PORTUGUÊS



PORTUGUÊS

PARTE I – MÚLTIPLA ESCOLHA

Leia o texto abaixo para resolver as primeiras 10 questões desta prova.

A LÍNGUA VOLÁTIL

Alexandre Garcia

Eu tentei mudar, pelo home bank em meu computador, o valor de uma transferência de dinheiro, que faço todos os meses. Em lugar da mudança, veio uma mensagem: “não é possível alterar transferências recorrentes”. Fiquei intrigado. Recorrente? Que diabo será isso? Era a palavra-chave que poderia decifrar a mensagem. Recorri ao Aurélio, o Pai dos Burros. E lá descobri que recorrente é 1. o que recorre; 2.o que retorna ao ponto de partida ou o que ressurge depois de desaparecido; 3.um processo que pode ser indefinidamente continuado, uma vez que seus efeitos parciais se transformam em causas e efeitos semelhantes; e 4. dois nervos laríngeos.

Pronto. Estava eu diante de um mistério. O banco estava falando chinês, grego ou suaíli comigo. Fiquei totalmente perdido. Esperei uns dias, deixando passar o dia da transferência, e aí anulei a ordem e fiz outra, com outro valor. Deu certo. Mas até hoje o banco está me devendo a tradução do seu recorrente.

Trabalhei quase 10 anos em banco, enquanto terminava meus estudos, mas o máximo da linguagem daquela época era o sacado à epígrafe, todavia, palavras assim que não resistiam ao dicionário. Hoje não. O banco insiste em me informar que disponibilizou tais e tais serviços. E fico esperando que ele me ofereça algo. Mas só disponibiliza. Eu descobri que o banco inventara a palavra para traduzir o available dos meus manuais em inglês. Talvez por isso, quando não estou entendendo o que me dizem os terminais eletrônicos, aperto logo na opção English, porque em português fica difícil traduzir para a língua da gente.

Outro dia, uma gerente me deu um susto. Pedi a ela que na segunda-feira transferisse da minha conta, 3 mil reais para realizar um aporte de capital. Ela me confirmou: “Então, dia 23, vou estar transferindo de sua conta 3 mil reais.” Reagi: “Pelo amor de Deus, não! Se você ficar transferindo 3 mil reais da minha conta durante o dia 23, vai zerar a conta. Só transfira uma vez, não fique transferindo!” Tudo o que ela tinha a fazer era transferir. E não estar transferindo. Mas ela não entendeu. Falava a outra língua.

Transmitindo em outra freqüência, um banco me ofereceu uma linha de crédito para equalizar o caixa. Cáspite! Equalizar a caixa de som, tudo bem. Mas o caixa! Recusei o crédito para comprar os tais equalizadores de caixa. Motivo: não sei nem nunca vou saber do que se trata.

Certa feita, disquei para reclamar da anuidade do cartão de crédito, que cobram de mim e dispensam de dezenas de amigos meus com menos tempo como clientes. Usei um 0800 e veio a mensagem “para ocorrência registrada, digite cinco”. Fiquei mudo. Até onde sei, ocorrência registrada é na delegacia de polícia. Desisti. Continuo pagando a anuidade e meus amigos continuam me gozando.

Quando era bancário, há 30 anos, tínhamos o balcão para nos proteger dos clientes. Hoje, a nova barreira é a língua. Os bancos estão usando uma linguagem para ninguém entendê-los e não serem importunados com detalhes. Agora mesmo recebi uma carta do banco, me informando de que existe “grande falta de liquidez e crescimento da volatilidade”. Quer dizer, se falta liquidez é porque sobra solidez? O melhor é fechar as janelas, para que tudo não se volatize.

Alexandre Garcia. In: Classe - Revista de Bordo da TAM. nº 95, 2002. p.24

QUESTÃO 31

Assinale a alternativa que melhor explicita a idéia central do texto:

A) Alguns termos e expressões devem ser definitivamente eliminados de nosso vocabulário.

B) Os serviços oferecidos pelos bancos não atendem às necessidades dos correntistas.

