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A DIN?MICA INFLACION?RIA BRASILEIRA AP?S A ABERTURA COMERCIAL E FINANCEIRA: UMA AN?LISE PARA O PER?ODO 1999-2016Viviane Juliana Oliveira Silva (vivianejuliana5@ )Karla Vanessa B. S. Leite (kvanessaleite@ )RESUMOA temática infla??o é frequentemente discutida, devido a sua import?ncia na condu??o da economia e das controvércias existentes sobre o assunto. Objetivou-se nesse artigo analisar a din?mica inflacionária brasileira no período entre 1999 e 2016, contemplando os efeitos da amplia??o da abertura comercial e financeira e buscando identificar a influência do setor externo no comportamento dos pre?os domésticos. Foi adotada a perspectiva de infla??o de custos contida na teoria de Keynes (1936), além da contribui??o teórica de Kalecki (1985) e dos estruturalistas e inercialistas para identificar as variáveis fundamentais no comportamento dos pre?os. Com essa base teórica e em um contexto de amplia??o da abertura econ?mica, foi utilizada a estatística descritiva para analisar as variáveis taxa de c?mbio e pre?os internacionais, constatando sua import?ncia na explica??o do desempenho dos pre?os internos. Analisando a trajetória da infla??o brasileira por meio do acompanhamento dos ?ndices Gerais de Pre?o (IGPs) e do ?ndice de Pre?os ao Consumidor Amplo (IPCA), identificou-se que o IGP transfere impactos da din?mica da taxa de c?mbio para o IPCA por meio dos itens indexados, fazendo do c?mbio uma importante variável de transmiss?o dos impulsos inflacionários para o índice de pre?os nacional. Palavras-chave: Infla??o, Setor Externo, Liberaliza??o.ABSTRACTThe theme inflation is often discussed because of its importance in driving the economy and existing controversy about it. The objective in this project is to analyze Brazilian inflation dynamics in the period between 1999 and 2016, covering the effects of the expansion of trade and financial openness, seeking to identify the influence of the external sector in the behavior of domestic prices. It was adopted cost inflation perspective contained in the theory of Keynes (1936), and the theoretical contribution of Kalecki (1985) and structuralist and inertialists to identify the key variables in the behavior of prices. With this theoretical basis and in a context of increasing economic openness, descriptive statistics were used to analyze the variables exchange rate and international prices, noting its importance in explaining performance of domestic prices. Analyzing the trajectory of Brazilian inflation by tracking the price of General Indexes (IGPs) and the Consumer Price Index (IPCA), it was found that the IGP transfers dynamics of the impact of the exchange rate for the IPCA through indexed items, making the exchange an important variable transmission of inflationary impulses to the national price index. Keywords: inflation, external sector, liberalization.?rea 1: Macroeconomia, política econ?mica e financiamento do desenvolvimento.INTRODU??OA contínua e generalizada eleva??o dos pre?os dos bens e servi?os, denominada, genericamente, de infla??o consiste em uma temática de recorrentes discurs?es devido às controvérsias que a cercam, tornando de extrema import?ncia o sucessivo debate sobre o assunto. Para melhor compreendê-la e explicá-la, faz-se necessário conhecer o mecanismo de forma??o de pre?os. ?, pois, importante identificar, a partir de um marco teórico, quais s?o as variáveis fundamentais que influenciam o comportamento dos pre?os.No caso brasileiro, com a amplia??o do grau de abertura comercial e financeira a partir dos anos 1990, verificada em escala mundial, tornou-se de extrema import?ncia a análise de variáveis como o c?mbio e pre?os internacionais que passaram a exercer maior influência sobre os pre?os domésticos. Com as transforma??es da abertura econ?mica e maior integra??o entre as economias, a infla??o doméstica passou a ser mais dependente do setor externo, tornando tais componentes relevantes na forma??o do custo de produ??o. Por outro lado, essa nova institucionalidade trouxe também implica??es para a política monetária uma vez que pode estar reduzindo o grau de liberdade do Banco Central no controle inflacionário.Em 1999, em meio a uma crise cambial, adotou-se, no Brasil, o regime de c?mbio flexível, o que representou uma perda para o controle inflacionário tendo em vista que a ?ncora cambial – estratégia de controle da infla??o durante o Plano Real – foi perdida. No mesmo ano, o Regime de Metas de Infla??o (RMI), que vigora até os dias atuais, foi adotado como política de controle da infla??o. A partir de ent?o, a taxa básica de juros de curto prazo, a SELIC, passou a ser utilizada como principal instrumento de controle dos pre?os (LEITE, 2009).Nesse contexto, o presente artigo tem por objetivo analisar a din?mica da infla??o brasileira no período entre 1999-2016. A partir dessa análise, a política monetária, de forma geral, e a política de controle de pre?os, de forma específica, poder?o ser discutidas e questionadas, levando em considera??o os seus efeitos deletérios para o crescimento da economia brasileira.Para compreender os processos inflacionários e identificar quais as variáveis relevantes, em um cenário de ampla abertura econ?mica, para a forma??o dos pre?os, foi adotada a perspectiva de infla??o de custos contida na teoria de Keynes (1936). Nessa abordagem, o nível geral dos pre?os depende, em parte, da taxa de remunera??o dos fatores produtivos que entram no custo marginal e, em parte, da escala global da produ??o que é semelhante ao volume de emprego. Ou seja, os pre?os s?o essencialmente fun??o dos custos de produ??o, sendo os processos inflacionários em sua maioria explicados no ?mbito da oferta (KEYNES, 1936).Partindo do entendimento de que a infla??o é um fen?meno macroecon?mico com fundamentos microecon?micos, a teoria desenvolvida por Kalecki (1985) foi utilizada para analisar a forma??o de pre?os em uma perspectiva microecon?mica. A partir desse marco teórico, tornou-se possível compreender que as press?es inflacionárias podem, além dos custos envolvidos diretamente na produ??o, estar relacionadas com a margem de lucro dos empresários, variável que também entra na composi??o do custo de produ??o do capitalista e que é fundamental para explicar o comportamento dos pre?os em uma economia oligopolizada, como é o caso da economia o o problema de pesquisa trata de analisar a infla??o brasileira, também foram consideradas contribui??es das teorias estruturalista e inercialista. Para tais abordagens teóricas, a infla??o n?o pode ser vista como um fen?meno essencialmente monetário, estando vinculada a fatores reais de natureza histórica e estrutural, que se manifestam por meio da restri??o de oferta e das press?es de custos. A teoria inercialista inovou ao fornecer um novo diagnóstico e novas terapias para combater a infla??o brasileira. O ponto em comum entre essas abordagens é, fundamentalmente, o reconhecimento da import?ncia do conflito distributivo, que é inerente ao funcionamento do sistema capitalista (LEITE, 2015). Nesse contexto, o conflito distributivo aparece como importante fator de propaga??o das press?es inflacionárias. Além disso, a inércia aparece como um fator importante para explicar o comportamento dos pre?os, sendo possível observar, em alguns setores, a existência de uma espécie de infla??o cr?nica, onde os agentes adotam posturas defensivas na forma??o de pre?os e salários com o propósito de recompor o seu rendimento real (MODENESI, 2005).Sunkel (1958), Furtado (1959), Prebisch (1949 e 1964), Oliveira (1972), Tavares (1972) e Pinto (1973) se destacaram como os principais autores da tradi??o cepalina. Já para os inercialista, os seguintes trabalhos s?os considerados como basilares: Arida (1982, 1984), Bacha (1982, 1987), Lara Resende (1985, 1989), Lara Resende e Arida (1984), Lopes (1984a, 1984b) e Modiano (1983), e o grupo da Funda??o Getúlio Vargas de S?o Paulo, que tem Bresser Pereira (1981), Nakano (1982), Bresser Pereira e Nakano (1983, 1984a, 1984b).Com essa base teórica – Keynes, Kalecki, estruturalistas e inercialistas – foi possível analisar a forma??o de pre?os na economia brasileira, identificando as variáveis que foram afetadas pela amplia??o do grau de abertura econ?mica e, ao mesmo tempo, exercem influências sobre a infla??o.Para a análise dos dados, optou-se pelo o período entre 1999 e 2016, tendo em vista que em 1999 que houve a ado??o do regime de c?mbio flutuante e do regime de metas de infla??o, vigentes até os dias atuais e fundamentais para a análise proposta. REFERENCIAL TE?RICOAs controvérsias existentes acerca da análise da infla??o s?o muitas, tornando de extrema import?ncia o contínuo debate sobre o assunto. Para melhor explicar o comportamento dos pre?os, entre 1999 e 2016, considerou-se necessário