Macua.blogs.com



HYPERLINK "" \o "Permanent Link to Ainda Guevara em ?frica" Ainda Guevara em ?frica13/02/2010, 23:26 [Ernesto "Che" Guevara no Congo (n?o resisto a chamar a aten??o para a encena??o da fotografia)]Na sequência de textos sobre os contactos entre Ernesto Guevara e a direc??o da Frelimo, no ?mbito das iniciativas que aquele dirigente do movimento comunista teve em ?frica (ver 1, 2, 3 [e ainda esta referência]) Jo?o Cabrita deixou abaixo um comentário que, pelo seu interesse, aqui transcrevo:1. Se bem que a defini??o apresentada por Machado da Gra?a sobre o conceito de “foco” esteja correcta, no caso do Congo tinha um outro sentido. Tratava-se da ideia enunciada por Che Guevara sobre a “cria??o de dois, três muitos Vietnames”. Os Estados Unidos já estavam no Vietname, e a ideia dos cubanos era criar um conflito de idênticas propor??es em ?frica, a partir do Congo, e também expandir o já existente em vários países da América Latina. No raciocínio cubano, isto atrairia os Estados Unidos a novas zonas de conflito, o que acabaria por debilitá-los.Um eventual envolvimento da Frelimo no esquema cubano n?o significaria necessariamente que todo o exército da guerrilha mo?ambicana tivesse de ser transferido da Tanz?nia e do interior de Mocambique para o Congo. Imagine-se o tremendo problema logísitico que n?o se criaria se todos os efectivos militares existentes (Frelimo, MPLA, ZAPU, ANC, etc.) optassem por essa via. Sob o ponto de vista estratégico era de todo o interesse manter acesos os conflitos em Mo?ambique, Angola, Rodésia, Namíbia e ?frica do Sul, dispersando-se assim as for?as contrárias.2. Machado da Gra?a diz n?o ter ainda visto nada que o convencesse de que a liga??o de Mondlane aos Estados Unidos era “institucional, com o governo americano, e n?o meramente afectiva com o país de origem da mulher e onde estudou”.No meu estudo, que citei no artigo publicado no Zambeze, servi-me de documenta??o oficial do Departamento de Estado norte-americano, e de outra obtida na Biblioteca John F. Kennedy e na Biblioteca do Congresso (totalizando cerca de 400 páginas). Nela est?o estampados de forma inequívoca os profundos la?os existentes entre Mondlane e a Administra??o Kennedy. As liga??es mantiveram-se mesmo durante a presidência de Lyndon Johnson.Poderia mencionar, entre outros, os despachos trocados entre a embaixada americana em Dar es Salam e o Departamento de Estado, um deles, com a data de 29 de Junho de 1962, a transmitir um recado de Mondlane para Wayne Fredericks, adjunto do subsecretário de Estado para os assuntos africanos: Mondlane “necessita desesperadamente de fundos para consolidar a independência da Frelimo em rela??o ao Gana e aos países do bloco comunista”, dado que ele, Mondlane, “já despendeu todas as poupan?as pessoais”.Um outro exemplo, foi o financiamento concedido pela Funda??o Ford para constru??o do Instituto Mocambicano (IM) em Dar-es-Salam, destinado a refor?ar a periclitante posi??o de Mondlane face às correntes antagónicas que ele havia derrotado na corrida à presidência da Frelimo. As diligências come?aram por ser feitas por Mondlane junto do ministro da justi?a (Robert Kennedy) e terminaram no gabinete do ministro da defesa, Robert McNamara, que antes de ter integrado a Administra??o Kennedy havia sido director executivo da Corpora??o Ford. Cito de uma nota de Robert Kennedy para Mennen Williams, assistente do Secretário de Estado norte-americano, datada de 11 de Abril de 1963: “…Mondlane needs about 50 grand to keep the lid on his people and also stay on top. That seems to me a small investment.” No fim, o “investimento” da Funda??o Ford or?ou em $96,000.E quem foi trabalhar para