Relações Hierárquicas entre os Traços Amplos do Big Five

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Rela??es Hier?rquicas entre os Tra?os Amplos do Big Five

Hierarchical Relationship between the Broad Traits of the Big Five

Cristiano Mauro Assis Gomes* & Hudson Fernandes Golino

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil

Resumo O modelo Big Five sustenta que a personalidade humana ? composta por dezenas de fatores espec?ficos. Apesar dessa diversidade, esses fatores confluem para cinco tra?os amplos que est?o em um mesmo n?vel de hierarquia. O presente estudo apresenta uma hip?tese alternativa, postulando n?veis entre os tra?os amplos do modelo. Fizeram parte do estudo 684 estudantes do ensino fundamental e m?dio de uma escola particular de Belo Horizonte, MG, com idades entre 10 e 18 anos (m = 13,71 e DP= 2,11). Para medir os fatores do Big Five foi utilizado o Invent?rio de Caracter?sticas de Personalidade, anteriormente chamado de Invent?rio dos Adjetivos de Personalidade, de Pinheiro, Gomes e Braga (2009). O instrumento mensura oito polaridades das 10 polaridades presentes nos cinco tra?os amplos do Big Five. Dois modelos foram comparados via m?todo path analysis: um modelo de quatro n?veis hier?rquicos e um modelo n?o hier?rquico. O modelo hier?rquico apresentou adequado grau de ajuste aos dados e mostrou-se superior ao modelo n?o hier?rquico, que n?o se ajusta aos dados. Implica??es s?o discutidas para o modelo Big Five. Palavras-chave: Personalidade, teoria dos cinco grandes fatores, Big Five.

Abstract The Big Five model sustains that human personality is composed by dozens of specific factors. Despite of diversity, specific factors are integrated in five broad traits that are in the same hierarchical level. The current study presents an alternative hypothesis arguing that there are hierarchical levels between the broad traits of the model. Six hundred and eighty-four junior and high school level students from 10 to 18 years old (M = 13.71 and SD= 2.11) of a private school in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil participated in the study. The Big Five was measured by an Inventory of Personality Traits, initially named as Personality Adjective Inventory, elaborated by Pinheiro, Gomes and Braga (2009). This instrument measures eight polarities of the ten presented in the Big Five Model. Two models were compared through path analysis: a four-level hierarchical model and a non-hierarchical one. The hierarchical model showed adequate data fit, pointing to its superiority in relation to the non-hierarchical model, which did not present it. Implications to the Big Five Model are discussed. Keywords: Personality, factor five model, big five.

Modelo Big Five: Descri??o e Breve Explana??o

O modelo Big Five, tamb?m chamado de Five Factor Model, ? um dos modelos mais importantes, sen?o o mais importante, para a explica??o da personalidade humana (Costa & McCrae, 1992) e prov?m de duas diferentes tradi??es: a psicolexical e a de medida (De Raad & Perugini, 2002). A primeira tem como um dos seus principais representantes Goldberg (1992, 1993), que adota a terminologia "Big Five", enquanto a segunda utiliza o termo "Five Factor Model" (FFM), tendo como dois dos principais pesquisadores Costa e McCrae (1992, 1995).

* Endere?o para correspond?ncia: Departamento de Psicologia, Laborat?rio de Investiga??o da Arquitetura Cognitiva, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Ant?nio Carlos, 6627, Sala 4010, Pampulha, Belo Horizonte, MG, Brasil 31270-901. E-mail: cristianogomes@ufmg.br e hfgolino@

Uma an?lise dos antecedentes hist?ricos, realizada por Digman (2002), apontou que o modelo teve seu nascimento nos anos de 1930, a partir de subs?dios te?ricos de McDougall, e do trabalho emp?rico de Thurstone, que foi o primeiro a verificar a exist?ncia de cinco fatores ao utilizar t?cnicas de an?lise fatorial em dados provenientes de um question?rio de personalidade. Digman (2002) sustenta que o trabalho de Thurstone foi seminal, e serviu de base para os trabalhos posteriores de Fiske (1949), Tupes e Christal (1961/1992), Norman (1963), Borgatta (1964) e Cattell (1965). No entanto, o Big Five se solidificou, de fato, a partir dos anos de 1980, atrav?s de evid?ncias favor?veis de trabalhos emp?ricos como os de Goldberg, (1981), Costa e McCrae (1988a, 1988b) e McCrae e Costa (1987, 1989), dentre outros.

