RESUMO



A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA 2

HISTÓRIA DA POLUIÇÃO DO AR 3

ESTUDO SOBRE O IMPACTO ECONÔMICO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA 5

TEORIA DAS EXTERNALIDADES 5

PARÂMETROS DA QUALIDADE DO AR 7

PARÂMETROS DA QUALIDADE DO AR 7

PADRÕES DE QUALIDADE DO AR 9

ÍNDICE DE QUALIDADE DO AR 11

MEDICINA DA USP ASSOCIA ABORTOS E DOENÇAS CARDIOVASCULARES À POLUIÇÃO 12

OS AGRESSIVOS ARES DA METRÓPOLE 13

PLANTA AJUDA A MONITORAR POLUIÇÃO 15

A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA

Entende-se como poluição do ar a mudança em sua composição ou em suas propriedades, causada por emissões de poluentes, tornando-o impróprio, nocivo ou inconveniente à saúde, ao bem estar, à vida animal e vegetal e, até mesmo, a alguns materiais. Oficialmente, o Conselho Ambiental da Europa, em 1967, definiu a poluição do ar da seguinte maneira: “Existe poluição do ar quando a presença de uma substância estranha ou a variação significativa na proporção dos seus constituintes é suscetível de provocar efeitos prejudiciais ou originar doenças, tendo em conta o estado dos conhecimentos científicos do momento”.

A poluição do ar tem sido um tema extensivamente pesquisado nas últimas décadas e caracteriza-se como um fator de grande importância na busca da preservação do meio ambiente e na implementação de um desenvolvimento sustentável, pois seus efeitos afetam de diversas formas a saúde humana, os ecossistemas e os materiais.

Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica mata dois milhões de pessoas anualmente, com mais da metade dessas mortes ocorrendo em países em desenvolvimento. Isto representa o triplo das mortes anuais em acidentes automobilísticos. Um estudo publicado na revista científica inglesa The Lancet, em 2000, concluiu que a poluição atmosférica na França, Áustria e Suíça é responsável por mais de 40.000 mortes anuais, nesses três países. Cerca da metade dessas mortes se deve à poluição causada pelas emissões dos veículos. Para efeito de comparação, as estatísticas indicam que nos Estados Unidos, as fatalidades no trânsito totalizam pouco mais de 40.000 por ano, enquanto a poluição atmosférica ceifa anualmente 70.000 vidas. As mortes causadas pela poluição atmosférica nos Estados Unidos equivalem às mortes por câncer de mama e da próstata, conjuntamente. Este flagelo das cidades, tanto nos países industrializados quanto nos países em desenvolvimento, ameaça a saúde de bilhões de pessoas. Governos se esforçam para reduzir os acidentes no trânsito, todavia, dão muito pouca atenção às mortes que as pessoas causam simplesmente dirigindo seus veículos. As mortes causadas por doenças cardíacas e respiratórias resultantes do ar poluído não têm a dramaticidade das mortes de um desastre automobilístico, entretanto são tão reais quanto estas.

A contaminação atmosférica é, hoje, um problema urbano. Dessa forma, deve ser encarada com a mesma importância que se dá, por exemplo, à água potável, aos esgotos, à habitação e ao transporte. Isso porque, antes de qualquer coisa, trata-se de uma questão de saúde pública. Qualquer fator diretamente relacionado à saúde da população é um item de bem estar social e, também econômico. Um problema de saúde pode resultar em vários dias de trabalho perdidos, sem falar nas despesas com remédios necessários a qualquer tratamento.

Quando um rio está poluído, o efeito é visível e imediato: a grande mortandade de peixes. A água torna-se escura e fétida e na sua superfície forma-se espuma. Já com a poluição do ar isso não acontece, pois seus efeitos não são tão visíveis. Assim, as autoridades governamentais muitas vezes não tratam a poluição atmosférica com a devida prioridade.

