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PROJECTO “TORGA EM SMS” DESENVOLVIDO NO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA

“DIÁRIO XII”, de Miguel Torga, em versão integral para telemóvel ou Messenger

São 27.882 palavras, 114.796 caracteres que pretendem provocar a discussão em torno do futuro da Língua Portuguesa, numa época em que os jovens escrevem cada vez mais, mas talvez estejam a escrever cada vez pior

O “Diário XII”, de Miguel Torga, foi integralmente convertido para “linguagem SMS”. A “proeza” tem a autoria de duas alunas da Licenciatura em Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), de Coimbra.

Micaela Andreia Neves e Márcia Arzileiro, entretanto já licenciadas, não chegaram a converter a totalidade da obra, tendo a parte sobrante sido entregue a duas jovens de 14 anos, Mariana Alves e Laura Sobral, ao tempo frequentando o 8.º ano da Escola EB 2 3 Eugénio de Castro.

A conversão foi efectuada da 3.ª edição revista do Diário XII, composto e impresso nas oficinas da Gráfica de Coimbra em Julho de 1986. O Diário XII, com 204 páginas, inclui 251 entradas, de 17 de Maio de 1973 a 22 de Junho de 1977. 46 dessas entradas são constituídas por poemas.

A versão em sms compreende 27.882 palavras, 114.796 caracteres (sem espaços), encontrando-se disponível, na íntegra, em

A decisão de avançar com o projecto radicou na detecção, cada vez mais frequente, de incorrecções em textos escritos pelos alunos, erros que muitos dos jovens atribuem aos hábitos da escrita compulsiva de mensagens via telemóvel, Messenger ou outros programas similares, como o Twitter.

Problema que vai ganhando contornos alarmantes e que é transversal aos vários ciclos de ensino. Com efeito, são cada vez mais os docentes que se queixam das dificuldades sentidas na decifração dos textos escritos pelos alunos.

O problema não é, naturalmente, exclusivo de Portugal, com alertas surgindo mundo fora. Ao mesmo tempo, já há quem, como Phil Marso, pretenda transformar a “linguagem SMS” em género literário. Isto enquanto se multiplicam as experiências de conversão de clássicos. Um jovem brasileiro decidiu publicar as “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, em “ddonês”. Em 2005 o serviço de telemóveis dot.mobile anunciava ter procedido à tradução para linguagem SMS das principais obras da literatura britânica. Projecto que contou com a colaboração de John Sutherland (University College London). O académico considerou o projecto como “uma forma de ajudar os estudantes do Reino Unido a rever a matéria para os exames”.

Há outros casos, em Itália, no Japão, na Índia.

JOVENS PREFEREM SMS À FALA COM OS COLEGAS

Em Fevereiro deste ano, estudo do Instituto Allensbach revelava que 52% dos adolescentes alemães preferem SMS a conversas com colegas. A caneta foi trocada pelo teclado, daí a necessidade sentida por responsáveis de escolas australianas de avançarem com aulas de caligrafia destinadas aos adolescentes.

O aparente paradoxo reside no facto de ter sido a internet a potenciar o “renascimento” da comunicação escrita entre os mais jovens. Escreve-se mais, mas escreve-se pior?

“(…) Aquilo que vira do avesso a forma de expressão tradicional é a legitimação da fala projectada na escrita. A escrita (tradicional) é um trabalho miudinho, requer tempo para a ponderação sobre o material linguístico a seleccionar, ordenação frásica, estabelecimento de elos entre tópicos, a que se vem juntar uma competência gráfica muito regrada (disposição de linhas, marcação de parágrafos, pontuação, etc). Mas o que temos no chat e no e-mail informal é o uso oral da língua que, em vez de ter suporte áudio, tem suporte gráfico. Daqui resulta um texto cheio de hesitações, repetições, incongruências, suspensões, enriquecido com a indicação do estado de espírito e do semblante dos interlocutores, através do constante recurso aos smileys [:-) :-( ]e às onomatopeias ("chuacsss", "grrrr", "toing"), por exemplo.” – sublinha Ana Martins, doutorada em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, investigadora do Centro de Linguística daquela instituição de ensino.

