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?Ficheiros Secretos da Descoloniza??o de Angola“Quiseram correr com os brancos de Angola"Leonor Figueiredo e Pré-publica??o do seu livro "Ficheiros Secretos da Descoloniza??o de Angola"O pai desapareceu em angola há 34 anos. A filha investigou e escreveu um livro que revela uma rede de pris?es clandestinas E uma lista oficial de nomes de portugueses desaparecidos.Já conseguiu fazer o luto do seu pai? Acho que este livro me veio ajudar a fazê-lo. Conhe?o pessoas que nunca fizeram o luto de um familiar desaparecido. Nem conseguem abordar o assunto. Estou muito satisfeita por falar no meu pai e nas muitas vítimas desconhecidas e escondidas da descoloniza??o de Angola que descobri. Passou muito tempo. Quando era adolescente, nem queria falar no assunto porque pensava que o que tinha acontecido ao meu pai era uma coisa extraordinária. Mas n?o. Houve muitas centenas de portugueses que foram vítimas da guerra política em Angola. Publica uma lista inédita, do MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros), com mais de duas centenas de nomes de portugueses desaparecidos em Angola. Como pode ter sido abafada tantos anos? A pasta tinha sido desclassificada há pouco tempo. E mesmo assim n?o estavam lá os documentos todos. Nos arquivos do nosso Estado, há muitas coisas que n?o podes consultar. S?o secretas; s?o muito secretas. E portanto, nunca vir?o à leitura do público. Esta, por acaso, foi desclassificada e eu tive a sorte de dar com ela, porque ia precisamente à procura do meu pai.O seu pai consta dessa lista, tal como outras pessoas com quem falou para escrever este livro. Exactamente. Eu tinha este know-how da minha adolescência, de ouvir a minha m?e e outras pessoas contar histórias de Angola que n?o eram faladas em Portugal. O meu pai desapareceu, mas alguns dos “desaparecidos” vieram depois a aparecer nas pris?es, com acusa??es absurdas. N?o estou a dizer que s?o todos inocentes. Mas o ambiente era de repress?o e qualquer coisa servia para atingir os fins políticos. Essas pris?es eram ilegais, clandestinas... Claro. O que quer dizer que Portugal entregou Angola ao MPLA muito mais cedo do que se pensava. Cerca de meio ano antes.O próprio MNE admitiu, em 1977, segundo os documentos que pública, que o MPLA prendeu portugueses antes da independência? o define ent?o a descoloniza??o? A descoloniza??o de Angola ainda tem muito para revelar. As pastas governamentais têm que ser todas desclassificadas. Um balan?o faz-se com números, com casos, n?o se pode ficar eternamente a divagar em teorias ou preconceitos e a ouvir sempre os mesmos.Parece-lhe possível que desapare?am algumas das pastas que est?o classificadas? ? evidente. Eu própria, nas pastas que tive acesso, vi que faltavam muitos o é que teve coragem para come?ar esta investiga??o? Nunca tinha pensado em pegar no assunto, até que, há uns anos, come?aram a ser publicados livros de fotografias de Angola e Mo?ambique. Eu fiz essa reportagem, e nessa altura, em conversa com a Zita Seabra [editora da Alêtheia], que procurava material sobre as ex-colónias, disse-lhe a brincar: ‘se eu algum dia contasse a história da minha família...’. Diz-me ela: “escreva que eu publico”. E esta pequena conversa veio abrir um cofre que estava fechado a sete chaves, há muitos anos. Nós n?o mandamos na nossa cabe?a, n?o é? Saltou qualquer coisa e decidi: ‘vou escrever a história do meu pai.’ Eu sempre achei que nós, retornados – e eu odeio esta palavra –, fomos mal compreendidos cá. A ideia que se fazia cá de Angola estava desvirtuada... Completamente. Angola era um território moderno, independentemente do sistema político que vigorava. E ainda bem que houve o 25 de Abril. A descoloniza??o é que foi muito mal conduzida. As For?as Armadas Portuguesas – que representavam o Estado português na ainda colónia – n?o acautelaram minimamente a vida desta gente. Pela documenta??o que consultei, verifiquei que os vários altos-comissários de Angola pediam, repetidamente, tropas especiais, porque aquilo estava num caos. Mas de Lisboa nunca lhas enviaram. O livro fala de Luanda em 1975. Lembro-me de estar no quintal, e de repente ver o céu cor-de-laranja e de sentir a terra a tremer. Dos bombardeamentos. ?amos todos os dias apanhar as balas ao quintal. Na esquina de minha casa n?o havia semáforos, mas sim guerrilheiros. Quando eles paravam de atirar, podia-se passar.Que idade tinha? 