administra??o do IM foram pessoas como a Sra. Betty King, funcionária do African-American Institute em Dar-es-Salam. Parte do corpo docente do IM foi rectrutado pelo Corpo da Paz. ? do domínio público que o African-American Institute é uma institui??o do governo americano (tal como o Peace Corps) e que entre outras coisas publica o ?Africa Report?, revista que se distinguiu pela forma como promoveu a imagem de Mondlane. O articulista cubano da ?Prensa Latina? n?o escrevia à toa.3. N?o creio que o socialismo advogado por Mondlane correspondesse ao stalinismo do regime de Machel. Posteriormente à experiência stalinista da Frelimo, Janete Mondlane declarou que o marido “n?o teria concordado com as decis?es tomadas após a independência, muitas das quais associadas à viola??o da ideia do direito à liberdade individual”.Relacionado com esta quest?o recupero um livro -mais do que recomendável para analisar tantas outras quest?es mais vastas:[Amélia Souto, Caetano e o Ocaso do "Império". Administra??o e Guerra Colonial em Mo?ambique durante o Marcelismo (1968-1974), Afrontamento, 2007]“Pouco depois da luta armada se ter iniciado, Che Guevara fez uma viagem de 3 meses a ?frica (chegou em Dezembro de 1964 a Dar es Salaam) assinalando o interesse de Havana pela luta que se desenvolvia no continente, sobretudo no Zaire. Em Fevereiro de 1965, Guevara visitou os escritórios da Frelimo, onde teve um encontro com Eduardo Mondlane. Este encontro foi tempestuoso. Segundo Gleijeses [Piero Gleijeses, Conflicting Missions: Havana, Washington anda Africa, 1959-1976, Chapel Hill, Univ. South Carolina Press, 2002], Fidel Castro ainda recordava isso doze anos mais tarde, altura em que, num encontro com Erich Honecker, presidente da Alemanha Democrática, afirmou: “Os diferendos que nós tivemos com a Frelimo remontam ao tempo quando [...] Che Guevara se encontrou com Eduardo Mondlane. A irrita??o de Mondlane perante a insistência de Che Guevara de que a Frelimo devia enviar os seus guerrilheiros para serem treinados no Zaire conduziu a um choque pessoal entre ambos.” Um outro aspecto que originou este choque relacionou-se com o exagero da Frelimo em rela??o às suas proezas militares (uma tenta??o que Fidel Castro evitou durante a guerra com Baptista) e perante as quais Che, que n?o era um bom diplomata, expressou o seu cepticismo, mas fê-lo de uma forma que ofendeu profundamente Mondlane. A conversa adquiriu um tom áspero que os dividiu.* Embora Cuba considerasse a Frelimo como um dos movimentos de guerrilha mais fortes de ?frica, a quem desejava dar maior apoio, este primeiro encontro deixou marcas que nunca foram ultrapassadas totalmente durante a luta, tendo permanecido o mau sentimento gerado pelo encontro, “no qual o Che considerou Mondlane pouco digno de confian?a, e Mondlane considerou Che irreverente e desrespeitoso”. Apesar disso, Cuba ofereceu-se para enviar instrutores para os campos da Frelimo na Tanz?nia, ou directamente para Mo?ambique, oferta essa que a Frelimo recusou por ser seu princípio enviar guerrilheiros para treino no exterior, em vários países, incluindo Cuba, sendo os chineses os únicos instrutores estrangeiros que a Frelimo permitiu na Tanz?nia. Mas Cuba apoiou a Frelimo, n?o só treinando alguns dos seus quadros mas também fornecendo armamento, alimenta??o e uniformes.