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Débito e crédito

Em todo evento economicamente relevante, o dinheiro não cai do céu - sempre há uma origem (crédito) bem definida, assim como há uma aplicação (débito), para onde o dinheiro foi. Todo evento contábil tem débito e crédito em igual montante.

Esse é o método das partidas dobradas. Seu grande mérito é permitir a demonstração cabal das origens e aplicações de recursos. Ele é auto-verificante, pois o total do débito sempre tem de ser igual ao total do crédito.

Pelo menos na minha cabeça, origem sempre vem antes de aplicação, e especificar débito e crédito nesta ordem soa "invertido". Provavelmente o Frei Luca Pacioli (o inventor das partidas dobradas) partiu da presunção que a maioria das pessoas primeiro pensa em que vai gastar, para depois procurar as origens de recursos.

Existem outros esquemas "pernetas", mais simples, de manter as contas em ordem. O mais usado é o livro-caixa. Todo lançamento envolve o livro-caixa, como débito ou crédito. Desta forma, tem-se ao menos um controle rigoroso do patrimônio contido no caixa. Devido à ausência de outras contas, o caixa contém de tudo: dinheiro, cheques pré-datados, vales, papeizinhos de todo tipo. Pode ser o o suficiente para um boteco ou lojinha.

Outro esquema é o controle total apenas das contas de patrimônio. Isso evita jogar tudo no caixa, permite controlar investimentos e dívidas em separado etc. Mas as contas de resultado, ou seja, receitas e despesas, continuam sem controle. Softwares como MS-Money e assemelhados adotam essa tática.

A propósito, patrimônio é tudo quanto a entidade possua, seja bens, direitos, ou dívidas. Já as contas de resultado controlam despesas e receitas.

Ativo

Ativo é a parte "positiva" do patrimônio: bens e direitos. Não é muito difícil imaginar isso - dinheiro, conta no banco (com saldo no azul), terrenos, prédios, automóvel.

Num balanço, as contas do ativo são listadas em ordem inversa de liquidez. Por exemplo, é mais fácil sacar dinheiro de uma conta bancária do que vender um terreno, portanto a conta aparece mais acima. Por tradição, dinheiro em mão sempre aparece em primeiríssimo lugar.

Quando aplica-se dinheiro em uma conta ativa, ela cresce, portanto ela possui natureza devedora. Saldo positivo em conta bancária é saldo devedor.

Na medida em que descemos o balanço em direção às contas menos líquidas, a avaliação dos reais valores fica progressivamente mais difícil.

No fundo do balanço, fica um grupo de contas fantasmagórico chamado o Ativo Diferido. Diferir significa postergar. Tratam-se de valores despendidos, mas que eu não quero reconhecer (imediatamente) como despesa pura e simples, então eles passam um tempo no purgatório do Diferido.

Um bom exemplo é o seguro de um carro. Você paga um ano inteiro antecipadamente, mas não seria correto considerar isso como despesa no mês do pagamento, pois ele vale por todo o ano. O correto é lançar:

• Débito: Diferido

• Crédito: dinheiro ou conta-corrente

e a cada mês descarregar 1/12 como despesa:

• Débito: Despesa com seguro de carro

• Crédito: Diferido

A liquidez do Diferido é praticamente nula: não espere receber seu dinheiro de volta se cancelar o seguro do carro. Por ser uma conta "complicada", o Ativo Diferido é das mais usadas em fraudes contábeis, principalmente para esconder prejuízos e/ou despesas vultosas. (Outra fraude bastante comum é "inchar" as contas a receber.)

A propósito, já que mencionamos a apropriação mensal da despesa de seguro, temos de citar os regimes de competência e de caixa. No regime de competência, obrigatório por lei no Brasil, as receitas e despesas são assim consideradas no momento de competência. Exemplo: a receita é contabilizada no momento da venda. Já o regime de caixa... bem, o nome diz tudo. Neste, a receita é contabilizada no momento do recebimento efetivo. O regime de caixa é popular nos EUA.

