Educacional



O BRASILEIRO N?O L?A história de uma frase feita, e uma sugest?o para quem insiste em repeti-laO brasileiro n?o lê. Ao menos, é isso que eu tenho escutado. Por obriga??o profissional e por obsess?o nas horas vagas, costumo conversar muito sobre livros. Com uma frequência inc?moda, n?o importa qual é a forma??o de quem fala comigo, essa frase se repete. Amigos, taxistas, colegas jornalistas, escritores e até executivos de editoras já me disseram que o brasileiro n?o lê.Quando temos dificuldade para entender uma frase, uma boa técnica de aprendizado é repeti-la várias vezes. Um dos meus primeiros professores de inglês me ensinou isso. Nunca pensei que fosse usar esse truque com uma frase em português. Mas, depois de ouvir tantas vezes que o brasileiro n?o lê, e de discordar tanto dos que dizem isso, resolvi tentar fazer esse exercício. Talvez enfim eu os entenda. Ou talvez eu me fa?a entender.O brasileiro n?o lê, mas a quantidade de livros produzidos no Brasil só cresceu nos últimos anos. Na pesquisa mais recente da C?mara Brasileira do Livro, a produ??o anual se aproximava dos 500 milh?es de exemplares. Seriam aproximadamente 2,5 livros para cada brasileiro, se o brasileiro lesse.O brasileiro n?o lê, mas o país é o nono maior mercado editorial do mundo, com um faturamento de R$ 6,2 bilh?es. Editoras estrangeiras têm desembarcado no país para investir na publica??o de livros para os brasileiros que n?o leem. Uma das primeiras foi a gigante espanhola, Planeta, em 2003. Naquela época, imagino, os brasileiros já n?o liam. Outras editoras vieram depois, no mesmo movimento incompreensível.O brasileiro n?o lê, mas, desde 2004, o pre?o médio do livro caiu 40%, descontada a infla??o. Entre os motivos para a queda est?o o aumento nas tiragens, o lan?amento de edi??es mais populares e a chegada dos livros a um novo público. Um mistério, já que o brasileiro n?o lê.[...]O brasileiro n?o lê – e os poucos que leem, é claro, s?o os brasileiros ricos. Mas a cole??o de livros de bolso da L&PM, conhecida por suas edi??es baratas de clássicos da literatura, vendeu mais de 30 milh?es de exemplares desde 2002. Com seu sucesso, os livros conquistaram pontos de venda alternativos, como padarias, lojas de conveniência, farmácias e até a?ougues. As editoras têm feito um esfor?o irracional para levar seu acervo a mais brasileiros que n?o leem. Algumas já incluíram livros nos catálogos de venda porta-a-porta de grandes empresas de cosméticos. N?o é preciso nem sair de casa para praticar o hábito de n?o ler.O brasileiro n?o lê – e, mesmo se lesse, só leria bobagem. Mas, há poucos meses, um poeta estava entre os mais vendidos do país. Em algumas livrarias, a antologia Toda poesia, de Paulo Leminski (1944-1989), chegou ao primeiro lugar. Ultrapassou a trilogia Cinquenta tons de cinza, até ent?o a favorita dos brasileiros e brasileiras que n?o leem.Na semana passada, mais de 40 mil brasileiros (que n?o leem) eram esperados no Fórum das Letras de Ouro Preto. Eu estava lá. Nas mesas de debates, editores discutiam maneiras de tornar o livro mais barato e autores conversavam sobre a melhor forma de chamar a aten??o dos leitores. Um debate inútil, já que o brasileiro n?o lê. A partir desta semana, entre 6 e 16 de junho, a Feira do Livro de Ribeir?o Preto (SP) deve receber mais de 500 mil pessoas. Na próxima segunda-feira (10), come?a a venda de ingressos para a cultuada Festa Literária Internacional de Paraty, que inspirou festivais semelhantes em várias outras cidades do país. Haja eventos literários para os brasileiros que n?o leem.