We.riseup.net



PRINC?PIOS DO COLETIVOA) HorizontalidadeA horizontalidade pode ser definida como a ausência de hierarquia dentro de uma rela??o, ou seja, uma maneira de se relacionar em que um elemento n?o possui mais poder que o outro. Em busca da horizontalidade, chegamos a conclus?o de que nosso coletivo está hoje numa “diagonal com tendência horizontal”. Explicaremos aqui o porque disso.Um dos elementos chave da autogest?o é a participa??o política dos membros e sua capacidade de influir na constru??o coletiva. Nesse sentido, temos como princípio a horizontalidade em termos de gradua??o igualitária para a participa??o irrestrita de todos os membros do coletivo em seus processos. Todos os membros do coletivo tem o mesmo potencial (em termos de potencial e abertura do coletivo) para propor, fazer, questionar, sugerir, transformar, participar, se expressar.Mas há um princípio que n?o pode ser ignorado por conta da idéia de igualdade, que é o da diferen?a; embora todas tenham igual liberdade para serem, estarem, tornarem-se, agirem e influenciarem o coletivo, cada uma o faz a partir de suas próprias demandas, desejos, capacidades, gostos, talentos e experiências diversas que tiveram em suas vidas. Nesse sentido a experiência do Ativismo ABC indica que diferentes pessoas ter?o diferentes conhecimentos, práticas, opini?es e capacidades a respeito de diferentes assuntos e que aquelas que melhor se expressarem em cada área tendem a apresentar um saber e um poder maior sobre essa determinada área ou assunto. ? isso que resulta no que chamamos de efeito diagonal de nossas rela??es.Exemplos disso podem ser encontrados na própria divis?o de comitês e subgrupos na organiza??o coletiva: o comitê que cuida de certo assunto terá mais voz sobre ele que os demais – n?o porque os demais n?o podem participar das decis?es, mas porque as palavras dos membros do comitê ter?o mais legitimidade e poder de convencimento com base em sua experiência. Isso também vale para a rela??o entre pessoas mais velhas, mais antigas no coletivo ou mais experientes em algum assunto em rela??o às novatas. Como reestabelecer o princípio da horizontalidade perante essa situa??o quase vertical das rela??es de saber e poder em dado campo de a??o? O primeiro ponto a ser destacado é a import?ncia do respeito a quem tem mais experiência como forma de evitar tiranias. Porque o princípio da igualdade pode ser aplicado de maneira tirana no sentido de deslegitimar a experiência do outro, reclamando supostos “direitos iguais” àqueles que tem uma rela??o mais intensa ou antiga com o lugar ou a atividade em quest?o. Essa tirania da qual falamos muitas vezes acontece em organiza??es autonomistas cuja participa??o de novos membros é aberta, onde algumas pessoas menos responsáveis pela organiza??o em quest?o interferem em momentos chave sobre a decis?o coletiva sem, no entanto, estarem dispostas a arcar com a responsabilidade da mesma decis?o, seja por incapacidade, seja por irresponsabilidade. Ou seja, sugerem uma coisa, sem realmente entendenrem as consequências dela, sem saber se já foi tentada antes, ou mesmo sem a real inten??o de ajudar a realizá-la. Para evitar isso, consideramos que uma pessoa que participa pouco, se dedica pouco, precisa respeitar e atentar á opni?o daquelas que participam mais e se dedicam mais – o que n?o quer dizer que n?o possam ser questionadas, mas sim que n?o se deve ignorar que provavelmente est?o mais por dentro do contexto do coletivo.Por outro lado, o princípio do respeito aos mais experientes pode prejudicar a distribui??o horizontal das diferen?as e levar, também, a tirania. Porque pessoas podem ter experiências diferentes sobre os mesmos assuntos e essas experiências podem, algumas vezes, se chocar ou serem fundadas em processos e perspectivas diferentes sobre a mesma quest?o. Ou seja, muitas vezes pessoas diferentes aprenderam maneiras diferentes de fazer alguma coisa, ou tem pontos de vista diferente sobre determinado assunto, porque aquilo que viveram (ou mesmo o que concluiram do que viveram) é diferente. Há ainda a possibilidade de uma idéia nova de uma pessoa com menos experiência ser bastante rica para somar a um modo já aceito de fazer determinada coisa, ou seu questionamento ser importante para se rever determinada idéia. Sendo assim, consideramos que as diversas sabedorias sobre um mesmo assunto n?o s?o, a princípio, maiores ou melhores em compara??o uns aous outros, mas sim apenas diferentes.Qual deve ser a medida, ent?o? Ora, os mais experientes em termos de participa??o em dado tempo e lugar precisam ser receptivos, saber equilibrar – como malabaristas – o conhecimento que já tem com o conhecimento que a outra lhe oferece quando vem participar. ? preciso estar aberta para aprender com a outra e n?o julgar que o conhecimento dela seja pior que o de uma ativista mais experiente naquele assunto. Para que uma perspectiva sobre determinado assunto n?o se torne a única perspectiva correta, é preciso equilibrar a balan?a diagonal e admitir que ela n?o é estática . O processo pode se dar através de diversas estratégias. Uma delas é 1)congregar decis?es a partir de uma assembléia (o que nós fazemos em nossa reuni?o quinzenal) e 2)concentrar as decis?es mais detalhadas no comitê específico (nós por exemplo temos Comitês para Horta, Comunica??o, Biblioteca, etc.) . S?o dois momentos diferentes, que n?o podem entravar ou ignorar