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APELO ? RECONCILIA?AOPor Lawe LawekiAo saber que a Lideran?a de Machel-Marcelino dos Santos havia influenciado a Polícia de Tabora na Tanz?nia e temendo pela sua vida, o Padre Gwenjere deixou Tanz?nia em 1972 para Nairobi no Quênia, considerado um porto seguro para tantos mo?ambicanos que, no exílio, eram for?ados a fugir, n?o do inimigo comum, o regime colonial, mas dos outros combatentes pela liberdade. Logo após a sua chegada a Nairobi, no Quênia, o Padre Gwenjere come?ou a trabalhar no sentido de unir os líderes dissidentes da FRELIMO. Enviou telegramas ao líder do COREMO, Paulo Gumane, e ao vice-presidente da FRELIMO, Uria Simango, que chegaram a Nairobi em 15 de Janeiro de 1973 para uma reuni?o com ele. Após a reuni?o, Simango e Gumane concordaram em trabalhar juntos sob a égide do COREMO. Padre Gwenjere no Quênia, informando um funcionário da ONU, William Sach, sobre a situa??o caótica no movimento da FRELIMO. Fonte: ? 2019 Lawe LawekiDe acordo com os arquivos da PIDE, o padre Gwenjere aceitou entusiasticamente o convite que recebeu dos líderes do COREMO para participar desse movimento. No entanto, ele n?o aceitou o cargo de vice-presidente designado para ele. De acordo com o padre, embora estivesse preocupado com a liberta??o de Mo?ambique, ele queria manter a sua condi??o de sacerdote, que era incompatível com o seu envolvimento directo em assuntos políticos.?PURIFICA??O? DAS FILEIRASPurifica??o das fileiras no campo de treinamento militar de Nachingwea. Samora Machel inspecionando “contra-revolucionários” desfilados. Fonte: ? 2019 Centro de Documenta??o e Forma??o Fotográfica. Maputo-19050755650Tendo alcan?ado a vitória sobre o grupo Nkavandame-Gwenjere, bem como sobre Uria Simango, a direc??o de Machel-Marcelino dos Santos passou a dividir os combatentes da FRELIMO em duas alas: os combatentes “revolucionários” e os “contra-revolucionários” ou “reacionários”. Os combatentes da linha “revolucionária” compreendiam membros do grupo dos sulistas e mo?ambicanos de origem n?o nativa, bem como alguns membros da regi?o Norte que se aliaram àquele grupo, enquanto os combatentes “contra-revolucionários” ou “reacionários” compreendiam membros do grupo de Nortenhos que viam Uria Simango e Lázaro Nkavandame como seus líderes. O grupo de Machel-Marcelino dos Santos, que já havia constituido uma base de poder militar, declarou guerra contra os combatentes da linha "reacionária", resultando na sua remo??o das posi??es de chefia e neutraliza??o, conforme Samora Machel confirmou anos mais tarde num dos seus discursos:“Foram expulsos vários elementos das fileiras da Organiza??o, outros foram expulsos do Comité Central. Foi constituído um Conselho da Presidência que, pela sua composi??o, garantia a neutraliza??o do reaccionário Uria Simango e assegurava a aplica??o das directrizes revolucionárias do II Congresso e da III Sess?o do Comité Central.”Samora Machel, que estava encarregado dos assuntos internos no triumvirato, refor?ou a sua posi??o ao criar subse??es do Departamento de Defesa lideradas por indivíduos fiéis a ele. De acordo com os arquivos da PIDE, Dinis Moiane, chefe do Campo de Treinamento Militar de Nachingwea, tornou-se um elemento muito valioso nas manifesta??es anti-Simango. O período de 1969 a 1970 foi o mais sangrento da Revolu??o Mo?ambicana, que consistiu na aplica??o da for?a das armas para instilar medo e impor ordem aos combatentes. A direc??o de Machel-Marcelino dos Santos embarcou numa extensa expurga??o de elementos divergentes que eram basicamente Nortenhos, como bem observou Miguel Murrupa que era vice-secretário de Rela??es Externas da FRELIMO e um colaborador próximo de Uria Simango. Ele rendeu-se ao regime colonial Português no auge da crise de 1968-1970 na FRELIMO:“Quem