No mundo da notícia: os noticiários televisivos do horário ...

[Pages:23]Marta Lima ? No mundo da not?cia: os notici?rios televisivos do hor?rio nobre da RTP1 e TVI Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,, Vol. XXI, 2011, p?g. 171-193

No mundo da not?cia: os notici?rios televisivos do hor?rio nobre da RTP1

e TVI1

Marta Lima2 Resumo: A televis?o assume-se como um dos principais meios de comunica??o social dos nossos dias, tanto na esfera do entretenimento, como na esfera informativa. ?, precisamente, sobre esta ?ltima que nos debru?aremos ao longo do presente artigo, tendo por base uma investiga??o fundeada na an?lise do conte?do e da estrutura de quarenta e seis emiss?es de notici?rios televisivos do hor?rio nobre de dois operadores da televis?o generalista portuguesa ? RTP1 e TVI ?, atrav?s da qual procur?mos revelar as principais similitudes e assimetrias existentes entre estes. Palavras-chave: Comunica??o social; Televis?o; Informa??o.

Introdu??o

Nas sociedades contempor?neas, a televis?o assume um papel central, n?o s? enquanto instrumento de entretenimento, mas tamb?m como instrumento de informa??o. De facto, a televis?o ocupa um lugar primordial no quotidiano de muitos actores sociais, o que agudiza a necessidade de lan?armos sobre ela um olhar mais atento. A este n?vel, tal como sublinha Nuno Goulart Brand?o (2005), importa considerar o dispositivo televisivo como uma das institui??es que domina a vida p?blica, ve?culo de inculca??o de uma percep??o do mundo em que vivemos, atrav?s da constru??o de uma teia de significados e de sentidos sobre diversas esferas societais.

1 O presente artigo reproduz parcialmente a Disserta??o de Licenciatura em Sociologia apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Setembro de 2008. A referida Disserta??o, intitulada "No mundo da not?cia: an?lise comparativa dos notici?rios televisivos do hor?rio nobre da RTP1 e TVI", foi desenvolvida sob a orienta??o do Professor Doutor Jo?o Teixeira Lopes.

2 Investigadora do Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Funda??o Universidade do Porto (ISFLUP) e bolseira de Doutoramento da Funda??o para a Ci?ncia e a Tecnologia (FCT). Endere?o electr?nico: martalima999@gmail. com

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Pese embora o facto de o entretenimento englobar a maior fatia da programa??o televisiva, mormente devido ? forte presen?a de concursos e de telenovelas na televis?o portuguesa, a informa??o assume um papel extremamente relevante, mormente se tivermos em considera??o o facto de a televis?o se configurar como o principal ve?culo informativo de largas franjas da popula??o portuguesa, tal como enfatizam diversos estudos e pesquisas elaboradas nesta ?rea do conhecimento.

1. Enquadramento metodol?gico

?, precisamente, sobre a esfera da informa??o televisiva que nos debru?amos no presente artigo, o qual resulta de um trabalho de investiga??o sobre a estrutura e o conte?do dos blocos informativos das 20h da RTP1 e da TVI, tendo como pano de fundo a tem?tica Telejornalismo em Portugal e a sub-tem?tica Os notici?rios do hor?rio nobre da televis?o generalista em Portugal.

Alicer?ando-nos num total de quarenta e seis emiss?es do Telejornal (RTP1) e do Jornal Nacional (TVI) transmitidas no decurso do m?s de Janeiro de 2008, procur?mos descortinar as principais semelhan?as e diferen?as existentes entre estes dois blocos informativos televisivos. Adoptando uma postura de ecletismo metodol?gico, procedemos a uma categoriza??o das vari?veis relativas ao conte?do e de algumas vari?veis concernentes ? estrutura, adaptando-as a uma an?lise de cariz quantitativo com recurso ao SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

Assim sendo, no que diz respeito ao conte?do, tivemos em considera??o nove vari?veis, as quais nos pareceram as mais adequadas depois de uma an?lise de conte?do de algumas emiss?es dos notici?rios televisivos dos tr?s operadores em investiga??o na fase explorat?ria do estudo: categoria tem?tica, intervenientes, dura??o, imagens, tipo, val?ncia, natureza, forma e ?mbito.3