C) A língua torna-se, em algumas situações, um elemento dificultador da interação.

D) A linguagem deve ser adequada aos diferentes espaços sociais em que é utilizada.

QUESTÃO 32

Todas as alternativas abaixo deixam transparecer, através de elementos lingüísticos, o posicionamento crítico do autor em relação ao uso da linguagem, exceto em:

A) “Eu tentei mudar, pelo home bank em meu computador, o valor de uma transferência de dinheiro...”

B) “... Deu certo. Mas até hoje o banco está me devendo a tradução do seu recorrente...”

C) “Eu descobri que o banco inventara a palavra para traduzir o available dos meus manuais em inglês...”

D) “...aperto logo na opção English porque em português fica difícil traduzir para a língua da gente...”

QUESTÃO 33

Em todas as alternativas abaixo, as relações semânticas estabelecidas pelos conectores grifados estão adequadamente explicitadas, exceto em:

A) “... aperto logo na opção English, porque em português fica difícil...” (explicação)

B) “Trabalhei quase 10 anos em banco, enquanto terminava meus estudos...” (temporalidade)

C) “O banco inventara a palavra para traduzir o available dos meus manuais..” (finalidade)

D) “Continuo pagando a anuidade e meus amigos continuam me gozando...” (espacialidade)

QUESTÃO 34

Observe o uso do ponto final nas orações: “Mas ela não entendeu. Falava a outra língua”.

Se retirarmos o ponto final e fizermos a junção das duas orações num único período, será possível usar o conectivo_______________ estabelecendo uma relação __________________.

Assinale a alternativa que completa adequadamente as lacunas:

A) Por isso – consecutiva

B) Logo – conclusiva

C) Uma vez que – explicativa

D) Portanto – causal

QUESTÃO 35

Assinale a alternativa em que o termo que tem função gramatical diferente.

A) O valor de uma transferência de dinheiro, que faço todos os meses.

B) O banco insiste em informar que disponibilizou tais e tais serviços.

C) Era a palavra-chave que poderia decifrar a mensagem.

D) Reclamar da anuidade do cartão de crédito que cobram de mim.

QUESTÃO 36

Assinale a alternativa em que o termo e não cumpre a função de coordenar orações:

A) “... me informando de que existe “grande falta de liquidez e crescimento da volatilidade”.

B) “Desisti. Continuo pagando a anuidade e meus amigos continuam me gozando.”

C) “Os bancos estão usando uma linguagem para ninguém entendê-los e não serem importunados...”

D) “...que cobram de mim e dispensam de dezenas de amigos meus com menos tempo ...”

QUESTÃO 37

Assinale a alternativa em que se verifica o uso de linguagem conotativa:

A) “Era a palavra-chave que poderia decifrar a mensagem.”

B) “Equalizar a caixa de som, tudo bem.”

C) “Mas até hoje o banco está me devendo a tradução do seu recorrente.”

D) “O melhor é fechar as janelas, para que tudo não se volatize.”

QUESTÃO 38

Nas alternativas abaixo, verifica-se a ocorrência de expressões próprias da linguagem oral, exceto em:

A) “Que diabo será isso?...”

B) “Até onde sei ...”

C) “Cáspite!..”

D) “Pelo amor de Deus, não!..”

QUESTÃO 39

A oração “transmitindo em outra freqüência” significa que o autor

A) enviaria informações usando outro código lingüístico.

B) transmitiria a mensagem com freqüência regular de tempo.

C) apresentaria uma nova situação para exemplificar o fato.

D) comprovaria a situação explicando novamente o fato.

QUESTÃO 40

Considere o seguinte fragmento:

“Ela me confirmou: “Então, dia 23, vou estar transferindo de sua conta 3 mil reais.” Reagi: “Pelo amor de Deus, não! Se você ficar transferindo 3 mil reais da minha conta durante o dia 23, vai zerar a conta. Só transfira uma vez, não fique transferindo!” Tudo o que ela tinha a fazer era transferir. E não estar transferindo. Mas ela não entendeu. Falava a outra língua.”

