PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA – DAS ORIGENS …
PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA – DAS ORIGENS ATÉ O MODERNISMO
Fonte:
Origens
1500
MARCO
Obra
A CARTA (1500)
Autor
Pero Vaz de Caminha (1437-1500)
CONTEXTO HISTÓRICO
Após o descobrimento do Brasil, em meados de 1500, a Coroa portuguesa passou a se interessar pelo país e a enviar expedições colonizadoras, às quais cabia dar parte ao rei de tudo quanto no seu vasto território houvesse.
A adoção do sistema de capitanias hereditárias, a expedição de Martim Afonso e o estabelecimento do governo geral, em 1549, em Salvador, na Bahia, foram fatos marcantes no processo de colonização do Brasil. Com o primeiro governador geral, Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega, com a missão de catequizar o indígena, marcando o início da organização da vida administrativa, econômica, política, militar, espiritual e social do Brasil-Colônia.
CARACTERÍSTICAS
No cumprimento de suas tarefas, portugueses colonizadores, jesuítas, viajantes aventureiros dão origem às primeiras manifestações literárias do período, cujas primeiras obras são predominantemente informativas. Seus textos, marcados pela subjetividade cultural do europeu, descrevem a fauna, a flora, os habitantes nativos e as condições de vida na terra recém-descoberta. Apesar de não ser considerada literária, essa crônica histórica tem seu valor, pois além da linguagem e da visão de mundo dos primeiros observadores do país, revelam as condições primitivas de uma cultura nascente.
Nesse primeiro século da nossa formação, a literatura informativa do colonizador português é representada inicialmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, relatando o descobrimento do Brasil a D.Manuel. Historicamente, é uma verdadeira certidão de nascimento do país e dá início a um período de três séculos na nossa literatura: o Período Colonial, que inclui, além do Quinhentismo, o Barroco e o Arcadismo.
Outro documento da época é O Diário da Navegação (1530) de Pero Lopes de Souza. Não é tão importante como a carta de Caminha, mas enquadra-se nas crônicas de viagens, prestando informações a futuros colonizadores e exploradores de Portugal. Sem muitos dados históricos, relata a expedição de Martim Afonso de Souza ao Brasil, em 1530, como também o comando de Pero Lopes no retorno da esquadra a Portugal. Apenas em uma ou outra passagem, faz alguma referência histórica, ressaltando a beleza da terra e de seus habitantes. Narra eventos e aponta observações náuticas e geográficas, o que o torna um documento de interesse para a história marítima de Portugal e para a da colonização do Brasil.
Essencialmente informativas, as obras: História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil (1576) e Tratado da Terra do Brasil, publicado somente em 1826, de Pero de Magalhães de Gândavo, e Tratado Descritivo do Brasil em 1587 (1587), de Gabriel Soares de Souza, inauguram atitudes e lançam sugestões temáticas. Manifestações que serão retomadas por alguns escritores brasileiros pertencentes ao Modernismo , tais como Oswald de Andrade (Pau-Brasil) e Mário de Andrade (Macunaíma).
O trabalho informativo, pedagógico e moral dos jesuítas tem como expoentes as obras dos padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta. Nóbrega, com a carta noticiando sua chegada ao território brasileiro, inaugura, em 1549, a literatura informativa dos jesuítas. Além da vasta correspondência em que relata o andamento da catequese e da obra pedagógica a outros membros da Companhia de Jesus, escreve o Diálogo Sobre a Conversão do Gentio (1557), única obra planejada e com valor literário reconhecível. Nela, sua intenção é convencer os próprios jesuítas do significado humano e cristão da catequese.
As obras de Cardim Do Clima e Terra do Brasil e de Algumas Coisas Notáveis que se Acham Assim na Terra como no Mar; Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil e de Seus Costumes, Adoração e Cerimônias, Narrativa Epistolar de Uma Viagem e Missão Jesuítica revelam um certo planejamento literário, independentemente da informação epistolar.
Quanto à valorização literária, José de Anchieta destaca-se como o único autor desta época cuja produção extrapola o caráter meramente histórico. Escreveu poemas líricos, épicos, autos, cartas, sermões e uma pequena gramática da língua tupi. Além do caráter informativo e educacional, algumas de suas criações literárias visavam, apenas, satisfazer sua vida espiritual.
BIBLIOGRAFIA
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Barroco
1601
MARCO
Obra
PROSOPOPÉIA (1601)
Autor
Bento Teixeira (1561-1600)
CONTEXTO HISTÓRICO
O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as manifestações artísticas do século XVII e início do XVIII e, na literatura, é reflexo nítido de uma época profundamente angustiada. Nesse período, a Reforma de Lutero e Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de evitar a perda de fiéis, a Igreja Católica criou instituições florescentes na Península Ibérica, como o movimento da Contra-Reforma, que fundou a Companhia de Jesus e fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Europa evoluiu cientificamente, Portugal e Espanha permaneceram defensores da cultura medieval.
Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que propiciou um ambiente de pessimismo e desânimo, sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder restringido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja - Contra-Reforma. A estética Barroca em Portugal resultou desse domínio, sofrendo, por conseqüência, grande influência espanhola, principal foco irradiador dessa estética.
Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e sua literatura girou em torno de outras culturas: do barroquismo espanhol, do arcadismo italiano e do iluminismo francês, afetando a iniciante literatura colonial brasileira que passou a receber tendências estrangeiras.
A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos de ocupação e exploração intensa e regular das possibilidades econômicas do Brasil-Colônia fizeram surgir núcleos urbanos de grande importância cultural e econômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século XVII, com a mudança da sede do governo para o Rio de Janeiro, esta firmou-se também como centro social, político e cultural.
As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis não só pelas transformações ocorridas no Nordeste mas também pelo despertar de uma consciência colonial, que se manifestou na literatura aqui realizada, através do sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos e realidades. Ainda nesse século, essa região presenciou o auge e a decadência da cana-de-açúcar. No século XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo, Vila Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também desenvolveu-se econômica e culturalmente, devido ao descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses séculos, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobretudo pela intensa exploração de suas riquezas naturais que mantiveram a Corte.
Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas, favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a enviar seus filhos para os cursos superiores em Portugal. Esses estudantes, formados pela Universidade de Coimbra, foram os principais responsáveis pelas manifestações literárias européias que aqui surgiram. Ao retornarem contribuíram para o nosso desenvolvimento literário e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós.
CARACTERÍSTICAS
Sem encontrar explicações racionais para o mundo e com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII retomou a religiosidade do período medieval e o antropocentrismo do século XVI, levando o pensamento humano a oscilar entre dois pólos opostos: Deus e o homem; espírito e matéria; céu e terra. Ao aproximar e relacionar idéias e sentimentos ou sensações contraditórias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e tensão.
Essa estética recebe nomes diferentes em outros países. Na Espanha, é Gongorismo, proveniente do poeta Luís Gôngora y Argote. Na Itália, chama-se Marinismo, devido à influência de Gianbattista Marini. Na Inglaterra, o romance Euphues ou The Anatomy of Wit, de John Lyly, dá origem ao Eufuísmo. Na França, denomina-se Preciosismo, graças à forma rebuscada na corte de Luís XIV. Na Alemanha, é conhecido por Silesianismo, caracterizando os escritores da região da Silésia.
Nessa estética, integrante do Período Colonial e sucessora do Quinhentismo, há um culto exagerado da forma. Na poesia, isso é feito através de malabarismos sintáticos e abuso de figuras, tais como metáforas, antíteses, paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e simbolismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a que os poetas do Arcadismo iriam se opor.
O barroco literário marca-se por dois estilos: o Cultismo e o Conceitismo. Enquanto, no Cultismo, os termos contrários manifestam sensações, no Conceitismo, eles são construídos e resolvidos através do confronto de idéias e de conceitos mais abstratos.
Para o artista barroco, efêmero e contingente, que deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única atitude compatível, daí o uso de temas opostos: amor e dor, o erótico e o místico, o refinado e o grosseiro, o belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e lembrando que a morte é o denominador comum de todas as aspirações humanas.
Além das características portuguesas, o barroquismo brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão nativista na poesia, por exemplo, pode ser considerada pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na lírica amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, sendo ao mesmo tempo enaltecida e exorcizada.
As manifestações literárias barrocas do Brasil-Colônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira. Na poesia, destaca-se também Gregório de Matos e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos jesuítas, cujo nome central é o do Padre Antônio Vieira.
BIBLIOGRAFIA
[pic][pic]Arcadismo
1768
MARCO
Obra
OBRAS (1768)
Autor
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
CONTEXTO HISTÓRICO
Em meados do século XVIII, a Europa passou por uma importante transformação cultural, marcando a decadência do pensamento barroco. A burguesia inglesa e francesa, impulsionada pelo controle do comércio ultramarino, cresceu, dominando a economia do Estado. Em contrapartida, a nobreza e o clero, com seus ideais retrógrados, caíram em descrédito.