*Esta vers?o é confirmado por Marcelino dos Santos que participou no encontro (era ent?o Vice-Presidente da Frelimo) e que refere terem surgido pontos de vista diferentes relacionados com a prepara??o da guerra e o seu desenvolvimento.” (pp. 209-210)A propósito dos contactos entre Ernesto Guevara e a Frelimo12/02/2010, 9:11 A propósito das recentes entradas sobre os contactos de Ernesto Guevara (dito “Che”) com a Frelimo Amélia Souto, que muito honra o ma-schamba com as suas visitas, enviou-me esta fotografia de uma reuni?o na Tanz?nia do referido dirigente comunista com membros da direc??o da Frelimo – onde se pode reconhecer Samora Machel.Ainda a este propósito, e em directa liga??o ao texto de Jo?o Cabrita abaixo reproduzido transcrevo uma mensagem que o Machado da Gra?a (once a blogger, always a blogger) me enviou.“Estive agora a ler o texto do Cabrita sobre Mondlane e o Che. Ele p?e as divergências entre os dois, como apresentadas pelo Helder Martins, como quest?es de lana caprina. Nomeadamente a quest?o do tipo de guerrilha a desenvolver. Ora eu creio que esta quest?o n?o era, de forma nenhuma, coisa sem import?ncia. Era uma quest?o fundamental. O que n?o tira import?ncia aos outros aspectos que o Cabrita levanta no seu artigo nem, de facto, os contradiz.Mas qual era a divergência entre Mondlane e o Che? O Guevara aprendeu a fazer guerrilha em Cuba e, depois da vitória dos guerrilheiros, sistematizou a sua experiência num livro, que eu devo ter para aí em qualquer lado. Era a teoria do foco guerrilheiro. Segundo ele a guerrilha devia conseguir intalar-se numa parte da área a libertar e depois, a partir de lá, ir libertando o resto do território. No caso cubanbo o foco teria sido a Sierra Maestra. Depois disso ele procurou transferir esta teoria do foco para áreas muito maiores. Quando morreu, na Bolívia, a ideia era conquistar o poder naquele país e, a partir dele, exportar a revolu??o para os vários países vizinhos com quem a Bolívia tem fronteiras. Ora foi isso, também, o que veio propor em ?frica. Aqui o foco seria no Congo e todos os movimentos de liberta??o deveriam apoiar os congoleses até conquistarem o poder naquele país e, depois, dele partiriam para a liberta??o dos vizinhos. Isso implicaria, se bem percebo, que a Frelimo deixasse de lutar em Mo?ambique e fosse refor?ar o contingente no Congo. Só depois deste libertado se passaria para outros e, um dia, se chegaria a Mo?ambique.E, ao que sei, foi a isto que Mondlane se op?s, defendendo que a luta da Frelimo era dentro de Mo?ambique, para libertar os mo?ambicanos, e n?o no Congo. Se houve tudo o mais que o Cabrita afirma, n?o sei, mas diria que uma coisa pode n?o contradizer a outra mas apenas complementarem-se.[Entretanto] Muito se tem falado da liga??o de Mondlane aos Estados Unidos, mas ainda n?o vi nada que me convencesse de que a liga??o era institucional, com o governo americano, e n?o meramente afectiva com o país de origem da mulher e onde estudou. Mas um facto é que, no final da sua vida, ele declarou numa entrevista que a Frelimo estava cada vez mais socialista, um socialismo do tipo marxista-leninista. De qualquer forma, o artigo do Cabrita traz mais dados para a compreens?o dessa época, o que é bom.”jpt HYPERLINK "" \o "Permanent Link to Che e Mondlane" Che e Mondlane11/02/2010, 12:32 (por AL mera intermediária de Jo?o Cabrita) – O meu amigo e leitor maschambiano Jo?o Cabrita enviou-me um artigo dele sobre as rela??es entre Guevara e Eduardo Mondlane, publicado aqui há uns anos no jornal Zambeze. O artigo foi despoletado pela polemica causada com a publica??o das memorias de Hélder Martins num livro chamado Porquê Sakrani.Aqui fica para vosso deleite:DE H?LDER MARTINS: “PORQU? SAKRANI?”Livro de memórias suscita polémicaHélder Martins, histórico da Frelimo, médico de profiss?o, pedagogo inovador, depois de Janet Mondlane e Nadja Manghezi com O meu cora??o está nas m?os de um negro, lan?ou-se na narrativa da gesta libertadora mo?ambicana, passando para o papel as suas memórias. Porquê Sakrani – Memórias