A categoria tem?tica n?o ? mais do que o tema a que se refere cada not?cia apresentada, permitindo-nos aferir quais os assuntos dominantes em cada notici?rio, por um lado, e no seu c?mputo global, por outro. Para al?m da categoria tem?tica tamb?m tivemos em considera??o os intervenientes de cada pe?a noticiosa, ou seja, os actores que s?o privilegiados pelos tr?s operadores televisivos analisados nos seus espa?os informativos.4 No que concerne ? dura??o, consideramos primordial ter em linha de conta a dura??o de cada not?cia transmitida em minutos e segundos, de forma a aferir o grau de aten??o concedido a um determinado tema em cada um dos operadores televisivos analisados. No entanto, na an?lise efectuada no SPSS optamos por sintetizar os dados obtidos, englobando-os em seis categorias: menos

3 As categorias contempladas em cada uma destas vari?veis encontram-se apresentadas em anexo. 4 A defini??o das categorias abarcadas pelas vari?veis categoria tem?tica e intervenientes alicer?ou-se na investiga??o desenvolvida por Nuno Goulart Brand?o, no ?mbito da sua Disserta??o de Doutoramento, intitulada "Os Telejornais da Televis?o Generalista Portuguesa: importantes encontros quotidianos com a actualidade e para a constru??o social da realidade".

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de um minuto; entre um e dois minutos; entre dois e tr?s minutos; entre tr?s e quatro minutos; entre quatro e cinco minutos; mais do que cinco minutos. Uma outra dimens?o analisada ao n?vel do conte?do prende-se com a (in)exist?ncia de imagens ao longo da apresenta??o da not?cia. Assumindo um papel central no presente trabalho, esta dimens?o permitir-nos-? vislumbrar o peso que a imagem tem no universo noticioso televisivo. No tipo de not?cia englob?mos tr?s categorias: hist?ria, teaser e flash. A primeira categoria ? hist?ria ? diz respeito ?s pe?as noticiosas que s?o transmitidas ao telespectador naquele instante, n?o o remetendo para uma fase posterior desse bloco informativo para um maior aprofundamento do tema. Nos ant?podas desta primeira categoria encontramos o teaser, o qual tem como objectivo fidelizar o p?blico, atrav?s da apresenta??o de uma frase curta que encaminha o assunto destacado para uma fase posterior do notici?rio. Em terceiro lugar, encontramos a categoria flash, a qual se diferencia da categoria hist?ria pelo facto de se referir a todas as not?cias que s?o apresentadas pelo pivot sem o acompanhamento de uma reportagem previamente produzida por um jornalista, sendo estas complementadas, na maioria dos casos, com imagens que v?o sendo emitidas ? medida que o pivot apresenta a not?cia. Opt?mos por incluir nesta categoria todas as not?cias apresentadas ?nica e exclusivamente pelo pivot, mesmo nos casos em que a estas not?cias se agregam declara??es dos visados pela not?cia. Geralmente, nesta ?ltima categoria as pe?as noticiosas t?m uma dura??o muito curta, n?o ultrapassando os 60 segundos. A val?ncia de cada pe?a noticiosa permite-nos distinguir as not?cias negativas, positivas e neutras. Nesta distin??o tivemos em linha de conta a categoria tem?tica de determinada not?cia, os termos lingu?sticos utilizados e a pr?pria forma como a pe?a noticiosa foi elaborada. Ao n?vel da natureza da not?cia, procedemos a uma diferencia??o entre not?cias hard, not?cias soft e auto-informa??o. As not?cias hard n?o s?o mais do que os temas do dia, os quais perdem rapidamente a sua actualidade e, por esse motivo, t?m de ser noticiados nesse dia e n?o num outro. No p?lo oposto, as not?cias soft remetem-nos para todas as not?cias intemporais, cuja transmiss?o poder? ser feita em qualquer dia. Em terceiro lugar temos a auto-informa??o, a qual engloba todas as not?cias relativas ? actividade do operador televisivo ou, no caso dos operadores privados, do grupo empresarial a que este pertence.

