A folha

[Pages:20]a folha

Boletim da l?ngua portuguesa nas institui??es europeias



N.? 51 -- ver?o de 2016

NIP?NIO, MOSC?VIO, TENESSO E OGAN?SSON -- Paulo Correia .................................................................................................. 1 E PLURIBUS UNUM: ENCONTROS E DESENCONTROS LUSO-BRASILEIROS (PARTE II) -- Jales J. da Rocha Filho ............................. 5 TEND?NCIAS DA L?NGUA PORTUGUESA: AS IN?CUAS E AS IN?QUAS (IV) -- Jorge Madeira Mendes .............................................. 8 O CANIVETE SU??O -- Lu?s Filipe PL Sabino ............................................................................................................................ 11 ALGUMA TERMINOLOGIA DO W-PROPOR2016 -- Hil?rio Leal Fontes; Paulo Correia........................................................... 14 ESLOV?QUIA -- FICHA DE PA?S -- Jales J. da Rocha Filho; Paulo Correia .............................................................................. 17

Nip?nio, mosc?vio, tenesso e ogan?sson

Paulo Correia Dire??o-Geral da Tradu??o -- Comiss?o Europeia

[Com a colabora??o de Lu?s Miguel Costa, Dire??o-Geral da Tradu??o -- Comiss?o Europeia]

Est? prestes a ficar completa a s?tima e ?ltima linha da tabela peri?dica dos elementos qu?micos, com a ado??o dos nomes para os derradeiros quatro elementos (n?meros at?micos 113, 115, 117 e 118), que ainda s? tinham nomes provis?rios. Agora que a Uni?o Internacional de Qu?mica Pura e Aplicada (IUPAC) prop?s as designa??es em ingl?s, importa refletir sobre a fixa??o dessa terminologia em l?ngua portuguesa, procurando seguir as regras habituais do portugu?s para a forma??o dos nomes dos elementos qu?micos e evitando aportuguesamentos apressados. Apresentam-se alguns excertos da not?cia publicada pela IUPAC a 8 de junho(1).

Following earlier reports that the claims for discovery of these elements have been fulfilled, the discoverers have been invited to propose names and the following are now disclosed for public review:

Nihonium and symbol Nh, for the element 113, Moscovium and symbol Mc, for the element 115, Tennessine and symbol Ts, for the element 117, and Oganesson and symbol Og, for the element 118.

Elemento 113 -- homenagem ao Pa?s do Sol Nascente ()

Nihon is one of the two ways to say "Japan" in Japanese, and literally mean "the Land of Rising Sun". The name is proposed to make a direct connection to the nation where the element was discovered. Element 113 is the first element to have been discovered in an Asian country. While presenting this proposal, the team headed by Professor Kosuke Morita pays homage to the trailblazing work by Masataka Ogawa done in 1908 surrounding the discovery of element 43(2). The team also hopes that pride and faith in science will displace the lost trust of those who suffered from the 2011 Fukushima nuclear disaster.

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

At? agora, o elemento 113 era designado provisoriamente ecat?lio (eka-Tl) ou un?ntrio (Uut).

Em portugu?s, a op??o por nip?nio tem a vantagem de indicar claramente que se quer homenagear o Jap?o (nomeadamente as v?timas de Fucoxima(3)). Essa homenagem perder-se-ia caso se optasse por

termos como nih?nio ou ni?nio.

A escolha em ingl?s de nihonium (de Nihon) em vez de nipponium (de Nippon) ter? a ver com o s?mbolo qu?mico -- Nh --, pois Np j? corresponde ao nept?nio (elemento n.? 93). O problema n?o se coloca da mesma forma em portugu?s, pois ? muito frequente os s?mbolos qu?micos n?o corresponderem aos nomes dos elementos.

Elemento 115 -- homenagem ? regi?o de Moscovo

Moscovium is in recognition of the Moscow region and honors the ancient Russian land that is the home of the Joint Institute for Nuclear Research, where the discovery experiments were conducted using the Dubna Gas-Filled Recoil Separator in combination with the heavy ion accelerator capabilities of the Flerov Laboratory of Nuclear Reactions.

At? agora, o elemento 115 era designado provisoriamente ecabismuto (eka-Bi) ou unump?ntio (Uup).

O nome mosc?vio homenageia a Mosc?via, a regi?o onde se situa Moscovo.

Elemento 117 -- mais um halog?neo

Tennessine is in recognition of the contribution of the Tennessee region, including Oak Ridge National Laboratory, Vanderbilt University, and the University of Tennessee at Knoxville, to superheavy element research, including the production and chemical separation of unique actinide target materials for superheavy element synthesis at ORNL's High Flux Isotope Reactor (HFIR) and Radiochemical Engineering Development Center (REDC).

