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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - I
Material organizado pelos professores de LPT para os cursos de Saúde da UNINOVE
(2º semestre / 2011)
ALUNO: R.A.
CURSO: UNIDADE:
TURMA: SEMESTRE/ANO:
|PROFESSORA: Renata Valente F. Vilela |
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UNIDADE 1
LÍNGUA E LINGUAGEM
“Há um desgaste mais doloroso que o da roupa, e é o da LINGUAGEM, mesmo porque sem recuperação. Certa moça dizia-me de um seu admirador entrado em anos, homem que brilhava no Rio de Janeiro de Machado de Assis e Alcindo Guanabara:
- Ele é tão velho, mas tão velho, que me encontrando à porta de uma perfumaria disse: Boa idéia, vou te oferecer um vidro de cheiro!”
Carlos Drummond de Andrade
A LÍNGUA pode ser definida como um código formado por signos (palavras) e leis combinatórias usados por uma mesma comunidade. Quanto maior o domínio que temos da língua, maior é a possibilidade de um desempenho lingüístico eficiente. Segundo Ferdinand Saussure, ela “é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.”
Ainda de acordo com Saussure, a FALA “é sempre individual e dela o indivíduo é sempre senhor. A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça historicamente, o fato da fala vem sempre antes.”
Uma língua não é estática, imutável; pelo contrário, como afirma o lingüista Saussure: “Todas as partes da língua estão submetidas à mudança; a cada período corresponde uma evolução mais ou menos considerável”. Com o passar do tempo, vão ocorrendo várias transformações fonéticas, evoluções nas regras gramaticais, mudanças de significação, palavras que desaparecem, outras que são criadas. Um exemplo é o trecho da crônica de Carlos Drummond de Andrade lido acima.
Existem basicamente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais:
1) Língua funcional de modalidade culta ou língua padrão, que compreende a língua literária, tem por base a norma culta, forma lingüística utilizada pelo segmento mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colaborando na educação, e não justamente o contrário;
2) Língua funcional de modalidade popular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão. Sendo mais espontânea e criativa, se afigura mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de exemplificação:
Estou preocupado. (norma culta)
Tô preocupado. (língua popular)
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
EXERCÍCIOS
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| |1) Coloque um “X” quanto à linguagem utilizada para cada função: |
| |Função |Linguagem |
| | |Culta |Popular |
| |Aula universitária, conferências, sermões | | |
| |Conversa entre amigos ou em família | | |
| |Discursos políticos | | |
| |Programas culturais e noticiários de TV ou rádio | | |
| |Novelas de rádio e televisão | | |
| |Comunidades científicas | | |
| |Conversas e entrevistas com intelectuais a propósito de temas científicos | | |
| |ou artísticos | | |
| |Irradiação de esportes | | |
| |Expressão de estados emocionais, confissões, anedotas, narrativas | | |
2) Complete as lacunas de acordo com a linguagem solicitada abaixo:
Culta Popular
tênue fraco
ausentar-se _________________
presenciar _________________
repleto _________________
divergir _________________
tendência, pendor _________________
bofetada _________________
acompanhado _________________
odor _________________
_________________ sombra
_________________ conversa
_________________ “gandaia”
_________________ fazer
_________________ pilantra
3) Reescreva, usando o nível culto, as expressões do nível informal destacadas nas frases:
1. Você não aproveita as oportunidades. Ainda vai ficar a ver navios.
2. Pode tirar o cavalo da chuva, que não irá a festa.
3. Que pressa! Parece que vai tirar o pai da forca.
4. Xi!!! Você embarcou em canoa furada.
5. Não estudou nada. Vai dar com os burros n’água nesta prova.
6. Você vai ficar boiando.
7. Eles sabem com quantos paus se faz uma canoa.
8. Ele joga verde pra colher maduro.
9. Ele saiu para tomar a fresca.
4)-UFES 1996
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NÃO atende adequadamente ao sentido do texto da figura e às exigências da língua padrão:
a) Para quem ama mergulhar na cachoeira, comer pão de queijo, cochilar de tarde na praia, comer pipoca no cinema, participar de happy-hour, admirar noites estreladas, comprar lingerie preta, assistir a comédia italiana, tomar champagne, vestir jeans,
brincar carnaval e banhar-se em banheira de hidromassagem, nada mais natural do que também ter um Peugeot 106.
b) Se eu amo pão de queijo, happy-hour, noites estreladas, lingerie preta, comédia italiana, champagne, banhos de cachoeira, cochilo de tarde na praia, jeans, carnaval e banheira de hidromassagem, é lógico que eu também tenha um Peugeot 106.
c) Embora eu tenha um Peugeot 106, eu amo mergulhar na cachoeira, pão de queijo, cochilar de tarde na praia, comer pipoca no cinema, happy-hour, noites estreladas, lingerie preta, comédia italiana, champagne, jeans, carnaval e banheira de hidromassagem.
d) Além de ter um Peugeot 106, eu também amo praticar ações tais quais mergulhar na cachoeira, comer pão de queijo, cochilar de tarde na praia, comer pipoca no cinema, participar de happy-hour, admirar noites estreladas, acariciar lingerie preta, assistir a comédia italiana, tomar champagne, usar jeans, dançar no carnaval e banhar-me em banheira de hidromassagem.
e) Se eu tenho um Peugeot 106, é óbvio que eu também ame mergulhar na cachoeira, comer pão de queijo, cochilar de tarde na praia, comer pipoca no cinema, participar de happy-hour, observar noites estreladas, admirar lingerie preta, assistir a comédia italiana, tomar champagne, vestir jeans, dançar durante o carnaval e banhar-me em banheira de hidromassagem.
5) Observe o texto a seguir, extraído de um conto. É a fala de um protagonista, um sitiante:
“... Com perdão da pergunta, mas será que mecê não tem lá alguma enxada assim meio velha pra ceder pra gente?”
Assinale a alternativa que propõe a transposição dessa frase para uma forma adequada à linguagem urbana culta:
a) ( ) Me perdoe de perguntar, mas será que você não tem por lá alguma enxada assim meio velha que a gente pudesse usar?
b) ( ) Desculpa a gente perguntar, mas o senhor não tem alguma enxada assim meio velha pra emprestar pra nós?
c) ( ) Me perdoa a pergunta, mas será que o senhor não poderia ceder para nós alguma enxada que tem por lá assim meio velha?
d) ( ) Desculpa a pergunta, mas o senhor não teria alguma enxada meio velha para nos ceder?
e) ( ) Desculpe-me a pergunta, mas será que você não tem, para nos emprestar, alguma enxada assim do tipo meio velha?
UNIDADE 2
VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA - FALA E ESCRITA
Sapassado, era sessetembro,
taveu na cuzinha tomando uma
pincumel e cuzinhando um
kidicarne cumastumate pra fazer
uma macarronada cum
galinhassada. Quascaí de susto
quanduvi um barui vinde
denduforno parecenum tidiguerra.
A receita mandopô midipipoca
denda galinha prassá.
O forno isquentô,o mistorô, e o
fiofó da galinhispludiu!
Nossinhora! Fiquei branco quinein
um lidileite. Foi um trem doidimais!
Quascaí dendapia! Fiquei
sensabê doncovim, noncotô,
proncovô. Ópceve quilocura!
Grazadeus ninguém semaxucô!
NATUREZA E CULTURA (Fonte: ARANHA, M.L. & MARTINS, M.H. A cultura. In: Filosofando: introdução à filosofia. SP: Moderna, 1993, p.2-8)
Registros, variantes ou níveis de língua(gem)
A comunicação não é regida por normas fixas e imutáveis. Ela pode transformar-se, através do tempo, e, se compararmos textos antigos com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões. Por que as pessoas se comunicam de formas diferentes? Temos que considerar múltiplos fatores: época, região geográfica, ambiente e status cultural dos falantes.
Há uma língua-padrão? O modelo de língua-padrão é uma decorrência dos parâmetros utilizados pelo grupo social mais culto. Às vezes, a mesma pessoa, dependendo do meio em que se encontra, da situação sociocultural dos indivíduos com quem se comunica, usará níveis diferentes de língua. Dentro desse critério, podemos reconhecer, num primeiro momento, dois tipos de língua: a falada e a escrita.
A língua falada pode ser culta ou coloquial, vulgar ou inculta, regional, grupal (gíria ou técnica). Quando a gíria é grosseira, recebe o nome de calão.
Quando redigimos um texto, não devemos mudar o registro, a não ser que o estilo permita, ou seja, se estamos dissertando – e, nesse tipo de redação, usa-se, geralmente, a língua-padrão – não podemos passar desse nível para um como a gíria, por exemplo.
Variação lingüística: como falantes da língua portuguesa, percebemos que existem situações em que a língua apresenta-se sob uma forma bastante diferente daquela que nos habituamos a ouvir em casa ou nos meios de comunicação. Essa diferença pode manifestar-se tanto pelo vocabulário utilizado, como pela pronúncia ou organização da frase.
Nas relações sociais, observamos que nem todos falam da mesma forma. Isso ocorre porque as línguas naturais são sistemas dinâmicos e extremamente sensíveis a fatores como, por exemplo, a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social dos falantes e o grau de formalidade do contexto. Essas diferenças constituem as variações lingüísticas.
Observe abaixo as especificidades de algumas variações:
1) Profissional: no exercício de algumas atividades profissionais, o domínio de certas formas de línguas técnicas é essencial. As variações profissionais são abundantes em termos específicos e têm seu uso restrito ao intercâmbio técnico.
2) Situacional: as diferentes situações comunicativas exigem de um mesmo indivíduo diferentes modalidades da língua. Empregam-se, em situações formais, modalidades diferentes das usadas em situações informais, com o objetivo de adequar o nível vocabular e sintático ao ambiente lingüístico em que se está.
3) Geográfica: há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões em que é falada. Basta prestar atenção na expressão de um gaúcho em contraste com a de um amazonense. Essas variações regionais constituem os falares e os dialetos. Não há motivo lingüístico algum para que se considere qualquer uma dessas formas superior ou inferior às outras.
4) Social: o português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de instrução difere do português empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais, assim, dominam uma forma de língua que goza prestígio, enquanto outras são vítimas de preconceito por empregarem estilos menos prestigiados. Cria-se, dessa maneira, uma modalidade de língua – a norma culta -, que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo domínio é solicitado como modo de ascensão profissional e social. Também são socialmente condicionadas certas formas de língua que alguns grupos desenvolvem a fim de evitar a compreensão por aqueles que não fazem parte do grupo. O emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento fácil dos integrantes de uma comunidade restrita. Assim se formam, por exemplo, as gírias, as línguas técnicas. Pode-se citar ainda a variante de acordo com a faixa etária e o sexo.