dum médico duma guerrilha esquecida é o título de um exaustivo trabalho, de leitura fácil mas cativante, lan?ado o ano passado nas bancas nacionais e estrangeiras. Tal como o título sugere, o livro é o testemunho de Hélder Martins sobre a fase da luta armada contra o colonialismo. Um livro que promete ser polémico, pelo menos relativamente a um “grande tema”, como o autor lhe chama. Trata-se da visita de Che Guevara ao escritório da FRELIMO. Hélder Martins insistiu em contar essa apaixonante faceta da história recente de ?frica pois que, como ele afirma no livro, “muitos anos mais tarde, ouvi e li vers?es disparatadas desse acontecimento, por pessoas, que n?o estiveram presentes.” E remata Martins: “Portanto, a minha vers?o é por testemunhas directas (primárias) e produzida pouco tempo depois dos factos.”Recentemente, o director deste jornal teve oportunidade de entrevistar um outro autor mo?ambicano e um dos temas focados foi precisamente o encontro de Che Guevara com a direc??o da Frente de Liberta??o de Mo?ambique. Trata-se Jo?o Cabrita, autor de Mozambique: The tortuous road to democracy, que apresentou na altura uma vers?o radicalmente oposta desse encontro; qui?á “disparatada”, na óptica de Martins. A pedido do ZAMBEZE, Jo?o Cabrita preparou o seguinte artigo, e nele reitera a posi??o anteriormente defendida, avan?ando com novos dados sobre o “grande tema”. ***Num livro de memórias de publica??o recente, HYPERLINK "" \l "_ftn1" [1] Hélder Martins referiu-se à disputa havida entre Cuba e a Frelimo no decurso dum encontro entre Eduardo Mondlane e Che Guevara, realizado em Dar-es-Salam em Fevereiro de 1965. O autor fez quest?o de deixar claro que decidira referir-se ao assunto dado que “anos mais tarde, tinha ouvido e lido vers?es disparatadas desse acontecimento, por pessoas que n?o estiveram presentes ao encontro”. A vers?o de Hélder Martins, segundo ele conta, baseia-se em “testemunhas directas (primárias) e produzida pouco tempo depois dos factos.” Em suma, Hélder Martins refere que a disputa que op?s Eduardo Mondlane a Cuba centrou-se na rejei??o de conceitos de luta de guerrilha defendidos pela delega??o cubana, e no mal-estar causado por Che Guevara por ter levantado dúvidas quanto à autenticidade dos comunicados de guerra emitidos pela Frelimo.Tal como outros membros da Frelimo, Hélder Martins incorre no erro de se atribuir a essa disputa quest?es de lana-caprina, tais como conceitos de luta de guerrilha e comunicados de guerra empolados, quando a causa fundamental gira em torno da recusa de Eduardo Mondlane em participar num ambicioso plano que Cuba pretendia executar na ?frica Austral com o apoio dos movimentos de liberta??o. Tratava-se de um plano que, no fundo, punha em cheque os interesses dos Estados Unidos, país em rela??o ao qual Eduardo Mondlane era um fiel aliado.O facto de n?o se ter assistido ao encontro de Dar-es-Salam, n?o impede, que na presen?a de documentos oficiais e do testemunho das partes intervenientes, se possa fazer um juízo da situa??o e avan?ar com conclus?es que, até prova em contrário, n?o podem, do pé para a m?o, ser rotuladas de “disparatadas”.? interessante referir que Hélder Martins também n?o esteve presente ao encontro de Dar-es-Salam pois segundo relata no livro apenas chegou à Tanz?nia em Mar?o de 1965. O que n?o deixa ser caricato, é que, no seu livro de memórias, Hélder Martins fez quest?o de frisar que a sua vers?o sobre a disputa entre Mondlane e Cuba se fundamentou naquilo a que ele próprio referiu como “fofocas” contadas por pessoas que acidentalmente iam a Dar-es-Salam, mas que ele se sentiu à-vontade em descrever como fontes “primárias”, n?o identificando, todavia, nenhuma