[...] Os brasileiros come?aram a ler. Falta come?ar a mudar o discurso. Em vez de reclamar dos brasileiros que n?o leem, os brasileiros que leem deveriam se esfor?ar para espalhar o hábito da leitura. Espalhar clichês pessimistas n?o vai fazer ninguém abrir um livro.Eu poderia ter repetido tudo isso para cada pessoa de quem ouvi a mesma frase feita. Mas resolvi escrever, porque acredito que o brasileiro lê. In: (Acesso em 20 nov 2013)Em meio ao desespero pelo colapso do futebol brasileiro e a euforia das últimas rodadas da Copa do Mundo, uma ótima notícia passou quase despercebida. Vale a pena retomá-la, agora que nos recuperamos da insanidade temporária. Gra?as a uma recomenda??o da Academia Americana de Pediatria (AAP), pediatras americanos passaram a orientar famílias sobre a import?ncia da leitura. A indica??o médica é que os pais leiam para seus filhos todos os dias. Vale principalmente para crian?as pequenas, com menos de três anos.A decis?o foi tomada com base num estudo que afirma que a exposi??o à leitura desde cedo ajuda no desenvolvimento cerebral e melhora o desempenho escolar no futuro, além de estreitar os la?os familiares.?Numa reportagem da Folha de S.Paulo, pediatras brasileiros afirmam que também v?o aderir à recomenda??o. Se isso se confirmar,? a experiência pode ser transformadora para a leitura no país. N?o só por formar leitores desde a inf?ncia, mas também (e talvez principalmente) por incentivar os pais a retomar o contato com os livros.Ao mirar na educa??o das crian?as, sem dúvida uma boa causa por si só, os pediatras podem ajudar a resolver um problema cr?nico dos adultos. Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2012, mais da metade da popula??o brasileira é de n?o-leitores: pessoas que n?o leram nenhum livro nos últimos três meses. Apenas 16% desses n?o-leitores s?o estudantes. O verdadeiro desastre está entre as pessoas que já pararam de estudar: 84% dos n?o-leitores est?o nessa categoria. A média de livros lidos também diminui a medida que a idade adulta chega. Crian?as de 5 a 10 anos leem 5,4 livros por ano. Dos 11 aos 13, a média aumenta ainda mais e chega aos 6,9. O número desaba a partir dos 18 anos, com o fim do Ensino Médio, e continua a cair com a idade. Na faixa dos 40 aos 49 anos, por exemplo, a média é de dois livros lidos por ano – menos de um ter?o da média entre os pré-adolescentes.Os números indicam que as escolas até conseguem criar algum interesse pela leitura entre as crian?as. Quando surgem novas responsabilidades, como trabalhar e criar os filhos, os livros s?o deixados de lado.Ao transformar a leitura diária com os filhos em prescri??o médica, os pediatras dar?o aos pais um novo incentivo para redescobrir o prazer da leitura. Como se n?o bastassem todos os benefícios ao desenvolvimento intelectual dos bebês, a recomenda??o pode criar algo ainda mais duradouro: famílias que têm o hábito de ler. Uma crian?a que cresce entre livros e vê seus pais lendo tem tudo para se tornar um pai que também lê para seus filhos – com ou sem recomenda??o médica.O sucesso de?A culpa é das estrelas?nos cinemas e nas livrarias é uma notícia excelente para o mercado literário. Deveria ser comemorada por qualquer pessoa que acredite num futuro em que o hábito de ler seja mais difundido. Mas os pessimistas de sempre n?o perderam a chance de se manifestar. Para alguns críticos literários e leitores elitistas, qualquer notícia é má notícia. A popularidade dos livros juvenis, em vez de ser um alento, é um desastre irremediável.Um artigo publicado há algumas semanas pela revista digital americana?Slate?sintetiza a opini?o da turma do contra. O título já diz tudo: "Adultos que leem livros para crian?as deveriam se envergonhar". Ao longo do texto, a jornalista Ruth Graham lista motivos pelos quais adultos n?o deveriam perder seu tempo com?A culpa é das estrelas?e outras obras do gênero. Diz que os livros s?o inocentes demais, incentivam uma leitura acrítica e oferecem uma gratifica??o instant?nea. Para jovens leitores em forma??o, seriam um mal necessário. Mas os milh?es de adultos que se emocionaram com a história narrada