um ao outro. Cada caso deve ser pesado num fluxo que oscile entre essas duas inst?ncias. Assim conseguimos resolver alguns de nossos problemas. Explicando um pouco melhor: tomamos decis?es gerais que consideramos importantes que sejam aprovadas/conhecidas por todas do coletivo nas reuni?es onde todas est?o presentes. Já as decis?es e atividades mais relacionadas a determinado comitê e cuja realiza??o n?o precise ser levada para a reuni?o geral(o que tornaria essa reuni?o super extensa e cheia de pautas que poderiam ser resolvidas por menos pessoas) s?o tomadas pelas pessoas dos respectivos comitês, que eventualmente levam as quest?es do comitê específico para a reuni?o geral, quando acharem necessário.? fundamental que os comitês ou outros grupos de pessoas dentro do coletivo n?o escondam informa??es dos demais membros. Caso contrário, a tendência à verticaliza??o aumenta, devido ao acesso privilegiado que isso gera para certas informa??es. Outra estratégia que precisa de grande aten??o é a transmiss?o de conhecimentos e sua rela??o com a tomada de decis?es. Para que todas participem horizontalmente da tomada de decis?es é preciso que aquelas que estiverem numa posi??o diagonal “superior” saibam transmitir seus saberes para as demais de modo a se equivalerem ou ao menos reduzir as assimetrias (ou seja, que aquela pessoa que domina mais sobre um determinado assunto transmita o que sabe aquelas que o desejarem, para que elas também passem a dominar esse assunto). Uma estratégia complementar é valorizar os saberes e fontes de saberes diversos e variados sobre um mesmo tema. ? preciso saber expressar conhecimentos sem prejulgar a outra (porque o conhecimento do outro pode ser estranho ao nosso, mas n?o necessariamente falso) e valorizar o aspecto experimental , dando espa?o para que a outra mostre sua vis?o divergente a partir da experimenta??o, do teste, da tentativa e erro. Caso os recursos (tempo, espa?o, material, pessoas) forem escassos, a op??o da tentativa e erro precisa ser repensada coletivamente. Isso depende do risco que o coletivo está disposto a correr enquanto experimenta, debatendo o assunto e imaginando suas consequências. Em caso de discord?ncia, é interessante e pedagógico quando possível tentar as diferentes alternativas para ver qual, afinal , convém mais ao coletivo.O processo criativo e de planejamento é fundamental para a constru??o da experiência e se fortalece quando feito coletivamente. ? uma forma de saírmos da clausura de nossos pensamentos antes de tomar decis?es. Assim as decis?es se aproximam mais de contemplar a todas, ou seja, de atingir a horizontalidade.Por isso outro fundamento importante na busca da horizontalidade é o diálogo. Conversar sempre, falar e escutar sem irrita??o, com paciência, com silêncio mental e transformar suas palavras com base nas palavras do outro… Porém, o diálogo n?o deve ser confundido com concord?ncia cega, tampouco com um monólogo mascarado pela retórica. Entendemos o diálogo como algo que ultrapassa o sentido da fala, algo corporal-emocional que surge ao fazer e construir coisas em conjunto. Para que o saber e o poder sejam melhor distribuídos, é interessante que no processo coletivo as pessoas que pouco se expressam e tomam iniciativas explorem mais sua capacidade de argumentar, falem mais, coloquem suas idéias e as botem em prática, e aquelas que apresentam tendência de falar e fazer mais que as outras prestem aten??o a isso, cedam espa?os, deixem de falar quando se sentirem contempladas pela fala de outra pessoa (as vezes repetimos algo que já foi dito com nossas palavras, sem necessidade….),etc . Em suma , nós n?o vemos as rela??es de poder como algo estático nem dualista (vertical ou horizontal), mas como uma estrutura complexa em constante transforma??o que pode apresentar tendências à horizontalidade e à verticalidade. Acreditamos que quanto maior a capacidade de diálogo e de troca de saberes dentro de um coletivo, maior será sua tendência à horizontalidade.B) Autogest?oA autogest?o é um modelo de gest?o onde todos possuem igual capacidade de participa??o sem a existência de cargos hierárquicos. Todavia, a ausência de uma hierarquia decisória n?o implica a ausência de distribui??o de responsabilidades e tarefas, nem o comprometimento das pessoas do coletivo. A a??o coletiva passa a ser responsabilidade de todos e a autodisciplina passa a ser primordial, já que a falta de compromisso de uma pessoa afetará todo o coletivo. Portanto a participa??o política direta traz consigo a necessidade de dedica??o e aten??o ao ambiente em que estamos inseridas.Muitos acontecimentos que n?o encontramos nos livros de história s?o a prova viva das possibilidades que temos. O possível e o atingível n?o est?o no ?mbito de em quem podemos votar, quem pode nos representar, o que nos dizem que é possível , mas sim no de tomar a vida pessoal e social por próprias m?os para transformá-la. O que precisamos hoje é deixar de ter medo das outras, deixar de ter medo de tomarmos nossas vidas por nós mesmas. Isso implica arriscar e assumir responsabilidades (pois é:liberdade e responsabilidade caminham juntas), e também encontrar com as outras pessoas formas de construir uma vida melhor. O Ativismo ABC toma decis?es coletivas e gere a Casa da Lagartixa Preta por meio da horizontalidade, colocando sempre em balan?o as diferen?as diagonais de participa??o e conhecimento. Buscamos