AS DIFERENÇAS ENTRE FALA E ESCRITA
Enquanto a língua falada é espontânea e natural, a língua escrita precisa seguir algumas regras. Embora sejam expressões de um mesmo idioma, cada uma tem a sua especificidade. A língua falada é a mais natural, aprendemos a falar imitando o que ouvimos. A língua escrita, por seu lado, só é aprendida depois que dominamos a língua falada. E ela não é uma simples transcrição do que falamos; está mais subordinada às normas gramaticais. Portanto requer mais atenção e conhecimento de quem fala. Além disso, a língua escrita é um registro, permanece ao longo do tempo, não tem o caráter efêmero da língua falada.
Língua falada:
palavra sonora; requer a presença dos interlocutores; ganha em vivacidade; é espontânea e imediata; uso de frases feitas; é repetitiva e redundante; o contexto extralingüístico é importante; a expressividade permite prescindir de certas regras; a informação é permeada de subjetividade e influenciada pela presença do interlocutor; recursos: signos acústicos e extralingüísticos, gestos, entorno físico e psíquico.
Língua escrita:
palavra gráfica; é possível esquecer o interlocutor; é mais sintética e objetiva; a redundância é apenas um recurso estilístico; ganha em permanência; mais correção na elaboração das frases; evita a improvisação; exigüidade de recursos não lingüísticos;
uso de letras, sinais de pontuação; é mais precisa e elaborada; ausência de cacoetes lingüísticos e vulgarismos; o contexto extralingüístico tem menos influência.
EXERCÍCIOS
1. Identifique os tipos de língua abaixo (culta, coloquial, vulgar, regional, grupal). A primeira frase vem como exemplo:
a) Temos conhecimento de que alguns casos de delinqüência juvenil no mundo hodierno decorrem da violência que se projeta, através dos meios de comunicação, com programas que enfatizam a guerra, o roubo e a venalidade. Culta
b) Cadê o livro que te emprestei? Me devolve em seguida, tá?
c) “Nóis ouvimo falá do pograma da televisão.”
d) “A la pucha, tchê! O índio está mais por fora do que cusco em procissão – o negócio hoje é a tal de comunicação, seu guasca!”
e) O materialismo dialético rejeita o empirismo idealista e considera que as premissas do empirismo materialista são justas no essencial.
f) “O negócio agora é comunicação, e comunicação o cara aprende com material vivo, descolando um papo legal. Morou?”
g) “Meus camaradinhas:
Não entendi bulufas dessa jogada de fazerem o papai aqui apresentar o seu Antenor Nascentes, um cara tão crânio, cheio de mumunhas, que é manjado até na Europa. Estou meio cabrero até achando que foi crocodilagem do diretor do curso, o professor Odorico Mendes, para eu entrar pelo cano.
O seu Antenor Nascentes é um chapa legal, é bárbaro e, em Filologia, bota banca. Escreveu um dicionário etimológico que é uma lenha. Dois volumes que vou te contar. Um deles é desta idade... mais grosso que trocador de ônibus. O homem é o Pelé da Gramática, está mais por dentro que bicho de goiaba. Manda brasa, professor Nascentes!”
(Correio do Povo, 20/04/1966.)
h) Me faz um favor: vai ao banco pra mim.
i) (Trecho de uma lista de compras)
assucar, basora (= vassoura), qejo (= queijo), maizena
j) “Deu-lhe com a boleadeira nos cascos, e o índio correu mais que cusco em procissão.”
(Fonte: MARTINS, D.S. e ZILBERKNOP, L.S. Português instrumental. Porto Alegre: Sagra-Dc Luzzatto, 1998.)
2-FUVEST 2000- “Orientação para uso deste medicamento: antes de você usar este medicamento, verifica se o rótulo consta as seguintes informações, seu nome, nome de seu médico, data de manipulação e validade e fórmula do medicamento solicitado.”
a) Há no texto desvios em relação à norma culta. Reescreva-o, fazendo as correções necessárias.
b) A que se refere, no contexto, o pronome SEU da expressão "seu nome"? Justifique sua resposta.
3-UFES 1996
A história do gerente apressado
Certa vez, um apressado gerente de uma grande empresa precisava de ir ao Rio de Janeiro para tratar de alguns assuntos urgentes. Como tivesse muito medo de viajar, deixou o seguinte bilhete para sua recém-contratada secretária:
“Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você me 'rezerve', um lugar, 'à noite', no trem das 8 para o Rio.”
Sabe o leitor o que aconteceu? O gerente, simplesmente, perdeu o trem! Por quê?"
(BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita São Paulo: Ática, 1990, p.5)
O gerente perdeu o trem, porque a secretária não decodificou a problemática mensagem. Qual bilhete é mais adequado para que a comunicação se dê, de fato:
a) Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você reserve um lugar, à noite, no trem das 8 para o Rio.
b) Maria: devo ir ao Rio amanhã. Quero que você me compre um lugar, à noite, no trem das 8 para o Rio.
c) Maria: Compre, para mim, uma passagem, em cabina com leito, no trem das 20h de amanhã (4a feira), para o Rio de Janeiro.
d) Maria: vou ao Rio amanhã impreterivelmente. Quero que você me compre, à noite uma passagem para o Rio no trem das 8.
e) Maria: devo ir no Rio amanhã. Quero que, à noite você me reserve, sem falta, um, lugar, no trem das oito.
4- UFMT 1996
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu.
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo, então, que cresceu.
(Roda Viva - Chico Buarque)
Na(s) questão(ões) a seguir julgue os itens e escreva nos parênteses (V) se for verdadeiro ou (F) se for falso.
( ) A expressão "a gente" é uma forma característica da linguagem coloquial para substituir o pronome "nós".
( ) O uso do verbo "ter" em lugar de "haver" e a supressão da preposição "em" junto ao relativo são marcas da oralidade no texto.
( ) A modalidade oral e o registro coloquial envolvem o ouvinte-leitor numa relação de familiaridade.
UNIDADE 3
GRAMÁTICA DE USO I
(Partes deste capítulo foram extraídos de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: escrevendo com prática. São Paulo: Iglu, 1997.)
Durante o processo de produção de textos, surgem sempre dúvidas gramaticais; nesta unidade trataremos dos casos em que alguns exercícios podem ajudar a solucionar certos problemas; no entanto há outros casos que gramáticas e livros do tipo tira-dúvidas resolvem tranqüilamente; a consulta a esses materiais torna-se obrigatória por parte de quem se propõe a escrever na escola, no trabalho ou mesmo por motivos particulares.
Vale lembrar que a eliminação de alguns erros será efetuada a partir do treinamento lingüístico e a prática constante da escrita. Cabe ao produtor o trabalho constante da revisão e escrituração dos textos para que a assimilação das técnicas redacionais e normas gramaticais sejam efetivadas.
O USO DE AONDE OU ONDE
Aonde indica movimento, sempre acompanhado de verbos que contenham essa noção:
Vou aonde me chamam.
Aonde chegaremos desse jeito?
Onde, ao contrário, indica o lugar em que se está, sem idéia de movimento, acompanhado de verbos que indicam permanência:
Onde estão os velhos amigos e a beleza dos dias?
Fico onde me querem bem.
Por outro lado, a palavra onde tem sido usada indevidamente com o significado de por isso, mas, de que, uma vez que, quando, e outros. Nas frases abaixo, observe o uso correto e o incorreto;
Morei em Itabuna, onde há muitas fazendas de cacau. O uso está correto, pois indica lugar físico.
Governo que dirige uma nação, além de ter ministros, deputados, senadores que formam um conjunto, onde todos participam para poderem fazer seu dever... Uso errado, pois conjunto não é lugar físico; o correto seria do qual.
EXERCÍCIOS
1. Preencha as lacunas com onde/aonde:
a) __________encontraram o Alfredo?
b) Gostaria que você me dissesse __________estão os talheres.
c) __________foram todos os alunos?
2. A palavra onde foi usada de forma inadequada. Troque-a pelo termo mais apropriado:
a) Essa porção nos fez imaginar um lugar isolado, solitário, apenas freqüentado por alguns animais e vegetais, onde procuram com algumas dificuldades manter sua sobrevivência.
______________________________________________________________________________
b) Mas então lhe chega à frente o seu último inimigo, o mais cruel dos obstáculos, na forma de velhice, onde ele luta para não perder as posições conquistadas.
______________________________________________________________________________
(Fonte: Caderno de Pesquisa, 23, Fundação Carlos Chagas, dez. 77)
c) “Nessa mesma semana desses ataques, o delegado Godofredo do DEIC deu uma entrevista a um canal de televisão e considerou o PCC um “câncer”, onde não existe possibilidade alguma de se acabar com esse grupo organizado.”
______________________________________________________________________________
POR QUE / POR QUÊ / PORQUE / PORQUÊ
|TIPO |EMPREGO |EXEMPLOS |
|Por que |Orações interrogativas diretas. |Por que você viajou? |
| |Orações interrogativas indiretas |Não sei por que você viajou. |
| |Pronomes relativos |O caminho por que passei era ruim. (= pelo |
| | |qual). |
|Por quê |Grafa-se separadamente com acento, quando ocorrer no final de |Ela saiu cedo, por quê? |
| |frases interrogativas diretas e indiretas e quando houver |Pedro saiu? Por quê? |
| |pausa. |Vocês não conversaram com o diretor, por |
| | |quê? |
| | |Não sei por quê, ele não veio. |
| |Usa-se nas respostas explicativas. Pode ser substituído por |Ele saiu cedo, porque tinha uma reunião. |
| |“pois”. Grafa-se numa única palavra, quando for empregada como|Ele foi reprovado, porque não estudou. |
|Porque |conjunção causal ou explicativa. |(causa da reprovação) |
| |Grafa-se numa única palavra e acentua-se, quando for |Não sei o porquê de sua rebeldia. |
| |substantivo. Pode ser substituído pelo substantivo motivo. | |
|Porquê | |Seria interessante saber o porquê de sua |
| | |tristeza. |
EXERCÍCIOS
1. Complete as lacunas com a conjunção porque adequado a cada sentença:
a) Foram esses os ideais_________ sempre lutei.
b) Eis __________ houve pane no avião.
c) Não disse toda a verdade, ___________?
d) __________ não disse toda a verdade?
e) Saberia o __________ de tantas desgraças?
UNIDADE 4
CONCEITO DE TEXTOS - LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBAL
Olímpia, de Èdouard Manet, pintada em 1863 e exposta ao público em 1865 no Salão Oficial de Paris, provocou escândalo e discussões acirradas; foi reconhecida como marco inicial da modernidade na pintura apenas tempos depois. Nessa tela, podemos perceber alguns elementos fundamentais da linguagem da pintura: a composição (repare no equilíbrio da formas distribuídas no espaço da tela), as próprias formas, as cores (note o jogo de claro e escuro, luz e sombra, as diferentes tonalidades de preto).
DESABAR
Desabava
Fugir não adianta desabava
por toda parte minas torres
edif
ícios
princípios
l
e
i
s
muletas
desabando nem gritar
dava tempo soterrados
novos desabamentos insistiam
sobre peitos em pó
desabadesabadesabadavam
As ruínas formaram
outras cidades em ordem definitiva
(ANDRADE, Carlos Drumond de. Impurezas do branco. RJ: J. Olympio, 1974, p.54.)
