n?o admitia choro de crian?a"), conforme mostra o fragmento acima.

c) 4. Apesar de a personagem dona In?cia dar a impress?o de ser uma ex-senhora de escravos, cruel e autorit?ria, ela se mostra, em sua ess?ncia, sens?vel e preocupada com amenizar as dores alheias, como se pode inferir a partir desse fragmento.

d) 8. O conto ? narrado em primeira pessoa por um narrador testemunha, um agregado da casa de dona In?cia.

e) 16. Ao desnudar a imagem da "boa dona In?cia" como mulher desumana e s?dica, o conto p?e em evid?ncia a quest?o da apar?ncia versus ess?ncia. Do mesmo modo, eleva a figura de Negrinha ao desvendar-lhe a humanidade e a inoc?ncia, materializadas no simples desejo de ser crian?a.

Este conte?do pertence ao Descomplica. ? vedada a c?pia ou a reprodu??o n?o autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download