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SOFIAJá tinham brincado muito, e agora estavam reunidos ao pé do poste, pensando numa coisa nova para fazer.Ainda era cedo, a noite apenas come?ara._ Vamos mexer com a Sofia? – prop?s um.Sofia era a dona do mercadinho_ a vítima predileta deles. Pintavam o sete com ela. Sofia assustava-se com nada, e isso os deliciava. Viviam assombrando-a: vozes estranhas chamando lá fora, e ninguém (estavam no telhado),caveira de mam?o verde com vela acesa dentro, capas, máscaras horrorosas, o caixote de livro que sumia, ratos, sapos, lagartixas aparecendo de repente, minha nossa!Quase desmaiava, dessa vez eu chamo o guarda, e tudo o que fazia era amea?ar os meninos, agitando o bra?o gordo:_ Eu vai contar bra seu pai, menino! Eu vai contar bra seu pai!Eles riam, alegres, distantes do bra?o dela._ Raledine baculé, pé de turco tem chulé!_ Moleques! Sembregonhas!_ Sofia quer gombra galinha de ra?a? Cadê os urubus que ocê comprou, hem Sofia? Cadê as galinhas de ra?a?Caíam na risada.Sofia queria correr, mal saía do lugar, gorda, pernas grossas, bra?os gordos, uma tonelada de gordura._ Ainda me pagam, lê! - gritava, enquanto os meninos se afastavam._ Praga - xingava, tornando a entrar no mercadinho, onde, no balc?o, ia encontrar um sapo morto._ Moleques.De vez em quando, havia trégua: o dia em que chegavam tomates. Vinham três, quatro caixotes. Os meninos apareciam, quietos, sérios. Ficavam por ali conversando, simulando indiferen?a. Sofia chegava até a porta, olhava para um lado da rua, para outro, espichava o pesco?o como se estivesse procurando alguém ( n?o procurava ninguém, sabiam),dava uma cuspida no ch?o(sempre dava a cuspida).-Ei - falava, na sua voz grossa de homem, as m?os na cintura: - chegou tomate hoje.(Eles já sabiam, e ela sabia que eles já sabiam.)Displicentes:_ ??...Pouco depois estavam sentados em caixotes vazios, trapos na m?o, ágeis, limpando os tomates, pra quê que eles p?em esse pó? ? para conservar, separando os bons num caixote, os amassados noutro, jogando os podres no lixo, disputando quem limpava mais depressa. Sofia no meio deles, contando casos – de vez em quando uma exclama??o na língua dela: deve ser nome feio, pensavam -, dando gargalhadas, sacudindo-se toda, esquecida das brigas. ?s vezes, comia um tomate: enfiava-o inteiro na boca, as bochechas estufavam.Terminado o servi?o, ela fazia o pagamento: um saquinho de balas para cada um.Uma vez – era aniversário dela – limparam tomate das sete às dez da noite, até fechar o mercadinho.Na hora de pagar:_ N?o é nada n?o. Hoje, é aniversário da senhora...Sofia ficou olhando, a boca aberta. Foi falar, mas sua voz grossa de homem de repente ficou fina e sumiu, os olhos úmidos. Cada um deu um abra?o nela, estavam comovidos com suas lágrimas, ela querendo falar alguma coisa, mas nada, os lábios trêmulos, os olhos úmidos._ Vocês viram?_ Chorando ..._ Ela grita com a gente, mas ela é boazinha..._ ? pra gritar mesmo; do jeito que nós fazemos com ela... Eu vou falar: se fosse eu, n?o ficava assim n?o._ Eu também._ Ela fala que vai chamar o guarda, mas nunca chamou._ Nós judiamos dela._ Sabem, eu pensei uma coisa, n?o sei se vocês topam: a gente n?o mexer mais com ela. Quê que vocês acham?_ Eu topo._ Eu também._ Engra?ado, eu tinha pensado nisso também, mas fiquei com vergonha de falar._ Fazer um juramento: ninguém mais mexer com ela. Topam?Todos topavam. Um até quis contar para ela na hora._ N?o, deixa ela ir notando aos poucos: uê, os meninos est?o diferentes... Já pensaram o tanto que ela vai achar bom?_ Se vai...E, ali, no poste, todos de pé, fizeram o juramento._ Para sempre._ ?. Para sempre.Uma semana depois, a l?mpada da entrada do mercadinho sumia, uma perereca saltava de um saquinho de papel, um busca-pé estourava debaixo do balc?o, e Sofia agitava o bra?o gordo no passeio, enquanto eles corriam._ Moleques! Sembregonhas! Eu vai contar bra seu pai! Eu vai chamar o guarda!Um dia, Sofia adoeceu. Nunca mais tornaram a vê-la. Miguel, seu irm?o, é que passou a tomar conta do mercadinho. Com ele n?o mexiam: n?o tinha gra?a.E, um dia, Sofia morreu. Comentaram na cidade que ela morrera é de tanto comer. Contavam que o medico a mandava fazer regime e ela n?o obedecia; ela dizia:_ Sofia morre, mas morre de barriga cheia.