Qual dos dois regimes é melhor? O regime de caixa é menos burocrático (evita por exemplo aquele controle mensal do seguro do carro), mas o regime de competência produz balanços com resultados mais estáveis, e mais facilmente comparáveis com períodos anteriores. É quase impossível fazer um balanço mensal decente em regime de caixa (imagine o prejuízo no mês onde se paga 13o), embora isso seja comum em regime de competência.

Por último, o regime de caixa tem o mérito do conservadorismo: se houver uma hecatombe de calotes por parte de seus clientes, seu balanço não estará "inchado" com uma receita que acabou não se concretizando. Enfim, a decisão do regime, em se tratando de contabilidade não fiscal, é sua.

Passivo

Passivo é o patrimônio negativo, ou seja, tudo quanto a entidade deve à outras. (Os nomes "ativo" e "passivo" são ao meu ver pouco esclarecedores, e inspiram conotações sexuais pouco lisonjeiras à classe contábil. Em inglês, passivo é liabilities que significa simplesmente "ônus" ou "dívidas". Os acadêmicos justificam os nomes dizendo que ativo é tudo que circula, enquanto passivo apenas aumenta ou diminui sem circular. Não me convenceu.)

Não é muito difícil imaginar dívidas e contas a pagar. O passivo é fácil de entender. O passivo é listado no balanço por ordem inversa de exigibilidade - itens com prazo mais longo ficam mais para baixo.

Se você toma dinheiro emprestado para comprar um carro, então a origem (crédito) do dinheiro é a conta do seu credor, e a aplicação (débito) é um ativo permanente. Os lançamentos a crédito fazem o saldo passivo crescer, portanto têm natureza credora. Para pagar a dívida, a origem será um ativo disponível - dinheiro ou conta bancária - e a aplicação será o credor, que fica assim zerado. (Não falamos dos juros. Juros pagos são despesas, e são lançados em separado.)

Quando você deposita num banco, o dinheiro não fica descansando no cofre, mas sim é emprestado a outras pessoas. O dinheiro vai embora, mas permanece a dívida do banco para com você. Se o banco não quebrar, você pode reclamar essa dívida a qualquer momento, fazendo um saque.

É por isso que uma conta com saldo positivo aparece com "CR" no extrato, pois o extrato é um pequeno relatório contábil do ponto de vista do banco. Do nosso ponto de vista, no nosso balanço, saldo positvo em conta é devedor.

Capital

Como vimos, todo dinheiro tem de ter uma origem. Uma entidade só consegue aumentar seu ativo de três formas: faturando (receita), emprestando dinheiro (passivo), ou recebendo investimento de sócio. Esta última origem de recursos é o capital.

Muitos contadores classificam o capital como uma espécie de passivo não-exigível, ou exigível num prazo infinitamente longo. Isso é bem comum na contabilidade brasileira. Pessoalmente, prefiro uma classe separada para o capital.

Assim como o passivo, o capital tem natureza credora - seu saldo aumenta quando é usado como origem de dinheiro.

Num balanço fechado, ou numa empresa que acabou de abrir, vale a igualdade ATIVO=PASSIVO+CAPITAL. Se o capital está dentro do passivo, reduz-se a ATIVO=PASSIVO. Se o passível exigível for maior que o ativo, o capital tem de ser negativo para fechar a conta - uma situação não muito confortável.

O capital pode também ser considerado o preço conservador pelo qual uma empresa pode ser vendida. Isso será verdade se o rendimento sobre o capital (mais conhecido como lucro) for semelhante ao juro básico da economia. Uma empresa saudável oferece rendimento superior ao juro básico, portanto seu preço de venda será maior que o valor do capital.

É por isso que todo mundo grita quando o juro básico da economia aumenta. Se o juro aumenta, aproxima-se da lucratividade média das empresas, e os potenciais investidores vão preferir deixar seu dinheiro numa aplicação financeira.