Neste poema, Carlos Drummond de Andrade, além de explorar a linguagem verbal, utiliza a expressividade da linguagem não-verbal ao fazer palavras e letras “desabarem”.
A LEITURA - TECER UM TEXTO
A palavra texto provém do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento. Fica evidente, assim, que já na origem da palavra encontramos a idéia de que o texto resulta de um trabalho de tecer, de entrelaçar várias partes menores a fim de obter um todo inter-relacionado. Daí podermos falar em textura ou tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade.
Esse trabalho de tecelão que o produtor de textos executa pode ser avaliado a partir de quatro elementos centrais: a repetição, a progressão, a não-contradição e a relação. Para estudá-los, devemos ter sempre em mente que um texto se desenvolve de maneira linear, ou seja, as partes que o formam surgem uma após a outra, relacionando-se com o que já foi dito ou com o que se vai dizer.
(INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto. Scipione, São Paulo: 1991)
Ler as letras de uma página é apenas um dos muitos disfarces da leitura. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais; o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de modo a protegê-la das forças malignas; o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta; o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público lendo os movimentos da dançarina no palco; o tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido; o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página; os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração; o adivinho chinês lendo as marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; o amante lendo cegamente o corpo amado à noite, sob os lençóis; o psiquiatra ajudando os pacientes a ler seus sonhos perturbadores; o pescador havaiano lendo as correntes do oceano ao mergulhar a mão na água; o agricultor lendo o tempo no céu – todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir signos.
(MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 19.)
O artista lê a natureza, talvez o maior e
mais completo de todos os textos; o
observador das telas lê a obra do artista,
ou seja, a leitura que o artista fez, e essa
leitura também constitui um texto.
A intercomunicação social traz a linguagem sempre como um “estar no mundo como os outros não como um indivíduo particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade”. (Bechara, 1999:28). De maneira ampla, a linguagem se forma por meio de palavras, gestos, expressões fisionômicas, sinais visuais, símbolos. Estes sinais são de diferentes naturezas e podem ser classificados em:
Verbais ou lingüísticos: são os sons que nós ouvimos de nossos emissores, e estes sons fazem parte da cadeia sonora de nossa Língua, sendo assim, inteligíveis.
Não verbais ou extralingüísticos ou visuais: são os quadros, a música orquestrada ou new age, a dança, os grunhidos desde a expressão do maior amor até a de consumidor ódio, os olhares, os gestos, até o silêncio. Estes são alguns exemplos de signos extralingüísticos. Devemos nos esforçar para entendê-lo, do contrário, podemos incorrer em “erros” e compulsivamente sermos afastados da socialização pela própria comunidade.
Esquematizando:
Pense num jogo de futebol: há dois pressupostos básicos, pelo menos. O número de jogadores (unidades) e as regras do jogo. Na língua, também há esses dois pressupostos básicos: as unidades (palavras) e as regras gramaticais.
Linguagem verbal: realização concreta da língua através da fala humana (sons e escrita).
Linguagem verbal x linguagem não verbal
Pense sobre o símbolo de um cigarro desenhado sobre uma placa, cortado por uma faixa vermelha. Agora, pense na mesma placa, tirando o desenho e colocando-se Não Fume. Qual é a mais eficaz?
Linguagem não verbal: mais econômica e rápida na veiculação.
Base da linguagem visual: ícone (figura ou imagem), que substitui a linguagem verbal mais economicamente, logo com mais rapidez.
Linguagem verbal:
- transmissão completa do que sentimos, pensamos, desejamos;
- única capaz de traduzir as outras linguagens;
- quando o que temos que comunicar é complexo, optamos pela linguagem verbal.
Você já percebeu que, ao produzir um texto, pode utilizar alguns recursos da linguagem não verbal (como a disposição das palavras no papel, a forma final do texto) para obter maior expressividade.
Mas não se esqueça: para produzir textos cada vez melhores, você deve ser um bom leitor dos mais variados “textos”, escritos com as mais variadas “palavras” (desenhos, pinturas, filmes, o branco do vestido de noiva, a bandeira a meio-pau, o minuto de silêncio, a seleção de notícias do telejornal, etc.).
EXERCÍCIOS
1. Na publicidade, qual texto chama mais a atenção do consumidor: verbal, não verbal ou mista? E no jornalismo?
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2-UFSM 2000 - Considere o que se afirma sobre o papel da linguagem verbal e não-verbal na organização da história.
I. O desenho é auto-suficiente. Mesmo sem os diálogos, entende-se que um homem foi punido por ter chamado o outro de gordo.
II. As falas das personagens são auto-suficientes. Mesmo sem os desenhos, entende-se que um homem foi punido por acusar o outro de medroso.
III. O desenho e as falas são interdependentes. É pela fala do segundo quadrinho que se entende que o homem foi punido principalmente por chamar o outro de "gordão".
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
b) apenas I e III.
2. Diga se os textos a seguir são verbal, não verbal ou misto. Interprete-os.
UNIDADE 5
INTERPRETAÇÃO DE ENUNCIADOS - VERBOS DE COMANDO
Antes de iniciar o uso desta apostila, pergunte-se: VOCÊ FAZ O QUE REALMENTE SE PEDE? Para medir o nível do aproveitamento e o desenvolvimento dos alunos em sala de aula, o professor pode utilizar vários instrumentos de avaliação. Entre esses instrumentos, é muito comum o emprego de provas e/ou testes dissertativos, nos quais os alunos têm um espaço para mostrar, sobre algum assunto determinado, a sua capacidade de análise, criação, comparação, identificação, conceituação etc.
É muito comum nas discussões entre professores comentários sobre a dificuldade que os alunos têm diante do momento de dissertar numa prova, mesmo que ela seja composta por questões breves. Essa dificuldade pode ocorrer, muitas vezes, porque eles não conseguem compreender exatamente o que é pedido em uma questão. Se observarmos com atenção, todas as questões se iniciam ou se desenvolvem tendo como base um verbo-comando (geralmente na forma do imperativo) que especifica para o aluno a forma como ele deve responder a uma questão. A tabela abaixo demonstra alguns dos verbos-comando mais utilizados.
|Verbos de comando |Definição dos verbos |Especificação dos procedimentos |
| |(adaptada do Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis e| |
| |Aurélio) | |
|Analise |Determinar os componentes ou elementos fundamentais de alguma |Exige a elaboração de um texto como |
| |idéia, teoria, fato etc.; determinar por discernimento natureza,|resposta. |
| |significado, aspectos ou qualidades do que está sendo examinado.| |
|Justifique Explique |Explicar ou demonstrar a veracidade ou não de algum fato ou |Exige a elaboração de um texto como |
| |ocorrência por meio de elementos/argumentos plausíveis. Tornar |resposta. |
| |claro e coerente os elementos levantados. | |
|Transcreva Cite |Reproduzir, extrair, copiar algum trecho de algum texto sem |A resposta não pode ser elaborada e sim |
|Destaque |qualquer tipo de modificação. |apenas recortada utilizando-se sinais |
| | |adequados com aspas |
|Compare |Examinar, simultaneamente, as particularidades de duas ou mais |Exige a elaboração de um texto como |
|Confronte |idéias, fatos, ocorrências. |resposta. |
| | | |
|Critique |Examinar com muito critério alguma idéia, noção ou entendimento |Exige a elaboração de um texto como |
|(“faça um comentário |tentando perceber qualidades e/ou defeitos, pontos negativos |resposta. Importante observar que criticar |
|crítico”) |e/ou positivos etc. |não é somente levantar aspectos negativos do|
| | |que se está observando – a crítica pode ser |
| | |também de caráter positivo. |
|Reescreva |Tornar a escrever; escrever uma segunda vez. |Exige a reelaboração de um texto, |
| | |consertando os defeitos do primeiro texto. |
Sugestões para responder melhor às questões dissertativas :
• Leia atentamente, se necessário várias vezes, os enunciados das questões detectando os verbos-comando que estruturam as questões.
• Responda exatamente o que está sendo pedido, não tente “complementar” suas respostas com informações desnecessárias achando que elas irão compensar o que você não souber responder.
• Não se esqueça de que uma resposta a uma questão dissertativa, por menor que seja, é sempre um texto, sendo assim, seja claro, coeso, coerente.
• Suas respostas deverão ter, como em qualquer outro texto, um início, um desenvolvimento e, quando necessário, uma conclusão.
• Não responda às questões utilizando frases inteiras de textos, leia atentamente o material que está sendo analisado e construa a resposta com o seu próprio discurso. Os recortes de frases devem ser feitos apenas quando se tratar de verbos-comando como “transcreva”, “retire” etc.
• Respeite o número de linhas especificado para as suas respostas. Não seja muito sucinto nem muito prolixo – responda de maneira que você dê conta do que está sendo pedido.
• Toda boa resposta geralmente se inicia com traços da questão que a originou.
Ex.: Pergunta: De acordo com o texto, qual o nível financeiro daquela população?
Resposta: De acordo com o texto, o nível financeiro daquela população é muito baixo.
• Não use em suas respostas gírias e/ou construções típicas da linguagem coloquial.
Nesta apostila, e nas provas/avaliações que serão dadas para você elaborar, muitos destes verbos serão solicitados. Fique atento!
(Fonte: Profs. Patrícia Quel e Jorge Luís Torresan)
EXERCÍCIOS
1-UNICAMP 1993 - A leitura literal do texto a seguir produz um efeito de humor.
"As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais."
("Folha Sudeste", 06/06/92)
a) Transcreva a passagem que produz efeito de humor.
b) Qual a situação engraçada que essa passagem permite imaginar?
c) Reescreva o trecho de forma a impedir tal interpretação.
2. Faça o que se pede de acordo com os textos OBESIDADE INFANTIL, e EDUCANDO O PALADAR.
OBESIDADE INFANTIL
O papel dos hábitos sedentários, da publicidade e da educação alimentar na globalização de uma epidemia
.
Nos últimos 20 anos, a obesidade infantil tornou-se epidemia mundial. O número de casos pode ser atribuído à farta disponibilidade de alimentos densamente calóricos e à vida sedentária das crianças nas cidades.
Não existe um gene único que possa ser responsabilizado pela obesidade. A predisposição é causada por uma interação complexa de cerca de 250 genes envolvidos no controle de peso do organismo.
Células especiais para armazenar gordura (adipócitos) surgem no feto ao redor da 15ª semana de gestação. Durante o primeiro ano de vida elas não mais se multiplicam, apenas crescem e se enchem de gordura para armazenar energia que será utilizada quando a criança começar a andar.
À medida que a criança cresce em altura, essas reservas são consumidas até atingir seus níveis mais baixos aos 5 ou 6 anos. Meninos e meninas que chegam gordinhos a essa idade apresentarão maior probabilidade de desenvolver obesidade na adolescência e na vida adulta.
Na criança de peso normal, entre 2 e 10 anos, ocorre apenas um pequeno aumento do número de adipócitos. Já nas obesas, quando a quantidade de gordura contida em cada célula atinge 1 grama — o limite máximo de sua capacidade —, ocorre a multiplicação celular com formação de novos adipócitos.
