ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação ...



CEM ANOS ENTRE ARCABOU?OS TE?RICOS COMPLEMENTARES: THORSTEIN VEBLEN E GEOFFREY HODGSONDaniele NeubergerPedro Xavier da SilvaSílvio Ant?nio Ferraz CárioRESUMOO artigo busca apresentar complementariedades entre as principais categorias teórico-analíticas abordadas por Thorstein Veblen e Geoffrey Hodgson, representantes, respectivamente, do Antigo Institucionalismo norte-americano e do Neo-Institucionalismo. Particular ênfase é dada à crítica institucionalista às abordagens que advogam a supremacia da estrutura sobre o indivíduo ou do indivíduo sobre a estrutura. A alternativa proposta pelos autores sugere que tanto os indivíduos podem modificar as institui??es vigentes, quanto as próprias institui??es podem afetar as preferências individuais. Os hábitos de pensamento e de comportamento emergem como categoria fundamental na compreens?o dessa proposta alternativa.Palavras-chave: Institui??es; Indivíduos; Hábitos; Thorstein Veblen; Geoffrey Hodgson.Classifica??o JEL: B15; B25; B41.?rea 1: Metodologia e História do Pensamento Econ?micoABSTRACTThe article seeks to present complementarities between the main theoretical and analytical categories discussed by Thorstein Veblen and Geoffrey Hodgson, representatives of the Old American Institutionalism and Neo-Institutionalism, respectively. Particular emphasis is given to institutionalist critique of approaches that advocate the supremacy of the structure over the individual or the individual over the structure. The alternative proposed by the authors suggests that both individuals can modify existing institutions, and institutions themselves can affect individual preferences. Habits of thought and behavior emerge as a fundamental category in understanding this alternative proposal.Key-words: Institutions; Individuals; Habits; Thorstein Veblen; Geoffrey Hodgson.JEL classification: B15; B25; B41.1 INTRODU??OO Institucionalismo, no ?mbito das Ciências Econ?micas, tem sua origem em obras publicadas no final do Século XIX e nas primeiras décadas do seguinte, por autores como Thorstein Veblen, Wesley C. Mitchell e John Commons. Esses autores compuseram uma matriz teórica que, atualmente, é conhecida como Velho (ou Original) Institucionalismo. Veblen, em uma lógica de constru??o teórica que parte do abstrato ao concreto, desenvolve suas análises a partir das categorias “hábitos”, “valores”, “regras” e “institui??es” (MONASTERIO, 1998). Com enfoque na mudan?a institucional, sua teoria se baseia em instintos que influenciam hábitos de vida e, em uma próxima etapa, se consolidam em hábitos de pensamento. Mitchells, àquela época um dos poucos economistas que endossavam a proposta vebleniana, criticava as análises econ?micas que se consolidavam e sustentava seu ponto de vista em rela??o aos ciclos econ?micos na mudan?a institucional ao longo da história (MITCHELLS, 1913). Já Commons (1931), analisando o contexto social de algumas décadas à frente, estruturou sua matriz analítica nas categorias “a??o coletiva” e “bom senso”, representando essas institui??es em uma economia monetarizada. Em sua vis?o, institui??es eram definidas como a??es coletivas de controle, libera??o e expans?o das a??es individuais.Ainda sob o alicerce da Economia Institucionalista repousa a Nova Economia Institucional (NEI). Essa, por sua vez, possui autores como Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglas North como seus principais expoentes. Nessa matriz se destacam os conceitos de “custos de transa??o” e “estruturas de governan?a”, além das institui??es formais e informais que comp?em o ambiente no qual ocorrem as atividades econ?micas (Williamson, 1985; North, 1990). Nessa linha teórica, a corrente macroanalítica é composta pela abordagem empregada por Douglas North, qual seja, o “ambiente institucional” e suas dimens?es (institui??es políticas e legais, leis, costumes, tabus, normas, etc…), ali representando as “regras do jogo”, ou seja, o locus da mudan?a de par?metros, que provocam altera??es nos custos de governan?a. A corrente teórica microanalítica é representada, principalmente, pela teoria dos custos de transa??o, na qual a transa??o é a unidade básica de análise.As transa??es devem, portanto, ser avaliadas enquanto suas dimens?es: frequência, incerteza e especificidade dos ativos. Além disso, as transa??es s?o organizadas de acordo com as formas de governan?a (mercado, híbrida ou verticaliza??o) e cada forma genérica de governan?a é sustentada por uma maneira distinta de contrato legal. Sendo assim, as próprias transa??es se alinham conforme as estruturas de governan?a, que se diferenciam em rela??o às características transacionais, ao ambiente institucional vigente, e à especificidade dos ativos envolvidos (WIILIAMSON, 1985, 1991).Nota-se, com isso, que enquanto os primeiros autores encontram na din?mica institucional o aparato analítico necessário para o entendimento do desenvolvimento da sociedade, os demais (NEI) vislumbram nas institui??es elementos n?o econ?micos para corroborar a compreens?o da atividade e do desenvolvimento econ?mico. Identificando essa reaproxima??o com a economia neoclássica, economistas institucionais hodiernos passaram a tecer críticas aos constructos da NEI em rela??o ao seu caráter analítico, do qual emerge o individualismo metodológico e inclina-se à evidencia??o da maximiza??o da eficiência econ?mica (ATKINSON e OLESON, 1998). Para Hodgson (2006), n?o é fortuito considerar os indivíduos como “jogadores” em um ambiente emulado por “regras do jogo”, uma vez que os interesses por detrás das decis?es político-econ?micas s?o vinculados a distintas dimens?es e n?o somente à econ?mica. Em outras palavras, essas decis?es n?o configuram somente a busca por corre??o de falhas de mercado. Nesse sentido, o presente texto visa, por meio de uma Análise de Conteúdo (BARDIN, 2006) identificar vínculos e complementaridades entre a Velha Economia Institucional e esses novos economistas que teceram críticas à NEI e buscam em seus constructos avan?ar na matriz analítica institucionalista. Para tal, elegeram-se obras de Thorstein Veblen e Geoffrey Hodgson (além de outras que se propuseram a analisá-los) como base de dados. Além da presente introdu??o e da se??o seguinte, referente à descri??o dos procedimentos metodológicos, este artigo conta com uma se??o de referencial teórico, na qual ser?o apresentados os principais pressupostos teóricos de ambos autores supracitados, uma quarta se??o na qual as categorias analíticas ser?o discutidas enquanto suas similaridades e avan?os e, por fim, as considera??es finais. 