Os movimentos do fotojornalismo nas capas de jornais: 1

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Os movimentos do fotojornalismo nas capas de jornais: O caso da cobertura das elei??es presidenciais de 2006 na Folha de S. Paulo1

Prof. Ms. Donaldo Hadlich e Profa. Ms. Maria Alice Bragan?a, Centro Universit?rio Feevale, NH, RS.2

Resumo

O estudo avalia a aplica??o da fotografia na produ??o de "textos visuais" no contexto contempor?neo do fotojornalismo brasileiro. Trata, especificamente, de determinados movimentos da fotografia de imprensa numa atividade comunicacional bem apurada, face ? sua informa??o, imparcialidade, representatividade, publiciza??o, visibilidade, de modo que nela se operacionaliza a no??o de informa??o ou ilustra??o. ? um ensaio te?rico com o objetivo analisar, com uma metodologia de estudo de caso da m?dia impressa, como os registros fotogr?ficos s?o transformados em not?cias ou produtos publicit?rios midi?ticos. Os relatos revelam o surgimento de um acontecimento singular e midi?tico. Palavras-chave: Jornalismo; fotojornalismo; informa??o; not?cia; acontecimento.

INTRODU??O

As capas de jornais di?rios t?m apresentado modifica??es relevantes, que marcam um novo movimento da edi??o e do fotojornalismo brasileiro, merecendo an?lise e registro hist?rico. A recente exibi??o em S?o Paulo da mostra "Fotojornalismo 2006 ? Fatos e Hist?rias do Cotidiano", encerrada em 4 de mar?o passado, reabriu uma pol?mica sobre as caracter?sticas atuais do fotojornalismo. Com quase 100 imagens, produzidas por 83 rep?rteres fotogr?ficos, a mostra foi organizada pela Associa??o de Rep?rteres Fotogr?ficos e Cinematogr?ficos do Estado de S?o Paulo (ARFOC-SP).

Em 27 de janeiro passado, em artigo na Folha de S. Paulo, intitulado "Exposi??o reflete a crise que o fotojornalismo enfrenta hoje", Eder Chiodetto avalia que os trabalhos apresentados na exposi??o revelam uma aproxima??o do fotojornalismo da fotografia publicit?ria, perdendo a sua fun??o. Essa afirma??o gerou uma r?plica do presidente da ARFOC-SP, Rubens Chiri, para quem as fotografias expostas desdizem por si tal compreens?o. Segundo Chiri, h? uma crise no jornalismo como um todo. Ele defende que, no fotojornalismo, "[...] a crise n?o reside na produ??o, mas, sobretudo, na precariza??o das rela??es de trabalho. Na substancial redu??o dos

1 Trabalho apresentado ao GT de Hist?ria do Jornalismo, do V Congresso Nacional de Hist?ria da M?dia.

2 Doutorando no PPGCOM da UNISINOS, Donaldo Hadlich ? rep?rter fotogr?fico e professor de Fotografia Jornal?stica no Curso de Comunica??o Social, Design e Turismo do Centro Universit?rio Feevale. Maria Alice Bragan?a ? jornalista e professora do Curso de Comunica??o Social ? Jornalismo, do Centro Universit?rio Feevale, Novo Hamburgo, RS.

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postos de trabalho. Na desenfreada produ??o industrial das m?dias impressas, com r?gidos hor?rios de fechamento, amarras editoriais e projetos gr?ficos que n?o tratam a fotografia como informa??o, e sim como mera ilustra??o" (CHIRI, 2007, p. E2).

Estabelecida ? pol?mica quanto ? crise ou n?o do fotojornalismo, mant?m-se a constata??o da baixa relev?ncia dedicada ao texto visual3 quando se analisa a cobertura da imprensa. Percebe-se que as an?lises continuam se restringindo ?s manchetes e ?s mat?rias, desconhecendo totalmente a import?ncia que a fotografia jornal?stica vem ganhando cada vez mais nas p?ginas das m?dias impressas, principalmente nas capas.

Considera-se, assim, relevante estudar quais s?o as caracter?sticas da fotografia jornal?stica tal como aparece na imprensa brasileira atualmente. Segundo ponto de atra??o da aten??o do leitor, a fotografia jornal?stica come?a a apresentar forte vi?s opinativo induzindo a uma leitura aut?noma e, ?s vezes, oposta ao sentido proposto pelas manchetes e t?tulos. Os novos desenhos de capas de jornal, acentuadamente, o da Folha de S. Paulo, n?o mais vinculam a principal fotografia da capa ? manchete, com isso, acentua-se esse efeito de leitura aut?noma.