A contabilidade pública (a brasileira, ao menos) tem a interessante característica de não possuir ativo e passivo. Isso justifica-se em parte porque municípios, estados e União "possuem" certos bens, como ruas, rios, espaço aéreo etc. mas que são inalienáveis, nem têm valor determinável. Por outro lado, isso também explica porque o patrimônio público é tão mal administrado.

Receita

A receita é a criação de recursos na entidade. Essa "criação" não é dinheiro caído do céu, mas sim a conversão de trabalho humano em renda. Esse trabalho pode ser serviço prestado, juro, lucro na venda, aluguel etc.

Na contabilidade pública, a venda de um bem é considerada como receita de capital. Já numa contabilidade convencional, é uma simples conversão de um ativo para outro (o eventual lucro seria considerado receita).

Despesa

Despesa é a destruição de um recurso da entidade.

Note que a despesa não ocorre exatamente quando você despende recursos em um objeto, mas sim quando esse objeto está exaurido, e deixa de ter valor de revenda. Enquanto ele tiver valor de revenda, permanece no ativo.

Exemplo extremo: você compra um rolo de papel higiênico por R$ 2. Ele passa a fazer parte do seu ativo. Na medida em que ele for usado (vá medindo quantos centímetros) a parte proporcional vai sendo debitada em despesa e creditada do ativo. Quando o rolo acabar, todos os R$ 2 terão ido para despesa, pois o ativo está exaurido.

É óbvio que, na prática, ninguém vai fazer cada rolo de papel higiênico transitar pelo Ativo, pois seu único destino possível é a lata de lixo. É mais racional contabilizar tal despesa pelo regime de caixa, logo no momento da compra.

Compra de serviços em geral, por serem completamente imateriais, não têm a menor chance de transitar pelo ativo: vão direitinho para a despesa. Será mesmo ? Um serviço que é prestado ao longo de muito tempo, mas pago à vista, sobrecarregaria o balanço do mês de pagamento. Para evitar essa distorção, existe o Ativo Diferido (vide discussão mais acima, onde citei o exemplo do seguro de automóvel).

A rigor, existe uma diferença entre custo e despesa. Custo é o dispêndio intrínseco à fabricação de alguma coisa (tantos KW de energia elétrica para fabricar uma lata de alumínio). Despesa é o dispêndio não relacionado (papel higiênico para os funcionários).

Na contabilidade pública, que não possui patrimônio, a compra de um bem é considerada como despesa de capital. Receita e despesa - considerações adicionais

Muitas vezes, a receita não é gerada exclusivamente por trabalho humano, mas envolve a entrega de um bem. Se eu compro algo por R$ 100 e revendo por R$ 150, qual é minha receita? 150 ou 50?

A pessoa que comprou o bem por R$ 150 não quer saber de seu custo de compra, ou custo de produção. Ela pagou 150, sua receita é 150.

Mas, voltando ao exemplo. Se você comprou um bem por 100, aumentou seu estoque em 100, e aliviou sua conta bancária no mesmo montante. Ainda não houve a despesa.

No momento que esse bem foi levado embora pelo comprador, ele deixa de ter valor de revenda para você - a coisa foi levada embora, não pode ser vendida duas vezes. Ali ocorreu a despesa de 100, exatamente no mesmo instante em que ocorreu a receita. (Na verdade, foi um custo, e não uma despesa.)

O resultado líquido aparece da diferença entre receita e despesa, mas isso é uma consideração gerencial posterior. Os lançamentos são mutuamente "cegos" - considero receita e custo de forma completamente desvinculada, embora ocorram exatamente ao mesmo tempo. FIXME

Interessante notar que o valor final de um bem ou direito é composto exclusivamente do trabalho humano aplicado nele. Compare o preço de 10g de ouro bruto com o preço de uma jóia de 10g - o ouro bruto fica barato. E mesmo o preço do ouro corresponde à dificuldade de extração e conseqüente empenho humano envolvido no processo. Não existem etiquetas de preço na Natureza. Bens prontamente disponíveis na Natureza não têm preço, mesmo quando essenciais. Exemplo: ar e luz solar. Tais bens não podem ser contabilizados, pois não são avaliáveis.