Por outro lado, nem sempre se leva em consideração que os seres vivos precisam respirar contínua e ininterruptamente. Não podemos escolher o ar que respiramos ou trata-lo antes de ser utilizado, como no caso da água. É possível passarmos várias horas sem beber água, mas apenas alguns minutos sem ar são suficientes para extinguir a vida em nosso planeta. Além disso, é fundamental que ela seja de boa qualidade. Por isso, as soluções indicadas para o problema da poluição do ar devem ser sempre dinâmicas e abrangentes. Medidas em áreas restritas ou de efeito temporário, neste caso, têm pouca valia.

HISTÓRIA DA POLUIÇÃO DO AR

No momento em que o homem descobriu o fogo teve início a poluição do ar. Naturalmente, a atividade do homem primitivo não pode ser comparada à atual. As queimadas – feitas propositalmente em matas e campos naturais, a fim de limpar a terra para o cultivo - também constituem uma das mais antigas fontes de poluição do ar provocadas pelo homem. Quando a sociedade passou a se organizar em cidades, começaram a surgir problemas mais sérios de contaminação atmosférica, em geral ligados ao olfato. Os fossos, que cercavam os castelos da Idade Média, por exemplo, além de sua finalidade de defesa, recebiam os esgotos produzidos no seu interior. Isso os tornava extremamente fétidos. Também não havia nenhum sistema de recolhimento de lixo. Os detritos eram simplesmente lançados na rua, onde se decompunham, produzindo odores bem desagradáveis, Havaí ainda, os matadouros e curtumes, onde não prevalecia nenhuma preocupação de ordem higiênica. Eles também representavam grandes fontes produtoras de odores fétidos, bem como os currais e cavalariças, sempre localizados dentro das cidades. Hoje, nos grandes centros urbanos, embora tenhamos de respirar um ar bastante contaminado, responsável por muitos problemas de saúde, conseguimos eliminar em parte muitos dos problemas que existiam nas primeiras formações urbanas dos séculos passados. Podemos dizer que respirar numa cidade moderna é mais perigoso, mas menos desagradável que numa cidade da Idade Média.

Entre os poluentes atmosféricos se incluem o monóxido de carbono, o ozônio, o dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio e os particulados. Estes poluentes advêm principalmente da queima de combustíveis fósseis, particularmente das usinas elétricas a carvão e automóveis movidos por gasolina. Os óxidos de nitrogênio podem levar à formação de ozônio ao nível do solo. Particulados são lançados de uma variedade de fontes, principalmente dos motores a diesel.

Reduzir o tipo de poluição conhecido com PM10 - matéria particulada menor que 10 micrômetros - poderia salvar até 300.000 vidas a cada ano, de acordo com nota emitida pelo escritório regional da OMS em Manila, nas Filipinas. A poluição PM10 é provocada, principalmente, pela queima de combustíveis, fósseis ou de outros tipos. As partículas são tão pequenas que escapam dos filtros naturais no nariz e da garganta, e vão parar nos pulmões, onde provocam problemas de saúde.

A OMS informa que, em muitas cidades, os níveis médios anuais de PM10 excede os 70 microgramas por metro cúbico. Novas normas da OMS pedem a redução do nível a menos de 20 microgramas, para evitar problemas de saúde. Essa medida poderia cortar as mortes provocadas pela poluição do ar em 15%. A redução viria, ainda, a reduzir o custo global provocado por doenças respiratórias, cardíacas e pulmonares.

O ar, na maioria das áreas urbanas, contém uma mistura de poluentes, podendo cada um aumentar a vulnerabilidade das pessoas aos efeitos dos outros poluentes. A exposição ao monóxido de carbono causa lentidão dos reflexos e sonolência, uma vez que suas moléculas se ligam à hemoglobina, reduzindo a quantidade de oxigênio que transportam os glóbulos vermelhos. O dióxido de nitrogênio pode agravar a asma e reduzir as funções do pulmão, como também tornar as vias respiratórias mais sensíveis a alérgenos. O ozônio também causa inflamação do pulmão, reduzindo suas funções e capacidade.

