LETRAS DE MÚSICA*



Os Países de língua portuguesa

(Ernani Terra )

      Espalhada pelos cinco continentes, a língua portuguesa figura entre as dez mais faladas dos planeta. Estruturada a partir do século XII, desde o século XV ultrapassou as fronteiras da península Ibérica, acompanhando as caravelas lusitanas na aventura das grandes navegações.

      Os sete países que têm o português como língua oficial são chamados de lusófonos. E, apesar da incorporação de vocábulos nativos, de certas particularidades de sintaxe, pronúncia e grafia, a língua portuguesa mantém uma unidade.

      O português é também falado em pequenas comunidades, reflexo de povoamentos portugueses datados do século XVI. É o caso de Zanzibar (na Tanzânia, costa oriental da África); Macau (possessão portuguesa encravada na China); Goa, Diu, Damão (na Índia); Málaca (na Malásia); Timor (na Indonésia).

     

Os vários acordos ortográficos

      A unificação dos sistemas ortográficos dos países lusófonos não é tarefa fácil, pois as divergências de pronúncia entre esses países acabam determinando grafias diferentes para as mesmas palavras, tanto que várias tentativas para unificar os sistemas ortográficos desses países fracassaram: ou porque não foram aceitas no Brasil, ou porque encontraram reações por parte dos portugueses.

      A primeira tentativa de uniformizar a ortografia da língua portuguesa data de 1911, quando uma comissão de filósofos lusitanos propôs uma reforma ortográfica e o governo português a adotou imediatamente. No Brasil, essa reforma gerou muitas discussões, mas acabou não sendo adotada.

    

      O primeiro acordo ortográfico entre Brasil e Portugal data de 1931 e não resultou na unificação dos sistemas ortográficos. Em 1945 houve, em Lisboa um outro acordo, que também não efetivou a unificação, pois foi adotado apenas em Portugal.

      O sistema ortográfico adotado atualmente no Brasil é o aprovado pela Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12 de agosto de 1943, e simplificado pela Lei nº. 5.765, de 18 de dezembro de 1971, quando foram abolidos:

• O trema nos hiatos átonos;

• O acento circunflexo diferencial nas letras e e o da sílaba tônica de certas palavras, usado para distingui-las de seus respectivos pares homógrafos, que têm as letras e e o abertas (com exceção de pôde, que continua com acento por oposição a pode);

• O acento circunflexo e o acento grave com que se assinalava a sílaba subtônica das palavras derivadas em que ocorre o sufixo –mente ou sufixos iniciados por z.

      Em decorrência disso, palavras como saudade, cautela, saudoso deixaram de receber trema; e palavras como acordo (subst.), almoço (subst.), governo (subst.), cafezinho, sozinha, propriamente, cortesmente também perderam o acento gráfico.

      Curioso notar que a simplificação ortográfico de 1971 só foi adotada em Portugal em 1973.

      Ocorreram ainda outras tentativas de unificação em 1975 e 1986; porém fracassaram mais uma vez, sobretudo pelas reações de Portugal.

O Novo Acordo Ortográfico

      O projeto do Novo Acordo Ortográfico, oficialmente chamado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, visa mais à padronização do que à simplificação do sistema ortográfico em vigor até 1993. Seu objetivo é padronizar alguns poucos pontos discordantes, como o emprego do hífen, algumas regas de acentuação e a queda de consoantes mudas (o que afeta diretamente a grafia lusitana de algumas palavras, como projecto, facto, objectivo, actual, etc.).

      Ora, se as modificações são tão pequenas, por que tantas vozes a favor ou contra o Novo Acordo?

      Os que defendem as alterações propostas argumentam que a padronização ortográfica “virá estimular o intercâmbio cultural entre Portugal e Brasil”. Ou seja, a leitura de um livro português ficará mais acessível ao leitor brasileiro e vice-versa.

      Os que não vêem maior importância nas alterações propostas argumentam a dificuldade que um brasileiro encontra em ler um livro português (e vice-versa) não está na variação ortográfica ou sintática, e sim na significação das palavras (que configura uma questão semântica e não ortográfica!).

      O poeta José Paulo Paes, realçando as diferenças de vocabulário existentes entre o Português do Brasil e o de Portugal, escreveu o seguinte texto:

      [pic]

      Positivamente, não há acordo ortográfico que padronize esta questão: o brasileiro veste meias; o lusitano, peúgas!.