O modelo Big Five define a personalidade humana como uma rede hier?rquica de tra?os, compreendidos teoricamente como predisposi??es comportamentais de respostas ?s situa??es da vida (Trentini et al., 2009). Essa rede

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apresenta dois n?veis. O primeiro n?vel ? formado por dezenas de tra?os espec?ficos da personalidade, enquanto o segundo n?vel ? constitu?do por apenas cinco tra?os amplos: Extrovers?o, Socializa??o, Conscienciosidade, Neuroticismo e Abertura para Experi?ncia (Costa, 1992; Costa & McCrae, 1992, 1995; Digman, 1990, 1996; Fiske, 1994; Goldberg, 1992, 1993; Goldberg & Digman, 1994; Hutz et al., 1998; Trentini et al., 2009). Esses cinco tra?os amplos s?o denominados diferentemente na literatura (Jerden, 2010), mas essa situa??o n?o chega a representar um problema, pois a descri??o dos tra?os ? relativamente semelhante (Hutz et al., 1998).

A maior for?a do modelo Big Five ? o seu f?lego emp?rico e sua abrang?ncia. Dados oriundos de diferentes tradi??es da psicologia, conforme j? abordado, t?m gerado evid?ncias sobre a presen?a dos cinco grandes tra?os da personalidade. ? relevante apontar que muitos desses dados prov?m de instrumentos que n?o foram criados a priori para mensur?-los (Digman, 1996). Al?m disso, os cinco tra?os amplos t?m sido identificados em diferentes culturas, etnias e sistemas socioecon?micos, caracterizando, nesse conjunto de evid?ncias, o f?lego emp?rico e a abrang?ncia do modelo (Costa & Widiger, 1993; Vittorio Caprara, Barbaranelli, Berm?dez, Maslach, & Ruch, 2000).

Justamente em fun??o da sua replicabilidade e generalidade, uma quantidade enorme de instrumentos tem sido criada, tendo como base o modelo Big Five (Baker, Victor, Chambers, & Halverson, 2004; Costa & McCrae, 1992; Goldberg, 1990, 1992; Hutz & C. H. S. S. Nunes, 2001; Hutz et al., 1998; John, 1990; McCrae & John, 1992; C. H. S. S. Nunes, 2000, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2007; Rabelo et al., 2009). Dentre os principais instrumentos internacionais, pode-se citar o The California Psychological Inventory (Gough & Bradley, 1996); o The Revised NEO Personality Inventory (Costa & McCrae, 1992), o The Big Five Inventory (John, Donahue, & Kentle, 1991; John & Srivastava, 1999), o Five-Factor Personality Inventory (Hendriks, Hofstee, & De Raad, 2002), o Hierarchical Personality Inventory for Children (Mervielde & De Fruyt, 2002), o Five-Factor Nonverbal Personality Questionnaire (Paunonen & Ashton, 2002), o Traits Personality Questionnaire (Tsaousis, 2002) e o Big Five Marker Scales (Perugini & Di Blas, 2002).

Quanto ? literatura nacional, constata-se desde os anos de 1990 estudos sobre o Big Five em amostras brasileiras, assim como um incremento no n?mero de instrumentos nacionais que buscam aferir os cinco tra?os amplos. Dentre eles, pode-se citar o Invent?rio de marcadores do Big Five, adapta??o Brasileira das listas de Goldberg (1992) e Norman (1963), elaborada por Hutz et al. (1998), a Escala Fatorial de Extrovers?o (C. H. S. S. Nunes, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2006), a Escala Fatorial de Socializa??o (C. H. S. S. Nunes, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2007; M. F. O. Nunes, Muniz, Nunes, Primi, & Miguel, 2010), a Escala Fatorial de Abertura ? Experi?n-

cia (Vasconcellos & Hutz, 2008) e a Escala Fatorial de Neuroticismo (Hutz & C. H. S. S. Nunes, 2001; C. H. S. S. Nunes, 2000).