Particulados menores, especialmente aqueles com 10 micrômetros de diâmetro (1 micrômetro é igual a uma milionésima parte de um metro - 1/2.400 de uma polegada) ou menores, podem se alojar nos alvéolos do pulmão. São responsáveis por um número maior de hospitalizações de pessoas com problemas respiratórios e um maior índice de mortalidade, notadamente por doenças respiratórias e cardiovasculares. À medida que as concentrações de particulados no ar aumentam, também se elevam as taxas de mortalidade.

Quando as pessoas inspiram particulados e ozônio nas concentrações normalmente encontradas em áreas urbanas, suas artérias se comprimem mais, reduzindo o fluxo sangüíneo e o suprimento de oxigênio ao coração. É por este motivo que a poluição atmosférica agrava as doenças cardíacas e a asma.

Pesquisas publicadas na revista Science, em 2001, observaram que tanto nos países industrializados como nas nações em desenvolvimento, exposições aos níveis atuais de ozônio e particulados “afetam as taxas de mortalidade, hospitalização e consultas médicas, problemas de asma e bronquite, faltas ao trabalho, dias de atividade restrita e uma variedade de enfermidades do pulmão”.

Ao mesmo tempo em que afetam os sistemas de saúde, também prejudicam a economia. O aumento dos gastos monetários relacionados a doenças causadas pela poluição atmosférica inclui os custos de medicamentos, ausências do trabalho e tratamento infantil.

Na província canadense de Ontário, por exemplo, com uma população de 11,9 milhões, a poluição atmosférica custa aos contribuintes, no mínimo, US$ 1 bilhão por ano em hospitalizações, emergências e ausências ao trabalho. De acordo com o Banco Mundial, os custos sociais da exposição à poeira e chumbo aéreos em Jacarta, Bangcoc e Manila se aproximaram a 10% da renda média no inicio dos anos 90. Na China, que tem uma das piores taxas de poluição atmosférica do mundo, as doenças e mortes das populações urbanas causadas pela poluição atmosférica deverão custar 5% do PIB.

Os custos econômicos da poluição atmosférica justificam a redução dos impostos sobre a renda e aumento dos impostos sobre combustíveis fósseis. Isto encorajaria o uso mais eficiente de combustíveis, mudança para fontes de energia limpa e adoção de controles contra a poluição. A alternativa é gastar mais em seguros de saúde para o tratamento de doenças decorrentes da poluição. A elevação dos custos dos combustíveis poluentes reduzirá o sofrimento provocado pelas doenças e as mortes prematuras.

ESTUDO SOBRE O IMPACTO ECONÔMICO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Um estudo onde foi avaliado o impacto econômico da poluição atmosférica, realizou-se no Acre, onde vários prejuízos à saúde foram observados. De forma geral, objetivou-se analisar os impactos da poluição do ar pelas queimadas sobre a sociedade acreana. Especificamente: a) determinar quanto a sociedade está disposta a pagar pela diminuição dos malefícios ocasionados pelas queimadas; e b) comparar o valor da disposição a pagar agregada com o custo das morbidades respiratórias no ano de 2004. A teoria das externalidades é utilizada para referenciar este trabalho. A partir de referendum with follow-up, estimou-se o valor dos benefícios da melhoria da qualidade do ar no Estado do Acre cujos resultados indicaram que cada dólar aplicado em despesas de internações ocasionadas por morbidades respiratórias à melhoria do ar acarreta um benefício de R$ 21,08, o que representa que a melhoria dessa característica ambiental é viável economicamente. O que este estudo traz de novo nas aplicações da valoração contingente é a análise da poluição do ar ocasionada pelas queimadas na Amazônia, especificamente no Estado do Acre. Em se tratando desta região, este estudo possui grande relevância, pois elabora uma avaliação econômica da melhoria da qualidade dor ar.