( Vilela, Luiz. Contos da inf?ncia e da adolescência. S?o Paulo: ?tica,15-8.)01-O texto “Sofia” remete ao gênero:a-( ) cr?nica; b-( ) artigo de opini?o; c-( ) conto; d-( )reportagem02-Assinale (P) para aquilo que for pertinente ao texto e (NP) para aquilo que n?o for pertinente ao texto-discurso:a-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se a prática social do bullying por parte dos meninos;b- ( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se o discurso da necessidade premente do combate ao bullying;c-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se que a personagem Sofia n?o era vítima de bullying, pois até sentia ternura pelos meninos e eles, por ela.d-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se que os meninos n?o gostavam da personagem Sofia;f--( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se que os meninos dispunham de muito tempo livre e o gastava com atividades prazerosas;e-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se a prática social do preconceito linguístico por parte dos meninos, ao imitar o sotaque da personagem Sofia;f-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se a prática sócio-psicológica da bondade humana;g-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se o discurso do cuidado com a saúde física;h-( ) Na leitura do texto-discurso, depreende-se o discurso da compuls?o pela comida;03-No texto-discurso, percebe-se, como problemática central, uma prática social presente, no cotidiano. Qual seria essa prática:a-( ) a compuls?o pela comida; b-( ) a prática do bullying; c-( ) a obesidade; d-( ) os exercícios físicos.04-Leia o seguinte trecho e marque (V) ou (F) para interpreta??es abaixo:“... E, um dia, Sofia morreu. Comentaram na cidade que ela morrera é de tanto comer. Contavam que o médico a mandava fazer regime e ela n?o obedecia; ela dizia:_ Sofia morre, mas morre de barriga cheia.”a-( ) Percebe-se que a personagem Sofia tinha consciência de seu estado de saúde, mas nada fazia para mudá-lo, atitude que apressou a morte;b-( ) Percebe-se que a personagem Sofia priorizou a saúde física, ao invés do prazer que a comida proporcionava-lhe;c- ( )Percebe-se que a personagem Sofia fez uma escolha inteligente, ao optar pelo bem-estar moment?neo;d-( ) Percebe-se que a personagem Sofia mostrava-se displicente, uma vez que n?o ligava import?ncia às recomenda??es médicas;05- No trecho: ...”?s vezes, comia um tomate: enfiava-o inteiro na boca, as bochechas estufavam...” , a que ou a quem se referem as a??es sublinhadas acima?06-No trecho: ...”Sofia queria correr, mal saía do lugar, gorda, pernas gordas, bra?os gordos, uma tonelada de gordura...”, qual a explica??o mais adequada?a-( )os adjetivos destacados caracterizam-qualificam positivamente a personagem Sofia e ajudam o leitor e a leitora a construírem a imagem dela;b-( ) os adjetivos destacados caracterizam-qualificam negativamente a personagem Sofia e ajudam o leitor e a leitora a construírem a imagem dela;07-No trecho: “...Terminado o servi?o, ela fazia o pagamento: um saquinho de balas para cada um...”, o uso dos dois pontos indica:a-( ) a fala da personagem Sofia; b-( ) a informa??o sobre o que consistia o pagamento dos meninos; c-( ) uma pausa na fala da personagem; d-( ) um argumento da personagem Sofia08-No trecho: “... Com ele n?o mexiam: n?o tinha gra?a...” O uso dos dois pontos indica:a-( ) a fala dos meninos; b-( ) a indiferen?a do personagem Miguel, frente às brincadeiras dos meninos; c-( ) a causa por que os meninos n?o mexiam com o personagem Miguel, irm?o da personagem Sofia; d-( ) a complementa??o da ideia dos meninos, personagens do texto.09- No trecho: ...”N?o é nada n?o. Hoje, é aniversário da senhora...” O uso das reticências, ao final da frase, indica:a-( ) que os meninos tinham mais alguma coisa a dizer à Sofia, porém n?o conseguiam expressar o que sentiam; b- ( ) que os meninos hesitaram na hora de cobrar o trabalho prestado à Sofia; c- ( ) que o autor do texto, propositalmente, usou as reticências, para que o leitor ou a leitora pudessem imaginar o que seria dito pelos meninos; d-( ) que os meninos interromperam a fala para n?o magoar Sofia; e-( ) que os meninos planejavam mais uma brincadeira com a personagem Sofia.10-Substitua as palavras negritadas, no texto-discurso, por outras de sentido semelhante: ................
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