ÍNDICE - 11/06/2002



ÍNDICE - 11/06/2002

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Correio Braziliense

XCapa/Cidades

GDF recua e não divulga documentos sobre a obra 4

GDF promete mostrar mais documentos 4

Correio Braziliense

XColuna

Brasília-DF 6

Contra-ataque certeiro 6

O Globo

XCapa/Economia

Correção do FGTS vai injetar 3 bi na economia 8

FGTS: 13,9 milhões têm correção 8

O Globo

XColuna

Panorama Político 10

Mais perto do altar 10

Mais calmante 10

Ao bumbo 11

Aos donos 11

O Globo

XColuna

Ancelmo Góis 12

Cena carioca 12

Dolce far niente 12

Nuremberg sempre 12

Cuscuz mineiro 12

Estréia aguardada 12

Atravessou 12

Mais luz 12

Poluição sonora 13

Índio na Copa 13

Prêmio Tim 13

Casa Cor indiscreta 13

Golpe na praça 13

Jornal do Brasil

XCapa/Economia

Mudança em fundos de renda fixa deu lucro a bancos 14

Banco sai de fundo e lucra 14

Jornal do Brasil

XColuna

Informe Econômico 16

Surpresa positiva 16

Crescente mas pagável 16

Pragmatismo em alta 16

Pronta pra decolar 16

Roendo as unhas 16

Cautela e caldo de galinha 16

Promessa urgente 17

Guerra do gás 17

Estréia adiada 17

Jornal do Brasil

XColuna

Coisas da Política 18

O papel dos jornais 18

Falta de prática 19

Jornal do Brasil

XColuna

Informe JB 20

Rede segura 20

A toque de caixa 20

Deu zebra 20

Muito afinados 20

Drink perigoso 20

A caminho 20

Cores do Brasil 21

Água turva 21

Coisa feia 21

Outro pedido 21

Ensino da arte 21

O Estado de S.Paulo

XColuna

JOELMIR BETING 22

Medo da ordem? 22

SECOS & MOLHADOS 23

O Estado de S.Paulo

XCapa/Nacional

Governo resiste a rever cortes após votação da CPMF 24

Governo resiste à pressão para abrir cofres 24

Folha de S.Paulo

XColuna

PAINEL S.A. 26

Insustentável 26

Dentro do previsto 26

Na torcida 26

Beleza americana 26

Faro fino 26

Gole chinês 26

Geladeira cheia 26

Controle 26

Na briga 27

Líder 27

Tipo exportação 27

ANÁLISE 27

Sob ameaça 27

NO MERCADO 27

FRASE 27

Folha de S.Paulo

XColuna

LUÍS NASSIF 28

Marketing das eleições 28

Folha de S.Paulo

XCapa/Dinheiro

Eletropaulo ressucita contas de até dez anos 30

Eletropaulo cobra contas que já caducaram 30

Folha de S.Paulo

XColuna

PAINEL 32

Ideal governista 32

Mau-olhado 32

Fator marqueteiro 32

Brincadeira de garoto 32

Eterno admirador 32

Infiltração tucana 32

Comparação de campanha 32

Sustos programados 32

Calmante televisivo 33

Nos acréscimos 33

Cabeças quentes 33

Dia seguinte 33

Sem retratação 33

TIROTEIO 33

CONTRAPONTO 33

Esforço vão 33

Folha de S.Paulo

XColuna

CLÓVIS ROSSI 34

Os limites do presidente 34

Folha de S.Paulo

XColuna

ELIANE CANTANHÊDE 35

O caos 35

Folha de S.Paulo

XColuna

CARLOS HEITOR CONY 36

Estado paralelo 36

Valor Econômico

XColuna

Política 37

Pátria de pijamas, mas decidindo voto 37

Correio Braziliense

11/06/2002

XCapa/Cidades

GDF recua e não divulga documentos sobre a obra

O Governo do Distrito Federal prometeu, mas não apresentou os documentos sobre o custo da terceira ponte do Lago Sul. Somente as plantas da obra foram apresentadas em 57 caixas. A Novacap está copiando a documentação e promete mostrá-la ainda hoje aos interessados.

GDF promete mostrar mais documentos

Governo do Distrito Federal divulga apenas plantas da obra que está em fase final no Lago Sul e deve apresentar hoje as planilhas de custo da construção

Andrea Cordeiro

Da equipe do Correio

O brasiliense que respondeu ao convite do governador do Distrito Federal e foi ao Setor de Oficinas (SOF Sul) para conhecer os detalhes da licitação e da construção da terceira ponte do Lago Sul não viu muita coisa. Em uma das salas da assessoria da presidência da Novacap, as 57 caixas de papelão empilhadas guardavam dezenas de plantas da obra. E só. Nenhum documento que justificasse a elevação dos custos da obra estava disponível.

Segundo o diretor de Urbanização da estatal, Claudio Santana, os documentos referentes à licitação e aos preços ainda estavam sendo copiados e só hoje estarão disponíveis aos interessados. ''São mais de 300 quilos de papel. Custa R$ 10 mil copiar tudo'', explicou. Sobre as denúncias de irregularidades, Santana não quis comentar nada. ''É falta de ética adiantar as informações que foram fornecidas para o Tribunal de Contas do DF'', resumiu.

Santana, no entanto, quis comentar a denúncia de aumento na quantidade de serviços apontados na auditoria dos técnicos do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). ''A empresa teve de fazer sondagens além do especificado no edital porque tivemos de mudar a posição da ponte. Se seguíssemos o projeto, faltariam 150 metros para a ponte chegar na terra firme.'' Sobre a atualização de custos acima dos preços de mercado, Santana se calou.

A oferta de documentos na Novacap para a população foi amplamente divulgada pelo GDF durante todo o fim de semana. Qualquer pessoa ou instituição interessada pode procurar a sede da Novacap para ter acesso aos documentos. O convite do governo foi feito no dia em que o Correio publicou reportagem com o resultado da perícia realizada pela 5ªCâmara do Ministério Público Federal. Na análise, a perita Marta Lígia confirma o superfaturamento ainda na elaboração do edital de licitação, quando a Projconsult atualizou os custos em 67%, muito acima dos índices de inflação.

A perícia foi feita a partir da auditoria de seis meses realizada pelo TCDF no ano passado. Em 72 páginas, três auditores concluem que a atualização dos custos para a publicação do edital e a contratação do consórcio vencedor, formado pela Via Engenharia e Usiminas, saíram caros demais para os cofres do GDF. No final das contas o custo total subiu de R$ 40 milhões para R$ 160 milhões. O presidente da Novacap, Elmar Koenigkan, preferiu não comentar as acusações.

Correio Braziliense

11/06/2002

XColuna

Brasília-DF

Por Arlete Salvador

Contra-ataque certeiro

Tanto no PT quanto no PSDB, as últimas pesquisas de intenção de voto são vistas com reservas. Elas têm indicado uma ligeira melhora na posição do candidato do PSDB, José Serra, como segundo colocado na disputa com cerca de 20% dos votos. Já o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, está estacionado no patamar de 40%, com pequenas alterações, dependendo da pesquisa. O balanço desses resultados mostra que o PSDB, depois de meses de disputas internas, encontrou um eixo, uma diretriz eleitoral. E ela aponta na direção de um confronto aberto com o PT.

A estratégia do PSDB daqui para a frente é até óbvia - explorar as fragilidades do adversário. E o adversário que o próprio PSDB escolheu, o PT, ignorando solenemente as outras duas candidaturas que ainda podem ameaçar a posição de Serra como segundo colocado na disputa. Anthony Garotinho, do PSB, e Ciro Gomes, do PPS, oficializaram ontem suas candidaturas, mas vêm sendo tratados como carta fora do baralho. Interessa ao PSDB insistir na idéia de que a eleição se dará entre entre o seu candidato e Lula, mesmo que isso não esteja suficientemente garantido até o momento.

Dentro dessa estratégia, o PSDB foi buscar o que os seus dirigentes chamam de contradições do PT. No fundo, a idéia é demonstrar que a imagem do novo Lula, construída pela propaganda eleitoral do partido e pelos discursos moderados do candidato, é apenas miragem. Nesse contexto, cobram-se do PT posições adotadas no Congresso Nacional, como as votações sobre mudanças no sistema previdenciário e na Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo. A estratégia significa levantar dúvidas no eleitorado sobre a veracidade das mudanças anunciadas pelo PT.

Outra vertente dessa mesma estratégia é criticar eventuais alianças eleitorais que o partido de Lula vem tentando, tanto com o PL quanto com o PMDB, ou, pelo menos, a parte do PMDB insatisfeita com a possibilidade de uma aliança nacional com o PSDB. Faz parte desse movimento lembrar que o PT, que tanto criticou a aliança do presidente Fernando Henrique Cardoso com o PFL, não tem outros critérios para buscar aliados que não eleitorais. Tradução: o PT é um partido como outro qualquer.

Finalmente, outra linha de condução da campanha é destacar a falta de experiência administrativa de Lula. Turbulências na economia contribuem para reforçar o medo de parcela da população de um eventual governo do PT. A associação entre uma piora no cenário econômico com os riscos da eleição de um candidato despreparado funciona como um propulsor do medo e da insegurança. Por extensão, entram na roda os governos do PT.