Para ilustrar bem essas considerações, faça um teste de mesa simulando um universo econômico simples, com 2 ou 3 empresas (e.g. uma mineradora de carvão, uma fábrica de papel higiênico e uma empresa de softwares.).

Natureza credora e devedora

Em contabilidade, evita-se dizer que uma conta está "positiva" ou "negativa", mas eventualmente é necessário fazê-lo porque somos iniciantes :) ou porque o saldo de uma conta precisa ser traduzido em termos materiais.

Ativo e despesa têm natureza devedora, ou seja, os saldos das respectivas contas são considerados "positivos" quando são devedores. As contas tornam-se mais positivas quando recebem aplicação (e portanto débito) de recursos.

Passivo, receita e capital têm natureza credora, a explicação é simétrica àquela que dei para as contas devedoras. Quando uma conta dessas serve como origem (crédito) de recursos, ela se torna mais positiva. Se for uma conta passiva, espera-se que um dia ela receba um lançamento a débito para ser zerada - ou seja, você pagou a dívida...

A coisa começa realmente a complicar quando uma conta possui saldo negativo. Normalmente, um saldo negativo é erro de lançamento ou erro de classificação. Algumas dicas a respeito:

• Ativo negativo é na verdade um passivo e.g. conta-corrente no "vermelho";

• Uma conta tradicionalmente ativa-negativa é a "Provisão para Devedores Duvidosos": não é uma dívida, mas claramente reduz o ativo de contas a receber;

• Passivo negativo é na verdade um ativo e.g. a sua conta-corrente "vermelha" do ponto de vista do banco. A contabilidade de factoring também apresenta freqüentemente essa distorção;

• Um adiantamento a fornecedor pode criar um saldo momentaneamente devedor na respectiva conta passiva;

• Da mesma forma, um recebimento adiantado de cliente torna negativa a respectiva conta no Contas a Receber, pois é um passivo disfarçado;

• Receita negativa é despesa. Alguns contadores posicionam determinadas despesas como receitas por serem "deduções da receita bruta", ou seja, é um dinheiro que nunca chega a entrar na empresa e nunca deveria ser tomado como receita real. Exemplo: IRRF sobre serviços, COFINS, PIS (quando cumulativos);

• Despesa negativa definitivamente não faz sentido, poderia ocorrer talvez em um lançamento de estorno, e estornos são coisas meio imperdoáveis numa contabilidade informatizada...

• Capital negativo significa que você ou sua empresa está em sérios apuros, pois deve mais do que possui em bens e direitos. Infelizmente, isso acontece mesmo e com alarmante freqüência, geralmente com instituições financeiras. Um banco pode emprestar ("alavancar") até 20 vezes o capital no Brasil (países desenvolvidos permitem alavancagens ainda maiores), portanto basta um punhado de empréstimos mal-feitos para zerar o capital.

Fechamento de balanço

Como já foi dito, no balanço fechado ativo é igual a passivo+capital. Porém, qualquer lançamento que envolva contas de resultado - receita ou despesa - destrói esse equilíbrio. A receita "faz surgir" dinheiro do nada (se a empresa dá lucro ;) e a despesa é um "buraco negro" de recursos.

O fechamento de balanço é o restabelecimento do equilíbrio original. Todas as receitas e despesas são transferidas para uma conta de capital, denominada "Lucros ou prejuízos acumulados". Ou seja, o resultado líquido, receitas menos despesas, é considerado dali por diante como parte do capital, e ali fica enterrado para sempre.

Se esse conceito é completamente novo para você, aconselho-o a fazer um "teste de mesa", com uma entidade fictícia. Crie-a com um capital e/ou dívidas, faça 2 ou 3 lançamentos de receita e despesa e veja como o fechamento restabelece o equilíbrio do balanço patrimonial.