2 PROCEDIMENTOS METODOL?GICOSUtilizou-se como base de dados quatro textos nucleares de Thorstein Veblen (1898; 1899; 1909; 1914) e cinco textos de Geoffrey Hodgson (2003a; 2006; 2007a; 2007b; 2010). Outrossim, no intuito de buscar contribui??es que endossassem os argumentos centrais desses autores, ser?o apresentados trechos de outros textos de ambos os autores, assim como de pesquisadores que os tenham analisado (conforme mencionado na Introdu??o). Esses escritos foram escolhidos na medida em que se evidenciaram neles categorias e procedimentos analíticos descritos de forma suficientemente explícita para o alcance do objetivo proposto.Assim sendo, tais evidências foram analisadas com base nos conceitos teóricos da Análise de Conteúdo de Bardin (2006), caracterizada por três fases distintas. Primeiramente foi realizada uma pré-análise, a partir de leitura flutuante sobre o material tomado como banco de dados, ou seja, o arcabou?o acima referenciado. A partir de uma reflex?o acerca de suas proposi??es, iniciou-se um processo de explora??o do material com base na codifica??o e categoriza??o das informa??es ali contidas.Para a formula??o das categorias, foram utilizados conceitos identificados como apropriados nas leituras referentes aos constructos da Economia Institucionalista, resultando em diferentes níveis de informa??o (Tema, Categoria e Indicador). Como “Tema”, selecionaram-se nos textos passagens referentes às abordagens analíticas dos autores, quais sejam a “Economica Evolucionária”, por parte de Veblen, e a “Reconstitutive Downward Causation”, no que se refere à proposta de Hodgson. A partir daí, estes trechos, cujos temas se enquadram na proposta, foram categorizados por meio de uma transposi??o com base na utiliza??o das categorias analíticas “Instintos”, Hábitos” e Institui??es”. A quarta se??o deste artigo apresentará como indicadores as principais similaridades entre as abordagens, assim como as diferen?as e avan?os de uma em rela??o à outra.3. REFERENCIAL TE?RICO: A ECONOMIA INSTITUCIONALConforme definido por Concei??o (2002), o institucionalismo é uma linha de pensamento oposta ao neoclassicismo, semelhante ao marxismo em alguns aspectos e fortemente vinculada ao evolucionismo. Atribui-se ao “velho” institucionalismo norte-americano a matriz da escola institucionalista, sobretudo a partir dos escritos de Veblen, Commons e Mitchel. Apesar de as abordagens institucionalistas divergirem em sua defini??o, é possível afirmar que existe um corpo teórico definido entre elas. Nesse sentido, é a própria diversidade das abordagens que constitui a fonte de riqueza do pensamento institucionalista. N?o obstante as diferen?as conceituais e os distintos enfoques assumidos pelas vertentes do institucionalismo, esse paradigma identifica elementos teóricos comuns, tais como o questionamento quanto à validade da premissa do mercado enquanto mecanismo alocador, a crítica ao individualismo metodológico, uma vis?o do processo econ?mico como um sistema aberto e parte de uma ampla rede de rela??es socioculturais, a ênfase no comportamento guiado por hábitos e rotinas (e ocasionalmente pontuado por atos de criatividade e inova??o), a influência da path dependence e a vis?o da tecnologia como motivadora primária do desenvolvimento (CONCEI??O, 2007).Considerando a import?ncia da diversidade presente no pensamento institucionalista, mas sem perder de vista o objetivo do presente estudo, passa-se a seguir a uma breve revis?o de suas principais vertentes, com enfoque nas ideias de Veblen e Hodgson.3.1 Veblen e o Antigo InstitucionalismoThorstein Veblen exp?e sua proposta de leitura sobre as mudan?as institucionais na sociedade americana de duas formas: primeiramente, a partir de uma crítica às análises que se consolidavam e se propunham a investigar esse mesmo objeto; em segundo, explicitando a necessidade contempor?nea de integrar as Ciências Econ?micas ao caráter evolucionário que se manifestava em diversas áreas da ciência. “Why is Economics not an Evolutionary Science” (1898) representa a apresenta??o de uma proposta analítica para fen?menos socioecon?micos, que em sua matriz contempla o tripé de categorias INSTINTOS-H?BITOS-INSTITUI??ES. Ao criticar as abordagens que recebiam ênfase no cenário econ?mico de seu tempo e expunham como agente do modelo o “homem hedonista”, capaz de calcular suas escolhas em rela??o às próprias vontades, Veblen indica que a economia marginalista negligenciava aspectos intrínsecos à natureza humana, às rotinas e hábitos de vida e pensamento e a busca de ascens?o social, que ocorre de forma comparativa. Tal crítica recebe ainda mais endosso em “The limitations of Marginal Utility” (1909), postulando a incapacidade processual – dado seu caráter estático - das ciências econ?micas em avaliar fen?menos t?o din?micos como se propunham. Da mesma forma, Veblen criticava a ênfase antropológica na estrutura como determinante para as a??es individuais. Para ele, as ciências econ?micas deveriam, portanto, seguir uma trajetória teórica que relacionasse estrutura e indivíduo - sem negligenciar ou supervalorizar um ou outro - de forma a considerar o processo contínuo e processual de constru??o dos comportamentos. E, t?o significante quanto, a obra “The Instinct of Workmanship and the State of Industrial Arts” (1914) contém a essência teórica da economia política de Veblen e a forma como vincula os aspectos inerentes à natureza humana – os instintos – à identifica??o de padr?es de comportamento dos indivíduos em sociedade (CAVALIERI, 2013).Evidente, nesse sentido, é o entendimento de que, neste novo contexto social consolidado por um sistema urbano-industrial, cuja moeda conduziria às condi??es de troca, a propriedade privada se tornara fator fundamental na composi??o do modelo, sendo motivo de honra e exalta??o aos olhos do coletivo e indispensável à afirma??o do indivíduo. Se, como mencionado, a proposta seria identificar os motivos pelos quais a realidade se apresentava, Veblen (1899) buscou fundamentos como a propriedade do homem sobre a mulher, ou das famílias abastadas sobre os escravos, para transcender a explica??o à lógica de acumula??o capitalista que condicionava o desenvolvimento que buscava investigar. ? época, constatava-se uma mudan?a importante entre as classes sociais americanas, em que, tanto agricultores quanto a burguesia industrial se indispunham diante da ascens?o de uma aristocracia beneficiada por acordos oligopolistas e aumento de poder político, demandando a contempla??o de novos interesses aos pactos sociais (CAVALIERI, 2015). Este fato influenciava diversas situa??es, como a legisla??o trabalhista e a ado??o de determinados padr?es tecno-produtivos. Ali, infere-se que o autor estava condicionado a fomentar o preenchimento de uma lacuna metodológico-analítica por meio de uma matriz que n?o negligenciasse aspectos intrínsecos à natureza das rela??es capitalistas. Concei??o indica o seguinte (2012, p. 123):“Veblen empregou a ideia de uma cadeia histórica sem quebra de causa e efeito para minar os pressupostos do mainstream econ?mico. O uso feito por ele sobre as injun??es metodológicas darwinianas levaram-no a uma poderosa crítica. Isto porque, em Veblen, o agente humano era assunto de um processo evolucionário e jamais poderia ser tido como fixo ou dado. Portanto, uma avalia??o causal da intera??o entre indivíduo e estrutura social tinha que ser providenciada. E esse “acerto de contas” causal n?o deveria parar no indivíduo, mas deveria também tentar explicar a origem dos objetivos e preferências psicológicas”.Nesse sentido, os instintos, por exemplo, seriam elencados como singulares aos pressupostos estruturais da proposta Economia Evolucionária (1898), uma vez que evidenciam atributos humanos diante de um processo de sele??o das institui??es vigentes. Mas o que seria a Economia