At? agora, o elemento 117 era designado provisoriamente eca-?stato (eka-At) ou ununs?ptio (Uus).

Repare-se que o nome escolhido em ingl?s foi tennessine e n?o tennessium. Parece, assim, que al?m de se homenagear a regi?o norte-americana do Tenessi(4), com a escolha do sufixo ingl?s -ine, se quis indicar claramente que se est? perante mais um halog?neo(5). A designa??o em portugu?s e nas

restantes l?nguas latinas dever? tamb?m refletir essas indica??es. A tradi??o nessas l?nguas tem sido a

de n?o utilizar sufixo (termina??o em ?o?, n?o em ?io?, em portugu?s).

Se se reparar nos pares fl?or/fluorine, cloro/chlorine, bromo/bromine, iodo/iodine, ?stato/astatine, a

solu??o para o 117 dever? ser tenesso. Solu??es resultantes de simples aportuguesamentos, como tenessine, tenessina(6), tenessino, teness?nio ou ten?ssio, n?o indicariam que se trata de mais um

halog?neo.

Halog?neos:

F

pt

fl?or

en

fluorine

fr

fluor

es

fl?or

it

fluoro

ro

fluor

la/grc(10) fluor

IATE 1104615

Cl cloro chlorine chlore cloro cloro clor 1104619

Br bromo bromine brome bromo bromo brom 1104634

I iodo iodine iode yodo iodio iod 1104648

At ?stato astatine astate astato astato astatiniu 1104678

Ts tenesso tennessine tennesse(7) teneso(8) tennesso(9)

-- 2222720

2

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

Elemento 118 -- mais um g?s nobre

For the element with atomic number 118 the collaborating teams of discoverers at the Joint Institute for Nuclear Research, Dubna (Russia) and Lawrence Livermore National Laboratory (USA) proposed the name oganesson and symbol Og. The proposal is in line with the tradition of honoring a scientist and recognizes Professor Yuri Oganessian (born 1933) for his pioneering contributions to transactinoid elements research. His many achievements include the discovery of superheavy elements and significant advances in the nuclear physics of superheavy nuclei including experimental evidence for the "island of stability".

At? agora o elemento 118 era designado provisoriamente ecarr?don (eka-Rn) ou unun?ctio (Uuo).

Repare-se que o nome escolhido em ingl?s foi oganesson e n?o oganessium. ? uma clara indica??o de que se trata de mais um g?s nobre e uma homenagem a Oganessian, um cientista russo de ascend?ncia arm?nia.

Com a exce??o do h?lio, a terminologia dos gases nobres ? bastante clara nas v?rias l?nguas (sufixo

-on, correspondente ? forma neutra de palavras do grego antigo). A designa??o em portugu?s ser?, assim, ogan?sson (ou oganess?nio, segundo a tradi??o do portugu?s do Brasil)(11) e n?o oganess?nio

ou, muito menos, ogan?ssono, ogan?ssio ou ogan?ss?o.

Gases nobres:

He

pt

h?lio

en

helium

fr

h?lium

es

helio

it

elio

ro grc(14)

heliu

IATE

1104610

Ne n?on neon n?on ne?n neon neon 1411342

Ar ?rgon argon argon arg?n argon argon 1104620

Kr cr?pton krypton krypton kript?n kripton kripton 1104635

Xe x?non xenon x?non xen?n xeno xenon 1104649

Rn r?don radon radon rad?n radon radon -- 1411354

Og ogan?sson oganesson oganesson(12) oganes?n(13)

-- 1899406

Em anexo apresenta-se um quadro com os ?ltimos 15 elementos da tabela peri?dica, as suas anteriores designa??es provis?rias e ano de ado??o do nome definitivo.

Com o sistema de Mendeleev a designa??o provis?ria de novos elementos era feita a partir do nome do elemento conhecido situado na mesma coluna da tabela peri?dica, mas na linha imediatamente superior, precedido do prefixo eca- (eka- -- um em s?nscrito).

Exemplo (darmst?cio): platina >

eca + platina = ecaplatina (eka-Pt).

Com o sistema de designa??o provis?ria de novos elementos a partir do seu n?mero at?mico utilizavam-se part?culas (e s?mbolos) correspondentes a cada um dos algarismos do n?mero(15),

seguidas do sufixo ?io.

Exemplo (darmst?cio): 110 >

un + un + nil + io = ununn?lio (Uun).

Desde a publica??o, em 2008, n'?a folha? de uma lista multilingue dos elementos qu?micos(16), foram fixados mais tr?s nomes: copern?cio (n.? 112), fler?vio (n.? 114) e liverm?rio (n.? 116).