A ideologia burguesa culta, sustentada na crítica à velha nobreza e aos religiosos, propagou-se por toda Europa, sobretudo na França, onde foram publicados O Espírito das Leis (1748), de Montesquieu, e o primeiro volume da Enciclopédia (1751), que tem à frente Diderot, Montesquieu e Voltaire. As idéias desses enciclopedistas, defensores de um governo burguês e do ideal do "bom selvagem", de Rousseau - "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, devendo, portanto, retornar para a natureza"-, impulsionaram o desenvolvimento das ciências, valorizando a razão como agente propulsor do progresso social e cultural. A burguesia, em oposição ao exagero cultista barroco, voltou-se para as questões mundanas e simples, relegando a religião a um segundo plano. Sua arte emergente caracterizou-se pela volta à simplicidade clássica.
Esse movimento, chamado Iluminismo, espalhou-se pela Europa, influenciando Portugal. Marquês de Pombal, ministro de D. José I, com o propósito de colocar o país em dia com o progresso Europeu, executou a tarefa de renovação cultural, expulsando os jesuítas, em 1759. O ensino, monopólio do clero, tornou-se então leigo. Fundaram-se escolas e academias, e Portugal passou a respirar um clima de novidade e de mudanças na arte, ciência e filosofia.
No século XVIII, o Brasil passou por mudanças importantes: a cultura jesuítica começou a dar lugar ao Neoclassicismo; Rio de Janeiro e Minas Gerais destacaram-se como centros de relevância política, econômica, social e cultural; foi crescente o número de estudantes brasileiros, que se expuseram às influências dos novos ideais e tendências, em universidades da Europa.
Conseqüentemente, o Iluminismo e os acontecimentos que abalaram a ordem política e social do Ocidente - Independência Norte Americana e Revolução Francesa - tiveram ampla repercussão no crescente sentimento nativista brasileiro e no descontentamento reinante, provindo da área de mineração. Vila Rica, em Minas, foi berço dos principais acontecimentos setecentistas, surgindo os poetas do Arcadismo e a Inconfidência.
CARACTERÍSTICAS
Nesse panorama iluminista de renovação cultural, da segunda metade do século XVIII, nasce uma nova estética poética: O Arcadismo, também denominado Setecentimo ou Neoclassicismo, que se posiciona contra a exuberância e problemas metafísicos do Barroco e propõe uma literatura mais equilibrada e espontânea, buscando harmonia na pureza e na simplicidade das formas clássicas greco-latinas. A frase latina: Inutilia truncat ("as inutilidades devem ser banidas") resume tal posição. Outros temas clássicos são Fugere urbem ("fugir da cidade"), Locus amoenus ("local ameno"), Carpe diem("aproveitar o momento") e Aurea mediocritas ("mediocridade do ouro"). A teoria do "bom selvagem" de Rousseau, por sua vez, traduzem a postura árcade.
Os poetas arcádicos, angustiados com os problemas urbanos e o progresso científico, propõem a volta à simplicidade da vida no campo e o aproveitamento do momento presente. Embora citadinos, recriam, em seus versos, paisagens bucólicas de outras épocas, verdadeiros fingimentos poéticos, usando pseudônimos gregos e latinos, imaginando-se pastores e pastoras amorosos, numa vida saudável idealizada, sem luxo e em pleno contato com a natureza. A poesia árcade se realiza através do soneto, com versos decassílabos e a rima optativa, e a tradição do épico, retomando os modelos do Classicismo do século XVI. A estética inovadora viria posteriormente com o Romantismo, que vai procurar criar uma nova linguagem, capaz de refletir os ideais nacionalistas, uma de suas características essenciais.
Também chamado de Escola Mineira, o Arcadismo no Brasil segue os moldes portugueses, resultando em uma poesia refinada que, ao se utilizar da paisagem mineira como cenário bucólico para os pastores, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem" e dá ao Arcadismo brasileiro um tom diferente do europeu. Outra característica bem distinta do Arcadismo aqui realizado é a sátira política aos tempos de opressão portuguesa e da corrupção dos governos coloniais.
O Arcadismo no Brasil é estabelecido por um grupo de intelectuais e a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa , marca o início do movimento. A atuação do grupo cessa com o fim trágico da Inconfidência, em 1789. Há controvérsia sobre a existência da Arcádia Ultramarina, instituída, em 1768, por Cláudio Manuel da Costa, nos moldes da Arcádia Lusitana. Entretanto, mesmo que não tenha havido tal Academia, há evidências de que, pelo menos, praticava-se o Arcadismo.
Dentre os poetas do Arcadismo brasileiro destacam-se Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão e Basílio da Gama.
BIBLIOGRAFIA
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Romantismo
1836
MARCO
Obra
SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES (1836)
Autor
Gonçalves de Magalhães (1811-1882)
CONTEXTO HISTÓRICO
O Brasil do início do século XIX foi palco de várias transformações que contribuíram de forma decisiva para a formação de uma verdadeira identidade nacional e, conseqüentemente, uma literatura com características mais brasileiras. A chegada da família real portuguesa em 1808 já era um indício de que aquele seria um século de profundas mudanças na estrutura política, econômica e cultural do país. D. João VI, através de medidas importantes visando o desenvolvimento nacional, abriu os portos para comércio com o mundo, o que significava a fácil entrada de novas tendências culturais, principalmente européias. Além disso, criou novas escolas, bibliotecas e museus, e deu incentivo à tipografia, que implicou a impressão de livros, até então feitos em Portugal, e a edição de jornais. O eixo político-econômico-cultural do Brasil sai então de Minas Gerais para ganhar as portas da realeza no Rio de Janeiro, onde nasce um público consistente de leitores principalmente formado de mulheres e jovens estudantes, provenientes da classe burguesa em ascensão.
Enquanto isso, o restante da nação, ainda movido pela estrutura agrária e mão-de-obra escrava, assiste à transição do colonialismo ao império. Era a tão sonhada independência política das correntes de Portugal, numa busca pela liberdade e pelo patriotismo, que iria acolher de braços abertos os ideais românticos.
CARACTERÍSTICAS
Em oposição direta ao Arcadismo, o Romantismo, marco de início do Período Nacional da literatura brasileira, que se estende até nossos dias, tem como lema a subjetividade, ou seja, o culto ao EU, ao individualismo e à liberdade de expressão, buscando a criação de uma linguagem nova e compatível com o espírito nacionalista. Impera a emoção, a constante busca pelas forças inconscientes da alma, como a imaginação e os sonhos. É o coração acima da razão humana, que leva ao amor idealizado e puro. A natureza passa a ser a expressão da criação e perfeição de Deus, a única paisagem sem a mão corrupta do homem. É nela que o homem vai refletir todos os seus estados de espírito e desejos de liberdade, de proximidade ao Criador.
Essa busca dos sentimentos e da liberdade entra em choque, porém, com a realidade humana e muitas vezes gera a insatisfação, a depressão e a melancolia em relação ao mundo incompreendido - o "mal-do-século". A conseqüência quase sempre é a fuga, a busca pela morte, pelos ambientes exóticos: o oriente distante ou o passado histórico, que, para os europeus, remonta à época medieval e, para os escritores brasileiros, à vida indígena pré-colonial e colonial. Muitas vezes essa fuga recai sobre a infância, período de pureza, estabilidade e segurança na vida. A criança passa a ser modelo de perfeição, de estado de espírito, de exemplo para a renovação da alma e da sociedade. Surge daí a contestação aos modelos vigentes, a busca do caos e da anarquia, o culto às trevas, ao ópio e à noite, num convívio quase irregular com um nacionalismo exaltado, em que a figura do índio e do sertanejo passam a ser figuras de destaque - representantes da típica cultura brasileira. Da vida urbana, fica a imagem dos amores burgueses, da média-alta sociedade de São Paulo e principalmente do Rio de Janeiro, capital do império, tão bem retratada nos folhetins. Toda essa fuga seria alvo de ataque dos escritores do Realismo-Naturalismo.
No Brasil, o Romantismo desenvolveu-se principalmente nos gêneros romance e poesia. O romance estava em ascensão na Europa e não tardou a fazer sucesso também por aqui. Inúmeros jornais e folhetins traziam em suas páginas as belas traduções de romances europeus de cavalaria ou de amores impossíveis. Logo, toda uma gama de jovens escritores brasileiros interessaram-se pelo gênero e especializaram-se nesse tipo de literatura.
Em termos da temática, o romance brasileiro pode ser dividido em quatro tendências distintas.