por John Green deveriam ter vergonha disso - e procurar um livro para adultos imediatamente.Ruth n?o está sozinha. Em qualquer conversa sobre literatura é possível encontrar leitores que manifestam, com ar de superioridade, opini?es semelhantes a essa. Histórias policiais, fantásticas ou romances adolescentes s?o vistos como subliteratura. Seus f?s, consequentemente, s?o subleitores. Bom mesmo é ler autores clássicos ou, na falta deles, uma meia dúzia de contempor?neos que tentam imitá-los.Ao condenarem livros populares, esses críticos contribuem para que refor?ar a imagem da literatura como um prazer sofisticado, que só pode ser aproveitado por uma elite intelectual. Mas n?o enxergam a import?ncia que esses títulos têm n?o só para o mercado, como também para a forma??o de novos leitores.Basta olhar para as listas de mais vendidos para comprovar que as livrarias e editoras estariam em apuros sem o público conquistado por esses best-sellers supostamente inferiores. Ao dizer que romances juvenis só deveriam ser lidos por adultos, os críticos se esquecem do óbvio: nem todos come?am a ler na adolescência. Para muitos adultos, as histórias acessíveis e cativantes contadas em romances juvenis s?o uma excelente introdu??o à literatura. Ninguém come?a lendo James Joyce. Entre ler a obra completa de John Green e parar nas primeiras páginas de?Ulysses, a primeira op??o me parece mais saudável e promissora para quem está descobrindo a leitura.Mesmo que os f?s de autores juvenis n?o abram um só livro "adulto" em todas suas vidas, ainda assim sua experiência terá sido positiva. Ler um romance juvenil pode até ser menos enriquecedor do que ler um clássico da literatura, mas é muito melhor do que n?o ler livro algum. Parece bobagem, mas muitos críticos n?o entendem que essa escolha entre ler livros clássicos e ler livros populares n?o existe. Para a maioria das pessoas, a escolha é entre ler livros populares e fazer outra coisa: jogar videogame, assistir a um filme, passar a tarde no Facebook. A decis?o de ler um livro, n?o importa o gênero, é uma vitória para a literatura.Além de falta de vis?o, a crítica aos romances juvenis revela uma boa dose de hipocrisia. N?o há leitor que n?o tenha, em sua prateleira, um daqueles?livros que amamos sem respeitar. Pode ser uma história barata de detetive, uma fic??o científica das mais absurdas, uma cole??o de contos de terror ou, por que n?o, um romance adolescente. Ler um livro por prazer n?o deveria ser motivo de vergonha para ninguém. Vergonha é passar meses sem ler nada – ou criticar a leitura alheia em vez de olhar para a própria prateleira. HYPERLINK "" \o "A arte perdida de ler um texto até o fim" A arte perdida de ler um texto até o fimA internet é um banquete de informa??es, mas só aguentamos as primeiras garfadasDANILO VENTICINQUE24/06/2014 - 15h49 - Atualizado 24/06/2014 21h31Abandonar um texto logo nas primeiras linhas é um direito inalienável de qualquer leitor. Talvez você nem esteja lendo esta linha: ao ver que a primeira frase deste texto era uma obviedade, nada mais natural do que clicar em outra aba do navegador e conferir a tabela da copa. Ou talvez você tenha perseverado e seguido até aqui. Mesmo assim eu n?o comemoraria. ? muito provável que você desista agora. A passagem para o segundo parágrafo é o que separa os fortes dos fracos.A internet é um enorme banquete de informa??es, mas estamos todos fartos. N?o aguentamos mais do que as duas ou três primeiras garfadas de cada prato. Ler um texto até as últimas linhas é uma arte perdida. No passado, quem desejasse esconder um segredo num texto precisava criar códigos sofisticados de linguagem para que só os iniciados decifrassem o enigma. Hoje a vida ficou mais fácil. Quer preservar um segredo? Esconda-o na última frase de um texto – esse território selvagem, raramente explorado.Lembro-me