No Rio de Janeiro, a governadora Benedita da Silva vive o drama de um jornalista da TV Globo ter sido torturado e morto por traficantes de drogas sem que sua polícia possa reagir. Em São Paulo, a prefeita Marta Suplicy ainda não conseguiu deixar sua administração visível aos olhos do eleitor. A impressão geral é que ela ainda não fez nada pela cidade. O que deveriam ser as vitrines do PT para eleger Lula tem se mostrado pontos vulneráveis na campanha eleitoral.

A estratégia do PSDB explora exatamente os pontos sobre os quais os eleitores se sentem inseguros para votar no PT. Não por acaso, são os mesmos sobre os quais o PT vem trabalhando desde o começo da campanha. Este ano, mais profissionalizado, o PT se preparou para eles. Os programas eleitorais do partido foram criados com a intenção de se tornar ''vacinas'' contra ataques desse tipo. Era uma forma de imunizar o eleitor contra o medo e a insegurança. Pela mostra da semana passada, quando o PSDB atribuiu ao PT a responsabilidade pela turbulência na economia, apertando o cerco sobre a candidatura Lula, as ''vacinas'' ainda não foram suficientes.

O Globo

11/06/2002

XCapa/Economia

Correção do FGTS vai injetar 3 bi na economia

FGTS: 13,9 milhões têm correção

Geralda Doca

BRASÍLIA e RIO O governo começa a pagar hoje a correção de 16,64% (Plano Verão) e de 44,8% (Plano Collor I) nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para 13,9 milhões de trabalhadores, injetando na economia cerca de R$ 3 bilhões até o início de julho. O pagamento vai começar pelas pessoas com direito a até mil reais de correção em cada conta que tiverem. Ao todo, nesta etapa, o governo vai pagar R$ 3,55 bilhões para corrigir 41,7 milhões de contas, mas cerca de 14% desses recursos ficarão bloqueados porque os beneficiários não sacaram os recursos do FGTS.

O valor da correção de todos os trabalhadores com direito a saque não estará disponível na conta para retirada a partir de hoje. O dinheiro ficará liberado para saque aos poucos porque, por limitações operacionais, serão realizados só 400 mil repasses por dia, até 26 de junho.

Podem retirar o dinheiro os trabalhadores que já retiraram o saldo do Fundo por motivo de demissão sem justa causa, aposentadoria, compra da casa própria ou doença grave. Quem pediu demissão antes de 13 de julho de 1990 também poderá sacar o dinheiro porque até aquela data havia uma regra que permitia o saque do FGTS em caso de conta inativa por mais de três anos. Os aposentados com mais de 65 anos ou as pessoas que tenham requerido aposentadoria por invalidez com direito à correção de até R$ 2 mil também vão ter os recursos liberados imediatamente.

- A Caixa se preparou durante meses para esse pagamento. Ninguém precisa correr. Pedimos calma e tranqüilidade. Metade dos beneficiários não precisa sequer procurar uma agência ou terminal da Caixa para pegar o dinheiro - disse o presidente da CEF, Valdery Albuquerque.

Ontem, o ministro do Trabalho, Paulo Jobim, fez um apelo para que os trabalhadores continuem aderindo ao acordo, o que pode ser feito até dezembro de 2003. Segundo ele, de 35,3 milhões de pessoas com direito ao crédito de até mil reais, só 13,9 milhões serão beneficiados porque assinaram o Termo de Adesão:

- Não deixem de aderir, principalmente trabalhadores que têm a receber entre mil e dois mil reais, porque não terão desconto e receberão quase que imediatamente.

Pelo cronograma de pagamento divulgado ontem pela Caixa, os primeiros a receber serão os 5,4 milhões de trabalhadores que indicaram o número de uma conta corrente ao assinarem o Termo de Adesão. No dia 19, a Caixa vai fazer o repasse da correção às empresas que assinaram convênio com a instituição para efetuar o pagamento dos expurgos a 1,8 milhão de pessoas na folha de pagamento de junho. E, a partir do dia 26, será a vez dos 6,68 milhões que vão receber a correção na boca do caixa, de forma escalonada, conforme o mês de nascimento.

Entre os dias 20 deste mês e 5 de julho, as 56 mil firmas que assinaram o convênio FGTS-Empresa farão o pagamento da correção no contracheque de 1,8 milhão de empregados. No total, eles receberão R$ 460 milhões.

Só quem aderiu pode receber

Quem não indicou o número da conta corrente nem faz parte do convênio precisa obedecer ao cronograma (veja o quadro ao lado), que também ficará exposto nas agências da Caixa, Correios e correspondentes bancários (Caixa Aqui). As pessoas que vão retirar o dinheiro nas agências e têm direito até R$ 300 podem sacá-lo nos correspondentes bancários (loterias, supermercados, farmácias), apresentando o Cartão do Cidadão, PIS e um documento pessoal. Acima desse valor, basta procurar uma agência da Caixa, com Carteira de Trabalho e documento pessoal ou o extrato da conta.

Só poderá retirar o dinheiro ou ter o valor creditado na conta do Fundo (casos em que o empregado pediu demissão ou continua na mesma empresa) quem tiver aderido ao acordo do governo. Segundo a Caixa, 113 milhões de contas, entre ativas e inativas, têm direito à correção. Desse total, a instituição autorizou o crédito apenas para 53,5 milhões de contas, disponíveis em .br. Há outras 59,5 milhões de contas com direito ao benefício, aguardando liberação por conter dados incompletos. As pessoas que ainda não receberam o extrato e não estão incluídas na internet devem procurar os postos de atendimento ou a Caixa, com a carteira de trabalho, cartão do PIS, CNPJ da empresa e data de admissão, além da identidade.

No Rio, a aposentada Maria de Lourdes Gonçalves está na expectativa de receber o que tem direito (cerca de R$ 600). Ela assinou o termo de adesão e não vê a hora de usar o dinheiro.

O Globo

11/06/2002

XColuna

Panorama Político

Mais perto do altar

Não acabará hoje, como anunciado, a novela da aliança entre o PT e o PL. Os presidentes dos dois partidos, José Dirceu e Valdemar Costa Neto, reúnem-se para analisar os conflitos estaduais, mas a palavra final virá mesmo é da convenção do PL, marcada para o dia 23. Certo é que estão agora mais próximos do altar, ajudados por padrinhos como o governador Itamar Franco.

Algumas incompatibilidades eleitorais foram resolvidas, outras são insolúveis. Os bispos continuaram querendo Garotinho, que diz ter o apoio de 17 dos 27 diretórios regionais. A convenção, entretanto, é controlada pelos parlamentares, o senador José Alencar e 24 deputados, entre eles Costa Neto, que é pró-PT. Entre os deputados, dez seriam favoráveis à aliança, oito contrários e seis, indecisos. Sobre estes é que estariam atuando intensamente o senador e outros defensores do apoio a Lula. Se a aliança for aprovada na convenção do dia 23, o PT enfrentará algum alarido interno, mas sacramentará a coligação e lançará a chapa Lula-José Alencar em sua convenção do dia 28. A oficialização do nome de Lula pela executiva foi feita ontem, como já divulgado, apenas para atender a necessidades práticas, tais como o início do recebimento de doações e a abertura de comitês eleitorais.

As resistências ainda existem e a preferência por Garotinho é mesmo forte no setor evangélico do PL, podendo resultar mesmo no fracasso da aliança. Mas houve avanço nos entendimentos e a nova situação já conferia ontem ao senador até a desenvoltura para falar de "nosso governo", referindo-se ao possível governo Lula:

- Os credores do Brasil podem ficar tranqüilos, porque nosso governo jamais incorreria em rompimento unilateral de contratos. Estou falando como empresário, do setor produtivo, onde a vida é mais dura do que no setor financeiro, que em 50 anos de atividade nunca rompeu um contrato. Mas é preciso notar que só o mercado financeiro está assustado com a possibilidade de vitória do Lula, pois é o setor que anda no vagão da sorte dos juros altos enquanto o resto da economia se arrasta. Empresas produtivas, inclusive multinacionais, sabem que nosso governo será voltado para o crescimento, e que enriquecendo é que poderemos pagar essa dívida.

Sobre o terrorismo financeiro, ontem amainado, diz ainda o senador:

- O que o senhor Soros disse (que Serra é o eleito dos EUA e que outro resultado trará o caos) é aterrador, porque reflete o grau de nossa sujeição e fragilidade. Mas vi com felicidade até o ministro Malan repelir aquela intromissão.

Um vice bem falante, daria o senador. Mas como a aliança ainda é incerta, o comando do PT continua especulando, discretamente, para não estimular apetites, sobre a chapa puro-sangue. Um nome novo na roda é o ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias, que teria a bênção de Itamar.Ciro saiu com Paulinho de vice, Garotinho adiou a escolha do seu. Mas, a menos que caia um outro nome do céu, o escolhido deve ser mesmo o mineiro João Leite.