Quando a criança obesa perde peso, a velocidade de formação de novas células gordurosas diminui. Mas, ainda assim, são formadas mais células novas do que aquelas das crianças magras.
A obesidade materna durante a gravidez interfere com a troca de nutrientes com o feto e favorece o aparecimento de obesidade infantil. Ao contrário, má nutrição durante a gravidez também pode levar à obesidade como mecanismo compensatório.
Crianças negligenciadas, solitárias ou deprimidas tendem a apresentar maiores índices de obesidade quando adultas.
A falta de atividade física é fator crucial. A redução dos espaços urbanos disponíveis para brincar em segurança, os computadores, os jogos eletrônicos e, especialmente, o número de horas diante da tevê, expostas a comerciais de alimentos com alta densidade calórica, são fatores de risco associados à explosão de obesidade nas crianças.
Pesquisas conduzidas na Inglaterra e nos Estados Unidos mostram que, nesses países, elas estão expostas, em média, a dez comerciais de alimentos por hora diante da tevê; a maioria sobre doces, refrigerantes e salgadinhos.
Da mesma forma que nos adultos, a obesidade na infância causa hipertensão arterial, aumento de colesterol e triglicérides, inflamação crônica, facilita a formação de coágulos, altera a parede interna das artérias e aumenta a produção de insulina. Esse conjunto de fatores de risco para doença cardiovascular, conhecido como síndrome da resistência à insulina ou síndrome metabólica, tem sido descrito até em crianças com 5 anos de idade.
Anteriormente conhecido como diabetes do adulto, o diabetes do tipo 2 é cada vez mais encontrado na infância. Em certas populações, seus portadores chegam a representar metade do total de crianças diabéticas.
(Drauzio Varella)
EDUCANDO O PALADAR
O sabor do leite materno não é o mesmo em todas as mamadas, pois ocorrem modificações no decorrer do dia por causa da alimentação da mãe. Bebês alimentados com mamadeira não experimentam tal variedade de sabores, já que o gosto do leite em pó é sempre o mesmo.
Estudos mostram que a diversidade de sensações gustativas associadas à amamentação facilita mais tarde a instalação de paladares mais variados.
As crianças têm preferência inata por sabores doces e salgados, rejeição pelos amargos e azedos, e apresentam dificuldade para aceitar novas experiências gustativas.
Calcula-se que devam ser expostas de cinco a dez vezes, em média, para adaptar-se ao gosto de um novo alimento.
Nessa fase da vida, existe nítida predisposição para alimentos com alta densidade calórica, como as gorduras e os doces, por causa do gosto agradável e por levar à saciedade mais prontamente. Se não houver insistência na oferta, o paladar poderá fixar-se exclusivamente em doces e gorduras, com graves conseqüências futuras.
(In: Carta Capital, n.º 332, 08/03/2005.)
a) Cite as causas do número de casos de obesidade infantil.
c) Explique por que uma criança que é gordinha aos cinco ou seis anos de idade tem maiores chances de desenvolver obesidade na vida adulta.
d) Analise as conseqüências da obesidade para a saúde da criança.
e) Explique a importância da amamentação no processo de desenvolvimento do paladar da criança.
f) Compare os dois textos e explique a relação entre os dois.
3-UNICAMP 1995
Defender a língua é, de modo geral, uma tarefa ambígua e até certo ponto inútil. Mas também é quase inútil e ambíguo dar conselhos aos jovens de uma perspectiva adulta e no entanto todo adulto cumpre o que julga seu dever. (...) Ora, no que se refere à língua, o choque ou oposição situam-se normalmente na linha divisória do novo e do antigo. Mas fixar no antigo a norma para o atual obrigaria este antigo a recorrer a um mais antigo, até ao limite das origens da língua. A própria língua, como ser vivo que é, decidirá o que lhe importa assimilar ou recusar. A língua mastiga e joga fora inúmeros arranjos de frase e vocábulos. Outros, ela absorve e integra a seu modo de ser.
(Vergílio Ferreira, "Em Defesa da Língua", em: Estão a Assassinar o Português! trecho adaptado)
a) Transcreva a tese de Vergílio Ferreira, isto é, a afirmação básica que o autor aceita como verdadeira e defende nesse trecho.
b) Transcreva o argumento no qual o autor se baseia para defender sua tese.
UNIDADE 6
A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO - TÓPICO FRASAL – PARAGRAFAÇÃO
NOÇÕES DE TIPOLOGIA TEXTUAL
AS PALAVRAS-CHAVE
Ninguém chega à escrita sem antes ter passado pela leitura. Mas leitura aqui não significa somente a capacidade de juntar letras, palavras, frases. Ler é muito mais que isso. É compreender a forma como está tecido o texto. Ultrapassar sua superfície e aferir da leitura seu sentido maior, que muitas vezes passa despercebido a uma grande maioria de leitores. Só uma relação mais estreita do leitor com o texto lhe dará esse sentido. Ler bem exige tanta habilidade quanto escrever bem. Leitura e escrita complementam-se. Lendo textos bem estruturados, podemos apreender os procedimentos lingüísticos necessários a uma boa redação.
Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que o autor disse. Uma leitura bem feita é aquela capaz de depreender de um texto ou de um livro a informação essencial. Tudo deve ajustar-se a elas de forma precisa. A tarefa do leitor é detectá-las, a fim de realizar uma leitura capaz de dar conta da totalidade do texto.
Por adquirir tal importância na arquitetura textual, as palavras-chave normalmente aparecem ao longo de todo o texto das mais variadas formas: repetidas, modificadas, retomadas por sinônimos. Elas pavimentam o caminho da leitura, levando-nos a compreender melhor o texto. Além disso, fornece a pista para uma leitura reconstrutiva porque nos levam à essência da informação.
Após encontrar as palavras-chave de um texto, devemos tentar reescrevê-lo, tomando-as como base. Elas constituem seu esqueleto.
AS IDÉIAS-CHAVE
Muitas vezes temos dificuldades para chegar à síntese de um texto só pelas palavras-chave. Quando isso acontece, a melhor solução é buscar suas idéias-chave. Para tanto é necessário sintetizar a idéia de cada parágrafo.
TÓPICO FRASAL
Um parágrafo padrão inicia-se por uma introdução em que se encontra a idéia principal desenvolvida em mais períodos. Segundo a lição de Othon M. Garcia em sua Comunicação em prosa moderna (p. 192), denomina-se tópico frasal essa introdução. Depois dela, vem o desenvolvimento e pode haver a conclusão. Um texto de parágrafo:
“Em todos os níveis de sua manifestação, a vida requer certas condições dinâmicas, que atestam a dependência mútua dos seres vivos. Necessidades associadas à alimentação, ao crescimento, à reprodução ou a outros processos biológicos criam, com freqüência, relações que fazem do bem-estar, da segurança e da sobrevivência dos indivíduos matérias de interesse coletivo”.
(FERNANDES, Florestan. Elementos de sociologia teórica 2 ed. SP: Nacional, 1974, p. 35.)
Neste parágrafo, o tópico frasal é o primeiro período (Em .... vivos). Segue-se o desenvolvimento especificando o que é dito na introdução.
Se o tópico frasal é uma generalização, e o desenvolvimento constitui-se de especificações, o parágrafo é, então, a expressão de um raciocínio dedutivo. Vai do geral para o particular: Todos devem colaborar no combate às drogas. Você não pode se omitir.
Se não há tópico frasal no início do parágrafo e a síntese está na conclusão, então o método é indutivo, ou seja, vai do particular para o geral, dos exemplos para a regra: João pesquisou, o grupo discutiu, Lea redigiu. Todos colaborando, o trabalho é bem feito.
EXERCÍCIOS
1. Relacione as palavras-chave do texto a seguir:
AMEAÇA AO SIGILO DO PACIENTE
As seguradoras podem ter acesso ao diagnóstico. Os médicos temem interferências.
O novo padrão de preenchimento das guias de consultas e exames clínicos, implantado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no início de junho, provocou atritos entre a comunidade médica e as operadoras de planos de saúde. Pelo atual sistema, os documentos podem revelar o tipo de doença do paciente. Os profissionais da área temem que as seguradoras tenham acesso às informações e possam criar obstáculos para a realização de procedimentos dispendiosos a doentes crônicos ou impor sanções, como o descredenciamento, aos médicos que os solicitam.
O Conselho Federal de Medicina considera que a prática fere o direito de sigilo sobre as condições de saúde do paciente. Alertou que os médicos devem acatar uma resolução anterior da entidade, que proíbe a “colocação do diagnóstico em guias de papel e solicitação de exames”. O vice-presidente da Associação Paulista de Medicina, Florisval Meinão, destaca que os dados só podem ser divulgados com a anuência dos doentes. “Caso contrário, seria uma grave violação ética, passível de punições.”
Meinão pondera que o novo modelo, batizado de Troca de Informações em Saúde Suplementar (TISS), tem o mérito de uniformizar procedimentos e contribuir para a obtenção de dados epidemiológicos atualizados, indispensáveis para orientar as políticas públicas de controle e prevenção de moléstias. No entanto, exige garantias de que o sigilo na relação entre médico e paciente seja preservado. “As informações do formulário eletrônico são criptografadas e omitem a identidade dos usuários. O mesmo não está assegurado nos documentos em papel. Não deveria existir um campo para relatar o diagnóstico nessas guias.”
A ANS garante que a privacidade das informações não corre perigo. Por meio de nota, a agência diz que o preenchimento de dados sobre a enfermidade “permanece opcional nas guias de consulta e só pode ser efetuado com autorização expressa do beneficiário”.
Ainda assim, o Conselho Federal de Medicina reitera as críticas no site oficial: “Ao tornar opcional a anotação, a ANS possibilitou que algumas operadoras exijam que médicos quebrem esse direito do paciente”. Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, a pedido do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), revelou que 43% dos médicos da rede privada paulista sofreram ou sofrem restrições dos planos de saúde na requisição de exames e tratamentos aos segurados.
(In: Carta Capital, nº 450, 21/06/2007)
2. Leia o texto abaixo e responda às questões a seguir:
A INTENÇÃO E A REALIDADE
Não se pode negar que a decisão a que chegaram os juízes de menores de dezessete municípios do Vale do Paraíba, proibindo a venda de cigarros a menores de 18 anos, tenha sido tomada com a melhor das intenções. Os magistrados que assinaram provimento nesse sentido o fizeram com o objetivo de proteger a saúde da juventude contra o hábito cujos efeitos perniciosos serão tanto mais graves quanto mais cedo tenha sido adquirido. Se o motivo é justo, e a intenção louvável, a medida é certamente irrealista: não haverá necessidade de muito esforço imaginativo para burlar a determinação, principalmente por estar dirigida a uma faixa etária que, em sua natural necessidade de auto-afirmação, não perde ocasião para rebelar-se contra a autoridade. E é este, aliás, um dos motivos que levam o adolescente a experimentar o primeiro cigarro, falsamente convencido de que, com tal gesto, está pondo em xeque instituições e valores considerados tradicionais e obsoletos.