o consenso sem ignorar o dissenso, através de assembleias , da distribui??o de tarefas e divis?o de comitês, do apoio mútuo entre os membros e os comitês, do “fa?amos-nós-mesmas” e das buscas por incluir a diversidade de experiências e por criar rela??es amistosas. Nossa prática mostra que o fundamento da autogest?o é uma busca contínua por romper com as formas dominantes de organiza??o (que envolvem, também, as esferas do agir e do falar ), pois n?o queremos mandar ou ser mandados. Queremos construir uma nova gest?o em todos os ?mbitos de nossas vidas, realizada em conjunto, aut?noma e com o poder distribuído entre todas.C) AnticapitalismoO capitalismo é um sistema hegem?nico com base na propriedade que visa a produ??o, manuten??o, prote??o e acúmulo de capital através da manipula??o e explora??o de outros seres e recursos. No capitalismo, rela??es diversas de interc?mbio e dádiva s?o substituídas/dominadas por um grande circuito mediado pelo equivalente geral (dinheiro), que se consegue a partir da explora??o e venda da for?a de trabalho. Tal equivalência é fundada numa ideologia do valor-trabalho e da condena??o do ócio, sendo o lazer relegado aos momentos de consumo. As diferen?as que aparecem como alternativas ao capitalismo s?o transformadas em produtos a serem consumidos, o que leva as pessoas a acreditarem que n?o existe outras alternativas.A moeda, contudo, n?o é mero produto de rela??es econ?micas, mas um encontro entre estas rela??es e as rela??es de poder. ? a constitui??o do poder na forma do Estado soberano, que garante através do monopólio da violência e coer??o, também o monopólio da produ??o da moeda. Unifica, através dela, as diferentes esferas de circula??o numa só rede de transmiss?o de mando e obediência, tornando-nos ao mesmo tempo servos e carrascos. N?o existe neutralidade no fluxo monetário, pois o mesmo só faz sentido a partir da separa??o e quantifica??o de diversos aspectos de nossas vidas. A acumula??o só é possível gra?as à avareza, à nega??o da gratuidade e à recusa a distribuir. Contra ela, a valoriza??o da generosidade e das formas de circula??o gratuita s?o alternativas.O Ativismo ABC tem como base, portanto, uma crítica prática ao capitalismo que envolve a experimenta??o e constitui??o de formas de produ??o e circula??o n?o-mercantis. O anticapitalismo ao qual nos referimos se concretiza na proposta de uma economia baseada na dádiva e na reciprocidade. Além de sermos contrários à explora??o das pessoas e à sua aliena??o, buscamos e incentivamos outras formas de convivência sem o intermédio do equivalente geral monetário, procurando interc?mbios mais próximos, diretos e pessoais. Isso passa, também, por transforma??es na rela??o entre consumo e produ??o através de outros circuitos relacionais.Em nossa horta comunitária experimentamos, a partir da agroecologia, uma rela??o diferente entre nós, as plantas e os outros seres. Além de buscarmos nos tornar ao mesmo tempo produtores e consumidores (ao participar do comitê da horta), distribuímos nossos frutos, verduras, folhas, raízes e ervas medicinais para aquelas que s?o vizinhas, parentes, amigas, frequentadoras ou participantes da Casa da Lagartixa Preta, com base na dádiva.A constitui??o desses circuitos n?o-mercantis é o processo contínuo de potencializa??o da autonomia perante o capital e o Estado e em rela??o à cadeia monetária, de modo a constituir rela??es n?o fundadas no mando e na obediência. Fazemos da nossa presen?a no capitalismo um esfor?o de (re)transformar a mercadoria em dádiva. A constitui??o desses circuitos é fundamental para que qualquer rela??o com o capitalismo possa se tornar anti-capitalista.Quanto mais estreitarmos a rela??o de produ??o e consumo dentro de uma esfera total de dádivas, mais estaremos numa constru??o de uma alternativa ao mercado e ao Estado. Existem práticas que consideramos mais próximas de estratégias de sobrevivência dentro do capitalismo, que objetivam uma vida com menor dependência do trabalho assalariado, provendo ociosidade para dedica??o à práticas políticas mais aut?nomas. Redes gratuitas de trocas e reaproveitamento de alimentos que s?o descartados entram neste campo estratégico, que por fim podem ajudar muito na obten??o de tempo para projetos mais radicais e audaciosos.Mas n?o podemos confundir essas estratégias de sobrevivência com as estratégias de constru??o de autonomia política, social e ambiental. A estratégia de sobrevivência possibilita a constru??o da autonomia, mas mantém a dependência da produ??o capitalista. O capitalismo é um sistema poderoso que nos cerca nas mais diversas esferas da vida, enquanto for quase impossível livrar-se dele e durante o processo de constitui??o dos circuitos opostos a ele faz-se necessário transformar o que ele nos toma em algo que retorne a nós. Para trazer do capitalismo aquilo que ele tomou – alimentos que desperdi?a, produtos do trabalho que viram lixo, o trabalho alienado do prazer, terra para plantar e, principalmente as pessoas que ele concentra nas cidades – é preciso compreender nossa rela??o com ele. Compreender seu poder, todavia, n?o torna as rela??es que temos com ele exclusivas – podemos e desejamos outras rela??es e o processo de sua constitui??o é o princípio básico da luta contra o inimigo comum.