Mais calmante

Funcionou como um ansiolítico para o mercado financeiro a pesquisa Datafolha, em que o candidato José Serra isola-se no segundo lugar, subindo de 17% para 21%. Lula caiu de 43% para 40% mas isso não apavorou os petistas, que também vão contribuir para acalmar o mercado. O PT não deve mais recorrer ao STF contra a supressão da noventena pelo Senado, garantindo a continuidade da cobrança da CPMF sem interrupção.

Desiste o PT da ação aventada para dar sinais de compromisso com o ajuste fiscal. Mas também porque ia gastar chumbo à toa, ficando só com o ônus de ter tentado atrasar o lado do governo. Sabe-se que a maioria dos ministros do Supremo não considera inconstitucional a supressão do prazo de 90 dias para o início da cobrança, por tratar-se de contribuição que já está em vigor, não se constituindo, portanto, em despesa nova para o contribuinte.

Ao bumbo

O Planalto dá hoje mais uma mãozinha para o candidato José Serra. O presidente Fernando Henrique preside solenidade em comemoração à marca dos 50 milhões de brasileiros atendidos pelo programa Saúde da Família. O candidato e ex-ministro da Saúde, em cuja gestão o programa se expandiu, terá direito a cadeira no auditório. E a ser citado por FH, certamente.

Aos donos

A Constituição de 1988 acabou com as contas individuais do PIS e do Pasep, alterou a natureza dos programas e determinou que leis específicas tratassem do destino dos saldos existentes. Tais leis nunca foram propostas ou aprovadas. Propõe agora o senador Carlos Wilson (PTB-PE) que todo trabalhador desempregado registrado no PIS ou no Pasep possa sacar suas cotas.

O SUPLÍCIO e a morte do jornalista Tim Lopes é um tiro de canhão em todos nós. Nos que produzem informação e nos cidadãos que ficam privados dela. Pois agora o tráfico mostra que ousa também calar quem fala dele, que chega ao limite intolerável, à fronteira da própria democracia.

A VELHA E SEGURA caderneta de poupança da Caixa Econômica Federal voltou aos bons tempos. Nos quatro piores dias da crise dos fundos na semana passada, captou R$ 1,067 bilhão em depósitos.

O Globo

11/06/2002

XColuna

Ancelmo Góis

Cena carioca

Um economista carioca, morador da Zona Sul, já foi rendido por bandidos duas vezes na Tijuca, onde mora sua namorada. Em ambos os casos os bandidos o confundiram com um policial chamado Branco. Desfeito o equívoco, deixaram-no ir embora sem nada levar. Para se diferenciar do seu clone milico, o nosso herói deixou o cabelo crescer e tira os óculos toda a vez que chega à República da Tijuca.

Dolce far niente

Marco Maciel é amigo de fé. Conseguiu para o embaixador Renan Paes Barreto, de sua equipe na vice-presidência, ser o próximo cônsul em Chicago.

O Brasil talvez seja o país com maior número de embaixadores nos EUA. Parece ter um em cada esquina.

Nuremberg sempre

FH assina amanhã a adesão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional - uma espécie de tribunal de Nuremberg permanente, para julgar crimes contra a Humanidade.

Casos como o de Pinochet - preso na Inglaterra por ordem de um juiz espanhol - irão para esta corte.

Cuscuz mineiro

A sucessão mineira está enrolada para os tucanos. Tasso Jereissati pode desembarcar em Belo Horizonte, esta semana, para ajudar a encontrar uma saída. Até um mês atrás estava tudo certo: o ex-governador Eduardo Azeredo ia para o Senado e Aécio Neves disputaria o Palácio da Liberdade. Mas o presidente da Câmara mudou de idéia. Também quer o Senado.

Estréia aguardada

Paulo Coelho pode estrear no mundo da propaganda. Ao convite de Washington Olivetto para estrelar um filme do Unibanco, ele respondeu: "Nunca fiz comercial. Mas como o convite é seu e o roteiro, de muito bom gosto, periga eu fazer."

Atravessou

Mestre Louro, o chefe da bateria do Salgueiro, foi despedido ontem.

Depois de Jamelão, Louro é o maior vencedor do Estandarte de Ouro, do GLOBO.

Mais luz

O Brasil vai poder contar com um acréscimo de energia elétrica suficiente para abastecer uma cidade de três milhões de habitantes. A partir desta semana, sete turbinas de última geração, capazes de gerar 700 MW, estarão entrando em fase de testes nas térmicas de Macaé, Araucária e Termonorte, localizadas no Rio, no Paraná e em Rondônia, respectivamente. O investimento é da El Paso e ultrapassa US$ 1 bilhão.

Poluição sonora

Recém-inaugurada, a boite Dama de Ferro, novo reduto GLS na Vinicius de Moraes quase esquina da Epitácio Pessoa, em Ipanema, vem deixando os vizinhos insones. É bate-estaca de som techno a noite toda até o sol raiar.

Índio na Copa

O índio americano A. K. Tobrewala mandou uma carta ao embaixador Rubens Barbosa dizendo que poderia prever uma vitória do Brasil na Copa de 2002, desde que seja procurado para fechar um acordo. Parece coisa de espertalhão.

Prêmio Tim

O Movimento Rio de Combate ao Crime, que gerencia o Disque-Denúncia, lançou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo.

Os vencedores vão ganhar viagens e equipamentos, como microcâmeras, câmera digital e computadores.

Casa Cor indiscreta

A 12 edição da Casa Cor tem uma novidade para o público.

Parte do muro que cerca a sede da mostra - a mansão que pertenceu a Leonel Miranda, na esquina da Lagoa-Barra com Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon - será substituída por vidro.

Quem passar na rua vai poder admirar os jardins e a mansão projetada por Oscar Niemeyer.

Golpe na praça

Uma entidade denominada Sindicato Patronal das Empresas de Pequeno Porte do Estado do Rio de Janeiro está tomando dinheiro de empresários a título de contribuição confederativa.

Centenas de empresas têm recebido pelo correio uma boleta bancária para depósito de R$ 60 em nome do tal sindicato. A denúncia chegou à Firjan, que descobriu que o tal sindicato não tem nenhum registro no Ministério do Trabalho e, portanto, é totalmente ilegal.

Tim Lopes - saudade pessoal, admiração profissional.

O "Observatório da Imprensa" aborda hoje a morte de Tim Lopes. No programa, os jornalistas Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da TV Globo, o repórter Marcelo Rezende e Humberto Espínola, da Secretaria de Direitos Humanos.

Hoje o professor Joacil de Britto Pereira lança às 18h, no Clube dos Advogados, o livro "Ascendino Leite escritor existencial".

O filósofo húngaro István Mészáros fala hoje às 18h., na Uerj, com tradução simultânea.

COM ANGELA DE REGO MONTEIRO, ANA CLÁUDIA GUIMARÃES E MÁRCIA VIEIRA

Jornal do Brasil

11/06/2002

XCapa/Economia

Mudança em fundos de renda fixa deu lucro a bancos

Banco sai de fundo e lucra

Instituições financeiras escapam de perdas na renda fixa e ganham com alta de dólar e juros

Marcelo Kischinhevsky, Luiz Queiroz e Marise Lugullo

RIO E BRASÍLIA - A mudança nas regras dos fundos de renda fixa foi uma tacada lucrativa para um punhado de grandes bancos, que aproveitaram a chance para apostar na alta do dólar e dos juros. Enquanto orientavam pequenos investidores a não sair de suas aplicações, tentando minimizar a expectativa de perdas, estas mesmas instituições resgatavam seus próprios recursos de fundos exclusivos, reforçando suas tesourarias.

O dinheiro tinha destino certo: as aplicações em contratos de dólar e juros na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). O volume de contratos de moeda americana com vencimento em julho saltou de R$ 1,8 bilhão, no dia 27, para R$ 7,7 bilhões, no dia 29, quando foram anunciadas as novas regras para contabilidade dos títulos públicos que remuneram os fundos prefixados. O volume seguiu em alta até atingir, na última quinta-feira, R$ 11,6 bilhões. Quem saiu dos fundos e aplicou no dólar ganhou, em apenas dez dias, 4,8%. O investidor que não escapou a tempo amargou perdas médias de 1,5%.

Segundo especialistas ouvidos pelo JB, o reforço de caixa nas tesourarias ajuda a explicar por que alguns bancos de grande porte tiveram captação líquida negativa de até 6,2% do patrimônio de seus fundos, de acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Saldo negativo muito superior ao normalmente registrado nos últimos dias do mês, quando a captação negativa oscila em torno de 1,5%, devido ao pagamento de salários e fornecedores por parte de empresas que mantêm estas aplicações.

''As tesourarias dos bancos investiram pesado no dólar e nos juros futuros, já que desde setembro, quando os atentados nos Estados Unidos deixaram o mercado sem liquidez, não há intervenção do Banco Central. Hoje, uma ação do BC para forçar a queda das cotações parece altamente improvável'', disse Mário Paiva, analista da corretora Liquidez. ''A mudança nos fundos acabou com um dos últimos portos seguros para os investidores, que passaram a ter aversão aos títulos públicos e correram para o mercado futuro''.