Não se pode ignorar, por outro lado, o poder persuasivo dos meios de divulgação, e especialmente a TV, a que os jovens estão expostos. Numa fase de desenvolvimento da personalidade marcada por uma difícil e angustiosa construção da própria identidade, o jovem é particularmente sensível a apelos cujos conteúdos – justamente pelo grau de ilusão que encerram – são os mais atrativos.
É o caso da sofisticada e insistente publicidade em torno do cigarro feita na televisão. Associado ao lazer, a profissões e atividades socialmente reconhecidas como símbolo de status e – contraditoriamente – ao esporte; desfrutado por personagens jovens dinâmicos e cheios de vida; suporte de valores relacionados com projetos de ascensão social – o cigarro é apresentado ou como a chave para ingressar nesse mundo mágico e exclusivo, ou como a marca distintiva dos que dele fazem parte.
Não resta a menor dúvida de que a irrealidade de tais apelos não resiste à mais elementar análise. Não é à razão, contudo, que se dirigem, pois seu poder evocativo reside justamente na relação imaginária que estabelecem com o telespectador, convencendo antes pelo clima especial que produzem do que por meio de argumentações.
Nesse sentido, qualquer medida contra o tabagismo, para ser eficaz, deve levar em consideração as determinações tanto psicológicas como sociais vinculadas ao hábito de fumar, visando antes às motivações que o vício em si. É por esta razão que a simples proibição da venda de cigarros a menores de 18 anos seguramente não atingirá os objetivos que a motivaram. A decisão dos magistrados, no entanto, tem o mérito de chamar a atenção para o problema.
O tabagismo, tanto pelos riscos que representa para a saúde da população, como pela complexidade dos fatores que o determinam, não pode ser encarado com gestos apenas bem intencionados. Só será eficazmente combatido na medida em que o Juizado de Menores, as instituições médicas, pedagógicas, os meios de divulgação conjugarem esforços numa ampla campanha destinada não só a divulgar os males que origina, mas a atacar as causas que o determinam.
(Editorial, Folha de S. Paulo, 1981)
a) Delimite o tópico frasal de cada parágrafo.
b) Delimite o tema.
c) Selecione as idéias-chave do texto.
d) Elabore um parágrafo concordando ou discordando do autor.
3 – FGV 1996
(Articulação entre os componentes do texto):
Crie um tópico frasal às idéias exploradas no parágrafo a seguir.
O brasileiro esperou 15 anos por este momento. Com a queda da inflação, a vida ficaria mais tranqüila, as pessoas teriam de volta segurança no emprego, bons salários e a confiança no progresso das empresas. Isso não aconteceu. A vida tornou-se mais competitiva e não há mais posições garantidas nem para as empresas nem para as pessoas. As mudanças virão cada vez mais rápidas. É preciso ficar atento: o dinheiro está mudando de mãos rapidamente no Brasil e é importante conhecer esse movimento.
(Adaptado de KANITZ, Stephen. "Era de risco". Veja, 04-10-1995.)
4. Relacione as palavras-chave do texto a seguir:
Em nenhum outro lugar a vida está sendo um jogo tão perigoso como nas grandes cidades. Na cidade grande tudo pode acontecer, quando tudo é possível está instalado o absurdo. Com este, o seu filho mais direto: o medo.
Assim, o medo é o pão cotidiano dos cidadãos, fruto das ameaças a que estão submetidos. E onde estão as ameaças está a violência. Mas abordar o tema da violência torna-se um tanto difícil, pois sua realidade percorre desde as violências vermelhas (sangrentas) até as violências brancas (como a que esmaga o empregado de linha-de-montagem que, nas grandes indústrias, é, na verdade, o prisioneiro de um campo de concentração habilmente disfarçado).
Para muitas pessoas, essas afirmações podem parecer exageradas. Isto se explica pelo fato de que escapam da nossa percepção diária aquelas situações a que estamos excessivamente habituados. Se vivêssemos no fundo do mar, a coisa da qual teríamos menos consciência constante seria a própria água. Esse comportamento abriga, primeiro, a virtude que o ser humano tem de ser muito adaptativo; segundo, o defeito que o homem tem de se adaptar até àquilo que deveria, que precisaria contestar.
(Fonte desconhecida)
UNIDADE 7
RESUMO E RESENHA – TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO
“Resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto em seqüência de frases articuladas. (...) O tema principal vem na primeira frase. Use a terceira pessoa do singular, com verbo na voz ativa, de preferência em frases afirmativas. (...) Num resumo, é necessário decidir o que é fundamental e o que é acessório. É a procura da idéia principal.(...) Como o resumo é uma operação de síntese, pressupõe uma análise que decompõe o texto, possibilitando agrupar os elementos semelhantes e distinguir os que são diferentes”.
(Fonte: NADÓLSKIS, H. Comunicação Redacional Atualizada. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.)
Passos a seguir num resumo:
1. ler o texto e procurar palavras desconhecidas;
2. reler;
3. sublinhar;
4. esquematizar;
5. resumir.
Exemplo:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes “fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir idéias que não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham, mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam idéias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
(GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 6 ed. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas, 1977, p. 275)
Sublinhado:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes “fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir idéias que não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham, mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam idéias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
Esquema:
Aprender a escrever = aprender a pensar
Não se transmite o que não se criou ou guardou
Temas sem roteiro = mau resultado
Não bastam palavras e conhecimentos gramaticais
Se pensar com clareza, a expressão é satisfatória
Resumo:
Aprender a escrever é aprender a pensar, encontrar idéias e ligá-las. Só se pode transmitir o que a mente criou ou guardou. Se o professor dá o tema e não sugere roteiros, o resultado é desanimador, mesmo que o aluno tenha as palavras e conhecimentos gramaticais. Se pensar com clareza, a expressão será satisfatória.
ATIVIDADE
1) Leia e releia o texto a seguir. Sublinhe, esquematize e resuma-o.
Saúde
ESTUDO LEVA À CRIAÇÃO DE MINIFÍGADO
Cientistas britânicos anunciaram nesta terça-feira que conseguiram criar em laboratório um fígado humano em miniatura, medindo menos de três centímetros. O mini órgão, na verdade parte do tecido de um fígado normal, foi reproduzido artificialmente a partir de células-tronco de um cordão umbilical, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Newcastle, Inglaterra.
Segundo os cientistas, o tecido poderá ser utilizado para testar drogas e produtos farmacêuticos, o que evitaria o emprego de cobaias humanas ou animais neste processo. Em algumas décadas, eles acreditam, será possível reproduzir um fígado de tamanho real, para ser usado em transplantes.
Os coordenadores da pesquisa, Nico Ferraz e Colin McGuckin, disseram que, em 10 ou 15 anos, a técnica que eles utilizaram poderá ser aplicada na recuperação de partes do fígado de pacientes doentes. O tecido foi criado com um chamado biorreator, equipamento desenvolvido pela Nasa para simular a ausência de gravidade. O efeito da falta de peso permite que as células se reproduzam a um ritmo mais acelerado.
O professor Ian Gilmore, especialista em fígados no Royal Liverpool Hospital, levantou também o aspecto ético do estudo. "Os pesquisadores conseguiram criar o fígado a partir do sangue colhido no cordão umbilical, sem precisar de embriões. Isso é um grande avanço ético", afirmou o professor à BBC.
No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a ciência possa reproduzir um fígado inteiro. De acordo com Gilmore, "o fígado tem seu próprio fornecimento de sangue, seu próprio esqueleto fibroso, e os pesquisadores estão apenas produzindo células individuais de fígado. Mas qualquer coisa que dê esperança aos pacientes que aguardam um transplante, mesmo em um período de dez anos, é motivo para celebração", disse.
(Copyright © Editora Abril S.A. - todos os direitos reservados Fonte: Revista Veja On line . 31.10.2006)
RESENHA
A resenha é um tipo de redação técnica que pode ser definida como um resumo minucioso ou crítico. Há resenhas descritivas (objetivas) e resenhas críticas (subjetivas). O objeto de uma resenha pode ser um acontecimento, uma exposição, textos, obras culturais, como romance, peças de teatro, filmes. O resenhista terá sempre um procedimento seletivo e o relato dependerá de sua finalidade. O objetivo é conduzir o leitor para mensagens referenciais, por isso a linguagem deve ser objetiva, em 3ª pessoa. Incluindo variadas modalidades de textos – descrição, narração e dissertação – esse relato detalhado pode ser um instrumento de pesquisa ou atualização bibliográfica.
Na resenha descritiva, é importante ressaltar a estrutura da obra (partes, número de páginas, capítulos, assuntos, índices, nome do tradutor), o resumo do texto, a perspectiva teórica, o gênero (crítica literária, livro de negócios, romance, teatro, ensaio), o método adotado.
Na resenha crítica acrescentam-se comentários e julgamentos do resenhista, comparações com outras obras, avaliação da relevância do texto.
Resenha Crítica
Resenha crítica é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo e na crítica, através da qual se estabelece um conceito sobre o valor de um livro. A resenha exige que o indivíduo, além do conhecimento sobre o assunto, tenha capacidade de juízo crítico. Também pode ser feita por estudantes, neste caso, como um exercício de compreensão e crítica. A prática social da resenha é formar a opinião do leitor. A resenha crítica tem um marketing duplo: o primeiro é de venda da obra resenhada e o segundo, o da competência do resenhista. A resenha crítica apresenta a seguinte estrutura ou roteiro (nem todos os elementos podem aparecer nela):
1. Resumo;
2. Avaliação crítica;
3. Dados técnicos da obra;
4. Comparação com outra obra congênere;
5. Dados sobre o autor da obra;
6. Público-alvo ou destinatário;
7. Título da resenha (não deve ser o mesmo da obra resenhada);
8. Dados do resenhista (assinatura).
Exemplos de resenha descritiva
Livro
SCLIAR, Moacir e outros. Vozes do golpe. 4v. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, 336p.
Por meio de relatos pessoais e histórias de ficção, Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura, Luis Fernando Verissimo e Moacir Scliar relembram o golpe militar de 1964. Refazem o clima da época, reconstituindo os últimos momentos do governo João Goulart e recordando um dos períodos da história do Brasil.
Filme (cinema)
ROUBANDO VIDAS (TAKING LIVES, EUA, 2004). Suspense – 14 anos – 103 min. Direção: D.J. Caruso. Com: Angelina Jolie, Ethan Hawke
Illeana Scott (Angelina Jolie) é uma especialista do FBI que é convocada a trabalhar na captura de um serial killer, que age há 20 anos e assume a identidade de cada nova vítima. Os métodos utilizados por Illeana são desprezados pelo FBI, o que faz com que ela trabalhe sem parceiros da polícia. O único a ajudá-la é Costa (Ethan Hawke), o funcionário de um museu que é encarregado em ajudar na busca por um professor de artes, que está desaparecido.
