Qualidade da informação da idade nos registros de óbito no ...

Reciis ? Rev Eletron Comun Inf Inov Sa?de. 2019 jan-mar.;13(1):158-171 | [reciis.icict.fiocruz.br] e-ISSN 1981-6278



ARTIGOS ORIGINAIS

Qualidade da informa??o da idade nos registros de ?bito no Brasil, 1996-2015

Quality of the information about age on the death registers in Brazil, 1996-2015

Calidad de la informaci?n de la edad en los registros de ?bito en Brasil, 1996-2015

Fatima Val?ria Lima Jacques1,a fatimajacques@.br |

Jos? Henrique Costa Monteiro-da-Silva2,b jose.henrique@nepo.unicamp.br |

Raphael Mendon?a Guimar?es3,c raphael24601@ |

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pediatria e Puericultura Margat?o Gesteira, Servi?o de Emerg?ncia Pedi?trica. Rio de Janeiro, RJ. Brasil.

2 Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ci?ncias Humanas, N?cleo de Estudos de Popula??o. Campinas, SP. Brasil.

3 Funda??o Oswaldo Cruz, Escola Polit?cnica de Sa?de Joaquim Ven?ncio, Laborat?rio de Educa??o Profissional em Informa??o e Registro em Sa?de. Rio de Janeiro, RJ. Brasil.

a Mestrado em Sa?de P?blica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. b Mestrado em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. c Doutorado em Sa?de P?blica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Resumo

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo analisar a qualidade da declara??o da idade nos registros de ?bito no Brasil, de 1996 a 2015. Foi realizada uma an?lise por `idade simples' dos microdados de ?bitos no Brasil no per?odo mencionado. A prefer?ncia por d?gitos terminais 0 e 5 foi avaliada usando o ?ndice de Whipple (IW). J? a prefer?ncia pelos d?gitos terminais de 0 a 9 foi expressa usando o m?todo de Myers (IM). A qualidade dos dados de idade foi alta no per?odo [IWtot = 0,55 ? 0,83 (masculino) e 0,71 ? 0,93 (feminino); IM = 0,388 ? 1,004 (masculino) e 0,430 ? 1,589 (feminino)]. A qualidade da informa??o foi mais satisfat?ria entre homens e n?o houve tend?ncia significativa a uma melhora, sugerindo sua estabilidade durante os 20 anos analisados. Foi encontrada prefer?ncia pelo d?gito terminal 0 (zero) principalmente entre mulheres. Concluiu-se que os dados de ?bito no Brasil, com rela??o ? idade, s?o satisfat?rios, podendo ser utilizados em an?lises demogr?ficas e epidemiol?gicas.

Palavras-chave: Qualidade de dados; ?ndice de Whipple; ?ndice de Myers; Mortalidade; Sistemas de informa??o.

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Abstract

This article presents the results of a research aimed at analyzing the quality of the information about the age on the death registers in Brazil, from 1996 to 2015. An analysis was performed by simple age of the deaths microdata in Brazil for that period. The preference for the last digits 0 and 5 was evaluated using the Whipple index (IW), while the preference for the last digits from 0 to 9 was expressed using the Myers (IM) method. The quality of the age data was high in the period [IWTtot = 0.55 - 0.83 (male) and 0.71 - 0.93 (female); IM = 0.388 - 1.004 (male) and 0.430 ? 1.589 (female)]. The quality of the information was more satisfactory among men, and there was not a significant trend in the improvement suggesting stable quality during the 20 years analyzed. The preference was given to the last digit 0, mainly among women. It was concluded that data from death registers in Brazil regarding the age are satisfactory and can be used in demographic and epidemiological analyses.

Keywords: Data quality; Whipple index; Myers index; Mortality; Information systems.