delas. Qualquer investigador concordará que no campo da pesquisa, as “fofocas” n?o colhem.O PLANO DE CUBAA interven??o militar cubana em ?frica n?o se tratou de uma iniciativa pessoal de Che Guevara. Ela obedecia a um plano concebido ao mais alto nível pelo governo de Cuba e que contava com o apoio da China, da Uni?o Soviética e de outros países do chamado bloco de Leste. Em ?frica, Cuba dispunha do apoio da Argélia, do Gana e da Tanz?nia, entre outros países.O objectivo cubano consistia em servir-se da luta que vinha sendo travada no Congo-Kinshasa, na sequência do assassinato de Patrice Lumumba, para promover um conflito de grandes propor??es na regi?o austral do continente, em particular nos territórios ainda sob domina??o colonial (Angola, Mo?ambique, Rodésia do Sul e Namíbia) e, numa fase posterior, na ?frica do Sul. Em última inst?ncia, pretendiam os dirigentes cubanos atrair os Estados Unidos a mais uma zona de conflito, para além dos que já se desenrolavam no sudoeste asiático e come?avam a ganhar forma na América Latina. Tal como afirmou Che Guevara ao presidente egípcio, Abdel Nasser, em Abril de 1965: “Creio que irei para o Congo pois neste momento é a zona mais quente do mundo. Com o apoio dos africanos, através do Comité [de Liberta??o da OUA] na Tanz?nia, e com dois batalh?es de cubanos, acredito que podemos desferir um golpe contra os imperialistas no cora??o dos seus interesses no Katanga.” HYPERLINK "" \l "_ftn2" [2]Che Guevara viria a entrar no Congo-Kinshasa, através da Tanz?nia, em Abril de 1965. Liderava um contingente militar de cerca de 200 homens, com a particularidade de todos eles serem cubanos de origem negra. Uma outra coluna de efectivos cubanos de idêntico número, liderada por Jorge Risquet, foi desdobrada no Congo-Brazzaville. Segundo o já citado estudo de Piero Gleijeses sobre a interven??o militar cubana em ?frica, a miss?o da coluna de Risquet era prestar apoio à guerrilha do MPLA, defender Brazzaville na eventualidade dum ataque a partir do Congo-Kinshasa, e actuar como for?a de reserva de apoio à coluna de Che Guevara.Para além das for?as de guerrilha opostas ao regime de Kinshasa, o plano cubano apresentado por Che Guevara aos movimentos de liberta??o em Dar-es-Salam em Fevereiro de 1965, teve a aprova??o do MPLA, do ANC da ?frica do Sul, assim como da guerrilha ruandesa liderada por Joseph Mundandi, e de for?as opostas aos regimes da Guiné-Equatorial e dos Camar?es. O apoio subsequente de Cuba ao PAIGC viria a revelar-se de particular import?ncia para os avan?os na luta contra a ocupa??o colonial portuguesa na Guiné-Bissau.A Frelimo de Eduardo Mondlane op?s-se a esse plano, o que aliás n?o constituía novidade para Che Guevara. Segundo Juan Benemelis, ex-funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros cubano, aquando da sua passagem por Accra em Janeiro de 1965, o presidente Kwame Nkrumah transmitiu a Che Guevara “as suas reservas sobre Eduardo Mondlane”. HYPERLINK "" \l "_ftn3" [3] Idêntica advertência foi feita a Che Guevara por Pablo Rivalta, embaixador cubano em Dar-es-Salam. Ainda de acordo com Benemelis, que foi o primeiro encarregado de negócios na embaixada cubana em Dar-es-Salam, o embaixador Rivalta advertiu Che Guevara de que os acampamentos de treino de guerrilheiros da FRELIMO na Tanz?nia, estavam ‘contaminados’ por membros do ‘Corpo da Paz’. No entanto, Rivalta informa Che Guevara que dentro da Frelimo poderia contar com “Marcelino dos Santos, como um elemento de toda a confian?a.” Rivalta havia conhecido Marcelino dos Santos durante um encontro da Uni?o Internacional de Estudantes em Praga.N?o era apenas o Gana e o governo de Cuba que viam Eduardo