Ficha Técnica:
Roteiro: Jon Bokemkamp, baseado em livro de Michaael Pye
Produção: Mark Canton e Bernie Goldmann
Música: Philip Glass
Fotografia: Amir M. Mokri
Desenho de Produção: Tom Southwell
Direção de Arte: Serge Bureau
Figurino: Marie-Sylvie Devreau
Edição: Anne V. Coates
Efeitos Especiais: Les Productions de l’Intrigue Inc.
Exemplos de resenha crítica
Livro
(Valor Econômico, 26/3/2004)
SCLIAR, Moacir e outros. Vozes do golpe. 4v. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, 336p.
O CORO DOS PERPLEXOS
Vozes do Golpe reúne diferentes pontos de vista de quatro autores sobre o 31 de março de 1964
A renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, inaugurou uma grave crise político-institucional no País. No curto prazo, ela foi contornada com a posse de João Goulart, o Jango, vice de Jânio. Para viabilizar essa transição, foi aprovado às pressas um regime parlamentarista que durou apenas dezesseis meses, derrubado no plebiscito de janeiro de 1963.
Todavia, as raízes da crise eram bem mais profundas. Jango tentou conciliar seus compromissos históricos com as chamadas “reformas de base” pregadas pelas esquerdas, em especial a agrária; e a necessidade de apoio dos setores mais conservadores. Sua estratégia mostrou-se inviável, pois as forças políticas se radicalizavam, mais dispostas ao confronto que ao entendimento. Assim, no início de 1964 a ruptura da ordem institucional parecia quase inevitável.
A queda de Jango e a instauração do regime autoritário que se prolongaria por vinte e um anos, seriam marcadas pelo golpe de 31 de março, acontecimento de triste, mas obrigatória memória, que completa 40 anos. Se para os mais jovens este espaço de tempo pode começar a sugerir “distância”, é necessário saber que seus reflexos continuam presentes na vida de todos os brasileiros.
Daí a importância e oportunidade deste lançamento, Vozes do Golpe, reunião de quatro narrativas sobre aqueles duros dias, criadas por quatro consagrados escritores e jornalistas brasileiros contemporâneos: Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Moacir Scliar e Luis Fernando Verissimo. São dois relatos pessoais e duas histórias de ficção.
Teatro
(Fonte: vejanoitebusca..br; 11/4/2004)
3 VERSÕES DA VIDA. Teatro Renaissance. Censura: 12 anos. Valor: R$ 40,00 (Sex. e dom.) e R$ 50,00 (Sáb.). Endereço: Alameda Santos, 2233. Bairro: Cerqueira César. Telefone: 3069-2233. Lugares: 462. Horário: Sexta, 21h30; Sábado, 21h; Domingo, 19h.
Longe do teatro há sete anos, Denise Fraga volta ao palco numa corrosiva comédia. A trama enfoca o mundo de Sônia (Denise Fraga) e seu marido, o físico Henrique (Marco Ricca). Em um jantar não planejado com seu chefe (Mario Schöemberg) e a mulher (Ilana Kaplan), o encontro acaba por revelar segredos profundos da vida desses casais. Três pontos-de-vista diferentes examinam essa realidade. Direção de Elias Andreato.
EXERCÍCIOS
1. Leia as resenhas abaixo e
a) indique se são descritivas ou críticas
b) analise-as de acordo com os oito elementos da estrutura de uma resenha, quando for crítica
1) A PAIXÃO DE CRISTO (THE PASSION OF THE CHIST, EUA, 2004). Drama – 14 anos – 127. Direção: Mel Gibson. Com: James Caviezel, Monica Bellucci.
Uma narrativa sobre as últimas doze horas de vida de Jesus Cristo (J. Caviezel), antes de sua crucificação.
No posto de diretor, produtor e co-roteirista, o astro Mel Gibson teve a intenção de fazer aqui um retrato ultra-realisra das últimas doze horas de Jesus Cristo – e assim causar comoção na platéia. Mas seu drama bíblico tende a provocar repúdio. Não apenas por responsabilizar os judeus pela crucificação do Nazareno (daí a polêmica gerada), mas pela violência ultrajante que domina esse desnecessário e provocador espetáculo de retalhação humana. O passado de Jesus é visto em flashbacks-relâmpago. Gibson concentra a ação no calvário. Nas bilheterias, ele conseguiu o que queria. Mesmo falada em aramaico e latim, a fita já arrancou mais de 250 milhões de dólares nos Estados Unidos. Com Monica Bellucci, na pele de Maria Madalena. Estreou em 19/3/200.
Ficha Técnica:
Roteiro: Mel Gibson e Benedict Fitzgerald
Produção: Brce Davey, Mel Gibson e Stephen McEveety
Música: John Debney
Fotografia: Caleb Deschanel
Desenho de Produção: Francesco Frigeri
Figurino: Maurizio Millenotti
Efeitos Especiais: Keith Vanderlaan’s Captive Audience Productions
2) Teatro
(Fonte: Vejanoitebusca, 11/4/2004)
À MEIA-NOITE UM SOLO DE SAX EM MINHA CABEÇA & FICA FRIO. Teatro Faap. Censura: 14 anos. Valor: R$ 40,00 (qui. e sex.); R$ 45,00 (dom.); R$ 50,00 (sáb.). Endereço: Rua Alagoas, 903. Bairro: Pacaembu. Telefone: 3662-1992. Lugares: 408. Horário: Quinta a sábado, 21h; domingo, 19h.
A montagem reúne dois textos. Em Fica Frio, sobre as diferenças entre dois irmãos (Chico Carvalho e Renato Chocair), Raul Cortez atua como coadjuvante. Na seqüência, ele e Mário César Camargo estrelam À Meia-Noite um Solo de Sax em Minha Cabeça, cômica história de dois amigos, do berço à maturidade. Sérgio Ferrara e Cibele Forjaz respondem pelas respectivas direções.
3) Arte
(Fonte: vejaonline, 11/4/2004)
Picasso na Oca. Parque do Ibirapuera, portão 2, tel. 3253-5300. Ter. a sex., 9h às 21h; sáb. e dom., 10h às 21h. R$ 5,00 (estudantes) e R$ 10,00. Grátis para menores de 5 anos, pessoas com mais de 65, aposentados, deficientes físicos e grupos de escolas pré-agendados (agendamento@ ou tel. 3253-7007). Até 2 de maio.
Desde a década de 50, ele já atraiu mais de 1 milhão de visitantes aos museus de São Paulo. Desta vez, não é diferente: a Oca tem recebido uma média de 4.000 pessoas por dia durante a semana e 7.000 nos fins de semana.
As telas de Pablo Picasso foram expostas, pela primeira vez, na Bienal Internacional de 1951. Dois anos mais tarde, na Bienal que antecipava as comemorações do quarto centenário de fundação de São Paulo, foi exposta a obra Guernica (3,49 metros de altura por 7,76 metros de largura), que leva o nome de uma cidadezinha bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola. Em 1996, a sala a ele dedicada foi eleita pelo público a melhor da 23ª Bienal. Juntas, as principais mostras do artista do cubismo vindas para cá receberam mais de 1,2 milhão de visitantes. Desde o último dia 28 de janeiro, o pintor malaguenho tem provocado novamente longas filas, agora na Oca do Parque do Ibirapuera. Há a expectativa de que, em três meses, 1 milhão de pessoas vejam os 126 trabalhos emprestados pelo Museu Picasso de Paris. Nestes primeiros dias, cerca de 4.000 pessoas passaram por lá diariamente. A média aumenta nos finais de semana, com 7.000 visitantes diários. Essa atração faz parte dos programas organizados para os festejos do aniversário da cidade.
INTERTEXTUALIDADE
“Somos a soma de nossas leituras, observações e audições. Os textos que lemos, as conversas que ouvimos, os filmes, as peças de teatro e outras manifestações artísticas com as quais temos contato armazenam-se em nosso espírito. Quando falamos ou escrevemos estamos, na verdade, retomando essas leituras, reelaborando-as, citando-as, comentando-as ou deformando-as. Outras vezes, ao lermos um texto lembramo-nos de outro com o qual julgamos que ele mantém uma estreita relação. A essas relações, citações, paródias e outras afinidades dá-se o nome de intertextualidade.
Observe a estrofe a seguir: a que outro texto O. de Andrade faz paródia?
Minha terra tem palmares / Onde gorjeia o mar / Os passarinhos aqui / Não cantam como os de lá.
Observe agora a “Canção de exílio facilitada” de José Paulo Paes. Por que cada uma das palavras desse poema guarda uma forte concentração de significados:
Lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
(Fonte: Maia, João Domingos. Novo Ensino Médio Português, SP, Ática, 2003.)
Intertextualidade e a era digital:
Marisa Lajolo (Literatura: leitores e leitura): “a) o uso do computador permite perceber duas características importantes da literatura contemporânea: a metalinguagem e a intertextualidade”. Reflita sobre a afirmação e explique-a.
b) “Ultimamente, a prática da intertextualidade ficou explícita e frontal, com o hipertexto. Ele materializa a leitura intertextual. O hipertexto é uma malha de textos eletronicamente articulados pelo seu autor, podendo o leitor, ao navegar por ele, atualizá-lo, desde que seja capacitado a recuperar as menções a outros textos presentes no hipertexto”. Quando o autor se refere a outros textos de que tipo de intertextualidade estamos falando? O que pode o leitor capacitado fazer com o hipertexto?
Polifonia
“Freqüentemente incorporamos em nosso discurso fragmentos do discurso alheio. Por essa razão, dizemos que o discurso é polifônico (poli= vários; fono= som, voz), já que, além da voz de seu autor, nele costumam ressoar outras vozes, provenientes de discursos alheios.” (...) O repertório cultural do interlocutor é importante na interação comunicativa, pois em muitos casos ele é essencial para a construção do sentido do texto”.
(CEREJA, W.R. Gramática reflexiva).
EXEMPLOS DE INTERTEXTUALIDADE
Citações
Citação é a menção no texto de uma informação extraída de um documento ou um canal de informação, com o objetivo de inserir a idéia na temática pertinente, dar crédito à pesquisa (ou à idéia), além de fornecer o embasamento para argumentações.
Citação Direta
⇨ Citação Direta Curta (com menos de 5 linhas) - Deve ser feita na continuação do texto, entre aspas, com o mesmo tipo e tamanho de letra utilizados no parágrafo de texto no qual está inserida
Ex.: Maria Ortiz, moradora da Ladeira do Pelourinho, em Salvador, que de sua janela jogou água fervendo nos invasores holandeses, incentivando os homens a continuarem a luta. Detalhe pitoresco é que na hora do almoço, enquanto os maridos comiam, as mulheres lutavam em seu lugar. Este fato levou os europeus a acreditarem que "o baiano ao meio dia vira mulher" (MOTT, 1988: 13).
Obs.: MOTT - autor que faz a citação. 1988 - o ano de publicação da obra deste autor na bibliografia. 13 - refere-se ao número da página onde o autor fez a citação.