Paulo.Correia@ec.europa.eu

3

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

Designa??es provis?rias e definitivas dos transactin?deos

# Mendeleev

104 eca-h?fnio eka-Hf

105 ecat?ntalo

eka-Ta

106 ecatungst?nio eka-W

107 ecarr?nio

eka-Re

108 eca?smio

eka-Os

109 ecair?dio

eka-Ir

110 ecaplatina

eka-Pt

111 ecaouro

eka-Au

112 ecamerc?rio eka-Hg

113 ecat?lio

eka-Tl

114 ecachumbo eka-Pb

115 ecabismuto eka-Bi

116 ecapol?nio eka-Po

117 eca-?stato eka-At

118 ecarr?don eka-Rn

sistem?tico unnilqu?dio(17) Unq unnilp?ntio(18) Unp unnil-h?xio(19) Unh

unnils?ptio Uns unnil?ctio(20) Uno unnil?nio(21) Une ununn?lio(22) Uun

unun?nio

Uuu

un?mbio

Uub

un?ntrio

Uut

ununqu?dio Uuq

unump?ntio Uup unun-h?xio(23) Uuh

ununs?ptio Uus

unun?ctio

Uuo

ano 1997 1997 1997 1997 1997 1997 2003 2004 2010 2016 2012 2016 2012 2016 2016

definitivo rutherf?rdio d?bnio seab?rgio b?hrio h?ssio meitn?rio darmst?cio roentg?nio copern?cio nip?nio fler?vio mosc?vio liverm?rio tenesso ogan?sson

IATE Rf 1899395 Db 1899396 Sg 1899397 Bh 1899398 Hs 1899399 Mt 1899400 Ds 2244895 Rg 1265898 Cn 1265899 Nh 2244953 Fl 1265900 Mc 2244958 Lv 1265901 Ts 2222720 Og 1899406

(1) IUPAC, ?IUPAC is naming the four new elements nihonium, moscovium, tennessine, and oganesson?, 08.06.2016,

(2) O tecn?cio. (3) Ver entrada ?Fucoxima? no Lello Universal: Dicion?rio Enciclop?dico Luso-Brasileiro, Lello & Irm?o, Porto, 1993,

ISBN 972-48-0005-9. (4) Correia, P., ?Os Estados dos Estados Unidos da Am?rica?, in ?a folha?, n.? 48 -- ver?o de 2015,

. (5) De acordo com o Oxford English Dictionary, em ingl?s, os nomes dos halog?neos foram formados a partir do nome

franc?s, acrescentando-lhe o sufixo ?ine. (6) Embora nas tradu??es se possam encontrar esporadicamente vest?gios da *fluorina, da *clorina, da *bromina, da *iodina

ou da *astatina ? sabido que essas s?o designa??es erradas em portugu?s, fruto do decalque do ingl?s. Ali?s, s? dois

elementos qu?micos t?m nomes femininos: a prata e a platina. (7) Wikip?dia, Ununseptium, . (8) Sujeito a confirma??o. Cf. ?Se recomienda que los nombres de los nuevos elementos tengan una terminaci?n que refleje y

mantenga la consistencia hist?rica y qu?mica. La terminaci?n de los nuevos elementos acabar? en: "-io" ("-ium" en ingl?s),

para los elementos de los grupos 1-16, incluyendo los elementos del bloque f, "-o" ("-ine" en ingl?s) para los elementos del

grupo 17 y "-?n" ("-on" en ingl?s) para los elementos del grupo 18.? em Rom?n Polo, P. et al., ??Moseleyio, moseleyo o

moseley?n? Una excelente oportunidad para honrar a Moseley en el centenario de su muerte?, Anales de Qu?mica, vol. 112,

n.? 2, 2016, .

(9) Wikip?dia, Ununseptio, .

(10) Etimologia: fluor -- fluxo; -- verde; -- mau cheiro; -- cor violeta; -- inst?vel.

(11) Ne?nio, arg?nio, cript?nio, xen?nio, rad?nio, oganess?nio.

(12) Wikip?dia, Ununoctium, .

(13) Wikip?dia, Ununoctio, .

(14) Etimologia: -- Sol; -- novo; -- inativo; -- oculto; -- estranho.

(15)

| 0 -- nil -- n | 1 -- un -- u | 2 -- b(i) -- b | 3 -- tr(i) -- t | 4 -- quad -- q |

| 5 -- pent -- p | 6 -- hex -- h | 7 -- sept -- s | 8 -- oct -- o | 9 -- en -- e | (16) Costa, L., Garrido, A., Correia, P., ?Elementos qu?micos -- lista multilingue? in ?a folha?, n.? 26 -- ver?o de 2011,

. (17) unilqu?dio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa) (18) unilp?ntio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa) (19) unil?xio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa)

(20) unil?ctio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa) (21) unil?nio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa) (22) ununn?lio (Vocabul?rio Ortogr?fico Portugu?s; Infop?dia); unun?lio (Dicion?rio Priberam da L?ngua Portuguesa;