Propostas do Novo Acordo

      O Alfabeto

      Segundo o Novo Acordo, o alfabeto português passa a ter 26 letras, que podem ser escritas em maiúsculas e minúsculas.

      - maiúsculas: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X, Y, Z.

      - minúsculas: a, b, c, d, e, f, g, h,i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z.

      Comentário

      A inovação que o acordo traz é a inclusão das letras K (k), W (w), e Y (y) no alfabeto. A justificativa para tal inclusão é que os dicionários já registram essas letras e que, nos países africanos de língua portuguesa, muitas palavras são escritas com elas.

      Para nós, a inserção dessas letras nada muda, já que seu emprego continua restrito à grafia de nomes derivados de nomes próprios estrangeiros (kantismo, darwinismo, byroniano, etc), a abreviaturas e símbolos (K = potássio, kg = kilograma, kW = quilowatt, etc.) e a palavras estrangeiras.

     

O Hífen

      O hífen em palavras compostas e em locuções

      Segundo o Novo Acordo, utiliza-se o hífen:

      a) para separar as palavras no final da linha.

      b) para separar elementos de palavras compostas por justaposição.

      beija-flor porto-alegrense

      guarda-chuva quinta-feira

      guarda-noturno tenente-coronel

      Em alguns compostos perdeu-se a noção de composição e, por isso, os dois elementos se aglutinaram.

      girassol, mandachuva, pontapé, paraqueda, clarabóia.

      Verifique que, mesmo não sendo separados por hífen, tais elementos mantêm uma identidade fonética, como se pode observar em girassol, que é grafado com ss, a fim de manter o som do s inicial (sol).

      c) nos topônimos compostos iniciados pelos adjetivos grão ou grã, por formas verbais, ou que têm elementos ligados por artigo.

      Baía de Todos-os-Santos Passa-Quatro

      Grã-Bretanha Trás-os-Montes

      Grão-Pará

      Observação

      Nos demais topônimos não se emprega o hífen:

      América do Norte, África do Sul, Belo Horizonte...

      Exceção: Guiné-Bissau

      d) nos nomes de espécies botânicas e zoológicas ligados ou não por preposição ou qualquer outro elemento.

      andorinha-do-mar, couve-flor, erva-doce

      e) nos compostos iniciados pelos advérbios bem e mal seguidos de palavras começadas por vogal ou h.

      bem-aventurado mal-afortunado

      bem-estar mal-estar

      bem-humorado mal-humorado

      Observação

      O advérbio bem pode ou não aglutinar-se com a palavra seguinte, ainda que iniciada por consoante.

      bem-falante (mal-falante)

      benfeitor

      benquerença

      bem-nascido (malnascido)

      f) nos compostos em que entram os elementos além, aquém, recém e sem.

      além-fronteiras recém-nascido

      além-mar sem-cerimônia

      aquém-mar sem-vergonha

      g) - para unir duas ou mais palavras contextualmente combinadas.

      Liberdade-Igualdade-Fraternidade, ponte Rio-Niterói

      - para unir combinações históricas ou ocasionais de topônimos.

      Áustria-Hungria, Tóquio-Rio de Janeiro

      Não se emprega o hífen nas locuções:

      a) substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

      b) adjetivas: cor de vinho, cor de mel;

      c) pronominais: cada um, quem quer que seja;

      d) adverbiais: à vontade, à vista, às pressas;

      e) prepositivas: abaixo de, a fim de, apesar de;

      f) conjuntivas: a fim de que, ao passo que.

      Exceção:

      Os compostos já consagrados.

      Água-de-colônia, mais-que-perfeito, cor-de-rosa

     

O hífen com prefixos

      Emprega-se o hífen nos compostos iniciados pelos prefixos gregos e latinos ante-, anti-, auto-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pan-, pós-, pré-, pró-, semi-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc:

      a) quando o segundo elemento começa por h.

      anti-higiênico pan-helenismo

      circum-hospitalar pré-história

      co-herdeiro semi-hospitalar

      Observação

      Não se usa hífen nos compostos com os prefixos in- e des-.

      desumano, inábil

      b) quando o prefixo termina com a mesma vogal com que começa o segundo elemento.

      Anti-ibérico, auto-observação, contra-almirante

      Exceção

      O prefixo co-, que se aglutina com outro elemento iniciado por o.

      cooperar, coordenar

      c) com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m, n (além do h referido anteriormente).