*D) Educa??o Libertária *A educa??o libertária é a produ??o, transmiss?o e recebimento de conhecimentos de forma aut?noma, autogerida, horizontal, consensual e livre. Desse modo, a prática libertária questiona a institucionaliza??o do saber através da escola. Isso porque ela faz as pessoas agirem conforme padr?es hierárquicos, com fins de domina??o que v?o para além dos meios de distribui??o de conhecimento. As escolas mantém e sustentam um modo de vida do qual desejamos nos libertar. Quando se parte de uma perspectiva libertária, qualquer rela??o com a escola deve ter esta percep??o subjacente. Assim, é preciso criar urgentemente estratégias para lidar com a escola, já que a vida da grande maioria das pessoas passa por ela.Ainda que algumas de nós atuem dentro destas institui??es enquanto estratégia política e também financeira, as práticas alternativas de educa??o s?o mantidas e difundidas pelo Ativismo ABC. Utilizamos tanto de saberes populares quanto acadêmicos, rompendo suas fronteiras. A ocupa??o de espa?os institucionalizados deve buscar neles brechas para uma distribui??o mais solidária e libertária do conhecimento. A educa??o libertária é um modo paralelo de ensinar, aprender, conhecer e viver para além das estruturas formais e burocráticas. Ela prop?em o apoio mútuo, a solidariedade entre as pessoas considerando suas diferentes capacidades e necessidades, a fim de tornar possível um outro modo de organiza??o e um outro modo de vida. Buscamos rela??es de poder e de saber que sejam contra a domina??o, e portanto os saberes, para nós, n?o s?o colocados a servi?o da explora??o e controle de uma pessoa sobre a outra. Ao contrário, s?o compartilhados e vivenciados, para construir rela??es mais solidárias e livres. A educa??o libertária n?o separa trabalho e investiga??o, jogo e reflex?o, teoria e prática, atividade manual e intelectual, paix?o e responsabilidade. O compartilhamento desse conhecimento acontece, no cotidiano, nos grupo de estudos e cursos livres oferecidos na Casa da Lagartixa Preta assim como nas rela??es que mantemos com outras pessoas, coletivos e espa?os.Alguns dos princípios da educa??o libertária que valorizamos s?o:Autonomia do saber: A imagina??o, criatividade, curiosidade e raciocínio s?o características inerentes ao ser humano, que observa, reflete e tira conclus?es sobre si mesmo e tudo ao seu redor, de acordo com necessidades pessoais e/ou coletivas. Cada um de seus aprendizados envolve processos complexos de observar, sentir, refletir, teorizar e colocar as teorias em prática. Essa autonomia de aprendizagem ou autodidatismo pode envolver todas as pessoas, independente de idade, gênero, ou qualquer outras características.Autogest?o do saber: Cada pessoa ou grupo de pessoas tem seus próprios interesses e necessidades sobre determinados assuntos. Elas também podem ter suas próprias formas de absorver conhecimento e criar teorias, ou podem optar por estudar teorias já existentes. Quem escolhe o que estudar (idiomas, corpo, animais, plantas, música, etc) e como estudar (individualmente ou em grupo, em silêncio ou com sons, parado ou se movimentando, lendo livros ou conversando com pessoas, etc) é a própria pessoa ou o grupo de pessoas (como um grupo de estudos, por exemplo) envolvidas no processo de aprendizagem. Na Casa da Lagartixa Preta, existem e já existiram grupos de estudos de diferentes temas: idiomas, comunica??o n?o-violenta, cultivo de plantas, manuten??o de bicicletas, políticas ameríndias, comunidades aut?nomas etc. Em cada um desses grupos, o estudo é planejado e executado coletivamente, de acordo com as demandas coletivas e através dos métodos propostos e escolhidos pelas pessoas participantes.Horizontalidade e consenso do saber: N?o acreditamos que existam conclus?es únicas e absolutas, mas conclus?es criadas ou tomadas a partir de específicas necessidades, perspectivas, metodologias e contextos. Dessa maneira, podem haver muitas e diferentes conclus?es sobre uma mesma quest?o estudada. Por isso, quando o Ativismo ABC faz algo coletivamente ou em parceria com outras pessoas e coletivos, buscamos ouvir as experiências e conhecimentos umas das outras. Os menos experientes devem estar abertos aos conhecimentos dos mais experientes, e vice-versa. Desse encontro de diferentes conhecimentos, argumentamos e discutimos até que cheguemos a um consenso, que pode ocorrer quando uns aderem a proposta dos outros, ou quando uma nova solu??o/conclus?o é elaborada coletivamenteA import?ncia da horizontalidade na pedagogia se dá pelo fato de que aquele que tem mais conhecimento tende a ter maior poder em algumas situa??es. Por isso, buscamos sempre distribuir nossos conhecimentos a todas as pessoas, o que descentraliza o poder.E) Apoio MútuoA vida dos grupos de pessoas e de outros seres nesse mundo se dá justamente porque em diversos momentos os membros desses grupos tiveram de se apoiar , ou seja, a vida n?o se dá apenas por uma disputa mortal das espécies, mas também pelas rela??es de apoio. Nossa sociedade, no entanto, vem sendo estruturada com base na competi??o, nas rela??es de poder exercidas de cima para baixo(governantes,reis e rainhas,professores,polícia), no isolamento de cada uma e de todas. A partir dessas bases sociais, em geral pensamos que é impossível a existência de outras possibilidades, e esquecemos que em muitas situa??es cotidianas precisamos do apoio das outras pessoas. Alguns exemplos de situa??es cotidianas de apoio s?o: o mutir?o, que é uma prática de trabalho coletivo em benefício de uma pessoa ou de um grupo(como a famosa reuni?o de vizinhos para encher a laje de uma casa); pedir um punhado de a?