O romance urbano, que retrata, muitas vezes de forma crítica, a vida e os costumes da sociedade no Rio de Janeiro. Os enredos, na maioria das vezes, são recheados de amores platônicos e puros, fruto de uma classe social sem problemas financeiros e na maioria dos casos estereotipada. Destacam-se as obras de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e principalmente José de Alencar.
O romance indianista, que focaliza a figura do índio. Enquanto o escritor europeu tinha seus cavaleiros medievais, o brasileiro sentiu a necessidade de resgatar em nosso passado um herói que melhor nos retratasse. Mesmo sendo algumas vezes retratado como se fosse um cavaleiro europeu da idade média, a figura do índio surge de forma imponente, com seus costumes e sua vida selvagem, mas cheia de virtudes. Destacam-se aqui as obras de José de Alencar, principalmente os clássicos Iracema e O Guarani.
O romance regionalista, que concentra-se em outra figura brasileira: o sertanejo. Na insistência nacionalista de buscar as raízes de nossa cultura, a figura do sertanejo, com suas crenças e tradições, fez-se tão exótica quanto à do índio. Dentre os regionalistas, destacam-se, além de José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay e Franklin Távora.
O romance histórico, através do qual os romancistas brasileiros buscaram em nossa história temas que alimentassem os anseios românticos, de modo a acentuar ainda mais o nacionalismo exaltado que respirava a pátria desde a independência. Evidenciam-se Bernardo Guimarães e, mais uma vez, José de Alencar.
A poesia brasileira se desenvolveu no Brasil de uma forma muito criativa e rica em temas e imagens, apesar de muitas vezes não passar de mera influência ou cópia de poetas europeus. Podemos dividir toda essa gama de temas em três importantes fases.
Primeira geração romântica: o índio, verdadeiro ícone da cultura tradicional brasileira, concorre nessa primeira geração de igual para igual com os sentimentos e as emoções dos poetas brasileiros. O nacionalismo exaltado vai também apreciar a beleza e a riqueza de nossas matas. Destacam-se os poetas Gonçalves de Magalhães e principalmente Gonçalves Dias, o nosso melhor poeta indianista.
Segunda geração romântica: é a poesia do "mal-do-século". Inspirados pelos poetas europeus, principalmente Lord Byron, nossos poetas vão cantar os amores impossíveis, o desejo pela morte, a indecisão entre uma vida de liberdade ou religiosa, e a incompreensão do mundo, aliada ao desejo de evasão. É o que Fagundes Varela chamou de "a escola de morrer jovem". Destacam-se nessa segunda geração os fervorosos versos do próprio Fagundes Varela, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire.
Terceira geração romântica: é a geração dos poetas que se cansaram de lamentar as angústias e os amores impossíveis. Era hora de lutar para modificar o mundo que tanto reprimia o ser e o condenava à morte e à constante fuga da realidade. Os poetas dessa terceira geração sentem que é mais do que necessário deixar o choro e a melancolia de lado e se engajar numa luta social, tendo a poesia como espada afiada, que tocava o povo no íntimo. Essa geração acabou por ser denominada como "geração hugoana" (por ter sido diretamente influenciada pelo poeta francês Victor Hugo), e também "geração condoreira", que tendo como símbolo o condor, sugeria que a poesia voasse alto, falasse alto e causasse grande efeito enquanto a voz que toca a massa. Seu maior representante foi Castro Alves.
Essa terceira geração, na verdade, já era o início da transição do Romantismo para o Realismo, em que a crítica social passa a ser uma das características mais marcantes.
BIBLIOGRAFIA
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Realismo-Naturalismo
1881
MARCO
Obra
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (1881)
Autor
Machado de Assis (1839-1908)
MARCO
Obra
O MULATO (1881)
Autor
Aluísio Azevedo (1857-1913)
CONTEXTO HISTÓRICO
O Realismo, no Brasil, nasceu em conseqüência da crise criada com a decadência econômica açucareira, o crescimento do prestígio dos estados do sul e o descontentamento da classe burguesa em ascensão na época, o que facilitou o acolhimento dos ideais abolicionistas e republicanos. O movimento Republicano fundou em 1870 o Partido Republicano, que lutou para trocar o trabalho escravo pela mão-de-obra imigrante.
Nesse período, as idéias de Comte, Spencer, Darwin e Haeckel conquistaram os intelectuais brasileiros que se entregaram ao espírito científico, sobrepujando a concepção espiritualista do Romantismo. Todos se voltam para explicar o universo através da Ciência, tendo como guias o positivismo, o darwinismo, o naturalismo e o cientificismo. O grande divulgador do movimento foi Tobias Barreto, ideólogo da Escola de Recife, admirador das idéias de Augusto Comte e Hipólito Taine.
O Realismo e o Naturalismo aqui se estabelecem com o aparecimento, em 1881, da obra realista Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e da naturalista O Mulato, de Aluísio Azevedo, influenciados pelo escritor português Eça de Queirós, com as obras O Crime do Padre Amaro (1875) e Primo Basílio (1878). O movimento se estende até o início do século XX, quando Graça Aranha publica Canaã, fazendo surgir uma nova estética: o Pré-Modernismo.
CARACTERÍSTICAS
A literatura realista e naturalista surge na França com Flaubert (1821-1880) e Zola (1840-1902). Flaubert (1821-1880) é o primeiro escritor a pleitear para a prosa a preocupação científica com o intuito de captar a realidade em toda sua crueldade. Para ele a arte é impessoal e a fantasia deve ser exercida através da observação psicológica, enquanto os fatos humanos e a vida comum são documentados, tendo como fim a objetividade. O romancista fotografa minuciosamente os aspectos fisiológicos, patológicos e anatômicos, filtrando pela sensibilidade o real.
Contudo, a escola Realista atinge seu ponto máximo com o Naturalismo, direcionado pelas idéias materialísticas. Zola, por volta de 1870, busca aprofundar o cientificismo, aplicando-lhe novos princípios, negando o envolvimento pessoal do escritor que deve, diante da natureza, colocar a observação e experiência acima de tudo. O afastamento do sobrenatural e do subjetivo cede lugar à observação objetiva e à razão, sempre, aplicadas ao estudo da natureza, orientando toda busca de conhecimento.
Alfredo Bosi assim descreve o movimento: "O Realismo se tingirá de naturalismo no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das "leis naturais" que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito".
Vindo da Europa com tendências ao universal, o Realismo acaba aqui modificado por nossas tradições e, sobretudo, pela intensificação das contradições da sociedade, reforçadas pelos movimentos republicano e abolicionista, intensificadores do descompasso do sistema social. O conhecimento sobre o ser humano se amplia com o avanço da Ciência e os estudos passam a ser feitos sob a ótica da Psicologia e da Sociologia. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin oferece novas perspectivas com base científica, concorrendo para o nascimento de um tipo de literatura mais engajada, impetuosa, renovadora e preocupada com a linguagem.
Os temas, opostos àqueles do Romantismo, não mais engrandecem os valores sociais, mas os combatem ferozmente. A ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são substituídos pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da linguagem coloquial e regional.
O romance sob a tendência naturalista manifesta preocupação social e focaliza personagens vivendo em extrema pobreza, exibindo cenas chocantes. Sua função é de crítica social, denúncia da exploração do homem pelo homem e sua brutalização, como a encontrada no romance de Aluísio Azevedo.
A hereditariedade é vista como rigoroso determinismo a que se submetem as personagens, subordinadas, também, ao meio que lhes molda a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda sua ação sob o senso do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.
Os narradores dos romances naturalistas têm como traço comum a onisciência que lhes permite observar as cenas diretamente ou através de alguns protagonistas. Privilegiam a minúcia descritiva, revelando as reações externas das personagens, abrindo espaço para os retratos literários e a descrição detalhada dos fatos banais numa linguagem precisa.
Outro tratamento típico é a caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos através da exposição de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas no romance psicológico dos escritores Raul Pompéia e Machado de Assis.
BIBLIOGRAFIA
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Parnasianismo
1884-1888
MARCO
Obra
MERIDIONAIS (1884) e SONETOS E POEMAS (1886)
Autor
Alberto de Oliveira (1857-1937)
MARCO
Obra
VERSOS E VERSÕES (1887)
Autor
Raimundo Correia (1859-1911)
MARCO
Obra
POESIAS (1888)
Autor
Olavo Bilac (1865-1918)
CONTEXTO HISTÓRICO
O Parnasianismo foi contemporâneo do Realismo-Naturalismo, estando, portanto, marcado pelos ideais cientificistas e revolucionários do período. Diz respeito, especialmente, à poesia da época, opondo-se ao subjetivismo e ao descuido com a forma do Romantismo. O nome Parnaso diz respeito à figura mitológica que nomeia uma montanha na Grécia, morada de musas e do deus Apolo, local de inspiração para os poetas. A escola adota uma linguagem mais trabalhada, empregando palavras sofisticadas e incomuns, dispostas na construção de frases, atendendo às necessidades da métrica e ritmo regulares, que dificultam a compreensão, mas que lhes são característicos. Para os parnasianos, a poesia deve pintar objetivamente as coisas sem demonstrar emoção.