O que provoca a reação assustada do autor diante da confirmação da gerente foi

A) a presença de estruturas sintáticas consideradas ambíguas.

B) o uso de um vocabulário característico do jargão econômico.

C) a presença de estruturas sintáticas excessivamente informais.

D) o uso do gerúndio expressando a continuidade da ação verbal.

As questões de 41 a 43 referem-se ao Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, de Padre Antônio Vieira.

QUESTÃO 41

Assinale a alternativa cuja interpretação não é pertinente ao fragmento destacado abaixo:

“Se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem ou pode dar bastante de não os perdoar?”

A) O argumento pondera sobre a dupla recompensa do benefício que ambos os lados haverão de aproveitar.

B) O recurso do texto fortalece a súplica e intensifica o desfavorecimento do suplicante.

C) O texto apresenta razões convincentes para Deus mostrar-se magnânimo com os pecadores.

D) O questionamento expresso pela pergunta direta incide em tratamento de intimidade com Deus e de proximidade a Ele.

QUESTÃO 42

Em todas as alternativas analisa-se de modo adequado o sermão, exceto em:

A) O pregador usa da analogia entre o fato histórico da invasão holandesa e o salmo da epígrafe, estabelecendo relação dialética com Deus que, segundo ele, parece proteger os inimigos.

B) A retórica busca arrebatar o ouvinte para despertar sua consciência, convidando-o a pensar e agir conforme os preceitos bíblicos e a defesa do império português.

C) A linguagem cultista e rebuscada, com emprego de trocadilhos e jogos verbais são artifícios prejudiciais às idéias, à lógica e ao raciocínio dos argumentos desenvolvidos pelo orador.

D) Segundo a lógica do pregador, quanto maior o pecado, maior a manifestação da glória e benignidade de Deus e, por isso, o apelo para a misericórdia divina.

QUESTÃO 43

Em todas as alternativas analisa-se de modo correto os recursos de linguagem empregados no sermão, exceto em:

A) As passagens do evangelho, usadas como argumentos de autoridade, fazem o ouvinte desacreditar na veracidade das palavras do pregador.

B) O uso do português mesclado ao latim reflete a erudição e a cultura do orador, e ainda confere caráter solene ao sermão.

C) A referência a Camões é exemplo de intertextualidade do autor com a tradição literária do Ocidente.

D) A queixa e a ameaça são recursos que exprimem ora as desatenções da misericórdia divina, ora a advertência contra a demorada ajuda de Deus.

QUESTÃO 44

De acordo com a leitura do livro O homem, de Aluísio Azevedo, assinale a afirmativa incorreta:

A) A fixação do caso patológico da protagonista Magdá é uma das características que classifica o romance como naturalista.

B) Na fantástica Ilha do Segredo, os desejos eróticos da personagem são interditados, uma vez que só se concretizam no plano da realidade.

C) Através do médico, caracteriza-se a concepção científica de que o homem é produto de seu sentido natural, sujeito às leis da matéria.

D) A personagem Magdá encarna o papel histórico da mulher na sociedade do século XIX, em especial porque condena o desejo feminino ao silêncio.

QUESTÃO 45

Nas alternativas abaixo, a passagem e a interpretação que a precede referem-se ao narrador de O homem. Anteponha V às verdadeiras e F às falsas.

I) Narra com verossimilhança todos os sonhos e os delírios da personagem, como se fosse algo normal.

Não fui eu, papai, foi minha natureza; foi minha carne; foram os meus instintos.

II) II. Narra em 3ª pessoa, inserindo pequenos comentários e afastando-se, portanto, da postura impessoal.

Um achado! Ela é que foi um bom achado para Magdá.

III) III. Coloca, nas frases ditas pelo médico, a antecipação do desfecho trágico da protagonista.

_ (...) fique sabendo para seu governo que você está mais é preparando uma doida de primeira ordem! Ora aí tem!

Indique a seqüência correta:

A) F, V, F.

B) F, F, V.

C) V, V, F.

D) V, V, V.

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