Partindo da defini??o presente na r?plica do presidente da ARFOC-SP, o fotojornalismo ? composto por "leituras, divaga??es, cr?nicas visuais, retratando fatos e hist?rias" (CHIRI, 2007, p. E2). Aprofundar as rela??es entre a fotografia e os acontecimentos midi?ticos, que constituem o objeto material dos "textos visuais" fotojornal?sticos, requer primeiramente a defini??o do papel potencial da fotografia para a informa??o da atualidade. Sobre isso, o pesquisador portugu?s Jorge Pedro Souza assevera que "[...] a fotografia jornal?stica mostra, revela, exp?e, denuncia, opina. D? informa??o e ajuda a credibilizar a informa??o textual. [...] O dom?nio das linguagens, t?cnicas e equipamentos fotojornal?sticos ?, assim, uma mais-valia para qualquer profissional da comunica??o (SOUSA, 2004, p. 9). Ele conceitua como fotografias jornal?sticas as que t?m "`valor jornal?stico' e que s?o usadas para transmitir informa??o ?til em conjunto com o texto que lhes est? associado" (SOUSA, 2004, p. 11).

No fotojornalismo, o ato de fotografar carrega implica??es ?ticas. De acordo com Sousa, "a est?tica do fotojornalismo, ao afetar as representa??es que se constroem dos outros e de outros seres, tem implica??es morais e ?ticas que devem ganhar express?o deontol?gica [...] um determinado conte?do est?tico pode criar ou refor?ar

3 O pesquisador e professor franc?s chama de texto qualquer forma de inscri??o, seja ela, de linguagem, ic?nica, sonora ou no??es gestuais. Ver mais em MOUILLAUD, Maurice. O jornal: da forma ao sentido, 1997, p. 34.

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empatias, pelo que a quest?o do inter-relacionamento entre est?tica e a moral se mant?m" (SOUSA, 2004, p. 112).

? na efemeridade desse fazer cotidiano que ele ganha sentido, podendo ou n?o se tornar refer?ncia para o futuro, conseguindo ou n?o driblar as limita??es que as condi??es de produ??o imp?em a todo o fazer jornal?stico. Por isso, elegeu-se a realiza??o de um Estudo de Caso do jornal Folha de S. Paulo, fundamentalmente as capas desse di?rio, de ?mbito nacional, utilizando como metodologia a An?lise de Conte?do. O per?odo escolhido para a an?lise foi o das elei??es presidenciais de 2006, a partir de um corpus que engloba edi??es do jornal de 1? a 31 de outubro de 2006, permitindo que se acompanhe o processo eleitoral desde o primeiro turno das elei??es, realizadas em 5 de outubro, e o segundo turno, que ocorreu em 29 de outubro. Decidiuse estudar prioritariamente as capas, por ser o primeiro contato do leitor com a edi??o, influenciando muitas vezes sua aquisi??o ou sua leitura.

Entre os objetivos da pesquisa, buscou-se tamb?m analisar se existe uma autonomia ou n?o do texto visual com rela??o ao texto escrito durante a cobertura das elei??es em quest?o, ou se as imagens est?o totalmente subordinadas a ele, questionando-se, assim, se existe ou n?o uso meramente ilustrativo da fotografia jornal?stica na imprensa.

A cobertura das elei??es presidenciais de 2006 pela imprensa recebeu muitas cr?ticas. Alguns coment?rios assinalaram que ela foi excessivamente negativa com rela??o ao candidato Luiz In?cio Lula da Silva. Observando, por?m, algumas das capas da Folha, verificamos que o mesmo n?o poderia ser afirmado t?o diretamente com rela??o ?s fotografias.

Devido ao interesse dedicado pelos leitores ?s fotografias, considera-se que tem escapado com freq??ncia ?s an?lises da imprensa a relev?ncia das imagens que ilustram as coberturas jornal?sticas. Elas s?o o segundo ponto de atra??o do olhar do leitor, que, muitas vezes, n?o chega a ler o texto das mat?rias, percorrendo com os olhos apenas as manchetes, fotografias e legendas. Diante da redu??o do tempo de leitura dos jornais, que vem sendo registrada por pesquisas, se considera que muitas vezes a aten??o do leitor e a informa??o que esse ret?m sobre um determinado tema fique apenas na pr?pria fotografia, fazendo com que o interesse em compreender a mensagem transmitida por essa seja ainda mais valorizado. A m?dia mundial de tempo de leitura de um jornal "? de apenas 20 minutos" (CORREIA J?NIOR, 2004, p. 21). Pretendeu-se,

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ainda, observar a exist?ncia ou n?o de uma fotografia que se aproxima da publicidade e registrar as formas de tratamento do texto visual.

