Animês



Anime: De Astro Boy a Pikachu: um balanço crítico da animação japonesa

Um olhar sobre os animes da gênese, nos anos 1910, aos dias de hoje: de Katsudô Shashin (1907) ao fenômeno Your Name, de 2017

Datas: 5, 6 e 7 de fevereiro, 19h

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Nos últimos dias de 2017 foram divulgadas no Japão as primeiras imagens de Boro, The Caterpillar, novo desenho animado do mestre Hayao Miyazaki, centrado na história de amor entre uma aranha e um inseto marinho. Quem estranhar o nome do realizador basta lembrar de A Viagem de Chihiro, ganhador do Oscar de animação de 2003 e do Urso de Ouro do Festival de Berlim. Há quem o classifique de Walt Disney do Oriente. Por isso, seu novíssimo exercício autoral mobiliza a mídia. As cenas divulgadas atiçaram não só o apetite dos fãs do animador, como os investimentos dos executivos nipônicos que faturam $ aos tubos, ano a ano, com animês. Neste sábado, estreia no circuito japonês um dos exemplares mais esperados do setor: Chuunibyou demo Koi ga Shitai! Movie: Take On Me, comédia fantástica de Tatsuya Ishihara (responsável pela franquia Air).

Tem um animê de prestígio entrando em cartaz na França esta semana, a partir de quarta: o desenho Fireworks, Should We See It From The Side Or The Bottom, dos diretores Akiyuki Shinbo e Nobuyuki Takeuchi. Foi um dos acontecimentos do último Festival de San Sebastián, na Espanha. Trata-se de uma chorosa versão de um telefilme de 1993, dirigido por Shunji Iwai, sobre um par romântico improvável e uma situação amorosa mais improvável ainda. Na trama animada, ambientada em uma cidade na qual fogos de artifício são lançados ao céu para celebrar os mínimos feitos do cotidiano, um guri que vive de limpar piscinas se apaixona por uma colega mais velha de sua escola. Ela não sabe disso, mas enxerga nele um amigo. Amigo com quem pode contar quando decide fugir de casa, por não concordar com o casamento de sua mãe com um novo homem. Na fuga, o garoto encontra um estranho artefato que, a cada contato com os rojões, permite que eles voltem no tempo. Teve gente chiando dos efeitos em 3D. Mas a direção de arte é um primor. E a trilha sonora ainda mais.

Filmes como Fireworks comprovam a vitalidade que os animês e as demais produções de animação da Ásia tiveram no ano passado. E isso começou cedo...

2017 ainda engatinhava quando o Festival de Berlim, cumprindo sua vocação ética de garimpar pérolas, trouxe da indústria audiovisual chinesa um inusitado (e provocativo) exemplar da animação local para adultos: Have a Nice Day (Hao Ji Le no original). Uma espécie de thriller criminal, com doses de humor, a produção foi exibida nas telonas da Alemanha em concurso pelo Urso de Ouro, deixando ali evidente fôlego que o cinema animado mais autoral da Ásia, feito para quem tem 18 ou mais, viria a ter no mundo. Uma da surpresas da Berlinale passada, o desenho em longa metragem dirigido por Liu Jian é uma espécie de Onde os Fracos Não Têm Vez no Sul da China, com a malícia e o niilismo político dos irmãos Coen. Mas o nome que Liu, um pintor e animador mais conhecido pelo filme Piercing I (2010), ouviu com mais frequência após a primeira projeção em terras germânicas foi Quentin Tarantino. A referência ao diretor de Pulp Fiction (1994) vem da aposta na cultura pop na criação de seus personagens marginais, a começar por um matador de aluguel fã de Rocky Balboa. Sua trama acompanha uma sucessão de equívocos entre uma série de pessoas que se apoderam de uma bolada pertencente a um gângster. Tudo começa quando um jovem surrupia o dinheiro para custear a cirurgia plástica de sua namorada. Na cola dele e da grana vão tipos estranhos como um assassino de aluguel apaixonado pelo herói boxeador de Stallone e um inventor que cria óculos infravermelhos e um martelo que atira. Óbvio que um projeto assim viria a angariar legiões de fãs. E com todos os méritos.