Dicion?rio Aur?lio da L?ngua Portuguesa) (23) ununh?xio (Vocabul?rio Ortogr?fico Portugu?s; Infop?dia); unun?xio (Dicion?rio Aur?lio da L?ngua Portuguesa)

4

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

E Pluribus Unum: encontros e desencontros luso-brasileiros (Parte II)

Jales J. da Rocha Filho Tradutor/int?rprete -- Senado Federal do Brasil

Na sequ?ncia do artigo da edi??o anterior(1), seguem-se mais diferen?as entre as vers?es brasileira e europeia do portugu?s que me chamaram a aten??o durante o meu est?gio na Dire??o-Geral da Tradu??o da Comiss?o Europeia e noutras ocasi?es. As formas brasileiras est?o sublinhadas. S?o exemplos da riqueza da nossa l?ngua polic?ntrica, t?o pr?diga lexical e foneticamente, capaz de traduzir realidades t?o diversas e de representar e evocar tantos odores, cores e sabores.

Culin?ria II

No Brasil, copo-d'?gua ? apenas um recipiente com H2O e nunca um coquetel (cocktail) ou uma recep??o (rece??o) de casamento, pregos s?o somente pe?as met?licas e jamais sandu?ches (sandes)(2) de bife de vaca, bica n?o passa de um cano/torneira e nunca corresponde a um cafezinho. Carac?is em terras bras?licas s?o s? os moluscos que caracoleiam livremente na natureza, pois o que jaz no prato de uns poucos afrancesados esnobes (snobes) -- e n?o raro estressados (stressados) -- chama-se escargot. Outrossim, no Brasil tomates s?o s? frutos vermelhos(3) e nunca g?nadas (g?nadas) secretoras de horm?nios (hormonas) masculinos. Ademais, nenhum representante da tradicional fam?lia brasileira ou da poderosa bancada(4) evang?lica(5) do Congresso Nacional ousaria tomar (comer) uma sopa(6) de grelos ou degustar punhetas de bacalhau -- os preceitos b?blicos condenam at? mesmo a apar?ncia do mal... Apesar de muitos brasileiros conhecerem os past?is de nata(7) portugueses -- inclusive (inclusivamente)(8) os de Bel?m --, a palavra pastel(9) no Brasil refere-se quase sempre a uma iguaria frita, em geral salgada, prima dos rissoles (riss?is). Portanto, numa pastelaria brasileira (muitas vezes mantida por asi?ticos) n?o se acham no card?pio (ementa/menu) bolos e doces, a serem procurados, isso sim, numa confeitaria(10) -- algo a ser evitado por quem est? de regime ou dieta (no Brasil os dois termos s?o sin?nimos)(11). Nesse caso, conv?m esquecer o a??car, mesmo o mascavo (mascavado), mas com o devido cuidado de n?o se tornar anor?xico (anor?tico)(12). Em vez de tortas (tartes), bolos e rocamboles (tortas) de dar (fazer crescer) ?gua na boca e outros carboidratos (hidratos de carbono), o melhor ? concentrar-se em legumes e verduras (vegetais) tais como br?colis (br?colos), alho-por? (alho-porro)(13), broto (rebento) de bambu ou vagem (feij?o-verde) e ignorar tenta??es como os chopes (finos/imperiais), os grandes fil?s (filetes) defumados (fumados) ou os bifes ? milanesa (escalopes ? milanesa), aquela carne empanada (panada)(14) com farinha de rosca (p?o ralado). A prop?sito, a mandioca, tal como a tangerina, conta no Brasil com diversos sin?nimos (sin?nimos): aipim, macaxeira, maniva, p?o-de-pobre, entre outros -- talvez em consequ?ncia da onipresen?a (omnipresen?a) e versatilidade dessa raiz herdada dos amer?ndios. No ver?o tropical, gra?as ? inven??o e populariza??o da geladeira (frigor?fico)(15), pode saborear-se um apetitoso sorvete, que no Brasil corresponde tanto ao gelado portugu?s (? base de leite) quanto ao sorvete (? base de ?gua) e por vezes at? ao picol?/sorvete de palito (gelado de pau) e ao seu primo pobre (parente pobre), o sacol?/dindim(16). Outra op??o ? um delicioso suco (sumo)(17) de frutas tropicais(18) com canudinho (palhinha) ou um copo de ?gua gelada(19) (fresca) -- ?gua fresca no Brasil ? a ?gua ? temperatura ambiente. S? os mais rom?nticos sonham com sombra e ?gua fresca (amor e uma cabana) -- s?o aqueles que querem viver de brisa. A prop?sito, algu?m que no Brasil est? ferrado/lascado (lixado/tramado) encontra-se em maus len??is e come fogo ou o p?o que o diabo amassou, mas jamais passa as passas do Algarve. Al?m disso, algo que n?o d? em nada no Brasil nunca fica em ?guas de bacalhau. (N?o ? de estranhar: o Algarve est? demasiado longe e o bacalhau ? proibitivamente caro...)