Mondlane como revolucionário pouco consequente. Já em Outubro de 1964, Noureddine Djoudi, embaixador da Argélia na Tanz?nia e representante do seu país no Comité de Liberta??o da OUA em Dar-es-Salam, se havia referido ao primeiro presidente da Frelimo como “um fantoche americano, a quem faltava espírito de milit?ncia, e era incapaz de liderar um movimento revolucionário.” HYPERLINK "" \l "_ftn4" [4]Mondlane n?o só se recusa a apoiar a interven??o militar cubana no Congo-Kinsahasa, como também rejeita o apoio de Cuba para a prossecu??o da luta armada em Mo?ambique, n?o obstante a escassez de meios materiais com que a Frelimo se vinha debatendo desde a sua funda??o em 1962. Pablo Rivalta, numa mensagem expedida de Dar-es-Salam para Che Guevara no Congo-Kinshasa a 19 de Agosto de 1965, fala da necessidade de se alterar o plano sobre o uso de instrutores militares cubanos que a pedido de Julius Nyerere haviam chegado à Tanz?nia para o treino de guerrilheiros da Frelimo em Tabora. HYPERLINK "" \l "_ftn5" [5]Rivalta viria a clarificar o teor da sua mensagem em declara??es prestadas a três autores cubanos que integraram o contingente de Che Guevara no Congo-Kinshasa. Rivalta é citado pelos autores como tendo dito que “alguns companheiros que o Che pensava enviar para Mo?ambique n?o puderam ir porque os contactos que tínhamos estabelecido com o governo da Tanz?nia e com os mo?ambicanos disseram que n?o era ainda o momento, e o Che deu-me ·instru??es para que fossem para o Congo e para o Congo os enviei.” HYPERLINK "" \l "_ftn6" [6]Uma outra prova da recusa sistemática de Eduardo Mondlane em alinhar com o plano cubano, surge em Outubro de 1965. Numa derradeira tentativa de salvar do colapso o contingente militar cubano destacado no Congo-Kinshasa, o próprio Fidel Castro deu instru??es a Jorge Risquet para promover um encontro com os dirigentes da Frelimo e do MPLA em Brazzaville, durante o qual devia voltar a insistir junto da Frelimo para que apoiasse o plano. Segundo Benemelis:“Na reuni?o de 8 de Outubro (de 1965) com os movimentos de liberta??o das colónias portuguesas, Castro faz um último esfor?o para salvar o foco africano. A delega??o cubana compromete-se a ajudar o MPLA e a Frelimo, com a condi??o de as mesmas se unirem ao Che, no Congo. N?o obstante, a FRELIMO mo?ambicana, na pessoa de Eduardo Mondlane, evita o compromisso. A anterior disputa Guevara-Mondlane, meses antes, centrou-se no mesmo dilema: Mondlane negou-se a colocar a FRELIMO como fonte de abastecimento do comando guerrilheiro de Che.” HYPERLINK "" \l "_ftn7" [7]A posi??o irredutível de Eduardo Mondlane foi transmitida por Marcelino dos Santos que participou no encontro de Brazzaville.MONDLANE E OS ESTADOS UNIDOSA interven??o militar cubana nos dois congos em 1965 coincide com uma série de ac??es que os Estados Unidos vêm desenvolvendo no campo militar, político e diplomático no sentido de manter a sua influência na regi?o. Mondlane é um elo importante nos esfor?os diplomáticos encetados por Washington.O estudo de Piero Gleijeses revela que em finais de 1964, a Administra??o Johnson, promoveu o recrutamento de for?as mercenárias na Rodésia e na ?frica do Sul, assim como na Bélgica e na Fran?a, as quais, sob o comando de Mike Hoare, foram enviadas para o Congo-Kinshasa a fim de salvarem o regime de Moses Tshombe da derrocada face aos avan?os da guerrilha simba e à impotência das for?as governamentais. A ac??o das for?as mercenárias, segundo demonstra Gleijesses, citando documentos oficiais norte-americanos obtidos ao abrigo da Lei de Liberdade de Informa??o, foi de primordial import?ncia para a derrota da guerrilha simba e o colapso da interven??o militar cubana no