Resumen

Este art?culo presenta los resultados de una investigaci?n que tuvo como objetivo analizar la calidad de la declaraci?n de la edad en los registros de ?bito en Brasil, desde 1996 hasta 2015. Se realiz? el an?lisis por edad simple de los microdatos de ?bitos en Brasil en el periodo mencionado. La preferencia por d?gitos finales 0 y 5 fue evaluada usando el ?ndice de Whipple (IW). La preferencia por los d?gitos finales desde 0 hasta 9 fue expresada usando el m?todo de Myers (IM). La calidad de los datos de edad fue alta en el per?odo [(IWtot = 0,55 - 0,83 (masculino) y 0,71 - 0,93 (femenino), IM = 0,388 - 1,004 (masculino) y 0,430 - 1,589 (femenino)]. La calidad de la informaci?n fue m?s satisfactoria entre hombres y no hubo tendencia significativa en la mejora, sugiriendo estabilidad en la calidad en los 20 a?os analizados. Se encontr? una preferencia por el d?gito terminal 0 principalmente entre mujeres. Se concluye que los datos de ?bito en Brasil con relaci?n a la edad son satisfactorios y pueden ser utilizados en an?lisis demogr?ficos y epidemiol?gicos.

Palabras clave: Calidad de datos; ?ndice de Whipple; ?ndice de Myers; Mortalidad; Sistemas de informaci?n.

INFORMA??ES DO ARTIGO

Contribui??o dos autores: Concep??o e desenho do estudo: Jos? Henrique Costa Monteiro da Silva e Raphael Mendon?a Guimar?es. Aquisi??o, an?lise ou interpreta??o dos dados: F?tima Val?ria Lima Jacques e Raphael Mendon?a Guimar?es. Reda??o do manuscrito: F?tima Val?ria Lima Jacques, Jos? Henrique Costa Monteiro da Silva e Raphael Mendon?a Guimar?es. Revis?o cr?tica do conte?do intelectual: F?tima Val?ria Lima Jacques e Raphael Mendon?a Guimar?es.

Declara??o de conflito de interesses: este trabalho n?o apresenta conflito de interesses.

Fontes de financiamento: nenhuma.

Considera??es ?ticas: o presente estudo utilizou dados secund?rios provenientes de bases p?blicas, sem qualquer tipo de identifica??o individual. Desta forma, em conformidade com a resolu??o 466/2012, e com a resolu??o 510/2016, o projeto ficou isento de submiss?o ao Comit? de ?tica em Pesquisa.

Agradecimento/Contribui??es adicionais: n?o h?.

Hist?rico do artigo: submetido: 06 set. 2018 | aceito: 27 dez. 2018 | publicado: 29 mar. 2019.

Apresenta??o anterior: n?o houve.

Licen?a CC BY-NC atribui??o n?o comercial. Com essa licen?a ? permitido acessar, baixar (download), copiar, imprimir, compartilhar, reutilizar e distribuir os artigos, desde que para uso n?o comercial e com a cita??o da fonte, conferindo os devidos cr?ditos de autoria e men??o ? Reciis. Nesses casos, nenhuma permiss?o ? necess?ria por parte dos autores ou dos editores.

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Introdu??o

Na maioria das pesquisas, os dados quantitativos s?o coletados por meio de question?rios e entrevistas. Quando esses instrumentos s?o autoaplicados, frequentemente, ocorre subestima??o ou superestima??o sistem?tica de certas informa??es e par?metros cl?nicos, o que pode levar a erros de interpreta??o1.

A idade ? uma vari?vel demogr?fica amplamente utilizada para an?lises descritivas e estat?sticas da estrutura populacional e para previs?o do crescimento da popula??o, j? que muitos dados demogr?ficos e socioecon?micos s?o atribu?dos ? idade e ao sexo2. Al?m disso, a relev?ncia da informa??o da idade na epidemiologia e sa?de p?blica ? evidente, uma vez que a idade do indiv?duo ? considerada em diversas situa??es, desde o desenvolvimento do perfil de risco at? o diagn?stico, manejo e progn?stico de uma doen?a3.