A nova tendência toma corpo a partir de 1878, quando nas colunas do Diário do Rio de Janeiro se tenta criar a "Guerra do Parnaso", defendendo o emprego da ciência e da poesia social, sem visar modificar nada, recebendo a alcunha de Idéia Nova. O poeta Alberto de Oliveira deseja o Realismo na poesia, enquanto em São Paulo, Raimundo Correia e alguns colegas criam polêmicas sobre o novo movimento na Revista de Ciências e Letras. Surge a poesia diversificada: poesia científica, socialista e realista. A científica é a única a manter certo rigor e exclusividade. As demais se libertam do Romantismo aos poucos.
Segundo Alfredo Bosi, a obra de Teófilo Dias, Fanfarras (1882) pode ser considerada o primeiro livro parnasiano, contrapondo-se a Alberto de Oliveira que destaca Sonetos e Rimas (1880) de Luís Guimarães Junior, como a primeira manifestação. Contudo, são os poemas da "plêiade parnasiana": Alberto de Oliveira, com Meridionais (1884) e Sonetos e Poemas (1886), Raimundo Correia, com Versos e Versões (1887) e Olavo Bilac, com a primeira edição de Poesias (1888), que apresentam as marcas próprias do movimento, filiado ao Parnasianismo francês, assim denominado, devido à coletânea Parnasse Contemporain, publicada em série (1866,1869 e 1876).
CARACTERÍSTICAS
Os poetas brasileiros tomam como fonte de inspiração os portugueses do século XVIII, destacando, sobretudo, o trabalho de Bocage. Voltam-se, também, para Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga. Cultuam a estética do Arcadismo, a correção da linguagem, propiciadora de originalidade e imortalidade, buscando objetividade e impassibilidade diante do objeto, cultivando a forma para atingir a perfeição.
A sintaxe, sob a influência do século XVIII, prima pela devoção à clareza, à lógica e à sonoridade. Os parnasianos evitam as aliterações, homofonias, hiatos, ecos e expressões arrebatadoras, mas apreciam a rima consoante, aplicada sob o jugo de regras rígidas, privilegiando a rima paroxítona, abjurando a interna e exigindo a rima em todas as quadras. Dão ênfase às alternâncias graves, aos versos de rimas paralelas ou intercaladas. Apreciam as metáforas derivadas das lendas e história da Antigüidade Clássica, símbolo do ideal de beleza.
O soneto ressurge juntamente com o verso alexandrino, bem como o trabalho com a chave de ouro e a rima rica. A vida é cantada em toda sua glória, sobressaindo-se a alegria, a sensualidade, o conhecimento do mal. A imaginação é sempre dominada pela realidade objetiva.
O universalismo se sobrepõe ao nacionalismo. Entretanto, o Parnasianismo inicial, ligado à inspiração derivada dos temas históricos de Roma e Grécia, vai se deslocando, aos poucos, para a paisagem brasileira, graças à ação do meio e das tradições poéticas, tendendo à busca da simplicidade clássica. A recorrência ao arcadismo interno e ao português acaba dando ao movimento uma configuração própria. O social perde a força do início, cedendo lugar ao princípio da Arte pela Arte, postulado pelo poeta francês, Théophile Gautier, sem, entretanto, suprimir o subjetivismo. Por isso, os poetas não obedecem com precisão o cientificismo e nem primam pela objetividade, mas se orientam pelo determinismo, pessimismo e sensualidade, prevalecendo, com freqüência, a exigência de precisão, a riqueza de linguagem e a descrição.
BIBLIOGRAFIA
[pic][pic]Simbolismo
1893
MARCO
Obra
MISSAL E BROQUÉIS (1893)
Autor
Cruz e Sousa (1861-1898)
CONTEXTO HISTÓRICO
O fim do século XIX foi profundamente marcado pelo avanço científico e a corrida desenfreada do capitalismo industrial em busca da tecnologia e matéria-prima. Era também a busca de novas tendências e caminhos, apesar de haver um certo pessimismo com relação ao século vindouro, e o Brasil passou por mudanças expressivas dentro de sua estrutura política, econômica e social. A abolição da escravatura (1888) não assegurou o direito de igualdade e civilidade aos negros, acentuando o problema da miséria no país. Revoltas como a "A guerra de Canudos" e a "Revolta da Armada" refletiam o descontentamento com as condições sociais vigentes. O império decadente deu lugar a uma república (1889) que favorecia diretamente o sudeste do Brasil, com a política do "café-com-leite" (domínio alternado de presidentes mineiros e paulistas). As cidades, com seus centros culturais e comerciais aos moldes da Europa (principalmente de Paris), se preocupavam com o inchaço de suas periferias, onde estava a miséria dos negros livres e das massas de imigrantes, provenientes principalmente da Europa e Japão, e que surgiram para mudar o perfil do povo brasileiro, principalmente no sul do país. A industrialização, ainda em estado fetal, e a cultura à moda francesa da elite contrastavam com uma nação tipicamente rural e analfabeta que enfrentava os horrores das pestes e epidemias como a febre amarela, dizimando milhares de pessoas.
CARACTERÍSTICAS
O Simbolismo surge no final do século XIX como movimento de retomada de alguns ideais do Romantismo, bem como de oposição ao Parnasianismo, Naturalismo, correntes literárias apreciadas pela elite social. Apesar disso, conserva algumas peculiaridades parnasianas, como a estrutura dos versos, o vasto uso do soneto, e a preciosidade no vocabulário. Sua poesia, no entanto, vai mais além. Há a constante busca de uma linguagem mais rica, repleta de novas palavras, com o emprego de novos ritmos que associem de forma harmoniosa a poesia à música, explorando muito o uso da sinestesia, das aliterações, ecos e assonâncias.
O poeta simbolista não quer somente cantar e evocar suas emoções. Ele quer trazê-las de uma forma mais palpável para o texto, para que possam ser sentidas em sua plenitude. Por isso, o uso da sinestesia, isto é, a associação de impressões sensoriais distintas, é amplo. Há também a forte ligação com as cores, ressaltando as sensações que provocam no espírito humano. A cor branca é sempre a mais presente e já sugere, entre outras coisas, a pureza, ou o opaco, indiciando a presença de neblina ou nuvem e tornando as imagens poéticas mais obscuras.
Obscuridade, aliás, é uma forte característica simbolista: a realidade é revelada de uma forma imprecisa e vaga. Não há a preocupação de nomear os objetos, e sim evocá-los, sugeri-los. É o emprego do símbolo, que liga o abstrato ao concreto, o material ao irreal. Servindo como ponte entre o homem e as coisas, o símbolo preserva o domínio da intuição sobre a razão, bem como a exaltação das forças espirituais e místicas que regem o universo, contrária ao Cientificismo, ao Positivismo e ao materialismo naturalista e parnasiano. É o culto ao sonho, ao desconhecido, à fantasia e à imaginação, numa busca pela essência do ser humano, com todos os seus mistérios, seu dualismo (espírito e matéria) e seu destino frente à vida e à morte.
A poesia, então, ganha o tom subjetivista que a aproxima muito do movimento romântico, disposto a explorar e sentir tudo o que há entre a alma e a carne, entre o céu e a terra. O poeta se entrega muitas vezes ao seu inconsciente e ao subconsciente para estar mais próximo dos segredos que ligam o homem a Deus. Esse caminho, por vezes alucinado, leva ao isolamento, à solidão, à loucura e à alienação, evidenciando um clima mais pessimista, mórbido e algumas vezes satânico. Rompendo com a linearidade do texto, dando voz ao fluxo da consciência e trabalhando de forma mais desarticulada a palavra e seu significado, o Simbolismo antecipa características que seriam marcantes dentro do Modernismo.
No Brasil, o movimento simbolista não alcançou o êxito obtido na Europa, devido ao forte predomínio das tendências parnasianas em nossa literatura. Entre os poetas simbolistas, destacam-se as obras de Cruz e Sousa, autor de nossa primeira obra simbolista Missal e Broquéis e Alphonsus de Guimaraens, o mais místico de nosso poetas.