úcar ou óleo na vizinha; fazer uma “vaquinha” pra aquela pessoa ou grupo que precisa; a??es conjuntas de moradores para realizar melhorias no bairro, etc. S?o muitos os exemplos que poderíamos citar e que est?o caindo no esquecimento ou sendo desvalorizados.O apoio mútuo é a possibilidade de criar uma rede de rela??es de coopera??o e n?o de imposi??o.S?o associa??es feitas livremente, pela identifica??o de uma pessoa com os problemas da outra e que, portanto, s?o rela??es que tem uma potencialidade aut?noma. Ele está mais relacionado à solidariedade e, portanto, n?o pode ser confundido com caridade. Ao contrário da caridade, que é exercida de cima para baixo, sem potencializar transforma??es sociais, o apoio mútuo n?o implica em superioridade, mas sim em solidariedade e compromisso entre as pessoas envolvidas.F) DiversidadeTrabalhar, incentivar e lidar com a diversidade s?o processos importantes,já que cada pessoa possui características (gostos, gestos, escolhas,opini?es, etc) que só podem se expressar com liberdade se foremcoletivamente respeitadas. As percep??es e experiências que cada pessoa ou grupo possuem n?o s?o inferiores ou superiores. Elas s?o simplesmente diferentes e, muitas vezes se completam, possibilitando um rico e criativo ambiente de aprendizado.Conviver com a pluralidade nos permite compreender melhor o contexto de cada pessoa e comunidade, suas motiva??es e as opress?es as quais está exposta devido às suas escolhas. Isso se aplica à sexualidade, ao gênero, à cor, à origem, e tantas outras características e op??es variadas que,sejam muito ou pouco diferentes das nossas, também podem ser valorizadas.O sistema capitalista se volta para a homogeneiza??o, ou seja, para aimposi??o da padroniza??o entre diferentes culturas, onde os saberes e tudo aquilo que é tido como “menos eficiente”,”atrasado” ou “inferior” tende a desaparecer enquanto que o classificado como “avan?ado” ou “moderno” tende a permanecer e se espalhar por todas as partes do globo. ? através desta lógica que o sistemacapitalista vai penetrando e tornando pessoas e povos em meros consumidores dependentes. A produ??o de determinado produto em grande escala só é possível com uma grande demanda, e esta grande demanda só se torna possível através de um amplo processo de padroniza??o de preferências e do comportamento. ? por este motivo que s?o criados padr?es de beleza, sexualidade, alimenta??o e rela??es, que em geral excluem todos aqueles que n?o possuírem o padr?o de vida propagandeado nos comerciais.Além disso, para que essa sociedade continue se reproduzindo e se espalhando, é preciso que os saberes ancestrais e todos os modos de vida diferentes deste que é imposto, sejam marginalizados e aniquilados, em nome do “progresso” e do “desenvolvimento econ?mico e social”.A diversidade, seja dentro de um grupo pequeno (micro) ou uma sociedade(macro), é necessária para combater a uniformiza??o. ? assim que se ampliam os questionamentos e a luta. Imaginem um grupo somente de homens brancos ou um grupo só de mulheres de determinada idade,por exemplo.Suas reivindica??es e discuss?es acabam se limitando a uma esfera específica, que nem sempre dialoga com o todo, ao contrário de ter um grupo em que a diversidade e as diferen?as convivam no mesmo espa?o.Assim, acreditamos que a diversidade cultural funciona como a biodiversidade, ampliando as possibilidades dentro de redes de rela??es.Os diferentes organismos existentes, por possuírem diferentes estratégias e diferentes necessidades, podem assim lidar cada qual a sua maneira com as mudan?as e desafios que surgem no ambiente. Associam-se, direta ou indiretamente, de modo que co-existem em interdependência. Utilizam os recursos de maneira plural, o que viabiliza a coexistência de muitos tamanhos, hábitos, cores e sons exibidos por cada forma de vida.A diversidade, portanto, é um fator essencial para o desenrolar da vida no planeta. N?o há na natureza padr?es totalitários, superiores, definitivos, e muito menos homogêneos, uma vez que os organismos est?o sempre em constante renova??o e adapta??o, e que nada pode permanecer estático por muito tempo.G) ConsensoNossas decis?es sempre foram pautadas pelo princípio da busca pelo consenso, pois para nós, o consenso n?o é a imposi??o do pensamento único ou uma forma de eliminar o dissenso. Temos entendido o consenso como forma de pensar e agir coletivamente, a partir de diferentes propostas, argumenta??es, discuss?o e discord?ncias, tentando compreender as diferentes para assim chegar à uma decis?o de a??o que contemple uma ou mais propostas ou que mescle as diferentes propostas. Desta forma, o consenso n?o é uma única posi??o e opini?o, é a possibilidade de combinar diferen?as.A disputa n?o tem como fim a elimina??o da diferen?a, mas diversas maneiras de aceita??o ou altera??o do que se defende, sem no entanto deixar de tomar as decis?es necessárias, respeitando o tempo suficiente para que isso seja alcan?ado.No consenso, discordar de uma proposta n?o é a mesma coisa que opor-se a ela. Uma proposta pode n?o ser a preferida de todos, mas pode ser levada a cabo coletivamente caso ninguém se oponha a ela. A discord?ncia pode também dar a possibilidade de que uma proposta seja posta em prática de modo experimental por quem a defende, e depois ser avaliada