conseguiu escapar, escapou. Mas muitos foram assassinados. Eram sempre do Norte ... este tipo de coisas, até a FRELIMO chegar a ser só como partido da gente do Sul”.REGRESSO A MO?AMBIQUE Depois da Revolu??o dos Cravos de 25 de Abril de 1974, que derrubou o regime fascista e colonial de Marcelo Caetano em Portugal, o padre Gwenjere e outros líderes dissidentes mo?ambicanos regressaram a Mo?ambique. Em Agosto de 1974, o padre contribuiu para a funda??o do Partido de Coliga??o Nacional (PCN), que reuniu vários grupos anti-FRELIMO sob a lideran?a de Uria Simango. O padre Gwenjere recusou-se a ocupar qualquer posto na coliga??o, excepto o do "conselheiro político" do PCN.Contudo, enquanto vários grupos anti-FRELIMO realizavam campanhas políticas em Mo?ambique para tornar os seus movimentos conhecidos em prepara??o para elei??es livres e justas, o recém-estabelecido governo em Portugal decidiu iniciar negocia??es directas com o movimento da FRELIMO em Lusaka, Z?mbia, com vista a transferir o poder para aquele movimento.Para piorar a situa??o, grupos de brancos com tendências esquerdistas em Mo?ambique, instigados pelo movimento da FRELIMO, interrompiam comícios organizados por grupos anti-FRELIMO e apedrejavam e agrediam seus líderes e organizadores. Nesta onda de agita??o política, o Padre Gwenjere, rotulado de racista pela FRELIMO, foi agredido violentamente na cidade da Beira por um grupo de radicais brancos.“Segundo o testemunho do Padre Alberto de Madureira, que vivia com o Padre Gwenjere na residência da Diocese, o Padre Gwenjere fora agredido por desconhecidos na garagem da Paróquia. Ele quando ouviu os gritos desceu para onde se encontrava a garagem e encontrou o padre Gwenjere a gemer e inconsciente e um grupo de indivíduos em fuga”. Entrevistado no seu leito hospitalar na Beira depois do assalto, o padre Gwenjere sublinhou que n?o era contra o povo português, mas contra o regime colonial português. Ele negou as alega??es de que era um agente da PIDE e um racista:“Quando dizem que o padre Gwenjere é anti-branco, é uma pura mentira. Praticamente toda a minha vida vivi com brancos. Antes de ser ordenado padre, fui acusado de que era a favor dos brancos, era da PIDE. Quando cheguei à FRELIMO, disseram que eu era anti-branco. Eu gostaria que alguém provasse isso.”? de referir que, durante a sua estadia em Nairóbi, no Quénia, o padre Gwenjere, por muitos anos, viveu na mesma casa com um activista alem?o chamado Willy Shultz, com quem era visto em público em várias ocasi?es. Os dois homens se encontraram pela primeira vez na Tanz?nia, onde Shultz viveu e trabalhou como cooperante. Este facto por si só justifica a recusa do Padre Gwenjere de que ele era racista ou anti-branco. ? de referir que um relatório confidencial da PIDE, datado de 29 de Janeiro de 1974, confirma a aproxima??o que o Padre Gwenjere tinha para com Willy Shultz:“Willy Shulze, engenheiro civil da RFA foi a Lusaka contactar Coremo e foi a base Macheka. Insinuou que deviam destruir Cabora Bassa e disse que iria tentar levar para a Alemanha o padre Mateus (Gwenjere). DGS, Informa??o n°128-2a D.I., 29.1.74, confidencial [p.6]As acusa??es de que o Padre Gwenjere era um agente da PIDE e um racista, come?aram a surgir com a nova direc??o da FRELIMO liderada por Samora Machel e Marcelino dos Santos. Dirigindo-se ao terceiro congresso da FRELIMO em Mo?ambique independente em 1977, President Machel disse o seguinte:“Quando a nossa concep??o revolucionária se come?ava a impor em todas as nossas escolas, os novos exploradores, utilizando um elemento infiltrado pela PIDE no Instituto Mo?ambicano, o Padre Mateus Pinho Gwenjere, instigaram os alunos contra a linha política da FRELIMO... Manipulados, os estudantes lan?aram-se no racismo, atacando os professores brancos que no Instituto