Em fun??o da import?ncia dos cinco grandes tra?os, este artigo pretende investigar se eles apresentam uma estrutura de inter-rela??o hier?rquica, ou se apresentam uma estrutura n?o hier?rquica. Essa quest?o ser? abordada de maneira mais extensa na primeira se??o do texto. J? a segunda se??o abordar? a quest?o relativa ? valora??o das polaridades dos tra?os amplos encontrada em instrumentos que aferem o Big Five. A terceira se??o, por sua vez, focar? na descri??o dos modelos que representam as hip?teses do estudo. J? a quarta se??o apresentar? o m?todo, enquanto a quinta focar? nos resultados do presente trabalho. A ?ltima se??o discutir? os resultados, e suas implica??es para a ?rea.

Quest?o de Investiga??o

Apesar da for?a emp?rica do modelo Big Five, o presente estudo busca aprimor?-lo, tratando uma quest?o necess?ria, que se configura atrav?s da seguinte pergunta: Os cinco tra?os de segundo n?vel do modelo s?o de fato pertencentes a um mesmo n?vel, ou existe uma rela??o hier?rquica entre os mesmos, n?o identificada empiricamente atrav?s dos m?todos usualmente empregados?

A hip?tese presente neste estudo ? a de que os cinco tra?os amplos de personalidade do Big Five n?o s?o de mesmo n?vel hier?rquico. Eles s?o identificados usualmente como sendo de mesmo n?vel em fun??o dos m?todos empregados. Como exemplo, pode-se citar o trabalho de Hutz et al. (1998) que analisaram, por meio de an?lise fatorial explorat?ria, dados provenientes de 956 estudantes universit?rios que responderam uma lista composta por 96 adjetivos descritores da personalidade. Os resultados apontaram a exist?ncia dos cinco grandes fatores, dispostos em um mesmo n?vel latente. O emprego de an?lises fatoriais dos escores totais ou dos itens oriundos das diferentes escalas de personalidade, como no exemplo acima, ? a metodologia de an?lise de dados usual do campo de investiga??o do Big Five (Costa, 1992; Costa & McCrae, 1992, 1995; Digman, 1990, 1996; Fiske, 1994; Goldberg, 1992, 1993; Goldberg & Digman, 1994; Hutz et al., 1998; C. H. S. S. Nunes, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2006, 2007; M. F. O. Nunes et al., 2010).

Apesar de ser amplamente utilizada, pode-se argumentar que essa condi??o n?o expressa a real rela??o entre os tra?os amplos do Big Five. A hip?tese do presente estudo ? que alguns desses tra?os s?o hierarquicamente superiores, servindo de base para a explica??o dos demais. ? importante salientar que essa hip?tese ? original deste trabalho. Uma an?lise realizada pelos autores deste artigo, utilizando as palavras-chave "Big Five" e "Structure" na base de dados PsychINFO da American Psychological

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Gomes, C. M. A. & Golino, H. F. (2012). Rela??es Hier?rquicas entre os Tra?os Amplos do Big Five.

Association (APA), limitando-se aos trabalhos publicados entre 2005 e 2011, n?o identificou nenhum trabalho que apresentasse a mesma hip?tese deste estudo. Os trabalhos publicados neste per?odo adotam modelos hier?rquicos, no qual os cinco grandes tra?os se encontram em um mesmo n?vel de hierarquia. Esse tipo de estrutura pode ser verificado em v?rios trabalhos que identificam os cinco grandes fatores, como os de Del Barrio, Carrasco e Holgado (2006), Rantanen, Mets?pelto, Feldt, Pulkkinen e Kokko (2007), Soto, John, Gosling e Potter (2008). O modelo usual, que incorpora os cinco grandes tra?os de personalidade em um mesmo n?vel de hierarquia, tamb?m ? adotado em pesquisas que sustentam a presen?a de outros grandes fatores, al?m dos cinco tradicionais (Saucier, 2009; Saucier, Georgiades, Tsaousis, & Goldberg, 2005; Wang, Cui, & F. Zhou, 2005; X. Zhou, Saucier, Gao, & Liu, 2009), e em pesquisas que sustentam n?veis superiores ao n?vel que cont?m os cinco grandes tra?os (Anusic, Schimmack, Pinkus, & Lockwood, 2009; DeYoung, 2006; Rauthmann & Kolar, 2010; Rushton & Irwing, 2008, 2009; Van der Linden, Te Nijenhuis, & Bakker, 2010).