partir de um marco teórico que permitisse, a partir de uma perspectiva de custos, identificar as variáveis que foram afetadas pela amplia??o do grau de abertura econ?mica e que, ao mesmo tempo, exercem influência na trajetória de pre?os da economia brasileira. Por essa raz?o, a teoria de pre?os de Keynes (1939, cap. 21) foi utilizada para embasar as discuss?es da presente pesquisa. Foram utilizadas ainda outras abordagens heterodoxas que, embora n?o estejam, necessariamente, ancoradas em Keynes tratam a infla??o como um fen?meno com origem no lado dos custos de produ??o: Kalecki (1985), teoria inercialista e teoria estruturalista.A Teoria de Pre?os de KeynesPara o mainstream econ?mico, a moeda é considerada apenas como um facilitador de trocas e a eleva??o de pre?os está diretamente relacionada às condi??es de demanda agregada e à expans?o da oferta monetária. Keynes, ao contrário, argumenta que a moeda possui também a fun??o de reserva de valor, o que implica que a mesma n?o é neutra, nem no curto nem no longo prazo, e que a política monetária pode ser eficaz para alterar variáveis reais.A moeda constitui um elo entre o futuro e o presente, afetando decis?es de produ??o e investimento. Keynes trata a economia capitalista como uma economia monetária de produ??o e considera como intrínseca a presen?a de incerteza em rela??o ao futuro. Nesse tipo de economia, quanto mais incerto é o futuro, o agente pode, e normalmente prefere, aplicar seus recursos em ativos n?o-reprodutíveis, como moeda e outros ativos líquidos, ao invés de ativos reprodutíveis, como ativos de capital (BRAGA, 1985). Diante disso, a incerteza influencia a forma como os agentes utilizam a sua renda monetária, o que pode ter efeitos sobre a infla??o. A preferência pela liquidez e a incerteza constituem-se ent?o características regulares de uma economia capitalista e influenciam na análise de pre?os e processos inflacionários (LEITE, 2015).Enquanto o mainstream econ?mico acredita que o nível de pre?os varia diretamente com a quantidade de moeda em circula??o, Keynes (1936, Cap. 21) desenvolve a ideia de que os pre?os s?o fun??o dos custos de produ??o e identifica as origens das press?es inflacionárias. Ao discutir como os pre?os e a infla??o s?o formados, Keynes verifica que:O nível geral dos pre?os depende, em parte, da taxa de remunera??o dos fatores produtivos que entram no custo marginal e, em parte, da escala global da produ??o, isto é, do volume de emprego (considerando conhecidos o equipamento e a técnica). (KEYNES, 1936, p.279, itálico do original).Para esclarecer suas ideias, ele sup?e inicialmente algumas hipóteses simplificadoras: i) as formas de remunera??o dos fatores produtivos que entram no custo marginal variam na mesma propor??o que a unidade de salários; ii) os recursos dos desempregados s?o homogêneos e intercambiáveis, no que se concerne à sua eficiência para produzir os bens desejáveis e iii) os fatores de produ??o que entram no custo marginal se contentam com o mesmo nível de salário nominal enquanto houver um excedente deles desempregados. Em seguida, ele admite a existência de cinco fatores de complica??o, a fim de esclarecer a sua teoria dos pre?os. O primeiro conclui que a demanda efetiva n?o variará em propor??o exata à quantidade de moeda. O segundo verifica que desde que os recursos n?o sejam homogêneos, haverá rendimentos decrescentes, e n?o constantes, conforme o emprego aumente gradualmente. Ou seja, Keynes observa que o aumento da produ??o é acompanhado por uma alta de pre?os, independentemente de qualquer varia??o na unidade de salários. O terceiro fator de complica??o é que a oferta de certos bens tornar-se-á inelástica, desde que os recursos n?o sejam intercambiáveis e mesmo que existam recursos desempregados disponíveis para a produ??o de outros bens, atingindo o que Keynes chama de zona de estrangulamento. O quarto fator indica que a taxa de salários tenderá a subir antes que o pleno emprego seja alcan?ado. O quinto, e último, fator de complica??o visto por Keynes conclui que as remunera??es dos fatores que entram no custo marginal n?o variam todos na mesma propor??o. O custo marginal de uso é identificado como provável elemento mais importante do custo marginal, que pode variar em propor??o diferente da unidade de salários e flutuar dentro de um limite mais amplo. Sobre o estado de verdadeira infla??o, Keynes afirma que ela só será alcan?ada:Quando um novo acréscimo no volume de demanda efetiva n?o mais produz aumento na produ??o e se traduz apenas numa alta da unidade de custos, em propor??o exata ao aumento da demanda efetiva, teremos alcan?ado um estado que se pode adequadamente qualificar de verdadeira infla??o (KEYNES, 1936, p.285.).Assim sendo, o processo inflacionário n?o é visto como um ajuste gradual à expans?o monetária. A infla??o de demanda só é possível em uma situa??o de pleno emprego. Em qualquer outro caso, o problema é de oferta, sendo que o aumento dos pre?os decorre de uma modifica??o no custo dos fatores de produ??o (SICS?, 2002).Por fim, a unidade de custos, média ponderada das remunera??es que entram no custo primário marginal, é considerada como padr?o essencial de valor, fazendo do nível de pre?os uma fun??o da unidade de custos e da escala de produ??o. Torna-se claro, ent?o, que para Keynes os processos inflacionários em sua maioria s?o explicados no ?mbito da oferta e que os custos de produ??o s?o extremamente relevantes para explicar a composi??o e comportamento dos pre?os.A Teoria de Pre?os de KaleckiComo já foi mencionado, entende-se que a infla??o é um fen?meno macroecon?mico com fundamentos microecon?micos e, portanto, faz-se necessário ainda compreender como os pre?os s?o formados, no nível das empresas, para identificar que variáveis podem estar por trás da din?mica inflacionária recente. Kalecki (1985) faz uma análise da forma??o de pre?os em uma perspectiva micro, ou seja, como uma firma fixa pre?os.Kalecki mostra que a forma??o de pre?os, no curto prazo, é determinada pelas condi??es de oferta. Para as matérias-primas, as altera??es de pre?os s?o provenientes da demanda, pois a oferta desses bens é inelástica devido a necessidade de tempo para que seja ampliada. As altera??es de pre?o dos bens finais, ainda que possam ser influenciadas por eventuais mudan?as na demanda, s?o, em grande parte, determinadas por modifica??es do custo de produ??o, já que a oferta desses bens é elástica, ou seja, existe capacidade produtiva para um eventual aumento na demanda.De acordo com Kalecki: Para fixar os pre?os, a firma leva em considera??o a média de seus custos diretos e os pre?os de outras firmas que fabricam produtos similares. A firma tem que evitar que o pre?o se eleve demasiado com rela??o aos pre?os das outras firmas, já que se isso sucedesse as vendas se reduziriam drasticamente. ? preciso também, por outro lado, evitar que o pre?o se torne demasiado baixo com rela??o à média dos custos diretos, porquanto isso reduziria drasticamente a margem de lucro (KALECKI, 1985, p. 34).No geral, as economias operam em concorrência imperfeita. Uma firma ao fixar pre?o considera a média de seus custos diretos e os pre?os de outras firmas que fabricam produtos similares, seus concorrentes. Nesse caso, Kalecki aponta para a existência de um Acordo Tácito – feito pela firma líder e seguido pelas demais – que pode se transformar em um cartel, influenciando, de certa forma, a monopoliza??o de determinado mercado. Como o Brasil possui um mercado predominantemente oligopolizado, essa característica é importante, pois a concorrência pode facilitar o repasse de eventuais aumentos nos custos de produ??o para os pre?os e pressionar para cima a infla??o.Ao possuir a média dos seus custos diretos e os pre?os de outras firmas que fabricam produtos similares, a política de fixa??o de pre?os pelas firmas pode ser expressa pela seguinte equa??o: p=mu+np ? (1) Onde: p é o pre?o determinado pela firma; u é o custo direto unitário; p ? é o pre?o médio; m > 0 e 0 < n < 1.Os coeficientes m e n, que caracterizam a política de fixa??o de pre?os da firma, refletem aquilo que podemos chamar de grau de monopólio da posi??o da firma em uma estrutura de mercado semimonopolística (KALECKI, 1985, p.35). Ao dividir a primeira equa??o pelo custo unitário é possível obter as varia??es no grau de monopólio. Aumentos de m e n significam amplia??es no grau de monopólio e vice-versa. No caso em que o pre?o da firma é igual ao pre?o médio dos produtos similares no mercado pu=p ?u, a express?o m1-n passa a refletir o grau de monopólio.Partindo do caso em que os coeficientes m e n s?o os mesmo para todas as firmas e os custos unitários diferem, é possível analisar a determina??o do pre?o médio em um ramo da indústria. A forma??o de pre?os, no caso geral, em um ramo industrial, possui os coeficientes