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Literatura de Cordel/ 2ª Fase Modernismo

Caderno São Paulo faz Escola volume 3 pp. 96 a 100 – Atividade 1 – Literatura de Cordel

Na década de 30, enquanto o rádio, o mais moderno meio de comunicação de massa da época, encurtava as distâncias, aproximando o país de ponta a ponta, a prosa de ficção, com renovada força criadora, nos punha em contato com um Brasil pouco conhecido.

Por meio de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Dionélio Machado, desponta um Brasil multifacetado, apresentado em sua diversidade regional e cultural, mas com problemas comuns em quase todas as regiões: a miséria, a ignorância, a opressão nas relações de trabalho, as forças atávicas da natureza sobre o homem desprotegido, denunciando as agruras da seca e da migração, dos problemas do trabalhador rural.

Herdeiros diretos dos modernistas de 1922, os modernistas da segunda geração (30-45) também se voltam para a realidade brasileira, mas agora com uma intenção clara de denúncia social e de engajamento político. Unindo ideologia e análise sociológica e psicológica, o romance de 30 trilhou diferentes caminhos, sendo o regionalismo, especialmente o nordestino, o mais importante entre todos.

Assim como os modernistas da segunda fase abordaram o regionalismo nordestino, no Brasil, a produção da literatura de cordel está relacionada principalmente à região Nordeste, com predomínio das histórias do sertão, das referências literárias e da crítica aos fatos cotidianos.

O gênero cordel conta histórias que, escritas em versos, podem ser recitadas. Os poemas de cordel são impressos em pequenos folhetos, geralmente ilustrados com xilogravuras (gravura em madeira) e são pendurados em um varal feito de barbante em feiras da Região Nordeste. Dos varais para as páginas de livros e também para a internet, o cordel passou a ser conhecido em todo o Brasil. Sua origem remonta à tradição medieval de contar histórias à comunidade. São traços característicos desse gênero: ritmo, estrutura regular, rimas, linguagem que remete à modalidade oral e às variedades regionais e sociais da língua portuguesa.

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Nascido no município de Assaré, no Ceará, em 1909, Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré, dedicou sua vida a escrever cordéis e cantar repentes. O apelido Patativa faz referência a um pássaro de canto melodioso. Seu primeiro livro, Inspiração nordestina, foi publicado em 1956 e ganhou repercussão após o poema “A triste partida” ser musicado por Luiz Gonzaga. Ao longo de sua vida, o cordelista publicou inúmeros poemas em folhetos de cordel e em livros. Morreu em 2002, aos 93 anos, em Assaré.

Resumo 2ª fase Modernismo brasileiro - prosa

1- Cronologia: Portugal (1927-1940); Brasil (Geração de 1930 ou Neo-Realismo 1930-1945).

2- Contexto histórico

1930- golpe de estado que leva Vargas ao poder, pondo fim à Velha República e queda do preço do café, principal produto de exportação do Brasil, provocada pelo “crack” da Bolsa de Nova Iorque em 1929

1932- Revolução Constitucionalista

1936- prisão de vários membros do Partido Comunista, entre eles Luis Carlos Prestes, chefe do partido.

1937- fim do governo provisório e início do Estado Novo.

1939- início da Segunda Guerra Mundial.

1942- Brasil declara guerra à Alemanha e à Itália.

1945- fim da Segunda Guerra e deposição de Getúlio Vargas pelas Forças Armadas, pondo fim ao Estado Novo e dando início ao governo de Eurico Gaspar Dutra, eleito presidente da República.

Características: a segunda fase representa uma relativa contenção do ímpeto revolucionário do Modernismo inicial; outro contraste com o período de 22 é a importância assumida pela prosa, ou, mais especificamente pelo romance; fase inovadora de construção; literatura regionalista; novidades modernistas assimiladas pelo público, produção literária menos conturbada e mais preocupada com a construção do que com a demolição; denúncia social; amadurecimento das obras e autores da primeira fase; grande número de romances; conquistas lingüísticas, discurso indireto livre; romancistas não eram impessoais, todos faziam parte da realidade que retratavam; A prosa de 1930 divide-se em: prosa regionalista- busca de traços da realidade brasileira/ autores: Rachel de Queiroz; Jorge Amado; José Lins do Rego e GRACILIANO RAMOS; prosa urbana- gira em torno das grandes cidades/ autores: Érico Veríssimo e Marques Rebelo; prosa intimista ou de sondagem psicológica- enfatiza o mundo interior das personagens, analisando seus conflitos/ autores: Lúcio Cardoso, Otávio de Faria, Dyonélio Machado.

Obra inaugural: A bagaceira, de José Américo de Almeida em 1928.

Autores e obras:

Graciliano Ramos- São Bernardo, Angústia, Vidas Secas, Memórias do Cárcere.

Reúne análise psicológica e sociológica, retrata o universo do sertanejo nordestino, universalismo, pois traduz a condição coletiva do homem explorado socialmente ou brutalizado pelo meio, linguagem enxuta e rigorosa.

Rachel de Queiroz – O Quinze, Caminho das pedras, Memorial de Maria Moura, As três Marias.

Aborda o tema da seca, prosa enxuta e dinâmica, uso do discurso direto, denúncia da realidade social, com elementos psicológicos.

José Lins do Rego – Menino de engenho, Fogo morto, Riacho doce.

Linguagem fluída, solta, livre e popular, retrata o processo de transformações econômica, social e política pelas quais passava o Nordeste nas primeiras décadas do século XX, retrata a decadência dos engenhos de cana de açúcar.

Jorge Amado – O país do carnaval, Cacau e Suor, Capitães da areia, Gabriela, cravo e canela, Tieta do agreste, Dona Flor e seus dois maridos.

Bahia como espaço social de suas obras, denuncia o abandono das “crianças de rua” de Salvador, as lutas entre coronéis do cacau e exportadores, expõe rico painel de costumes da sociedade baiana.

Érico Veríssimo – Fantoches, Clarissa, Olhai os lírios do campo, O tempo e o vento.

Registro da vida urbana de Porto Alegre e da formação do Rio Grande do Sul, engajamento social.

Vidas Secas – Graciliano Ramos

Narrado em 3ª pessoa, com uso do discurso indireto livre, conta a história de uma família de retirantes e seu universo mental pobre e fragmentado de cinco personagens: Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia. O enredo é construído em torno da vida dessa família que, em pleno agreste, vive os sofrimentos provocados pela estiagem e a opressão causada pelos poderosos.

Uso da animalização ou zoomorfização (Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo) e da humanização (cachorra Baleia) das personagens.

Atividade

1- Assista ao vídeo, acessando o link abaixo.



2- Leia o trecho da obra Vidas secas, de Graciliano Ramos.

Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.

Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-se ao binga, pôs-se a fumar regalado.

-Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.

Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar as coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

-Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.

Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando seu cigarro de palha.

-Um bicho, Fabiano.

Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhes as marcas de ferro.

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.

Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.

Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.

(Vidas secas. 27ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1970. p.53-5.)

a- Explique o sentido do título do poema de Patativa do Assaré “Nordestino sim, nordestinado não”.

b- O romance de 30 retomou a concepção determinista presente na prosa naturalista, explorando a relação entre o homem e o meio natural. Analisando o trecho lido da obra, que sentido o título da obra adquire?

c- O poema “Nordestino sim, nordestinado não” e o romance Vidas secas fazem referência aos mesmos problemas, presentes na vida do sertanejo nordestino por várias gerações. Faça uma relação desses problemas e aponte possíveis soluções para resolvê-los.

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