The benefits of using ICTs in Higher Education: the ...

[Pages:24]Os benef?cios da utiliza??o das TIC no Ensino Superior: a perspetiva docente na E-Learning

The benefits of using ICTs in Higher Education: the teacher's

perspective on E-Learning

Rui Trindade1

RESUMO

Este ? um artigo atrav?s do qual se analisam os projetos que receberam o pr?mio Excel?ncia E-Learning da Universidade do Porto (Portugal), atribu?do entre 2004/2005 e 2010/2011, a partir dos benef?cios que os docentes atribu?am ? utiliza??o das novas Tecnologias de Informa??o e Comunica??o (TIC) como suportes de iniciativas pedag?gicas em contextos de forma??o relacionados com o Ensino Superior. Trata-se de um estudo onde se conclui que estamos perante um campo marcado por tens?es, equ?vocos e contradi??es diversos, o que tem mais a ver com os pressupostos concetuais e epistemol?gicos das abordagens pedag?gicas que, hoje, t?m lugar no Ensino Superior do que propriamente com a reflex?o espec?fica sobre a utiliza??o das TIC num tal contexto, a qual ? afetada pelo modo como aquelas abordagens s?o constru?das.

Palavras-chave: pedagogia no ensino superior; TIC; inova??o pedag?gica.

ABSTRACT

This is an article through which we analyze projects that received the E-Learning Excellence Award of Porto University (Portugal), between 2004/2005 and 2010/2011, in order to understand which are the benefits that teachers assigned to Information and Communication Technologies (ICTs) as devices of educational initiatives related to Higher Education. It is a study

DOI: 10.1590/0104-4060.38661 1 Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e de Ci?ncias da Educa??o. Porto, Portugal. Rua Alfredo Allen, 4200-135.

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which concludes that this is a field affected by several kinds of tensions, misunderstandings and contradictions, which has more to do with conceptual and epistemological assumptions about pedagogical approaches in Higher Education today than properly with some specific reflection on the use of ICTs in that context, which is affected by how those approaches are built. Keywords: pedagogy in higher education; ICT; pedagogical innovation.

Introdu??o

A op??o, subjacente ? elabora??o deste texto, que conduziu a identificar os benef?cios da utiliza??o das TIC em contextos de forma??o relacionados com o Ensino Superior explica-se, em primeiro lugar, pelo facto de termos tido acesso a projetos de interven??o que foram considerados por "[...] docentes e investigadores da Universidade do Porto, especialistas em ?reas diversas (Ci?ncias da Educa??o, Tecnologias, Design, Comunica??o, ...)" (LEITE; LIMA; MONTEIRO, 2009, p. 73) como express?o de iniciativas pedag?gicas de refer?ncia no dom?nio espec?fico das pr?ticas de e-learning e de b-learning. Da? a import?ncia da reflex?o e testemunhos que esses projetos divulgam, os quais ter?o que ser entendidos como o resultado de uma iniciativa do Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto (IRICUP), o pr?mio Excel?ncia E-Learning da Universidade do Porto, "[...] com o objetivo de dinamizar a utiliza??o das TIC, em particular da Internet, no processo de ensino-aprendizagem, atrav?s da cria??o de uma componente on-line de apoio ?s aulas presenciais" (LEITE; LIMA; MONTEIRO, 2009, p. 73).

Metodologia

Tendo em conta o objetivo selecionado para promover a an?lise dos onze relat?rios assumiu-se, ent?o, uma op??o de car?ter metodol?gico que conduziu a uma primeira leitura global dos documentos citados, em fun??o da qual se alicer?ou a opera??o posterior que consistiu na identifica??o de macrocategorias constru?das a partir das respostas que, a partir da leitura dos relat?rios, se encontraram perante o seguinte conjunto de quest?es: (i) Quais as expectativas dos professores relativas ? utiliza??o das TIC como suporte de iniciativas referentes

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? organiza??o e gest?o do processo de ensino-aprendizagem? (ii) Que tipos de rela??o se podem estabelecer entre a utiliza??o das TIC e os objetivos das unidades curriculares que os professores lecionam? (iii) Quais as iniciativas que foram concretizadas? (iv) Quais os sentidos das avalia??es produzidas? (v) At? que ponto h? refer?ncia aos ciclos did?ticos mais amplos onde se enquadram os diferentes tipos de utiliza??o das TIC como instrumentos de a??o pedag?gica?