m e n diferentes para cada firma, tendo ?m como média ponderada de m pelos custos diretos totais de cada firma e ?n como a média ponderada de n.Ao relacionar custos e pre?os no longo e curto prazo, Kalacki verifica que: no longo prazo os coeficientes m e n podem mudar; o progresso tecnológico tenderá a reduzir o custo direto unitário (u); as rela??es entre os pre?os e os custos podem ser afetadas por modifica??es no campo da técnica e dos equipamentos, conforme influenciam o grau de monopólio; e, por fim, os lucros e custos indiretos podem apresentar uma queda a longo prazo no que se refere ao valor do capital e a rela??o entre o montante dos rendimentos e o montante dos custos diretos ( pu ) pode permanecer constante.Percebendo que as economias operam em concorrência imperfeita, nota-se que as firmas ao fixarem pre?os utilizam um adicional sobre os custos, denominado por Kalecki de mark-up, cuja regra é dada pela diferen?a entre o pre?o e os custos diretos, expressando o poder de mercado da empresa. N?o só o custo de produ??o, mas também a margem de lucro é considerada uma variável de escolha do empresário. Logo, observa-se que as press?es inflacionárias podem ser originadas tanto pelo custo de produ??o, como também pela margem de lucro.As Concep??es Estruturalista e Inercialista sobre a Infla??o BrasileiraComo o problema da pesquisa trata de analisar a infla??o brasileira, também foram consideradas contribui??es das teorias estruturalista e inercialista, que ganharam import?ncia em meados dos anos 1980. Esse período foi marcado por uma recess?o econ?mica e por elevadas taxas de infla??o, n?o justificadas pelo nível de atividade e, consequentemente, pela demanda que apresentavam uma trajetória descendente. Tal cenário proporcionou a contribui??o teórica dos economistas da Comiss?o Econ?mica para América Latina Caribe (CEPAL) que introduziram a teoria estruturalista, com a finalidade de contribuir com o desenvolvimento econ?mico e social dos países latino americanos. Sunkel (1958), Furtado (1959), Prebisch (1949 e 1964), Oliveira (1972), Tavares (1972) e Pinto (1973) se destacaram como os principais autores da tradi??o cepalina.A escola estruturalista atribui o fen?meno inflacionário às características das economias periféricas que se manifestam como rigidezes estruturais ao crescimento. Para estes, a infla??o n?o é um fen?meno puramente monetário, o que torna menor a eficácia da política monetária como instrumento de controle inflacionário. Nesse sentido, as reformas estruturais s?o o caminho mais coerente para a supera??o da infla??o. A ideia era buscar solu??es capazes de atacar as causas primordiais da infla??o ao invés dos sintomas observados (VILA?A, 2015).Sunkel (1958) considerava que a infla??o ocorria dentro de um marco histórico, social, político e institucional do país e que nos países subdesenvolvidos a infla??o estaria associada aos problemas básicos do desenvolvimento e as suas características estruturais. Para analisar a infla??o nos países periféricos, o mesmo desenvolveu um método de análise que contemplava dois aspectos: a identifica??o e a classifica??o dos diversos elementos e categorias que intervém no processo inflacionário e a identifica??o das diversas press?es inflacionárias a fim de analisar os mecanismos de propaga??o. Ele caracteriza as press?es inflacionárias em três categorias: press?es inflacionárias básicas e estruturais; press?es inflacionárias circunst?ncias, causadas, por exemplo, por uma catástrofe nacional; e por fim, press?es inflacionárias cumulativas ou induzidas.Nessa teoria, o conceito de conflito distributivo surge como um importante fator de propaga??o da infla??o, pois, para defender sua participa??o na renda, os diferentes setores ou grupos econ?micos buscam reajustar seu investimento ou gasto real relativo. Os assalariados, via reajuste dos salários; os empresários, via alta de pre?os e setor público, via aumento dos gastos fiscais e impostos. Todos os grupos da comunidade pretendem se favorecer às custas dos grupos restantes, sem conseguir nunca uma vantagem permanente. Nesse caso, quando há a generaliza??o do aumento de pre?os para defender a renda, instaura-se o processo inflacionário (LEITE, 2015).Rangel (1963) argumentou que a infla??o seria um mecanismo de defesa da própria economia contra a recess?o. Ao analisar o caso brasileiro, o mesmo percebe que existia uma insuficiência cr?nica de demanda devido a concentrada distribui??o de renda encontrada na estrutura fundiária fundada nas grandes propriedades e no excesso de oferta de m?o-de-obra. Consequentemente, essa má distribui??o de renda resultava em uma baixa propens?o a consumir que provocava capacidade ociosa em diversos setores da economia. Ele confrontou ainda a ideia de que a infla??o encontra sua causa na expans?o monetária, afirmando que a expans?o da moeda é que seria induzida pela varia??o de pre?os.Leite (2015) verifica que a infla??o brasileira deveria ser encarada n?o só como infla??o de custos médios, mas também como um mecanismo de defesa da economia. A infla??o de custo, advinda do poder de monopólio ou oligopólio das empresas para defender seus lucros, posteriormente se estenderia para os demais setores da indústria e dos servi?os. Esse processo foi denominado por Rangel de mark up inflation e evidenciava que a infla??o é um mecanismo de defesa de produtores e vendedores, constituindo-se em uma press?o de custos, do lado da oferta.Assemelhando-se a teoria estruturalista, a teoria inercialista surge também na América Latina, tendo sido desenvolvida por economistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, dentre eles: Arida (1982, 1984), Bacha (1982, 1987), Lara Resende (1984, 1989), Lara Resende e Arida (1984), Lopes (1984a, 1984b) e Modiano (1983) e economistas da Funda??o Getúlio Vargas de S?o Paulo, que apresenta como seus principais representantes: Bresser Pereira (1981), Nakano (1982), Bresser Pereira e Nakano (1983, 1984a, 1984b).As duas teorias assemelham-se em rela??o ao diagnóstico da infla??o, pois a teoria inercialista também vê a infla??o como um fen?meno real, com consequências monetárias, resultante do conflito distributivo entre as classes sociais. Porém, divergiam quanto ao receituário a ser utilizado para promover a desindexa??o da economia brasileira.O mainstream econ?mico afirmava que a maneira de conter a infla??o era com um ajuste fiscal e política monetária restritiva, pois a mesma resultava do excesso de emiss?o de moeda. No entanto, tal proposta n?o logrou êxito na conten??o da infla??o, que continuava a crescer. Com a falência das a??es propostas por essa teoria, a abordagem inercialista ganhou espa?o para consolidar suas ideias.Os inercialistas atribuíam como causa principal da infla??o presente a existência de conflitos distributivos que, por sua vez, se materializavam na infla??o passada, mostrando que em ambientes de infla??o cr?nica, os agentes adotam posturas defensivas ao formar pre?os e salários, visando recompor o seu rendimento real. Bresser-Pereira e Nakano (1984) identificam três grupos de fatores que buscavam distinguir das causas primárias da infla??o. S?o eles: Fatores aceleradores da infla??o: i) o aumento dos salários médios reais superiores ao aumento da produtividade; ii) o aumento das margens de lucro pelas empresas; iii) as desvaloriza??es reais da moeda; iv) o aumento do custo dos bens importados e v) o aumento dos impostos. Ou seja, a acelera??o da infla??o estaria vinculada à existência do conflito distributivo e de press?es geradas no lado dos custos de produ??o. Fatores mantenedores da infla??o: Os agentes aumentam os pre?os, de forma alternada e defasada, para fazer frente à infla??o passada, com a finalidade de manter a participa??o na renda. Fatores sancionadores da infla??o: Em que a expans?o monetária n?o se constitui em causa, mas sim em uma consequência da infla??o, tornando o aumento na quantidade nominal da moeda e o déficit público como principais fatores que sancionam a infla??o. Por fim, é importante salientar que tanto a teoria estruturalista, como a inercialista, apresenta afinidades com a vis?o keynesiana ao considerarem que a infla??o está relacionada com problemas no lado dos custos e o com o conflito distributivo que representaria uma tentativa de repasse das press?es de custos de uma classe para outra.Sob essa base teórica – Keynes, Kalecki, estruturalistas e inercialista – será possível analisar a forma??o de pre?os na economia brasileira, identificando as variáveis que foram afetadas pela amplia??o do grau de abertura econ?mica e, ao mesmo tempo, exercem influências sobre a infla??o. A partir dessa análise, a política monetária, de forma geral, e a política de controle de pre?os, de forma específica, poder?o ser discutidas e questionadas, levando em considera??o os seus efeitos