Ainda ao n?vel do conte?do, a forma da not?cia remete, tal como a designa??o indica, para a forma como esta ? apresentada ao telespectador: em diferido, em directo ou em relato misto. A primeira forma ? diferido ? abarca todas as pe?as noticiosas que s?o elaboradas e gravadas antes dos blocos informativos come?arem e que s?o emitidas posteriormente. Por outro lado, temos as not?cias em directo, o que pressup?e uma liga??o ao local do acontecimento que est? a ser noticiado ou ao est?dio, pelo que tamb?m incluiremos nesta categoria todos os coment?rios feitos neste palco. O relato misto articula as duas formas anteriores, conjugando pe?as noticiosas previamente constru?das com reportagens produzidas na hora em que o notici?rio est? a decorrer. Por fim, o ?mbito da not?cia diz respeito ao contexto em que esta ? elaborada ou ao per?metro que ? englobado por essa pe?a noticiosa. Neste ponto, procur?mos evitar uma dicotomia entre not?cias nacionais e not?cias internacionais, o nos levou a alargar

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as categorias em an?lise e a contemplar seis ?mbitos noticiosos, quatro nacionais ? nacional, Lisboa, Porto e resto do pa?s ? e dois internacionais ? internacional e Uni?o Europeia. No que concerne aos contextos nacionais, consideramos de todo o interesse a distin??o entre Lisboa, Porto e o resto do pa?s, na medida em que esta diferencia??o nos permitiu aferir o grau de import?ncia concedido a cada um destes contextos e constatar se a percep??o de uma sobre-representa??o do mundo urbano nos blocos informativos televisivos se verifica na realidade. Ao n?vel internacional, a fragmenta??o entre not?cias internacionais e not?cias relativas ? Uni?o Europeia pareceu-nos apropriada, at? pelas pr?prias ila??es que daqui poder?amos retirar a respeito da identifica??o dos portugueses com a Europa, partindo do pressuposto que a televis?o espelha os valores e representa??es s?cio-culturais dominantes.

No que concerne ? estrutura dos blocos informativos televisivos, julgamos essencial contemplar as seguintes dimens?es: not?cias de abertura e de encerramento, dura??o do notici?rio e t?tulos/destaques. Ao passo que as duas primeiras dimens?es se sustentaram numa metodologia de cariz quantitativo, com base no SPSS, em estreita rela??o com as dimens?es relativas ao conte?do, a ?ltima alicer?ou-se numa an?lise mais qualitativa. Importa ressalvar que na dura??o do notici?rio contemplaremos a dura??o global ? incluindo intervalos publicit?rios ? e a dura??o ?til ? dura??o do notici?rio sem intervalos publicit?rios.

2. O caso do Telejornal (RTP1)

Os vinte e tr?s blocos informativos transmitidos pelo operador p?blico de televis?o analisados no decurso da presente investiga??o tiveram uma dura??o global de 1.401 minutos, o que equivale a 23 horas e 35 minutos de emiss?o. Excluindo os 161 minutos ocupados pelos intervalos publicit?rios, temos uma dura??o ?til de 1.240 minutos, correspondentes a 20 horas e 67 minutos de transmiss?o de pe?as noticiosas. Em termos m?dios, isto significa uma dura??o global de 61 minutos e uma dura??o ?til de 54 minutos por notici?rio. Os intervalos com publicidade ocuparam, em m?dia, 7 minutos.

No que se refere ao conte?do dos blocos informativos da RTP1 em an?lise, constat?mos que a "pol?tica" se configura como a categoria tem?tica mais recorrente nos espa?os de informa??o do operador p?blico, contemplando 21% num total de 767 pe?as noticiosas em estudo. Seguem-se as categorias "economia e neg?cios", com 10,8%, "futebol e sa?de", ambos com 10%.