Foi a partir dos dados obtidos que se p?de estabelecer um conjunto de interroga??es e de interpela??es que esteve na base do processo de interpreta??o dos referidos dados, o qual se foi consolidando ? medida que as interpreta??es foram sendo explicitadas e testadas, confrontando as explica??es encontradas com outras explica??es alternativas de forma a conferir uma maior coer?ncia e credibilidade ao exerc?cio de an?lise. Um exerc?cio que se constr?i atrav?s da leitura dos j? referidos onze relat?rios, referentes a outros tantos projetos, cuja identifica??o e descri??o sum?rias podem ser consultadas no Anexo 1, e que se publica neste texto atrav?s da abordagem de tr?s tem?ticas principais: (i) A articula??o entre os objetivos das unidades curriculares e os projetos de "e-learning" ou de "b-learning"; (ii) A utiliza??o das TIC como instrumentos de interven??o em ciclos did?ticos mais amplos; e (iii) A fun??o pedag?gica das TIC: Entre a efici?ncia e a inova??o pedag?gica. Tem?ticas estas que correspondem ao processo de reflex?o que nos propusemos realizar, atrav?s do qual se visava identificar quais os benef?cios que nos projetos vencedores do pr?mio Excel?ncia E-Learning da Universidade do Porto se atribuem ? utiliza??o das TIC como suportes de iniciativas pedag?gicas em contextos de forma??o relacionados com o Ensino Superior, de forma a explorar as expectativas e as representa??es que a? se manifestam acerca das potencialidades pedag?gicas das TIC. Um exerc?cio cuja import?ncia tem a ver, entre outras raz?es pass?veis de ser elencadas, com o facto de estarmos perante projetos, que ao serem objeto de reconhecimento p?blico, por parte de especialistas, podem ser entendidos como documentos que exprimem uma reflex?o cred?vel e pertinente que importa valorizar.

Dos onze projetos selecionados, dois deles poder?o ser identificados como projetos curricularmente delimitados, do ponto de vista da utiliza??o das TIC, tendo em conta que um deles descreve e analisa as potencialidades quer de um jogo virtual, que permite compreender como o sistema imunit?rio se desenvolve, quer dos "quizzes" em fun??o dos quais se avalia o impacto do jogo ao n?vel das aprendizagens dos alunos (MOREIRA et al., 2009), enquanto o outro diz respeito ? prepara??o e realiza??o de testes de escolha m?ltipla atrav?s da utiliza??o de computadores, de forma a garantir a equidade do processo avaliativo (MOURA; AMARAL; SEVERO, 2011). Os restantes nove projetos s?o projetos em que as TIC foram mobilizadas, ainda que de forma diferenciada, para que os estudantes tivessem que realizar os mais diversos conjuntos de tarefas acad?micas.

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A articula??o entre os objetivos das unidades curriculares e os projetos de "e-learning" ou de "b-learning"

A an?lise do tipo de articula??o que nos projetos se estabelece entre os objetivos curriculares destes projetos e a utiliza??o das TIC corresponde a uma decis?o em fun??o da qual se esperaria identificar at? que ponto uma tal utiliza??o ? circunscrita ou perif?rica ou, pelo contr?rio, tende a constituir-se como uma op??o que afeta a organiza??o e gest?o do trabalho pedag?gico no ?mbito de cada uma das unidades curriculares relacionadas com aqueles projetos.

Neste dom?nio, analisamos, apenas, nove dos onze projetos selecionados, na medida em que os dois projetos atr?s identificados como projetos curricularmente delimitados, do ponto de vista da utiliza??o das TIC, exprimem, dada a sua natureza, uma utiliza??o pedag?gica circunscrita destas tecnologias. Por isso, foram os restantes projetos que se constitu?ram como objeto da nossa aten??o, sendo poss?vel constatar que tendo em conta os objetivos enunciados, a utiliza??o das TIC, que chega a ser um objetivo explicitamente assumido nos programas de duas das unidades curriculares estudadas (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005; RIBEIRO et al., 2008), justifica-se em fun??o da necessidade de se:

a) alargar e diversificar as fontes de informa??o dispon?veis (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005);

