Rotina de produção e processos de significação da editoria ...

Intercom ? Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica??o XXX Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o ? Santos ? 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

Rotina de produ??o e processos de significa??o da editoria de esporte do Jornal NH1

Gustavo Roese Sanfelice2 Centro Universit?rio FEEVALE

Mauro Myskiw3 Universidade Estadual do Oeste do Paran? ? UNIOESTE

Resumo

Este trabalho teve por objetivo acompanhar a rotina de produ??o da editoria de esportes de um jornal de circula??o local e verificar os elementos peculiares dessa pr?tica jornal?stica. Acompanhou-se, por uma tarde, o trabalho de quatro jornalistas, procurando compreender a l?gica da sua produ??o, as principais fontes e os crit?rios elegidos para a produ??o da not?cia. A partir desse trabalho de campo, concluiu-se que as peculiaridades da produ??o influenciam diretamente no material produzido, especialmente na angula??o das mat?rias. Algumas dessas peculiaridades, que determinam uma abordagem limitada do espet?culo esportivo, s?o a disputa do espa?o no jornal, o tipo das fontes de informa??es (Tv, Internet, Ag?ncias de not?cias) e o n?o acompanhamento das disputas esportivas in loco.

Palavras-chave

Jornalismo; produ??o de sentidos; esporte

Introdu??o

O jornal ?, segundo Bahia (1990), pe?a da ind?stria cultural, sendo o resultado de grandes transforma??es na imprensa, na sociedade e na hist?ria. Ele tem uma influ?ncia maior ou menor em compara??o a outros meios como a televis?o, o r?dio ou o cinema, mas ? entre todos o de mais consist?ncia.

Trata-se de um ve?culo impresso que figura numa classe de grandeza, quando suas fun??es combinam autoridade (exatid?o, veracidade, equil?brio), credibilidade (confian?a, conhecimento, modera??o), legibilidade (linguagem, arte, estilo), profissionalismo (apresenta??o clara e n?o-preconceituosa dos fatos, quaisquer que

1 Trabalho apresentado no VII Encontro dos N?cleos de Pesquisa em Comunica??o ? NP Comunica??o Cient?fica. 2 Professor do Curso de Educa??o F?sica do Centro Universit?rio FEEVALE, Mestre em Ci?ncia do Movimento Humano (PPGCMH/CEFD/UFSM), doutorando em Ci?ncias da Comunica??o pelo Programa de P?s-Gradua??o em Ci?ncias da Comunica??o da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). E-mail: sanfeliceg@feevale.br 3 Professor do Curso de Educa??o F?sica da Universidade Estadual do Oeste do Paran?, Campus de Marechal C?ndido Rondon-PR., Mestre em Ci?ncia do Movimento Humano (PPGCMH/CEFD/UFSM), Mestre em Administra??o (PPA/CCSH/UFSM). E-mail: mmyskiw@

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sejam os valores e emo??es do ve?culo) e crit?rio (senso de prioridade na escolha da not?cia, de modo a que leitor tenha na primeira p?gina o que ? mais importante).

Mas, al?m desses fatores, com o advento da informatiza??o intensificada no final do s?culo XX, conforme ressalta Lustosa (1996), os ve?culos impressos sofreram profundas mudan?as est?ticas, adotando o que se denominou de not?cia pl?stica ou iconogr?fica, com a ampla utiliza??o de gr?ficos, ilustra??es, desenhos, que constitui a reprodu??o pelos jornais e revistas do modelo televisivo.

Essas mudan?as atingiram o jornal como um todo, mas no presente trabalho abordaremos estes aspectos relativos ao esporte, pois qualquer que seja a modalidade esportiva, esta necessita da m?dia para que seja veiculada e esta por sua vez, necessita das informa??es geradas pelo mesmo. O esporte ? tamb?m um transmissor de elementos comunicacionais e formador de uma linguagem pr?pria e universal, de acordo com o meio utilizado.

Jornal, R?dio, Televis?o e Internet se transformaram nos olhos e ouvidos dos aficionados por esporte, requerendo datas, cifras, coment?rios, imagens. A influ?ncia dos meios de comunica??o no espet?culo esportivo profissional tem tanta for?a que determinados jornalistas influenciam com seus coment?rios os torcedores e institui??es, provocando com suas opini?es situa??es de conflito e enfrentamento. (ALCOBA, 2001)

Esse entendimento leva a compreens?o de que a m?dia tem refor?ado seu papel frente ?s circunst?ncias que permeiam a rela??o esporte/sociedade. Por isso, surge ? necessidade crescente do estudo da rela??o m?dia e esporte, o que se dar?, neste texto, por meio de estudo emp?rico de jornal impresso, especificamente, da rotina de produ??o da Editoria de Esportes do Jornal NH, da cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, com o intuito de compreender os processos de significa??o da produ??o midi?tica relacionada ao esporte.