PROFESSORES QUEIXAM-SE DOS ERROS RESULTANTES DO VÍCIO NESTA “NOVA GRAFIA”

“O problema não são as abreviaturas” – considera Carmen Gouveia. “Não me choca nada colocar "mm" por "mesmo", "mto" por "muito", ou "bjs" por "beijos"... O que "assusta" são as alterações estranhas e não lógicas a estas abreviaturas, como "ke" ou "k" por "que" (qual é a diferença de usar "q" na mesma situação?) ou (o que é pior) por "c" ("kasa" em vez de "casa"!!!), totalmente ridículas e que deturpam a língua como "xe" por "se" ou "ixo" por "isso"... Já para não falar que o k nem sequer faz parte do alfabeto usado em Portugal (salvo para nomes estrangeiros, claro, como Kant e kantiano, etc)” – acrescenta a linguista e docente na Universidade de Coimbra.

“O problema”, conclui a investigadora, “é que vários professores já se queixam (e com razão) de que os alunos começam a dar erros de tal modo estão ‘viciados’ nessa ‘nova grafia".

O Projecto “TORGA EM SMS”, coordenado por Dinis Manuel Alves, doutorado em Ciências da Comunicação e docente no ISMT, surge enquadrado na realidade acima descrita. Pretende-se provocador da discussão em torno de tema assaz candente e controverso. O cotejo entre as páginas convertidas em SMS e os escritos originais de Miguel Torga são impressivos, porventura um exercício salutar para levar os jovens a perceberem melhor o encanto e os pergaminhos da língua portuguesa.

PROJECTO COMPOSTO POR QUATRO BLOGS

Ao blog continente da versão integral do “Diário XII” em “linguagem SMS”, juntam-se outros três. Em disponibilizam-se dezenas de notícias sobre o tema, do mixuguês à taquigrafia, dos etnolets às palavras em vias de extinção.

Este blog agrega ainda mais de uma dezena de vídeos reportando o tema. Isto para além da divulgação de sítios cuja consulta se recomenda, do incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa () aos programas “Cuidado com a Língua! (RTP), e “Páginas de Português” (Antena 2).

Outros 38 vídeos surgem publicados no blog “Diário XII”, agregando-se aqui praticamente todos os vídeos sobre o escritor disponíveis na web, em páginas diversas. 20 desses vídeos reportam à iniciativa “Café Entre Torgas”, coordenada por Sansão Coelho numa parceria entre o Instituto Superior Miguel Torga e a Câmara Municipal de Miranda do Corvo. Entre os vários testemunhos divulgados nesses vídeos, realce para a comunicação do Padre Dr. Valentim Marques, editor de grande parte da obra de Miguel Torga e seu amigo pessoal. Valentim Marques acompanhou Miguel Torga na viagem a Angola e Moçambique, périplo que o poeta detalha no “Diário XII” (18 de Maio a 12 de Junho de 1973).

BLOG “SÍTIOS” GEOREFERENCIA O ITINERÁRIO DO ESCRITOR

Por seu turno, o blog “Sítios” () georeferencia o itinerário do escritor na edição XII do seu “Diário”. São ao todo 62 mapas e fotos, publicação com recurso ao “Google Maps”.