TEORIA DAS EXTERNALIDADES

As ações sobre o meio ambiente são designadas, em linguagem econômica, como externalidades (custos ambientais e de escassez). Estas externalidades apresentam uma característica interessante: elas resultam da inexistência ou definição imprecisa dos direitos de propriedade, geralmente porque agem sobre os recursos naturais - ar, oceanos, rios, lençóis de água subterrânea, vida animal e vegetal. Se fosse possível o estabelecimento de direitos de propriedade sobre todos os recursos citados acima, isto eliminaria a maioria dessas externalidades ou favoreceria o seu controle.

No caso dos efeitos ecológicos nocivos, a culpa reside nas imperfeições dos mercados. Em primeiro lugar pela impossibilidade de se estabelecerem mercados relativamente à utilização de bens ambientais, por inexistência ou definição imprecisa dos direitos de propriedade. Em segundo lugar porque nos mercados em que as empresas produtoras utilizam recursos ambientais como fatores de produção, o custo desses fatores era nulo porque esses recursos ambientais não tinham proprietário e eram, por via disso, gratuitos. A inexistência de mercados a montante tornava imperfeitos os mercados a jusante.

Enquanto a produção industrial e agrícola não foi intensiva, não se levantou a questão da escassez dos recursos ambientais. Eles eram em teoria infinitos. Atualmente tal não é possível e é necessário que o meio ambiente seja considerado como um fator econômico, sujeito a escassez e com custo alternativo não nulo.

A utilização destas metodologias de quantificação do custo dos recursos ambientais gera algum ceticismo no que respeita à sua fiabilidade. Todavia, na fase dos estudos de viabilidade, é possível haver consenso quanto aos seus resultados, porquanto apenas se procura saber se o projeto é viável ou não.

(1) O custo de remoção das cargas poluentes aumenta exponencialmente à medida que se pretende baixar a concentração.

PARÂMETROS DA QUALIDADE DO AR

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PADRÕES DE QUALIDADE DO AR

Um padrão de qualidade do ar (PQAR), define legalmente o limite máximo para a concentração de um componente atmosférico que garanta a proteção da saúde e do bem estar das pessoas. Os padrões de qualidade do ar são baseados em estudos científicos dos efeitos produzidos por poluentes específicos e são fixados em níveis que possam propiciar uma margem de segurança adequada.

Através da Portaria Normativa n.º 348 de 14/03/90 o IBAMA estabeleceu os padrões nacionais de qualidade do ar e os respectivos métodos de referência, ampliando o número de parâmetros anteriormente regulamentados através da Portaria GM 0231 de 27/04/76.

Os padrões estabelecidos através dessa portaria foram submetidos ao CONAMA em 28/06/90 e transformados na Resolução CONAMA n.º 03/90.

São estabelecidos dois tipos de padrões de qualidade do ar : os primários e os secundários.

São padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo.

São padrões secundários de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo.

O objetivo do estabelecimento de padrões secundários é criar uma base para uma política de prevenção da degradação da qualidade do ar. Devem ser aplicados às áreas de preservação (por exemplo: parques nacionais, áreas de proteção ambiental, estâncias turísticas, etc.). Não se aplicam, pelo menos a curto prazo, a áreas de desenvolvimento, onde devem ser aplicados os padrões primários. Como prevê a própria

Resolução CONAMA n.º 03/90, a aplicação diferenciada de padrões primários e secundários requer que o território nacional seja dividido em classes I, II e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução prevê ainda que enquanto não for estabelecida a classificação das áreas os padrões aplicáveis serão os primários.

Os parâmetros regulamentados são os seguintes : partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. Os padrões nacionais de qualidade do ar fixados na Resolução CONAMA n.º 03 de 28/06/90 são apresentados na tabela 15.