Top?nimos (top?nimos)/gent?licos II

Por algum capricho da evolu??o lingu?stica ou, se calhar, das mudan?as (altera??es) clim?ticas(20) e do efeito estufa (efeito de estufa), a letra ?n? sofreu deslocamento (desloca??o)(21) na travessia do Atl?ntico: Gronel?ndia em Portugal ? Groenl?ndia no Brasil. Ou porventura seria culpa de

5

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

movimentos tect?nicos (tect?nicos) na crosta (crusta)(22) terrestre causadores de terremotos (terramotos) de elevada magnitude na escala Richter (escala de Richter)? Alguns povos asi?ticos, talvez como reflexo do seu passado n?made (n?mada), tamb?m t?m nomes de ?ndole errante: turcomenos e turquemenos, tadjiques e tajiques, azerbaidjanos e azerbaijanos. No caso do Usbequist?o, dentro do pr?prio Brasil n?o h? consenso: usbeque (forma preferida em Portugal) convive com uzbeque(23)... Em contrapartida, Quirguist?o agradou a gregos e troianos, ups, a brasileiros e lusitanos. No Brasil a cidade francesa de Bordeaux n?o se quis aportuguesar como em Portugal (Bord?us), qui?? por temer demasiada proximidade com bord?is de fama duvidosa. Na terra de Niemeyer, Ru?o corresponde apenas a uma rua grande, n?o ? cidade normanda onde foi executada Joana d'Arc, Rouen(24). A seren?ssima rep?blica de San Marino (S?o Marinho) tamb?m recusou o aportuguesamento na terra de Gisele B?ndchen, tal como Helsinki (Hels?nquia), Stuttgart (Estugarda), Ottawa (Otava), Ilhas Cayman (Caim?o) e Bahamas (Baamas). J? a antiga federa??o dos eslavos meridionais foi batizada de modo distinto em cada margem do Atl?ntico: Iugosl?via no Brasil, Jugosl?via em Portugal(25). A capital da Dinamarca (K?benhavn) tamb?m foi objeto de aportuguesamentos distintos (Copenhague e Copenhaga), assim como a capital do Iraque (Bagd? e Bagdade). A capital da R?ssia () ? outra que atende por dois nomes: Moscou e Moscovo. Por outro lado, os habitantes da Terceira Roma s?o moscovitas tanto para brasileiros quanto para portugueses. A Cortina de Ferro, que longe estava de ser uma mera cortina de fuma?a (fumo)(26), n?o sa?a da mira da OTAN (NATO)(27), que, por sua vez, pouco se importava com o Chifre da ?frica (Corno de ?frica). No Brasil, os cidad?os da Est?nia (Est?nia) s?o conhecidos como estonianos, n?o est?nios; os da Jord?nia, como jordanianos, n?o jordanos. Os compatriotas de Justin Trudeau, por sua vez, s?o canadenses (canadianos) para os brasileiros, mas o cidad?o do Panam? n?o ? panamense (ou panamiano) como para os lusitanos, mas panamenho. Eis a l?gica infal?vel dos idiomas... O Caribe corresponde ?s Cara?bas e o Oriente M?dio, ao M?dio Oriente. Contudo, o Extremo Oriente ? igual para brasileiros e portugueses: pelo menos assim Macau (antigo territ?rio portugu?s) e o Jap?o (que conta no Brasil com a sua maior comunidade no estrangeiro) est?o juntos. Banzai!