E como se transfere os saldos das contas de resultado para essa conta de capital? Em alguns sistemas, isso acontece "milagrosamente" - no dia 31/12 as contas têm saldo, no dia 01/01 elas aparecem zeradas, e o saldo de lucros acumulados foi alterado. Em outros sistemas, há lançamentos explícitos fazendo a transferência. Eu prefiro essa última modalidade.

O zeramento explícito tem algumas desvantagens. 1) Gera lançamentos estéreis, que não refletem nenhum evento real, e que têm de ser deixados de lado em alguns relatórios. 2) "Suja" o balanço, deixando as contas de resultado com débito = crédito e zerando seu saldo (é impossível vislumbrar lançamentos de valor "negativo" apenas olhando-se no balanço). 3) Se for necessário mexer nos lançamentos contábeis, é preciso refazer os lançamentos de fechamento.

O fechamento explícito tem a vantagem de permitir um fechamento a qualquer dia, diariamente se for o caso, sem que isso signifique ter de mexer no software. Também é mais fácil de implementar. Por estas razões, é meu predileto. As desvantagens supracitadas são mitigadas pela variedade de relatórios contábeis e algumas amenidades do software.

Fechamento "automático" à moda bancária

Os bancos, por força de norma do Banco Central, adotam um plano de contas bastante curioso, onde as contas de resultado estão dentro do capital. Isso faz com que o balanço do banco esteja sempre fechado. Os bancos alimentam a contabilidade diariamente, e graças a esse plano podem emitir balanços a qualquer momento.

A razão é bastante prosaica. O Banco Central acompanha diariamente a conta de capital. Se ela tornar-se negativa (devedora), o banco é imediatamente liquidado, e seus donos são mandados para a prisão (haha). A transferência dos saldos das contas de resultado para a conta de lucros/prejuízos ocorre anual ou mensalmente, mas apenas para zerá-las.

Plano de contas

Plano de contas é, grosso modo, a lista de contas que serão objeto de lançamentos.

Em tese, para ser extremista, apenas 5 contas são necessárias: ativo, passivo, capital, receita e despesa. Este é um plano de contas absolutamente correto, que comporta qualquer lançamento possível. Mas o nível de informação dos relatórios gerados por esse plano seria um tanto baixo.

Por outro lado, pode-se exagerar na granularidade. Esse é mesmo o erro mais freqüente. Se eu quiser controlar quanto café é consumido em cada setor de uma empresa de porte mundial, basta criar uma conta para cada setor. Claro, vou precisar de mecanismos burocráticos para auferir o consumo e gerar os lançamentos contábeis. Perfeitamente possível, perfeitamente válido, e totalmente inútil.

Cabe a você determinar o nível de granularidade das contas - use o bom-senso. O único conselho que vou arriscar é: evite criar as famigeradas contas de "Despesas Diversas". Por que? Porque estimula a preguiça em criar novas contas quando se fizerem necessárias: toda despesa não prevista no plano original acabará sendo lançado como "diversa"; depois de algum tempo, 90% de suas despesas serão "diversas". Um bom plano de contas não tem tais rubricas.

O plano de contas contém contas analíticas e sintéticas. As contas analíticas são as contas reais, que podem receber lançamentos. As contas sintéticas são simplesmente a soma de um conjunto de contas analíticas. Os valores sintéticos são úteis para análise gerencial dos relatórios contábeis.

Pode haver contas sintéticas que contenham outras contas sintéticas. O plano de contas é uma estrutura hierárquica, com pais, filhos, netos etc. formada pelos diversos níveis de contas sintéticas. O último nível é composto pelas contas analíticas, que efetivamente contém valores e fatos contábeis.

Para deixar clara a relação de paternidade entre as contas, é tradição usar um código estruturado para cada conta contábil. Apenas olhando-se para o código, é possível saber imediatamente se a conta é analítica ou sintética, e quem é sua conta-pai, conta-avó etc.