Evolucionária? ? a própria resposta de Thorstein Veblen à emergência dessas supraditas análises econ?micas que n?o corresponderiam àquele cenário em que as estruturas urbano-industriais se consolidavam. ? a busca de Veblen para solucionar um problema identificado entre ênfases teóricas simplificadas, ora unicamente sobre as a??es individuais, ora unicamente sobre o impacto da estrutura vigente como fator determinante do comportamento.3.1.1 A Proposta Economia EvolucionáriaEmbasado na quebra de paradigma científico imposta por Charles Darwin em “A Origem das Espécies” (1859), Veblen (1898; 1899) torna-se um precursor do Institucionalismo norte-americano ao apresentar leituras críticas contundentes às Ciências Econ?micas e ao sistema socioecon?mico de acumula??o capitalista que se impunha. Ambas as obras - uma de apelo mais teórico e outra mais empírico - somadas, s?o a indica??o do que se intencionava com esta alternativa analítica pós-darwiniana da economia. Thorstein, embora norte-americano, foi criado sob forte influência cultural estrangeira - uma vez que seus pais eram imigrantes noruegueses e em um povoado de origem ele passou seus primeiros anos de vida. O contato e aprimoramento da língua inglesa ocorreu como seminarista, o que também o fez se aproximar de obras da Filosofia. Posteriormente ingressou em Yale, se aproximando da obra de Hegel, Spencer, Kant, Darwin e Charles Pierce, entre outros (CRUZ, 2015). Seu destaque como acadêmico ocorreu na Universidade de Chicago, onde as obras de Darwin recebiam interesse pujante, tornando-se professor e editor do Journal of Political Economy. O pesquisador tinha como objeto de análise um cenário socioecon?mico din?mico, mutante e bastante desigual. Diante da nítida lacuna observada entre as classes sociais - em que o capital se destacava no desenvolvimento urbano e a terra como fonte de lucro especulativo -, ao final do século XIX a sociedade se direcionava à urbano-industrializa??o, tendo como agentes centrais homens de negócios, por um lado, e imigrantes - que entendiam a terra como fonte de trabalho e meio de subsistência - por outro (CRUZ, 2015). Gritava aos olhos uma significativa mudan?a no panorama das classes sociais americanas, em que, tanto agricultores do oeste americano quanto a burguesia industrial se indispunham diante da ascens?o de uma aristocracia beneficiada por acordos oligopolistas e aumento de poder político. Foi diante da constata??o da estabiliza??o dessa sociedade industrial-pecuniária, cuja estrutura estaria enraizada em processo de causa??o cumulativa que envolvia instintos, hábitos e institui??es (VEBLEN, 1899), que come?ou a tomar forma seu pensamento.E é justamente nesse processo causal que o autor embasou suas proposi??es evolucionárias, inspiradas em Darwin. O ambiente influenciando o desenvolvimento das espécies tornou-se um pressuposto pilar para analogias às distintas áreas da ciência ao desestabilizar as propostas criacionistas, solidificando teorias diversas (CAVALIERI, 2013). O que Veblen fez foi transcender esta lógica evolucionista às ciências sociais. Com uma didática explicativa por meio de conceitos como vari?ncia, heran?a e sele??o natural, qualificar-se-iam as mudan?as comportamentais individuais e coletivas que ocorreriam ao passo que institui??es antigas e novas estivessem em constante conflito (VEBLEN, 1898).Sua tese central se baseava em uma lógica na qual as demandas de uma sociedade formariam maneiras de intera??o dos homens com o mundo, o que corresponderia aos seus hábitos de vida. Se por um lado esses hábitos de vida estariam vinculados a aspectos inerentes aos homens, quais sejam seus instintos, por outro, esses hábitos se conectam a hábitos de pensamento, consolidando consensos no senso individual e coletivo (VEBLEN, 1899). A dialética aqui presente une este tripé analítico “instintos-hábitos-institui??es”, de forma que os hábitos sejam a express?o desta retroalimenta??o din?mica entre a natureza humana e as institui??es. A din?mica social estaria em constante evolu??o, partindo de express?es inatas e individuais (embora comuns à sociedade) e se expandindo à express?es coletivas, as próprias institui??es.Em “The Instinct of the Workmanship and the State of Industrial Arts” (1914), os instintos s?o classificados em quatro diferentes grupos: Instinto do Trabalho Eficaz (relacionado à busca por eficiência), o Instinto Predatório (cujo propósito final seria a extra??o), o Instinto Parental (relacionado aos cuidados coletivos) e o Instinto da Curiosidade V? (cujo vínculo principal dado pelo autor se dá com a ciência). O Instinto Predatório, que teria seu surgimento a partir da passagem de uma fase pacífica selvagem para uma fase predatória, estaria relacionado com a competi??o e se tornaria amplificado em uma sociedade industrial (VEBLEN, 1899). Os hábitos de pensamento (hábitos de vida que se enraizam no senso comum) podem ser entendidos como as institui??es, principal categoria analítica do que se seguiu como “Economia Institucional”. Veblen (1899) indica que eles est?o intimamente relacionados aos hábitos de vida e àquilo que o autor chama de “espírito humano” – os próprios instintos. ? neste ponto que o autor explana, de forma empírica, as rela??es entre estas categorias e o desenvolvimento das sociedades. Um exemplo sugerido é a reatividade a situa??es de mudan?a, em que as pessoas tendem a manter seus hábitos se n?o perceberem necessidade de o fazer. Ademais, tais mudan?as nas institui??es sociais se moldariam de forma coercitiva devido à situa??o que se imp?s, em um processo de “sele??o” das institui?? isso, a Economia Evolucionária parte do pressuposto de que hábitos de vida e de pensamento se emulam por consensos, dependendo da aceita??o de um grupo dominante na sociedade. Institui??es s?o eleitas sob interesses destes grupos, representando a manuten??o ou a altera??o da realidade, causando efeitos sobre toda a sociedade. Neste sentido, a própria ciência, realizada sob interesses, poderia retardar o progresso coletivo em virtude da manuten??o de uma situa??o que beneficie tais interesses e/ou como reflexo de conservantismos do grupo dominante (a “classe ociosa”, para Veblen). 