Apesar de n?o apresentarem uma percentagem t?o expressiva os "acidentes e cat?strofes" (6,6%), os "assuntos militares e policiais" (5,3%), os "tribunais e justi?a" (4,8%), a "habita??o e obras p?blicas" e os "outros desportos" (ambos com 4,2%), tamb?m assumem uma relev?ncia assinal?vel nos notici?rios em an?lise. De salientar que as categorias "agricultura e pescas" e "com?rcio e servi?os" n?o foram alvo de qualquer not?cia. As categorias "pol?tica" e "economia e neg?cios"

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dominam claramente as pe?as noticiosas apresentadas pelo operador p?blico de televis?o, o que nos permite desocultar a import?ncia de alguns crit?rios jornal?sticos no processo de selec??o noticiosa, nomeadamente a proximidade, a negatividade, a visibilidade p?blica, o factor ruptura e o pendor espectacular, os quais assumem um peso consider?vel na triagem dos acontecimentos a noticiar. No que se refere ?s not?cias sobre pol?tica, importa salientar a for?a que as m?quinas de comunica??o pol?tica det?m na actualidade, captando a aten??o dos media para as ac??es desenvolvidas pelos diferentes partidos pol?ticos. Neste ponto, importa real?ar a perspectiva de Estrela Serrano (2002) a respeito da vida pol?tica nos nossos dias. Para a autora, esta ? influenciada pelo marketing pol?tico, pelos meios de comunica??o, pelas sondagens e pelos conselheiros de comunica??o, o que nos ajuda a compreender a relev?ncia detida por esta categoria nos notici?rios televisivos em an?lise (Serrano, 2002). A isto acresce a percep??o que os jornalistas t?m acerca dos temas que se encontram na ordem do dia. Em todo este processo, a necessidade de atrair o p?blico e de ir de encontro aos seus interesses desempenha um papel fundamental, o que justifica a aposta em determinados conte?dos nos blocos informativos televisivos. ?, precisamente, neste ponto que poderemos enquadrar as pe?as noticiosas alusivas ao futebol e ? ?rea da sa?de, as quais suscitam o interesse dos telespectadores, o que se reflecte nas emiss?es do Telejornal analisadas. Atentando nas quatro categorias tem?ticas mais destacadas, em conjunto, torna-se evidente a penetra??o da l?gica comercial no universo informativo, nomeadamente ao n?vel da necessidade de capta??o de audi?ncias, o que se torna numa quest?o especialmente relevante se tivermos em linha de conta o facto de estarmos a falar do operador estatal de televis?o, com obriga??es no dom?nio do servi?o p?blico de televis?o.

Entre os 1.431 intervenientes nas pe?as noticiosas em an?lise, o "cidad?o comum" apresenta um claro destaque, estando presente em 20,5% das pe?as noticiosas, logo seguido pelas pe?as noticiosas "sem intervenientes" (18,6%). Apesar de n?o apresentarem percentagens t?o significativas, importa real?ar o peso que os "ministros e outros membros do Governo" (5,8%), os "deputados da Assembleia da Rep?blica" (4,3%), os "dirigentes partid?rios" (4%), os "autarcas" (3,5%), os "profissionais ligados ao futebol" (3,4%) e os "membros de organismos p?blicos" (3,2%) t?m nos notici?rios do operador p?blico de televis?o estudados. Contrariamente, intervenientes como o "Presidente do Supremo Tribunal de Justi?a", o "Provedor de Justi?a" e os "funcion?rios p?blicos" s? apareceram em 0,1% do total das not?cias, o que equivale a apenas uma pe?a noticiosa. O Presidente da Assembleia da Rep?blica constitui-se como o ?nico interveniente a n?o ser contemplado em qualquer pe?a noticiosa analisada. Tendo em considera??o estes dados, constatamos que o cidad?o comum se constitui como uma das principais fontes a que os profissionais do campo jornal?stico recorrem na elabora??o das pe?as noticiosas, o que poder? decorrer do facto de os telespectadores se identificarem mais prontamente com intervenientes que lhes sejam pr?ximos em termos sociais. Neste ponto, a valoriza??o da opini?o p?blica surge como um elemento fundamental, tal como salienta J?r?me Bourdon (2006). De acordo com o autor, ? medida que os dispositivos medi?ticos se foram massificando, a opini?o p?blica ganhou