Miguel Torga indicava sempre o local onde escrevia os textos seleccionados para o diário. Eis a lista dessas localidades por ordem de inclusão no livro (para cada localidade indicamos apenas a primeira entrada): Coimbra, Luanda (Angola), Cela (Angola), Santo António do Zaire (Angola), Lobito (Angola), Moçâmedes (Angola), Sá da Bandeira (Angola), Nova Lisboa (Angola), Beira (Moçambique), Gorongosa (Moçambique), Tete (Moçambique), Cabora Bassa (Moçambique), Ilha de Moçambique (Moçambique), Lourenço Marques (Moçambique), Carvoeiro, Aveiro, Figueira da Foz, Boticas, Pala Pinta (Carlão), Torrão, Folgosinho (Serra da Estrela), Coja (Arganil), S. Martinho de Anta, Curral de Vacas (Chaves), Carrazedo do Alvão, Chaves, Verin (Espanha), Sousel, Évora, Lisboa, Estremoz, Bofinho (Alvaiázere), Gerês, Falperra, Albufeira, Alte, Monterrey (Verin), Serraquinhos, Pulo do Lobo (Serpa), Vila Real, Bragança, Miranda do Douro, Sítio da Nazaré, Castro Laboreiro, Barragem de Vilarinho da Furna, Sagres, Borba, Juromenha, Portalegre, Elvas, La Alberca (Espanha), Mesio, S. Leonardo da Galafura, Porto, Bruxelas, Bruges e Londres.

O Diário XII começa e termina em Coimbra, cidade que regista o maior número de entradas (122), o que equivale a 48,6% do total. Segue-se a terra natal do escritor, com 20 entradas (8%). Albufeira, com 11, e Gerês, com 10 entradas, são os restantes sítios com entradas na casa das dezenas. Vêm depois Chaves e Luanda, com 5; Bruxelas e Carvoeiro, com 4; Lisboa, Londres, Sá da Bandeira (actual Huíla, Angola) e Sto. António do Zaire (actual Soyo, Angola), registam três entradas cada. Com duas encontramos Aveiro, Coja (Arganil), Estremoz, Gorongosa (Moçambique), Ilha de Moçambique, Lourenço Marques (actual Maputo, Moçambique), Moçâmedes (actual Namibe, Angola), Torrão, Verin (Espanha) e Vila Real.

Uma entrada apenas para as seguintes localidades/sítios: Alte, Barragem de Vilarinho da Furna, Beira (Moçambique), Bofinho (Alvaiázere), Borba, Boticas, Bragança, Bruges (Bélgica), Cabora Bassa (Moçambique), Carrazedo do Alvão, Castro Laboreiro, Cela (Angola), Curral de Vacas (Chaves), Elvas, Évora, Falperra, Figueira da Foz, Folgozinho (Serra da Estrela), Juromenha, La Alberca (Espanha), Lobito (Angola), Mesio, Miranda do Douro, Monterrey (Verin, Espanha), Nova Lisboa (actual Huambo, Angola), Pala Pinta (Carlão), Portalegre, Porto, Pulo do Lobo (Serpa), S. Leonardo da Galafura, Sagres, Serraquinhos, Sítio da Nazaré, Sousel e Tete (Moçambique).

De registar ainda três textos escritos no avião – “a voar para Luanda”, “a voar para Moçambique”, “a voar para Lisboa”. Miguel Torga seleccionou, para a décima segunda edição do seu diário 16 textos escritos em Angola, 9 em Moçambique, cinco na Bélgica, três em Inglaterra e outros três em Espanha.

A maior parte dos textos seleccionados por Miguel Torga para o Diário XII foram escritos aos sábados e às quartas-feiras (42 entradas para cada um destes dias da semana). As sextas-feiras registam o menor número de textos (29). Quanto aos restantes dias da semana, temos as segundas-feiras com 30 textos, as terças com 34, as quintas com 41 e os domingos com 33.

COMENTÁRIOS DE ESPECIALISTAS

Por último, referência para o blog “TORGA EM SMS – OPINIÕES QUE CONTAM” (). A coordenação do projecto solicitou a vários especialistas opinião sobre a iniciativa, pedindo-lhes também que se pronunciem sobre os desafios que se colocam à Língua Portuguesa, tendo por base a generalização da "linguagem SMS" entre os jovens.

Os contributos recebidos serão publicados neste blog.

O primeiro volume do “Diário” foi publicado em 1941, o último (XVI) em 1993, dois anos antes do escritor falecer (17.01.1995).

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