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ÍNDICE DE QUALIDADE DO AR

Os dados de qualidade do ar obtidos pela CETESB em suas estações automáticas de monitoramento, juntamente com uma previsão meteorológica das condições de dispersão dos poluentes para as 24 horas seguintes, são divulgados diariamente através de um boletim de qualidade do ar. Para simplificar o processo

de divulgação dos dados é utilizado um índice de qualidade do ar.

A estrutura do índice de qualidade do ar contempla, conforme Resolução CONAMA n.º 03 de 28/06/90, os seguintes parâmetros: dióxido de enxofre, partículas totais em suspensão, partículas inaláveis, fumaça, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. O índice é obtido através de uma função linear segmentada, onde os pontos de inflexão são os padrões de qualidade do ar. Desta função, que relaciona a concentração do poluente com o valor índice, resulta um número adimensional referido a uma escala com base em padrões de qualidade do ar. Para cada poluente medido é calculado um índice conforme figura 5.

Para efeito de divulgação é utilizado o índice mais elevado, isto é, a qualidade do ar de uma estação é determinada pelo pior caso.

Depois de calculado o valor do índice, o ar recebe uma qualificação, feita conforme a tabela 17. Também nesta tabela, estão apresentados os critérios de definição das faixas, os números que definem as mudanças de faixa para cada poluente, assim como uma descrição geral de efeitos sobre a saúde e precauções recomendadas.

Assim, a ultrapassagem do padrão de qualidade do ar é identificada pela qualidade inadequada (índice maior que 100). A qualidade má (índice maior ou igual a 200), indica a ultrapassagem do nível de atenção, a péssima (índice maior ou igual a 300), indica a ultrapassagem do nível de alerta e a crítica (índice maior que 400), a ultrapassagem do nível de emergência.

Cabe esclarecer que a ultrapassagem do nível de atenção não implica necessariamente na declaração do estado de Atenção, medida esta adotada pela CETESB e que considera também a previsão das condições de dispersão dos poluentes na atmosfera para as 24 horas seguintes.

MEDICINA DA USP ASSOCIA ABORTOS E DOENÇAS CARDIOVASCULARES À POLUIÇÃO

        O Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP vem desenvolvendo, desde a década de 80, estudos associando algumas doenças cardiovasculares e aborto de fetos tardios à poluição atmosférica, utilizando modelos experimentais e epidemiológicos.

        Segundo o pesquisador Luiz Alberto Amador Pereira, que desenvolve pesquisas conjuntas no Laboratório, a poluição atmosférica atinge diretamente o aparelho respiratório, causando inúmeras doenças já conhecidas. Mas, há indícios de que a poluição compromete seriamente os aparelhos cardiovascular e reprodutor humano.

        A pesquisa, de autoria de Amador Pereira, que fala da relação poluição e morte de fetos é inédita no Brasil e no exterior, e mostra que o feto também é exposto à poluição, apesar da proteção da placenta e de toda a estrutura do corpo materno. A constatação foi feita através da análise, em dias de maior poluição, de resultados do exame de sangue do cordão umbilical de recém-nascidos onde foi encontrada concentração de carboxihemoglobina em bebês que nasceram nos dias mais poluídos (a carboxihemoglobina é a ligação da hemoglobina, que normalmente leva oxigênio, e monóxido de carbono, poluente urbano). Este estudo, concluído ano passado, verificou também que, nos dias mais poluídos, o número de mortes fetais tardias (acima de 28 semanas de gestação) era maior. A cada oito óbitos diários, um e meio poderia estar associado à poluição. As substâncias relacionadas às perdas fetais tardias são o monóxido de carbono, dióxido de enxofre e principalmente o dióxido de nitrogênio.

        Um outro estudo do Laboratório, divulgado em congresso científico, mostra uma relação de doenças cardiovasculares com o monóxido de carbono, uma das substâncias emitida por veículos automotores movidos à gasolina. O estudo foi realizado com pacientes admitidos no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP. Nos dias mais poluídos, aumentava em 10% o número de pessoas que davam entrada no hospital com doenças cardiovasculares, principal-mente as coronarianas — enfartos e anginas. Amador Pereira diz que pesquisas internacionais anteriores a esta do Laboratório já haviam dado evidências que as doenças cardíacas estavam ligadas à poluição.

