Não mudaremos um único milímetro!

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Ano 11 | n?mero 2780 Maputo, segunda-feira 24 de Agosto de 2020

Director: Fernando Veloso | Editor: Matias Guente | Propriedade da Canal i, lda Sede: Bairro Central, Av. Maguiguana, n.? 1049 | Casa n.? 65000 R/C | Registo: 18/GABINFO-DEC/2009 e-mail: graficocanalmoz@ | mtsgnt@ | Telefones: 823672025 - 823053185

Editorial

N?o mudaremos um ?nico mil?metro!

Maputo

? No dia 31

de Dezembro de 2019, o editor

do "Canal de Mo?ambique", Ma-

tias Guente, sofreu um atentado

brutal e escapou milagrosamente

a uma tentativa de rapto. Ficou

dois meses impossibilitado de tra-

balhar. As autoridades policiais

nunca esclareceram este caso.

Depois seguiram-se ataques ver-

bais e racistas contra a Direc??o

do jornal. Enquanto procur?vamos

entender as raz?es desses ataques,

fomos bafejados com um proces-

so-crime por, alegadamente, ter-

mos violado o segredo de Estado,

por termos publicado um contrato

altamente mafioso entre o Gover-

no da Rep?blica de Mo?ambique

e as empresas multinacionais que

operam na Bacia do Rovuma.

Estamos a responder a esse pro-

cesso e, sinceramente, n?o sabemos qual ser? o desfecho, na medida em que, analisados os fundamentos do referido processo, n?o h? base jur?dica para lhe dar corpo, ou seja, o fim desse processo ? uma inc?gnita, uma vez que est? claro que n?o passa de uma encomenda pol?tica para nos intimidar, usando a Justi?a.

Com tudo isto, nunca nos movemos sequer um mil?metro em rela??o ? nossa linha editorial e ?s nossas convic??es sobre o rumo que o pa?s (n?o) deve seguir. Continuamos inabal?veis por um ide?rio que acreditamos justo, mas, acima de tudo, por compreendermos o papel que desempenha um jornal livre de amarras pol?ticas e de todo o tipo de press?es, como o ? o "Canal de Mo?ambique".

Mas, desta vez, o imigo cansou-se de tribunais, cansou-se dos esquadr?es de viol?ncia verbal e f?sica e decidiu elevar a fasquia da selvajaria. Decidiu arrombar as portas do escrit?rio onde funciona o "Canal de Mo?ambique", regar todos o escrit?rio com combust?vel e colocar bombas artesanais em pastas e em garrafas.

O saldo ? a uma destrui??o total das instala??es e do equipamento do jornal. Todo o escrit?rio ficou reduzido a cinzas e, praticamente e em bom rigor, temos de come?ar a empresa a partir do zero. ? muito prov?vel que tentem convencer-nos de que estamos perante um crime de delito comum. Mas ainda bem que os agentes do Servi?o de Investiga??o Criminal e o Corpo de Salva-

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??o P?blica estiveram c? e testemunharam o crime de fogo posto.

Mas tamb?m n?o nos admiraria se houve um ?-vontade para pintar uma narrativa contra n?s pr?prios. N?o seria nada com que n?o estejamos familiarizados at? agora.

Mas, seja como for, o que temos aqui ? um facto: um verdadeiro atentado terrorista contra a liberdade de imprensa e a liberdade de express?o e, em ?ltima an?lise, contra a pr?pria democracia.

Sab?amos que est?vamos a operar no limite da seguran?a, devido ao facto de certos sectores se terem estado a radicalizar perante verticalidade do jornal. Mais cedo mais tarde, isto poderia acontecer, pois h? um grupo devidamente identificado ligado ao poder que advoga de forma aberta o encerramento deste jornal.

Isto ? apenas a materializa??o de um conjunto de sugest?es e press?es que j? v?nhamos sofrendo, e acreditamos que n?o ser? a ?ltima vez que tal acontece, pelo menos enquanto o poder discricion?rio do Estado estiver nas m?os dos que advogam a nossa inexist?ncia. N?o temos qualquer tipo de ilus?es sobre o facto de que somos um alvo a abater.

O que nos preocupa, nisto tudo, ? a institui??o de um verdadeiro gabinete terror, ?dio e altamente racista como bra?o de apoio que se apresenta ao servi?o do poder institu?do. Queimar um jornal ? queimar a consci?ncia de todos os que l?em este jornal e de todos aqueles que pensam numa perspectiva alternativa.

A Hist?ria recente ensinou-nos aonde nos leva esse extremismo na promo??o do ?dio e do patrulhamento ideol?gico para combater outros mo?ambicanos simplesmente porque n?o pensam como se considera que deviam pensar. A cria??o e promo??o des-

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ses grupos xen?fobos, que exalam ?dio e desprezo pelos outros, com a tarefa exclusiva de lutar contra o Bem, lan?am uma incerteza sobre o futuro da nossa democracia.

N?o temos a m?nima d?vida que os que incendiaram os escrit?rios do "Canal de Mo?ambique" sejam os mesmos marginais que atacaram Matias Guente no passado m?s de Dezembro. ? tudo uma ac??o inspirada nesse ?dio que saiu dos textos para a ac??o f?sica. Se a ideia ? para passar a pensarmos todos da mesma forma, lamentamos informar que n?o podemos subscrever esse manifesto, ainda que haja armas e tacos de golfe e de "baseball" e botijas de combust?vel para enfrentar.

Mas a nossa coragem, que ? simplesmente inspirada no Bem e por acreditar que, neste pa?s, h? espa?o pra todos os mo?am-

bicanos independentemente da sua ideologia, faz-nos interpelar a revitaliza??o dessas c?lulas antidemocr?ticas ao servi?o do poder e a instrumentaliza??o de mo?ambicanos para comerem a carne e beberem o sangue de outros mo?ambicanos.

N?o estar?amos errados se diss?ssemos que todos estes actos macabros representam a estrat?gia e o pensamento dos que det?m o poder. Percebemos que essas ac??es s?o previamente submetidas e aprovadas pelas estruturas m?ximas do pa?s. O chefe do Estado deve assumir as suas responsabilidades, quando isto n?o tiver mais volta e algu?m for assassinado. Sabemos como isto funciona. Quando ataques nas redes sociais n?o se revelam eficazes, quando ataques f?sicos n?o se revelam eficazes, quando processos ju-

dicias n?o se revelam eficazes, quando inc?ndios tamb?m n?o se revelarem eficazes, o fim ?ltimo ser?o mortes encomendadas.

Do nosso lado, escolhemos defender a democracia e um Mo?ambique plural, mesmo que isso signifique operar literalmente no limite. ? o lado que escolhemos porque acreditamos ser o lado certo da Hist?ria. Para j?, queimaram os escrit?rios, mas n?o queimaram as nossas consci?ncias. Queimaram computadores, mas n?o nos queimaram o racioc?nio. Queimaram os nossos pap?is, mas n?o queimaram o papel ? que acreditamos ser justo ? que desempenhamos para a democracia. Enfim, estamos aqui e n?o vamos mudar nem um mil?metro.

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