O esporte ? hoje um fen?meno de grandes implica??es econ?micas e sociais, haja vista a grande cobertura que a m?dia brasileira dar? aos Jogos Pan-Americanos Rio/2007. Nesse sentido, destacamos que o acontecimento esportivo tem em sua natureza certas peculiaridades, uma delas ? a espetaculariza??o. O esporte enquanto fato social por si s? ? espetacular, doravante o campo dos medias, interessados em fatos sociais espetaculares, transformam os fatos esportivos em acontecimentos esportivos e midi?ticos. Borelli (2001) comenta que cada m?dia se apropria (mobiliza estrat?gias

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simb?licas singulares) da cena discursiva do fato para produzir sentidos. Para a autora, os eventos esportivos n?o se limitam apenas a representar uma competi??o, pois refletem tamb?m caracter?sticas culturais, econ?micas, sociais, pol?ticas, ?tnicas, religiosas, etc. Assim, tomam-se os acontecimentos esportivos como fatos complexos, que trazem um conjunto de dimens?es das rela??es interculturais, onde os atores sociais n?o s?o apenas os competidores, mas a plat?ia, os dirigentes, a m?dia, os patrocinadores, os diretores esportivos, etc.

Pelos exposto acima, consideramos de grande relev?ncia compreender a l?gica de uma rotina de produ??o de um jornal de circula??o local do estado do Rio Grande do Sul. Para realizar o trabalho, primeiramente contatamos com o Editor Chefe do Jornal, sendo que este nos encaminhou para o Editor de Esportes do Jornal NH, identificado neste trabalho com a como Jornalista A. A pesquisa ocorreu no dia 20 de outubro de 2005, das 15:00 ?s 17:00, junto ? Editoria de Esportes do referido ve?culo, contanto com: a) entrevista com o editor de esportes do jornal; b) observa??o da rotina de produ??o do jornal; e c) entrevista com os rep?rteres de esporte.

Rotina de produ??o e processos de significa??o

Como os outros g?neros jornal?sticos, o esportivo tem sua pr?pria identidade, pelas particularidades e caracter?sticas da atividade esportiva. Para uns, esporte significa atividade f?sica, individual ou coletiva praticada competitivamente, mas a variedade de elementos que podem associar-se ao esporte como g?nero jornal?stico espec?fico ? muito mais ampla, pois partindo da base do esporte, s?o gerados outros subg?neros inferiores e estes outros.

A explica??o para tal diversidade ? que o esporte pode ser um todo, mas esse todo se ramifica em outras modalidades esportivas. Na defini??o desses aspectos, Alcoba (2001) exemplifica, afirmando que o Esporte ? um g?nero espec?fico do jornalismo, que o Atletismo seria um subg?nero espec?fico do esporte, que as Provas Atl?ticas seriam subg?neros espec?ficos do Atletismo e que as Corridas de Velocidade seriam um subg?nero espec?fico das Provas Atl?ticas.

Al?m do fator diversidade esportiva, somam-se outros fatores como o crescente n?mero de modalidades esportivas, a entrada do marketing esportivo ? a participa??o da empresa ? e a competi??o entre os ve?culos de comunica??o social, que

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exigem uma atualiza??o permanente do profissional que trabalha na imprensa, em especial, a esportiva. Trata-se de uma necessidade premente, desde que subsidiada por teorias mais consistes, para poder enfrentar assim os desafios que surgem no dia-a-dia profissional. O esporte cresceu consideravelmente na sociedade moderna e por isso, necessita cada vez mais uma maior especializa??o.

Com base nesses preceitos, Erbolato (1981) destaca que al?m do jornalista conhecer as regras e os regulamentos de cada modalidade de esporte, deve inteirar-se de uma s?rie de fatos que, por serem infringidos ou esquecidos, podem constituir base para um bom notici?rio. Essa passagem destacada por Erbolato, refor?a que o esporte n?o se restringe apenas ao mundo esportivo, no sentido stricto sensu, mas sim a v?rios outros campos sociais.