que, no Enem do ano retrasado, um aluno escreveu um trecho do hino de seu time favorito no meio da reda??o. Tirou a nota 500 (de 1000), foi descoberto pela imprensa e virou motivo de chacota nacional. Era um mau aluno, claro. Se fosse mais estudioso, teria aprendido que o fim da reda??o é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino de futebol. Se fizesse isso, provavelmente tiraria a nota máxima e jamais seria descoberto.Agora que perdi a aten??o da enorme maioria dos leitores à exce??o de amigos muito próximos e parentes de primeiro grau, posso ir direto ao que interessa. Quem acompanhou as redes sociais na semana passada deve ter notado uma enorme confus?o causada pelo hábito de abandonar um texto antes do fim. Resumindo a história: um jornalista publicou uma coluna em que narrava uma longa entrevista com Felip?o num avi?o. A notícia repercutiu e virou manchete em outros sites, até que alguém notou que o entrevistado n?o era Felip?o, mas sim um sósia dele. Os sites divulgaram erratas e a história virou piada. No meio de todo o barulho, porém, alguns abnegados decidiram ler o texto com aten??o até o fim. Encontraram lá um parágrafo enigmático. Ao final da entrevista, o suposto Felip?o entregava ao jornalista um cart?o de visitas. No cart?o estavam os dizeres “Vladimir Palomo – Sósia de Felip?o – Eventos”. A multid?o que ria do engano do jornalista o fazia sem ler esse trecho.Teria sido tudo uma sacada genial do jornalista, que conseguiu pregar uma pe?a em seus colegas e em milhares de leitores que n?o leram seu texto até o fim? Estaria ele rindo sozinho, em silêncio, de todos aqueles que n?o entenderam sua piada?A explica??o, infelizmente, era mais simples. Numa entrevista, o jornalista confirmou que acreditava mesmo ter entrevistado o verdadeiro Felip?o, e que o cart?o de visitas do sósia tinha sido apenas uma brincadeira do original.?A polêmica estava resolvida. Mas, se eu pudesse escolher, preferiria n?o ler essa história até o fim. Inventaria outro desenlace para ela. Trocaria o inexplicável mal-entendido da realidade por uma fic??o em que um autor maquiavélico consegue enganar uma multid?o de leitores desatentos. Ou por outra fic??o, ainda mais insólita, em que o texto revelava que o entrevistado era um sósia, mas o autor n?o saberia disso porque n?o teria lido a própria obra até o final. Seria um obituário perfeito para a leitura em tempos de déficit de aten??o.Se você chegou ao último parágrafo deste texto, você é uma aberra??o estatística. Estudos sobre hábitos de leitura demonstram claramente que até meus pais teriam desistido de ler há pelo menos dois parágrafos. Estamos sozinhos agora, eu e você. Talvez você se considere um ser fora de moda. Na era de distra??o generalizada, é preciso ser um pouco antiquado para perseverar na leitura. Imagino que você já tenha pensado em desistir desse estranho hábito e come?ar a ler apenas as primeiras linhas, como fazem as pessoas ao seu redor. O tempo economizado seria devidamente investido em atividades mais saudáveis, como o Facebook ou games para celular. Aproveito estas últimas linhas, que só você está lendo, para tentar te convencer do contrário. Esque?a a modernidade. Quando o assunto é leitura, n?o há nada melhor do que estar fora de moda. A história está repleta de textos cheios de sabedoria, que merecem ser lidos do come?o ao fim. Este, evidentemente, n?o é um deles. Mas seu esfor?o um dia será recompensado. N?o desanime, leitor. As tuas glórias vêm do passado.Leia para sair da bolha?s vezes é preciso resistir à vontade de só ler o que nos agradaDANILO VENTICINQUE29/04/2014 17h32?