17-18 anos. Eu vim para Lisboa em Junho de 75, um mês antes do meu pai desaparecer. E quando cheguei aos 50 anos pensei que seria altura de escrever um livro sobre o que vivi lá, mas dei-me conta que n?o sabia nada daquela terra. Durante dois anos, li livros compulsivamente. E escrevi a história do meu pai, mas quando cheguei à parte do desaparecimento dele, decidi mergulhar nos arquivos, onde descobri estas histórias inéditas.Lembra-se do dia em que ele desapareceu (a 16 de Julho de 1975)? o é que recebeu essa notícia? Eu estava em casa de umas pessoas amigas, porque viemos de Angola à pressa e n?o tínhamos onde ficar. Foi uma dessas pessoas que me deu a notícia.O que é que?lhe disse? “O teu pai desapareceu.” Desapareceu!? “O teu pai desapareceu!” E eu dei a interpreta??o de uma miúda de 17 anos: desapareceu? Como? O que é que isso quer dizer?Teve irm?os e a sua m?e para?a ajudarem a fazer essa interpreta??o? Claro. Mas nunca mais se soube nada do meu pai. As informa??es que tivemos, ao longo do tempo, foram sempre contraditórias. Eu n?o sei que motivos poderia haver para o seu desaparecimento. Possivelmente, n?o era da mesma cor do MPLA. O que deve ter acontecido a muita gente que vem nessa lista.? verdade que a maioria dos presos era acusada de pertencer à UNITA ou à FNLA ou de manter contactos com os seus dirigentes? Foi o que conclui da documenta??o que consultei.O seu pai era empresário em Luanda, como era a vida dele? Tinha liga??es políticas? N?o, ele era uma pessoa muito discreta. N?o falava de política.Era um homem influente? Conhecia muita gente, foi para Angola muito cedo. Com 18 anos.Ele emigrou com o objectivo de enriquecer? N?o. Ele tinha sessenta e tal anos quando tudo aconteceu e considerava aquela a sua terra. Amava-a profundamente, como muitos outros portugueses. N?o queria vir. Dizia que morria lá.O que?a leva a crer que tivesse sido raptado? Pelo que descobri nos arquivos, as pessoas eram raptadas porque lhes cobi?avam o carro, os bens, ou porque n?o eram da cor política. Por variadíssimas raz?es. Acho que quiseram correr com os brancos de Angola que estavam lá radicados há mais tempo.Acredita que no caso dele foi por lhe cobi?arem os bens? N?o sei. Houve casos t?o absurdos que qualquer coisa pode ter servido de pretexto.A sua família seguiu alguma estratégia para o encontrar? Através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com cunhas a ministros? e cartas à Presidência da República.Cunhas? Sim, para nos receberem. Eles n?o recebiam os familiares destas pessoas, porque lhes era um assunto incómodo. Lembro-me de ter ido uma vez com a minha m?e falar com o ministro Melo Antunes.Das denuncias feitas pelos familiares dos portugueses desaparecidos, desde o MNE, à Presidência da República, à Cruz Vermelha, quais destes organismos oficiais intercederam realmente a favor dos desaparecidos? Certamente que se empenharam, mas pouco resultou. Uma coisa n?o fizeram: denunciar a situa??o à comunidade internacional.Politicamente, Portugal estava interessado em questionar? N?o. Aliás, todos estes portugueses me contaram como havia instru??es rigorosas para n?o falarem à Imprensa. E esta é a primeira vez que eles contam a história. Eu encontrei-os porque lhes queria mostrar a fotografia do meu pai. Pensava que, se eles foram presos antes da independência, e como o meu pai desapareceu nessa altura, se tivesse sido preso, ter-se-iam encontrado. Só que, de facto, pelo que se percebe, havia várias hierarquias de presos e pris?es e uns nunca viam os outros.E nunca ninguém viu o seu pai? Há manuscritos que dizem que sim, mas eu pergunto-me: ‘ser?o verdadeiros?’Faz ideia sobre como é que ele terá morrido? Há a hipótese de ter sido fuzilado, como foram