b) assumir uma outra atitude pedag?gica que permita "[...] ultrapassar algumas das limita??es do ensino tradicional" (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005, p. 7), nomeadamente aquelas que t?m a ver com a import?ncia excessiva dos conte?dos relativamente aos processos, a valoriza??o da memoriza??o a curto prazo, a desvaloriza??o da utilidade das informa??es divulgadas, a centraliza??o do trabalho pedag?gico na figura do professor e a desvaloriza??o do papel que os estudantes poder?o assumir como gestores das suas aprendizagens (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005);

c) criarem as condi??es que permitam concretizar o desenvolvimento das compet?ncias previstas nas unidades curriculares (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005; FERREIRA; AMARAL, 2009);

d) criar as condi??es para que os estudantes, atrav?s dos f?runs de discuss?es, dos "chat" ou, entre outros, do correio eletr?nico possam ter uma participa??o mais din?mica nas aprendizagens que lhes dizem respeito e na monitoriza??o das mesmas (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005; FERREIRA; AMARAL, 2009);

e) prolongar o trabalho de aprendizagem para al?m dos tempos letivos (MOREIRA; TEIXEIRA; VALENTE, 2005);

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f) estabelecer uma rela??o congruente entre os desafios e as exig?ncias cient?ficas e os desafios e as exig?ncias pedag?gicas das unidades curriculares (VILLATE, 2005).

Noutros projetos, os autores n?o estabelecem nenhuma articula??o expl?cita entre os objetivos das unidades curriculares e a utiliza??o das TIC, ainda que seja poss?vel inferir a possibilidade de uma tal articula??o no caso dos projetos de Ribeiro e colaboradores (2008) e de Oliveira (2008). Finalmente, h? um projeto, de Remi?o (2007), que no plano de estudos se revelam tr?s componentes: (i) a componente te?rica; (ii) a componente laboratorial; e (iii) a componente "e-learning" como componentes que se correlacionam entre si.

Sendo poss?vel concluir que a utiliza??o das TIC ? assumida nos diferentes projetos, de forma mais ou menos expl?cita e pelas mais diversas raz?es, como uma componente a ter em conta nas din?micas pedag?gicas que os mesmos descrevem, importa, agora, aprofundar o debate atrav?s da mobiliza??o da no??o de ciclo did?tico, em fun??o do qual se visa tentar compreender como ? que as TIC se enquadram num conjunto de atividades ordenadas que se estruturam de forma articulada para se poderem cumprir determinados objetivos educacionais, podendo conferir-lhes sentidos e impactos formativos distintos. Trata-se de uma no??o que deriva de uma outra no??o cong?nere, da autoria de Zabala (1998), a no??o de "sequ?ncia did?tica", da qual se distingue pelo facto de se pretender acentuar a conting?ncia de um processo did?tico onde coexiste uma zona de impactos formativos.

A utiliza??o das TIC como instrumentos de interven??o em ciclos did?ticos mais amplos

Do conjunto dos projetos em an?lise confirma-se, de imediato, que nos dois projetos curricularmente delimitados, do ponto de vista da utiliza??o das TIC (MOREIRA et al., 2009; MOURA; AMARAL; SEVERO, 2011), n?o h? qualquer refer?ncia ? articula??o entre os dispositivos que os mesmos prop?em e o ciclo did?tico onde tais projetos se enquadram, o que ? uma situa??o expect?vel dada a natureza pedagogicamente circunscrita dos referidos projetos.

Dos restantes projetos, identifica-se, como j? foi referido, um projeto (VILLATE, 2005) onde n?o havendo propriamente uma reflex?o expl?cita sobre o enquadramento das TIC num determinado ciclo did?tico, h?, em alternativa, uma reflex?o clara sobre a necessidade de se estabelecer uma rela??o cientificamente congruente entre a utiliza??o das TIC e as op??es epistemol?gicas

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que sustentam os objetivos formativos da unidade curricular em quest?o. Para al?m deste projeto h? outros dois (REMI?O, 2007; OLIVEIRA, 2008) em que a estrat?gia argumentativa utilizada pelos seus autores tende a isolar a identifica??o e a reflex?o sobre a componente do "e-learning" face ?s restantes iniciativas pedag?gicas que se promovem no ?mbito das respetivas unidades curriculares. N?o se pode concluir que n?o h? articula??o entre aquela componente e estas iniciativas, mas t?o somente que uma tal articula??o n?o ? objeto de qualquer tipo de explicita??o ou de reflex?o te?ricas. O que se constata ? que tanto num como noutro projeto a descri??o das iniciativas referentes ?s pr?ticas de "e-learning" s?o claras, criteriosas e fundamentadas, como se a maior preocupa??o dos seus autores fosse, sobretudo, a de conferir visibilidade a tais pr?ticas, o que poder? explicar a aus?ncia de qualquer tipo de refer?ncia aos ciclos did?ticos onde tais pr?ticas poderiam ser enquadradas.