      Circum-escolar, circum-navegação, pan-africano

      d) com os prefixos hiper-, inter-, super-, quando o segundo elemento começa por r.

      Hiper-requintado, inter-resistente, super-revista

      e) com os prefixos ex-, sota-, soto-, vice-, vizo-.

      ex-aluno, ex-presidente, soto-mestre, sota-piloto, vice-presidente, vizo-rei

      f) com os prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré-, pró-, quando o segundo elemento tem vida á parte.

      Pós-operatório, pré-escolar, pró-europeu

      Não se usa o hífen:

      a) quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s.

      antirreligioso, antissemita, contrarregra, cosseno

      b) quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente dela.

      antiaéreo, autoestrada, coeducação

      O hífen com sufixos

      Nos compostos por sufixação, só se emprega o hífen nas palavras com os sufixos de origem tupi-guarani -açu, -guaçu, -mirim se o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente e se a pronúncia exige a distinção dos dois elementos.

      amoré-guaçu, cajá-mirim, capim-açu

      O hífen na ênclise e na mesóclise

      Emprega-se o hífen para ligar os pronomes enclíticos ou mesoclíticos ao verbo.

      amá-lo, deixe-o, emprestá-lo-emos, enviar-lhe-ei, parti-la

      Comentário

      Pelo sistema ortográfico de 1943, o emprego do hífen podia trazer alguma dificuldade, dado o grande número de regras, mas devemos considerar que já estávamos acostumados a elas.

      Lamentavelmente, a nova proposta não reduz o número de regras e continua mantendo várias exceções.

      Para piorar o quadro, as poucas modificações realizadas foram formuladas de modo extremamente complexo, sobretudo para nós, brasileiros, uma vez que o Novo Acordo baseia-se no sistema de 1945, adotado apenas em Portugal. Sinteticamente, podemos afirmar o seguinte:

      1. O emprego do hífen nada mudou nas locuções, na ênclise e na mesóclise nem com relação aos sufixos de origem tupi-guarani. Quanto ao emprego do hífen com prefixos, conforme o prefixo, houve algumas alterações em relação ao sistema de 1943: não se usa mais o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r, s ou vogal diferente.

      2. Quanto ao emprego do hífen com prefixos, conforme o prefixo, houve algumas alteraçÕes em relação ao sistema de 1943: não se usa mais o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r, s ou vogal diferente.

      Como é Como deverá ficar

      anti-religioso antirreligioso

      anti-semita antissemita

      auto-aprendizagem autoaprendizagem

      contra-regra contrarregra

      contra-senha contrassenha

      extra-regular extrarregular

      extra-escolar extraescolar

     

Acentuação gráfica

      Com relação à acentuação gráfica das palavras, o Novo Acordo estabelece regras de acentuação com base na posição da sílaba tônica (oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas, considerando oxítonos os monossílabos tônicos).

      Em linhas gerais, mantiveram-se as regras de acentuação do sistema ortográfico de 1943, abolindo-se alguns casos e o trema. Em decorrência, o Novo Acordo reduz o número de palavras acentuadas.

      Acentuação das palavras proparoxítonas

      Todas as palavras proparoxítonas devem receber acento gráfico: agudo na vogal aberta e circunflexo na vogal fechada. Também recebem acento as proparoxítonas eventuais, isto é, as paroxítonas terminadas em ditongo crescente.

      árabe fôssemos míope

      cânfora glória músico

      cáustico lírio pêssego

      exército mágoa série

      Não há mudanças na acentuação das palavras proparoxítonas, pois todas continuam sendo acentuadas graficamente. A menção, nessa regra, às proparoxítonas eventuais (paroxítonas terminadas em ditongo crescente) também não representa novidade, já que, no sistema de 1943, essas palavras já estavam incluídas.