O modelo usual te?rico sobre a rela??o entre os cinco fatores amplos (Baker et al., 2004; Costa & McCrae, 1992; Goldberg, 1990, 1992; Hutz & C. H. S. S. Nunes, 2001; Hutz et al., 1998; John, 1990; McCrae & John, 1992; C. H. S. S. Nunes, 2000, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2007; Rabelo et al., 2009) refuta a hip?tese deste estudo e postula que os cinco fatores s?o percebidos como isom?rficos, no sentido de n?o existir uma rela??o hier?rquica entre eles. Todos est?o no mesmo n?vel quanto ? explica??o da personalidade humana e s?o considerados aspectos b?sicos e fundamentais da personalidade. Os cinco grandes tra?os da personalidade s?o interpretados como cinco caracter?sticas elementares da personalidade humana, presentes em todas as culturas (Costa & Widiger, 1993; Paunonen, Zeidner, Engvik, Oosterveld, & Maliphant, 2000; Schmitt, Allik, McCrae, & Benet-Mart?nez, 2007; Vittorio Caprara et al., 2000).

Segundo essa vis?o, em todas as culturas sempre se procura saber se uma pessoa ?: animada, energ?tica ou reservada e quieta (tra?o da Extrovers?o); d?cil, calorosa ou fria e distante (tra?o da Socializa??o); focada, determinada ou inconstante (tra?o da Conscienciosidade); est?vel ou inst?vel psicologicamente (tra?o do Neuroticismo); aberta e curiosa ou conservadora (tra?o de Abertura para Experi?ncia).

Por sua vez, este artigo elabora um novo modelo, diferente do tradicional, onde alguns tra?os da personalidade s?o mais basais, ou seja, explicam os outros. Por meio da intera??o din?mica entre tra?os basais, outros tra?os podem emergir e se constituir. O primeiro n?vel ? composto por tra?os de personalidade que s?o basais, ou seja, explicam todos os outros tra?os. O segundo n?vel ? formado por tra?os de personalidade explicados pelos de primeiro n?vel, e que explicam os de terceiro n?vel em

diante. O terceiro n?vel ? composto por tra?os de personalidade explicados pelos de primeiro e segundo n?vel, e explicam os tra?os do quarto n?vel. O quarto n?vel ? formado por tra?os explicados por elementos dos n?veis anteriores (Figura 2). Em suma, o modelo hier?rquico elaborado neste artigo postula que os tra?os de n?vel basal e suas intera??es s?o condi??o para a emerg?ncia dos tra?os de n?vel posterior, argumentando que essa estrutura ocorre entre os cinco tra?os amplos do Big Five (Figura 2).

O Problema da Medida das Polaridades dos Tra?os

Todos os grandes tra?os do modelo Big Five possuem duas polaridades. O tra?o Extrovers?o possui as polaridades Introvers?o e Extrovers?o; Neuroticismo apresenta as polaridades Estabilidade e Neuroticismo; Conscienciosidade ? formada pelas polaridades "Inescrupulosidade" e Conscienciosidade; Abertura para Experi?ncia possui as polaridades "Convencionalidade" e Abertura; e o tra?o Socializa??o possui as polaridades "Anti-sociabilidade" e Sociabilidade (Digman, 1996). Em tese, poder-se-ia esperar que as polaridades dos grandes tra?os fossem mensuradas de forma equilibrada e com mesmo grau de valor, de modo que nenhuma das polaridades possu?sse um n?mero muito maior de itens ou que em nenhum dos tra?os uma das polaridades apresentasse, em sua maioria, itens valorados positivamente, enquanto a outra polaridade apresentasse itens valorados negativamente. Apesar dessa expectativa, as evid?ncias mostram o contr?rio, ou seja, ? usualmente verificado o desequil?brio das escalas ou itens das polaridades de um tra?o. O tra?o neuroticismo, por exemplo, ? normalmente definido por adjetivos, frases ou escalas que expressam caracter?sticas pessoais ou comportamentos disfuncionais, desadaptativos ou psicopatol?gicos. A polaridade oposta do neuroticismo, que ? a estabilidade psicol?gica, envolve adjetivos, frases ou escalas que expressam caracter?sticas pessoais ou comportamentos funcionais e adaptativos de estabilidade emocional. Normalmente, escalas ou itens da polaridade estabilidade psicol?gica n?o se encontram presentes nos instrumentos que aferem o Big Five, na mesma intensidade e frequ?ncia dos adjetivos, frases ou escalas do neuroticismo. Essa condi??o torna dif?cil a identifica??o das duas polaridades do tra?o, pois o desequ?librio de escalas, adjetivos ou frases tende a possibilitar a identifica??o emp?rica via an?lise fatorial de apenas uma polaridade do tra?o, e a aglutinar a polaridade oposta dentro do mesmo fator.

