Macua.blogs.com



[pic]

Carlos Chequele na sua serração ora encerrada

Província de Nampula: Faliu negócio de madeira...

Quando o Governo começou a implementar com rigor a cerca de dois anos o seu decreto 12/2002 de 6 de Junho que proíbe a exportação de madeira das espécies nativas, muitos foram os operadores florestais nacionais que investiram tudo o que tinham feito de poupanças incluindo outros recorreram a banca para solicitar empréstimos em somas avultadas para financiar a aquisição e montagem de serrações bem como para o reforço das suas unidades móveis, nomeadamente tractores e viaturas pesadas. Não previam a crise financeira global que ditou a falta de mercado ou redução drástica do preço da madeira, sendo que na sua maioria se encontra num estado considerado de penúria e com dívidas avultadas por saldar com a banca.

Maputo, Quinta-Feira, 18 de Junho de 2009:: Notícias

 

Nacala-Porto foi a cidade onde muita madeira foi escoada para a partir do seu porto ser exportada para as principais praças internacionais da madeira, com destaque para o pau-ferro, jambire, umbila, incluindo chanfuta, monzo e muanga, cujo preço, sobretudo no continente asiático, estava fixado em valores superiores a Quatro mil dólares o metro cúbico.

A madeira que era exportada em toros provinha das explorações ilegais na sua maioria nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. A nossa reportagem assistiu a cerca de quatro anos a constituição em tempo recorde de empresas viradas para a exploração e exportação de madeira de todas as 167 espécies existentes no país.

Era um período de emoção e os primeiros sinais de riqueza surgiram daqueles que não licenciados para o exercício da actividade, construíam infra-estruturas imponentes de habitação, hotelaria, além da compra de veículos dos modelos mais luxuosos até as pesadas das mais caras no mercado afim.

Carlos Chequele considera-se o pioneiro no cumprimento da decisão governamental para o processamento de madeira de espécies nativas destinadas a exportação e montou uma serração cuja aquisição custou cerca de dois milhões de meticais, dinheiro proveniente da sua indemnização na empresa dos portos e caminhos-de-ferro de Moçambique onde trabalhou cerca de duas décadas como factor.

“Para além do valor da minha indemnização que confesso forcei para consegui-la, uma vez que tinha este projecto de montar uma serração, investi outros valores visando adquirir tractores, camiões e revalidar a licença de que sou titular os serviços provinciais de agricultura” - disse o entrevistado, cuja serração denominada Manor, empregava um total de 32 trabalhadores, todos eles no desemprego.

“Foi tudo a perder, hoje estou na penúria, porque não sei onde recomeçar a actividade de corte e serração de madeira, uma vez que os proprietários dos estaleiros de madeira que funcionavam nesta cidade não concordam em comprar a nossa madeira ao preço que fixamos. Em suma eles querem madeira a preço de banana, alegadamente porque o mercado onde fazem a colocação enfrenta dificuldades financeiras para continuar a praticar o preço de a três anos” - disse angustiado Carlos Chequele.

Por seu turno, Selamat Bin Amat, originário da Malásia e sócio-gerente da Mozambique Trading em Nacala-Porto, referiu que a crise financeira global deitou abaixo o seu sonho quando abandonou o seu país para se fixar em Moçambique e desenvolver o negócio de venda de madeira. Não pôde quantificar o investimento feito pelo consórcio com a finalidade de adquirir e montar uma serração em Nacala-Porto, referindo apenas que foram milhões de meticais gastos incluindo na compra de maquinaria assessoria como camiões, tractores, construção do próprio estaleiro em material convencional, residências e criação de outras condições de trabalho para os 29 empregados.

A nossa fonte destacou que a madeira de segunda classe dentre as quais o sândalo, pau-preto, muaga e namuno, que é abundante e largamente explorada em diferentes pontos da região norte, pode ser exportada em toros segundo a legislação vigente, “mas o seu valor comercial no mercado internacional não é tão compensador como o das espécies nativas que o Governo exige que sejam exportadas depois de serradas”- alongou.