      Deve-se observar ainda que, dada a diferença de pronúncia entre o português falado no Brasil e o falado em Portugal, as proparoxítonas que no Brasil recebem acento circunflexo, por terem a vogal tônica fechada, em Portugal recebem acento agudo por terem a vogal tônica aberta. Observe:

      Brasil Portugal

      cômodo cómodo

      fenômeno fenómeno

      tônico tónico

      gênio génio

      Acentuação das palavras paroxítonas

      Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:

      • -r: caráter, ímpar, mártir

      • -x: fênix, índex, ônix, tórax

      • -n: elétron, hífen, pólen, próton

      • -l: amável, difícil, fácil, lamentável

      • -ps: bíceps, fórceps

      • -ã, -ãs: ímã, ímãs, órfã, órfãs

      • -ão, -ãos: órgão, órgão, sótão, sótãos

      • -ei, -eis: amáveis, fáceis, jóquei, pônei

      • -i, -is: júri, júris, lápis, tênis

      • -om: rândom, rádom

      • -on, -mis: cátion, cátions, elétron, elétrons, mórmon, mórmons

      • -um, -uns: álbum, álbuns, médium, médiuns

      • -us: bônus, vírus

      Comentário

      As regras de acentuação das paroxítonas, como se pode observar, não sofreram alterações.

     

Acentuação das palavras oxítonas

      Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em:

      • -a, -as: alvará(s), cá, lá, maracujá(s), pá(s)

      • -e, -es: jacaré(s), lê(s), nenê(s), pé(s), vê(s)

      • -o, -os: avô(s), jiló(s), paletó(s), pó(s)

      • -em, -ens (quando não monossilábicos): armazém, armazéns, também

      Comentário

      Não há também nenhuma novidade na acentuação das oxítonas. E importante lembrar que os oxítonos monossilábicos terminados em -em, -ens continuam não recebendo acento: bem, bens, nem, etc., e que as formas verbais oxítonas terminadas em -a, -e, -o, seguidas de la, las, lo, los continuam recebendo acento: amá-lo, repô-los, vendê-las, etc.

      Acentuação dos ditongos abertos éu, éi, ói

      Os ditongos de pronúncia aberta éu, éi, ói recebem acento agudo na base, nas palavras oxítonas.

      Anéis, anzóis, carretéis, céu(s), chapéu(s), herói(s), pastéis

      Comentário

      Aqui, uma novidade: pelo sistema de 1943, os ditongos abertos éu, éi, ói recebiam acento agudo na base quando tônicos. Pelo Novo Acordo, esses ditongos só receberão acento gráfico nas palavras oxítonas. Assim, nas palavras paroxítonas, esses ditongos não deverão mais ser acentuados.

      Como é Como deverá ficar

      assembléia assembleia

      boléia boleia

      idéia ideia

      jibóia jiboia

      Acentuação dos hiatos

      a) oo(s)

      O hiato oo(s) das palavras paroxítonas deixa de receber acentocircunflexo.

      Como é Como deverá ficar

      abençôoabençoo

      enjôoenjoo

      magôo magoo

      vôo voo

      vôos voos

      b) eem

      O hiato eem das formas verbais dos verbos crer, dar, ler, ver (e

      seus derivados) deixa de receber acento circunflexo.

      Como éComo deverá ficar

      crêemcreem

      dêemdeem

      descrêem descreem

      lêemleem

      prevêem preveem

      relêemreleem

      vêemveem

      c) i-u

      Acentuam-se as vogais i e u que formam hiato com a vogal anterior.

      atraíste baú ciúme

      balaústre cafeína faísca

      graúdomiúdo recaída

      Luís país ruína

      Luísa paraíso saíste

      Observação

      1. Não se acentuam o i e o a precedidos de vogal com a qual não formam ditongo e seguidos de 1, m, a, r, z que não iniciam sílabas ou de nh.

      adail juiz Raul

      constituinte rainha ruim

      influirmosraiztriunfo

      2. Não leva acento a base dos ditongos iu e ui precedidos de vogal.

      Atraiu, contribuiu, distraiu, pauis

      3. Não levam acento as vogais i e u tônicas precedidas de ditongo, a menos que venham em posição final ou sejam seguidas de s.

      Baiuca, boiuno, cauila

      Porém: Piauí, tuiuiú, tuiuiús.

      Comentário

      Em relação à acentuação das letras i e u tônicas, apenas uma modificação: quando precedidas de ditongo, deixam de receber acento, a menos que apareçam em posição final.

      Entendemos que tal modificação é desnecessária, uma vez que atinge um número extremamente reduzido de palavras.

      Como é Como deverá ficar

      baiúcabaiuca

      boiúno boiuno

      cauíla cauila

      Acentuação do u tônico dos encontros gue, gui, que, qui

      Não se acentua a vogal u tônica dos encontros gue, gui, que, qui.