- Atualizado em?29/04/2014 18h14Nas últimas semanas, escrevi aqui sobre a import?ncia de ter disciplina para manter uma boa rotina de leitura. Nossos dias est?o lotados de distra??es. Leitores pouco cautelosos correm o risco de ceder à tenta??o de tentar acompanhar, em tempo real, todas as polêmicas do dia na internet. Acabam lendo muito, mas aprendendo pouco. Em tempos de excesso de informa??o, quem n?o tem um plano para organizar suas leituras será inevitavelmente soterrado por elas.? preciso tomar cuidado, porém, para n?o cair em outra armadilha: a de evitar todos os textos que n?o nos agradam. Em excesso, a disciplina na leitura corre o risco de virar aliena??o.Esse mal acomete f?s de livros com muita frequência. Por mais que se orgulhem de ler "de tudo - até bula de remédio", na prática há muitos leitores que resistem a mudar seus hábitos. Conhe?o muitos leitores de n?o-fic??o que n?o têm paciência para a fic??o, e vice-versa. Alguns só leem alta literatura e torcem o nariz para os?best-sellers?sem piedade. Outros se prendem a um gênero, como a literatura fantástica ou policial, e jamais d?o uma chance a outros temas. Há até quem só dê aten??o para os clássicos e acham absurda a ideia de perder tempo com a literatura contempor?nea.Para leituras na internet, fugir da monotonia é ainda mais difícil. As redes sociais e sites de busca s?o feitos para mostrar aquilo que queremos ler. Quanto mais demonstramos aten??o por um autor ou um assunto, maior a chance de depararmos com eles no futuro. Textos que ignoramos ou rejeitamos aparecem com menos frequência. No Facebook, muitas vezes aceleramos o processo ao "limpar" a timeline e remover? pessoas ou páginas com quem discordamos em assuntos polêmicos. Em seu livro?O filtro invisível, o americano Eli Pariser faz um alerta contra esse?hábito. O risco é ficar preso numa bolha em que nada ataca nossas convic??es e n?o descobrimos nada novo.N?o há mal nenhum em n?o saber tudo sobre o último esc?ndalo político, participar de todos os bate-bocas no Facebook ou acompanhar em tempo real o cotidiano das celebridades. Os livros que mais gostamos de ler s?o prioridade. A leitura, antes de tudo, deve ser um prazer. Mas, por menor que seja a vontade de?ler textos idiotas, clicar em?notícias que n?o nos interessam?ou comprar um livro muito diferente do que costumamos ler, vez ou outra é importante se aventurar em territórios desconhecidos. Quando sentir que suas leituras est?o se tornando monótonas, tente dar uma chance a um texto que você jamais leria.O exercício exige paciência. Quem só está acostumado a ler clássicos, por exemplo, pode levar algum tempo para se acostumar com um best-seller contempor?neo. Por mais que o impulso inicial seja?largar o livro, resista. Tente se acostumar com o desconhecido. Talvez você se surpreenda e descubra novas paix?es. A leitura serve para nos tirar da bolha. Quem n?o desafia a própria ignor?ncia é incapaz de aprender.***As informa??es em tempo real est?o acabando com a nossa sanidade. Um novo livro traz conselhos para quem quer recuperá-laDANILO VENTICINQUEOs leitores est?o enlouquecendo. Fa?a uma visita às caixas de comentários de qualquer grande portal e você verá o quanto s?o raras as demonstra??es de bom senso. O?caps lock?parece ser a tecla da moda. Há xingamentos para todos: o autor da reportagem, os entrevistados, os outros comentaristas e as famílias de todos os envolvidos. Teorias da conspira??o abundam. Um acidente de carro na Gr?-Bretanha ou a alta no pre?o dos sanduíches no Rio de Janeiro podem ser culpa da Dilma, do PSDB, da imprensa, do imperialismo americano ou de todos eles juntos, dependendo de quem for o leitor.Antes que alguém se aventure a buscar uma explica??o na política nacional, convém lembrar que esse fen?meno se repete no mundo inteiro. Mudam os nomes dos partidos, os políticos execrados e o idioma dos palavr?es. A atitude continua igual. O lado bom é que, salvo algumas infelizes exce??es, ainda n?o estamos discutindo aos berros no meio da rua e pulando no pesco?o alheio. Reservamos esse comportamento para as caixas