Selamat Bin Amat reconheceu que a crise financeira global criou uma situação que não estava nas previsões da sua empresa, relacionada com o pagamento de salários que apesar de não falhar tem registado atrasos de cerca de quinze dias. “Já estivemos numa situação financeira em que podíamos conceder empréstimos aos nossos trabalhadores além os homens ligados ao corte de madeira no campo, e hoje não podemos nos atrever a fazer essas operações” - ajuntou.

Para garantir o pagamento de despesas pertinentes para o funcionamento da empresa, nomeadamente salários aos seus trabalhadores, impostos, consumo de energia eléctrica incluindo manutenção de meios circulantes e equipamentos, a alternativa tem sido o processamento de madeira de firmas interessadas como a comercialização daquele produto para carpintarias a nível de Nacala-Porto e distritos circunvizinhos.

[pic]

Amélia Mabombo, operadora de hotelaria

CRISE AGUDIZOU DESEMPREGO

Maputo, Quinta-Feira, 18 de Junho de 2009:: Notícias

 

Até finais de 2007 operavam oficialmente 14 empresas ligadas a exploração, processamento e exportação de madeira na cidade de Nacala-Porto, número entretanto reduzido a Seis, depois que a crise financeira global começou a afectar seriamente o sector madeireiro. A nossa reportagem apurou que as Seis empresas no activo enfrentam dificuldades financeiras como resultado da falta de mercado para o seu produto a nível internacional.

Dados colhidos pela nossa reportagem indicam que cerca de 1500 trabalhadores perderam o seu emprego como resultado do encerramento das Oito empresas e da redução forçada da força de trabalho nas restantes unidades em resultado da crise financeira global. Os números significam que 7500 pessoas deixaram de ter uma fonte segura de sobrevivência devido à perda de emprego por parte do chefe do agregado famíliar.

Na cidade portuária de Nacala, operavam empresas famosas no domínio da madeira, pela sua forte estrutura humana e de equipamentos com destaque para Lan Hay, ÁfricaNacala, Dong Fá, Fu Chin e China HK. Todas estas encontram-se encerradas e os respectivos proprietários maioritariamente de origem chinesa, malaia e sul-coreana, abandonaram o país, aguardando por melhores dias.

Outros empregos indirectos também foram afectados, sobretudo a nível dos pequenos operadores da indústria hoteleira e similares que se viram obrigados a encerrar os seus estabelecimentos de venda de produtos alimentares confeccionados incluindo bebidas alcoólicas e refrigerantes.

Amélia Mabombo é uma das gestoras afectadas e conta que com a dinâmica gerada pelo negócio de madeira em Nacala-Porto sentiu-se compelida a abrir duas novas cantinas de venda de refeições e bebidas variadas, totalizando três. “Quando o negócio da madeira estava no auge, chegava a vender cerca de Trezentas refeições diárias em cada uma das cantinas. A dado momento senti a necessidade de adquirir uma viatura que ainda mantenho hoje para fazer as compras dos alimentos” - disse emocionada a entrevistada.

Os lucros que amealhou nos cerca de dois anos de sucesso do seu negócio investiu nas obras de construção de um estabelecimento para alojamento e justifica as razões da sua opção. “Com o encerramento das empresas vocacionadas ao processamento e exportação de madeira, muitos trabalhadores foram despedidos e, consequentemente, perdi clientes. A alternativa que encontrei foi investir na componente de alojamento tendo iniciado este ano as obras de construção de uma pensão para alojar os motoristas dos camiões que vêm a esta cidade transportar mercadorias de e para o porto, sobretudo os de origem malawiana que pernoitam no interior das suas viaturas três a quatro dias alguns em condições difíceis”- disse.