3.1.2 A Teoria da Classe Ociosa“A Teoria da Classe Ociosa” (1899) é uma análise empírica na qual pode-se observar a aplica??o da Economia Evolucionária. A obra critica, descreve e faz inferências acerca do sistema socioecon?mico vigente. Essa análise empírica, portanto, constata a estabiliza??o de uma sociedade industrial-pecuniária, cuja estrutura estaria enraizada em processos de causa??o cumulativa, que envolve instintos e hábitos relacionados à din?mica institucional. Expondo características de uma “fase pacífica”, cujas sociedades eram primitivas e a distin??o de fun??es e hierarquias era pouco significativa, o autor demonstra como existem hábitos mais comuns a fun??es industriais. ?quela época (Séc. XIX) já se constatava que as regras sociais fomentavam a competi??o entre os homens. Seria, portanto, uma “fase predatória”, cujos instintos predatórios com finalidade de extra??o seriam fundamentais para se galgar êxitos.A partir dessa explana??o, nota-se a preocupa??o em fundamentar um processo de consolida??o de divis?o social que outrora se fundamentava em quest?es de for?a, habilidade bélica e supostas bên??os divinas, e posteriormente à riqueza, ao status político e às habilidades esportivas. Essa superioridade, portanto, institucionaliza os padr?es de “fazer das coisas” e torna-se o “alvo” àqueles que est?o abaixo. Em suma, hábitos sociais, do consumo ao trabalho, do lazer à educa??o, se homogeneízam nos diferentes extratos sociais, a partir de consensos carregados de interesses. Indumentário elaborado, mulheres bem apresentadas, animais de estima??o, empregados domiciliares, prática de esportes e contempla??o da natureza (entre outros) tornam-se, portanto, fundamentais neste processo comparativo. Veblen (1899) relaciona tais artigos e práticas à emula??o de consumo e ócio conspícuos, ou seja, hábitos de vida exclusivos a indivíduos com tempo e/ou recursos em quantidade superior da demandada para sua subsistência. Sendo assim, ao passo que este grupo de pessoas havia se apartado das fun??es industriais, continuava institucionalizando os consensos e as trajetórias de desenvolvimento da sociedade. Em rela??o ao desenvolvimento das sociedades, um exemplo dado é a reatividade às situa??es de mudan?a, em que as pessoas tendem a manter seus hábitos se n?o perceberem necessidade de o fazer. Tais mudan?as nas institui??es sociais se moldariam de forma coercitiva devido à situa??o que se imp?s, e o conservantismo dessa “classe ociosa” tenderia a brecar mudan?as que visassem interferir em suas benesses (VEBLEN, 1899). Esse fato pode ser transcendido para diversas situa??es, como a manuten??o e imposi??o de sistemas produtivos hegem?nicos em determinados contextos, por exemplo. Diante desta realidade em constante transforma??o, é a partir das ideias darwinistas que Veblen desenvolve a didática de sua retórica. Com foco no processo causal de evolu??o (n?o considerando aqui “evolu??o” como um processo unicamente melhorativo, mas sim de causa??o e mudan?a), a influência do ambiente sobre o desenvolvimento (das espécies no caso de Darwin, das sociedades e rela??es econ?micas no caso de Veblen), estes pressupostos vinham sendo incorporados pelas mais distintas áreas da ciência. Essa utiliza??o era endossada pela atmosfera acadêmica da Universidade de Chigado, onde uma notória propens?o à assimila??o e propaga??o da ciência pós-darwiniana se construía (CAVALIERI, 2013). As análises institucionalistas, portanto, deveriam focar nos processos transformativos, e n?o em situa??es onde o equilíbrio seria o fim e as a??es seriam isoladas de seu contexto histórico e social. Em um cenário de rela??es sociais sendo influenciadas por express?es individuais e coletivas, como costumes, hábitos, interesses e leis, as a??es econ?micas individuais dos agentes capitalistas responderiam ao passado e fomentariam o futuro desse sistema de maior ou menor libera??o, controle ou expans?o. 3.2 O Neo-institucionalismoAs críticas em rela??o aos constructos econ?micos-institucionalistas ocorrem, mormente, em dois sentidos (HODGSON, 1998; ATKINSON e OLESON, 1996): ou por serem extremamente descritivos, abstratos e deterministas; ou ainda por representarem uma aproxima??o ao neoclassicismo devido à filia??o ao individualismo metodológico e, sobretudo, à evidencia??o da maximiza??o da performance econ?mica e equilíbrio (por meio da corre??o de falhas de mercado). Evidente é que enquanto os primeiros críticos est?o se referindo às constru??es seminais do arcabou?o em quest?o (o Antigo Institucionalismo), os demais se referem às abordagens da NEI. Geoffrey Hodgson mantém e sustenta essa crítica à NEI ao derivar sua proposta analítica, buscando avan?ar nos pontos onde considera que os antigos institucionalistas n?o o fizeram. A crítica de Hodgson à NEI evidencia a sua insatisfa??o em rela??o à ruptura com o Antigo Institucionalismo, ao se aproximar do individualismo metodológico, principalmente quando o material analisado provém da linha microanalítica (Teoria de Custos de Transa??o). Embora Williamson (1985; 1991) vincule o comportamento com o ambiente institucional, Hodgson (1998; 2000) se contrap?e ao fato de que ele possa ser exógeno à estrutura, assim como a própria estrutura n?o pode ser amplamente compreendida a partir de um ponto de vista unilateral da a??o. Em rela??o às críticas à linha macroanalítica da NEI (NORTH, 1991; 1994), Hodgson (2006) n?o considera os indivíduos como “jogadores” em um ambiente emulado por “regras do jogo”, dado que, para ele, a partir desse ponto de vista, indica-se que toda a??o tem como fim o desempenho e s?o desconsideradas dimens?es n?o econ?micas relacionadas ao processo de tomada de decis?o. Nesse sentido, os textos que aqui nos servem de alicerce buscam demonstrar caminhos para desvincular as abordagens institucionalistas de tais críticas. Aproximando-se desta exposi??o, Hodgson (2006) indica como elementos básicos de pesquisas desta natureza a incorpora??o de fatores culturais e institucionais vinculados ao desenvolvimento econ?mico, a demanda por análises interdisciplinares e materiais empírico-históricos e a n?o supervaloriza??o de modelos matemático-estatísticos. O autor torna evidente as características evolucionárias que preza nestes processos investigativos, citando, por exemplo, os conceitos de hábito e rotinas que encapsulam a essência da mudan?a isso, a proposta metodológica de Hodgson se diferencia da NEI ao indicar que n?o é fortuito considerar que mercados (ou as transa??es de troca em si) sejam anteriores às institui??es. Para o autor, a quest?o n?o é “o que primeiro surgiu, e sim quais fatores explicam o desenvolvimento de ambos” (HODGSON, 2006). Ou seja, os indivíduos n?o s?o meramente constrangidos ou incentivados por institui??es; os indivíduos s?o constituídos por institui??es e, de forma reconstitutiva, suas a??es interferem na mudan?a institucional. Institui??es seriam, portanto, regras estabelecidas que estruturam as intera??es sociais, atuando como constrangimentos institucionais (external enforcement) que explicam as restri??es comportamentais impostas e os comportamentos governados por hábitos (self enforcement). Sendo as institui??es sistemas e regras sociais que estruturam as intera??es sociais, se verá a seguir como Hodgson busca classificar as disposi??es normativas e conven??es às inst?ncias particulares das regras institucionais. 