Para Mário Paiva, as retiradas acima da média, inclusive nos dias anteriores à mudança, ''geram desconforto entre os investidores que tiveram perdas, porque são sinais claros de que houve informação privilegiada''. A captação negativa de R$ 1,8 bilhão na semana que antecedeu o anúncio das novas regras, o dobro do volume registrado no mês anterior, conforme revelou o JB, está sendo investigada pelo Ministério Público Federal.

A senadora Heloísa Helena (PT-SP) apresenta hoje requerimento para que o presidente do BC, Armínio Fraga, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, deponham na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). A tendência será unificar a sessão com a da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, que já fez pedido similar.

''Acho estranho que um mercado que sempre se diz frio, racional, possa ficar tão nervoso e histérico de uma maneira tão fácil. Não se justifica. A não ser que, de fato, existam pessoas ganhando com isso, através de informações privilegiadas. O Brasil precisa saber o que está acontecendo'', disse a senadora.

Mesmo que sejam aprovadas as audiências, o Congresso terá que esperar: Fraga está em Washington, participando de evento do Departamento de Assuntos Monetários e Cambiais do FMI. Ele voltará ao Brasil na quinta-feira, mas pretende passar o resto da semana no Rio.

Jornal do Brasil

11/06/2002

XColuna

Informe Econômico

Surpresa positiva

O BBV aposta suas fichas em um dado tranqüilizador para os investidores estrangeiros, a convergência entre os principais candidatos à presidência. Um grau elevado de independência para o Banco Central e um superávit primário nas contas públicas nunca menor a 3,5% do PIB figurarão, com nuances, nos programas dos presidenciáveis.

O relatório do banco espanhol surpreende ao elogiar explicitamente Guido Mantega, economista de destaque do PT, pela defesa do cumprimento integral de contratos.

Crescente mas pagável

A deterioração das expectativas encurtou os prazos da dívida pública para o ano que vem. O vencimento médio mensal projetado pulou de R$ 12,2 bilhões para R$ 13,5 bilhões. Preocupante, mas ainda bem abaixo dos R$ 18,6 bilhões deste ano.

Pragmatismo em alta

A confiança do BBV na moderação de um presidente eleito pela oposição explica-se pelas conseqüências de uma suspensão de pagamento ou rolagem compulsória da dívida externa. O risco Brasil pularia de imediato para uma faixa entre 1400 e 2000 pontos básicos, o que é incompatível com o crescimento econômico.

No plano interno, as restrições constitucionais a detenção ou seqüestro de bens inibem medidas de confisco. Faltaria ao novo Governo, também, apoio no Congresso suficiente para algo drástico.

Pronta pra decolar

A Embraer recebeu a confirmação de pedido de 22 aviões e uma opção sobre outros 30. A encomenda partiu de uma empresa regional de aviação que serve à Delta Airlines em vôos domésticos nos EUA. Firmados os pedidos, o faturamento chegaria a US$ 900 milhões. O maior contrato da companhia dirigida por Maurício Botelho, desde os atentados terroristas aos EUA, em setembro passado.

Roendo as unhas

Maior exportadora brasileira de manufaturados, a Embraer vive uma expectativa forte também no front interno. Amanhã, uma reunião ministerial coordenada pela pasta da Defesa debate as contrapartidas comerciais oferecidas pelos concorrentes da renovação da frota de caças da FAB. De aço a carne de porco, tem mercado para de tudo um pouco. A Embraer está com os franceses da Dassault, fabricante do Mirage.

Cautela e caldo de galinha

Devagar, cresce a corrente do Governo que defende adiar a decisão sobre os caças. Para o próximo mandato, como na TV digital.

Promessa urgente

O compromisso de respeitar contratos e não impor soluções extra-mercado por parte dos candidatos de oposição desarmaria grande parte da tensão prevalescente nos mercados. Com isso, seria possível uma transição mais tranqüila, e a queda do risco Brasil para patamares mais próximos aos dos demais mercados emergentes. O conselho de Octávio de Barros, economista-chefe do BBV, não é novo, coincidindo em linhas gerais com o que têm dito Armínio Fraga e Pedro Malan.

Novidade é que tem encontrado ouvidos cada vez mais atentos do lado da oposição.

Guerra do gás

As distribuidoras de gás liqüefeito de petróleo querem que a Petrobras reduza seus preços no atacado. Hoje, a estatal cobra o mesmo pela parcela produzida no Brasil (65%) e a importada (35%). A diferença por tonelada ultrapassa com freqüência os R$ 220. O que encarece o gás de cozinha.

Estréia adiada

A Promon Engenharia foi uma das empresas que desistiram na última hora da licitação de áreas promovida pela Agência Nacional de Petróleo. Problemas burocráticos, sugerindo uma volta em breve.

jb@.br

Jornal do Brasil

11/06/2002

XColuna

Coisas da Política

O papel dos jornais

Há 20 anos, um pouco mais talvez, Alberto Dines assinava uma coluna todos os domingos, na qual discutia, pioneiro e algo solitário, o papel dos jornais, sua influência, seus erros e acertos. Hoje, também quase só, Dines leva em frente o debate num programa de televisão e pela internet. Não raro, torna-se incômodo e impertinente.

Pudera: instrumentos de poder junto ao poder, elevados à condição de porta-vozes da sociedade, os veículos de comunicação permanecem à margem do processo de readaptação das instituições brasileiras à democracia e na correção das injustiças e hábitos nefastos nos diversos setores. Estão fora dessa discussão, a não ser como juízes, nunca como personagens.

Até mesmo pelas imperfeições que impedem o Estado de funcionar a serviço da população foi que a imprensa terminou assumindo tarefas que, em tese, não seriam dela: de delegacia de polícia a tribunal de pequenas e grandes causas - e, não raro, de inquisição, por equívoco de procedimentos -, jornais, revistas e televisões passaram a fazer de tudo. E também a serem demandados por tudo.

Afinal, dada a rapidez e amplitude da divulgação de informações, é na imprensa que os fatos reverberam e é nessa repercussão que o cidadão deposita sua esperança de solução. Nem sempre dá certo, mas nos últimos anos, entre mortos e feridos - no que concerne a reputações -, deixaram de se salvar muitos vivaldinos.

Natural, portanto, que nessa situação a imprensa adquirisse, como adquiriu, um poder e uma importância inéditos até então no Brasil. Conseqüentemente seria também natural que o papel dos jornais, das televisões e revistas fosse questionado pela sociedade, exposto à fiscalização. E aqui se fala de controle social, não de limitações.

Muito bem, mas a pretexto da fidelidade a uma antiga e superada norma, segundo a qual ''jornalista não é notícia'', corre frouxa a imprensa. Um tanto sem critérios, meio no piloto automático naquilo que seria a expectativa de leitores, ouvintes e telespectadores, eufórica em seu papel de paladina das boas causas.

Pois é neste item que residem vários problemas: vão desde a ineficácia das reparações, quando cometidas injustiças, até a ilusão da onipotência que faz, por exemplo, a emissora de televisão mais bem estruturada do continente deixar que um repórter assuma o papel de investigador de polícia.

E faz isso - note-se que aqui se usa esse exemplo por causa da morte de Tim Lopes, mas a TV Globo não está sozinha na prática, adotada pela maioria dos veículos de comunicação - sem a menor preocupação com a proteção do profissional, descaso que aciona a polícia só no dia seguinte ao sumiço do jornalista.

Quem, afinal de contas, pensamos que somos? Todos nós, sem recorrer à atribuição exclusiva de culpas às chefias ou aos proprietários, mas distribuindo essas responsabilidades também conosco que produzimos o material noticioso do dia-a-dia.

Para responder à pergunta acima - pensamos que somos seres acima do bem e do mal, do perigo, da violência e da injustiça - basta lembrar o quanto foi nos últimos anos valorizada a produção jornalística originada em procedimentos antes exclusivos de órgãos de informações e polícia: dossiês secretos, gravações misteriosas, filmagens às escondidas. Tudo isso confere premiações, jamais o questionamento da legalidade e legitimidade dos métodos.

Evidente que o jornalista fica, assim, estimulado a ir atrás do escândalo, seja de que maneira for, travestindo-se de qualquer coisa num caso pronto e acabado, no qual os meios justificam os fins: a reportagem. E nisso, estamos todos igualmente envolvidos.

Sob os olhos complacentes dos escalões superiores passa de tudo: do estagiário que apresenta-se à possível fonte com identificação falsa, aos ávidos caçadoras de dossiês, muitas vezes inocentes úteis nas mãos de bandidos cujos interesses foram contrariados, seja por gente honesta, seja pelo bando adversário.

E já que perdemos Tim - que não pertencia à categoria dos deslumbrados, dos oportunistas nem dos inocentes, estava era cansado dessa guerra - pelo menos que não percamos a oportunidade de olhar no espelho com um pingo do senso crítico que usamos para esquadrinhar a conduta do alheio.