de comentários de notícias. Porque s?o elas as responsáveis por nossa e?amos a consumir informa??es em tempo real há algumas décadas, mas raramente paramos para pensar se isso é saudável. Já escrevi aqui sobre as?vantagens de largar as notícias?de vez em quando e reservar tempo para leituras mais nutritivas – reportagens mais longas, ensaios e, sobretudo, livros. Abandonar as notícias permanentemente n?o é uma op??o, ao menos para a maioria de nós. Manter-se desinformado por algumas horas pode ser um prazer, mas a desinforma??o por um período prolongado logo se transforma em ignor?ncia.Se as notícias s?o necessárias, precisamos encontrar uma forma saudável de consumi-las. O livro recém-lan?ado?The news: A user's manual?(Notícias: Um manual do usuário), do filósofo suí?o Alain de Botton, traz sugest?es para os leitores que querem aproveitar o que as notícias têm de bom sem cair em suas armadilhas. Reuni 11 das principais dicas do autor nos itens a seguir.1. Tenha um motivo para lerCom muita frequência, clicamos em notícias nas redes sociais ou nas páginas de grandes portais simplesmente porque n?o estamos fazendo nada. "As notícias n?o vêm com manual de instru??es porque lê-las é teoricamente uma das atividades mais fáceis e óbvias do mundo, como piscar os olhos e respirar", afirma Botton. Quando ler notícias se transforma num passatempo, porém, deixamos de pensar sobre as informa??es que recebemos e aproveitamos muito pouco do que lemos. Antes de ler uma notícia, fa?a duas perguntas simples para você mesmo: o que você quer saber e por quê? Essas duas respostas tornar?o sua leitura muito mais proveitosa.2. Enfrente seu tédio"Caetano Veloso estaciona no Leblon" é uma informa??o que absorvemos instantaneamente. "ONU acusa Coreia do Norte de crimes contra a humanidade" exige algum esfor?o. As notícias mais relevantes s?o, na maioria das vezes, as mais monótonas. A culpa nem sempre é do repórter. Alguns assuntos s?o naturalmente mais áridos do que os outros. Cabe ao leitor perseverar. Se você só der aten??o às reportagens fáceis de ler, continuará desinformado mesmo depois de horas dedicadas às notícias.3. Tente aprender algoSe você somar todo o tempo que gasta lendo notícias ao longo de um ano, perceberá que essa atividade toma semanas ou até meses inteiros. O que ganhamos em troca do tempo investido? A resposta depende muito do tipo de notícia que lemos e da maneira como encaramos essa leitura. Um mês dedicado a acessar centenas de notícias de política diariamente para ofender candidatos nos comentários é um mês desperdi?ado. O mesmo tempo pode ser muito bem aproveitado se lermos reportagens mais aprofundadas sobre os problemas e conquistas do país, entendermos o ponto de vista de cada candidato e nos tornarmos eleitores (e cidad?os) melhores. Depois de ler uma notícia, pergunte-se se aprendeu algo com ela. Se a resposta for "n?o" na maioria das vezes, é um sinal de que você está lendo as notícias erradas ou dando pouca aten??o a elas.4. Seja seu próprio editorDiariamente, editores enfrentam a tarefa de escolher quais s?o os fatos mais importantes para os leitores. A tarefa é difícil e a margem de erro é enorme. O que importa para um leitor pode ser absolutamente irrelevante para outro. Há notícias que todos devem ler, mas a maioria dos nossos interesses é pessoal. Talvez a informa??o mais importante do dia para você n?o esteja na manchete, mas sim no pé da página, ou até mesmo em outro site. Busque-a. Você é o único responsável por encontrar o conteúdo que você quer ler.5. Acompanhe as grandes históriasMuitas das notícias que lemos s?o apenas pequenas partes de narrativas muito maiores, que só ser?o compiladas por historiadores daqui a alguns anos. Notícias como "Batistas abrem espa?o para que mulheres sejam pastoras" ou " HYPERLINK "" Lupi voltou a negociar com Eduardo Campos" tornam-se