Congo-Kinshasa. Entre outros factores que contribuíram para o fracasso da interven??o cubana incluem-se as profundas divis?es no seio do movimento de guerrilha congolês, a decis?o do governo tanzaniano em retirar o apoio à rebeli?o congolesa, e o golpe de estado ocorrido na Argélia em Junho de 1965.O contingente cubano viria a abandonar o Congo Kinshasa em Novembro de 1965, cerca de 7 meses após ter infiltrado o território congolês. Avi?es soviéticos da Aeroflot procederam ao transporte do contingente de Dar-es-Salam para Havana.Paralelamente à ac??o militar no Congo-Kinshasa, os Estados Unidos desenvolvem, em parceria com Eduardo Mondlane, uma iniciativa diplomática tendente a levar Portugal a solucionar o problema de Mo?ambique pela via pacífica. Em Julho de 1965, por ocasi?o da visita de Robert Kennedy à ?frica Austral e Oriental, Mondlane discutiu a situa??o em Mo?ambique com o antigo ministro da Justi?a americano e outros dirigentes norte-americanos em Dar-es-Salam. Mondlane confidenciou a Wayne Fredericks, subsecretário de Estado para os assuntos africanos, que caso Portugal concordasse com um plebiscito sobre o futuro das colónias, os termos desse plebiscito seriam menos importantes do que o processo político que ele iria despoletar. Efectivamente, Mondlane admitia que uma eventual independência de Mo?ambique n?o necessitaria de fazer parte do plebiscito. Para Mondlane, uma escolha simples entre Mo?ambique permanecer como província ultramarina portuguesa ou como membro duma comunidade Lusófona era por si só um significativo passo em frente.Na sequência deste encontro, o Departamento de Estado apresentou uma proposta a Salazar em Agosto de 1965. O embaixador norte-americano em Lisboa, George Anderson, é quem entrega a proposta concertada na base no encontro de Dar-es-Salam no mês anterior. Salazar mantém a mesma posi??o irredutível. HYPERLINK "" \l "_ftn8" [8]Em face do que acaba de ser exposto, torna-se óbvio e claro que seria um contra-senso o presidente da Frelimo apoiar a interven??o militar cubana no Congo-Kinshasa. E se n?o apoiou, n?o foi por quest?es de lana-caprina atrás mencionadas, mas sim por que uma alian?a com Cuba n?o condizia com a maneira de ser de um dirigente que desde a sua subida ao poder se havia demarcado dos desígnios do bloco comunista em rela??o ao continente africano.E a prova de que o distanciamento de Eduardo Mondlane era em rela??o a Cuba e n?o a Che Guevara propriamente dito, foi que mesmo depois da sua morte na Bolívia, o presidente da Frelimo continuou a manifestar a mesma posi??o, nomeadamente em conferências na Universidade de Dar-es-Salam e em entrevistas com correspondentes estrangeiros. Cuba n?o perdoaria Mondlane por ter proferido “declara??es injuriosas” contra Che Guevara numa entrevista concedida a jornalistas norte-americanos do ?Liberation News Service?. Foi por intermédio da agência noticiosa estatal, Prensa Latina, que as autoridades cubanas acertariam contas. Num extenso artigo sugestivamente intitulado “Presidente da Frelimo desmascarado”, e posteriormente publicado no ?Juventud Rebelde? e transmitido pela Rádio Havana Cuba, a Prensa Latina come?a por se referir a Mondlane como alguém “que viaja aos Estados Unidos com mais frequência do que um embaixador do Departamento de Estado”. Depois, estabelece uma diferen?a entre Che Guevara e Mondlane:“O Che e o Senhor Mondlane realmente diferem em tudo. Em primeiro lugar, o senhor jamais entrou em Mo?ambique para combater junto da guerrilha a cuja forma??o ofereceu obstinada resistência após a funda??o da Frelimo. O senhor escolheu Washington e outras grandes capitais como ‘campo de batalha’ enquanto o Comandante Guevara