Falta de prática

Inadequadas, tolas e principalmente despreparadas as palavras do candidato de PSB, Anthony Garotinho, numa palestra com empresários, sobre a colunista Míriam Leitão. Garotinho reclamou das posições da jornalista e até aí exerceu seu direito à opinião.

Ao partir para ofensas e juízo de valor, no entanto, mostrou que não sabe conviver com o exercício à opinião, um ramo do jornalismo em que é livre o arbítrio do profissional, observados o bom senso, a educação e o respeito. Características que, aliás, deveriam ser pré-requisitos a candidatos à Presidência da República.

dkramer@.br

Jornal do Brasil

11/06/2002

XColuna

Informe JB

Rede segura

O Superior Tribunal de Justiça decidiu, ontem, que a venda online de automóveis zero-quilômetro é totalmente garantida pelas montadoras.

Se a concessionária falir ou descumprir o contrato fechado através da internet, o fabricante do veículo terá de honrá-lo.

Entregando o modelo escolhido no prazo acertado, sem mais, nem menos.

A toque de caixa

Sexta-feira, a Câmara dos Vereadores concedeu ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, o título de Cidadão Benemérito do Rio. Dia 4, proposta idêntica foi bombardeada no plenário.

Deu zebra

O Ministério Público federal investigará a Conab.

A estatal é alvo de denúncias envolvendo o transporte e a armazenagem de produtos agrícolas.

Uma das operações suspeitas foi a compra de cerca de 1,5 milhão de sacos de juta.

O preço pago estaria acima do sugerido pela área técnica da empresa.

Muito afinados

O Exército brasileiro e o novo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe Valez, tem algo em comum.

É que enquanto o primeiro tem por slogan Braço forte, Nação amiga, o último se elegeu pregando a máxima Mão firme, Coração forte.

Drink perigoso

Ano passado, 388 mil pessoas se internaram em clínicas psiquiátricas conveniadas ao SUS.

Deste total, 84 mil apresentaram transtornos mentais decorrentes do uso absusivo de álcool.

Foram registrados 295 óbitos em decorrência deste problema.

A caminho

Chefe do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da República, o general Alberto Cardoso receberá, mês que vem, sua quarta estrela no Exército.

A Firjan negocia com o governo do Estado do Rio a cessão do Palácio Rio Negro, em Petrópolis.

Se tudo der certo, no prédio neoclássico feito em 1889 funcionará uma escola de restauradores, entre outras atividades.

Cores do Brasil

Recife, Brasília e SP serão as capitais que receberão a exposição com obras do pintor Albert Eckhout, cujo destaque serão 24 imensos quadros do Brasil do século 17 pertencentes ao Museu da Dinamarca.

Retratos do Novo Mundo começa dia 11 de setembro, no Instituto Brennand, no Recife.

Água turva

Ambientalistas estão denunciando o aparecimento de manchas de óleo na região da Bacia de Campos.

A extensão e a quantidade de locais poluídos, que podem ser vistos por satélite, sugerem a necessidade de uma investigação. Mas, parece que tem gente esperando uma tragédia.

Coisa feia

A polícia japonesa relacionou os brasileiros em segundo lugar numa estatística sobre pequenos crimes cometidos por estrangeiros naquele país.

Os chineses ficaram no topo do pódio.

A maioria dos delinqüentes é de filhos de japoneses que moram no Brasil.

Outro pedido

Após obter do governo sinal verde para importar pesqueiros usados, os empresários do setor preparam nova tacada.

Em audiência ainda este mês com o presidente FH, pedirão imposto zero para a compra de óleo combustível para os barcos que vão operar além das 12 milhas da costa.

Ensino da arte

A Firjan negocia com o governo do Estado do Rio a cessão do Palácio Rio Negro, em Petrópolis.

Se tudo der certo, no prédio neoclássico feito em 1889 funcionará uma escola de restauradores, entre outras atividades.

O médico Jorge Darze recebe logo mais a Medalha Tiradentes, na Alerj.

Hoje, na Uerj, haverá palestra do filósofo húngaro István Mészáros.

O argentino Fito Paez faz show hoje, no Canecão.

Hoje, a pedido do tricolor Francisco Dornelles, que não estará em Brasília, o deputado Márcio Reinaldo lerá na Câmara a saudação aos cem anos Fluminense.

Também hoje, no Carpe dien, Janson Tersio autografa A espada e a palavra, biografia de Jorge Tavares.

Um dos maiores pianistas de jazz do mundo, Chucho Valdèz toca de 26 a 29, em SP. A seu lado estará Ed Motta.

Com Ronaldo Herdy

O Estado de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

JOELMIR BETING

Medo da ordem?

"O Estado moderno não deve ser máximo nem mínimo. Ele tem de ser, necessariamente, de tamanho ótimo"

José Maria de Jesus, catador de papéis

A responsabilidade social tem de prevalecer sobre a responsabilidade fiscal. Certo? Errado. Essa reiterada prioridade de palanque carrega 30% de demagogia e 70% de ignorância. Emitida por candidatos e assessores que não têm noção da própria (in)competência. E os incompetentes que se apresentam como salvadores da pátria deixam de ser honestos. Eles são uma fraude.

O ditame da responsabilidade fiscal, finalmente transformada em lei - que prefiro chamar de Lei de Responsabilidade Moral -, é o fator condicionante. O exercício da responsabilidade social é o fator condicionado. Sem o primeiro, o segundo não se sustenta por um trimestre. Muito menos, por um mandato.

Ou se preferem: o artigo primeiro do estatuto da responsabilidade social está, justamente, no cumprimento ao pé da verba do diploma da responsabilidade fiscal. Sanear e manter em ordem as contas públicas é garantir os meios para a realização das metas.

O saudoso conselheiro Acácio, filósofo e semiólogo, costumava advertir, nos idos da Velha República (quando só 3% dos brasileiros votavam para presidente), que nos tratos da coisa pública a soma das partes não pode ser maior do que o todo. Essa revolta política contra a aritmética orçamentária é que está na raiz de todos os vícios e desvios do Estado contemporâneo - no Brasil e no mundo.

A irresponsabilidade fiscal pode ter mil explicações, mas nenhuma justificativa. Ela estiola governos que não se governam, não se deixam governar e, fechando a roda da gastança pública, não conseguem governar.

O problema de fundo é que a boa gestão das contas públicas, sem vazios nem desvios, sobre ser uma exigência moral, demanda competência técnica e sabedoria política. Ou seja: as duas moedas mais escassas, historicamente, da administração pública. Até porque é bem mais fácil ou ligeirinho martelar o discurso ladino que coloca o carroção da responsabilidade social à frente da parelha da responsabilidade fiscal.

Para os posseiros dessa clicheria ideológica, as práticas da responsabilidade fiscal não passam de uma capitulação tecnocrática ao "modelo neoliberal". Modelo importado do salão oval da Casa Branca e patrulhado pelo olho de vidro do FMI. Sim, o FMI tem um olho de vidro, o direito. Que tem mais calor humano que o olho natural, o esquerdo.

Afinal, quem tem medo do saneamento tardio de nossas contas públicas? Aqueles que imaginam e proclamam que a nova Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), escoltada pela velha Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), nada mais é que uma camisa-de-força que o governo que sai amarra no tronco do governo que entra. Ou quem ainda reza uma doutrina política instalada no Planeta Marte, distante 78,3 milhões de quilômetros deste nosso vale de lágrimas.

SECOS & MOLHADOS

Evolução - Pensando bem, estamos evoluindo. Confesso que jamais imaginei que algum dia a questão fiscal viesse a competir nas raias eleitorais com inflação, recessão, desemprego, saúde, educação, pobreza, violência. Até parece que estamos na Suécia.

Sem retorno - O afluente interesse popular pelos assuntos fiscais tem a ver com nosso crescente garrote tributário. Ou com a percepção coletiva de que o abusivo tamanho da carga fiscal tem sido agravado pela má qualidade de seu retorno social.

Distraídos - O despertar da cidadania sobre matéria fiscal ainda não foi captado pelos presidenciáveis e respectivos marqueteiros. Estes, como bons vendedores de xarope, preocupados mais com a embalagem do que com o conteúdo.

Da matilha - O diabo é que essa nova cobrança do eleitorado já foi encaixada pelos especuladores da dívida pública cavada pelo déficit público. Uma insaciável matilha de terroristas financeiros, os nacionais e os estrangeiros.

O Estado de S.Paulo

11/06/2002

XCapa/Nacional

Governo resiste a rever cortes após votação da CPMF

Apesar da pressão do Congresso, a equipe econômica não está disposta a desbloquear de imediato as verbas do Tesouro assim que a CPMF for aprovada

Governo resiste à pressão para abrir cofres

Parlamentares querem que recursos sejam liberados logo depois da aprovação da emenda da CPMF, mas equipe econômica mantém cautela

LILIANA LAVORATTI

BRASÍLIA - Apesar da pressão do Congresso para que o governo desbloqueie as verbas do Tesouro assim que a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) for aprovada, a equipe econômica não está disposta a abrir os cofres.