⇨ Citação Direta Longa (com 5 linhas ou mais) - As margens são recuadas à direita, em espaço um (1). A Segunda linha e as demais são alinhadas sob a primeira letra do texto da própria citação. No texto citado deve ser utilizado entrelinhamento e letra menor. Deve-se deixar uma linha em branco entre a citação e os parágrafos anterior e posterior.
Ex.: Além disso, a qualidade do ensino fornecido era duvidosa, uma vez que as mulheres que o ministravam não estavam preparadas para exercer tal função.
"A maior dificuldade de aplicação da lei de 1827 residiu no provimento das cadeiras das escolas femininas. Não obstante sobressaírem as mulheres no ensino das prendas domésticas, as poucas que se apresentavam para reger uma classe dominavam tão mal aquilo que deveriam ensinar que não logravam êxito em transmitir seus exíguos conhecimentos. Se os próprios homens, aos quais o acesso à instrução era muito mais fácil, se revelavam incapazes de ministrar o ensino de primeiras letras, lastimável era o nível do ensino nas escolas femininas, cujas mestras estiveram sempre mais ou menos marginalizadas do saber" (Saffioti, 1976: 193).
Citação Indireta É a citação que sofre uma interpretação por parte do autor.
Ex.: Ainda com relação à questão da inventividade, são incontestáveis dois princípios que norteiam o entendimento do processo inventivo: a tradição não tem poder determinante sobre aqueles poetas de talento individual, que a tomam como ponto de partida (Dronke, 1981:36), e o reconhecimento dessa individualidade dar-se-á pelo conhecimento do contexto em que uma peça inovadora foi criada (idem, ibidem, p. 37).
EXERCÍCIOS
1) Identifique os elementos de intertextualidade nos textos abaixo:
DESCUIDO NA SEGURANÇA MATA OPERÁRIO
Firmino Silva, pedreiro, 22 anos, casado, residente na Rua Valparaíso, casa 2, em Caxias, faleceu ontem, às 12 horas, ao cair de um andaime de um prédio em construção na Rua Cupertino Durão, 238, Leblon. Técnicos do Serviço de Prevenção de Acidentes, do Ministério do Trabalho, estiveram no local e constataram a falta de material apropriado de segurança e prevenção de acidentes, o que determinou o embargo da obra.
A firma construtora nega-se a fornecer detalhes, mas sabe-se que o material já foi requisitado e a obra será reiniciada ainda hoje. Firmino Silva deixa esposa e filhos. A 15a Delegacia Policial registrou a ocorrência.
CONSTRUÇÃO
Carlos Drumond de Andrade
Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.
Pense e responda:
1. O que é que o primeiro texto possui em comum com o segundo?
2. Se você tivesse que redigir uma notícia de jornal, diria que “um operário caiu” ou que “um grito caiu”? Por quê?
3. Na primeira estrofe, a palavra “grito’ substitui “corpo” ou “operário”, já que “grito” quebra o padrão normal de comunicação. O que cai é um corpo, não um grito. Selecione mais outros exemplos na poesia que “quebrem” o padrão normal de comunicação.
5. A que horas deve ter acontecido o acidente, ao ler a poesia de Drummond? Justifique.
6. Pode-se perceber uma crítica social na poesia? Qual é?
2) Identifique os elementos de intertextualidade nos textos abaixo:
MIL E UMA NOITES
1. Era uma vez um sultão que descobriu que sua mulher o traía. Cortou-lhe a cabeça. Triste e infeliz, dedicou o resto da vida à vingança. Todas as noites dormia com uma mulher diferente, que mandava matar no dia seguinte. Sherazade, jovem princesa, se oferece para dormir com o cruel sultão. Caprichosa, garante que tem um plano infalível que a livrará da morte. Assim aconteceu. Passa mil e uma noites com o rei, contando histórias de traições. O sultão enganado mudou seu destino. Esquece da vingança, ouvindo muitos outros casos iguais ao seu.
2. O que aconteceu ao sultão? Conformou-se pois a traição faz parte da vida? Sossegou ao saber que muitos outros também eram enganados? Perdeu a inveja dos homens felizes? Ou simplesmente ficou entretido com as histórias de Sherazade?
3. Não se sabe como termina a história. O rei voltou a acreditar nas mulheres ou mandou matar Sherazade ao fim das mil e uma noites? Histórias emendadas umas às outras distraem, divertem e não fazem pensar. Anestesiam. As histórias têm certa magia.
4. Tenho pensado sobre os inúmeros casos de corrupção contados por jornais e revistas. Emendados uns aos outros, parecem histórias das mil e uma noites brasileiras.
5. A denúncia da imprensa é o instrumento mais importante de que dispõe a democracia para combater a corrupção e saber o que acontece por trás dos bastidores. O caso Watergate foi o resultado de exaustivas investigações dos jornalistas do Washington Post. Coletaram dados, levaram até o fim as suas suspeitas e correram o risco das suas acusações. Não foram notícias baseadas em diz-que-diz ou espalhadas nas páginas dos jornais por adversários políticos. Notícias divulgadas sem investigação jornalística mais profunda acabam sendo banalizadas.
6. A sociedade precisa ter acesso a fatos que a convençam. A esperada e saudável indignação não vai surgir com denúncias feitas sem provas. Histórias de corrupção em cores, fotos cruéis, denúncias vazias levam a quê? Será que com comédia e piadas é que se pretende apresentar fatos de tal relevância? Não há lugar para tanto sense of humor em um país onde a miséria seja tão grande como a nossa. Infelizmente, a hora não é para brincadeiras. Do contrário, as pessoas esperarão os jornais e revistas apenas ansiosas pelo próximo capítulo da novela das mil e uma corrupções brasileiras.
7. O que vai acontecer com os brasileiros? Vão se conformar com a corrupção pois faz parte da vida? Sossegar ao saber que existem casos iguais em outros países? Perder a admiração pelos homens honestos? Ou ficar simplesmente entretidos com histórias de Sherazade?
8. A corrupção não pode se tornar mais uma distração entre os brasileiros.
9. Corrupção faz parte da natureza humana. Para a controlar, a imprensa deve apresentar a denúncia com o máximo possível de provas. Só assim a sociedade pode reagir e a Justiça atuar. Os casos são contados muitas vezes apenas com insinuações e sem fatos. Muitos são esquecidos e substituídos por outros mais novos. Confundem as pessoas e levantam dúvidas sobre a veracidade da notícia. Não há tempo para se perder em histórias de mil e uma noites. Estamos escrevendo a história de um país com 130 milhões de habitantes. Gente muito sofrida. Pessoas não podem virar ficção. É preciso muito cuidado.
(Cosette Alves, Folha de São Paulo, 12.07.91)
UNIDADE 11
ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DE TEXTOS – ESTRATÉGIAS DE LEITURA
IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS, DOS ARGUMENTOS E DAS CONCLUSÕES NUM TEXTO
Vejamos a seguinte situação:
“Os habitantes de certas comunidades, como algumas da Síria e da África, consideram o amor como um empecilho ao sucesso de um casamento. Para eles, a vida em comum é assunto muito sério para ser tratado por jovens inexperientes. Pessoas apaixonadas não estão capacitadas a discutir assuntos tão pouco românticos como ‘status’ social, multiplicação de fortunas, saúde, linguagem familiar e meios de sobrevivência. Sentimentos amorosos e atração física são fatores secundários quando se trata de arranjos de interesse social ( como é o casamento para aqueles povos. À família cabe, portanto, todos os acertos para o matrimônio, e o namoro é um assunto à parte, um divertimento próprio para a juventude.”
(Livro da Vida. Enciclopédia Semanal Ilustrada nº 5)
Portanto temos:
Assunto: O amor ( Delimitação do assunto: O amor como empecilho ao casamento
Objetivo: Evidenciar que certas culturas consideram o amor como um obstáculo ao sucesso da união conjugal.
Tópico frasal: “Os habitantes de certas comunidades, como algumas da Síria e da África, consideram o amor como um empecilho ao sucesso de um casamento”.
Desenvolvimento:
1. A seriedade da vida conjugal e a inexperiência dos jovens;
2. A incapacidade dos apaixonados no trato de determinados assuntos;
3. A preponderância do interesse social em relação aos sentimentos amorosos e à atração física.
Conclusão: “À família cabe, portanto, todos os acertos para o matrimônio, e o namoro é um assunto à parte, um divertimento próprio para a juventude”.
ANÁLISE DE TEXTO
Leia o texto com atenção e, a seguir, indique o que se pede abaixo:
(Fonte desta análise: Profa. Alice Yoko Horikawa)
A EUTANÁSIA EM DISCUSSÃO
Roberto Pompeu de Toledo
O médico Bernard Kouchner, ministro da Saúde da França, é das pessoas mais respeitadas do país. Com certeza é a mais respeitada do governo, dona de autoridade moral construída ao longo de uma vida de dedicação aos doentes, feridos e carentes. Kouchner foi um dos fundadores, em 1971, da organização Médicos sem Fronteiras, contemplada, em 1999, com o Prêmio Nobel da Paz. Como médico sem fronteira, esteve nos lugares onde menos valia a pena estar, e nos momentos em que menos valia a pena se deslocar até eles – Vietnã, Camboja, Biafra, Líbano, El Salvador, Honduras. Quer dizer: menos valia a pena para uma pessoa comum. Para ele, como pessoa incomum, só valiam a pena esses lugares, e só em ocasiões em que estivessem assolados por guerras, fomes ou pestes.
Na semana passada, Kouchner reavivou uma polêmica ao revelar, numa entrevista publicada pela revista holandesa Vrij Nederland, que "muitas vezes" praticou a eutanásia, nos anos 70, à época em que assistia vítimas de guerra no Vietnã e no Líbano. "Quando as pessoas sofriam muito e eu sabia que iam morrer, eu as ajudava", disse. Kouchner dava-lhes injeção de morfina, "muita morfina". "São pessoas das quais me lembro muito bem", acrescentou. "Todos os médicos do mundo conhecem esse tipo de pessoa." Eutanásia – é essa a palavra? Kouchner não admite que se chame de eutanásia aquilo que praticou. "Tratava-se de cuidados paliativos em período de guerra e de forma alguma de práticas programadas, do tipo reivindicado por associações em favor 'do direito de morrer com dignidade'", diz ele. Os pacientes de que fala não eram doentes de câncer ou Aids que pedissem para morrer. Sobre esses casos, o médico francês se diz aberto à discussão. Ele convida a um debate – e um debate "sem arrogância, sem certezas nem posições ideológicas".
A diferença entre os "cuidados paliativos" de que fala Kouchner e a eutanásia é sutil. Deve-se possivelmente à sua própria experiência de médico de guerra. Ele não enfrentava doentes num hospital de país desenvolvido, com tempo para pensar, avaliar o caso sob todos os ângulos, conferenciar com os parentes, além de com o próprio paciente, e marcar dia e hora para o desenlace, como já vinha acontecendo havia algum tempo na Holanda, de forma informal, e ultimamente ganhou amparo legal. Seus casos eram de um desespero urgente. Ocorriam nas circunstâncias mais adversas, nos locais mais precários. De toda forma, as declarações de Kouchner tendem a relançar na França um debate que há três anos esteve na ordem do dia, por força das aventuras e desventuras de Christine Malèvre – jovem enfermeira que admitiu ter abreviado a vida de cerca de trinta pacientes do hospital onde trabalhava, em Mantes-la-Jolie, nos arredores de Paris. Christine Malèvre, que está na iminência de ter seu caso apreciado na Justiça, agiu de forma arbitrária e insensata, talvez criminosa, não se duvida, ao atribuir-se a decisão de encaminhar os pacientes à morte. Mas o fez por compaixão. Por isso, ganhou a compreensão da opinião pública.