Exemplo com código estruturado de 4 níveis:

• 1. ATIVO

o 1.1. CIRCULANTE

▪ 1.1.1. DISPONIBILIDADES

▪ 1.1.1.01. Dinheiro

▪ 1.1.1.02. Conta corrente X

▪ 1.1.1.03. Conta poupança Y

▪ 1.1.2. CONTAS A RECEBER

▪ 1.1.3. ESTOQUES

o 1.2. PERMANENTE

o 1.3. DIFERIDO

Convém não exagerar no número de níveis do plano, para não torná-lo excessivamente enrolado. Cinco níveis são suficientes para balanços de empresas grandes. Quatro níveis devem ser suficientes para uma contabilidade gerencial informal.

A disposição das contas no plano rege o formato dos relatórios contábeis, notoriamente o balanço. Os balanços publicados costuma trazer apenas contas sintéticas de nível muito alto, por brevidade. As contas ativas costumam-se ordenar por liquidez (conforme já dito.) As contas passivas, por prazo de exigibilidade, com os prazos mais curtos figurando mais ao topo. As receitas, pela "naturalidade" (receitas intrínsecas ao objeto da entidade figuram mais ao topo). As despesas, pela sua necessidade: primeiro custos variáveis, depois custos fixos, depois despesas necessárias, e por último as liberalidades.

Para iniciar a criação de seu plano de contas, uma boa pedida é pedir um plano pronto a um contador, ou dar uma olhada num balanço publicado. Se você nunca sequer viu um balanço, é hora de comprar uma ou duas Gazeta Mercantil; praticamente toda edição tem balanços de grandes empresas.

Histórico padrão

Contabilidade é uma ciência bastante interessante; o que estraga são os contadores que tornam tudo muito chato e repetitivo. Eis uma típica descrição de lançamento feita por um contador profissional:

PGTO N/DATA C/ CHEQUE A VISTA CRUZADO PARA COMPRA DE CAFÉ MELITTA PCT. DE 500GRMS.

Ou seja, ele repetiu tudo que a data do lançamento e as contas envolvidas já tinham tornado óbvio. Bastaria dizer "500g CAFÉ". Qual o sentido em dizer que algo foi "na data"? Se aconteceu ontem, lançar-se-ia com a data de ontem, certo?

Para facilitar a vida dos contadores prolixos, criou-se o histórico padrão, que é um pré-cadastro de descrições usadas muito freqüentemente. Ao final do histórico padrão, pode-se complementar com uma descrição livre. No exemplo acima, um bom candidato a histórico padrão seria "PGTO BLA BLA PARA COMPRA DE", pois é extremamente comum a compra de algo com cheque.

Assim, tanto o contador prolixo quanto o estressado digitador ficam felizes. Pessoalmente, acho que, numa contabilidade pequena, com um bom plano de contas, o histórico padrão é desnecessário. Mas 99% dos contadores discordarão.

entro de custo

O plano de contas é unidimensional. Muitas vezes, é necessário fazer o controle de custos em 2 dimensões. Por exemplo, temos as contas "gastos com xerox" e "gastos com cafeteria". Para controlar o gasto com xerox e café por setor individual, teríamos de criar inúmeras sub-contas: "gastos com xerox setor A", "gastos com xerox setor B"... O número de contas cresceria exponencialmente.

A tabela de centros de custo é uma espécie de plano de contas paralelo, mais informal e geralmente não hierárquico. Além das contas normais, o lançamento é atrelado a um centro de custo. Nem todo lançamento contábil terá um centro de custo; em geral, apenas as despesas normais de custeio (daí o nome).

Dessa forma, voltando ao nosso exemplo, haverá uma única conta contábil para "despesas com xerox". Se essa rubrica aparecer com valor elevado, o centro de custo será usado para eleger o bode expiatório. Da mesma forma, pode-se levantar de tempos em tempos quem é o centro de custo mais gastador...

Diário

O diário é o mais simples dos relatórios. Lista os lançamentos em ordem cronológica. Gasta bastante papel, e seu valor gerencial é quase nulo. Dificilmente você irá usá-lo, se estiver usando contabilidade informatizada.