Em meados de maio, foram bloqueados R$ 5,3 bilhões.Deles, sobraram agora R$ 3,8 bilhões, já que R$ 1,5 bilhão não será devolvido aos ministérios nem com o fim da noventena- a suspensão do prazo de noventa dias entre a aprovação da contribuição e o início de sua cobrança.Esse dinheiro foi usado para cobrir a expansão de despesas de pessoal (R$ 1 bilhão) e do aumento do déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Não está mais no Orçamento.

O governo pretende ir liberando esses R$ 3,8 bilhões que sobraram à medida em que a arrecadação for sendo confirmada, a partir do dia 18, quando a nova cobrança for autorizada por lei.

Além do temor ainda existente na equipe econômica de que a cobrança ininterrupta da CPMF seja questionada na Justiça, há outro dado que preocupa o governo: a estagnação na arrecadação de alguns tributos. O desbloqueio das verbas orçamentárias será feito com cautela para não pôr em risco o cumprimento da meta de resultado das contas da União em 2002 - que terá de gerar R$ 36,7 bilhões de superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros da dívida), incluindo as estatais federais. O superávit primário é o principal instrumento fiscal de controle da relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB), hoje em torno de 55%.

"Votada e promulgada a CPMF sem interrupção da cobrança, desaparecerá uma das razões do bloqueio do dinheiro e isso será levado em consideração pelo governo para a liberação dos recursos retidos", afirmou ontem o líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), ressaltando que outras razões econômicas exigem a prudência da área econômica.

O presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), disse que vai fazer coro com os que reivindicarem a liberação dos recursos necessários para áreas que ele considera prioritárias, como investimentos no campo social, estímulo ao emprego e melhoria das estatais.

Estagnação - Apesar do crescimento global das receitas, de 23,58% de janeiro a abril, em oposição ao mesmo período de 2001, há uma preocupação real com a estagnação das receitas de alguns tributos. "Esse incremento da arrecadação está se dando por causa de receitas extraordinárias, como o pagamento do Imposto de Renda por parte dos fundos de pensão, mas, em contrapartida, vários outros itens das receitas estão caindo", disse Madeira.

Entre eles estão o Imposto sobre Produtos Industrializados e o Imposto sobre Produtos Importados. A queda foi influenciada pela redução na atividade econômica e por mudanças na legislação. O governo também contabiliza como perda os R$ 3,7 bilhões que vão deixar de entrar nos cofres da Receita por causa da correção de 17,5% da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).

Em 7 de julho se encerra o prazo para o governo federal repassar recursos orçamentários aos Estados e municípios por meio de convênios, conforme prevê a Lei Eleitoral. Somente até 31 de julho os ministérios poderão comprometer o total de R$ 2 bilhões do Orçamento de 2001 que ficou para ser pago neste ano - os chamados "restos a pagar".

Segundo Madeira, antes de definir o montante que será desbloqueado nas próximas semanas, a equipe econômica fará uma reavaliação completa da arrecadação.

A recomposição das verbas será feita somente em cima dos R$ 3,8 bilhões estimados com a interrupção da CPMF entre 18 de junho e 18 de setembro, caso a noventena permanecesse. Entre os fatores que fazem o governo ter cautela na recomposição das verbas está o temor de a noventena ser suspensa por liminar enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não julgar a questão. Se isso ocorrer, a arrecadação será prejudicada.

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

PAINEL S.A.

Insustentável

A indústria de alimentos não conseguiu manter o crescimento registrado em março, quando a produção subiu 13%, e as vendas, 10%, sobre fevereiro. A Abia, associação do setor, acaba de divulgar os números de abril. A queda foi de 7% na produção e 12% nas vendas em relação a março.

Dentro do previsto

Denis Ribeiro (Abia) diz que o resultado não interfere na projeção de 3% de crescimento para o ano. No acumulado em 12 meses, o setor ainda registra um aumento de 3,5% na produção e de 3% nas vendas.

Na torcida

Os empresários do comércio exterior esperam que os auditores fiscais da Receita Federal decidam por encerrar amanhã a paralisação do setor. Nos últimos dias, a Abracex estima um represamento de 80% do movimento corrente do comércio exterior de US$ 400 milhões/dia.

Beleza americana

Uma missão de empresários brasileiros do setor de higiene e beleza desembarca nesta semana nos EUA, para conhecer a "Market Place Conference". O evento recebe compradores que distribuem os produtos para mais de 73 mil pontos-de-venda nos EUA, um mercado de US$ 320 bilhões.

Faro fino

A Endeavor irá promover em setembro mais uma seleção para identificar a próxima geração de líderes de negócios do país. A ONG busca promover o desenvolvimento socioeconômico com o empreendedorismo.

Gole chinês

Empresários dos setores da agricultura e de café estiveram com empresários chineses para estudar parcerias. O consumo anual de café na China equivale ao consumo brasileiro de uma semana, 300 mil sacas.

Geladeira cheia

O consumo de refrigerados (iogurtes, petit-suisses, sobremesas prontas e leite fermentado) aumentou 20% apenas no primeiro quadrimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2001. O setor vendeu 77,1 mil toneladas neste quadrimestre, segundo a LatinPanel.

Controle

A Cia. Suzano de Papel e Celulose acaba de fechar os valores para investimentos em controle ambiental. O setor vai receber 30% dos US$ 100 milhões que a empresa vai investir na atualização tecnológica e no aumento de produtividade de sua fábrica em Suzano (SP).

Na briga

Para fazer frente aos concorrentes Novalgina e Tylenol, a linha Dôrico acaba de colocar no ar uma campanha de R$ 2,2 milhões, assinada pela Publicis Norton. O objetivo é aumentar em 25% as vendas da marca.

Líder

A Fiat Allis (CNH Global) fechou maio na liderança do mercado nacional de equipamentos para infra-estrutura e construção, com 153 máquinas vendidas, o equivalente a 28% das vendas em todo o Brasil.

Tipo exportação

Depois de chegar aos EUA, a brasileira Procwork, consultoria de tecnologia da informação, entra em mais cinco países: Espanha, Polônia, Coréia, Venezuela e Argentina.

ANÁLISE

Sob ameaça

Depois dos últimos números da pesquisa eleitoral e da conferência do BC com investidores externos na sexta-feira, o mercado esperava para ontem uma queda significativa do dólar. O fato de o dólar ter se mantido estável em relação a sexta-feira mostra que a situação não está tão calma quanto se imaginava. O economista Octavio de Barros, do BBV Banco, acha que, se não houver uma queda do dólar nos próximos dias, isso poderá comprometer a tão esperada redução dos juros na próxima reunião do Copom, apesar de a inflação estar em queda livre.

NO MERCADO

A recuperação da Bovespa ontem beneficiou quase todas as principais ações. Dentre os papéis que caíram, as baixas registradas foram modestas. Quem mais perdeu foi o papel preferencial da Bradespar, com queda de 1,6%.

FRASE

"O crescimento da economia não será fantástico, mas pode ficar acima de 2%"

Ilan Goldfajn, BC

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

LUÍS NASSIF

Marketing das eleições

Os grandes matemáticos e estatísticos talvez consigam, algum dia, quantificar e estabelecer um padrão para as grandes ondas da opinião pública, caminhando em uma ou outra direção. Mas o princípio que leva presidentes a experimentar essa montanha-russa de um período de popularidade, seguido de outro de desgaste, é o mesmo dos mercados de ativos, especialmente de ações ou papéis de países.

No mercado não se considera nenhum papel bom em si. Ele é caro ou barato. Um papel barato -aquele cujo preço é inferior ao da percepção do mercado- tende a ser valorizado, bem visto, entrando em uma espiral de alta que quase sempre leva ao "overshooting" -uma valorização maior do que a que o mercado comportava.

A partir daí, o mesmo papel passa a ser visto como caro e a sofrer um processo de depreciação. Qualquer evento impacta negativamente o papel, ocorrendo uma desvalorização maior do que o mercado esperava e provocando, no momento seguinte, um novo movimento de valorização.

Obviamente não são todos os papéis nem todos os políticos que passam por esse processo. Há um tipo específico de ativo e de político de maior volatilidade. Assim como existem aqueles políticos alçados à condição de "blue chips" ou de "lixo", que ficam imunes a oscilações.

A campanha eleitoral tem sido típica desse processo. Tome-se FHC. Em um certo momento, estava "barato". Quando ocorreu o caso Lunus, caiu a ficha da opinião pública sobre o fim dos coronéis, e ele foi revalorizado. O evento deflagrou um processo de reavaliação que tornou FHC "caro". Provocou um "overshooting", como diriam os analistas financeiros. O aumento da crise econômica, da inadimplência e do desemprego fez o pêndulo voltar rapidamente.

Essa mesma curva, mais cedo ou mais tarde, vai afetar todos os candidatos. Até o momento apenas Lula tem se mantido estável, porque o jogo se dá em torno da segunda alternativa à Presidência. Mas também não escapará desse processo quando a campanha começar.

Os movimentos da candidatura Serra são típicos dessas ondas. A candidatura começou pequena, deu um salto. Aí, em razão do caso Lunus e um conjunto de denúncias, entrou em baixa, e retomou o movimento de alta na última semana. Agora está em maré alta, com vento a favor. Mas haverá novas ondas até as eleições.