deletérios para o crescimento da economia brasileira.INFLA??O E SETOR EXTERNO: UMA AN?LISE EMP?RICA PARA O PER?ODO 2001-2016A economia mundial, no decorrer das últimas décadas, foi caracterizada por um novo processo denominado de globaliza??o que veio permitir uma crescente integra??o econ?mica entre os países nos ?mbitos comercial, produtivo e financeiro. Tais mudan?as exigiram profundas readapta??es nas estruturas econ?micas nacionais, como, por exemplo, a valoriza??o do mercado, maior preocupa??o com a competitividade e uma menor participa??o do Estado, configurando-se a volta do chamado liberalismo econ?mico (GREMAUD e VASCONCELOS, 2010).No final dos anos 1980 e durante os anos 1990 foi possível observar uma amplia??o da abertura comercial e financeira tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. ? importante destacar que a abertura econ?mica n?o foi uma novidade dos anos 1990. Os países negociam entre si desde os primórdios do capitalismo, porém isso ocorria em uma escala menor e em um contexto no qual as rela??es comerciais e financeiras eram muito mais reguladas pelo Estado. A abertura, contudo, avan?ou de forma significativa a partir dos anos 1990 na maioria dos países, tornando-os sobremaneira interdependentes (LEITE, 2015).Diante das dificuldades internas enfrentadas no país a partir da década de 1970, relacionadas aos problemas no balan?o de pagamentos e aos desequilíbrios macroecon?micos externos, verifica-se no fim da década de 1980 um início a uma política de abertura econ?mica com a elimina??o dos controles quantitativos e administrativos sobre as importa??es e uma proposta de redu??o tarifária. Em 1990, intensifica-se a ado??o de políticas liberais provenientes do modelo de estabiliza??o e integra??o internacional, proposto pelo Consenso de Washington, mudando significantemente o regime comercial brasileiro. No Brasil, a experiência de abertura financeira – assim como a de abertura comercial – constituiu-se em uma resposta a desequilíbrios internos e press?es externas. Com a intensifica??o da abertura da economia brasileira para o comércio externo, a partir dos anos 1990, aliada à ado??o do regime de ?ncora cambial, o déficit nas transa??es correntes apresentou uma trajetória ascendente que contribuiu para deteriorar o saldo do Balan?o de Pagamentos. A abertura financeira aparecia, portanto, com dupla fun??o: ampliar o grau de mobilidade de capitais no país e auxiliar o financiamento dos déficits em transa??es correntes que seriam gerados nos primeiros anos de abertura comercial (HERMANN, 2005).O ano de 1999 foi marcado por importantes modifica??es no ?mbito da política monetária brasileira. Com a implementa??o do regime de c?mbio flutuante, o governo perdeu o principal instrumento para o controle inflacionário que vinha sendo utilizado: a ?ncora cambial. Logo em seguida, no mês de junho, foi adotado o Regime de Metas de Infla??o (RMI) como op??o de política para o controle da infla??o. Tal regime, vigente até os dias atuais, utiliza a taxa de juros de curto prazo como principal instrumento de política monetária para fazer com que a infla??o tenda a convergir para a meta estabelecida pela autoridade econ?mica. Com o aumento das influências externas, os governos nacionais tiveram diminuída sua capacidade de estabelecer objetivos para suas políticas, agravando a dependência dos países. Nesse contexto, "afirma??es ceteris paribus" - ou seja, aquelas que dependem de variáveis estáticas - s?o cada vez menos significativas frente à nova realidade mundial. Destaca-se ainda, como consequências desse processo liberalizante, a perda de rela??o entre as taxas de c?mbio e a situa??o em conta corrente dos balan?os de pagamentos; a permanência do "risco-pais" elevados e diferenciados, que s?o evidenciados nas taxas de juros desiguais e na capacidade doméstica enfraquecida de fazer política econ?mica (CRUZ, 2001).Diante do novo cenário apresentado, é possível verificar que a din?mica econ?mica dos países ficou mais dependente da conjuntura internacional e tal dependência trouxe consigo inconvenientes como: a instabilidade dos fluxos de capitais, a facilidade com que as crises em determinados países se transmitem para os demais e a perda de liberdade na condu??o de políticas econ?micas internas. A maneira como s?o formados os pre?os e os processos inflacionários também foi afetada, uma vez que condicionantes externos passaram a ter uma maior import?ncia na explica??o da din?mica dos pre?os domésticos, especificamente por dois canais de influência: o c?mbio e os pre?os internacionais.Revis?o da Literatura empírica sobre infla??o e setor externoA literatura empírica acerca da rela??o entre infla??o, taxa de c?mbio e pre?os externos é vasta e aponta, em diferentes graus, para a influência dessas variáveis para a explica??o do comportamento dos pre?os domésticos. Araújo e Modenesi (2010), por meio de uma análise com base em um modelo SVAR, a fim de constar a import?ncia do setor externo na evolu??o do IPCA entre os anos de 1999 e 2010, consideram que a infla??o depende de três fatores: i) a demanda agregada (medida pela produ??o industrial); ii) as condi??es de oferta (mensuradas por um índice de pre?o de commodities); e iii) a taxa de c?mbio, verificaram que em conjunto, a taxa de c?mbio e as condi??es de oferta explicam 14% da vari?ncia da infla??o. Já o nível de atividade, responde por menos de 1% da vari?ncia do IPCA. Neste sentido, os fatores externos se sobrep?em ao comportamento da demanda agregada na determina??o dos pre?os.Summa e Braga (2014) ao estimar as formas reduzidas das equa??es desagregadas de infla??o mostram que a taxa de c?mbio e a infla??o importada em dólares, em conjunto, afetam todos os itens desagregados da infla??o (via pre?os monitorados, produtos industriais e agrícolas tradables e via custo dos bens non tradables, inclusive servi?os). Em termos desagregados, os autores mostram que apenas a infla??o de servi?os parece responder à taxa de desemprego, indicando uma rela??o mais estrutural ligando desemprego tendencialmente mais baixo com salários crescendo mais rápido via maior poder de barganha dos trabalhadores e o efeito diferenciado sobre a infla??o de servi?os, cuja inércia parece ser maior que as demais. Essa inércia pode ser interpretada pelo fato de que o setor servi?os é basicamente n?o comercializável, com crescimento mais baixo da produtividade e com os salários mais vinculados ao mínimo, que teve um forte componente de reajuste acima da infla??o por motivos de política econ?mica no período recente.Holland e Mori (2010) analisam os efeitos dos fatores externos na din?mica da infla??o brasileira, entre 1999 e 2008. Utilizando dados mensais, foram estimadas algumas especifica??es da Curva de Phillips para a economia brasileira, por diferentes métodos econométricos. Os resultados foram amplamente robustos e a favor da hipótese de que a globaliza??o tem afetado o processo inflacionário doméstico.Hasan & Wallace (1996) exploraram a rela??o entre a volatilidade da taxa de c?mbio e o regime cambial, destacando que o regime de c?mbio flutuante é responsável por maior volatilidade cambial. Goldfajn e Werlang (2000) em um estudo incluindo 171 países identificaram o efeito pass-through para diversos países, inclusive para o Brasil e que o efeito total de um movimento na taxa de c?mbio sobre a infla??o aumenta com o tempo.IPEA (2013), ao estimar a infla??o para os pre?os monitorados, encontra a relev?ncia da taxa de c?mbio, da infla??o de commodities e da inércia para a explica??o do seu comportamento. Os resultados encontrados em estudo feito pelo Banco Central do Brasil (BCB (2006)) também apontam para a relev?ncia da taxa de c?mbio e da infla??o importada para a explica??o dos pre?os monitorados. BCB (2010), através de estimativas desagregadas para a infla??o dos bens comercializáveis e n?o comercializáveis, encontra que ambas as categorias recebem influência da taxa de c?mbio, embora só para o primeiro grupo a inércia seja significativa.Martinez e Cerqueira (2011) discutem os determinantes e decomposi??o da infla??o brasileira, de 2000 a 2009, a partir da constru??o de 22 séries desagregadas, com dados mensais. Os resultados apontam para a import?ncia dos fatores externos na determina??o dos pre?os domésticos. Martinez e Braga (2012) discutem fatos estilizados sobre a infla??o brasileira, nos últimos anos, e sugerem que, na última década, os dois determinantes principais da infla??o foram a taxa de c?mbio e os pre?os em dólares de algumas commodities.Leite (2015) analisa empiricamente o impacto da amplia??o do grau de abertura econ?mica a partir da década de 1990 sobre a infla??o. Por meio de estatística descritiva e de uma análise econométrica utilizando o modelo de Vetores Auto Regressivos Estruturais (SVAR) e do modelo Auto Regressivo de