1 As capas da Folha de S. Paulo e o fotojornalismo na imprensa di?ria

Di?rio de maior circula??o em todo o pa?s, a Folha de S. Paulo justifica-se como corpus para um estudo sobre fotojornalismo brasileiro na atualidade, tanto pela penetra??o que sua tiragem, de 307.937 exemplares em 20054, possibilita como pela influ?ncia que o ?xito comercial de seu projeto exerce sobre outros ve?culos, que a usam como benchmarking. ? tamb?m piv? de um debate ainda vivo com rela??o ao projeto editorial, conhecido como Projeto Folha, em que o jornal assumiu a sua condi??o de produto de mercado nos anos 80, criando "um modelo para os anos 90" (JORNALISMO da Folha..., 1991, p. A6)5.

? na Folha de S. Paulo em que v?o se apresentar de forma peculiar as condi??es apontadas pelo presidente da ARFOC-SP, Rubens Chiri. Ou seja, uma vis?o industrial de produ??o para as m?dias impressas, r?gidos hor?rios de fechamento e um projeto editorial e gr?fico definido e tamb?m r?gido. Em uma s?rie de reportagens, com a cartola "A virada da d?cada", com reda??o da reportagem local, l?-se que: "O projeto editorial, que come?ou a ser moldado ainda nos anos 70, foi sistematizado por escrito. A Folha se definiu como um jornal `cr?tico, pluralista, apartid?rio e moderno'. Passou a assumir sem rodeios sua condi??o de produto num mercado" (JORNALISMO da Folha..., 1991, p. A6, grifos do original).

? tamb?m na Folha que a imagem, definida pelo ve?culo como um conjunto que engloba fotografias, quadros, mapas, ilustra??es e cong?neres, passam a ter um espa?o cada vez mais destacado em rela??o ao texto. Em 1987, a Folha mantinha uma rela??o de 16% de imagem para 84% de texto corrido e, no in?cio dos anos 90, a informa??o visual ocupava "[...] 35% do espa?o do jornal" (IMAGEM e texto..., 1991, A6)6. A rela??o entre texto e imagem ? modificada na Folha de S. Paulo de forma significativa entre 1987 e 1988. De 16% em 1987, o espa?o ocupado pela informa??o visual salta para 32% em 1988, o texto tem seu espa?o reduzido de 84% no primeiro

4 Dados do Instituto Verificador de Circula??o (IVC) e est?o dispon?veis no site da Associa??o Nacional dos Jornais. 5 JORNALISMO da Folha cria modelo para anos 90. Folha de S. Paulo, 18 jan. 1991, A6. 6 IMAGEM e texto curto pautam reforma gr?fica. Folha de S. Paulo, 18 jan. 1991, A6.

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ano para 68%7. ? tamb?m nesse per?odo que o projeto gr?fico atual desenha-se com maior clareza. Entre as alega??es para a mudan?a, l?-se: [...] Considerando que o leitor dedica cada vez menos tempo ? leitura do jornal, os textos ficaram mais curtos e seu estilo, mais sint?tico (IMAGEM e texto..., 1991, A6).

No Manual de Reda??o, editado pela Folha em 2001, h? um espa?o destinado ? fotografia, o que contrasta com publica??es similares de outros jornais, como O Estado de S. Paulo, que aborda apenas a reda??o de legendas, mostrando claramente uma preocupa??o bastante centralizada somente no texto jornal?stico. As recomenda??es encontradas no Manual de Reda??o da Folha reconhecem que: "a maneira mais convencional e acomodada de encarar a fotografia ? trat?-la como um mero complemento da informa??o escrita. Ela ? muito mais do que isso, e o fotojornalismo tem uma hist?ria ? parte do jornalismo escrito para comprov?-lo" (2001, p. 32). Defende o texto que: "[...] O recurso visual do jornalismo impresso moderno deve ser entendido como uma possibilidade complementar e suplementar ? informa??o textual. N?o serve apenas para `arejar a p?gina' ou `valorizar a not?cia', tampouco para preencher eventuais vazios que a falta de planejamento tenha criado" (2001, p. 32).

Estabelecer o elo entre as duas linguagens, texto e imagem, provendo a interface entre elas, ? atribui??o do editor. O texto afirma, ainda, que: "a edi??o tamb?m deve saber, diante de uma foto, o melhor corte a lhe ser dado, em decorr?ncia da ?nfase que importa ? edi??o e do conjunto visual da p?gina" (2001, p. 33).