Nem se pode dizer que é uma denúncia ou outra que inverte o movimento do pêndulo. Talvez as denúncias surjam em razão desse processo, já que os fatos e boatos envolvendo todos os candidatos estão aí, ao alcance de todos. A mídia molha o dedo, coloca ao vento, percebe que é hora e solta o dossiê contra o candidato A ou B. Outros vão atrás, aí se percebe que se avançou muito, começam as reações de leitores, e o pêndulo retorna para a outra ponta.

Ninguém tem a fórmula nem o compasso para avaliar o tempo de cada movimento. Se tivesse, cada marqueteiro trataria de trabalhar cientificamente seu candidato para que o "overshooting" para cima ocorresse no dia das eleições.

Mas é inegável que a falta de sensibilidade para esses movimentos já matou muitas candidaturas. Lembro-me bem da candidatura Erundina (então no PT) para a Prefeitura de São Paulo. Até poucos dias antes praticamente não existia. No dia das eleições, fui com minhas filhas votar, elas com pouco mais de dez anos, e só falavam em Erundina para cá e para lá. O resultado das eleições pegou quase todos os institutos de surpresa. Talvez, se a eleição demorasse um pouco mais, o pêndulo tivesse invertido.

De qualquer modo, como não existem ainda fórmulas matemáticas precisas para prever esses movimentos, mais do que nunca o marketing das campanhas dependerá da intuição e da arte dos estrategistas.

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XCapa/Dinheiro

Eletropaulo ressucita contas de até dez anos

ENERGIA

Eletropaulo cobra contas que já caducaram

Distribuidora multiplica valores irrisórios sobre serviços prestados antes da privatização; Procon vê irregularidades

JOÃO BATISTA NATALI

DA REPORTAGEM LOCAL

A Eletropaulo está cobrando de consumidores de energia elétrica contas supostamente pendentes desde o período anterior a sua privatização, em abril de 1998.

Alguns valores irrisórios transformaram-se ao longo dos anos em quantias bem maiores. O equivalente a R$ 0,01, em 1992, passou a R$ 26,89, o que é bem superior ao autorizado em atualizações de dívidas judiciais.

A Eletropaulo, em nota, nega estar cometendo irregularidades e afirma estar aplicando corretamente as normas em vigor (leia texto ao lado).

A cobrança é feita por empresas terceirizadas que ameaçam os consumidores de incluir seus nomes na lista negra do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) caso não paguem a alegada dívida.

Segundo o Procon, a Eletropaulo está cometendo pelo menos três irregularidades:

1) a resolução 456/00 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), publicada em novembro de 2000, diz em seu artigo 76 que deixam de existir a partir daquela data dívidas pelas quais as concessionárias não se mobilizaram na cobrança. Como, por exemplo, tentar o pagamento por meio da conta do mês seguinte;

2) o Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 6 e 41, exige clareza no preço dos serviços prestados. Uma suposta dívida de anos não pode reaparecer de uma hora para outra;

3) ameaça de sujar o nome do cliente no SPC não tem fundamento, porque, mesmo havendo inadimplência, serviço de eletricidade não se confunde com contrato de crédito.

Abuso

O Procon, segundo Fátima Lemos, técnica da área de serviços, vê indícios de "prática abusiva" e informou que procurará resolver a questão por meio de procedimentos administrativos. Não cogita por enquanto em acionar o Ministério Público.

Importante: o Procon não aconselha que os clientes da Eletropaulo deixem de pagar o que vem sendo cobrado e corram o risco de ter a energia cortada. Mas os orienta que peçam liminar nos juizados especiais ou que acionem a Comissão de Serviços Públicos de Energia (tel. 0800-555591), da própria Aneel.

Desconhecimento

A história é estranha porque os consumidores desconheciam a existência de qualquer dívida para com a companhia de energia elétrica.

Outra esquisitice está nos critérios de atualização da dívida alegada. Alguns exemplos.

Em janeiro de 1998 uma madeireira da zona leste de São Paulo supostamente devia R$ 213,67. A Eletropaulo quer agora R$ 735, quando pela tabela do Judiciário a dívida deveria ser bem menor: R$ 279,07.

Em fevereiro de 1997 um apartamento do bairro de Perdizes supostamente gastou R$ 9,23. A Eletropaulo exige agora R$ 36,56, quando pela mesma tabela a dívida deveria ser de R$ 12,50.

Colaborou Mauro Zafalon, da Redação

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

PAINEL

Ideal governista

Serra acredita que no início do horário eleitoral a campanha já estará definitivamente polarizada entre o PT e o PSDB. Para isso, o tucano espera diminuir a diferença entre ele e Lula em cerca de seis pontos percentuais (hoje está 40% a 21%), deixando Garotinho e Ciro para trás.

Mau-olhado

Apesar de estar em terceiro lugar nas pesquisas, Garotinho (PSB) não é considerado mais um problema pelo PSDB. O partido acha que sua candidatura se esvaziará naturalmente.

Fator marqueteiro

Ciro (PPS) é, na avaliação do PSDB, o único que poderia disputar com Serra a outra vaga no segundo turno (a primeira seria de Lula). Mas, para isso, dizem os tucanos, precisaria melhorar significativamente a qualidade dos seus comerciais na TV.

Brincadeira de garoto

Garotinho tem dito no PSB que herdará os cerca de 10% de votos que Lula deve perder até a eleição, o que seria, segundo ele, suficiente para levá-lo ao segundo turno contra o petista: "Eu e o Lula estamos em uma gangorra. Se um desce, o outro sobe".

Eterno admirador

Candidato a vice na chapa de Ciro Gomes, Paulinho disse a tucanos que, se FHC fosse o candidato do governo, não teria dúvidas e votaria nele pela terceira vez. "Mas com o Serra não dá."

Infiltração tucana

Secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, substituirá Paulinho na presidência da central. O primeiro vice, Melquíades Araújo, não assumirá o cargo, pois pretende disputar a eleição. Deve ser o suplente na chapa do tucano José Aníbal (SP) ao Senado.

Comparação de campanha

No comitê de campanha de José Serra, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, só é chamado de Gustavinho Franco.

Sustos programados

A cúpula do PT atribui ao "terror econômico" a queda de Lula no Datafolha. Para a sigla, o discurso governista de que uma vitória da oposição transformaria o Brasil em uma Argentina está dando resultado e afastando parte do eleitorado não-petista que pensava em votar em Lula.

Calmante televisivo

Parte da cúpula do PT defende que o partido use as propagandas eleitorais a que terá direito até o fim do mês para mostrar que a crise econômica é causada pelo governo FHC e que, em uma eventual gestão Lula, todos os compromissos econômicos do Brasil seriam cumpridos.

Nos acréscimos

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, deve adiar o anúncio da posição do seu partido nas eleições, previsto para hoje. Quer mais tempo para convencer a sigla a apoiar Lula. Ontem, previa que a chance de a coligação sair era de 80%.

Cabeças quentes

Valdemar e José Alencar se reunirão hoje com José Dirceu (PT) para acertar problemas regionais que impedem a aliança. Um problema foi resolvido ontem: o PL indicará o vice de Avenzoar Arruda, candidato do PT, ao governo da PB.

Dia seguinte

O ex-governador Adauto Bezerra (PFL-CE) declarou apoio aos tucanos Lúcio Alcântara e Tasso Jereissati na eleição do Ceará. Detalhe: Tasso lançou sua primeira candidatura ao governo, em 1986, para derrotar o "coronelismo" de Bezerra.

Sem retratação

Abordada por um grupo de sociólogas sobre sua manifestação de apoio a Lula, Erundina (PSB) disse que Garotinho é "imaturo e voluntarista" e "usa a religião com fins eleitorais".

TIROTEIO

Do líder do governo Alckmin na Assembléia de SP, Duarte Nogueira, sobre o PT-SP acusar o PSDB de usar a máquina pública na campanha:

- O PT tem dois réus confessos nesse assunto: o secretário João Sayad, que admitiu o desvio de R$ 2,7 mi da saúde para fazer propaganda de Marta, e Antônio Palocci, coordenador do programa de governo do Lula e prefeito de Ribeirão Preto, que aumentou em quase 500% os gastos com publicidade.

CONTRAPONTO

Esforço vão

Na última quinta-feira, o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, cumpriu uma maratona de eventos na Câmara dos Deputados.

Compareceu a um encontro com associações de aposentados, passou pelo Congresso Nacional de Meninos e Meninas de Rua e, antes de ir embora, ainda participou de uma reunião do movimento negro.

No encontro dos aposentados, Lula discursou sobre a política previdenciária em um eventual governo do PT.

Enquanto Lula falava, dois aposentados conversavam:

- Aquele lá não é o Lula?

- Não sei, eu não consigo enxergar direito.

- Então vamos ouvir o discurso para descobrir se é o Lula.

Os dois ficaram em silêncio. Segundos depois, um aposentado disse ao outro:

- Não adianta, eu também não consigo ouvir direito...