seleccionou a Sierra Maestra primeiro, e depois as montanhas bolivianas, onde combateu até à morte.” HYPERLINK "" \l "_ftn9" [9]Segundo Fidel Castro, Eduardo Mondlane viria a retractar-se, se bem que as rela??es entre o primeiro presidente da Frelimo e Cuba permanecessem sempre distantes. De passagem por Berlin Oriental a 3 de Abril de 1977, Castro manteve um encontro com Erich Honecker, no decurso do qual informa o dirigente da antiga RDA sobre as conversa??es que acabara de manter com Samora Machel na cidade da Beira. As palavras proferidas por Fidel Castro provam uma vez mais que a disputa entre Cuba e Eduardo Mondlane tem causas muito mais profundas do que a vers?o de Hélder Martins, apoiada em “fofocas”:“Havia diferen?as entre nós e a Frelimo, que datavam do tempo em que a Frelimo estava baseada na Tanz?nia, e onde o Che Guevara conversou com Mondlane. Nessa altura, Mondlane n?o concordou com o Che, e disse-o publicamente. Posteriormente, publicaram-se em Cuba artigos de imprensa contra Mondlane. Mais tarde, Mondlane retractou-se, mas apenas a nível interno pelo que as coisas permaneceram mais ou menos no ar.” HYPERLINK "" \l "_ftn10" [10]Mas já em rela??o a Samora Machel, Castro tinha uma outra opini?o, em tudo diferente daquela que o governo cubano havia manifestado em rela??o a Eduardo Mondlane por intermédio do jornal ?Juventud Rebelde?, órg?o oficial da Uni?o da Juventude Comunista de Cuba:“Na realidade, Samora Machel foi para mim uma surpresa. Passei a considerá-lo com um revolucionário inteligente que tomava posi??es claras e mantinha um bom relacionamento com as massas. Ele causou-me muito boa impress?o. Conversámos durante dia e meio. (…) Antes disso n?o sabíamos ao certo qual a influência que os chineses exerciam sobre ele. Ele agora está mais próximo da Uni?o Soviética e de outros países socialistas.” HYPERLINK "" \l "_ftn11" [11] HYPERLINK "" \l "_ftnref1" [1] Hélder Martins, Porquê Sakrani – Memórias dum médico duma guerrilha esquecida. Maputo, Editorial Terceiro Milénio, 2001. HYPERLINK "" \l "_ftnref2" [2] Piero Gleijeses, Conflicting Missions: Havana, Washington, and Africa, 1959-1976,? The University of North Caroline Press, 2002. HYPERLINK "" \l "_ftnref3" [3] Juan F. Benemelis, Castro – Subvers?o e terrorismo em ?frica, Europress, Odivelas 1986 HYPERLINK "" \l "_ftnref4" [4] “Telegrama Confidencial” expedido pela Embaixada dos Estados Unidos em Dar-es-Salam a 15 de Outubro de 1964. (Documento obtido ao abrigo da Lei de Liberdade de Informa??o e citado em Jo?o M Cabrita, Mozambique – The Tortuous road to democracy, Palgrave, 2000.) HYPERLINK "" \l "_ftnref5" [5] Ernesto Che Guevara, The African Dream – The diaries of the revolutionary war in the Congo, The Harvill Press, Londres 2000. HYPERLINK "" \l "_ftnref6" [6] Paco Ignacio Taibo II, Froilán Escobar, Félix Guerra, O ano em que estivemos em parte nenhuma – A guerrilha africana de Ernesto Che Guevara, Campo da História, Porto 1995. HYPERLINK "" \l "_ftnref7" [7] Benemelis, op cit HYPERLINK "" \l "_ftnref8" [8] “Telegrama Secreto” expedido da Embaixada dos Estados Unidos, Dar-es-Salam, 29 de Julho de 1965; “Memorando Secreto” relativo à conversa entre o embaixador Anderson e Salazar, 22 de Outubro de 1965, citados em Cabrita, op cit HYPERLINK "" \l "_ftnref9" [9] Teofilo Acosta, Desenmascarado el presidente del Frelimo, Juventud Rebelde, Havana 21 de Maio de 1968 p3 HYPERLINK "" \l "_ftnref10" [10] A transcri??o do discurso de Fidel Castro foi encontrada nos arquivos do antigo Partido Unificado da Alemanha. Está disponível na Internet : HYPERLINK "" \l "_ftnref11" [11] IbidIn ................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download