outros portugueses, nomeadamente, durante o 27 de Maio de 1977. As pris?es em Angola, n?o tinham a lista dos que entravam, só dos que saiam. E isso vem reconhecido por um diplomata português, num telegrama. N?o sabemos quantos ficaram pelo caminho...Só em 1999 conseguiram obter a certid?o de óbito dele. Porquê t?o tarde? Como n?o há corpo, a morte tem que ser presumida. E têm que passar esses anos para ser oficializada.A sua família viveu sempre com algum sentimento de injusti?a, de impunidade? Evidentemente.Fala no seu livro, 'en passant', do calvário da sua m?e por n?o saber do paradeiro dele. Como foram vividos estes momentos? Com muita dor. Houve um ano em que recebemos um telegrama a dizer que ele estava bem e deveria regressar a Portugal no Natal. Mas os anos passaram e nada aconteceu. E a partir de uma dada altura, ele já teria uma certa idade, deixámos de pensar nesses termos...O que aconteceu aos prisioneiros após a independência? Só falei com alguns, mas o livro refere os tormentos por que passaram muitos o é que foram tratados estes prisioneiros? Está aí tudo no livro. Eu acho que eles eram tratados pior que animais. Passavam fome, frio, n?o tinham sol, sofriam torturas inenarráveis. N?o havia médicos, muitos morreram. Acusados sem julgamento. Este é o peda?o da nossa História Contempor?nea que falta contar. O que se passou foi escandaloso.Quando fala de esc?ndalo refere-se à forma como os portugueses foram deixados lá pelo Governo português? Sim e de como foi a própria descoloniza??o.O livro fala de liga??es da polícia portuguesa e das For?as Armadas portuguesas com o MPLA. Qual era o interesse? Achavam talvez que fosse legitimo que o MPLA tivesse o poder. Mas, de facto, Portugal assinou acordos com os três movimentos. E quem fazia parte dos outros movimentos n?o podia ter sido marginalizado.Era uma trai??o à pátria... Claro que sim. Ent?o, deixam-se compatriotas num sítio quando se sai de lá para sempre, sabendo que eles ficam naquelas condi??es? Porque eles sabiam o que se passava. Conte-me o que descobriu sobre os movimentos clandestinos dos partidos políticos angolanos antes da Independência? O que mais me chocou foi a Polícia Judiciária, muitos meses antes da independência, ter agentes seus a trabalhar com?seguran?as do MPLA – o que legitimava as pris?es. E outra das coisas que me impressionou, foi saber que a PJ – que n?o tem nada a ver com esta de cá – era quem seleccionava os presos portugueses que eles deixavam embarcar. O MPLA apresentou diversos presos como criminosos que fariam oposi??o ao processo de descoloniza??o e de Independência de Angola. Fez-se propaganda com eles? Fez-se: o MPLA deu uma conferência de imprensa, quatro dias após a independência, exibindo-os como mercenários. N?o era verdade para todos. O próprio MPLA reconheceu que os aprisionara e n?o os tinha entregue às autoridades portuguesas, que era o que lhe competia.Nenhum deles nunca foi julgado, pois n?o? N?o, nenhum.Qual foi a história que conta no livro que mais?a impressionou? A da médica, porque ela desmentiu um boato: a imprensa do MPLA publicou uma notícia a dizer que tinham sido encontrados órg?os humanos numa das delega??es da FNLA. Isso era mentira, porque tinham roubado esses órg?os do teatro anatómico da maternidade de Luanda, onde essa médica trabalhava. Foi ela que desmentiu o boato contra a FNLA. E isso levou a que a tivessem raptado. Ela é uma das desaparecidas. ? preciso explicar o porquê.O MPLA tinha ecos na Imprensa portuguesa? Tinha. Portugal vivia em 1975 o Ver?o Quente, o PREC, as esquerdas estavam todas em alvoro?o. Foi neste cenário que tudo aconteceu. Independentemente disso, abandonaram lá portugueses.Escreveu um livro ao estilo de reportagem. Pretende que fossem os sobreviventes das pris?es clandestinas em Angola a contarem o que se passou? Quis dar voz a quem ainda n?o a teve. Por isso ponho as pessoas a falar à vontade. Mas há muita gente que n?o quer.? traumatizante n?o é? Claro que sim.Sente esse trauma? Agora libertei-me dele. Mas, durante muitos anos, foi um grande peso que senti na alma.Procurou