Crian?as/fam?lia

No Brasil h? muitos nomes para fazer refer?ncia ?s crian?as -- inclusive pi? e guri no sul do pa?s, moleque (que pode ser pejorativo ou n?o), bem como curumim, no caso de crian?as ind?genas. O ?ltimo de uma fratria ? o ca?ula (benjamim) e cantores mirins(28) s?o as crian?as que soltam a voz no teatro ou em filmagens (rodagens) na televis?o. Contudo, jamais se lhes faria alus?o com o voc?bulo ?puto?, o que constituiria xingamento (insulto). Uma brasileira jamais se declararia gr?vida de um rapaz, mas de um menino: ?rapaz? passa sempre a ideia de adolescente. E rapariga seria uma mulher que ganha a vida de modo pouco cat?lico. Os beb?s (beb?s)(29) de fam?lias abastadas no Brasil recebem cuidados de bab?s (amas-secas), ases no manejo de mamadeiras (biber?es), babadores (babetes) e chupetas, que no Brasil jamais se chamariam chuchas. Essas profissionais ?s vezes s?o solicitadas at? para acompanhar os patr?es em passeatas/manifesta??es (nunca manifes), se calhar at? carreatas (manifesta??es com carros). Tamb?m sabem de cor e salteado a hist?ria do Chapeuzinho (Capuchinho) Vermelho, do Pequeno Polegar (Polegarzinho), do Pequeno Pr?ncipe (Principezinho), de Jo?o e Maria (Hansel e Gretel), da Bela e a Fera (Bela e o Monstro), do Gato de Botas (Gato das Botas) e de Robin Hood (Robin dos Bosques). J? as crian?as brasileiras das demais classes sociais aprontam (fazem asneiras ou travessuras) na creche ou no jardim de inf?ncia, mas nunca num infant?rio, que quase rima com o temido reformat?rio... As mais bem-comportadas brincam com bolinhas de gude (berlindes), fazem guerras de travesseiros (lutas de almofadas) ou brincam de m?dico (aos m?dicos). Por outro lado, a petizada mais peralta (traquina) e bagunceira (desordeira), depois de muito reinar (fazer diabruras), usa cola (c?bulas) nas provas com medo de levar bomba (chumbar) e de passar vergonha ao mostrar aos pais o boletim (a caderneta) escolar -- exceto, talvez, os superdotados (sobredotados), que nunca precisam de professores particulares (explicadores). O grande perigo ? serem flagrados (apanhados em flagrante) ou delatados (denunciados) por um dedo-duro (chibo/bufo/acusa-cristos). O que mais causa pesadelos a todos, por?m, ? a volta ?s aulas (regresso ?s aulas) ap?s as f?rias. Quando caem, os meninos e as marias-rapazes(30) machucam-se (aleijam-se/magoam-se)(31), mas felizmente ? raro quebrarem (partirem) o bra?o ou a perna e terem de ir ao pronto-socorro(32) (?s urg?ncias): um beijinho da mam?e (mam?) ou do papai (pap?) j? cura o

6

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

dod?i (d?i-d?i). Peraltas em Portugal s?o no m?ximo crian?as da elite que frequentam col?gios, que no Brasil n?o s?o necessariamente particulares -- col?gio na terra de Darcy Ribeiro ? apenas sin?nimo (sin?nimo) de escola. Ali?s, trata-se muitas vezes dos mesmos que frequentam grupos de lobinhos (lobitos) e escoteiros (escuteiros)(33). Num passado remoto em que era mais comum ver crian?as raqu?ticas(34) do que obesas e em que a meninada/molecada (miudagem/canalha) ainda se entretinha longe das telas (ecr?s) dos computadores e telefones celulares (telem?veis) cheios de aplicativos (aplica??es)(35), as brincadeiras inclu?am prendas (castigos) aos perdedores, que nem por isso eram desprez?veis ou canalhas. Em Portugal, os mi?dos ganham presentes (recebem prendas) de uma m?e amorosa ou superprotetora, a famosa m?e-galinha, sempre atenciosa com os seus pintinhos (pintainhos). No Brasil, referir-se a uma mulher como galinha (vol?vel, devassa) em qualquer contexto seria motivo para um tapa (uma estalada). A genitora extremosa ? a m?e coruja(36). Por falar em animais, no Brasil a gata nunca est? com o cio, mas somente no cio. Em Portugal o c?o (rafeiro ou n?o) ladra, mas no Brasil o cachorro (vira-lata ou n?o) late(37). J? para os nossos vizinhos hispan?fonos quem ?late? ? o cora??o... Amores perros?

jalesroc@.br

(1) ?E Pluribus Unum: encontros e desencontros luso-brasileiros (Parte I)?, in ?a folha?, n.? 50 -- primavera de 2016,

. (2) A palavra sandu?che (no masculino no Brasil: o sandu?che) tamb?m ? usada em Portugal (no feminino: a sandu?che), mas

este petisco nunca ? chamado no Brasil de ?sandes? (ou ?sande?, no norte de Portugal). Em contextos informais, os

brasileiros podem falar de sanduba (sandocha). Sandy ? no m?ximo uma cantora de m?sica brega (pimba)... (3) O adjetivo ?encarnado? ? raramente utilizado no Brasil. (4) Nos est?dios brasileiros, os torcedores (adeptos) sentam-se em arquibancadas, n?o bancadas. (5) No parlamento brasileiro, bancada ? o agrupamento de parlamentares de determinado partido. Informalmente, por?m,

costuma chamar-se bancada ao grupo de congressistas de um estado (bancada ga?cha, bancada paulista) ou a parlamentares

de diferentes agremia??es que se unem para defender determinados interesses (bancada ruralista, bancada evang?lica --