Nos restantes seis projetos analisados identificam-se aqueles projetos (ANDRADE; VALENT?O; AMARAL, 2006; VASCONCELOS, 2006; FERREIRA; AMARAL, 2009) em que os seus autores afirmam que a utiliza??o das TIC, nas suas mais diversas manifesta??es, visa assumir um papel complementar face ? componente presencial ou ao trabalho dos estudantes nos laborat?rios. Por fim, identificam-se os projetos desenvolvidos por Moreira, Teixeira & Valente (2005), por Ribeiro e colaboradores (2008) e por Payo-Puente (2010), em que a reflex?o sobre o enquadramento das TIC no ?mbito do ciclo did?tico apresenta algumas especificidades sobre as quais vale a pena refletir.

No caso do projeto dinamizado por Moreira, Teixeira & Valente (2005, p. 3), importa valorizar a refer?ncia ao "blended learning" para que se "[...] compreenda melhor a estrat?gia de integra??o da componente on-line com a componente tradicional". A reflex?o sobre o m?todo expositivo e o modo como este se articula com a aprendizagem atrav?s da resolu??o de problemas, o estudo de casos, a an?lise de artigos ou, entre outros, a an?lise de pareceres t?cnicos, bem como as discuss?es on-line sobre as solu??es encontradas, os casos, os artigos e os pareceres, o que constitui a express?o de uma abordagem onde a utiliza??o dos reposit?rios e dos f?runs on-line se enquadram no ?mbito de ciclos did?ticos mais amplos.

Por sua vez, no projeto que Ribeiro e colaboradores (2008, p. 3) animaram, refere-se explicitamente que se visa promover a transforma??o "[...] de reposit?rio a esta??o de treino virtual", na medida em que se pretende que "o desenvolvimento do `pensamento anat?mico'" conduza ao desenvolvimento do "`pensamento cl?nico'" (RIBEIRO et al., 2008, p. 3).

Finalmente, no projeto de Payo-Puente (2010, p. 8), onde se divulgam as tr?s etapas de uma estrat?gia intencional "[...] de integra??o da componente on-line com a componente presencial", as TIC, a exemplo dos outros projetos

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acabados de referir, est?o longe de poder ser entendidas como tecnologias complementares das aulas presenciais. Neste projeto, a componente on-line ? uma componente decisiva do desenvolvimento de iniciativas centradas em experi?ncias reais, constituindo condi??o de uma atividade onde o protagonismo e a autonomia dos estudantes assumem um papel decisivo quer do ponto de vista da procura de recursos, da decis?o face a op??es diversas que se poderiam assumir, da discuss?o destas op??es, da divulga??o e discuss?o dos resultados e da avalia??o do trabalho realizado.

Como se constata, perante estes tr?s projetos, as TIC est?o longe de poder ser entendidas, apenas, em fun??o de um papel de car?ter instrumental. Isto ?, para estes projetos as TIC n?o se limitam a servir, apenas, de complemento ?s aulas presenciais ou a ampliar a sua influ?ncia e os seus efeitos, como no caso do projeto de Andrade, Valent?o & Amaral (2006), em que a utiliza??o da plataforma virtual ? vista "como um prolongamento" da sala de aula ou no projeto de Ferreira & Amaral (2009, p. 7), onde a estrat?gia adotada "[...] incluiu aulas te?ricas complementadas com a componente on-line e ensino tutorial, assim como aulas laboratoriais" ou, ainda, no projeto de Vasconcelos (2006, p. 2) que considera que "[...] uma abordagem e-Learning complementar ?s aulas presenciais significa uma mais valia quer pela disponibilidade temporal quer pela potencialidade em motivar alguns alunos", na medida em que "[...] h? muito material de grande valor educativo e que por falta de tempo n?o pode ser apresentado e discutido nas aulas" (VASCONCELOS, 2006, p. 2).