Defasagem Distribuída (ARDL), com base na especifica??o do modelo de Simonsen (1970) e estimando uma equa??o de infla??o para a economia brasileira, constatou em ambas as análises a import?ncia das variáveis do setor externo para a evolu??o da infla??o brasileira no período entre 1999 e 2013, confirmando a import?ncia da taxa de c?mbio e dos pre?os internacionais para a explica??o da din?mica inflacionária na economia brasileira. IPCA, Taxa de C?mbio e Pre?os ExternosO ?ndice de Pre?os ao Consumidor Amplo (IPCA) é considerado o índice oficial de infla??o do país e tem como objetivo apresentar a varia??o dos pre?os das cestas de consumo das famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, residentes nas regi?es metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, S?o Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e Goi?nia. O índice é medido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e calculado de forma contínua e sistemática para as áreas abrangidas pelo sistema. Os pre?os obtidos s?o aqueles que s?o cobrados ao consumidor para pagamentos à vista e a pesquisa é realizada em estabelecimentos comerciais, prestadores de servi?os, domicílios e concessionárias de servi?os públicos.Por meio do comportamento desse índice de pre?os uma meta de crescimento para a infla??o, com intervalos superiores e inferiores, é estabelecida pelo governo e perseguida pelo Banco Central do Brasil, cuja política monetária é direcionada com a finalidade de atingir a meta inflacionária determinada para o período. ? por meio do IPCA que verifica se a meta estabelecida para a infla??o está ou n?o sendo cumprida.O c?mbio e os pre?os internacionais afetam a infla??o diretamente, por meio das mudan?as nos pre?os dos servi?os e bens transacionáveis com o exterior, e indiretamente devido a utiliza??o de insumos importados na produ??o doméstica de bens e servi?os e na substitui??o de bens domésticos por similares importados. Na tabela 1, é possível observar e relacionar a varia??o anual do IPCA, do ?ndice de Commodities do FMI e da Taxa de C?mbio, no período entre 1999 e 2016. Utilizando de estatística descritiva é possível identificar o impacto dessas duas variáveis sobre o comportamento do IPCA. Para a análise dos pre?os internacionais utiliza-se o ?ndice de Commodities calculado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que considera todas as commodities, matérias-primas industriais, matérias primas agrícolas, metais, combustíveis e petróleo. Já para o estudo do comportamento da taxa de c?mbio utiliza-se a série diária da PTAX, cujo valor é calculado através da média de todas as taxas praticadas no mercado durante o dia e divulgada pelo Banco Central. As informa??es para o cálculo do dólar PTAX vem do Sistema de Informa??es do Banco Central (Sisbacen).Tabela 1. IPCA (%a.a.), ?ndice de Commodities, Taxa de C?mbio (R$/US$) entre os anos de 1999 e 2016ANOIPCA (%a.a.)?ndice de Commodities (2005=100)Taxa de C?mbio (R$/US$)19998,9449,841,7820005,9763,061,9520017,6758,362,32200212,5058,173,5320039,3064,982,8920047,6080,322,8520055,69100,002,3420063,14120,762,1420074,46134,931,7720085,90172,372,3320094,31120,721,7420105,90152,311,6720116,50192,411,8720125,84187,552,0420135,91183,342,3420146,41171,842,66201510,67111,163,9020166,28100,083,26 Fonte: Elabora??o Própria a partir de dados do BCB e do FMI.Analisando os dados, é possível verificar que entre 2003 e 2013 a taxa de c?mbio valorizada atuou no sentido de filtrar o aumento dos pre?os externos. Porém, no ano de 2015, por exemplo, nota-se que quando desvalorizada, a taxa de c?mbio intensifica os efeitos do aumento dos pre?os externos. Ainda é possível observar que a partir de 2001, um aumento/diminui??o na taxa de c?mbio influencia, diretamente, um aumento/diminui??o do IPCA. Esse comportamento, entretanto, n?o se verificou nos anos de 2007, 2010 e 2012 quando os pre?os externos exerceram maior influência sobre a infla??o.Nota-se que por meio desses dois canais a economia brasileira importou infla??o do resto do mundo desde o ano de 2001 até 2016. No geral, os pre?os das commodities seguiu uma trajetória crescente, com moderadas retra??es em alguns momentos, influenciando o aumento dos pre?os internos. Com a taxa de c?mbio, o comportamento n?o foi diferente: momentos de eleva??o da taxa implicaram em um maior peso no resultado do IPCA, enquanto em momentos de diminui??o houve uma retra??o no nível geral de pre?os, no entanto, segundo Pimentel et al. (2013), esse comportamento é repassado assimetricamente, o repasse cambial para o nível de pre?os é menor após uma aprecia??o do que após deprecia??es.O maior patamar verificado nos pre?os das commodities no período proposto ocorreu em 2011, onde o mesmo atingiu o valor de US$192,41. O pre?o das commodities metálicas justificou em grande medida esse resultado, onde houve um aumento de 68,2% entre 2009 e 2011. Neste mesmo ano, o resultado da taxa de c?mbio n?o contribuiu para uma diminui??o no peso da infla??o importada, refletindo o comportamento de eleva??o desses dois canais no aumento do IPCA.Leite (2015) destaca que a mudan?a do regime cambial em 1999, resultou em uma deprecia??o significativa da taxa de c?mbio que atingiu R$1,97 em novembro, ante R$1,19 no mesmo mês do ano anterior e que essa deprecia??o n?o apresentou efeitos inflacionários significativos, pois ocorreu em um momento de vale da produ??o industrial, marcado pela contra??o da demanda, o que impediu, em grande medida, o repasse da varia??o cambial para os pre?os. A política monetária rígida de eleva??o da taxa de juros que estava sendo praticada atuou no sentido de dificultar uma acelera??o da infla??o ao longo do período supracitado.O ano de 2015 apresentou o maior aumento da taxa de c?mbio, entre 1999 e 2016. A alta do dólar pressionou os custos, principalmente dos agricultores, pois os insumos, fertilizantes e adubos s?o todos cotados em dólar. Embora a safra tenha sido grande, o aumento da taxa de c?mbio elevou os custos de produ??o agrícola, pressionando os pre?os domésticos.Em 2016, embora os resultados do setor externos tenham se mantido em patamares próximos ao do ano anterior, a redu??o do IPCA foi significativa. Esse comportamento é justificado principalmente pela conturbada conjuntura nacional vivenciada no ano. O processo de impeachment da presidente Dilma, graves esc?ndalos de corrup??o, crise política e econ?mica, a eleva??o da taxa de desemprego para 11,5% significando 12,3 milh?es de pessoas desempregadas, foram alguns dos fatores que contribuíram para este impacto nos pre?os. Ademais, o arrefecimento do choque de pre?os administrados, verificado em 2015, contribuiu, sobremaneira, para a desacelera??o do IPCA.Apesar disso, nota-se, em geral, que com a amplia??o da abertura econ?mica, amplia-se também a influência do setor externo sobre os pre?os internos. Variáveis como pre?os internacionais e taxa de c?mbio, constituem importantes componentes explicativos no desempenho dos pre?os. No entanto, ao mesmo tempo em que o c?mbio se torna um componente explicativo para o comportamento de pre?os, a abertura econ?mica – especialmente a financeira – traz um agravante ao conferir maior volatilidade a essa variável, principalmente nas economias que adotaram o regime de c?mbio flutuante. Segundo Leite (2015) as incertezas em rela??o ao comportamento da taxa de c?mbio tendem a ser ampliadas pelo aumento do grau de liberaliza??o financeira e as expectativas de desvaloriza??o da taxa de c?mbio refor?am as expectativas de eleva??o de pre?os, aumentando a import?ncia do componente expectacional da infla??o e reduzindo a capacidade da Autoridade Monetária de controlar essa variável, o que cria um problema para a gest?o da infla??o em um contexto de elevado grau de mobilidade de capitais.Análise dos Subgrupos do IPCAO ?ndice de Pre?os ao Consumidor Amplo é composto por nove grupos de produtos e servi?os: alimenta??o e bebidas; artigos de residência; comunica??o; despesas pessoais; educa??o; habita??o; saúde e cuidados pessoais; transportes e vestuário. Tais grupos s?o subdivididos em subgrupos, itens, e por fim em 373 subitens que contemplam bens e servi?os específicos. O peso de cada subitem é baseado na cesta de consumo típica das famílias brasileiras, de acordo com a Pesquisa de Or?amentos Familiares (POF) que utiliza como variável de pondera??o do IPCA o "Rendimento Familiar Monetário Disponível”.A decomposi??o do IPCA pelo BCB por tipo de precifica??o abrange três categorias: bens comercializáveis, n?o comercializáveis e monitorados. Essas séries s?o constituídas a partir da agrega??o de subitens do IPCA classificados pelo BCB em cada uma das três categorias. Os bens comercializáveis s?o aqueles muito afetados pelo comércio externo, ou porque boa parte de sua produ??o interna é exportada, ou porque as importa??es