3.3 O pensamento de Geoffrey HodgsonGeoffrey Martin Hodgson nasceu em 28 de julho de 1946 e foi autor de importantes obras do Institucionalismo Econ?mico, que incluem críticas à teoria mainstream e proposi??es sobre a necessidade de análise das institui??es em um contexto evolucionário. Atualmente, é reconhecido como uma das principais figuras do institucionalismo moderno, promovendo o debate crítico e a tradi??o intelectual dos fundadores da escola institucionalista, principalmente de Thorstein Veblen.Inspirado nos conceitos veblenianos de “hábitos”, “instintos” e “institui??es”, Hodgson rejeita a compreens?o neoclássica de que as preferências individuais s?o fixas e imutáveis, e procura relacioná-las com o ambiente sócio institucional, onde se dá a intera??o entre os agentes.3.3.1 Relev?ncia das institui??es em HodgsonHodgson (2009) afirma que, por muito tempo, o modelo predominante na explica??o dos processos de crescimento e desenvolvimento econ?mico compreendia as firmas como entidades que utilizavam uma dada combina??o de insumos – capital e trabalho – visando determinado fluxo de resultados. Os indivíduos, por sua vez, eram vistos como agentes maximizadores e racionais, detentores de uma fun??o de preferências que determinava as suas decis?es. Nesse modelo, os objetivos dos agentes eram dados: as firmas buscavam aumentar os seus lucros, e os indivíduos, satisfazer suas preferências. O processo de produ??o em si n?o era explicado, tampouco a forma??o das escolhas individuais: estruturas institucionais e a forma como estas podem condicionar o comportamento dos agentes n?o eram consideradas. O reduzido poder explicativo desse tipo de teoria fez com que, progressivamente, surgissem abordagens alternativas ao mainstream econ?mico, visando preencher as lacunas deixadas por ele na explica??o dos fen?menos econ?micos e sociais.O crescimento da economia institucional como área de conhecimento e a maior frequência no uso do conceito “institui??es” nas ciências sociais nos últimos anos tem provocado o ressurgimento do debate nesse campo. Como consequência, a ausência de consenso a respeito de temas centrais como “institui??es” ou “organiza??es” veio à tona, tornando imperativa a necessidade de sua discuss?o, bem como as tentativas de concilia??o entre as suas defini??es, para que, a partir daí, estudos empíricos e análises teóricas possam ser realizados. Para Hodgson (2006), o conceito de institui??es se refere a sistemas de regras sociais prevalecentes e estabelecidas que estruturam as intera??es sociais. Crescentemente se reconhece que a maior parte das atividades e intera??es humanas é estruturada em termos de regras sociais mais ou menos implícitas, que envolvem desde o dinheiro e a linguagem até as firmas e as leis:Institutions are enduring systems of socially ingrained rules. They channel and constrain behavior so that individuals form new habits as a result. People do not develop new preferences, wants or purposes simply because “values” or “social forces” control them. Instead, the framing, shifting and constraining capacities of social institutions give rise to new perceptions and dispositions within individuals (HODGSON, 2007a, p. 331).De acordo com Hodgson (2006), a estabilidade e a durabilidade das institui??es decorrem do fato de elas serem capazes de criar expectativas estáveis a respeito do comportamento dos indivíduos. As institui??es s?o capazes, nesse sentido, de impor consistência à atividade humana, e dependem tanto do pensamento quanto das atividades individuais, n?o sendo, porém, redutíveis a elas. Além disso, elas podem tanto restringir quanto permitir e encorajar o comportamento, de modo que, embora determinem restri??es à atividade humana, elas podem abrir oportunidades que de outra forma n?o seriam vislumbradas.Da mesma forma que Veblen, Hodgson também é adepto das ideias darwinistas e, como tal, acredita que a Ciência deve estar comprometida em fornecer explica??es causais para todos os fen?menos, inclusive para as preferências e escolhas dos indivíduos. A principal falha cometida pela economia mainstream é o fato de ignorar a possibilidade de que os objetivos e as preferências dos agentes possam ser reconstituídos pelas circunst?ncias. Análises que se pretendem evolucionárias, por outro lado, devem considerar os indivíduos em seus contextos histórico e institucional (HODGSON, 2003b).3.3.2 O papel desempenhado pelos hábitosDesde a publica??o de “An Essay on the nature and significance of Economic Science”, de Lionel Robbins, a Ciência Econ?mica tem sido entendida como a “ciência da escolha racional”, pois concebe os indivíduos como agentes decisores, que compartilham um conjunto comum de preferências e que conhecem as consequências de todas as suas escolhas. Como cada agente escolhe a alternativa que for mais atrativa de acordo com a sua fun??o de preferências, as decis?es daí decorrentes s?o consideradas “racionais”. O modo como s?o formadas tais preferências, no entanto, n?o é explicado, fazendo com que sejam entendidas como “dadas” ou “exógenas”. De acordo com Hodgson (2010), por outro lado, n?o é correto pressupor que as escolhas sejam dadas ou que surjam do acaso, e sustenta que suas causas precisam ser investigadas.Trabalhos recentes desenvolvidos na área da Psicologia est?o, crescentemente, se distanciando do chamado “paradigma deliberativo”, que entende a mente humana como deliberadora independente e racional, e dirigindo-se para um novo paradigma, em que se compreende que a cogni??o humana depende do ambiente social e material no qual os indivíduos est?o inseridos, bem como das suas intera??es com os outros agentes. Essa mudan?a de paradigma na Psicologia afeta a forma como s?o pensadas as coisas na Ciência Econ?mica, principalmente no que concerne à forma??o das preferências individuais (HODGSON, 2007a).Esses estudos têm demonstrado que a combina??o de processos conscientes e inconscientes, socializa??o e educa??o, ajudam a criar o aparato cognitivo necessário para a tomada de decis?o dos agentes. Nessas circunst?ncias, a racionalidade individual passa a depender de mecanismos culturais e institucionais. Para o autor, a ado??o de uma racionalidade dependente do contexto é consistente com uma economia institucional na qual agência e estrutura s?o importantes e mutuamente constitutivas. O raciocínio é inseparável do seu contexto institucional e material.Essa “maleabilidade” das preferências é necessária para explicar a evolu??o e a estabilidade institucional, que é refor?ada pela capacidade que as institui??es têm de modificar as escolhas dos indivíduos. O autor afirma que s?o os “hábitos” os mecanismos que fornecem os fundamentos para a modifica??o das cren?as e das preferências, e que Veblen foi um dos primeiros autores a examinar quais circunst?ncias e restri??es conduzem à forma??o dos hábitos. “Through the individual mechanism of habit, the framing, shifting and constraining capacities of social institutions give rise to new perceptions and dispositions within individuals. This is a key element in the Veblenian legacy” (HODGSON, 2007a, p. 331).Para economistas da tradi??o vebleniana, as institui??es funcionam porque est?o enraizadas em hábitos prevalecentes de pensamento e de comportamento. Hábitos s?o definidos como disposi??es ou capacidades adquiridas, que podem ou n?o ser expressas no comportamento corrente dos indivíduos. Hodgson (2010) afirma que os hábitos s?o “repertórios submersos de comportamentos potenciais”, que podem ser refor?ados por contextos apropriados. De forma geral, s?o propens?es a comportar-se de determinada maneira em situa??es particulares.Para que os hábitos sejam desencadeados, no entanto, parece haver a necessidade da presen?a de certas pré-disposi??es capazes de identificar estímulos-chave. Hodgson (2007a) identifica no conceito de “instintos” essas pré-disposi??es necessárias para que os comportamentos repetidos possam tornar-se possíveis. Nesse sentido, define os instintos como reflexos, sentimentos ou disposi??es inerentemente biológicas, que podem ser incitados por determinados sinais. Para o autor, os instintos