O registro incorreto de informa??es ? um fen?meno comum nos pa?ses em desenvolvimento e constitui um dos maiores desafios ? demografia4. As irregularidades mais comuns relacionadas ao registro de idade s?o as prefer?ncias por certos d?gitos e o aumento da idade em torno de algumas idades5,6. Esses dados frequentemente exibem alta ocorr?ncia em idades redondas ou atraentes, como n?meros pares e m?ltiplos de cinco5. Desta forma, a avalia??o da informa??o sobre a idade ? considerada uma medida de qualidade e consist?ncia dos dados6.

Quando medida adequadamente, a probabilidade de frequ?ncia de cada d?gito terminal (0 a 9) ? de cerca de 10%. H?, contudo, uma maior frequ?ncia observada para os d?gitos finais zero ou cinco5,7. Essa prefer?ncia por arredondar n?meros pode mascarar ou exagerar as diferen?as reais entre as popula??es e tamb?m explicar por que as diferen?as entre as estimativas medidas e relatadas pelo pr?prio indiv?duo variam entre as culturas. Para contabilizar esse vi?s e explorar todo o potencial de detec??o da fabrica??o de dados, as prefer?ncias por declara??o de d?gitos finais devem ser avaliadas em diferentes fontes de informa??o8.

A precis?o dos dados relativos ao registro de idade varia de um pa?s para outro e depende de in?meros fatores, associados principalmente a problemas na coleta e tabula??o, bem como ? falta de um fluxo de informa??es eficiente nos registros administrativos e pesquisas populacionais9-11. ? importante destacar que a boa acur?cia da informa??o sobre a idade ? vital para a formula??o adequada de pol?ticas p?blicas. No que diz respeito aos censos demogr?ficos e ?s pesquisas sobre outras informa??es populacionais, como a Pesquisa Nacional por Amostras de Domic?lio (Pnad), h? uma rotina de avalia??o da qualidade das declara??es, assim como da magnitude e do dimensionamento de eventuais erros existentes1. Esta rotina inclui estrat?gias que v?o desde o desenho da amostra mestra, atrav?s do planejamento do marco amostral, passando pela cria??o de perguntas, e o uso de ferramentas e sistemas no processamento de dados. Os registros administrativos, no entanto, devido ? sua natureza, possuem uma l?gica distinta de avalia??o da qualidade dos dados, e isto representa muitas vezes um desafio para a obten??o de estat?sticas confi?veis de mortalidade, que muitas vezes consistem nos ?nicos indicadores dispon?veis para a realiza??o de an?lises da situa??o de sa?de da popula??o12. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi analisar a qualidade da declara??o da idade nos registros de ?bito no Brasil, segundo o sexo de 1996 a 2015.

Jacques FVL, Monteiro-da-Silva JHC, Guimar?es RM

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M?todos

Desenho de estudo

Trata-se de estudo ecol?gico para a avalia??o da qualidade da informa??o.

Fonte de dados

Foram utilizados os microdados referentes aos ?bitos no Brasil, por unidade da federa??o (UF), posteriormente compilados em um banco de dados nacional, no per?odo de 1996 a 2015. Os dados foram extra?dos do Sistema de Informa??es sobre Mortalidade (SIM), disponibilizados pelo Minist?rio da Sa?de.

An?lise de dados

Com o objetivo de assegurar maior precis?o na an?lise, considerou-se o diferencial por sexo. Primeiramente, foi realizada uma inspe??o visual da pir?mide et?ria por idade simples, verificando distor??es em torno de d?gitos espec?ficos (como 0 e 5, por exemplo), para idades como 40, 45, 50, 60 anos. Nestas idades, quando h? problemas na qualidade dos dados, ? poss?vel observar pontos de inflex?o na distribui??o et?ria para ambos os sexos.

Para avaliar a qualidade das declara??es das idades nos registros de ?bito, no per?odo analisado, foram utilizados dois m?todos que indicam o n?vel de qualidade desses dados. Estes indicadores s?o extensamente descritos no Manual II das Na??es Unidas13. A prefer?ncia por d?gitos na declara??o da vari?vel `idade', segundo o sexo, foi determinada usando os m?todos de Whipple e Myers, e avaliada estatisticamente utilizando-se teste de ader?ncia baseado no teste de qui-quadrado de Pearson, assumindo que a frequ?ncia esperada de cada d?gito seja a mesma (ou seja, 10%). Estes ?ndices s?o aplic?veis quando a idade ? referida em `anos simples'.