BIBLIOGRAFIA
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Pré-Modernismo
1902
MARCO
Obra
OS SERTÕES (1902)
Autor
Euclides da Cunha (1866-1909)
MARCO
Obra
CANAÃ (1902)
Autor
Graça Aranha (1868-1931)
CONTEXTO HISTÓRICO
O fim do século XIX e as duas primeiras décadas do século seguinte foram marcados por mudanças no quadro político, econômico e social do Brasil. Em 1894, tomou posse o primeiro presidente civil Prudente de Morais, que deu início à então chamada República do café-com-leite. Além disso, outros fatores concorreram para essas alterações: o auge da produção agro-pecuária na região Sudeste; o processo crescente de urbanização de São Paulo; o desembarque de um grande número de imigrantes, sobretudo de italianos, no centro sul do país; a marginalização dos antigos escravos, em grandes áreas da nação; o declínio acelerado da cultura canavieira do Nordeste, sem condições de competir com a ascensão do café paulista,.
Tais mudanças provocaram, por um lado, o aumento das pequenas classes - média, operária e proletária, e, por outro, contribuíram para o aparecimento de hierarquia entre as classes dominantes. Em primeiro lugar, o poder político-econômico estava nas mãos dos grandes cafeicultores de São Paulo e dos pecuaristas de Minas; em segundo, com a burguesia industrial de São Paulo e Rio de Janeiro; em terceiro, com o Exército que, desde a proclamação da República, começara a se destacar politicamente.
Nesse cenário, duas ideologias entraram em choque: o tradicionalismo rural, refratário à mente agitada dos centros urbanos, e as transformações nas grandes cidades, onde a burguesia rica estava sempre aberta às influências externas, em busca de modernização e as classes média e operária estimulavam movimentos progressistas radicais.
Tudo isso marcou, cada vez mais, os acentuados contrastes da realidade brasileira, dando origem a conflitos sociais isolados, tais como: a Revolta de Canudos, no sertão nordestino; o caso do Padre Cícero, na cidade cearense de Juazeiro; o fenômeno do cangaço, com a figura de Lampião; todos refletindo a situação crítica de um Nordeste abandonado. A rebelião contra a vacina obrigatória e a revolta da chibata no Rio e os movimentos grevistas de operários em São Paulo, sob orientação anarquista, durante a Primeira Guerra Mundial, eram sintomas de uma classe nova que já lutava para sobreviver, numa cidade em fase de industrialização. Esses movimentos tiveram, isoladamente, uma história independente que, no conjunto, revelavam a crise de um país que se desenvolvia às custas de graves desequilíbrios.
CARACTERÍSTICAS
Nas duas primeiras décadas do século XX, período de transição entre o que era passado e o que seria chamado de moderno, existiram as mais variadas tendências e estilos literários, além dos poetas do Parnasianismo e Simbolismo, que ainda continuavam escrevendo. Por apresentar traços individuais muito fortes, o Pré-Modernismo no Brasil não se caracteriza como escola literária, distinguindo-se, na verdade, como um termo genérico para designar a produção literária de alguns autores que, não sendo ainda modernos, já promoviam rupturas com o passado. A partir daí, a continuidade de temas e sínteses expressivas tradicionais são vistas, nas obras desse período, como uma ou outra tendência. Por isso, alguns pontos em comum podem ser apontados.
Ruptura com a linguagem acadêmica e artificial dos parnasianos, encontrada em autores cujas obras, sem nenhuma sistematização aparente, contradizem e abalam lingüisticamente as características da literatura tradicional, retratando a fala de uma determinada localidade.
Problematização e denúncia da realidade sócio-cultural brasileira, cujo objetivo principal desse período é mostrar o Brasil do operário suburbano, do sertanejo nordestino, do caipira interiorano e do imigrante que, na figura desses tipos humanos, surgem como personagens marginalizadas em um novo regionalismo, registrando costumes e verdades locais para mostrar uma terra diferente da revelada pelos escritores do Romantismo e Realismo-Naturalismo.
A preocupação em retratar fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos aproxima a realidade da ficção. Os Sertões e Canaã, publicados em 1902, marcam o início do período pré-modernista. Na primeira obra, fazendo uma completa análise da terra e do sertanejo nordestino, Euclides da Cunha retrata a guerra dos Canudos. Na segunda, Graça Aranha documenta a imigração alemã, no Espírito Santo. Em Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), Lima Barreto aborda o governo de Floriano e a Revolta da Armada, e em Cidades Mortas (1919), Monteiro Lobato descreve a pobreza do caboclo nos vilarejos decadentes do Vale do Paraíba Paulista.
Esses autores, de certa forma, abrem caminho para o Modernismo, expondo os problemas brasileiros que, retomados pelos "futuristas", contribuem para a "descoberta do Brasil". Na poesia, destaca-se também o expressionismo "sui generis" de Augusto dos Anjos, que, rompendo com o passado antecipa algumas das "descobertas" modernistas.
BIBLIOGRAFIAModernismo
1922
Primeira Fase (1922-1930)
MARCO
Evento: SEMANA DE ARTE DE MODERNA (1922)
Segunda Fase (1930-1945)
MARCO
Obra: ALGUMA POESIA (1930)
Autor: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
MARCO
Obra: VIDAS SECAS (1938)
Autor: Graciliano Ramos (1892-1953)
Terceira Fase (Pós-1945)
MARCO
Obra: PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM (1944)
Autor: Clarisse Lispector (1926-1977)
CONTEXTO HITÓRICO
No Brasil, o termo Modernismo envolve aspectos ligados ao movimento, propriamente dito, à estética e ao período histórico. Desde o início do século, a literatura tradicional, acadêmica e elitizante se mantém ao lado de tendências renovadoras, representadas por escritores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto. Com o passar do tempo, a busca pelo novo e as tentativas de renovação da arte brasileira se multiplicam com a promoção de exposições de pintura, esculturas modernas e artigos nos jornais, dedicados às tendências vanguardistas européias.
Na Europa, essa vanguarda tem como marca o avanço tecnológico e científico do início do século XX. Nesse período, o cotidiano das pessoas sofre uma verdadeira revolução com a supervalorização do progresso e da máquina. O capitalismo entra em crise, dando início à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), encerrando a chamada belle époque. A seguir, a crise financeira, oriunda do conflito, leva à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e nos anos intermediários, conhecidos como "os anos loucos", as pessoas passam a conviver com a incerteza e com o desejo de viver somente o presente. Tais experiências despertam o anseio de interpretar e expressar a realidade de forma diferenciada, dando origem aos movimentos da vanguarda européia.
Os mais importantes foram: o futurismo, liderado pelo italiano Marinetti, exalta a velocidade e a máquina; o cubismo, oriundo da pintura, fraciona a realidade, remontando-a, a seguir, por meio de planos geométricos superpostos; o dadaísmo, com seu líder Tristan Tzara, nega totalmente a lógica, a coerência e a cultura, como forma de oposição ao absurdo da guerra. Tzara toma o termo dadá, que não significa nada, e o aplica à arte que produz, afirmando não reconhecer nenhuma teoria e declarando a morte da beleza; o surrealismo, lançado em 1924, por André Breton, com o Manifesto do Surrealismo, prega o apego à fantasia, ao sonho e à loucura, além da utilização da escrita automática em que o artista, provocado pelo impulso, registra tudo o que lhe vem à mente, sem preocupação com a lógica.
Essa vanguarda passa a exercer influência sobre os artistas e intelectuais brasileiros. Dessa forma, vão surgindo obras de autores jovens que, descontentes com a tradição acadêmica e parnasiana, demonstram que a literatura brasileira está sofrendo um processo dinâmico de transformação. Três datas (1922,1930 e 1945) marcam as diferentes fases desse movimento, iniciado com a Semana de Arte Moderna.
Contexto histórico da primeira fase (1922-1930) - Certas transformações foram responsáveis pela criação do ambiente propício à instalação das novas idéias, ressaltando-se: o Centenário da Independência e a Guerra Mundial (1914-1918), que favoreceu a expansão da indústria brasileira, promoveu novas relações políticas, além de abrir espaço para a renovação na educação e nas artes. Deu origem, também, ao questionamento do sistema político vigente, até então comandado pela oligarquia ligada à economia rural. Há, ainda, a grande influência da mão-de-obra imigrante, instalada no Sul, centro de poder da vida econômica e política do país. Outros fatos importantes foram: o triunfo da Revolução de Outubro de 1930, cujo levante se deu em 1922, e a fundação do Partido Comunista Brasileiro.
Igualmente relevante, foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, levando à queda do café brasileiro na balança de exportação, nessa mesma data. Tal fato, desestabiliza, no Brasil, o grupo dirigente e abre espaço para o novo, dando legitimidade à arte e à literatura modernas, entendidas, a princípio, como "capricho". O país vive os últimos anos da República Velha, caracterizada pelo domínio político das oligarquias, formadas pelos grandes proprietários rurais. Em 1922, com a revolta do Forte de Copacabana, o Brasil entra num período revolucionário de fato, culminando com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas.