O debate da eutanásia (chamemo-la assim, apesar das restrições de Kouchner, e apesar da maldição que impregnou a palavra desde que os nazistas a empregaram para apelidar a eliminação das crianças que nasciam defeituosas, em nome do aprimoramento da raça) mexe com os recônditos do ser humano mais ainda que o do aborto. O aborto, muitos países permitem. A eutanásia, só a Holanda. "Será que o homem ocidental quer tornar-se senhor de sua própria morte?", perguntava um documento divulgado há alguns anos pela Igreja Católica da Holanda, a maior adversária das práticas que, de tanto amiudar-se, acabaram legalizadas no país. Em outras palavras, a escolha da hora e da modalidade equivaleria a uma intolerável dessacralização da morte, indicativa da prepotência do homem contemporâneo.
E nós com isso? Nós, brasileiros, que temos a ver com esse debate? Nada. Rigorosamente nada. O Brasil não está no ponto nem de cogitar em eutanásia, por uma questão de base: ela só é admissível numa sociedade estruturada e igualitária como a holandesa, consciente dos próprios direitos, respeitadora dos alheios, com instituições sólidas e regras iguais para todos. O nosso é um país com hospitais que matam os pacientes por descuidos tão aterradores quanto usar água envenenada no processamento da hemodiálise, como aconteceu em Pernambuco, e – para chegar mais perto do assunto em tela – com profissionais tão desqualificados quanto o enfermeiro que eliminava pacientes para ganhar dinheiro de funerárias, como ocorreu no Rio de Janeiro. Não se trata de ambiente onde a eutanásia possa ser minimamente administrável. O tema não é apenas complexo. Só faz sentido numa sociedade madura e sadia. Eis então a conclusão melancólica, quando se depara com discussões como a suscitada por Kouchner: isso não é para o nosso bico. Ficar fora delas é mais um preço a pagar pelo subdesenvolvimento.
(VEJA, agosto de 2001)
Observe a análise do texto:
1. Veículo de circulação do texto e público-alvo:
O texto é veiculado na Revista Veja, destinada a um público com boa formação intelectual e cultural, interessado em manter-se informado acerca dos acontecimentos políticos, sociais e artísticos da atualidade.
2. Autor:
O autor do texto é Roberto Pompeu de Toledo. A revista não oferece nenhuma informação sobre ele, o que dificulta o processo de levantamento de hipóteses e de expectativa por parte do leitor.
3. Tema:
O autor elege como tema de seu texto a eutanásia.
4. Tipo de texto:
O tipo de texto é o argumentativo, pois pretende fundamentalmente apresentar um ponto de vista acerca da eutanásia e argumentar em sua defesa.
5. Gênero:
O gênero textual utilizado pelo autor é o artigo de opinião, freqüentemente publicado em revistas e jornais.
6. Objetivo fundamental:
O autor pretende, com seu texto, argumentar sobre a idéia de que a eutanásia é um tema extremamente polêmico, pois pode ser aceitável em certas condições, mas inaceitável em outras.
7. Como o autor atinge esse objetivo:
Parágrafo 1
Idéia principal/ tópico frasal: O médico Bernard Kouchner é uma das pessoas mais respeitadas da França.
Desenvolvimento:
1. Bernard Kouchner possui uma longa história de dedicação aos doentes, feridos e carentes.
2. Kouchner foi um dos fundadores da organização Médicos sem Fronteiras.
3. A organização ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1999.
4. Como médico sem fronteira, esteve em lugares que enfrentavam tragédias como a fome, a guerra ou a peste.
5. Kouchner é pessoa incomum.
Parágrafo 2
Idéia principal/ tópico frasal: Kouchner reavivou uma polêmica ao revelar em entrevista que praticou a eutanásia.
Desenvolvimento:
6. Kouchner aplicava injeção de morfina quando os feridos das guerras do Vietnã e do Líbano sofriam muito e não tinham a menor condição de se recuperar.
7. Kouchner não admite que se chame de eutanásia aquilo que praticou; tratava-se de cuidados paliativos.
8. Os doentes de Kouchner não eram condenados que pediam para morrer com dignidade, eram pessoas que enfrentavam situações adversas que não lhes ofereciam a menor possibilidade de salvação.
9. Em condições diferentes das que enfrentou, Kouchner diz-se aberto ao debate, desde que seja realizado sem arrogância, sem certezas, nem posições ideológicas.
Parágrafo 3
Idéia principal/ tópico frasal: A diferença entre ‘cuidados paliativos’ e eutanásia é sutil.
Desenvolvimento:
10. Kouchner não enfrentava doentes num hospital de país desenvolvido, como a Holanda, por exemplo, com tempo para pensar, avaliar o caso sob todos os ângulos, conferenciar com os parentes e com o próprio paciente.
11. Os casos de Kouchner eram de um desespero urgente. Ocorriam nas circunstâncias mais adversas, nos locais mais precários.
12. As declarações de Kouchner tendem a relançar um debate que já esteve em pauta quando a enfermeira Christine Malévre admitiu ter praticado a eutanásia.
13. Christine Malèvre ganha compreensão da opinião pública ao justificar seu ato com o argumento da compaixão.
Parágrafo 4
Idéia principal/tópico frasal: O debate da eutanásia mexe com recônditos do ser humano mais do que o do aborto.
Desenvolvimento:
14. Muitos países já permitem o aborto.
15. Apenas a Holanda permite a eutanásia.
16. Apesar de a Igreja Católica colocar-se contrariamente à eutanásia, a Holanda a legalizou.
17. Para a Igreja, a eutanásia dessacraliza a morte, indicando a prepotência do homem contemporâneo.
Parágrafo 5
Idéia principal/ tópico frasal: O Brasil não está no ponto nem de cogitar em eutanásia.
18. A eutanásia só é admissível em sociedade estruturada e igualitária como a holandesa.
19. O nosso é um país com hospitais que matam por descuido e por despreparo dos profissionais da saúde.
20. O Brasil não se trata de ambiente em que a eutanásia possa ser minimamente administrável.
21. O tema da eutanásia, além de complexo, só faz sentido numa sociedade madura e sadia.
Conclusão: Ficar fora das discussões sobre a eutanásia é mais um preço que o Brasil tem de pagar por conta de seu subdesenvolvimento.
Síntese dos argumentos:
22. Kouchber praticou ‘eutanásia’ em situações em que não havia a menor condição de garantir a vida do paciente.
23. Há diferenças entre ‘eutanásia’ e cuidados paliativos.
24. Apenas a Holanda legalizou a eutanásia.
25. Christine Malèvre praticou eutanásia, mas ganhou compreensão da opinião pública por tê-lo, segundo ela, praticado por compaixão.
26. Segundo a Igreja Católica, a eutanásia dessacriliza a morte.
27. O Brasil não tem a menor possibilidade de discutir o tema da eutanásia, pois a discussão só faz sentido em sociedades maduras e sadias.
Síntese do artigo
28. Apresentação geral do texto e do objetivo do autor: Em artigo ‘A eutanásia em discussão’, publicado na Revista Veja, de 01.08.2001, Roberto Pompeu de Toledo pretende argumentar acerca do aspecto polêmico que envolve o tema da eutanásia. Para isso, inicia relatando a experiência do renomado médico Bernard Kouchner, ministro da Saúde da França, que declarou numa revista holandesa ter praticado por diversas vezes aquilo que algumas pessoas denominam de eutanásia. Para justificar o ato, o médico refere-se às condições em que foi realizada: eram situações de guerra ou de grande miséria que não propiciavam a menor condição de manter a vida dos pacientes. Em virtude dessas circunstâncias, Kouchner associa o ato a ‘cuidados paliativos’, recusando-se a aceitar a idéia da eutanásia.
1) Argumentação do autor:
Para Toledo, a experiência de Kouchner permite traçar uma sutil distinção entre eutanásia e cuidados paliativos: em se tratando de condições adversas e subumanas, a eutanásia pode transformar-se em tratamento terapêutico; em condições ideais, tais como as oferecidas pela Holanda, onde os direitos do homem são preservados, o termo eutanásia pode ser plausível, pois há a possibilidade de se avaliar cada caso sob todos os ângulos e de se tomar a decisão mais razoável. A distinção é tão viável que Christine Malèvre, enfermeira francesa que cometeu, sozinha, a eutanásia, tem sido perdoada pela opinião pública, utilizando-se do argumento da compaixão.
Para reforçar a idéia do quão polêmico é o tema da eutanásia, Toledo procede uma comparação com o aborto. Embora seja, sem dúvida, tema bastante controverso, o aborto já foi legalizado em muitos países. Todavia, o mesmo não acontece com a eutanásia: de todos os países do mundo, apenas a Holanda lhe dá amparo legal. O autor lança mão nesse contexto do argumento da Igreja Católica: tanto o aborto quanto a eutanásia são indicativos da prepotência do homem contemporâneo, pois a vida e a morte já não são decisão de Deus.
2) Conclusão do autor:
Em virtude de tamanha polêmica, o autor questiona: como o Brasil pode se comportar diante dela? E apresenta a resposta: não pode. Para Toledo, um país que não garante a vida de seu povo, como é o caso do Brasil, não pode tratar de sua morte. O debate sobre a eutanásia só faz sentido em sociedades maduras e sadias.
EXERCÍCIO
1. Leia atentamente o texto abaixo, divida-o em parágrafos e, a seguir, responda ao que se pede.
VIVER EM SOCIEDADE
A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transportes e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças. Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida; mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar idéias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo. Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos. Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais.
(DALLARI, Dalmo de D Viver em sociedade. São Paulo: Moderna, 1985. p. 5-6)
a) Que idéia Dalmo de Abreu Dalari defende em seu texto?
b) Releia o primeiro parágrafo e responda: qual é a sua função em relação aos demais parágrafos que formam o texto?
c) No texto, o autor nos apresenta uma série de argumentos, ordenados logicamente, a fim de convencer o leitor. Quais são esses argumentos e como eles nos são apresentados?
d) Qual a função do último parágrafo? Que idéias ele defende?
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 7ª ed., Rio de Janeiro: FGV, 1978.
SAVIOLI, Francisco Platão. Gramática em 44 lições com mais de 1700 exercícios. São Paulo: Ática, 1985.
SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: Escrevendo com prática. São Paulo: Iglu, 1997.
TERRA, Ernani. Gramática prática. São Paulo: Scipione, 1993.
TUFANO, Douglas. Estudo de gramática. São Paulo: Moderna, 1990.
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