cf. C?mara dos Deputados, Gloss?rio, Bancada parlamentar,

formato-pdf). Nesse ?ltimo caso, pode-se falar tamb?m de lobby (l?bi). H? tr?s bancadas particularmente influentes no

parlamento brasileiro na atualidade, agrupadas na sigla BBB: a da B?blia (evang?lica), a do boi (ligada aos latifundi?rios) e a

da bala (defensora de pol?ticas securit?rias e com v?nculos com a ind?stria do armamento). (6) N?o se come sopa no Brasil, toma-se sopa. T?o-pouco se come sorvete (gelado), toma-se sorvete. (7) No Brasil, nata corresponde a creme de leite. (8) Em Portugal tamb?m se diz ?inclusive?, mas no Brasil n?o ? comum ouvir ?inclusivamente?. (9) O pastel de bacalhau portugu?s no Brasil chama-se bolinho de bacalhau. Ali?s, no centro-norte de Portugal tamb?m

costumam ser bolos ou bolinhos de bacalhau. Em todo caso, pastel de bacalhau no Brasil remeteria a uma massa de farinha

de trigo frita com peda?os de bacalhau dentro. (10) Em Portugal, confeitaria ? sin?nimo (sin?nimo) de pastelaria, apesar de confeitaria ser um termo mais utilizado no norte.

(Embora exista em Lisboa a Confeitaria Nacional.) No Brasil s?o estabelecimentos de natureza distinta: a pastelaria vende

past?is fritos (em geral salgados) e a confeitaria comercializa bolos e doces. (11) Em Portugal, a dieta tem em vista sobretudo o emagrecimento. (Uma exce??o seria a express?o ?dieta mediterr?nica?.)

Em contrapartida, o regime ? um tipo de alimenta??o prescrita por um m?dico para sanar determinado problema (como um

regime espec?fico para diab?ticos ou hipertensos). No Brasil tal distin??o n?o ? t?o clara na linguagem comum, t?o-pouco

para alguns portugueses. (12) Anorexia, por?m, escreve-se da mesma forma em ambos os pa?ses, assim como dislexia e disl?xico. E um dist?rbio

alimentar pode tamb?m ser chamado desordem alimentar em Portugal e transtorno alimentar no Brasil. (13) Em Lisboa, alho-franc?s. (14) No Brasil um carro nunca fica empanado, mas engui?ado, apresenta defeito ou d? o prego... Todavia, ?p?-lo no prego?

significa empenh?-lo em casa de penhores, tanto no Brasil quanto em Portugal. (15) Frigor?fico no Brasil ? a grande c?mara de refrigera??o que se encontra nos abatedouros (matadouros), por exemplo, n?o

nas resid?ncias. (16) Sacol?, dindim, dida, geladinho, laranjinha (a denomina??o varia conforme a regi?o) ? um picol? (gelado de pau) caseiro

feito num saquinho de pl?stico muito comum no interior do Brasil, geralmente vendido na casa do fabricante. (17) No Brasil faz-se a distin??o entre suco e sumo. Suco ? o refresco preparado com determinada fruta. Sumo ? simplesmente

o l?quido encontrado nas frutas no seu estado natural. Para temperar-se peixe, por exemplo, usa-se sumo de lim?o. (18) A lista de frutas brasileiras que dificilmente se encontram na Europa ? grande. Alguns exemplos: abio, a?a?, ara??,

araticum, bacaba, bacuri, birib?, bocaiuva, breja?ba, buriti, cagaita, caj?-manga, camu-camu, carambola, cupua?u, graviola,

guabiroba, guavir?, ing?, jaboticaba, jatob?, jenipapo, mamacadela, murici, mutamba, pajur?, pequi, piqui?, pupunha, sapoti,

seriguela, tapereb? (ou caj?), tucum?, umbu. (19) Tamb?m em Mo?ambique. (20) Mudan?as clim?ticas e altera??es clim?ticas s?o express?es usadas em ambos os pa?ses, mas nota-se no Brasil a

prefer?ncia por mudan?as clim?ticas e, em Portugal, por altera??es clim?ticas. Nos corpora consult?veis do Centro de

7

a folha

N.? 51 ? ver?o de 2016

Lingu?stica da Universidade de Lisboa (CLUL), por exemplo, h? 13 p?ginas de resultados para ?altera??es clim?ticas? em

fontes portuguesas e apenas duas p?ginas para ?mudan?as clim?ticas?.