?ndice de Whipple (IW)

O m?todo de Whipple ? aplicado para detectar prefer?ncias por d?gitos terminais 0 e 5 no grupo populacional de 23 a 62 anos de idade. A op??o por este intervalo de idade se d? pelo fato de se assumir que as idades mais jovens e mais idosas apresentam maior imprecis?o na informa??o13.

O c?lculo do ?ndice de Whipple para um d?gito espec?fico segue a seguinte l?gica: o numerador representa a soma das popula??es com idades terminadas no d?gito pelo qual elas t?m prefer?ncia e que se deseja avaliar, dentro do intervalo de 23 a 62 anos; o denominador representa a soma de todas as popula??es deste intervalo et?rio dividida por 10, por se tratar de uma avalia??o de um d?gito entre 10 poss?veis. A prefer?ncia pelo d?gito 5, ?ndice IW5, por exemplo, ? ilustrada na equa??o (1). As vari?veis Px representam as popula??es com declara??o de idade x.

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Considera-se, para a classifica??o da qualidade, a partir deste ?ndice, o disposto na Tabela 1. Tabela 1 ? Classifica??o de atra??o geral pelo ?ndice de Whipple

N?vel de Atra??o Preciso Pouco preciso Aproximado Grosseiro Muito grosseiro

?ndice de Whipple 99,0 ? 104,9 105,0 ? 109,9 110,0 ? 124,9 125,0 ? 174,9 175,0 ou mais

Fonte: United Nations (1955)13.

O c?lculo para o conjunto de idades que terminam em 0 ou 5 foi feito de maneira an?loga ao descrito anteriormente e ? apresentado na equa??o (2).

Adicionalmente, foi utilizado o ?ndice de Whipple modificado, que permite a an?lise de atra??o global por todos os d?gitos14. A modifica??o p?s no denominador a soma da popula??o por grupos quinquenais nos quais a idade com o d?gito a ser analisado ? o ponto m?dio do grupo, calculado da forma demonstrada pela equa??o (3):

Finalmente, o ?ndice total de Whipple, modificado, apresenta-se na equa??o (4). Conforme a equa??o ilustra, os resultados deste ?ndice s?o discutidos a partir do desvio do ?ndice modificado apresentado na equa??o (3) com rela??o ? unidade.

Neste caso, considera-se que, quanto mais pr?ximo de zero, melhor ? a qualidade da informa??o.

?ndice de Myers (IM)

O m?todo de Myers, por sua vez, permite determinar a prefer?ncia para cada d?gito terminal (0 a 9) nas idades que variam de 10 a 99 anos. Este m?todo assume que a distribui??o por d?gito terminal ? uniforme (ou seja, 10% de frequ?ncia para cada d?gito). Atrav?s deste ?ndice, ? poss?vel verificar a atra??o por d?gitos, o que implica na qualidade da informa??o. Para a implementa??o deste m?todo, a Organiza??o das Na??es Unidas prop?s, em 1955, a soma da popula??o que possui o mesmo d?gito final na idade declarada ( ) para o grupo de 10 a 89 anos (G1) e para o grupo de 20 a 99 anos (G2). Neste m?todo, a parcela da popula??o com idade acima de 100 anos n?o ? contabilizada, pois sup?e-se que ela n?o afete significativamente os resultados14. Como a popula??o tende a ser menor com o avan?o dos d?gitos finais (ou seja, para cada d?gito sucessivo, a popula??o ? mais velha e menor que a popula??o anterior), essas popula??es s?o multiplicadas por coeficientes (x) no intervalo de 1 a 10 para o grupo G1, e pelos complementos (10 ? x) para o grupo G2, conforme as equa??es (5) e (6):

Jacques FVL, Monteiro-da-Silva JHC, Guimar?es RM

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