OS AGRESSIVOS ARES DA METRÓPOLE

É fato consumado. A poluição tem efeitos terríveis e os habitantes das grandes cidades já os conhecem bem. Vermelhidão nos olhos, irritação na garganta, falta de ar... Pesquisadores da USP, porém, comprovam que há um fator adicional associado aos efeitos da poluição: a pobreza. De acordo com estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, regiões mais carentes têm mais mortes de idosos associadas a problemas cardiorrespiratórios. Outro estudo do laboratório demonstra que o País deixa de produzir, no mínimo, US$ 3,2 milhões devido a fatores relacionados à poluição, como afastamento do trabalho e mortes.

Que a poluição tem efeitos sobre a população das metrópoles não é nenhuma novidade. Mas, em um meio com condições precárias de saneamento, acesso à saúde e alimentos, os resultados são certamente mais dramáticos que em regiões privilegiadas. “A poluição tem efeitos e sabemos disso. Mas sofre muito mais quem não tem condições de se alimentar direito e ir ao médico. Pessoas de diferentes condições socioeconômicas respondem diferentemente à mesma agressão”, afirma o pesquisador Alfésio Luís Ferreira Braga, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. É exatamente essa premissa que é comprovada na tese “Avaliação entre poluição atmosférica e variáveis socioeconômicas como agravante das condições de saúde no município de São Paulo – Um estudo de ecologia urbana”, orientada por Braga e defendida este ano por Maria Cristina Haddad Martins, coordenadora do Departamento de Informação Socioambiental da Secretaria Municipal de Saúde. 

De acordo com o estudo, 12% das mortes de idosos em São Miguel Paulista, na zona leste, são causadas por doenças respiratórias, ao passo que em Cerqueira César, região nobre da capital, essa taxa é de 2%. De acordo com Maria Cristina, não há relação direta entre os níveis de poluentes de cada região pesquisada e o número de mortes de idosos, ou seja, segundo o estudo, não se pode afirmar que quanto maior o nível de poluentes no ar, maior a mortalidade. Porém, “foi comprovado que as condições socioeconômicas têm correlação direta com o efeito analisado (mortalidade entre idosos com mais de 60 anos de idade)”, explica.

 

Angina e infarto

 

Estudos de laboratório mostram até mesmo mutações genéticas em plantas como efeito direto da poluição atmosférica. É o caso da pesquisa da qual participa Eliane Tigre Guimarães Sant’Anna, também do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, que deverá ser publicada em 2003.

 

Outra pesquisa ainda inédita, desenvolvida na mesma unidade, será publicada em breve na renomada revista científica norte-americana Environmental Research. O pneumologista e clínico-geral do Hospital das Clínicas (HC) Chin An Lin comprova em seu estudo que, do total de pessoas com problemas isquêmicos do coração (angina e infarto) atendidas diariamente no HC, em média 6% têm como causa direta a poluição. A pesquisa refere-se a dados colhidos no Instituto do Coração do HC entre janeiro de 1994 e dezembro de 1995.

“Entre todos os poluentes e variáveis estudados, o monóxido de carbono foi o único que resistiu bravamente a todos os filtros da pesquisa. Mas não posso afirmar que o monóxido de carbono, sozinho, é o grande vilão, pois isso é uma meia-verdade. Temos de considerar os poluentes como um todo”, diz.

 

De acordo com Chin, cada poluente tem seu lag, ou seja, uma defasagem de tempo entre o evento atmosférico (poluição) e seu efeito sobre determinada doença. Para material particulado, o lag é de três dias e para monóxido de carbono, dois dias. Portanto, para conhecer os efeitos da poluição sobre determinada doença é preciso calcular o que Chin chama de “média móvel”, que é a soma da média de concentração de poluentes em determinado período estudado.