Contexto histórico da segunda fase (1930-1945) - No plano internacional, os fatos históricos que se destacam como os mais importantes são: a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, provocando profunda depressão econômica, conhecida como a Grande Depressão; a instalação da ditadura salazarista em Portugal, estendendo-se de 1932 a 1968; o início da Guerra Civil Espanhola, em 1936; a invasão da Polônia pela Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, resultando na Segunda Guerra Mundial; a invasão da ex-União Soviética pela Alemanha, em 1941; no mesmo ano em que os japoneses atacam aos Estados Unidos; a invasão da Itália, provocada pelos países aliados, em 1943; o fim da Segunda Guerra, em 1945, com a utilização da bomba atômica sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
No Brasil, a Revolução de 1930 conduziu Getúlio Vargas ao poder com o apoio da burguesia industrial. Tratava-se de um governo provisório que incentivou a industrialização e substituiu o capital inglês pelo norte-americano. Descontentes com essa política, em 1932, os produtores de café de São Paulo se rebelam contra esse governo provisório, dando origem à chamada Revolução Constitucionalista de 9 de julho, que resultou em fracasso.
Em 1934, é promulgada a nova Constituição Brasileira, acompanhada da eleição de Getúlio Vargas para presidente da República. Mais tarde, em 1936, vários membros do Partido Comunista são presos, incluindo os escritores Jorge Amado e Graciliano Ramos. Em 1937, uma nova constituição é promulgada com características fascistas.
Em meio a todas essas conturbações, um fato merece registro. Trata-se das mortes, em 1938, de Lampião, o chefe do cangaço e de sua companheira Maria Bonita. O cangaço pode ser definido como o banditismo praticado pelos nordestinos expostos à extrema pobreza e constante injustiça social. Surge na grande seca de 1879, a partir de grupos armados que assaltam fazendas e casas comerciais para depois distribuírem o alimento furtado aos flagelados.
Além desses acontecimentos, em 1941, o Brasil entra na guerra, em apoio aos Estados Unidos da América do Norte, e, em 1945, Getúlio Vargas é deposto pelas Forças Armadas, pondo fim ao Estado Novo com a eleição de Eurico Gaspar Dutra para presidente da República.
Contexto histórico da terceira fase (Pós-1945) - A duas bombas lançadas covardemente sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki em agosto de 1945 apenas evidenciaram um fato que há muito estava comprovado: a vitória dos aliados sobre os países do eixo e o fim da Segunda Guerra Mundial. Começava, a partir de então, um confronto de duas nações e dois sistemas sócio-políticos que dividiria o mundo em duas partes e aumentaria o medo de uma outra guerra mais sanguinária: Estados Unidos versus União Soviética, ou capitalismo versus socialismo. No Brasil, chegava também ao fim o regime de quinze anos de poder de Getúlio Vargas, deposto pelos mesmos militares que o ajudaram a chegar à presidência. Getúlio ainda voltaria em 1951, desta vez eleito pelo povo que o idolatrava. Seu governo, no entanto, não chegou ao fim: sob suspeita de irregularidades no comando do país, Getúlio Vargas suicida-se com um tiro no coração no ano de 1954, causando uma comoção geral.
Dentre os presidentes que sucederam Getúlio, merece destaque a figura de Juscelino Kubitschek, eleito em 1955. Praticando a política dos "cinqüenta anos em cinco", Kubitschek apostou na industrialização como fonte de crescimento para o país. O investimento, sobretudo na área automobilística, necessitou de empréstimos de capital estrangeiro, o que implicava numa dívida externa cada vez maior e uma conturbada inflação. Um dos grandes marcos de seu governo foi a construção da nova capital do país: Brasília, inaugurada em 1960. Enquanto isso, as cidades inchavam cada vez mais com a migração das famílias provenientes de regiões agrárias, sobretudo do norte. O país, no entanto, possuía uma alegria a mais para esquecer dos problemas: o futebol brasileiro, campeão mundial nos anos de 1958 e 1962, e que viria conquistar o terceiro título em 1970.
A década de 60 é marcada pelo Golpe Militar no ano de 1964, quando os militares depuseram o presidente João Goulart e instituíram uma repressão que perseguiria, torturaria e exilaria os principais ícones de nossa política e cultura. O ano de 1968 ficou conhecido pela instituição do Ato Constitucional Número 5, que pregava a censura e condenava pessoas que viessem a se posicionar política e culturalmente contra o regime militar. Nossa cultura, no entanto, passava por um período fértil, não só na literatura e teatro, como também na música, com o nascimento dos grandes festivais de música popular e do "Tropicalismo", movimento musical que contava com nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e outros.
O Brasil só se livraria por completo da repressão militar no ano de 1984. O principal responsável por essa busca da democracia foi o então eleito presidente Tancredo Neves, que faleceria antes de tomar posse. A presidência é assumida pelo vice, José Sarney. Segue-se um período de pacotes econômicos constantes e uma inflação que chega a níveis absurdos.
A eleição de 1990 tornou-se um marco na história do país. Finalmente um presidente seria eleito pelo povo depois de tantos anos de ditadura e sofrimento. Fernando Collor de Melo assume o poder com uma maciça campanha política e uma gama de reformas que visavam colocar a nação no eixo do desenvolvimento. Tanta disposição foi, no entanto, desmascarada, mostrando uma séria teia de corrupção e lavagem de dinheiro, levando o país a um movimento de nacionalismo nunca antes visto, que culminaria com o Impeachment do presidente.
Com Fernando Collor impedido de continuar exercendo o cargo de presidente, seu vice Itamar Franco assume o poder. O marco de seu governo é a criação de uma nova moeda, o Real, que estabilizou os índices inflacionários e equilibrou de certo modo a economia em 1994. O criador do plano, o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, tornou-se o sucessor de Itamar Franco na presidência, sendo reeleito no ano de 1998.
CARACTERÍSTICAS
O Modernismo tem como característica unificadora o desejo de liberdade de criação e expressão, aliados aos ideais nacionalistas, visando, sobretudo, emancipar-se da dependência européia. Esse anseio de independência inclui: o vocabulário, a sintaxe, a escolha de temas e a maneira de ver o mundo. Ao rejeitarem os padrões estilísticos portugueses, seus criadores cobrem de humor, ironia e paródia as manifestações modernistas, passando a utilizar as expressões coloquiais, próximas do falar brasileiro, promovendo a valorização diferenciada do léxico.
O mais importante é a atualidade, por isso centram o fazer literário na expressão da vida cotidiana, descrita com palavras do dia-a-dia, afastando-se da literatura tradicional, consagrada ao padrão culto. Um exemplo de incorporação da linguagem oral, na criação poética e descrição de coisas brasileiras, valorizando o prosaico, recoberto de bom humor, é o poema de Mário de Andrade, O poeta come amendoim (1924). Contudo, é preciso ressaltar que não havia imposição de normas e nem tratamento unificado dos temas.
Os modernistas revelam o nacionalismo, através da etnografia e do folclore. O índio e o mestiço passam a ser considerados por sua "força criadora", capaz de provocar "a transformação da nossa sensibilidade, desvirtuada em literatura pela obsessão da moda européia". Cantam, igualmente, a civilização industrial, destacando: a máquina, a metrópole mecanizada, o cinema e tudo que está marcado pela velocidade, aspecto preponderante no modo de vida da nova sociedade. Ao comporem o perfil psicológico do homem moderno, expõem angústias e infantilidades como forma de demonstrar o caráter e a complexidade do ser humano, apoiando-se, para tanto, na psicanálise, no surrealismo e na antropologia.
A Primeira Fase (1922-1930)
O primeiro momento, conhecido como fase heróica, corresponde à Semana de Arte Moderna em 1922, em São Paulo. Essa semana serviu como elemento de divulgação e dinamização das discordâncias, acelerando o processo de modernização. O objetivo central era se impor contra o Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo ainda vigentes.
Além disso, visava estabelecer uma teoria estética, nem sempre claramente explicitada por seus criadores e que acaba por renovar o conceito de literatura e de leitor. A Semana incluiu uma série de eventos (l3, l5 e 17 de fevereiro de 1922) no Teatro Municipal de São Paulo, reunindo artistas e intelectuais que, sob o aplauso e vaias da platéia, apresentaram uma espécie de sarau, declamando poemas, lendo trechos de romances, fazendo discursos, expondo quadros e tocando música.
Alguns acontecimentos, anteriores a 1922, preparam a trajetória do Modernismo; fatos, especificamente, ligados à estética renovadora, se multiplicam. Em 1912, Oswald de Andrade traz da Europa a novidade futurista; em 1913, o pintor Lasar Segall faz uma exposição, negando a pintura acadêmica. Em 1917, a exposição dos quadros de Anita Malfatti, em São Paulo, destacando a pintura expressionista, assimilada na Europa, coloca, de um lado, os que apóiam o novo e, de outro, os conservadores.