lutavam pela aplica??o da nossa linha correcta na educa??o”. A nova direc??o da FRELIMO de Machel-Marcelino dos Santos rotulou o Padre Gwenjere de racista e de agente da PIDE, devido ao seu envolvimento directo na expuls?o da Tanz?nia de três brancos mo?ambicanos de origem portuguesa. ? falso afirmar que o Padre Gwenjere era contra os brancos que ensinavam no Instituto Mo?ambicano. Havia mais de uma dúzia de brancos de diferentes países e nacionalidades no Instituto Mo?ambicano. O Padre Gwenjere estava apenas contra a presen?a de mo?ambicanos brancos de origem portuguesa, depois de ter sido informado de que um deles, de nome Orlando Cristina, regressou a Mo?ambique após uma estadia de um ano na FRELIMO, tendo supostamente roubado um veículo da FRELIMO e documentos importantes. De acordo com Jo?o Cabrita, autor de “Mozambique: The Tortuous Road to Democracy”, de regresso à Mo?ambique, Orlando Cristina, juntamente com Jorge Jardim, criaram Grupos Especiais que posteriormente lutaram contra a FRELIMO.O entendimento de que a FRELIMO havia sido infiltrada por indivíduos que prestavam informa??o à PIDE, é credível se se considerar que para o livro (Mateus Pinho Gwenjere: Um Padre Revolucionário), este autor obteve grande parte do material e fotografias dos arquivos da PIDE/DGS na Torre do Tombo em Lisboa. Note-se que até este autor, que n?o era uma entidade importante na FRELIMO e nem no Instituto Mo?ambicano, encontrou o seu nome nos arquivos da PIDE na Torre do Tombo em Lisboa. Um documento da PIDE, anexado ao final do livro, coloca este autor no topo da lista de estudantes que beneficiaram da assistência do Padre Charles Pollet.SEQUESTRO EM NAIR?BIEm 7 de Setembro de 1974, o Ministro dos Negócios Estrangeiros português Mario Soares e o Presidente da FRELIMO Samora Machel assinaram o Acordo de Lusaka, segundo o qual a FRELIMO deveria nomear seis dos 10 membros do governo de transi??o que governariam o país até à independência. Este acordo eliminava qualquer possibilidade de realiza??o de elei??es multipartidárias em Mo?ambique. Diante dessa situa??o, o padre Gwenjere regressou a Nairobi, no Quênia. Em Nairobi, o padre continuou a viver no mesmo bairro de Riruta Satelite em Kawangware, nos arredores da capital queniana, onde, todos os domingos, os refugiados mo?ambicanos assistiam à missa que ele celebrava na Igreja Católica local. Foi enquanto vivia em Riruta Satelite que ele foi sequestrado em 10 de Outubro de 1975, poucos meses após a independência de Mo?ambique.Pouco antes do seu rapto de Nairobi, o Padre Gwenjere foi contactado por um homem que conheceu em Dar es Salaam, na Tanz?nia. O homem, comummente conhecido como “Matola” foi à casa do Padre Gwenjere em Riruta-Satelite em 9 de Outubro de 1975. N?o o tendo encontrando, deixou uma nota escrita em suaíli. De acordo com a nota, ele havia comprado passagens de comboio para ele e o padre viajarem para Momba?a no dia seguinte. Na nota, Matola pedia ao padre que fosse a uma casa no Jamhuri Estate donde partiriam juntos para a esta??o de caminhos-de-ferro de Nairobi. ? de notar que, em Momba?a, existe até à presente data uma grande comunidade de imigrantes mo?ambicanos da tribo Maconde, com os quais o padre Gwenjere sempre teve aproxima??o. A casa em Jamhuri Estate de onde o Padre Gwenjere desapareceu em 10 de outubro de 1975. Fonte: ? 