2 A avalia??o da cobertura das presidenciais e o fotojornalismo na capa da Folha

O Observat?rio de Imprensa ao avaliar as elei??es presidenciais de 2006 fixouse nas manchetes e not?cias, desvalorizando o potencial informativo e opinativo da fotografia de imprensa. De acordo com o Observat?rio, o presidente-candidato ocupou 61,3% do espa?o dedicado pelos jornais O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense ? cobertura das elei??es presidenciais, entre 16 e 22 de setembro. Do total de inser??es sobre o candidato petista, segundo o levantamento, 62,5% eram reportagens negativas. O mesmo ocorreu em 57,5% das

7 Uma varia??o na rela??o entre imagem e texto pode ser observada tamb?m nos demais grandes jornais brasileiros, mas muito inferior ? apresentada pela Folha de S. Paulo. Atualmente, O Globo, segundo maior jornal do pa?s em circula??o, posi??o que passa a ocupar em 2003, superando o Extra e o Estad?o, dedicava 13% de seu espa?o editorial ?s informa??es visuais e 87% ao texto 1987. Essa rela??o, em 1990, em O Globo, era de 26% para imagens e 74% para texto, enquanto na Folha o espa?o do texto, no mesmo ano, j? havia sido reduzido para 65% (IMAGEM e texto curto..., 1991, A6).

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mat?rias em que Lula apareceu na condi??o de presidente. O seu advers?rio direto, Geraldo Alckmin (PSDB), n?o teve a mesma visibilidade. Respondeu por apenas 10,2% do total ocupado pelos quatro principais presidenci?veis. Em compensa??o, ficou com o maior percentual de reportagens positivas (39,7%). Em apenas 20,6% das mat?rias em que aparecia, o tucano tinha sua imagem questionada.

A rela??o da fotografia com a realidade, atualmente, est? permeada por diversos la?os de compartilhamento de sentidos, espa?os, tempos, imagens. No universo do vivido social, a todo momento, a fotografia ? uma extens?o de nossa capacidade de olhar McLuhan (1999, p. 214), e que se expressa com uma linguagem pr?pria. As fotografias, no campo do jornalismo fotogr?fico, imprimem um fazer fotogr?fico, que, segundo Milton Guran, resulta na escolha do momento fundamental para a otimiza??o do resultado. Para ele, "fotografar ? um ato pessoal e intransfer?vel, resultante da imprescind?vel intera??o entre o fot?grafo e o conte?do da cena abordada" (GURAN, 1992, p. 18). Existem tr?s possibilidades de uso jornal?stico da fotografia: "fotografia not?cia (quando apreende a faceta privilegiada de um fato), complemento da not?cia (quando a not?cia ? compreendida como uma estrutura articulada entre texto e imagem) ou at? uma reportagem (quando as imagens s?o suficientes para narrar os acontecimentos)", segundo Jos? Marques de Melo.

A fotografia jornal?stica constitui uma atividade especializada que requer no seu desempenho uma diversidade de conhecimentos e que superam at? o manuseio do processo. De acordo com o jornalista e professor Nilson Lage, trata-se de "selecionar e enquadrar elementos sem?nticos de realidade de modo que, congelados na pel?cula fotogr?fica, transmitam informa??o jornal?stica" (LAGE, 1997, p. 26). O autor tamb?m assinala que, para as dimens?es do papel ou do diapositivo, o jornalista-fotogr?fico acrescenta: "a dramaticidade, atribu?da aos efeitos de luz e sombra, bem como ? rela??o sint?tica entre os elementos fotografados; a profundidade, que se obt?m pelo dom?nio da perspectiva e dos planos; e, o movimento, sugerido pelas posi??es de desequil?brio ou pelo dinamismo atribu?do aos elementos" (LAGE,1997, p. 26).

Sobre jornalismo fotogr?fico, o fot?grafo Luis Humberto lembra que o fotojornalismo determina "um tipo de linguagem bem diferenciada que, ordenada de forma consciente, pode resultar em algo com significa??o e interesse" (HUMBERTO, 2000, p. 74). Numa vis?o mais ampliada, Rodriguez Merch?n define o fotojornalismo como: "[...] a notifica??o de acontecimentos reais, interpretados visualmente por um fot?grafo e orientados por alguns crit?rios de conting?ncia, mediatizados por v?rios

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processos codificadores (fotogr?fico, informativo e de impress?o fotomec?nica) e que produz uma mensagem visual que ? interpretada pelo receptor segundo sua compet?ncia ic?nica e seu conhecimento de contexto" (MERCH?N, 1993, p. 114).