respondem por parcela significativa da oferta interna. Os bens n?o comercializáveis, incluindo servi?os, s?o aqueles produzidos no país e voltados para o mercado interno. Já os chamados bens monitorados ou administrados por contrato s?o as tarifas públicas e outros pre?os que sofrem interferência governamental direta e, de modo geral, s?o menos sensíveis às condi??es de mercado (MARTINEZ e CERQUEIRA, 2013).Em janeiro de 2012, passou a vigorar a nova estrutura de pondera??o do ?ndice de Pre?os ao Consumidor Amplo (IPCA), baseada na Pesquisa de Or?amentos Familiares (POF) 2008/2009 realizada pelo IBGE. Nessa atualiza??o e com as altera??es na composi??o do conjunto dos pre?os administrados, realizadas pelo Banco Central do Brasil, este passou de 28 para 23 itens, representando, aproximadamente, 24% da cesta total que comp?e o IPCA, ante cerca de 30% anteriormente (ALVES, et al. 2013). S?o eles:Tabela 2. Composi??o atual dos pre?os administrados no ano de 2012ItensPeso no IPCA (%)Peso no ADM. (%)Gasolina4,1116,77Produtos farmacêuticos3,4714,17Energia elétrica residencial3,4314,00Plano de saúde3,0512,44?nibus urbano2,7111,05Telefone fixo1,546,27Taxa de água e esgoto1,486,04Gás de botij?o (GLP)1,114,53Emplacamento e licen?a1,084,42?nibus intermunicipal0,722,93Jogos de azar0,411,69Táxi0,391,60?nibus interestadual0,251,03?leo diesel0,130,51Pedágio0,120,50Telefone público0,120,48Gás veicular0,110,46Gás encanado0,080,31Metr?0,070,30Trem0,060,26Multa0,040,16Correios0,010,04Transporte Hidroviário0,010,03Total24,51100,0 Fonte: Elabora??o própria a partir de dados disponíveis em Alves et al. (2013).Ainda assim, esses pre?os representam uma parcela significativa da infla??o brasileira (cerca de um quarto). Como alguns dos contratos s?o reajustados, mesmo que parcialmente pelo IGP – que recebe influência direta do setor externo via IPA –, refletem parcela expressiva dos impactos do setor externo sobre o nível de pre?os domésticos (LEITE, 2015).Dividindo os itens em livres e monitorados percebe-se, a partir do comportamento dos dados contidos no gráfico 1, que o ano de 2006 marcou o que Leite (2015) denomina de ponto de inflex?o em rela??o ao comportamento da infla??o brasileira. Entre 1999 e 2006, nota-se uma maior contribui??o dos pre?os monitorados para a determina??o da infla??o, porém devido à realiza??o de reformas durante esse período que reduziram o impacto do IGP sobre o IPCA, essa categoria perdeu import?ncia relativa na explica??o do comportamento do IPCA. A partir de ent?o, os itens livres adquiriram maior import?ncia, verificada até o ano de 2014, onde novamente os monitorados voltam a exercer um papel fundamental no comportamento do IPCA.Gráfico 1. IPCA Itens Livres e Monitorados entre os anos de 1999 e 2016 Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.Optou-se por dividir os subgrupos em itens livres e monitorados, a fim de melhor visualiza??o e análise gráfica do comportamento dos mesmos de maneira mais desagregada. A análise será iniciada pelo gráfico 2 que apresenta o comportamento dos subgrupos do IPCA que englobam os itens livres, tais quais: alimenta??o e bebidas, vestuário, educa??o, artigos de residência e despesas pessoais. Gráfico 2. IPCA dos grupos com subitens Livres entre anos de 1999 a 2016 Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.O grupo de alimenta??o e bebidas apresentou grandes oscila??es nesse período. No geral, os pre?os dos itens contidos nesse grupo s?o bastante sensíveis a mudan?as climáticas que afetam a produ??o agrícola. Alguns itens s?o ligados ao mercado externo, portanto, varia??es na taxa de c?mbio influenciam diretamente esses produtos. Vila?a (2015) destaca alguns subitens de alimenta??o, “carnes”, “aves e ovos”, “a?úcar refinado”, “a?úcar cristal”, “óleo de soja”, “azeite de oliva”, “panificados”, esses têm forte influência de pre?os internacionais e do c?mbio, pois o Brasil é grande exportador dos quatro primeiros e importador dos dois últimos (panificados pela farinha de trigo). Estes itens ligados ao mercado externo respondem por 5,91% do IPCA e 26,7% do grupo alimenta??o. No subitem carnes e aves, Vila?a (2015) ainda contribui destacando o crescimento expressivo das suas exporta??es, tal acontecimento diminui e impacta a oferta desses produtos no mercado interno, uma vez que, pressiona os pre?os, principalmente quando esse fato se alia ao aumento do poder de compra do consumidor.Devido a forte concorrência externa existente para os grupos “vestuário” e “artigos para residência”, os pre?os desses itens tendem a diminuir, porém em situa??o de aumento na demanda interna, as importa??es desses itens podem aumentar. Com rela??o às “despesas pessoais”, a maior parte dos subitens é de servi?os, portanto será analisada mais adiante.O grupo educa??o apresentou um crescimento contínuo a partir do ano de 2008. O aumento da demanda por qualifica??o de m?o-de-obra e o aumento da renda da popula??o, que permitiu as escolas repassarem custos para as mensalidades, formam algumas das justificativas existentes para esse comportamento. Contudo, em 2016 esse grupo foi pressionado a acompanhar a trajetória descendente dos demais.O gráfico 3 apresenta o comportamento dos subgrupos do IPCA que englobam os itens cujos pre?os s?o administrados por contrato e, por isso, s?o relativamente insensíveis às varia??es na política monetária. S?o eles: habita??o, transportes, comunica??o e saúde e cuidados pessoais. Como mencionado inicialmente, os itens administrados exerceram grande influência no comportamento do nível geral de pre?os de 1999 até 2006 quando se inicia a redu??o dessa participa??o até 2014. O comportamento do gráfico 3 reflete esse acontecimento em cada grupo.Cada conjunto que comp?e os pre?os administrados possui diferentes políticas de reajustes que influenciam outros pre?os. Esses pre?os possuem baixa sensibilidade à oferta e à demanda e possuem um caráter fortemente inercial, já que os reajustes s?o feitos a partir de contratos atrelados a infla??o passada, pre?o internacional do petróleo e varia??o cambial, tornando-os insensíveis à taxa Selic (PIMENTEL et al., 2013).Gráfico 3. IPCA dos grupos com subitens monitorados entre os anos de 1999 a 2016 Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.Aluguel, energia elétrica e gás de botij?o, s?o alguns itens que possuem pre?os administrados e que somados englobam 77% do grupo habita??o. Depois de um considerável período de queda, os pre?os se estabilizaram a partir de 2008. A eleva??o observada em 2014 foi dada pela varia??o significativa do pre?o da energia. O grupo de transportes tem maior participa??o de monitorados e representa 22% do IPCA. A partir de 2012, o seu resultado é crescente, influenciado principalmente pelo reajuste dos combustíveis e das tarifas de ?nibus urbanos. Aproximadamente 60% do grupo de saúde e cuidados pessoais é composto por subitens monitorados (produtos farmacêuticos com 32% e planos de saúde com 26%), o mesmo é o grupo que apresenta menor volatilidade no seu comportamento. Por fim, o grupo de comunica??o é o único com queda recorrente nos últimos anos.A partir de meados de 2006, os pre?os monitorados passaram a contribuir menos na determina??o da infla??o, sendo substituído pelos itens livres. Martinez e Cerqueira (2011) ao estimarem determinantes da infla??o por modelos de fun??o de transferência verificaram que as mudan?as de comportamento nos pre?os monitorados podem ser atribuídas a quebras estruturais ocorridas entre os anos 2005 e 2006, possivelmente devido a frutos de políticas governamentais adotadas explicitamente para diminuir a infla??o estruturalmente elevada nesses segmentos, como revis?es em regras de reajuste nas tarifas de energia elétrica e telefonia fixa, além de tributa??o variável para diminuir a volatilidade da gasolina.Esse comportamento perdurou até 2014, quando em 2015 os monitorados voltam a apresentar maior contribui??o no comportamento do IPCA. A forte alta inflacionária decorrente do represamento artificial de uma série de tarifas públicas durante 2013 e parte de 2014, gerou reajustes expressivos ao longo de 2015. Esse episódio adicionado a crise hídrica no período desencadeou a implementa??o do sistema de bandeiras tarifárias que, juntamente com o fim dos repasses governamentais à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e o pagamento dos empréstimos recebidos pela c?mara de Comercializa??o de Energia Elétrica (CCEE), contribuíram para encarecer ainda mais os custos da energia elétrica. Adicionalmente, os incrementos de 12,7% nos pre?os da gasolina, impactados pela eleva??o da Cide e pela desvaloriza??o cambial, e de 9,9% nas tarifas de transporte público também ajudaram na composi??o desta expressiva eleva??o dos pre?os administrados ao longo do ano (IPEA, 2016). Em 2016, o grupo habita??o apresentou destaque por