coletivamente. Neste caso o coletivo inteiro n?o precisa se responsabilizar pela implementa??o da a??o, mas deve sempre arcar com as consequências. Todavia, quando existe oposi??o a uma proposta e as pessoas s?o contra implementá-la, é necessário generosidade do proponente para retirá-la ouesperar uma nova oportunidade.Enfim, as propostas podem se mesclar umas as outras ou surgirem através do debate. ? preciso tratar as ideias n?o como prontas na cabe?a de cada um, mas como fruto da conversa e envolvimento entre as pessoas. Dessa forma o consenso n?o é algo imediato, mas requer um processo temporal lento, um alongamento dos debates e até mesmo o adiamento de decis?es.Tendo como objetivo a constru??o de uma sociedade igualitária onde todas tenham a possibilidade de se expressar e opinar nas decis?es que dizem respeito a sua vida, nos parece necessário construir esse tipo de processo decisório desde agora, como base para nossas experiências presentes e futuras.H) A??o DiretaA a??o direta é o princípio onde uma ou mais pessoas decidem e atuam diretamente em tudo o que lhe diz respeito, n?o delegando a solu??o de problemas a terceiros. Sendo assim, rejeitamos meios indiretos de resolu??o de quest?es sociais, ambientais e de outras esferas(como a media??o por políticos, partidos, Estado e mercado) em favor de meios mais diretos (como o mutir?o, a assembléia, o “fa?a você mesmo”, e outra práticas que visam construir uma forma de vida mais libertária).A a??o direta também é associada a greves, boicotes, desobediência civil, interven??es e protestos. Ao optarmos por a??es mais afirmativas e construtivas n?o negamos a import?ncia do conflito e da oposi??o em rela??o ao sistema dominante, mas acreditamos que sem a constru??o de algo diferente uma mudan?a significativa fica muito distante de ser concretizada.Nesse sentido, nossa a??o direta volta-se hoje, principalmente para a colabora??o construtiva de um modo de vida libertário no presente.A op??o pela a??o direta implica em n?o esperar que o poder constituído fa?a alguma coisa, mas fazer-nós-mesmos, coletivamente e em parceria com outros grupos. Perante a hegemonia do Capital e do Estado, buscamos manter com eles rela??es mínimas. Ou seja, optamos por n?o fundar nosso coletivo numa rela??o de dependência direta e burocratiza??o, como por exemplo de servi?o junto a projetos governamentais ou editais de acesso a verbas e apoio estatal, que aparecem para nós como ferramentas de controle sobre as a??es populares. Tais ferramentas incluem diretamente a a??o coletiva na rede de mando e obediência, fazendo com que a esfera “autogestionada” n?o se constitua como comunidade à parte, através da qual formas de circula??o n?o mediadas pela moeda (dádiva, gratuidade, reciprocidade e apoio mútuo sem base financeira, etc.) possam se desenvolver.Nossa prática cooperativista, assim como tantas formas de coopera??o popular (como os trabalhos voluntários e coletivos em festas, o mutir?o, a produ??o caseira), mesmo quando atrelada a rela??es mercantis, foge da burocratiza??o hierárquica que caracteriza o cooperativismo formal.I) Apartidarismo com tendências AntipartidáriasNós n?o nos apoiamos nem nos submetemos a nenhum partido, n?o concordamos com a forma de organiza??o com que estes se colocam, nem compartilhamos de seusinteresses (democracia representativa, disputas eleitoreiras, enfim, a tomada e monopólio do poder). N?o acreditamos no poder exercido de cima para baixo, e sim em sua diversifica??o e distribui??o.Quando trabalhamos junto de outros grupos e movimentos, muitas vezes compartilhamos os mesmos espa?os que partidos políticos, ou grupos ligados à eles. Porém, nossa atua??o ou apoio junto a um coletivo, movimento social, ou grupo, se dá também a partir dos nossos princípios. Geralmente, as lutas em que nos posicionamos como apartidários s?o lutas pontuais e estratégicas, como em frentes de luta ou manifesta??es, onde temos algo em comum. Entretanto, quando os princípios da lógica partidária come?am a predominar nesses ambientes, nós nos opomos ou nos afastamos.J) EcologiaO antropocentrismo baseia-se numa ideia de separa??o entre o ser humano e os seres n?o-humanos, constituindo uma esfera oposta á humana que passa a ser chamada de natureza. Nessa lógica antropocêntrica, o ser humano é caracterizado como hierarquicamente superior e dominante. Isso justifica que os n?o humanos sejam usados como meros recursos para os seres humanos, manipulados de acordo com nossos interesses e necessidades. Este é um dos fundamentos do sistema capitalista e da cultura de mercado. A água é apenas recurso, os minérios s?o matérias-primas, os vegetais s?o produtos e os animais s?o mercadoria e for?a de trabalho. A rela??o utilitária entre a nossa espécie e a “natureza” forjada cotidianamente na cultura da sociedade industrial deixa-nos livres para sugar o que for “necessário” em prol de uma única espécie e em detrimento do todo. Tal fundamento isenta o ser humano da responsabilidade com a degrada??o, a polui??o, a destrui??o de fontes esgotáveis de vida e da extin??o de outras espécies.Buscamos construir e fortalecer uma outra rela??o com o meio n?o humano, sem destruí-lo ou levá-lo ao esgotamento, mas criar, recuperar, construir e praticar rela??es mutualistas. O meio ambiente é essencial para a reprodu??o da vida e para a constru??o de uma outra sociedade.Dentro desta rela??o, a biodiversidade tem