 

[pic]

Madeira abandonada pelos operadores florestais

MADEIREIROS SEM SOLUÇÃO PARA A CRISE

Maputo, Quinta-Feira, 18 de Junho de 2009:: Notícias

 

A associação dos operadores de madeira de Nacala-Porto, AMNAC, considera que foi colhida de surpresa pela crise financeira global que afectou as vendas de madeira no mercado internacional, e de acordo com o respectivo presidente Aurélio Sardinha, está difícil esboçar uma solução alternativa para que os membros possam sair da situação de penúria que os assola.

Aurélio Sardinha confirmou que alguns associados da sua agremiação foram abertos processos na administração da justiça relacionados com dívidas contraídas junto à banca comercial, entre outras instituições, incluindo particulares. Confirma que as dívidas resultam de investimentos feitos na compra de equipamentos de produção e processamento da madeira, nomeadamente viaturas, tractores, moto-serra, serrões, entre outros.

A fonte referiu que a agremiação desenhou uma saída para a falta de mercado da madeira a nível internacional, que consiste no fabrico local de mobiliário para colocação nos mercados das províncias do sul do país, onde se regista uma maior procura de móveis como camas, armários, estantes, guarda-fatos, mesas, entre outros.

Contudo, a falta de recursos financeiros por parte dos membros da agremiação emperra a concretização daquela ideia, pois existem despesas com a produção do mobiliário, aluguer de viaturas para o seu transporte e permanência no mercado durante o período que durar a sua comercialização.

Num outro desenvolvimento Aurélio Sardinha reconheceu que a sua agremiação foi fraca nas negociações do preço e forma de venda da madeira. “Soubemos tardiamente que os operadores do sector de madeira na vizinha província de Cabo Delgado vendem a sua produção em quilogramas enquanto nós vendemos em metros cúbicos, modalidade que não favorece para a arrecadação de lucros” - disse.

Em relação aos preços acordados entre a associação dos madeireiros e os exportadores de madeira para a comercialização daquele recurso natural destaque para a espécie de pau-preto fixado em 750 dólares americanos por toneladas. O metro cúbico de pau-ferro e umbila foram fixados 450 e 300 dólares, respectivamente, valores que entretanto caíram em desuso depois que a crise financeira mundial começou a fazer sentir-se a nível do sector madeireiro.

[pic]

Jorge Tomo

MILHARES DE TOROS APODRECEM NOS ESTALEIROS

Maputo, Quinta-Feira, 18 de Junho de 2009:: Notícias

 

A nossa reportagem fez uma ronda pelos principais estaleiros na cidade de Nacala-Porto e constatou que milhar de metros cúbicos de madeira incluindo de espécies consideradas de primeira classe estão a deteriorar-se, situação que fica a dever-se a dificuldades que os operadores enfrentam para a colocação no mercado.

Jorge Tomo, director dos serviços distritais de actividade económica de Nacala, disse que dados estatísticos em poder da sua instituição referentes a produção da campanha 2006/07 indicam que cerca de Três mil metros cúbicos de madeira em toros, o suficiente para apetrechar 12 salas de aulas em carteiras, são dados como inválidos para exportação devido à perda de qualidade. Aquele número inclui-se a madeira que já não serve para o fabrico de mobiliário senão o seu uso como combustível lenhoso.

As referidas quantidades de madeira encontram-se a céu aberto sujeitas a todas as variações atmosféricas, nomeadamente sol, chuva e ventos. Jorge Tomo destacou que nos bairros da cidade de Nacala-Porto existem quantidades abandonadas nos quintais de pessoas que se dedicavam ao corte e venda de madeira, que entretanto, não conseguiram comercializar devido a crise que afecta o sector.

Jorge Tomo destacou que a maior parte da madeira exportada no presente ano foi em forma de parques e pranchas em resposta a pedidos de algumas empresas baseadas em diferentes partes do continente asiático, facto que reflecte a amplitude negativa da crise financeira global.

• Carlos Tembe

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download