Al?m do desequil?brio de indicadores, h? o problema da atribui??o de valor aos tra?os, encontrada na maioria dos instrumentos internacionais elaborados para mensurar o Big Five. Geralmente, em todos os cinco grandes tra?os, uma polaridade ? valorada positivamente, enquanto

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a outra ? valorada negativamente. O Revised NEO Personality Inventory ([R-NEO-PI], Costa, McCrae, & J?nsson, 2002) avalia os tra?os Neuroticismo, Extrovers?o, Abertura para Experi?ncia, Sociabilidade e Conscienciosidade, enfocando positivamente a polaridade presente no nome destes tra?os, em detrimento do p?lo oposto presente em cada tra?o. No entanto, pode-se perceber a exist?ncia de uma exce??o: o Neuroticismo. Seu p?lo oposto ? a polaridade focada positivamente.

O Five-Factor Personality Inventory (Hendriks et al., 2002) mensura os mesmos tra?os do R-NEO-PI, mas substitui a nomenclatura Neuroticismo e Abertura para Experi?ncia por Estabilidade emocional e Autonomia, respectivamente. A presen?a de termos valorativos mant?m-se presente neste instrumento, assim como o predom?nio de indicadores de medida de uma polaridade em detrimento da outra polaridade de um mesmo tra?o.

O Big Five Questionnaire (Barbaranelli & Caprara, 2002) trata a Extrovers?o como Energia, e a Sociabilidade como "Amigabilidade", al?m de mensurar a Conscienciosidade, Estabilidade emocional e Abertura. Seus termos s?o valorativos. Para definir o p?lo oposto de Conscienciosidade, por exemplo, s?o usadas designa??es como descuidado, negligente, desorganizado, entre outras.

O Hierarchical Personality Inventory for Children (Mervielde & De Fruyt, 2002) mensura Conscienciosidade, Extrovers?o, Estabilidade emocional e designa para Sociabilidade e Abertura os termos Benevol?ncia e Imagina??o, respectivamente. A falta de frases espec?ficas para as polaridades opostas presentes nos tra?os faz com que essas polaridades sejam compreendidas apenas como desempenho baixo nos tra?os medidos.

Apesar de ser um instrumento n?o verbal de medida, o Five-Factor Nonverbal Personality Questionnaire (Paunonen & Ashton, 2002) apresenta os mesmos problemas de valora??o e ?nfase de indicadores em determinados p?los dos tra?os. O Global Personality Inventory (Schmit, Kihm, & Robie, 2002) ? um instrumento voltado especificamente para a medida de tra?os da personalidade em sua rela??o com o mundo do trabalho. Ele tamb?m valoriza determinadas polaridades em detrimento de outras.

O Traits Personality Questionnaire (Tsaousis, 2002) ? baseado no NEO-PI- R e por isso segue o mesmo padr?o deste instrumento. O Big Five Marker Scales (Perugini & Di Blas, 2002) tamb?m segue a mesma tend?ncia.

Em decorr?ncia do problema apontado, o Invent?rio de Caracter?sticas da Personalidade (ICP), inicialmente chamado de Invent?rio dos Adjetivos da Personalidade (Pinheiro, Gomes, & Braga, 2009) foi utilizado neste estudo por um motivo especial. O ICP foi elaborado visando incorporar a perspectiva de n?o enfatizar determinadas polaridades dos tra?os amplos do Big Five. Al?m disso, ele possui itens que aferem as duas polaridades de um mesmo tra?o amplo de maneira relativamente equilibrada (Pinheiro et al., 2009). Seus tra?os s?o:

? Extrovers?o: Indiv?duo expansivo, focado em valores externos. Mais ligado ao exterior que ao interior. Comunicativo. Manifesta-se, geralmente, com liberdade e desenvoltura.

