O aniversário de Clarice se aproximava



O aniversário de Clarice se aproximava. Faria 18 anos em abril. Sem que soubesse, seus amigos planejavam uma festa para ela.

– Mas o que ela come mesmo? – perguntou Bernardo.

Clarisse era vegetariana. Estrita. Não comia nada que fosse de origem animal.

– Qualquer coisa que não seja de origem animal, Bernardo! – retrucou Alice, muito amiga da aniversariante, que ficava muito brava quando os amigos brincavam com a sua opção alimentar.

– Você não respondeu, Alice. O que ela come?

– Chega, Bernardo. A gente tem que montar uns pratos que a Clarice possa comer – lembrou Eduardo.

– É, como se só existisse carne no mundo... – disse Ana.

– Tá certo. A gente corta os quibes e as coxinhas do cardápio – concluiu Bernardo.

– Não, gente. Ela não come nada de origem animal. Nada mesmo, nem leite, ovos, mel... – esclareceu Alice. – Vamos ter que pesquisar algumas receitas especiais.

– Ah, Alice, e você ainda fica brava comigo por eu perguntar o que ela come?! Não vai ter nada nessa festa!

– Nossa, Alice, disso eu não sabia. Pra que tudo isso?

– Ah, Ana, existem muitos motivos... Animais, saúde, meio ambiente... – explicou Alice. – Mas no caso da Clarice, é por causa dos bichos. Ela diz que não entende, por exemplo, por que aqui as pessoas comem carne de vaca e acham horrível as pessoas matarem cachorro pela carne, em alguns lugares. São seres vivos, no fim das contas, sabe? Ela acha estranho essa diferenciação e opta por não comer nada.

– E sem contar que é muito mais saudável, né? – concluiu Ana. – Hoje em dia, a gente não pensa mais na comida como fonte de energia e nutrientes, mas como prazer... Tipo fast food... Todo mundo adora, mas faz muito mal...

– Mas vocês querem virar vegetarianas também, é? – perguntou Bernardo.

– Gente, concentração – interrompeu Eduardo. – A gente precisa combinar o cardápio da festa, lembra?

Combinaram, então, de pesquisar receitas em sites e livros vegetarianos. Alice conseguiu uma receita de bolo sem ovos e leite, que era uma delícia. Ana fez alguns pasteizinhos de soja e um patê de tofu. Eduardo levou alguns docinhos de soja com chocolate, enquanto Bernardo ficou encarregado dos sucos, pois mesmo depois da conversa que tivera com os amigos, ainda achava impossível fazer qualquer prato de festa sem produtos de origem animal.

A festa foi em uma sexta-feira à noite. Clarice ficou muito feliz com os esforços dos amigos. Todos se divertiram e comeram bastante.

Mesmo com todos os pratos, as receitas, as conversas, o aborrecimento e os sermões de Alice, quando saiu da festa, Bernardo rumou para um fast food ali perto.

– Não troco meu hambúrguer por nada – disse, dando a primeira mordida em seu lanche recém comprado.

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