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

CLÓVIS ROSSI

Os limites do presidente

SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou dar uma palavrinha à Globo, no domingo à noite, a propósito do assassinato do jornalista Tim Lopes. Melhor seria ter ficado quieto.

O presidente começou dizendo que as coisas haviam "passado do limite". Exatamente o mesmo que dissera meses atrás, quando do sequestro e posterior assassinato do prefeito Celso Daniel (Santo André, PT).

Não, presidente, a violência no Brasil não passou do limite agora ou no início do ano. Já havia passado quando o senhor se candidatou, tanto que um dos cinco dedos de sua mão espalmada na campanha de 1994, simbolizando as prioridades, representava a segurança.

De lá para cá, a situação nesse terreno só fez piorar. Como já não há mais tempo para que seu governo faça alguma coisa de realmente significativo em matéria de segurança pública, seria mais honesto se, em vez de dizer "passou do limite", o senhor dissesse: "Fracassei".

Na grande maioria das outras áreas, o seu governo pode ser definido com a surrada imagem do copo meio cheio, meio vazio. Na segurança, não. É um copo definitivamente cheio, mas cheio de veneno. É uma área em que as coisas estão hoje piores do que estavam em 1994.

O veneno é tão corrosivo que Constança Guimarães, assessora de imprensa do Sebrae-SP, escreve para contar que foi roubada (dinheiro e celular) ao sair para trabalhar ontem cedo no ex-tranquilo bairro da Aclimação. Pergunta se conseguirá ensinar à filha que "a vida dela não passará dentro de portões e de carros".

Pois é, presidente, no seu governo, em vez de reduzir a violência, como prometeu na campanha, o senhor, com inestimável ajuda dos governos estaduais, permitiu que a violência reduzisse o direito sagrado e constitucional de ir e vir dos brasileiros.

Pode haver mais redondo fracasso?

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

ELIANE CANTANHÊDE

O caos

BRASÍLIA - O desemprego é alto, o dólar sobe, a dívida multiplica e, vira e mexe, aparece alguém acenando com o fantasma da Argentina.

Enquanto isso, o que fazem as cúpulas das campanhas presidenciais? Pode-se imaginar que façam propostas, sugiram alternativas, pensem em ações preventivas desde já. Errado.

O que as campanhas dos presidenciáveis analisam hoje, especialmente as de Lula e de Serra, é qual deles perde e qual deles ganha com a ameaça de caos. Dane-se a crise. O que importa é o efeito político-eleitoral dela.

Depois do Datafolha de domingo, em que Lula caiu três pontos e Serra subiu quatro, ficou mais grave. Os gênios de marketing só pensam naquilo: para quem o pior é melhor.

Lula se beneficia caso a coisa piore e a ira popular (e eleitoral) caia na cabeça de Serra? Ou, ao contrário, Serra se beneficia com o pânico difuso de que, com Lula, tudo desande mais dramaticamente?

Na verdade, não há resposta para isso. Depende do freguês, do momento, de bater na tecla, do que acontecer, do grau de ameaça ao país e ao eleitor, diretamente. Como ainda não há certezas, o resto é chute.

Clóvis Rossi deu uma bola dentro ao entrevistar o megainvestidor George Soros, e Soros deu uma bola fora ao chutar que a eleição de Lula vai mergulhar o Brasil no caos e enfatizar que esta é uma "profecia que se autocumpre". Algo meio religioso, místico, questão de fé. Assombroso.

Alternância de poder, ou a possibilidade real dela, não significa o caos. É apenas uma premissa da democracia. O oposto é típico de ditaduras, quando as oposições até disputam, desde que não ganhem.

Mas, enfim, viver é aprender. E, enquanto se discute a quem o caos interessa, já se sabe a quem interessa alardear o caos. A Soros e à gente dele, por exemplo, certos de que "só americano vota, brasileiro não vota".

É por essas e por outras que o deputado José Genoino (PT) desabafa: "O duro não é concorrer com o Serra. É concorrer com o sistema".

Pelo visto, um sistema global.

Folha de S.Paulo

11/06/2002

XColuna

CARLOS HEITOR CONY

Estado paralelo

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, ficou provada a existência de um Estado dentro do Estado. O pessoal do crime organizado (expressão-ônibus que inclui o tráfico, o contrabando, as quadrilhas da violência urbana e rural, os sequestradores e a turma dos arrastões) prendeu, julgou, torturou e matou um jornalista que exercia o seu papel profissional num morro aqui do Rio.

A governadora Benedita da Silva pediu desculpas à família do jornalista em nome do Estado que não controla o Estado paralelo criado pelos criminosos. O problema não é exclusivo do Rio, atinge igualmente São Paulo e, eventualmente, outras grandes cidades.

O que chamou a atenção na hediondez desse crime foi o fato de os três principais suspeitos do trucidamento de Tim Lopes serem manjados tanto no setor policial como no judiciário. Os três já foram presos várias vezes, sendo que o chefe deles foi solto recentemente por "bom comportamento" carcerário.

Isso mostra a fragilidade do Estado legal na guerra civil que já existe dentro de nosso território físico e espiritual. Temos leis que procuramos respeitar, leis que abrem centenas de brechas e dão uma vantagem operacional ao adversário que se soma à vantagem material de que ele já dispõe, com armamentos e recursos que faltam à polícia e ao Judiciário.

Acredito que não vá ser pelo aumento de recursos que vamos vencer a guerra civil que se instalou entre nós. Sabemos que a proibição somada ao intenso e progressivo uso da droga pela sociedade como um todo, não sendo a causa única, é a mais importante no atual estágio da luta. Os males advindos da liberalização da droga poderão ser muitos, mas bem menores do que os causados pela proibição.

Afinal, droga liberada só prejudica quem a usa. Droga proibida mata inocentes, pode matar qualquer um de nós.

Valor Econômico

11/06/2002

XColuna

Política

Pátria de pijamas, mas decidindo voto

As convenções partidárias realizadas ontem, do PSB e da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), eliminam duas incertezas do processo eleitoral brasileiro e sustentam outra. Fora de questão ficam as candidaturas de Anthony Garotinho e Ciro Gomes. Contra tudo e contra todos, os ex-governadores do Rio e do Ceará apostam em sua capacidade de chegar ao segundo turno das eleições. Os partidos que os sustentam queimaram ontem as caravelas que podiam conduzir os de esquerda a uma frente histórica e os conservadores do PTB de volta ao leito do governo que sempre apoiaram.

A incerteza que resta é quanto ao desempenho da candidatura oficial, do senador José Serra. Se Garotinho e Ciro permanecem candidatos, a essa altura, é porque as forças que neles investem duvidam da capacidade de Serra chegar ao segundo turno, contra Lula da Silva. Diante das pesquisas de intenção de votos, não parece uma aposta segura. Da mesma forma, não se pode tomar como profecia a crença de que Lula perde para qualquer um, chame-se este um Ciro, Anthony ou José.

É pouco provável que Garotinho supere Serra disputando o espaço da oposição, ou que Ciro Gomes consiga o mesmo vendendo a imagem de alternativa confiável ao governo. Parece cristalino que o senador do PSDB é o legítimo representante das forças no poder, apesar de nuances e divergências, e que Lula é o representante político e ícone eleitoral dos que a estas forças se opõem.

Tudo bem que Ciro e Garotinho apostem na possibilidade de crescer em agosto quando começa o minguado período de propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na televisão. A experiência recente, no entanto, não recomenda esse tipo de lance. Também desqualifica o mito de que, durante a Copa do Mundo de futebol, o brasileiro aliena-se da política, da economia e da vida social.

Desde que, em 1994, estabeleceu-se a coincidência das eleições presidenciais, estaduais e legislativas com a realização da Copa do Mundo, foi exatamente nesse período lúdico que a massa do eleitorado definiu as curvas de intenção de voto para presidente. O quadro mostra que, em 1994, Lula entrou em campo com 34% das intenções, de acordo com o Datafolha de 13 de junho. Atropelado pelo real, estava praticamente eliminado ao final do torneio: tinha 32% das intenções em 25 de julho, dez dias depois da final contra a Itália.

A ultrapassagem de Lula por Fernando Henrique deu-se em plena copa dos Estados Unidos. Em 1998, quando começou a Copa da França, Fernando Henrique estava em seu ponto mais baixo das pesquisas Datafolha: 33% em 8 de junho. Além da Copa e do câmbio camarada do doutor Gustavo Franco, o Brasil acompanhava os desdobramentos da crise financeira na Rússia. Quando Ronaldinho (o Nazário do Felipão) teve aquele piripaco e a seleção amarelou, FH já batia Lula por 42% a 26%.

Num caso e no outro, a propaganda eleitoral obrigatória quase nada alterou os humores do eleitorado. As tendências cristalizaram-se enquanto a bola rolava. Em 1994, com uma seleção medíocre, porém campeã, e a economia em crescimento. Em 1998, um time quase emocionante, mas ilusório como a cotação do real.

O que se quer demonstrar com isso é que fatores políticos, partidários e sociais ainda podem determinar o resultado de eleições. E que a pátria pode estar de pijamas para acompanhar a Copa do Mundo, mas já está decidindo o voto de outubro.

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