? Introvers?o: Indiv?duo centrado, voltado para si mesmo. Prefere ficar com poucas pessoas. ? seletivo, ligado ?s experi?ncias ?ntimas de si mesmo.

? Foco nas Rela??es Humanas: Indiv?duo ligado ao sentimento e ?s emo??es dos outros. Procura compreender as opini?es alheias e enfatiza as rela??es interpessoais.

? Foco no Objeto: Indiv?duo focado na intera??o com os objetos e n?o nas rela??es interpessoais. Os sentimentos e as rela??es humanas est?o subordinados ? a??o ou ? atividade que o indiv?duo est? envolvido.

? Foco no Objetivo: Possui objetivo definido. Centrado e focado em finalizar o objetivo. Planeja metas e as persegue at? sua conclus?o.

? Abertura a Novas Experi?ncias: O indiv?duo gosta de procurar caminhos alternativos, pensar em novas formas e maneiras de enfrentar um desafio. H? prazer em situa??es novas que envolvem estrat?gias ainda n?o constru?das e consolidadas.

? Mutabilidade: Indiv?duo sens?vel ?s suas emo??es. Capaz de vivenciar bruscas mudan?as de humor.

? Estabilidade: Vivencia poucas varia??es de humor, apresentando um padr?o relativamente constante.

Modelando as Hip?teses do Estudo

A hip?tese do presente trabalho contrap?e o modelo te?rico atual (Costa, 1992; Costa & McCrae, 1992, 1995; Digman, 1990, 1996; Fiske, 1994; Goldberg, 1992, 1993; Goldberg & Digman, 1994; Hutz et al., 1998; C. H. S. S. Nunes, 2007; C. H. S. S. Nunes & Hutz, 2006, 2007; M. F. O. Nunes et al., 2010), no qual os cinco grandes tra?os se encontram em um mesmo n?vel de hierarquia. Defende-se um modelo alternativo, elaborado pelos autores deste artigo. Nele, alguns tra?os amplos do Big Five s?o mais basais e explicam outros. Esses dois modelos te?ricos s?o comparados empiricamente neste trabalho por meio do m?todo path analysis (Blunch, 2008). Ele disponibiliza a compara??o de modelos te?ricos, permitindo escolher qual explica melhor os dados emp?ricos. Por meio do path analysis, ? poss?vel modelar cada um dos dois modelos te?ricos, assim como incorporar na modelagem as vari?veis medidas e suas rela??es.

Os dois modelos a serem comparados possuem as mesmas vari?veis, ou seja, as oito polaridades medidas pelo ICP. O primeiro modelo representa a proposta tradicional que identifica os cinco grandes fatores em um mesmo n?vel de hierarquia. As oito polaridades se correlacionam e est?o em mesmo n?vel hier?rquico. A Figura 1 apresenta este modelo.

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Gomes, C. M. A. & Golino, H. F. (2012). Rela??es Hier?rquicas entre os Tra?os Amplos do Big Five.

Figura 1. Modelo n?o hier?rquico e rela??es entre as vari?veis (F. objeto = Foco no Objeto; F. Objetivo = Foco no Objetivo; F. Rel. Hum. = Foco nas Rela??es Humanas).

O segundo modelo representa a proposta elaborada pelos autores deste artigo. As polaridades de Extrovers?o, Introvers?o e Estabilidade comp?em o primeiro n?vel, o mais basal de todos. As polaridades de Mutabilidade e Foco no Objeto comp?em o n?vel dois. S?o explicadas

por polaridades do n?vel um e explicam polaridades dos n?veis posteriores. As polaridades Foco no Objetivo e Foco nas Rela??es Humanas comp?em o n?vel tr?s, e a vari?vel Abertura a Novas Experi?ncias comp?e o n?vel quatro. A Figura 2 apresenta este modelo.

Figura 2. Modelo hier?rquico de quatro n?veis e rela??es entre as vari?veis (F. objeto = Foco no Objeto; F. Objetivo = Foco no Objetivo; F. Rel. Hum. = Foco nas Rela??es Humanas).

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