podem ser suprimidos ou estimulados, a depender do contexto social e cultural com o qual s?o defrontados.Além de modificar o axioma das preferências “dadas”, a inclus?o dos hábitos e dos instintos nas considera??es sobre o comportamento dos indivíduos também coloca em xeque o pressuposto da racionalidade tradicionalmente adotado na Ciência Econ?mica. Ao invés de presumir que os indivíduos agem como se possuíssem todas as informa??es possíveis, calculam todos os benefícios e malefícios de suas a??es e tomam decis?es conforme as suas preferências fixas, a análise dos fatores – muitas vezes inconscientes – que levam à delibera??o flexibiliza esse pressuposto, fazendo com que as decis?es variem conforme o background de cada indivíduo, bem como conforme o ambiente social e cultural no qual est?o inseridos.Hodgson (2007b) explica que, para que um hábito individual venha a se tornar uma regra, este deve ser potencialmente codificável e prevalecer entre determinado grupo. Uma vez que a estrutura de regras prevalecente – as institui??es – incentiva e restringe a??es individuais, os hábitos concordantes s?o refor?ados entre a popula??o. Ao refor?ar hábitos de pensamento e de a??o compartilhados, a estrutura institucional cria mecanismos que contribuem para a sua própria reprodu??o. O reconhecimento de que as institui??es s?o capazes de alterar as preferências dos indivíduos n?o implica em afirmar que a estrutura social determina as suas escolhas. A oposi??o entre o individualismo e o coletivismo metodológico é um dos problemas centrais nas ciências sociais, e é frequentemente entendido como um problema de agente e estrutura. Se, por um lado, algumas vers?es do marxismo s?o criticadas por enfatizar demasiadamente a sociedade (sistema, estrutura, institui??es), negligenciando o papel desempenhado pelos agentes individuais, por outro lado, vers?es do individualismo metodológico – representadas, sobretudo, pelo mainstream econ?mico –, s?o acusadas de debru?ar suas análises sobre os indivíduos (agentes), deixando as estruturas em segundo plano. Para Hodgson (2003a), o principal problema desses dois extremos é que nenhum deles, de fato, entrega o que promete: o individualismo metodológico falha em fornecer explica??es individuais sobre os fen?menos sociais ao supor que os indivíduos s?o socialmente determinados, ao mesmo em que o coletivismo metodológico, ao buscar explicar tudo por meio das estruturas sociais, acaba por dotar as institui??es de vontades próprias, como se fossem indivíduos.Sem uma análise adequada da maneira pela qual as preferências, os propósitos e as cren?as individuais s?o causadas, o parecer tende sempre tende a um desses extremos reducionistas. ? necessária, portanto, uma explica??o que invista na investiga??o dessas causas, bem como no reconhecimento da influência da psicologia nesse processo. 3.3.3 Reconstitutive Downard CausationAo rejeitar tanto a análise pura do individualismo quanto a do coletivismo metodológico, Hodgson (2003a) procura solucionar o dilema entre esses dois extremos através do resgate do conceito de hábito, central na análise vebleniana. Para o autor, é necessária uma abordagem que envolva explica??es tanto dos indivíduos – seus objetivos e cren?as - quanto das estruturas (institui??es), bem como de sua evolu??o e possíveis intera??es entre ambos. Nessa análise, fica claro que as preferências s?o formadas endogenamente.As estruturas sociais dependem dos indivíduos, no sentido de que, se os indivíduos cessassem de existir, elas n?o subsistiriam: os indivíduos criam, reproduzem, transformam ou destroem as institui??es, intencional ou involuntariamente. Porém, mesmo a partir desse reconhecimento, n?o é possível aceitar o individualismo metodológico, uma vez que as estruturas sociais n?o podem ser inteiramente explicadas em termos dos indivíduos e de suas rela??es. Ademais, o reconhecimento de que o comportamento individual é profundamente afetado pelo contexto sócio institucional também n?o implica em aceitar o coletivismo metodológico: os indivíduos também n?o podem ser reduzidos às estruturas sociais nas quais est?o inseridos. Com isso, Hodgson (2003a) afirma ser possível aceitar que indivíduos e institui??es s?o mutuamente constitutivos.A existência de uma causa??o ascendente, no sentido de que elementos de um nível ontológico inferior afetam aqueles que se encontram em um nível mais elevado, é amplamente reconhecida nas ciências sociais. Outrossim, essa causalidade ascendente pode ser reconstitutiva, já que as mudan?as operadas em nível inferior podem afetar consideravelmente as estruturas de níveis mais altos. A ideia proposta por Hodgson (2003a) é a de que existe, além da já mencionada causalidade reconstitutiva ascendente, também uma causalidade reconstitutiva descendente, no sentido de que mudan?as operadas em níveis mais altos (institui??es) também s?o capazes de afetar e reconstituir elementos dos níveis inferiores (indivíduos). Com isso, torna-se impossível tomar as partes como dadas e, a partir delas, explicar o todo, uma vez que o todo reconstitui as partes.O principal aspecto no qual a ideia de Hodgson (2003a) se diferencia das análises precedentes é que o autor examina os mecanismos sociais e psicológicos que permitem às institui??es processar mudan?as nas preferências dos indivíduos. Baseado no conceito de hábitos de pensamento e comportamento, já previamente definido e analisado por Veblen, o autor sustenta que é através desse mecanismo que a causa??o descendente reconstitutiva atua. Somente depois de estabelecidos certos hábitos específicos é que surgem a raz?o, a delibera??o e o cálculo. “(...) reconstitutive downward causation works by creating and moulding habits. Habit is the crucial and hidden link in the causal chain” (HODGSON, 2003a, p. 171).Hodgson (2006, 2007a) concorda com Veblen e sustenta que a forma??o dos hábitos é o mecanismo que permite que as regras culturais e institucionais de cogni??o e a??o adentrem na mente humana. Assim, toda delibera??o depende da forma??o prévia de hábitos, e estes s?o formados através de pensamentos ou comportamentos repetidos em ambientes sociais específicos. Embora sejam conex?es individuais – que se formam na mente de cada indivíduo – possuem forte marca social. ? a este processo, que opera através da moldagem dos hábitos e que vai da estrutura social específica para o indivíduo, o autor chama de “causalidade reconstitutiva descendente”, e é assim denominado porque enfatiza os efeitos reconstitutivos das institui??es sobre os indivíduos, ao mesmo tempo em que evidencia a dependência da evolu??o institucional em rela??o à forma??o de hábitos concordantes.A causalidade descendente reconstitutiva ocorre porque as institui??es s?o capazes de criar novos hábitos ou alterar hábitos existentes de forma reconstitutiva. As institui??es até podem levar diretamente a mudan?as nas inten??es (preferências) individuais, mas apenas de forma n?o reconstitutiva. Por outro lado, quando as institui??es agem n?o diretamente sobre as a??es dos indivíduos, mas sobre as suas disposi??es habituais, elas exercem uma causalidade descendente sem que a agência individual seja reduzida aos seus efeitos.Os hábitos s?o mecanismos aceitáveis de causa??o