seu acentuado decrescimento. Além da diminui??o do poder de compra dos consumidores, nesse ano, um importante episódio que contribuiu para esse resultado foi a redu??o dos pre?os da energia elétrica de -3,70%.Assim como 2006 marcou um ponto de inflex?o no comportamento dos itens monitorados e livres, 2004 marcou um ponto de inflex?o no comportamento dos itens comercializáveis e n?o comercializáveis, como pode ser visto no gráfico 4. Passado esse ano o setor dos bens n?o comercializáveis foi fundamental para explicar a din?mica da infla??o doméstica.Gráfico 4. IPCA dos bens comercializáveis e n?o comercializáveis (1999-2016) Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.A partir do ano de 2010, os bens n?o comercializáveis alcan?aram os maiores patamares verificados no período. O crescimento do mercado de trabalho e o aumento da renda dos trabalhadores foram fatores que justificaram esse desempenho. Com uma significativa amplia??o na demanda e o fato dos bens n?o comercializáveis n?o serem passíveis de concorrência externa, o que proporciona um espa?o maior para aumentar os pre?os, o resultado foi uma maior press?o inflacionária, que veio a apresentar sinais de redu??o no ano de 2016, refletindo as consequências provenientes da crise nacional, do desemprego e da redu??o do consumo das famílias.O gráfico 5 apresenta o comportamento dos bens n?o-duráveis, semiduráveis e duráveis entre 1999 e 2015. Os dois últimos segmentos apresentaram press?es inflacionárias reduzidas devido a concorrência externa existente e o fato de muitos setores de bens semiduráveis e duráveis terem tido benefícios fiscais, tanto na redu??o dos impostos quanto na desonera??o da folha de pagamento. Os n?o-duráveis, diferentemente, apresentaram desempenho crescente a partir de 2011, justificado pelo crescimento da renda, e interrompido em 2016 em detrimento do cenário interno.Gráfico 5. IPCA dos bens n?o-duráveis, semiduráveis e duráveis (1999-2016) Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.O setor de servi?os compreende mais de 25% do total do IPCA, tendo uma participa??o importante no resultado do índice. Por n?o possuir concorrência externa, esse setor apresenta maior rigidez nos pre?os visto que há uma possibilidade maior no aumento dos seus pre?os. Os servi?os s?o indiretamente afetados pela varia??o taxa de juros, visto que s?o fortemente dependentes da renda disponível. Assim, o processo de expans?o da renda observado no país é um fator determinante para o crescimento dos servi?os e para sua rigidez de pre?os, como é possível observar no gráfico 6.Gráfico 6. IPCA do setor de servi?os (1999-2016) Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.Visto que o aumento dos pre?os nesse setor está atrelado a aumentos na renda, os dados contidos no gráfico 7 refletem as mudan?as ocorridas na economia brasileira ao longo dos anos. Até o ano de 2015, Leite (2015) relaciona esse comportamento à melhoria na distribui??o de renda e redu??o do desemprego que, por seu turno, evidenciam as press?es sobre os pre?os decorrentes da existência do conflito distributivo entre salários e lucros. Já em 2016, os pre?os desse setor cedem de maneira significativa, no entanto, em decorrência de amargos remédios, refletindo claramente o impacto do aumento da taxa de desemprego nacional na economia.Summa e Braga (2014) destacam que a infla??o no setor de servi?os apresenta um grau de inércia elevado, pelo fato desse setor ser formado basicamente por bens n?o-comercializáveis e os salários serem atrelados ao salário mínimo, s?o um fator de custo relevante para explicar o comportamento dos pre?os neste setor. Braga (2011) também contribui ao conferir a existência de um conflito distributivo latente que possibilita aos empresários, em algum grau, recompor as margens de lucro após choques nos custos de produ??o, podendo explicar parte significativa da inércia inflacionária na economia brasileira.Giovannetti (2016) vai além da decorrência da n?o possibilidade de concorrência de pre?os com o setor externo, ele cita as dificuldades de transporte (custo ou tempo de transporte para o caso de alimentos in natura), a falta de mobilidade geográfica, como é o caso de servi?os de habita??o, gera??o de energia e transporte, e a própria natureza do servi?o, como nos servi?os educacionais, servi?os de saúde e servi?os pessoais, como possíveis justificativas para o aumento dos pre?os no setor de servi?os.Por fim, Modenesi e Ferrari-Filho (2011) afirmam que a infla??o brasileira é explicada, em grande medida, por dois componentes: a inércia e as press?es de custos. O fato de parcela significativa dos bens e servi?os existentes na cesta de consumo se encontrar, mesmo que parcialmente, atrelados a índices de infla??es passadas, confere como um importante componente inercial, que repercute em um processo de auto alimenta??o inflacionária IGPO ?ndice Geral de Pre?os (IGP) foi concebido no final dos anos de 1940 para ser uma medida abrangente do movimento de pre?os, ou seja, um índice que englobasse n?o apenas diferentes atividades como também etapas distintas do processo produtivo. Esse índice desempenha, basicamente, três fun??es: primeiramente, é um indicador macroecon?mico que representa a evolu??o do nível de pre?os. Uma segunda fun??o é a de deflator de valores nominais de abrangência compatível com sua composi??o, como a receita tributária ou o consumo intermediário no ?mbito das contas nacionais. Em terceiro lugar, é usado como referência para a corre??o de pre?os e valores contratuais.Calculado pela Funda??o Getúlio Vargas (FGV), trata-se de uma média aritmética ponderada de três outros índices de pre?os, cujos pesos de cada um dos índices componentes correspondem a parcelas da despesa interna bruta, calculadas com base nas Contas Nacionais – resultando na seguinte distribui??o: ?ndice de Pre?os ao Produtor Amplo (IPA), 60%; ?ndice de Pre?os ao Consumidor (IPC), 30% e ?ndice Nacional de Custo da Constru??o (INCC), 10%.A escolha pela análise do IGP se deve ao fato de este índice ser fortemente influenciado pelas variáveis externas em quest?o – taxa de c?mbio e pre?os externos –, já que o ?ndice de Pre?os ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% de sua composi??o, apresenta forte sensibilidade ao c?mbio, pois os produtos importados fazem parte de sua forma??o.O gráfico 7 mostra a comportamento do IGP-M entre 1999 e 2016, que oscilou significativamente, com ascens?es verificadas nos anos: 1999, 2002, 2004, comportamento crescente de 2006 a 2008, 2010, 2012 e 2015.Gráfico 7. IGP-M entre os anos de 1999 e 2016 Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do IBRE/FGVA ado??o do c?mbio flutuante, em janeiro de 1999, resultou na desvaloriza??o do real frente ao dólar, justificada pela incerteza quanto à mudan?a do regime cambial. Esse acontecimento contribuiu significativamente para o aumento dos pre?os, no mesmo ano, uma vez que, o c?mbio afeta a infla??o diretamente por meio das mudan?as nos pre?os dos servi?os e bens transacionáveis com o exterior e indiretamente devido a utiliza??o de insumos importados na produ??o doméstica de bens e servi?os, bem como na substitui??o de bens domésticos por similares importados. A taxa de c?mbio estabilizou-se ainda no mesmo ano, porém tal cenário fundamenta a ideia da forte influência que o c?mbio passou a ter na forma??o de pre?os nacionais.O ano de 2002 se destaca por ter apresentado a maior alta, n?o só no período proposto por essa análise, mas desde a cria??o do Plano Real, quando as maiores infla??es anuais constatadas pelo IGP-M foram em 1999, ano da desvaloriza??o do Real, e em 1994, ano de implanta??o da moeda. O aumento do índice foi verificado principalmente no segundo semestre, devido a uma influência mais intensa do c?mbio. A alta dos pre?os verificada, no segundo semestre, foi justificada pela incerteza da política econ?mica que viria a ser adotada pelo presidente eleito em outubro, Luiz Inácio Lula da Silva. Tal desconfian?a resultou novamente na deprecia??o do real, que só veio a ser contida após a ado??o de políticas econ?micas mais conservadoras, superando o risco e a desconfian?a dos investidores e voltando a atrair dólares para o país, o que contribuiu para apreciar o real.Em 2004, o IGP-M encerrou o ano com alta acumulada de 12,41%. O ?ndice de Pre?o por Atacado (IPA) foi o que mais pressionou a infla??o nesse ano, encerrando o ano com alta acumulada de 15,09%, devido os reajustes dos bens intermediários, que atingiram 26,47% em 2004. Outro componente do IPA que registrou infla??o de dois dígitos foram os bens finais, que subiram 12,14%. Já as matérias-primas brutas ficaram apenas 1,30% mais caras. O ?ndice Nacional de Custo da Constru??o (INCC) foi outro indicador que pressionou a infla??o neste mesmo ano, com alta acumulada de 10,94% e o que mais pesou nessa conta foi o aumento de 15,33% dos materiais de constru??o e dos servi?os. Houve também um aumento da m?o-de-obra, que subiu 6,16%. O ?ndice de Pre?os ao Consumidor (IPC) foi o que menos pressionou o IGP-M neste ano, com uma infla??o acumulada de 6,20%. Entre os itens que comp?em o IPC, o que mais pesou foi o transporte, cujo aumento no ano foi de 8,41%. Em seguida, vieram despesas diversas (6,91%), e educa??o, leitura e recrea??o (6,85%). A alimenta??o e a habita??o acumularam altas de 5,73% e 5,77%, respectivamente.Em 2007, o cenário continuou desfavorável para o Brasil, por causa do início da crise americana que fez surgir uma avers?o internacional ao risco, resultando na redu??o de investimentos na economia. Houve uma forte acelera??o nos pre?os dos gr?os no atacado. Entre os destaques est?o altas em commodities importantes como soja (6,19%), milho (10,99%), arroz beneficiado (11,97%) e arroz em casca (5,81%).Em 2010, o real continuava apreciado, pois a conjuntura internacional permanecia refém da crise americana e a taxa Selic teve um aumento, atraindo investimentos para o país. O IGP-M nesse ano foi pressionado por uma forte acelera??o da alta dos custos no atacado. Os itens que apresentaram maior peso nesse resultado foram o minério de ferro, a cana de a?