O fotojornalista e pesquisador Ivan Lima faz uma separa??o entre a fotografia pictorial da informa??o, a arte da informa??o. Para ele, "[...] o fot?grafo pictorial procura subdividir a realidade e ultrapassar o real, penetrar no imagin?rio, atingir o realismo mais cru ou o expressionismo facilitado pelas grandes angulares, descobrir o que ainda n?o foi feito e quer que seu trabalho gere influ?ncias" (LIMA, 1989, p. 16). Ele afirma que o fotojornalista trabalha com "[...] a not?cia, cria fotografias funcionais, informativas, redige uma mensagem que os destinat?rios v?o `ler'" (LIMA, 1989, p 16).

Analisando a cobertura eleitoral da Folha, verificou-se a presen?a de algumas imagens que atendem a descri??o de Eder Chiodetto e se aproximam da fotografia publicit?ria. Foi o que ocorreu no dia 1? de outubro, quando a Folha estampou na primeira p?gina, duas fotos produzidas dos principais candidatos ? presid?ncia. Em tom s?pia, simulando retratos envelhecidos, com dedicat?rias de seus personagens, as fotografias de Luiz In?cio Lula da Silva, do PT, e Jorge Alckmin, do PSDB, foram produzidas em est?dio e trabalhadas digitalmente como fotomontagens, conforme identificam os cr?ditos das imagens. Com uma fun??o ilustrativa e de componente de um design gr?fico de p?gina, as fotografias em quest?o distanciam-se do fotojornalismo, conforme defini??o de Sousa, para quem interven??es desse tipo podem ser questionadas em sua dimens?o ?tica e com rela??o ? pr?pria deontologia do jornalismo.

Constatou-se o desenvolvimento de uma apropria??o maior da linguagem visual e sintaxe nas fotografias de capa da Folha. Um exemplo disso ocorre em 04 de outubro, onde o jornal traz como manchete "Casal Garotinho vai apoiar Alckmin". A fotografia aqui ultrapassa o conceito proposto por Marques de Melo, pois funciona como mais do que complemento da not?cia. Neste dia, integra a imagem, al?m do casal Garotinho, a filha, vestida com uma camiseta preta, com as palavras "Fora Lula". N?o somente o apoio pol?tico do casal a Alckmin resta como mensagem da composi??o entre o texto da manchete e a imagem. Ressalta-se o rep?dio de um eleitorado jovem a Lula, enunciado feito a partir da fotografia.

No dia da elei??o no primeiro turno, 05 de outubro, a Folha estampou como manchete "Governo libera R$ 1,5 bi do or?amento". As fotografias dos candidatos mais votados foram editadas na capa, com o mesmo tamanho, propor??o e enquadramento. Entretanto, elas n?o parecem estar vinculadas ?s manchetes do dia. S?o relatos em si

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mesmas. Articuladas uma com a outra constroem seu sentido nessa articula??o. ? esquerda, foco de maior visibilidade, estava a foto de Geraldo Alckmin, sem qualquer chamada ou t?tulo associados a ela. A legenda explica que ele est? em seu escrit?rio de campanha em S?o Paulo, parecendo "falar a algu?m". Articulada a ela, estava a fotografia de Lula, em uma reuni?o com governadores aliados de sua campanha, em Bras?lia, em uma posi??o de quem escuta. Eles estavam em locais geogr?ficos distantes, mas a edi??o de imagens d? a impress?o de que Alckmin discursa para Lula. A "audi?ncia", articulada pelo editor, est? representada nas duas imagens por m?os, que, se fosse do interesse da edi??o, poderiam ter sido retiradas. N?o h? contextualiza??o, a indica??o de local ? dada pelas legendas.

A riqueza do uso da sintaxe visual pode ser percebida na foto de capa de 7 de outubro, onde a manchete era: "Executiva do PT pressiona Berzoini a deixar o cargo" (Figura 1). A foto principal mostra Berzoini, em um enquadramento de baixo para cima, em uma mesa. Por?m, em frente a essa, domina a fotografia, com quase dois ter?os da composi??o visual, uma imagem de um personagem com a camiseta do PT, cortada na altura do pesco?o. "Cortem-lhe a cabe?a", parece gritar a fotografia, onde a cor vermelha predomina. Fig. 1 -- Foto de Berzoini na capa da Folha de S. Paulo, 7 de outubro de 2006

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