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um peso acrescido nos meios de comunica??o social, o que se torna especialmente vis?vel no campo informativo onde esta assume uma import?ncia assinal?vel (Bourdon, 2006). Em segundo lugar, encontramos as pe?as noticiosas sem intervenientes, o que se configura como um dado interessante, revelador da necessidade de se sintetizar o m?ximo poss?vel as pe?as noticiosas a transmitir nos notici?rios televisivos, mormente quando estas n?o t?m um grau de import?ncia elevado. O relevo dos ministros e outros membros do Governo, dos deputados da Assembleia da Rep?blica, dos dirigentes partid?rios e dos autarcas ao n?vel das not?cias do Telejornal parece acompanhar de perto a primazia que a esfera pol?tica assume nas emiss?es estudadas. De facto, em conjunto, estes quatro intervenientes surgem em 17,6% das pe?as noticiosas, o que os coloca num patamar muito pr?ximo das not?cias sem intervenientes e do cidad?o comum e ilustra a import?ncia que a pol?tica desempenha nos blocos informativos do hor?rio nobre da RTP1 analisados. O mesmo se poder? dizer do futebol, na medida em que os profissionais ligados a este mundo tamb?m apresentam uma percentagem assinal?vel a este n?vel.

No que se refere ? dura??o, as not?cias com menos de tr?s minutos constituem a esmagadora maioria das pe?as noticiosas, reunindo 93,7% do total. No seio destas, as not?cias com menos de um minuto representam 37,5%, as not?cias entre um e dois minutos 33,4% e as not?cias entre dois e tr?s minutos 22,8%. Nos ant?podas encontr?mos as pe?as noticiosas entre quatro e cinco minutos, com 0,7% (Quadro 1).

Quadro 1 ? Dura??o das not?cias do Telejornal

DURA??O

N

%

Menos de 1 minuto

288

37,5

Entre 1 e 2 minutos

256

33,4

Entre 2 e 3 minutos

175

22,8

Entre 3 e 4 minutos

28

3,7

Entre 4 e 5 minutos

5

0,7

Mais de 5 minutos

15

2,0

TOTAL

767

100

Atentando nestes n?meros, nomeadamente se tivermos em linha de conta o facto de as pe?as noticiosas com menos de um minuto ocuparem o lugar cimeiro no total das not?cias das emiss?es do Telejornal analisadas, torna-se evidente a centralidade desempenhada pela rapidez no universo jornal?stico, mormente em televis?o, onde tudo ? feito ao minuto, como real?a Jo?o Conde Veiga (1992). Esta ?press?o de urg?ncia? ?, igualmente, frisada por Pierre Bourdieu (1997), Thomas E. Patterson (2002) e Dominique Wolton (1999), os quais reflectem sobre os impactos negativos que a rapidez tem sobre a esfera jornal?stica.

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O Telejornal tem nas imagens uma dimens?o central, o que se reflecte no recurso a estas em 99,3% do total das pe?as noticiosas. Em 767 not?cias, apenas 5 n?o contemplaram qualquer tipo de imagens ao longo da sua emiss?o. Tendo em considera??o o facto de j? termos reflectido sobre o peso assumido pela vertente visual nos notici?rios televisivos analisados e sobre a configura??o da imagem como uma das principais mais-valias do dispositivo televisivo, n?o nos deteremos mais nesta vari?vel.

No que diz respeito ao tipo de not?cia, o tipo "hist?ria" sobressai claramente, reunindo 56,8% da soma de todas as not?cias. N?o obstante, a categoria "flash" tamb?m apresenta uma percentagem significativa ? 34,8%. No p?lo oposto, a categoria "teaser" abarcou 64 not?cias num total de 767, o que equivale a uma percentagem de 8,3%. Mais uma vez fica clara a import?ncia de um trabalho pr?vio ? apresenta??o das not?cias nos blocos informativos televisivos, o que se reflecte na prepara??o de pe?as noticiosas antes da emiss?o destes. N?o obstante, importa n?o descurar a import?ncia do tipo "flash" nas emiss?es do Telejornal que foram alvo de an?lise, o que poder? ser articulado com o facto de uma parte relevante das pe?as noticiosas n?o irem al?m do primeiro minuto de emiss?o.