um papel fundamental na constru??o da base de nossas práticas, da nossa sabedoria e do nosso entendimento do todo. Onde cada ser tem sua import?ncia, onde n?o há homogeneidade, onde as possibilidades s?o infinitas. Com a certeza de que o universo está em constante transforma??o.Queremos ressaltar, porém, que a constru??o de uma outra sociedade, de um outro modo de vida, só é possível desconstruindo a base do modo de vida capitalista e estatista.Pela experiência e o entendimento do contexto em que vivemos, percebemos que as iniciativas e constru??es precisam entender, questionar e trabalhar as rela??es profundas para construir algo novo e fortalecer uma estrutura paralela. A lógica capitalista se apropria facilmente das iniciativas onde as rela??es mais profundas e enraizadas n?o foram constituídas, transformando-as em nichos de mercado através do contraditório “desenvolvimento sustentável”. O desenvolvimento que pressup?e amanuten??o da lógica de explora??o, produ??o, consumo e rela??es mediadas pelo dinheiro é, por si só, insustentável.K) IgualdadeA busca pela igualdade social n?o está limitada a quest?o econ?mica, apesar de abrangê-la. O patriarcado, a escravid?o, a servid?o, o domínio de um povo sobre os outros ocorrem desde antes do capitalismo se estabelecer. O capitalismo aprofundou, expandiu e fortaleceu a desigualdade, fragmentando e hierarquizando ainda mais pessoas, comunidades, lugares, conhecimentos e vivências. Esta é a sociedade que acumula e centraliza capital e poder, que hierarquiza as pessoas pela sua cultura, cor, sexo e bens.Ao defendermos a igualdade n?o estamos pressupondo que todas as pessoas tenham que ter as mesmas coisas ou serem idênticas. Ela pressup?e diversidade e diferen?a estabelecidas dentro de valores anticapitalistas, de liberdade, de apoio mútuo e solidariedade. De cada um segundo suas possibilidades e a cada um segundo suas necessidades. Desta forma a igualdade deve estar no acesso a participa??o politica, aos meios de produ??o de vida, no acesso à terra e a moradia, nas rela??es de gênero e nas rela??es entre culturas distintas.Impedimos a expans?o da pir?mide do poder (político, social, econ?mico, cultural), da autoridade e da submiss?o buscando e conquistando maior igualdade, contribuindo para a constru??o de outra sociedade em que as diferen?as n?o sejam passíveis de serem hierarquizadas e dominadas, impossibilitando a vida baseada na explora??o de um pelo outro.Dentro da lógica do capital uma das táticas mais usadas é a de dividir para conquistar. Essa divis?o ocorre de diversas maneiras, pode ser por gênero, sexualidade, classe, cor, times de futebol etc. Tal tática tem o objetivo de fragmentar as partes envolvidas, criando um cenário de competi??o pelo monopólio do poder. Ao contrário disso, internamente o coletivo busca um nível de igualdade baseado no princípio da dádiva e na distribui??o de saber e poder, dividindo tarefas e rotacionando responsabilidades. Tudo está disponível a todos e as escolhas s?o tomadas de maneira consensual com igual participa??o dos membros que se interessem pelo assunto em quest?o, sendo asseguradas durante este processo o seu direito de opini?o e poder decisório, independente de credo, cor, gênero, sexualidade etc.L) AutonomiaAutonomia é algo diretamente ligado à liberdade e ao poder.Para nós a autonomia n?o é algo individual, sendo possível somente como a??o coletiva de recusa á cadeia de mando e obediência. Ou seja, n?o ocorre de maneira isolada, sendo possível apenas através da a??o conjunta em redes de dádiva e apoio mútuo.Autonomia é manter rela??es práticas com toda a esfera de conhecimentos e necessidades das quais dependem a nossa vida cotidiana e que a constituem. Saúde, alimenta??o, abrigo, mobilidade, rela??es com as/os outras/os e com o meio s?o elementos constitutivos da autonomia política. Quando n?o operamos em todas as esferas fundamentais para a vida, ficamos à mercê do Estado e do Capital.Se dependemos de hospitais e indústria farmacêutica (contra doen?as simples ou graves ou pelo controle da contracep??o e do parto) ficamos impotentes, entregues às decis?es dominantes, à lógica de sistema de saúde pautada nos interesses do Capital e ao controle de nossos corpos pelo Estado. Se n?o conhecemos a terra, o cultivo e o processo dos alimentos que comemos diariamente, ficamos à mercê do cultivo com agrotóxicos, transgênicos, uso de antibióticos e horm?nios em animais, infla??o e impostos. Quando mantemos nosso corpo dócil e inapto para o uso da for?a combativa, ficamos a mercê da violência privada e estatal. Por motivos como estes, pensamos que a conquista da autonomia passa pela busca do conhecimento do processo vital como um todo, construindo circuitos gratuitos e de apoio mútuo paralelos ao modo de vida dominante.Por toda essa complexidade de rela??es, a autonomia depende da constru??o coletiva e comunitária e através do apoio mútuo entre diferentes pessoas e coletivos na gest?o dos recursos e saberes. Com rela??es em comunidade, mais pessoais (e portanto menos instituicionais) a constru??o alternativa ganha bases mais poderosas, que possibilitam uma expans?o máxima dessas rela??es, práticas e conhecimentos. Apenas através da expans?o das rela??es, redes e federa??es de pessoas, coletivos e territórios de liberta??o autogestionária poderemos corroer as rela??es estatais e capitalistas até o seu declínio, pois essas rela??es