a ajuda de algum psicólogo ou psiquiatra? O que mais me ajudou foi conversar com pessoas que passaram por situa??es semelhantes. Foi este livro. De certa forma, sente que está a fazer justi?a ao publicar o livro? Nunca se poderá fazer justi?a a toda esta injusti?a. ? demasiado grande. Mas acho que temos que come?ar a abrir os ficheiros secretos da descoloniza??o. E ainda há muitos.Sabe se algum familiar destes desaparecidos, ou dos presos, alguma vez apresentou um processo judicial contra o Estado português? Acho que vontade n?o faltou.O que é que estes Ficheiros Secretos pretendem principalmente denunciar do processo de descoloniza??o? Pretendem contar histórias ainda desconhecidas. De cidad?os portugueses que foram abandonados e de decis?es políticas e militares que se revelaram desastrosas. Está tudo documentado. O que é que descobriu? As autoridades portuguesas estiveram lá, na última etapa, como se n?o estivessem. Se formos ver o que se passou, eles fizeram muito pouco pelos portugueses que lá estavam e que sempre lá estiveram. Viam-nos quase como se n?o f?ssemos portugueses, mas como os brancos que “se meteram” com os movimentos. Tiveram o mérito da ponte aérea – com muita ajuda estrangeira. Angola foi abandonada, com portugueses dentro. E as coisas têm que ter dignidade. Admiro os países que trazem para a pátria os seus mortos de guerra e lhe conferem essa dignidade. Em Portugal é o contrário. Ainda temos corpos de soldados portugueses da I Guerra Mundial na Europa e ainda há corpos de soldados portugueses nas ex-colónias africanas. O Estado português n?o dignifica os seus mortos. E portanto n?o se dignifica a si próprio.PERFILLeonor Figueiredo, de 52 anos, foi jornalista do Correio da Manh? e depois, 21 anos, do ‘DN’, título onde tencionava publicar o trabalho que deu origem a este livro.FICHA DO LIVRO?‘FICHEIROS SECRETOS DA DESCOLONIZA??O EM ANGOLA’, DA AUTORIA DE LEONOR FIGUEIREDO Edi??es Alêtheia, 16€ (à venda nas livrarias a partir de 7 de Agosto)Durante mais de 30 anos, a jornalista Leonor Figueiredo procurou pistas sobre o desaparecimento do pai em Angola, em Julho de 1975. Nos arquivos do Estado, descobriu mais de 250 portugueses que foram ‘esquecidos’ propositadamente. Encontrou cinco antigos presos em Luanda, na esperan?a de que conhecessem o seu pai. Resultado: pouco escreveu sobre o pai mas recolheu para este livro arrepiantes testemunhos da pris?o e do abandono na ex-colónia.AS P?GINAS DA MEM?RIA ANGOLANA: PR?-PUBLICA??O O JORNALISTA GEORGES LECOFF TESTEMUNHA O SOFRIMENTO DAS FAM?LIAS DOS PRESOS'Dia 9 de Novembro de 1975. Era um domingo de fim de Primavera, e o jornalista Georges Lecoff dava uma volta por Luanda. Foi à fortaleza de S?o Miguel, ainda com sinais da presen?a de alguns funcionários e tropas portugueses que ?há várias semanas? tinham a impress?o de que já n?o faziam ?nada? em Angola. Foi ent?o que assistiu à presen?a de várias mulheres que choravam, pedindo aos militares portugueses para salvarem das pris?es do MPLA ?um pai, um marido ou um filho, sem nada conseguirem, além de boas palavras?. O jornalista lembrava-se de que ?algumas dezenas? de portugueses tinham sido encarcerados ?sem que o exército português tivesse interferido?'UMA M?DICA ENTRE OS VIVOS E OS MORTOS'?(...) A minha m?e tinha estado a trabalhar na maternidade até às quatro ou cinco da manh?. Por isso, quando lhe foram bater à porta, ela veio abri-la em pijama. Eu só acordei quando ouvi o barulho da discuss?o. Venho à porta e vejo três negros à civil, a discutir com ela. Durou uns dois minutos. Estavam no patamar das escadas do prédio. Diziam: ‘A senhora vem, vem… já lhe disse que vem!’ Agarraram nela e levaram-na. Eu tinha 13 anos, n?o tive capacidade de reac??o. Tenho o filme na minha cabe?a. A minha m?e foi raptada, sem nenhuma dúvida. Agarraram nela, levaram--na, de camisa de noite e robe. Nem sequer a deixaram vestir-se. Meteram-na num jipe e foram embora. Agarraram-na e levaram-na. Foi assim…?' (...) '?O que nos foi dito é que terá sido levada para a Pra?a de Touros, em Luanda, e morta dois ou três dias depois de raptada.?'LU?S GUERREIRA PEREIRA, DETIDO EM FINAIS DE JULHO DE 1975'?Sofri muito no dia seguinte. Bateram--me bastante, torturaram-me diversas vezes. Fisicamente, três ou quatro vezes, mas psicologicamente muitas. A partir daí a minha deten??o foi muito acidentada, porque eu n?o sabia o que me iam fazer a seguir. Levaram-me para quatro ou cinco sítios diferentes. Tiravam-me o adesivo dos olhos e o capuz, e de repente eu estava numa casa de banho. Nunca via o exterior. Na mesma época passei por quinze ou dezasseis, para n?o exagerar, cubículos diferentes: pequenas áreas, cozinhas, casas de banho… Levaram-me para a Pra?a de Touros, em Luanda, poucos dias depois, para ser abatido e enterrado. Eu ouvira dizer na FNLA que eles matavam ali as pessoas e enterravam-nas na arena. Lembro-me de estar lá, com as m?os amarradas atrás das costas, com adesivo nos olhos e um saco na cabe?a. No corredor de acesso à arena, encostaram-me à parede e a cali?a saltava e picava com os disparos que eles faziam à volta do meu corpo. Aquilo foi encenado, eu n?o era para ser fuzilado. Mas só vim a sabê-lo depois. Fiquei lá umas duas horas.?'OS PRESOS TINHAM CONDI??ES 'RAZO?VEIS', SEGUNDO O REPRESENTANTE DO MNEEm Dezembro de 1975, informou Lisboa da presen?a ?no Campo da Sapu de quinze presos acusados envolvimento FNLA antes independência?. Dizia o representante português que as suas condi??es eram ?razoáveis?. ?Alguns vêm trabalhar cidade, outros trabalham próprio campo. N?o têm sido maltratados. Dizem n?o recear julgamento pois muitas acusa??es feitas seriam fantasia. Alimenta??o é muito fraca (...). Principal queixa que têm é incerteza sua situa??o: desde há três semanas que lhes dizem quase diariamente que v?o ser libertados, o que n?o se verificou até agora.?''CEC?LIA EFRATI:?UMA NOIVA QUASE ETERNA''Desaparecer é diferente. Quando se vê um corpo, dói, mas depois fazemos o luto. Com um desaparecimento, passamos por fases incríveis, mas n?o esquecemos. Três meses antes de o Jorge desaparecer tínhamos perdido o nosso bebé. Entrei, ent?o, numa fase má, da qual muita coisa ficou nublada na minha memória.' (...)?'Fiquei em Angola, na esperan?a de encontrar um rasto do Jorge. Em 1976, vim conhecer Portugal, e regressei. Mas, em finais de 1978, deixei Angola.' (...) 'Só muitos anos depois, quando fiquei grávida do meu filho mais velho, do novo casamento, sonhei pela primeira vez com o Jorge. Nesse sonho, contámos tudo um ao outro. Ele até p?s a m?o na minha barriga. Tive a sensa??o de que esta crian?a vinha puxar-me de novo para a vida. A partir daí, comecei a p?r uma pedra sobre o passado. Mas a dor fica sempre num canto do cora??o.'HOMEM DISCRETO E EMPRES?RIOEm 1928, aos 18 anos, Jo?o C?ndido Figueiredo (na foto ao lado) partiu para Angola. Tornou-se empresário em Luanda. Era um homem discreto que n?o falava de política. Desapareceu em Julho, o mês mais crítico de 1975. A família, que já tinha fugido para Portugal, nunca mais ouviu a sua voz; nunca mais o viu. Seguiu-se um calvário indescritível para desvendar o seu estranho desaparecimento. A sua mulher meteu cunhas a ministros, chegou à fala com Melo Antunes, mas foi tudo em v?o.'VERGONHA DE SER PORTUGU?S'Leonor Figueiredo foi jornalista do Correio da Manh? até ao final da década de 80. A 25 de Maio de 1987 publicou um artigo (ao lado) com as revela??es de Américo Pires Afonso, ex-detido nas pris?es clandestinas de Angola. 'Eu vivia aterrorizado com os gritos nocturnos dos presos das celas vizinhas. A pris?o de Catete era composta por várias galerias e subterr?neos onde as pessoas desapareciam e nunca mais eram vistas. Todas as noites havia tortura de presos do processo Kamanga, relacionado com o tráfico de diamantes. Chegavam às celas todos partidos e cheios de sangue', relatou ele à jornalista. 'Portugal teve um comportamento de abandono total. Será que o petróleo tem mais valor do que os portugueses que estavam em Angola? Eu tenho vergonha de ser português', confessou Américo. Bruno Contreiras Mateus. ................
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