Na literatura, a transformação e o rompimento com o velho estão presentes, sobretudo, na obra de Oswald de Andrade, Memórias Sentimentais de João Miramar, publicada em 1916, cuja característica experimental notável se aprofunda em edições posteriores. Em 1920, Oswald e Menotti del Picchia iniciam a campanha de renovação nos jornais, tendo como expoente o poeta Mário de Andrade que, em 1922, traz a público Paulicéia Desvairada. Seu "Prefácio Interessantíssimo" corresponde a um primeiro manifesto estético.
Outra manifestação, em 1921, são os Epigramas Irônicos e Sentimentais, de Ronald de Carvalho, que, apesar de terem sido publicados em 1922, já revelam a busca por uma nova forma de expressão. No Rio de Janeiro, Manuel Bandeira se utiliza do verso livre. Ao final de 1921, os jovens de São Paulo preparam a Semana, contando com o apoio de Graça Aranha que, ao procurar criar uma filosofia para o movimento, acaba seu líder. Vários escritores do Rio e de São Paulo participam do evento: Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Sabem que estão produzindo algo de novo, em oposição às tendências dominantes, entretanto não conseguem apontar claramente a trajetória a ser seguida. A esses escritores juntam-se os que publicam pela primeira vez: Luís Aranha Pereira, Sérgio Milliet, Rubens Borba de Moraes, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Morais (neto), Antonio Carlos Couto de Barros. Unem-se, também, os pintores: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Emiliano di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro; o escultor Victor Brecheret; o compositor Heitor Villa-Lobos e o historiador Paulo Prado, criador do movimento Pau-Brasil, em 1924. Ainda, em 1922, é lançada a renovadora revista Klaxon, em São Paulo, cuja publicação se estende até o número nove.
O movimento pela nova estética se radicaliza em São Paulo, revelando o aspecto agressivo e polêmico da empreitada. Aos poucos, escritores de norte a sul se ligam ao grupo na batalha de oposição aos conservadores. O espírito nacionalista, inspirado pelo desejo de libertação da tradição européia, toma conta das manifestações e estimula a luta dos renovadores.
Após a Semana, surgem propostas variadas que dão origem aos grupos: Pau-Brasil, lançado por Oswald de Andrade. O nome adotado faz referência à primeira riqueza brasileira exportada e o movimento tem como princípios: a exaltação do Carnaval carioca como acontecimento religioso da raça, o abandono dos arcaísmos e da erudição, a substituição da cópia pela invenção e pela surpresa; o Verde-Amarelo, se colocando em oposição ao Pau-Brasil, prega o nacionalismo ufanista e primitivista. Mais tarde, transforma-se no grupo da Anta, escolhida como símbolo da nacionalidade por ter sido o totem da raça tupi; o Regionalista, iniciado no Recife, prega o sentimento de unidade do Nordeste; o Antropofágico, liderado por Oswald de Andrade, inspirado no quadro Abaporu, (aba, "homem"; poru, "que come"), de Tarsila do Amaral, propõe a devoração da cultura importada com intuito de reelaboração, transformando o que veio de fora em produto exportável. As obras ligadas a esse movimento são Cobra Norato, de Raul Bopp, e Macunaíma, de Mário de Andrade.
Nesses agrupamentos, o enaltecimento do primitivismo passa a incluir a mitologia e o simbólico, sobretudo no movimento Antropofágico que, propondo a devoração dos valores europeus, lança suas idéias na Revista de Antropofagia (1928-1929).
Nessa primeira fase, o rompimento com o velho, a necessidade de chocar o público e de divulgar novas idéias estão marcados pelo radicalismo. Enquanto várias revistas são criadas por escritores renomados e por iniciantes, o movimento vai se estruturando de forma mais vibrante no Rio e em São Paulo, estendendo-se a Minas e ao polêmico regionalismo nordestino. As publicações variadas são fundamentais para o movimento que, extremamente ativo, se estende até 1930, quando menos agressivo, muda de rumos, principalmente, com referência à prosa, dominada, tradicionalmente, pela literatura oficial, ligada à Academia Brasileira de Letras, antagonista dos "futuristas", ou seja, dos modernistas, "rebeldes excêntricos do período".A partir dessa data, as novas idéias se generalizam, constituindo-se em padrões de criatividade. Findo esse primeiro momento, abre-se espaço para a segunda fase; a fase construtiva que prima pela estabilização das conquistas, com forte apelo social.
A Poesia - A poesia, produzida na primeira fase, apropria-se do ritmo, do vocabulário e dos temas da prosa, constituindo-se no principal veículo de divulgação do movimento. Abandona os modelos tradicionais do Parnasianismo e deixando de lado os recursos formais, adota o verso livre, sem número determinado de sílabas e sem metrificação, respeitando a inspiração poética. A cadência rítmica é mantida próxima da prosa em obediência à alternância de sons e acentos, demonstrando que a poesia está na essência ou no contraste das palavras selecionadas. A opção pelo verso livre expressa a alteração da música contemporânea, produzida pelo impressionismo, pela dissonância, pela influência do jazz e dodecafonia.
O registro do cotidiano aparece valorizado por meio de elementos diferenciados, incluindo: a linguagem coloquial; a associação livre de idéias; uma aparente falta de lógica; a mescla de sentimentos contrastantes, revelando o subconsciente e o nacionalismo. Às vezes, a preferência recai sobre o "momento poético" - observação de um determinado aspecto ou de um instante emocional, resultando em condensação poética.
O presente é incorporado aos versos por meio do progresso, da máquina, do ritmo da vida moderna. O humor, igualmente empregado, manifesta-se sob a forma de ironia ou paradoxo, surgindo o poema-piada, condensação irreverente que busca provocar polêmica.
A Prosa - A prosa do período não apresenta o mesmo vigor da poesia, mas revela conquistas importantes. A princípio, demonstra certa densidade, carregada de imagens, provocando tensão pela expressividade de cada palavra. Os recursos são variados como: a aproximação com a poesia, o apoio na fala coloquial e na utilização de períodos curtos. Um dos modernistas, Oswald de Andrade, aplica essas experiências não só em seus artigos e manifestos, mas também na obra Memórias Sentimentais de João Miramar (1924). Trabalha a realidade através de recursos poéticos, empregando metáforas e trocadilhos. Essa técnica, aliada a uma "espécie de estética do fragmentário", compõe-se de espaços em branco na formatação tipográfica e também na seqüência do discurso, cabendo ao leitor a tarefa de dar sentido ao que lê.
Ao lado de Oswald de Andrade, outros escritores se destacam: Antonio de Alcântara Machado com Pathé Baby, Plínio Salgado com O Estrangeiro, José Américo de Almeida com Bagaceira. Há os que dão ênfase à experiência léxica e sintática, tendo como suporte a fala coloquial. Mário de Andrade é um de seus representantes com Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma. Neste último, o novo está, sobretudo, no emprego da lenda, revelando contornos poéticos, derivados da liberdade na escolha do vocabulário, nacionalizando o modo de escrever.
A Segunda Fase (1930-1945)
É o período de maturação e de regionalismo, revelando-se, após as conquistas da geração de 1922, uma fase muito rica na produção de prosa e poesia. Reflete o momento histórico conturbado, reinante não só na Europa, mas também no mundo.
Poesia - Nesta fase construtiva predomina a prosa, enquanto a poesia se apresenta de forma mais amadurecida. Não precisa mais ser irreverente e experimentalista, nem chocar o público; agora familiarizado com a nova maneira de expressão. As influências de Mário e Oswald de Andrade estão presentes na produção poética pós Semana de Arte Moderna. Os novos poetas dão continuidade à pesquisa estética anterior, mantendo o verso livre e a poesia sintética.
A nova técnica está marcada pelo questionamento mais vigoroso da realidade, acompanhada da indagação do poeta sobre seu fazer literário e sua interpretação sobre o estar-no-mundo. Conseqüentemente, surge uma poesia mais madura e politizada, comprometida com as profundas transformações sociais enfrentadas pelo país. Ampliando os temas da fase anterior, volta-se para o espiritualismo e o intimismo, presentes em certas obras de Murilo Mendes, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinicius de Morais.
A Prosa - A prosa reflete o mesmo momento histórico da poesia, cobrindo-se igualmente das preocupações dos poetas da década de 30. São autores mais representativos: José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Erico Verissimo.