criam uma alternativa ás lógicas do mando e da obediência.A presen?a da autonomia na esfera organizacional se dá quando um coletivo, organiza??o ou federa??o libertários se organizam de forma horizontal, autogerida e buscando autonomia de decis?es e a??es, gerando vínculos pessoais entre os participantes. Sem estas práticas e vínculos, a a??o política se torna fugaz.Porém queremos reafirmar que a autonomia política n?o se dá apenas na esfera decisória e organizativa do próprio coletivo. Ela se dá também na esfera social, ecológica, econ?mica e de potência corporal, enfim, é uma busca e uma constru??o que envolve todas as esferas da vida. A autonomia só se consolidará quando expandida para as rela??es cotidianas e vitais, para além de sua própria organiza??o. Quando se concentra apenas na esfera organizacional (comitês, assembléias, reuni?es, atas e cartas de princípios, divis?o de tarefas etc.), sem levar em conta os demaisaspectos da vida, n?o constrói a independência da cadeia de mando e obediência. A organiza??o fica sem base vital, à mercê do modo de vida dominante. ? o que acontece, por exemplo, quando organiza??es culturais com tendência libertária e seus membros passam a depender de financiamentos estatais e da vontade dos governantes.A autonomia em sentido amplo, organizacional, social, ambiental, econ?mica, corporal etc., fortalece tanto a organiza??o interna do coletivo quanto suas rela??es externas, federativas e populares.Justamente porque se fundamenta em rela??es com todos os ?mbitos da vida, bem como em rela??es de apoio mútuo e reciprocidade que atravessam vários coletivos, constituindo uma territorialidade estendida e múltipla. Essas rela??es tornam o coletivo, seus membros e aqueles com quem agem em conjunto menos dependentes dos recursos controlados pelo Estado e o Capital. Só assim construiremos uma participa??o coletiva plena em um outro modo de vida possível.ANEXOS1) Micro e MacroPensamos que uma estratégia política deve sempre considerar duas esferas interdependentes que classificamos como Micro e Macro. Consideramos as rela??es da nossa vida cotidiana (com quem vivemos, como vivemos, o que comemos, como lidamos com conflitos interpessoais, como gerimos espa?os coletivos, como produzimos alimentos localmente, como nos organizamos em cooperativas) como pertencentes à micro esfera, e as rela??es que temos com estruturas e institui??es (Mercado, Estado, sistema de saúde, sistema educacional) como pertencentes à macro esfera.Talvez fique mais fácil explanar tudo isso através de um exemplo prático. Estamos na gest?o da Casa da Lagartixa Preta desde 2004, e dentro deste período conseguimos constatar diversas mudan?as dentro do coletivo e dentro da sociedade em que estamos inseridos. Podemos dizer que avan?amos em muitos aspectos. O coletivo que inicialmente era feito de pessoas com conhecimentos parciais e pouco potencial de constru??o de uma autonomia social, hoje é constituído de pessoas com saberes tradicionais diversos e com imenso potencial de solidificar uma autonomia social. Alguns vizinhos que nos viam como intrusos, hoje s?o conhecidos que nos respeitam ou amigos frequentadores do espa?o. Expandimos e amadurecemos nossas experiências comunais, os desentendimentos s?o comuns mas n?o saem fora do controle ao ponto de se gerar intrigas ou rachas dentro do coletivo. Somos capazes de construir qualquer coisa coletivamente sem a necessidade de especialistas, sabemos descentralizar conhecimentos e dialogar com pessoas diversas.Poderíamos dizer que na esfera micro aprendemos bastante e consolidamos muitas rela??es indispensáveis para uma mudan?a política e social, porém na esfera macro a situa??o é um tanto diferente. A especula??o imobiliária avan?ou estrondosamente na cidade, muitos prédios foram erguidos no bairro e com isso a cultura de vizinhan?a vai desaparecendo, informa??es e conhecimentos ainda est?o centralizados em institui??es mantidas pelo Estado e pelo mercado. O capitalismo segue firme e forte.Nossas práticas e constru??es na esfera micro só ter?o maior impacto na esfera macro se forem expandidas. Nesse sentido, é importante a constitui??o do macro através dos enredamentos das microesferas pelas alian?as, associa??es entre coletivos, forma??o de confedera??es, interc?mbios entre diversas localidades ou rela??o de ajuda mútua entre grupos. Ao mesmo tempo, n?o adianta trabalhar apenas na esfera macro, se as rela??es da esfera micro est?o em desacordo e em constante conflito com o que se tenta construir no macro. Do que adianta lutar contra as grandes institui??es para a constru??o de um poder descentralizado se a maioria dos projetos de pequena escala fracassam? Do que adianta sonhar com uma sociedade baseada na autogest?o se os próprios grupos libertários s?o marcados por brigas, intrigas e rachas? Como as duas esferas que tratamos s?o interdependentes, a existência de coletivos especializados em qualquer uma das duas esferas é pouco frutífera e as possibilidades de diálogo entre diferentes grupos se tornam muito difícil. Micro e macro, para nós, nunca aparecem em termos hierárquicos.N?o é possível viver o macro sem o micro, e o micro sem o macro. Essa rela??o entre micro e macro se assemelha muito a um holograma ou um fractal, onde a parte mínima e a parte máxima se tornam difíceis de serem diferenciadas. ................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download