Por assim dizer, entendemos que os medias n?o relatam simplesmente e de uma forma transparente os acontecimentos que s?o s? por si naturalmente notici?veis. "As not?cias" s?o o produto final de um processo complexo que se inicia numa escolha e sele??o sistem?tica de acontecimentos e t?picos de acordo com um conjunto de categorias socialmente constru?das (Hall et al., 1999, p. 224).

Para os mesmos autores, os jornalistas organizam o jornal em certas categorias que interessam o leitor. O sentido de valor-not?cia dos jornalistas come?a a estruturar o processo. Ao n?vel geral, isto envolve orienta??o para itens que s?o "fora do comum". O jornalismo tenta real?ar os elementos extraordin?rios, dram?ticos, tr?gicos, etc, numa "est?ria". A disputa esportiva por si s?, n?o teria tais caracter?sticas sem a discursividade midi?tica.

Diante disso, a quest?o a ser pensada neste trabalho ? como os profissionais da Editoria de Esportes do Jornal NH est?o lidando com essa diversidade e dinamicidade do g?nero esportivo na produ??o da not?cia. A equipe de esportes do referido jornal ? composta por 04 (quatro) pessoas: 01 (um) Editor (A), com forma??o em jornalismo e mais de sete anos de experi?ncia na editoria de esportes; 02 (dois) Rep?rteres, sendo um formado em jornalismo (identificado como B) e um estudante de jornalismo (identificado como C); e 01 (um) rep?rter-setorista (identificado como D) que trabalha no Esporte Clube Novo Hamburgo, jornalista de forma??o.

Essas quatro pessoas trabalham diariamente somente com o esporte, tendo em m?dia sete horas de trabalho, de segunda ? sexta-feira, sendo que nos finais de semana

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fazem escala em duplas. A produ??o desta editoria come?a ?s 15 horas e termina ap?s as rodadas de futebol que por ventura venham a ter naquele dia. Caso haja jogos, preferencialmente de futebol, encerra-se por volta das 21 horas e 30 minutos.

A reuni?o de pauta do Jornal NH ocorre diariamente por volta das 14 horas ?s 14 horas e 30 minutos, mas n?o conta com a participa??o do Editor de Esportes, pois este hor?rio n?o coincide com o per?odo de trabalho deste profissional, o que pode gerar problemas de pertencimento desta editoria em rela??o ao jornal como um todo.

De modo geral, a editoria de esportes tem um car?ter local, ou seja, d? ?nfase aos fatos locais de um total de 44 munic?pios das regi?es do Vale dos Sinos, Ca? e Paranhana, al?m da cobertura da dupla GRENAL (Gr?mio e Internacional). As informa??es muitas vezes s?o coletadas via contato telef?nico com as fontes, entrevistas na reda??o ou e-mail.

Para a produ??o de not?cias nacionais ou internacionais a editoria se utiliza ?s ag?ncias EFE da Espanha e ESTADO do Brasil, al?m de informa??es de s?tios da Internet, como o Terra, clicRBS, Gr?mio, Inter, CBF, UOL. Ainda utilizam como fonte as r?dios que fazem cobertura esportiva no Rio Grande do Sul, como Ga?cha, Gua?ba e Bandeirantes.

Dentre as diversas modalidades esportivas, al?m do futebol, o t?nis ? um esporte que tem uma aten??o especial, pois tem muitos adeptos em Novo Hamburgo e na regi?o. As informa??es s?o coletadas junto ?s ag?ncias de not?cias, caso dos tenistas internacionais e nacionais e assessorias de comunica??o dos tenistas locais. Essa aten??o "especial" ao t?nis demonstra o car?ter local do ve?culo em quest?o. As not?cias precisam ser reconhecidas socialmente na comunidade para que o ve?culo atinja seus objetivos.

Em fun??o dessas especificidades do ve?culo estudado, entende-se que a informa??o esportiva ? tratada conforme as possibilidades de espa?o que cada meio a destina. A cultura editorial do ve?culo tamb?m vai ser determinante para estabelecer o qu? vai ser veiculado e como. Cada meio tr?s o esporte segundo os interesses determinados pela empresa jornal?stica e a linha editorial, sendo que no caso do NH, a informa??o esportiva ? caracterizada por uma linguagem menos formal da editoria (conforme relata o Rep?rter C), o que permite um texto mais pessoal, opinativo em compara??o com outras editorias.

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