Português – 6º - Educacional



1TSE - L?NGUA PORTUGUESAPROFa. SIMONE BACELLAR7? ANO17/02/2020Valor: 20,0TEXTO 1AS M?OS QUE LIAMMinhas amiguinhas (...) tinham uma novidade para me contar:– Enquanto você estava doente, apareceu na aldeia uma mo?a que sabe ler as palavras com a ponta dos dedos. – Como? – perguntei incrédula e, ao mesmo tempo, desapontada por n?o ter sido a primeira a descobrir o fato.– ? isso mesmo. Ela lê com as m?os. Todas as ter?as-feiras ela vai à igreja para contar a História Sagrada para as crian?as do catecismo. Você quer ir?Na ter?a-feira, fomos em bando até a igreja e nos sentamos nos primeiros bancos. Ali fiquei eu, com o cora??o ansioso, à espera da mo?a que recolhia as palavras com as m?os, como se fossem frutos maduros das árvores.De súbito, ela entrou. Caminhava devagarinho pelo corredor, apoiada em uma bengala (...). E, quando se aproximou do altar, fez o sinal da cruz, sentando-se à nossa frente. Tinha uma express?o bondosa, mas distante, posta no vazio. Olhava-nos, mas n?o nos via.Abrindo um enorme livro, realizou o milagre. Eu a vi, ent?o, tocando com os dedos as folhas brancas, inteiramente brancas, sem nenhuma palavra desenhada, só com alguns pontinhos em relevo, como cabe?as de alfinete. Ela decifrava o papel com as m?os assim como eu decifrava com os olhos os livros do meu av? astr?nomo.E foi para esse av? que eu fui contar correndo a novidade. Ele, porém, n?o se espantou. Era um homem que lia muito, que sabia muito, embora nunca saísse da aldeia. Ele viajava nos livros. (Será que também lia com os dedos, quando ninguém estava vendo?...)– Fortunatella, como essa mo?a é cega, aprendeu a ler de maneira diferente das pessoas que podem enxergar. Cada monte de pontinhos daqueles é uma letra. E uma reuni?o de pontinhos é uma palavra. Caminhando com os dedos sobre esses montinhos, ela vai decifrando as frases.Eu estava perplexa:– E quem ensinou essa mo?a a ler desse jeito?– N?o sei, Fortunatella, n?o sei. Na aldeia, isso é novidade. Mas quem inventou esse jeito de ler foi um cego que morreu na Fran?a há mais ou menos quarenta anos.Quarenta anos era uma eternidade, que eu nem sabia calcular. E a Fran?a devia ser um reino encantado onde as pessoas – que maravilha! – aprendiam a ler sem enxergar.– Vov? Leone, eu também quero ler com as m?os.? mais bonito do que com os olhos!– N?o diga isso, Fortunatella. Enxergar é uma bên??o. Mas, se você quiser, pode aprender a ler o mundo com os dedos, sim. Você tem tato: toque, apalpe, sinta. Fiquei olhando vov? Leone, admirada da sua sabedoria. E fui tentando, nos dias que se seguiram, apalpar as coisas que estavam na minha frente. Era uma nova brincadeira: fechava os olhos e tateava. E assim fui aprendendo a conhecer a lisura de uma folha de papel, as nervuras de uma folha de árvore, o calor de uma cinza da lareira, o veludoso da pele do meu rosto, o fofo do miolo do p?o, a aspereza de uma pedra da rua, a fluidez da água da fonte.E uma noite, depois de acabar de rezar e depois de vovó Catarina apagou a vela do quarto, eu quis ler o escuro. Ergui as m?os e fui tocando a espessura negra à volta da cama. E aí a noite ficou presa entre meus dedos, silenciosamente adormecida até o alvorecer.LAURITA, Ilka, A menina que lia a América. S?o Paulo, FTD, 1991, p.28-31 (Adapta??o) ................
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