2019 Jo?o Cabrita0171450A percep??o extra-sensorial do sacerdote de que a viagem à Momba?a poderia dar errado fez com que ele confiasse num jovem da sua Miss?o de Murra?a que também morava em Riruta-Satelite. Na manh? do dia 10 de Outubro de 1975, ele foi a casa deste jovem para lhe dizer que ele ia a Momba?a com Matola na noite daquele dia e regressaria a Nairóbi no dia seguinte. O Padre Gwenjere pediu ao jovem que comunicasse o assunto ao secretário do KANU (Kenyan African National Union – Uni?o Nacional Africana do Quénia), Peter Guidumbi, caso n?o regressasse dentro de dois dias. Acredita-se que este jovem, que pediu anonimato, era a única pessoa entre a comunidade de refugiados mo?ambicanos em Nairobi que tomou conhecimento da viagem sem regresso do Padre Gwenjere.Depois de um almo?o preparado pela esposa do jovem, os dois saíram juntos para a casa de Jamhuri Estate onde, às 16h00 daquele dia, o jovem viu o Padre embarcar num veículo vermelho Ford Cortina cuja matrícula ele anotou como sendo KMK-546. O jovem contou a este autor que, além do Matola e do Padre Gwenjere, três outras pessoas, incluindo o motorista, haviam embarcado no veículo. Segundo ele, Matola sentou-se no banco da frente, enquanto o Padre Gwenjere e outras duas pessoas sentaram-se no banco traseiro.Continuando, o jovem da Miss?o de Murra?a disse que n?o esperou dois dias antes de procurar pelo Secretário do KANU para informá-lo sobre o sucedido, segundo havia sido instruído pelo Padre Gwenjere. Para a sua surpresa, enquanto caminhava pela cidade de Nairobi no dia seguinte (11 de Outubro de 1975), ele viu Matola saindo do Avenue Hotel. A sua presen?a contínua em Nairobi, o jovem raciocinou, indicava que ele n?o viajou para Momba?a com o padre segundo planeado, embora ele tenha visto ambos a embarcarem no mesmo veículo.Este autor acredita que este homem, comummente conhecido como “Matola” seja o mesmo que é referido nos arquivos da PIDE como um dos colaboradores de Mzee Mchekecha, que era o presidente do Baraza-la-Wazee (Conselho de Anci?os), um grupo que, conforme foi revelado anteriormente, trabalhava com o Padre Gwenjere durante o seu conflito com a lideran?a de Mondlane em Dar es Salaam. Os arquivos da PIDE referem-se à este Matola na seguinte cita??o:“Uria Simango, dá inicio em 17 de Dezembro de 1969 a uma série de reuni?es num bairro dos arredores da Dar es Salaam, em que congrega elementos desafectados ao partido, entre os quais o supra mencionado Matola e Mchekecha, sendo este último o presidente do ‘Grupo dos Velhos’ dependentes espiritualmente do Padre Mateus”.A investiga??o levada a cabo pelo gabinete do KANU revelou que Matola mais tarde desceu do veículo que, em vez de seguir para a Esta??o Ferroviária de Nairobi, seguiu directamente para o posto fronteiri?o de Namanga com a Tanz?nia, onde agentes de seguran?a mo?ambicanos e tanzanianos aguardavam o sacerdote para entregá-lo às autoridades mo?ambicanas.Durante vários anos, nenhuma informa??o concreta foi obtida sobre o paradeiro do padre Gwenjere. Em 19 de Maio de 1995, um artigo publicado no jornal Savana por Benedito Tomás Muianga revelou que, após o seu rapto de Nairobi, o Padre Gwenjere passou algum tempo em Maputo, após o que foi levado para um 'centro de reeduca??o' no norte de Mo?ambique, onde foi morto em 1977, juntamente com outros presos políticos. No entanto, quando contactado por este autor vários anos depois, o autor do artigo acima escreveu que as últimas informa??es que ele obteve revelavam que o Padre Gwenjere n?o entrou vivo em Mo?ambique, após o seu rapto de Nairobi:“Duas pessoas com quem falei disseram-me que o Padre Gwenjere n?o passou pelo Campo de Reeduca??o da M'telela na Província de Niassa. Ele foi executado na fronteira, presumivelmente uma referência à fronteira tanzaniana-mo?ambicana. Duas pessoas me deram a mesma informa??o. Um deles foi o antigo Bispo de Lichinga, Dom Luís Gonzaga, que me disse que o Bispo da Beira, Dom Jaime Gon?alves, tinha mais informa??es sobre o que aconteceu com o Padre Gwenjere.”DETEN??O DE L?DERES DISSIDENTESApós a Revolu??o dos Cravos de 1974 em Portugal, havia grandes expectativas de que a direc??o da FRELIMO procuraria reconciliar e unir todos os mo?ambicanos sob a égide da FRELIMO. Esse n?o foi o caso, no entanto. O