úcar, leite in natura, soja em gr?o e ferro gusa.Em meados de 2012, a crise financeira mundial resultou em uma mudan?a no comportamento dos investidores, que optaram por fugir do risco existente nos mercados dos países emergentes e procuraram ativos mais seguros, como o dólar, resultando por fim em uma desvaloriza??o do real frente a moeda norte-americana. Nesse momento, o aumento da soja e o reajuste dos combustíveis foram os fatores que mais influenciaram o resultado do IGP-M no ano. Por se tratar de itens que afetam toda uma cadeia produtiva, a influência exercida por eles nos pre?os é bem significativa. Mais da metade do IPA, 60%, foi só do aumento no complexo soja. Os combustíveis, a gasolina e o diesel, foram reajustados pela Petrobras no mês de junho, o que contribuiu com 0,23% para a infla??o no atacado, o equivalente a 16% da taxa do IPA-M.O IGP-M cresce novamente, em 2015. Esse crescimento decorreu do encarecimento de matérias-primas brutas (destaque para a soja em gr?o, aves e milho em gr?o) que pressionou os produtos no atacado, elevando a infla??o. A alta do dólar pressionou os custos, principalmente dos agricultores, que utilizam produtos cotados em dólar e repassam esse aumento para os pre?os. O aumento dos pre?os dos combustíveis e da energia elétrica também foram fatores que contribuíram para a alta do IGP-M em 2015.Condizendo com estudos empíricos nessa temática, alguns deles supracitados nessa pesquisa, percebe-se que as eleva??es do ?ndice Geral de Pre?os foram simultaneamente decorrentes de eleva??es na taxa de c?mbio. A deprecia??o do real frente ao dólar resulta em um aumento no nível de pre?os com uma magnitude maior do que em situa??es de aprecia??o (PIMENTEL et al., 2013). IPCA e IGPFeita a análise do IGP e do IPCA, é necessário discutir a influência que o primeiro exerce sobre o segundo. Como foi visto, o IPCA possui itens, cujos pre?os s?o administrados por contratos e cujas tarifas s?o corrigidas pelo IGP. O gráfico 8 deixa claro que o IGP é mais influenciado pela taxa de c?mbio do que o ?ndice de Pre?os ao Consumidor Amplo. Isso ocorre, porque, como visto, o IPA capta a evolu??o dos pre?os dos insumos importados e o mesmo possui maior peso no IGP, 60%.Assim sendo, verifica-se que a taxa de c?mbio exerce influência no IPCA de forma direta, ao afetar o comportamento do pre?o dos bens e servi?os que entram na composi??o desse índice; e indireta, ao utilizar insumos importados pelos setores da economia.Gráfico 8. IGP-M, IPCA e Taxa de C?mbio entre os anos de 1999 e 2016Fonte: Elabora??o própria a partir de dados do BCB.Pimentel et al. (2013) destaca que o repasse cambial da taxa de c?mbio para a infla??o no Brasil no período após a liberaliza??o do c?mbio e ado??o do regime de metas de infla??o é assimétrica, onde os impactos de deprecia??es s?o transmitidos em maior magnitude aos pre?os do que de aprecia??es. Esse comportamento implica que a volatilidade da taxa de c?mbio tende a ter um impacto positivo sobre os pre?os ao consumidor. Devido a sensibilidade existente do IGP a taxa de c?mbio, e a rela??o do IPCA com o IGP por meio dos itens indexados, o c?mbio consiste em uma importante variável de transmiss?o dos impulsos inflacionários para o índice de pre?os nacional.CONCLUS?ESA amplia??o do grau de abertura comercial e financeira, verificada a partir da década de 1990, tornou a din?mica econ?mica dos países mais dependente da conjuntura internacional. Como foi discutido, a economia brasileira experimentou uma série de mudan?as macroecon?micas e institucionais que tornaram a capacidade de crescimento econ?mico, as taxas de juros básica (Selic) e de c?mbio e a infla??o muito mais dependentes do cenário externo. Variáveis como taxa de juros e pre?os externos, se mostraram fundamentais para a explica??o da din?mica inflacionária na economia brasileira entre 2001 e 2015, confirmando a existência de infla??o importada para os pre?os domésticos.Feita a análise dos grupos do IPCA, verificou-se que um quarto desse índice é composto por itens com pre?os administrados por contratos, cujas tarifas s?o corrigidas pelo IGP que, por sua vez, é fortemente influenciado pelas variáveis externas em quest?o, fazendo do c?mbio uma importante variável de transmiss?o dos impulsos inflacionários para o índice de pre?os a ado??o do Regime de Metas de Infla??o em 1999, a taxa de juros de curto prazo (Selic) configura-se como principal instrumento de a??o sobre a infla??o brasileira. No RMI, a taxa de juros atua sobre a infla??o através da demanda agregada e também da taxa de c?mbio – neste caso, com efeitos mais diretos sobre os custos de produ??o. No entanto, dada a amplia??o do grau de abertura econ?mica, a eficácia do regime é comprometida na medida em que seu efeito sobre o c?mbio é indireto e incerto, já que essa variável depende também de fatores externos; e seu efeito colateral negativo para o crescimento econ?mico pode ser um custo muito alto para o país, como evidenciaram Araújo e Modenesi (2009), o que, por sua vez, pode limitar o uso da taxa de juros nas fases de fraco dinamismo econ?mico.Tendo em vista que o caráter da infla??o brasileira n?o é de demanda, um aumento na taxa de juros n?o resulta em impactos significativos na conten??o do aumento dos pre?os, Oreiro et al. (2009) demonstram que a taxa Selic tem impacto reduzido sobre o IPCA o que implica em uma elevada “dose de juros” para reduzir a demanda agregada e impactar a infla??o. A eleva??o da taxa de juros por sua vez favorece a aplica??o financeira em detrimento da produtiva, gera efeitos indesejáveis sobre o nível de emprego e renda, tem impacto negativo sobre o investimento, sobre o consumo e sobre as contas públicas (VILA?A, 2015).A existência de uma série de trabalhos empíricos (vide se??o 4.1), que mostram a baixa resposta da infla??o brasileira aos condicionantes domésticos e a gama de outros fatores que a taxa de c?mbio depende, dificultando o seu controle, s?o evidências que sugerem que o Regime de Metas de Infla??o n?o se constitui na política de controle inflacionário mais adequada para o contexto brasileiro, contexto esse que ainda apresenta um considerável grau de inércia que dificulta a capacidade de atua??o da autoridade monetária.A amplia??o do grau de abertura econ?mica trouxe, portanto, um efeito colateral para a infla??o, na medida em que modificou, estruturalmente, a forma??o de pre?os das economias reduzindo a autonomia dos Bancos Centrais na execu??o e cumprimento da tarefa de manter estáveis os pre?os domésticos. Torna-se, portanto, necessário adotar uma política de controle da infla??o com instrumentos capazes de lidar, também, com a volatilidade da taxa de c?mbio, via controle do fluxo de capital, contemplando as modifica??es verificadas na economia mundial e buscando alternativas que contemplem a real configura??o da infla??o brasileira. REFER?NCIAS BIBLIOGR?FICASALVES, P. R. S. et al. Pre?os Administrados: proje??o e repasse cambial. BCB: Trabalhos para Discuss?o, Brasília, n. 305, Mar?o 2013.ARA?JO, E.; MODENESI, A. M. Custos e Benefícios do Controle Inflacionário no Brasil (2000-2008): uma análise empírica do mecanismo de transmiss?o da política monetária com base em um modelo VAR. In: XXVIII Encontro Nacional de Economia. Salvador. 2010a.ARA?JO, E.; MODENESI, A. M. A Import?ncia do Setor Externo na Evolu??o do IPCA (1999-2010): uma análise com base em um modelo SVAR. In: XXVIII Encontro Nacional de Economia. Salvador. 2010b.ARIDA, P. Reajuste Salarial e Infla??o. 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