Cf. Centro de Lingu?stica da Universidade de Lisboa, Corpus Query Processor (CQPweb),

. (21) Apesar de constar dos dicion?rios, a palavra ?desloca??o? ? raramente usada no Brasil. Nenhum brasileiro efetuaria, por

exemplo, uma desloca??o profissional, mas viajaria a neg?cios (ou a trabalho). (22) Em Portugal usam-se as formas ?crosta? e ?crusta?, mas no Brasil ?crusta? ? de utiliza??o rara. (23) Ambas as formas aparecem no Vocabul?rio Ortogr?fico da L?ngua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de

Letras. (24) Em fontes portuguesas aparecem ambas as formas: Ru?o e Rouen. Em brasileiras, somente Rouen. (25) Apesar de a Iugosl?via/Jugosl?via j? n?o existir, a denomina??o ainda aparece nos textos oficiais das institui??es

europeias para se referir a um dos pa?ses oriundos da extinta federa??o: a ?antiga Rep?blica jugoslava da Maced?nia?

(ARJM). (26) ?Fumo? no Brasil est? mais ligado ao ato de fumar: o fumo ? prejudicial para a sa?de. Quando se trata do vapor resultante

da combust?o, usa-se preferencialmente a palavra ?fuma?a?: onde h? fuma?a (fumo), h? fogo. E o fumador portugu?s ? o

fumante brasileiro. (27) O Brasil utiliza o acr?nimo (acr?nimo) em portugu?s: Organiza??o do Tratado do Atl?ntico Norte (OTAN). Portugal, por

outro lado, emprega-o quase sempre em ingl?s: North Atlantic Treaty Organization (NATO). Por outro lado, o Brasil segue o

padr?o ingl?s no caso de aids (em vez de sida), HIV (em vez de VIH), DNA (em vez de ADN), entre outros. (28) Mirim ? uma palavra de origem tupi que significa ?pequeno?, muito presente em top?nimos (top?nimos): Mogi Mirim,

Guajar?-Mirim, Cachoeiro do Itapemirim. O seu ant?nimo (ant?nimo) ? a?u/gua?u: Igarap?-A?u, Mogi Gua?u, Embu-Gua?u,

Foz do Igua?u. (29) Existe tamb?m o voc?bulo nen?/nen?m. (30) N?o h? uma denomina??o de uso comum no Brasil para a maria-rapaz (tomboy em ingl?s, gar?on manqu? em franc?s).

Mas quando cresce, pode ser chamada pejorativamente mulher-macho. (31) No Brasil, ?aleijar? d? a ideia de um dano permanente (como uma mutila??o) e ?magoar? ? usado sobretudo no ?mbito

das emo??es (ficar magoado com um coment?rio). ?Aleijadinho? ? como ficou conhecido Ant?nio Francisco Lisboa, um dos

maiores artistas do Barroco brasileiro, acometido de uma grave doen?a degenerativa. (32) Pronto-socorro no Brasil diz respeito ao servi?o de urg?ncias de um hospital, n?o ? ambul?ncia que transporta feridos nem

ao carro de assist?ncia em caso de acidente ou avaria (socorro mec?nico no Brasil). (33) Em Portugal, os escuteiros (cat?licos) s?o mais numerosos que os escoteiros (interconfessionais). (34) A prop?sito, ?enfezado? no Brasil significa irritado, n?o franzino, raqu?tico. (35) No Brasil, usa-se o Uber, por tratar-se de um aplicativo. Em Portugal, a Uber (a aplica??o). No entanto, dos dois lados do

Atl?ntico usa-se o Whatsapp... (36) Em Portugal, embora com menor frequ?ncia, tamb?m se diz ?m?e-coruja? (com h?fen). (37) O verbo ?ladrar? tamb?m ? usado no Brasil, mas com menos frequ?ncia. D?-se o mesmo com ?latir? em Portugal.

?Cachorro? ? a palavra mais comum no Brasil para referir-se a um c?o de qualquer idade, exceto em express?es e frases

feitas como ?c?o de guarda?, ?c?o-guia?, ?dia de c?o?, ?como c?o e gato? ou ?c?o que ladra n?o morde?. Ademais, o

hot dog ingl?s ? sempre ?cachorro-quente? no Brasil, n?o s? ?cachorro?, como pode ocorrer informalmente em Portugal.

Tend?ncias da l?ngua portuguesa: as in?cuas e as in?quas (IV)

Jorge Madeira Mendes Dire??o-Geral da Tradu??o -- Comiss?o Europeia

-- What do you think about politician X? -- I do not support him.

Neste di?logo, o inquirido est? a fazer uma declara??o meramente informativa, desprovida de emotividade: ?O que penso do pol?tico X? N?o o apoio [n?o sou apoiante dele].?

Ora, uma tend?ncia crescente em Portugal, divulgada sobretudo pelos meios de comunica??o social, ? a tradu??o do verbo ingl?s support pelo portugu?s suportar. Em consequ?ncia, a resposta do inquirido seria algo como: ?O que penso do pol?tico X? N?o o suporto.? E aqui j? n?o se trata de uma declara??o informativa e desapaixonada. ? antes: ?N?o posso nem v?-lo!?

8

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download