movimento FRELIMO rejeitou veementemente a reconcilia??o ou a realiza??o de elei??es multipartidárias em Mo?ambique, pressionando Portugal a transferir-lhe o poder, alegando que ele era "o único representante legítimo do povo mo?ambicano".Durante muitos anos, enquanto o Presidente Julius Nyerere apoiava a FRELIMO na Tanz?nia, o Presidente Kenneth Kaunda da Z?mbia apoiava COREMO, que, sob a lideran?a de Paulo Gumane, havia se consolidado naquele país. No entanto, após a Revolu??o dos Cravos em Portugal, o Presidente Nyerere persuadiu Kaunda a desmantelar o COREMO. Em Junho de 1974, as autoridades zambianas invadiram as instala??es do COREMO, prenderam todos os líderes e membros proeminentes desse movimento, tendo os entregue à FRELIMO. Em 7 de Setembro de 1974, os Acordos de Lusaka foram assinados em Lusaka, na Z?mbia, entre o Governo Português e a FRELIMO, transferindo assim o poder a este movimento.Após a forma??o do governo provisório em Mo?ambique, a principal preocupa??o da FRELIMO era cercar, prender, e deter todos os líderes dissidentes. Os líderes dissidentes detidos em Mo?ambique incluem o líder provincial de Cabo Delgado Lázaro Nkavandame; o Secretário-Geral do PCN Basílio Banda; o Secretário de Rela??es Externas do PCN Arcanjo Faustino Kambeu; a líder da GUMO Dr?. Joana Sime?o, e o médico Jo?o Joaquim Unhay.Do Malawi, com a assistência do Director da “Special Branch” Malawiana, Martin Gwede, e do Secretário-Geral do Partido do Congresso do Malawi, Albert Muwalo Nqmayo, a FRELIMO recebeu o Presidente do PCN, Uria Simango, o Vice-Presidente do PCN Paulo Gumane, e dez outros altos dirigentes do PCN. Quanto a Uria Simango, Nqmayo enganou-o a ir à Blantyre de Nairobi, salientando que o seu país tinha concordado em mediar conversa??es de alto nível entre ele e as autoridades da FRELIMO. Cabrita escreve que todos os funcionários do PCN acima referidos foram depois entregues à FRELIMO em Milange (texto citado traduzido do inglês).“Esperando-os estava Jo?o Honwana, chefe de seguran?a da Frelimo na Zambézia. Ele tinha os prisioneiros amarrados contra a carro?aria de um cami?o do exército, com as suas cabe?as para baixo e levando-os para o campo militar da FRELIMO em M?nguè”. Com o estabelecimento de um governo provisório, liderado por este movimento em Mo?ambique, a FRELIMO embarcou igualmente numa campanha de ca?a ao homem sem precedentes. Dirigiu cartas ao Escritório do Alto Comissariado das Na??es Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a outras organiza??es internacionais, instando-as a pararem de conceder ajuda e bolsas de estudo aos refugiados mo?ambicanos. Do mesmo modo, solicitou aos governos dos países africanos onde os mo?ambicanos viviam como refugiados para expulsá-los dos seus países. O Quénia, um país que foi influente em trazer um acordo de paz entre a FRELIMO e a RENAMO em 1992, sob a media??o da Comunidade Católica de Santo Egídio, foi um dos poucos países africanos que ignoraram o pedido de repatria??o dos refugiados mo?ambicanos.Os refugiados mo?ambicanos que regressavam a Mo?ambique, depois de serem repatriados, incluíndo os que regressavam por livre vontade, eram sistematicamente presos nos aeroportos e nas zonas fronteiri?as e encaminhados para os chamados “centros de re-educa??o” no norte de Mo?ambique, onde alguns deles desapareceram, enquanto outros, particularmente aqueles que se envolveram em conflitos com a direc??o da FRELIMO durante a luta armada, foram sumariamente executados. Os líderes dissidentes mo?ambicanos que resistiam regressar também n?o estavam seguros. Contravendo as conven??es internacionais, a FRELIMO sequestrava-os de países onde viviam no exílio, levando-os à Mo?ambique e executando-os sumariamente.JULGAMENTO EM NACHINGWEAEm 12 de Abril de 1975, mais de 400 prisioneiros políticos