      Apazigue, arguem, argui, averigue

      Comentário

      Pelo sistema de 1943, tais vogais recebiam acento agudo a fim de marcar sua tonicidade (quando eram átonas recebiam trema: tranqüilo, freqüente, lingüiça, etc.). A justificativa dada pelo Novo Acordo é que a vogal u das formas verbais como apazigúem, argúem é sempre articulada, por isso não precisa de acento. Tal argumento não justifica a abolição do acento, pois muitos falantes articulam tal vogal como átona (apazigüe, averigüe, etc.), e como o Novo Acordo abole também o trema (veja item seguinte) seria conveniente manter o acento agudo no u tônico dos grupos gue, gui, que, qui, para que essa vogal não fosse pronunciada atonamente.

     

O trema

      Pelo Novo Acordo, fica abolido o trema.

      Comentário

      Trata-se de uma modificação oportuna, já que esse sinal gráfico está caindo em desuso. Basta notar que a imprensa escrita não o utiliza há tempos. O Novo Acordo prevê a utilização desse sinal gráfico apenas em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros que possuem o trema, como, por exemplo, mülleriano (de Müller).

      Como é Como deverá ficar

      agüentaraguentar

      freqüente frequente

      lingüiça linguiça

      tranqüilo tranquilo

     

O acento diferencial

      Não se coloca acento diferencial nas palavras homógrafas heterofônicas: acordo (subst.), acordo (verbo); almoço (subst.), almoço (verbo); jogo (subst.), jogo (verbo).

      No entanto, o acordo registra algumas exceções. É obrigatório o acento diferencial em:

      • pôde (pretérito perfeito) para distinguir de pode (presente do indicativo);

      • pôr (verbo) para distinguir de por (preposição).

      É facultativo o acento diferencial em:

      • dêmos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo) para distinguir de demos (1ª pessoa do plural do pretérito perfeito);

      • fôrma (substantivo) para distinguir de forma (substantivo e verbo).

      Comentário

      O Novo Acordo simplificou ainda mais a Lei a0 5.765, de 18 de dezembro de 1971, que havia abolido a maioria dos acentos diferenciais.

      Observe que, na prática, teremos apenas dois acentos diferenciais obrigatórios (pôde e pôr) e dois facultativos (fôrma e dêmos).

     

O acento grave

      Emprega-se o acento grave na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou do pronome demonstrativo o; da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, ou com seus compostos e suas flexões.

      a+a=à

      a + as = às

      a + aquele = àquele

      a + aquelas = àquelas

      a + aqueloutro = àqueloutro

      Comentário

      O emprego do acento grave não traz nenhuma novidade , já que, desde 1971, tal acento só é utilizado para indicar o fenômeno da crase. O texto do Novo Acordo sugere que se empregue o acento grave na contração de pra (forma reduzida de para) com o, a, os, as: prò, prà, pròs, pràs.

     

O Emprego das Letras Maiúsculas

      O Novo Acordo determina o uso de iniciais maiúsculas em:

      · antropônimos reais ou fictícios: José Carlos Alves, Márcia Leal, Branca de Neve.

      · topônimos reais ou fictícios: São Paulo, Florianópolis, Ribeirão Preto, Atlântida.

      · mitônimos (nomes de seres antropomorfizados e mitológicos):

      · Apolo, Vênus, Cupido.

      · instituições, repartições: Instituto Nacional de Seguridade Social, Ordem dos Advogados do Brasil, Partido dos Trabalhadores.

      · nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Carnaval.

      · publicações periódicas: O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Veja.

      · pontos cardeais (em sentido absoluto): Norte, Sul, Leste, Oeste, Ocidente, Oriente).

      · siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais: ONU, H (hidrogênio), V.Exª.

      Comentário

      O emprego das iniciais maiúsculas do Novo Acordo mantém basicamente as mesmas regras do sistema de 1943. Entendemos que, em vez de discriminar os casos em que são empregadas as maiúsculas, bastaria, como faz o Formulário Ortográfico de 1943, dizer que os substantivos próprios de qualquer espécie devem ser grafados com letra inicial maiúscula.

      A única novidade é que os nomes de vias e lugares públicos, bem como os nomes que designam domínios do saber — artes, ciências ou disciplinas —, que pelo sistema de 1943 eram grafados com inicial maiúscula, podem ser agora escritos facultativamente com inicial maiúscula ou minúscula.