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Mas o sucesso do lado mais animado da China não ofuscou o principal veio de boas ideias do setor não live action do cinema asiático: os animês japoneses. De lá, veio o enredo mais surpreendente do ano: Your Name (Seu Nome, no Brasil). Desde a sci-fi Distrito 9 (2009) não se vê na indústria cinematográfica uma premissa tão original quanto a deste fenômeno animado de bilheteria está em trâmite para ser adaptado para Hollywood, via J.J. Abrams. Batizado de Kimi no na wa no original, o longa tem como diretor um existencialista: Makoto Shinkai. A arrecadação mundial da fita nas bilheterias foi de US$ 355, 2 milhões. Sua carreira nos EUA, num circuitinho diminuto, foi de US$ 5 milhões, fora os elogios que devorou na crítica. Exibido no Festival de San Sebastián, no norte da Espanha, em 2016, a produção levou o troféu de melhor animação no Festival de Sitges, evento catalão, encarado como um marco das narrativas fantásticas, no ano passado. Ganhou ainda láureas nas categorias melhor roteiro e melhor trilha sonora da Academia Japonesa (o equivalente nipônico da Academia de Hollywood). E, de quebra, o êxito no audiovisual abriu para o filme um veio quadinístico: um mangá inspirado na trama hoje vende como pão quente nas bancas da Ásia e nas brasileiras. A edição em português é da JBC.

Que enredo tão bom é esse? Bom... Your Name acompanha a história de amor, nunca realizada, entre a colegial do interior Mitshua e um jovem garçom de cidade grande, Taki. Ela acorda um dia no corpo dele. E ele, no corpo dela. Vivem experiências muito distintas: a melhor delas, é a passagem em que Mitshua, no corpo do guri, consegue atrair, com sua delicadeza feminina, a chefe dele, a quem o rapaz sempre tentou levar pra sair. Ele, por sua vez, aprende verdades sobre o modo de pensar das meninas. São situações assim que acabam aproximando os dois, até demais, abrindo a deixa para uma paixão. Ele resolve visitar a terra dela, para tentar uma relação. Mas há um problema: eles não lembram o nome um do outro, nunca... E vai surgir um desafio a mais: uma hecatombe natural, mas algo que parece estar fora da cronologia real. Será o Amor capaz de sobrepujar a Natureza?

Este par de filmes provou a fora que o cinema de animação tem na busca por histórias com frescor, com cheiro de inovação. A ideia deste curso é entender melhor este mercado a partir de sua história e de sua dinâmica de mercado, tendo como farol a viagem desses produtos animados planeta afora, assumindo como marco os 30 anos de Akira (1988), de Katsuhiro Otomo.

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Aula 1:

Formatos: kodomo (crianças), shōjo (garotas), shōnen (garotos) e hentai (erotismo)

Anatomias: Olhos grandes, androginia

Balanço histórico: Das primeiras experiências pictóricas dos anos 1910 até a chegada de Astro Boy, nos anos 1960: a Era Osamu Tezuka e a criação dos estúdios;

Aula 2:

Robotech e a linhagem dos meca

A linhagem autoral de Miyazaki e a fábrica de sonhos dos Estúdios Ghibli

Aula 3:

Intertextualidade entre quadrinhos (mangas) e animes;

Fenômenos de público no Brasil (Cavaleiros do Zodíaco, Zillion, Piratas do Espaço) e a importância da dublagem;

O caso Your Name.

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Bibliografia:

CORRAL, Juan Manuel. Hayao Miyazaki & Isao Takahata: Vida y Obra de los Cérebros de Studio Ghibli (Madri, Dólmen Editorial, 2016);

PINON, Matthieu & BUNEL, Philippe. Un Siècle d’Animation Japonaise (Paris, Ynnis, 2017);

PEREIRA, Paulo Gustavo. Animaq (SP, Matrix, 2010).

Rodrigo Fonseca, atual presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACC-RJ), é roteirista da TV Globo e resenhista titular do blog P de Pop do jornal O Estado de S. Paulo. Entrevista cineastas para os sites OMELETE e ALMANAQUE VIRTUAL. É autor de nove livros, entre os quais Como Era Triste a Chinesa de Godard e Renato Aragão: Do Ceará Para o Coração do Brasil.

Inscrições: cursos@.br

Mais informações: formigas@.br

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