Porém, é o único relatorio suficiente para recriação de todo o histórico contábil a partir de mídia impressa. Por isso, sua impressão é obrigatória em contabilidade fiscal. Sim, isso acaba gerando centenas de quilos em livros-diário.

Razão

Razão é a listagem de lançamentos, em ordem cronológica, mas de apenas uma conta em particular. Se as descrições dos lançamentos forem suficientemente claras, o razão já tem alguma utilidade gerencial, pois mostra o que aconteceu com aquela conta durante o período.

O razão também lista a evolução do saldo da conta (importante para contas patrimoniais), coisa que o diário não faz. Em contabilidade fiscal, sua impressão também é obrigatória, e gasta ainda mais papel que o diário. A propósito, não existe razão de contas sintéticas (eu nunca vi, ao menos).

Balanço

O balanço é o rei dos relatórios contábeis, pois mostra todas as movimentações financeiras da entidade. É o principal relatório publicado pelas empresas de capital aberto. (IMHO empresas de capital fechado acima de certo tamanho também deveriam ser obrigadas a publicá-lo, mas isso é outra história...)

Cada linha do balanço lista uma conta, com seu saldo inicial, movimentos a débito, movimentos a crédito, e saldo final. Apenas as contas sem saldo e sem qualquer movimentação ficarão de fora, por completamente desinteressantes no período.

As contas sintéticas aparecem no balanço, com os valores acumulados das suas contas-filhas. Em balanços publicados, aparecem apenas as contas sintéticas de um certo nível para cima, por questões de brevidade.

O balanço emitido fora da época de fechamento é denominado "balancete de verificação"; ele não "fecha", ou seja, ativo é diferente de passivo. Já o balanço patrimonial "fecha" pois é emitido após o zeramento das contas de resultado. Nos balancos publicados, figuram apenas as contas patrimoniais. As contas de resultado são deixadas para o DRE.

Existe uma área altamente especializada da contabilidade, a análise de balanços, que destina-se a metrificar a saúde financeira com base no balanço público. Sobre ele há livros inteiros escritos, não pretendo entrar em detalhes aqui. Apenas vou pedir que você, ao dar uma olhada num balanço de jornal, preste atenção no seguinte:

• Proporção dos estoques em relação ao total do ativo (muito estoque = giro lento ou produção excessiva);

• Proporção do ativo diferido em relação ao total do ativo (fraude);

• Diferença entre os saldos inicial e final do contas a receber (um aumento exagerado significa alongamento excessivo dos prazos concedidos);

• Se o estoque estiver muito alto, veja a quantas anda o Contas a Pagar (se muito alto também, a empresa compra demais só para manter em estoque, e isso geralmente é estúpido);

• Se a empresa auditora for aquela envolvida no escândalo da Enron, a única utilidade do balanço é como acendalha do seu próximo churrasco ;)

Demonstração de Resultados (DRE)

O DRE demonstra a movimentação das contas de resultado. A rigor, um balanço pode fazer o mesmo, mas o DRE o faz num formato mais enxuto e apropriado.

Os DREs publicados trazem apenas contas sintéticas de certo nível para cima, por brevidade. Também rearranjam as contas para trazer as despesas numa ordem mais propria à análise. Exemplo:

(1) RECEITA BRUTA

(2) DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA (e.g. impostos sobre faturamento)

(3) RECEITA LÍQUIDA = (1-2)

(4) CUSTOS VARIÁVEIS

(5) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO = (3-4)

(6) CUSTOS FIXOS

(7) LUCRO BRUTO = (5-6)

(8) DESPESAS

(9) LUCRO LÍQUIDO = (7-8)

Em particular no caso de haver prejuízo, o formato acima é útil porque vê-se rapidamente onde a empresa está gastando demais...

Os lançamentos "estéreis", como os de fechamento de balanço, não são levados em conta. Do contrário, todas as contas apareceriam com valor zero...

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