Nessa fase, a prosa se reveste de caráter mais maduro e construtivo, refletindo e aproveitando as conquistas da geração de 1922. A linguagem atinge certo equilíbrio e adota uma postura mais documental ao expor a realidade brasileira e focalizar o aspecto social. Essa tendência é aplicada nos romances urbanos, voltados à exposição da vida nas grandes cidades, revelando as desigualdades sociais, observadas na vida urbana brasileira, com destaque para algumas obras de Erico Verissimo.
Os escritores focalizam, ainda, a realidade regional do país, originando a prosa regionalista que destaca a seca e os flagelos dela decorrentes. Os romancistas comprometidos com essa temática são: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Ao lado dessa tendência, encontra-se a prosa intimista ou de sondagem psicológica, elaborada a partir do surgimento da teoria psicanalítica freudiana. Seus representantes são: Dionélio Machado, Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. Portanto, a denúncia social e a relação do "eu" com o mundo e, em especial, com o povo brasileiro são o ponto de tensão dos romances do período.
A preocupação mais marcante da prosa é o homem do Nordeste, incluindo sua vida precária e as condições adversas impostas pela geografia do lugar, pela submissão dos trabalhadores aos proprietários de terras, advinda de sua grave falta de instrução. O encontro com o povo brasileiro propicia, pois, o nascimento do regionalismo, reforçado pelos temas dedicados à decadência dos engenhos; às regiões de cana-de-açúcar; às terras do cacau no sul da Bahia; à vida agreste; às constantes secas, aprofundando as desigualdades sociais; ao movimento migratório; à mão-de-obra barata, à miséria e à fome.
Em 1945, encerra-se o período dinâmico do Modernismo, abrindo espaço para a fase de reflexão, devotada aos questionamentos sobre a linguagem, ao retorno a certos modelos estilísticos tradicionais, sobretudo, no início dos anos 50, visando inovações.
Some-se a isso que, o término da Segunda Guerra Mundial (1945) empurra o país para a era industrial e passa a contar com um proletariado de grande peso representativo, ávido de participar efetivamente da vida política. Além disso, o país desponta como uma potência moderna, facilitando o aparecimento da nova estética, revelando, segundo Antonio Candido, "no seu ritmo histórico, uma adesão profunda aos problemas da nossa terra e da nossa história contemporânea".
A Terceira Fase (Pós-1945)
Nesta terceira fase, presencia-se a rejeição da geração de 22 na poesia. Surge o Concretismo, a Poesia-Práxis, o Poema-Processo, o Poema-Social, a Poesia Marginal e os músicos-poeta. Na prosa, a exploração do psicológico e dos conflitos entre o homem e a modernidade, a busca da universalização e de uma literatura engajada e o mergulho no realismo fantástico e no romance de reportagem passam a ser o foco. A crônica, o conto, a prosa autobiográfica e o teatro ganham força.
A Poesia - A poesia da segunda metade da década de 40 é marcada pela presença da Geração de 45, onde se destacariam grandes nomes dentro de nossa literatura, entre eles João Cabral de Melo Neto. Essa geração tem como marco a publicação dos nove números da "Revista Orfeu", no Rio de Janeiro. Pregavam, acima de tudo, a rejeição aos moldes modernistas da geração de 22, ou seja: o fim do verso livre, da paródia, da ironia, do poema-piada, etc. A poesia deveria seguir um modelo mais formal, de cunho neoparnasiano ou neo-simbolista, com versificação mais regrada, maior erudição com relação às palavras e uso de temas mais universais.
Contrapondo a toda essa busca pelos padrões clássicos, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos criaram o Concretismo, que condizia mais com a rapidez e agilidade da sociedade moderna. O Concretismo vai além de tudo o que o Modernismo conquistou: prega o fim do verso, do lirismo e do tema, além da exploração do espaço em branco, e a decomposição e montagem de palavras, com seus vários sentidos e correlações com outras palavras. O poema em si muitas vezes lembra um cartaz publicitário que se evidencia pelo apelo visual e permite várias leituras.
Outro movimento de profunda importância literária é o da Poesia-Práxis, liderado pelo poeta Mário Chamie e por Cassiano Ricardo. A poesia, segundo essa nova concepção, deve ser energética e dinâmica, com um conteúdo de importância, podendo ser transformada e reformulada pelo leitor, permitindo uma leitura múltipla. O Poema-Processo, assim como a poesia concreta, apela para o campo visual, através do uso de cortes e colagens e signos não-verbais. São poemas de apreciação e compreensão muito truncadas, mais para serem vistos do que lidos. A Poesia Social surge para trazer novamente à tona a força do verso, abolido pela poesia concreta e pelo Poema-Processo, sendo que a principal preocupação está sempre voltada para o retrato da realidade social. A Poesia Marginal mantém, no entanto, algumas relações com o Concretismo e o Poema-Processo. Sua linguagem é marcada pela busca da descrição do cotidiano, do instante, numa linguagem mais simples e um tom coloquial que tem como marca a ironia, o humor e o desprezo à elite e à sociedade, retomando algumas características da obra de Oswald de Andrade. Eram, na maioria dos casos, rodadas em mimeógrafos e entregues de mão em mão.
Uma das características da poesia contemporânea é uma busca cada vez maior de uma intertextualidade com outros meios de expressão, exigindo uma linguagem cada vez mais fragmentada e rápida que muitas vezes contrasta com uma necessidade de reencontro com os padrões clássicos, onde se evidenciam poemas mais longos e lineares. Outra característica relevante que só veio a contribuir para a difusão da poesia foi seu casamento com a música popular, que acentua o crescimento dos meios de comunicação de massa e a produção mais industrializada da literatura. Surgiram músicos-poeta como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento e outros, precedidos pela excelência de Vinícius de Moraes.
A Prosa - A publicação do livro Perto do Coração Selvagem de Clarisse Lispector em 1944 já indiciava um novo caminho: a prosa da década de 40 e 50 seria marcada pela exploração do campo psicológico das personagens, o urbanismo que revela a relação conflituosa entre o homem e a modernidade, e o regionalismo que renova a linguagem literária, numa profunda busca pela universalização. Além de Clarisse Lispector, outro nome se destacaria dentro dessa nova concepção literária: Guimarães Rosa. Clarisse Lispector vai usar na maioria das vezes o cenário das grandes cidades como pretexto para expressar um outro mundo: o mundo interior de cada personagem. Guimarães Rosa usa e abusa do testemunho realista e de uma linguagem completamente inovadora e mítica para redescobrir a linguagem e o sertão do Brasil, ampliando o conceito do sertão e do sertanejo que ali vive.
A prosa urbana vai ser cada vez mais explorada a partir dos anos 60, mostrando os problemas acarretados pelo progresso, e um ser humano cada vez mais solitário, marginalizado e vítima de um mundo violento, que se fecha e enfrenta também a si mesmo. A linguagem vai tender cada vez mais à concisão e à fragmentação, rompendo muitas vezes com a linearidade temporal e espacial, tentando descrever o fluxo do pensamento e mostrando a rapidez e o absurdo da modernidade. Nascendo a partir dos mesmos campos urbanos e psicológicos que propulsionaram a literatura nos anos 40 e 50, tem-se a prosa mais introspectiva, o realismo fantástico e o romance reportagem.
A prosa de cunho político vai também se impor com grande força, tendo como objetivo retratar a violência e a repressão política que assolaram o país desde 1964, ou denunciando de um modo satírico e irônico a corrupção que assola o homem, e por conseqüência o governo, e que promove a sempre a discórdia e a desigualdade social. É o caso, por exemplo, de Incidente em Antares de Erico Verissimo.
Outros gêneros que ganham força dentro do panorama literário brasileiro são a prosa autobiográfica, o conto e a crônica, sendo que os dois últimos se consolidaram como modelos de literatura moderna. O conto consegue a síntese e a rapidez que a modernidade pede, mostrando-se mais fácil e mais ágil de ser lido. A crônica ganhou um espaço muito grande dentro dos principais veículos de comunicação como a revista e o jornal devido à sua linguagem mais coloquial, sua ligação mais íntima com o cotidiano, sua irreverência e ironia, e sua mais fácil assimilação por parte dos leitores, destacando escritores consagrados e novos como, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, entre outros.
O Teatro - Merece destaque também a revolução que o teatro brasileiro, que perdia terreno para o rádio e o cinema, sofreu a partir da década de 40, principalmente com a estréia da peça Vestido de Noiva em 1943, de Nelson Rodrigues, que promove uma verdadeira renovação com relação à ação, personagens, espaço e tempo.
A década de 60 e 70 vai mostrar também o teatro político que expressa um forte nacionalismo preocupado em revelar e denunciar a realidade agonizante do Brasil durante o regime militar, buscando uma ligação e uma participação cada vez mais sólida do público dentro da peça, e revelando atores, diretores e dramaturgos de qualidade excepcional, premiados a nível nacional e internacional.
BIBLIOGRAFIA
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