desfilaram no solo tanzaniano no Campo de Treinamento Militar da FRELIMO de Nachingwea. Satisfeitos com o trabalho que realizaram para detê-los a fim de facilitar a FRELIMO chegar ao poder, os dois presidentes – Kenneth Kaunda da Z?mbia e Julius Nyerere da Tanz?nia – abandonaram os assuntos dos seus países para assistirem esses prisioneiros, a maioria dos quais nacionalistas genuínos, a serem submetidos à um julgamento cruel e atípico. O facto de que o número desses prisoneiros era consideravelmente alto para serem todos "traidores" e "contra-revolucionários", n?o incomodou Nyerere e Kaunda, supostamente conhecidos como presidentes crist?os. Nem estavam perturbados pelo facto de estarem a violar as conven??es internacionais ao deter mo?ambicanos no solo tanzaniano e submetê-los a um tratamento cruel, enquanto os mesmos n?o fizeram nenhum mal àquele país e ao seu povo.Da esquerda para a direita: Julius Nyerere, n?o identificado, Kenneth Kaunda, Aurélio Manave e Samora Machel no Nachingwea Military Training Camp. Fonte: ? 2019 Centro de Documenta??o e Forma??o Fotográfica. Maputo0200025Há relatos de que a Igreja Católica iniciou um processo para declarar Nyerere um “santo”. Infelizmente, a Igreja Católica tem, em várias ocasi?es, feito vista grossa às injusti?as que as pessoas sofrem no mundo. Falando no dia do desfile dos prisioneiros, na presen?a dos presidentes Julius Nyerere e Kenneth Kaunda, Machel disse que, embora as suas actividades anti-revolucionárias tivessem prejudicado e atrasado a vitória final da luta de liberta??o do povo mo?ambicano, os "reaccionários" n?o seriam mortos. Segundo ele, eles acabariam sendo libertos e levados pelo país inteiro para verem como a FRELIMO estava a desenvolver Mo?ambique: “A revolu??o mo?ambicana gerou os seus heróis e inevitavelmente os seus traidores reaccionários agentes do colonialismo português e do imperialismo em Mo?ambique. Levados pela ambi??o e pela sua voca??o exploradora eles infiltraram-se na FRELIMO e dentro da Organiza??o realizaram as suas actividades de sabotagem e subvers?o ao servi?o do inimigo. Centenas desses agentes foram detectados pela vigil?ncia popular e encontram-se nas m?os da FRELIMO. Em Nachingwea est?o cerca de 400 desses reaccionários, muitos dos quais o povo conhece bem. ? o caso de Uria Simango, Kavandame, Basílio Banda, Joana Sime?o, Paulo Gumane, Verónica Namiva, José Dimaka, Joseph Madzozere, Ali Madebe, Mateus Punda Alipona, Pedro Mapanguelane Mondlane, Asahel Jonassane Mazula, dr. Arcanjo F. Kambeu, Jo?o Craveirinha Júnior, dr. Unhai, Calisto Makuluva, José Eugeny Zitha, Longoloka, e muitos outros. As suas actividades anti-revolucionárias prejudicaram e atrasaram a vitória final da luta de liberta??o do povo mo?ambicano. Mas deles há uma grande li??o a aprender: eles s?o a prova viva de que o colonialismo n?o tem cor, o imperialismo n?o tem pátria e a explora??o n?o tem ra?a. Portanto continuar?o como provas vivas e o povo com a sua justi?a revolucionária tentará recuperá-los.”left271780Prisoneiros no Campo de Treino Militar Nachingwea da FRELIMO na Tanz?nia. Est?o incluídos no grupo da esquerda para a direita o líder da UDENAMO, Adelino Gwambe, que é o sétimo e líder da GUMO, a Dra. Joana Sime?o, que é a décima com óculos. Fonte: ? 2019 Dr. António Zengazenga HYPERLINK "" Com a garantia dada por Machel, na presen?a de dois chefes de Estado, de que estes presos políticos n?o seriam mortos, os mo?ambicanos, particularmente os seus familiares, esperavam que um dia seriam libertos. No entanto, foram mortos num local, data e sob circunst?ncias que ainda n?o foram oficialmente esclarecidas pelo governo da FRELIMO.Prisioneiros políticos submetidos a tratamento atípico em solo Tanzaniano em Nachingwea. Fonte: ? 