 

Diferentemente de dona Oscarlinda, do açougueiro Matos e do aposentado Santos, há idosos cheios de vitalidade mesmo após superar a expectativa de vida média do brasileiro. É o caso da dona de casa Maria do Carmo Antunes de Castro, 72, moradora de Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Portuguesa da cidade de Guarda, Maria do Carmo chegou ao Brasil aos 23 anos e dá sua receita de saúde: “Não precisa luxo nem muito dinheiro para a família estar bem. Sempre muitos legumes numa boa sopa, leite diariamente, pão caseiro, casa limpa, hábitos de higiene e pronto, todos estarão saudáveis. Em Guarda, plantávamos o que comíamos. Era uma cidade pequena, sem poluição, de clima excelente. Uma família que planta e come aquilo que está plantando já vive sadia. Aqui no Brasil, as pessoas deveriam ter mais oportunidade para cultivar o alimento”, diz.

PLANTA AJUDA A MONITORAR POLUIÇÃO

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Tradescantia pallida cv. purpurea

Em dias mais poluídos, uma pessoa tem 33% a mais de chance de sofrer um infarto. Levantamento feito na cidade de São Paulo revela que pelo menos 12% das mortes envolvendo idosos acontecem em decorrência dos altos níveis de poluentes emitidos principalmente pelos veículos existentes na cidade.

Além de causar doenças cardiovasculares (infarto e arritmia) e respiratórias (asma e pneumonia), a poluição ainda é vista como um verdadeiro veneno para gestantes e bebês. Já está comprovado que altos níveis de poluentes podem contribuir para a prematuridade da criança e seu baixo peso ao nascer.

E o que isso tem a ver com a planta popularmente conhecida como "coração-roxo"?

É que o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo (LPAE/USP) realizou um estudo que comprova que a planta Tradescantia pallida, a popular coração-roxo, ajuda no controle da qualidade do ar - é o biomonitoramento.

Na cidade de Santo André (SP), a planta está ajudando o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) a monitorar a qualidade do ar da cidade, servindo como um sensor na análise de dados. O objetivo é fazer um mapeamento completo dos bairros mais poluídos. Em 2002, floreiras foram plantadas em seis pontos da cidade.

Em um estudo preliminar, analisando-se mutações da planta entre setembro de 2003 e janeiro de 2004, constatou-se as áreas mais poluídas de Santo André.

A idéia do biomonitoramento foi do professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, parceira no estudo. Em 2002, Saldiva participou em Santo André de um seminário sobre meio ambiente e propôs para a Prefeitura o biomonitoramento, por ser uma tecnologia mais barata e tão precisa quanto os métodos convencionais. "Santo André é uma cidade com vocação industrial e com número elevado de carros. Daí a preocupação com o monitoramento do nível de poluição", diz Saldiva, supervisor do programa.

Em 1998, o professor descobriu as propriedades do coração roxo na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, por meio de um pesquisador chinês. "Essa planta é fácil de cultivar em qualquer lugar e tem alta resistência. O seu DNA (ácido desoxirribonucleico) registra os poluentes e suas mudanças", conta Saldiva.

Entre 2002 e 2003, foram preparadas as condições para a coleta das plantas. "Esse tempo foi necessário para que criássemos condições iguais de cultivo nos seis pontos da cidade, para que não houvesse divergência de dados", explica a bióloga Eriane.

Entre setembro de 2003 e setembro deste ano, foram recolhidas amostras quinzenalmente nas floreiras e encaminhadas para a USP e para o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), que é responsável em detectar todos os elementos poluentes encontrados.

O projeto também tem o objetivo de realizar educação ambiental. Estudantes de escolas municipais e estaduais são convidados a conhecer o programa e entender as propostas do biomonitoramento. "Tentamos conscientizar os jovens sobre a necessidade de preservação ambiental", conta Eriane.