muito mais interessantes quando as enxergamos como pe?as num quebra-cabe?a, e n?o como fatos que se encerram em si. Acompanhar as notícias diariamente é como ler, ao mesmo tempo, dezenas de livros que ainda est?o sendo escritos. Quem se dá conta disso consegue aproveitá-las muito mais.6. Pense como um estatísticoDiariamente, centenas de milh?es de fatos triviais acontecem sem registro nos jornais, revistas ou sites noticiosos. O noticiário privilegia, por princípio, acontecimentos incomuns. Uma desvantagem disso é que, se formarmos nossa vis?o de mundo com base no jornalismo, teremos a impress?o de que fatos atípicos s?o muito mais frequentes do que parecem. A maioria dos avi?es n?o cai. A maioria dos motoristas n?o se envolve em acidentes graves. A maioria das pessoas que caminham na rua à noite n?o é assaltada. Há motivos para termos cuidado, mas o mundo n?o é t?o perigoso quanto os jornais nos dizem.7. Busque bons exemplosPor mais que as notícias ruins chamem aten??o, quem tiver paciência para procurar algo construtivo em meio ao noticiário será recompensado. As notícias nos mostram o que pensam e como vivem algumas das pessoas mais importantes e bem-sucedidas de nossa gera??o. ? possível encontrar bons exemplos nas páginas de política, economia, cultura, esportes e celebridades. Ler sobre eles pode nos ensinar a viver melhor.8. N?o seja uma máquina de indigna??oA raiva é a rea??o natural a muita das notícias que lemos. Crimes, denúncias de corrup??o e declara??es impensadas em entrevistas nos deixam instantaneamente indignados. Isso é, a princípio, algo bom. A indigna??o é fundamental para que busquemos melhorar a sociedade. O risco é nos transformarmos em máquinas de indigna??o em série, sentindo raiva de uma notícia diferente a cada dia sem fazer nada a respeito disso. “As notícias deveriam nos ajudar a ter raiva pelos motivos certos, e a transformá-la em algum projeto construtivo”, afirma Botton.9. Lembre-se das notícias de ontemO jornalismo é obcecado pela novidade. Histórias que s?o importantíssimas hoje podem desaparecer das páginas dos sites e jornais amanh? ou na semana que vem, a n?o ser que algo novo seja descoberto. Isso n?o as torna menos importantes. Muitas vezes esquecemos denúncias de corrup??o publicadas há meses ou anos apenas porque n?o há nada de novo no caso. Será que o que era suficiente para nos indignar ontem merece ser completamente esquecido hoje?10. N?o terceirize suas opini?esBasta abrir um jornal ou acessar um site de notícias e você encontrará dezenas de pessoas dispostas a pensar por você. "Flaubert odiava as notícias por acreditar que elas impediam os leitores de pensar por contra própria", afirma Botton. As redes sociais tornaram isso ainda pior. Quem quiser abrir m?o do direito de formar sua opini?o precisa apenas clicar em curtir ou compartilhar. Alguns chegam ao absurdo de "limpar" a timeline quando deparam com um ou outro amigo discorda de sua opini?o. Ouvir quem discorda de nós é fundamental para que aprimoremos nossas ideias. Leia as opini?es favoráveis e contrárias à sua. Abra jornais, revistas e sites diferentes. Quanto mais opini?es você ler sobre algum assunto, mais ponderada e instruída será a sua.11. Saiba quando se desconectar"Para ter uma vida fértil, é necessário reconhecer os momentos em que as notícias n?o têm nada importante ou original para nos ensinar", diz Botton. Se as notícias do dia come?arem a te entediar ou irritar, resista à tenta??o de abrir a caixa dos comentários para descontar a raiva. ? muito mais produtivo esquecer as notícias por algum tempo e procurar algo melhor para ler. Experimente o prazer de ser desinformado por algumas horas. N?o há mente s? que resista a uma overdose de notícias.Quais s?o os dez livros que mais marcaram sua vida? ................
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