2019 Centro de Documenta??o e Forma??o Fotográfica. Maputo0190500APELO ? RECONCILIA??OAo chegar ao poder em 1986, o Presidente Joaquim Chissano encorajou os dissidentes mo?ambicanos a regressarem a Mo?ambique, garantindo-lhes que n?o seriam mortos ou detidos. Ele manteve a sua promessa. Contudo, Todos os sinais demonstram que a nova direc??o da FRELIMO n?o está disposta a reabrir o dossiê dos presos políticos e quer que este episódio seja esquecido, como claramente disse o Presidente Joaquim Chissano numa entrevista com jornalistas mo?ambicanos em Janeiro de 1991:“Em qualquer país a revolu??o tem as suas regras e normas e é normal que esses indivíduos (os referidos presos políticos) tenham sido tratados de acordo com essas normas”, tendo acrescentado: “neste momento, em que queremos criar a unidade e harmonia seria bom que n?o abríssemos esses dossiês.”No entanto, surge uma pergunta: como é que o povo mo?ambicano deverá esquecer o dossiê dos presos políticos sem que o governo da FRELIMO procure sarar as feridas? Até à presente data, os familiares desses prisioneiros políticos n?o foram informados pelo Governo da FRELIMO porquê foram executados e quando. De igual modo, eles n?o foram informados aonde foram executados e enterrados para que possam conceder-lhes um enterro condigno.Quase cinquenta anos depois da independência, é tempo de reflectir sobre este período marcado pelo ódio entre pessoas pertencentes à mesma família mo?ambicana. A história mostrou que o espírito de ódio e de vingan?a, acumulado ao longo dos anos pela direc??o da FRELIMO, n?o conseguiu resolver os problemas de Mo?ambique. Pelo contrário, foi a principal causa do sangrento conflito que eclodiu no país um ano após a independência e que durou 16 anos. A guerra civil entre a FRELIMO e a RENAMO deveu-se principalmente à intransigência e recusa da FRELIMO em ver a reconcilia??o como um elemento chave na constru??o de uma paz justa e duradoura no país.Muitos países africanos, incluindo a ?frica do Sul, Serra Leoa, Libéria, Gana e Ruanda, estiveram envolvidos em processos de reconcilia??o. A ?frica do Sul, um país vizinho, com a sua Comiss?o de Verdade e Reconcilia??o (TRC), é vista como um modelo para as sociedades que desejam viver em paz. Em Mo?ambique, nunca houve uma reconcilia??o genuína desde a independência em 1975. Quando a FRELIMO e a RENAMO assinaram o Acordo de Paz de Roma em 1992, o Presidente Joaquim Chissano aproveitou a oportunidade para conceder amnistia aos chamados "contra-revolucionários" que n?o podiam regressar a Mo?ambique sem enfrentar pris?o, deten??o, ou morte. Sabe-se que a decis?o do Presidente Chissano de conceder amnistia a esses "contra-revolucionários" n?o foi bem recebida por alguns líderes da FRELIMO. ? a opini?o deste autor e de muitos outros mo?ambicanos que seria um gesto nobre por parte dos líderes da FRELIMO abra?arem um processo genuíno de reconcilia??o entre a família mo?ambicana. Este processo come?aria com o reconhecimento pela direc??o da FRELIMO de que violou os direitos humanos e as conven??es internacionais, ao raptar os chamados "contra-revolucionários" em países estrangeiros onde viviam exilados e executando-os sumariamente sem um julgamento apropriado; o reconhecimento da dor infligida a seus familiares e entes queridos, por deixá-los sem saber, durante quase 50 anos, porquê, quando, e onde essas pessoas foram mortas e enterradas para que possam conceder-lhes um enterro condigno; e o reconhecimento de que, embora os chamados "contra-revolucionários" tivessem opini?es diferentes da direc??o da FRELIMO, eles eram combatentes genuínos da liberdade que merecem respeito e amor do povo mo?ambicano. Uma verdadeira reconcilia??o entre os mo?ambicanos é um elemento-chave na constru??o de uma paz justa e duradoura em Mo?ambique. ................
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