E em Salvador, na Bahia, a plantinha também está mostrando serviço...

Ainda que Salvador não possua grandes complexos industriais dentro da área urbana, sua população está vulnerável a ação de diversos poluentes que são liberados principalmente a partir da queima de combustíveis durante o funcionamento de veículos automotores. A depender da concentração, esses poluentes podem causar até câncer. Esta afirmação é da bióloga Josanidia Santana Lima, que coordena uma pesquisa sobre a utilização da Tradescantia pallida cv. purpurea (normalmente encontrada em canteiros públicos da cidade) na avaliação da poluição atmosférica de Salvador.

A pesquisa com a Tradescantia pallida, segundo a bióloga, é apenas uma das várias na área de biomonitoramento atmosférico por meio de vegetais realizado pelo Laboratório de Avaliação de Impactos em Ecossistemas Terrestres (Laviet) do Instituto de Biologia (Ibio) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), do qual é coordenadora. "Esse biomonitoramento pode ser ativo ou passivo. No primeiro caso, monitora-se a vegetação já presente no ambiente que se está avaliando. No segundo, introduz-se nas áreas a serem avaliadas vegetais cultivados em condições padrões", explica.

O biomonitoramento usando a Tradescantia pallida é ativo, uma vez que a planta já existia nos ambientes avaliados. Em termos práticos, ele se traduz na utilização do que Josanidia Lima chama de "teste Trad-MCN", que se baseia na contagem de micronúcleos em células mães de grãos de pólen na Tradescantia. "O uso deste teste permite determinar a capacidade de substâncias causarem danos ao material genético, levando à formação de micronúcleos ao fim da divisão celular. Uma freqüência elevada de micronúcleos nas análises é o indicador de que as substâncias afetam a planta", explica a bióloga.

A estrutura do DNA e seus mecanismos de replicação e reparo são universais para todos os seres vivos, ou seja, o que causa danos ao material genético dos vegetais pode vir a causar danos aos cromossomos de seres humanos.

O teste Trad-MCN revelou que, nos locais testados com um maior tráfego de automóveis, onde a emissão de poluentes é maior, há uma concentração de "compostos clastogênicos", pois as células da planta recolhida nesses lugares apresentaram mutação genética (alta freqüência de micronúcleos). "Já nas células da planta recolhida em áreas de menor fluxo de veículos, as freqüências médias de micronúcleos encontradas foram menores", compara.

De acordo com Jasanidia Lima, a freqüência de micronúcleos esperada para locais isentos ou com nível baixo de poluição é de 8%, enquanto que em locais extremamente poluídos, como garagens de grandes edifícios, são esperadas freqüências que atinjam até 28%. Estudos remontam a 1789O uso de vegetais como bioindicadores data de 1789, segundo a bióloga Josanidia Lima. "Quatro químicos holandeses observaram que plantas de hortelã e feijão, em uma redoma, ficaram manchadas depois de expostas, por um dia, a vapores de mercúrio e morreram dias depois", conta. O teste Trad-MCN, por sua vez, foi desenvolvido em 1978. Desde então, ele tem sido utilizado para monitorar a ação de poluentes do ar em vários locais dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, República Popular da China e México. O teste foi introduzido no Brasil recentemente e já foi utilizado com sucesso por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Botânica de São Paulo.

A espécie Tradescantia pallida cv. purpurea é uma planta ornamental facilmente encontrada em ruas e jardins, mesmo em locais com concentrações elevadas de poluentes atmosféricos. Por essas características, ela é adequada para o biomonitoramento.

Uma das principais vantagens do teste Trad-MCN, segundo Jasanidia Lima, é que ele é rápido, altamente sensível, eficiente e econômico, fornecendo uma advertência precoce sobre a qualidade do ar. "É bastante adequado para ser implementado em países em desenvolvimento para fins de proteção ambiental e da saúde da população", conclui.

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