Em suma, como se constata, a an?lise dos textos revela-nos v?rias possibilidades de entender o papel das TIC como instrumento de forma??o acad?mica. Assim, no caso dos projetos analisados, defrontamo-nos com aqueles que utilizam as TIC como instrumentos de forma??o, entendidos como relevantes, ainda que pedagogicamente perif?ricos. Noutra perspetiva, tomamos contato com outros projetos que abordam as TIC como instrumentos subsidi?rios de iniciativas pedag?gicas que continuam a subordinar-se ?s aulas presenciais. Finalmente, uma terceira perspetiva ? aquela em que as TIC s?o abordadas como um polo estruturante da organiza??o e gest?o do trabalho pedag?gico a desenvolver que, podendo coexistir com outras modalidades de a??o pedag?gica, nem se subordina a estas modalidades nem t?o pouco as subordina.

Se esta reflex?o nos permite compreender o valor funcional das TIC como instrumento de a??o pedag?gica, importa refletir sobre os sentidos pedag?gicos da utiliza??o destas tecnologias, na medida em que, de acordo com uma perspetiva que se afasta da racionalidade tecnocr?tica, n?o ? poss?vel abordar tais sentidos a partir, apenas, da revela??o do seu valor funcional. Ser? no pr?ximo subcap?tulo que esta quest?o se tornar? objeto de reflex?o neste texto, beneficiando quer da an?lise e discuss?o dos dados que temos vindo a apresentar quer,

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ainda, da an?lise dos dados referentes ?s expectativas dos autores dos projetos, bem como ?s realiza??es dos mesmos.

A fun??o pedag?gica das TIC: Entre a efici?ncia e a inova??o pedag?gica

A reflex?o sobre os sentidos e o impacto pedag?gicos da utiliza??o das TIC como instrumentos de forma??o ?, neste texto, uma reflex?o obrigat?ria, dado o v?nculo que os projetos a que tivemos acesso estabelecem, de forma mais ou menos expl?cita, entre essa utiliza??o e uma alegada mudan?a das pr?ticas pedag?gicas dos docentes. Trata-se de um fen?meno que ter? que ser explicado, em primeiro lugar, ? luz da influ?ncia do processo de reorganiza??o do espa?o europeu do ensino superior que o processo de Bolonha consagrou. Um processo que, pelo menos do ponto de vista das narrativas que o enformam, adquire visibilidade, entre outras raz?es pass?veis de elencar, por via da centralidade pedag?gica que defende que os estudantes dever?o assumir na gest?o e desenvolvimento dos projetos de forma??o que lhes dizem respeito. Uma reivindica??o que nos projetos analisados est? presente, de um modo geral, na valoriza??o da necessidade de se estimular a atividade intelectual dos alunos e, de forma mais espec?fica, na reivindica??o do desenvolvimento de compet?ncias relacionadas com o exerc?cio da profiss?o e o confronto com os problemas que decorrem deste mesmo exerc?cio (VASCONCELOS, 2006; RIBEIRO et al., 2008; REMI?O, 2007; OLIVEIRA, 2008; FERREIRA; AMARAL, 2009; PAYO-PUENTE, 2010). Dir?amos, em s?ntese, que as narrativas atrav?s das quais se visa justificar a mobiliza??o para projetos que impliquem a utiliza??o das TIC se prendem com a necessidade de superar o que poder? ser considerado uma abordagem escol?stica da forma??o que tem lugar no Ensino Superior.

Resta saber, no entanto, se a utiliza??o das TIC como instrumento pedag?gico, s? por si, favorece a possibilidade de concretizar um tal objetivo e, tamb?m, como ? que os diferentes projetos se prop?em concretizar o mesmo.

Numa leitura global destes projetos poderemos considerar que h? duas perspetivas distintas de abordar a problem?tica em quest?o, atrav?s das quais se confrontam quer a necessidade de ser pedagogicamente eficiente quer a necessidade de se promover projetos de inova??o pedag?gica. Trata-se de perspetivas que n?o s? se distinguem entre si quanto ?s estrat?gias que mobilizam como, igualmente e sobretudo, face aos prop?sitos que as configuram, ainda que se admita que o "[...] car?ter sedutor e inovador da palavra inova??o" (CORREIA,

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