      Como é Como deverá ficar

      Rua da Liberdade Rua (ou rua) da Liberdade

      Praça da República Praça (ou praça) da República

      Praia do Flamengo Praia (ou praia) do Flamengo

      Português Português (ou português)

      Matemática Matemática (ou matemática)

     

Emprego do apóstrofo

      Segundo o texto do Novo Acordo, o apóstrofo usa-se para cindir uma contração ou aglutinação vocabular, quando uma fração pertence a um conjunto vocabular distinto: d’Os Lusíadas, n’Os Lusíadas, pel’Os Lusíadas, d’Os sertões, pel’Os sertões. Pode, no entanto, empregar-se a preposição íntegra: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, exatamente como acontece, quando se deixa de fazer a contração: a Os Lusíadas, a A relíquia, conquanto não digam: aos Lusíadas, à Relíquia

      O texto do Novo Acordo especifica também que se deve empregar o apóstrofo:

      a) quando se quer separar a preposição ou pronome de um pronome pessoal que se refere a Deus, Jesus, etc.

      d’Ele, n’Ele, d’Aquele, lh’O

      b) na ligação de santo, santa a nomes do hagiológico, para supressão de o e a.

      Sant’Ana, Sant’Iago

      Quando se tornam perfeitas unidades mórficas, os dois elementos se aglutinam.

      bairro de Santana, Caminho de Santiago

      c) para assinalar a elisão do e da preposição de no interior de certos compostos.

      copo-d’água, pau-d’água, pau-d’alho

      Fica ainda determinado que não se usa o apóstrofo nas combinações das preposições de e em com o artigo definido e formas pronominais diversas e advérbios.

      dalguma doutra

      dela dum

      dele duma

      donde nalguma

      doutro neste

      Comentário

      Se comparado ao sistema de 1943, que traz o emprego do apóstrofo de maneira mais concisa, o Novo Acordo nada altera nem menciona o emprego desse sinal para indicar a supressão de uma ou mais letras no verso de poemas, por exigência da metrificação: ‘Stamos, esp’rança.

     

Separação silábica

      O Novo Acordo estabelece que a divisão silábica faz-se em regra por soletração: a-ba-de, bru-ma, sem atender necessariamente aos elementos constitutivos de natureza etimológica: bi-sa-vô, de-sa-pa-re-cer...

      A partição da palavra no fim da linha implica o emprego do hífen.

      O texto do Novo Acordo exemplifica algumas regras para a separação silábica.

      a) Não se separam as sucessões de duas consoantes que constituem grupos perfeitos: nu-bla-do, a-pro-var, de-cla-rar, de-cre-to, a-tleta, a-fri-ca-no, ne-vral-gi-a, nem se separam os dígrafos ch, lh, ah: ran-cho, ma-lha, vi-nha.

      Exceção

      Separam-se alguns compostos em que os prefixos terminam em b ou d.

      ab-le-ga-ção, ad-li-gar, sub-lu-nar.

      b) Separam-se no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos e as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante.

      ab-di-car am-bi-ção ét-ni-co

      ab-so-lu-to de-sen-ga-nar nas-cer

      ad-je-ti-vo Daf-ne op-tar

      af-ta en-xa-me

      c) Nunca se separam vogais consecutivas pertencentes a ditongos decrescentes.

      ai-ro-so, ca-dei-ra, ins-ti-tui, sa-cris-tães

      d) Os dígrafos gu e qu não se separam da vogal ou ditongo imediato:

      ne-gue, ne-guei, pe-que, pe-quei, da mesma maneira que as combinações gu, qu em que o u se pronuncia: á-gua, am-bí-guo, lo-quaz.

      d) Na separação de palavras que apresentam hífen, se este ocorrer no final da linha, deve-se repeti-lo na linha imediata: couve-/-flor, amá-/-lo.

    

  Comentário

      Mantendo o princípio já utilizado no sistema de 1943, em que a separação silábica é feita, de modo geral, com base na soletração e não nos elementos que constituem a palavra, segundo a etimologia, o texto do Novo Acordo nada altera quanto à divisão silábica das palavras.

      A regra c, que afirma que não se separam vogais consecutivas pertencentes a ditongos decrescentes, poderia ser mais completa se nela fossem incluídas as vogais consecutivas pertencentes também a ditongos crescentes e a tritongos.

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