As not?cias neutras constituem-se como as grandes protagonistas no interior da vari?vel val?ncia, abarcando 80,1% do total das pe?as noticiosas. Apesar de n?o apresentarem uma percentagem t?o expressiva, as not?cias negativas englobam cerca de 18,1% da soma de todas as pe?as noticiosas, o que corresponde a 139 not?cias num total de 767. Pelo contr?rio, as not?cias positivas surgem em 1,8% do c?mputo global. Face a estes dados, constat?mos que o negativismo se sobrep?e claramente ? val?ncia positiva, embora as not?cias neutras apresentem uma percentagem muito superior ?s not?cias negativas. Neste ponto, a necessidade de ir de encontro a todas as franjas do p?blico e de n?o suscitar reac??es junto deste poder? ser entendida como uma das raz?es para a primazia das not?cias neutras, o que significa que os profissionais da esfera informativa do canal estatal t?m procurado ir de encontro ? diversidade do p?blico, um dos pilares centrais de um servi?o p?blico de televis?o.

Relativamente ? natureza das pe?as noticiosas, o peso das not?cias "hard" ? avassalador: 96,7%. Os restantes 3,3% s?o representados, em conjunto, pelas categorias "soft" (2,3%) e "auto-informa??o" (1%). O facto de o Telejornal apresentar uma dura??o inferior, comparativamente com o bloco informativo do hor?rio nobre da TVI, poder? justificar a primazia das not?cias do dia em detrimento das pe?as noticiosas com uma natureza "soft", na medida em que a diversifica??o dos conte?dos noticiados tende a ser tanto mais not?ria quanto maior a dura??o dos blocos informativos televisivos.

No que concerne ? forma das not?cias, o diferido sobressai claramente, com 94,8% da soma total das pe?as noticiosas. O relato misto e o directo repartem a percentagem restante, com 2,7% e 2,5%, respectivamente. Pese embora o relevo assumido pelo imediatismo na esfera da informa??o televisiva, o directo e o relato misto n?o ultrapassam, em conjunto, os 5,2% nas emiss?es do Telejornal que sustentaram a

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presente investiga??o. Mais uma vez, o facto de este n?o se prolongar muito para al?m dos sessenta minutos e de as pe?as noticiosas serem bastante concisas poder?o ser entendidos como dois motivos pass?veis de justificarem a sobre-representa??o das pe?as noticiosas em diferido. Por outro lado, volta a ser clara a import?ncia que o trabalho pr?vio assume no campo jornal?stico, at? porque n?o seria poss?vel estabelecer directos com todos os contextos noticiados no decurso do notici?rio (Quadro 2).

Quadro 2 ? Forma das not?cias do Telejornal

FORMA

N

%

Directo Diferido Relato misto

TOTAL

19

2,5

727

94,8

21

2,7

767

100

A ?ltima categoria em an?lise ? ?mbito ? tem nas not?cias nacionais a percentagem mais elevada (50,6%). Muito aqu?m desta percentagem encontr?mos as pe?as noticiosas relativas a temas internacionais e as not?cias concernentes ao resto do pa?s, com 15,6% e 15,3%, respectivamente. As not?cias referentes ? capital tamb?m apresentam uma percentagem consider?vel, reunindo 9,4% do total das pe?as noticiosas em an?lise, o que corresponde a 72 not?cias, seguindo-se a Uni?o Europeia com 7,7%. Na retaguarda, o Porto s? ? contemplado em 1,4% das not?cias, o que equivale a 11 pe?as noticiosas, muito aqu?m de Lisboa. Contrariamente a um dos elementos-chave da l?gica de um servi?o p?blico de televis?o no dom?nio da informa??o, as emiss?es do Telejornal que analis?mos n?o t?m como preocupa??o primordial noticiar aquilo que ocorre nos diversos locais do pa?s, mas sim transmitir aquilo que de mais importante acontece em termos nacionais. O facto de se procurar ir de encontro ? diversidade de p?blicos e a tentativa de encurtamento da dura??o das not?cias e do pr?prio notici?rio poder?o ser, aqui, entendidos como dois pilares centrais, pass?veis de explicarem a supremacia assumida pelo plano nacional ao n?vel dos blocos informativos do hor?rio nobre do canal p?blico de televis?o. Por outro lado, importa voltar a aludir aos elevados custos inerentes ? informa??o regional e ? exist?ncia de um programa de informa??o regional antes do notici?rio das 20h na RTP1 ? Portugal em Directo.

3. O caso do Jornal Nacional (TVI)

Analisando os vinte e tr?s notici?rios emitidos pela TVI durante o per?odo em an?lise, cheg?mos a uma dura??o global de 1.713 minutos, o que corresponde a 28

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