descendente reconstitutiva porque, através deles, é possível explicar a forma pela qual as institui??es afetam o comportamento individual. ? reconhecido que as institui??es também podem afetar diretamente as inten??es dos agentes – através de incentivos, san??es ou restri??es – mas o processo de causa??o descendente reconstitutiva entra em a??o quando isso ocorre de forma indireta, através da forma??o e sustenta??o dos hábitos.O feedback positivo entre institui??es e indivíduos é o elemento que dá sustenta??o à estrutura institucional. As institui??es s?o perpetuadas n?o apenas pelas regras de coordena??o que oferecem, mas, principalmente, porque moldam aspira??es individuais, criando uma base para a sua existência. Isso n?o significa, no entanto, que as institui??es sejam independentes: elas dependem dos indivíduos e, sobretudo, das intera??es entre eles e dos seus hábitos compartilhados de pensamento (HODGSON, 2006).Com a discuss?o do conceito de causalidade descendente reconstitutiva, Hodgson e Knudesn (2004) argumentam que é possível superar o dilema entre o individualismo e o coletivismo metodológico pois, ao agir sobre as disposi??es habituais – e n?o diretamente sobre as decis?es dos indivíduos – as institui??es exercem uma causa??o descendente reconstitutiva sobre os indivíduos, sem, no entanto, reduzir o papel da agência individual. Nesse sentido, as explica??es dos fen?menos socioecon?micos n?o s?o reduzidas nem aos indivíduos nem às institui??es.4. A INFLU?NCIA DE VEBLEN NA ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA DE HODGSONA partir da identifica??o, até aqui, dos posicionamentos contrários às análises estritamente economicistas, com base em um processo teleológico e por meio de ferramentas estáticas, subentende-se que ambos autores concordam que as a??es econ?micas n?o necessariamente buscam eficiência ou maximiza??o. A grosso modo, existem outras dimens?es, n?o somente a econ?mica, construindo o contexto pessoal e social no qual as decis?es s?o tomadas. Partindo do princípio de que o controle e a expans?o das a??es individuais sempre resulta em ganhos e perdas para um dos lados envolvidos, o consenso é a busca deste processo emulado pela for?a de hábitos sociais. Da mesma forma, tais hábitos s?o o elo de conex?o entre estes consensos e aspectos intrínsecos da natureza humana, fato que n?o pode ser negligenciado à medida que se evidenciam a origem da forma??o de preferências e interesses.Contudo, existe um intervalo de cerca de um século entre suas constru??es e, portanto, s?o claros os avan?os de Hodgson sobre o arcabou?o vebleniano. Embora a Economia Evolucionária seja competente em apresentar as limita??es do mainstream econ?mico, ela própria possui suas limita??es referentes a falta de um esquema claro e que comungue a intencionalidade humana à causalidade no desenvolvimento das institui??es (HODGSON, 2004b). A causalidade reconstitutiva descendente é a resposta do autor a essa limita??o e as próximas subse??es têm como objetivo explanar sobre tais deriva??es. 4.1 Instintos, Hábitos e Institui??esA dialética presente nas intera??es entre as disposi??es inatas dos agentes e a consolida??o dos consensos sociais é, sobremaneira, o principal ponto de convergência entre Veblen e Hodgson. Instintos, encarados nessa lógica de raciocínio como tais propens?es inatas, n?o determinam os comportamentos; eles s?o sujeitos ao desenvolvimento e modifica??o pela for?a dos hábitos (VEBLEN, 1914). ? o que Veblen intenciona dizer ao mencionar que hábitos de pensamento ou de vida, formados em resposta a um determinado estímulo, afetar?o, indubitavelmente, a natureza das respostas aos estímulos futuros, pois modificar?o o arcabou?o analítico do indivíduo. Sendo assim, os hábitos, ao se solidificarem nas no??es de bom senso, tendem a ser repetidos nas distintas camadas sociais. Eles correspondem, portanto, à estrutura??o de um sistema de conven??es que se mantém influente sobre a vida em sociedade. Hodgson esclarece:“The formation of habits requires repeated behaviours, wich sometimes are triggered by innate dispositions, and often result from the propensity to imitate others in social conditions with guiding constraints. Repeated behaviour leads to formation of habits of thought or action. Habit is the psychological mechanism that forms the basis of much rule-following behaviour (HODGSON, 2007b, p.107)”.O mesmo pode ser verificado na senten?a de Veblen ao deliberar sobre a forma como hábitos de vida e pensamento s?o a representa??o daquilo que se elege como ideal:“O grupo se comp?e de indivíduos, e a vida do grupo é a vida dos indivíduos vivida pelo menos por uma ostensiva maioria. O esquema de vida aceito pelo grupo é o consenso de opini?es mantidas pelo conjunto desses indivíduos ao que é certo, bom, conveniente e belo na natureza humana” (VEBLEN, 1899, p.183).Nítida é a premissa de que este caminho entre instintos, hábitos e institui??es n?o é caminho homogêneo e unidirecional, uma vez que a cada movimento um novo contexto se forma e, embora existam mecanismos que visam a estabiliza??o das institui??es, esse cenário deve ser encarado como din?mico. ? no caminho da natureza individual humana e das institui??es presentes na estrutura social que reside o cerne analítico:“Human reasoning capacities are thus linked to their evolving social and biological contexts. Rationality is not detached from the World; it is situated in and operates through specific cues, triggers and constraints. These structures and circumstances are part of our biological and social heritage. Among them are institutions that frame our cognitions, enable some behavioral options and constrain us from others” (HODGSON, 2007a, p.331).Veblen, aproximando-se dessa constata??o de que as intera??es entre estrutura e indivíduo deve ser considerada de forma dialética em um processo de retroalimenta??o, delibera:“The growth and mutations of the institutional fabric are an outcome of the conduct of the individual members of the group, since it is out of the experience of the individuals, through the habituation of individuals, that institutions arise; and it is in this same experience that these institutions act to direct and define the aims and end of conduct. It is, of course, on individuals that the system of institutions imposes those conventional standards, ideals, and canons of conduct that make up the community's scheme of life” (VEBLEN, 1909, p. 628). E, sobretudo, o próprio crescimento cultural é a representa??o da sequência cumulativa das formas como a natureza humana responde às exigências que lhes aparece. Entretanto, esse sistema de conven??es se sustenta com alguma flexibilidade, conforme aponta Veblen (1909), diagnosticando que a partir do momento que se compreende que as institui??es do passado influenciam as do futuro, é correto afirmar que s?o os hábitos que atuam nessa condi??o mutacional:“But institutions are an outgrowth of habit. The growth of culture is a cumulative sequence of habituation, and the ways and means of it are the habitual response of human nature to exigencies that vary incontinently, cumulatively, but with something of a consistent sequence in the cumulative variations that so go forward -incontinently, because each new move creates a new situation which induces a further new variation in the habitual manner of response; cumulatively, because each new situation is a variation of what has gone before it and embodies as causal factors all that has been effected by what went before; consistently, because the underlying traits of human nature (propensities, aptitudes, and what not) by force of which the response takes place, and on the ground of which the habituation takes effect, remain substantially unchanged (VEBLEN, 1909, p. 628).Com isso, pretendeu-se até aqui demonstrar como ambos os autores encaram o contexto de mudan?a institucional. Esse entendimento é pré-requisito para que se postule suas propostas analíticas, assim como da matriz institucionalista que este estudo pretende demonstrar. As institui??es n?o podem ser vistas como uma estrutura sólida e permanente, uma vez que a “evolu??o da estrutura social foi um processo de sele??o natural das institui??es” (VEBLEN, 1899, p. 179). Ao passo que o ambiente institucional n?o pode ser tomado como externo ao comportamento, é no comportamento, na repeti??o de hábitos de vida e pensamento, que se evidenciam os meios passados para a constitui??o daquele ambiente, por meio da mudan?a da compreens?o dos agentes e n?o somente de seus hábitos:“Powers and constrains associated with institutional structures can encourage changes in thought and behaviour. In turn, upon these repeated acts, new habits of thought and behaviour emerge. It is not simply the individual behaviour that has been changed: there are also changes in habitual dispositions. In turn, these are associated with changed individual understandings, purposes and preferences” (HODGSON, 2003b, p.167).Analisando essas informa??es, busca-se transpor esses mecanismos analíticos para sua utiliza??o em fen?menos e objetos de investiga??o atuais. Veblen (1914) já indicava que, com a evolu??o da ciência e do corpo de conhecimento das sociedades, propens?es inatas iriam sendo incorporados no legado de hábitos e comportamentos das gera??es passadas. Hodgson (1994) demonstra que algumas escolas econ?micas hodiernas lan?am m?o dessa lógica através da indica??o de que a aquisi??o de aptid?es tecnológicas e as formas utilizadas para que essas sejam transmitidas dentro da economia, representam a “memória da organiza??o”, quais sejam, os hábitos e rotinas institucionalizados na empresa. Ora, ambiente e objeto de investiga??o de Veblen eram outros, contudo, vejamos as similaridades com uma de suas proposi??es:“A situa??o de hoje modela as institui??es de amanh? mediante um processo seletivo e coercitivo, atuando na habitual opini?o humana sobre as coisas, e assim alterando ou envigorando um ponto de vista ou uma atitude mental herdada do passado” (VEBLEN, 1899, p. 88)Ou ainda“(…) esta lógica e aparato de caminhos e meios encaixam-se em linhas convencionais, adquirem a consistência de costume e prescri??o, e ent?o tomam um caráter e for?a institucionais” (VEBLEN, 1914, p. 7).Em suma, Tanto Veblen quanto Hodgson, buscam nessa contínua evolu??o institucional, dependente de instintos e hábitos, a forma de estruturar suas análises sociais. A próxima subse??o tratará dessas abordagens.4.2 Da “Economia Evolucionária” à “Causalidade Reconstitutiva Descendente”Conforme exposto no referencial teórico do presente artigo, s?o nos escritos de Veblen do final do Século XIX e início do XX que est?o expostas as suas críticas às análises econ?micas tradicionais. Infere-se a partir daí que sua crítica reside, sobretudo, em considerar os fen?menos de forma unilateral e estática. Nas ciências econ?micas ele considerava que análises que punham o indivíduo como tomador soberano das decis?es, um ente homogêneo e apartado do seu contexto social-histórico, n?o condiziam com a realidade, necessitando, assim, se ajustar às evidências. Sendo assim:“O progresso social, principalmente quando visto do ponto de vista da teoria econ?mica, consiste em uma abordagem progressiva, de um ajustamento, aproximadamente exato, das rela??es externas e internas; mas esse ajustamento jamais se estabelece definitivamente, uma vez que as rela??es externas est?o sujeitas a uma constante mudan?a – consequente da mudan?a progressiva que se processa nas rela??es internas (VEBLEN, 1899, p. 89). Os cientistas, ent?o, usualmente, tinham de agir no intuito de buscar fatos que corroborassem as teorias existentes, e quando esta tens?o entre teoria e realidade se tornasse incompatível, tais fatos seriam considerados com fatores disturbantes (VEBLEN, 1914). Para o autor, mesmo análises com apelo estatístico, deveriam desvincular-se da ênfase sobre os indivíduos e considerar que esses est?o incorporados a esquemas de vida complexos, dificultando a homogeneiza??o dos padr?es de comportamento. Entretanto, Veblen deixa claro que as análises existentes à época, que se colocavam como alternativa, principalmente do campo da antropologia, padeciam do mal de transferir à estrutura os elementos fundadores da a??o. Para ele, se deveria ter como pressupostos os fatos de que o desenvolvimento social e a conduta humana seriam, em última análise, redutíveis tanto ao “tecido vivo” quanto ao “ambiente material” (VEBLEN, 1899). Esse diagnóstico está bem exposto a seguir:“The economists have accepted the hedonistic preconceptions concerning human nature and human action, and the conception of the economic interest which a hedonistic psychology gives does not afford material for a theory of the development of human nature. Under hedonism the economic interest is not conceived in terms of action. It is therefore not readily apprehended or appreciated in terms of a cumulative growth of habits of thought, and does not provoke, even if it did lend itself to, treatment by the evolutionary method. At the same time the anthropological preconceptions current in that common-sense apprehension of human nature to which economists have habitually turned has not enforced the formulation of human nature in terms of a cumulative growth of habits of life. These received anthropological preconceptions are such as have made possible the normalized conjectural accounts of primitive barter with which all economic readers are familiar, and the no less normalized conventional derivation of landed property and its rent, or the sociologico-philo sophical discussions of the "function" of this or that class in the life of society or of the nation (VEBLEN, 1898, p. 22)”. A cita??o acima descreve aquilo que Hodgson considera o problema da ênfase analítica ou no indivíduo ou na estrutura. Para ele, tanto o coletivismo quanto o individualismo metodológico representam, em seus extremos, vers?es de um reducionismo exploratório que tende a considerar fen?menos complexos a partir de um único nível analítico. O próprio autor corrobora o pensamento de Veblen da seguinte forma:“As Veblen (1909b, p. 626) put it, explanation could not be confined to the ‘rationalistic, teleological terms of calculation and choice’ because the psychological beliefs and mechanisms that lay behind deliberation and preferences had also to be explained in terms of a ‘sequence of cause and effect, by force of such elements as habituation and conventional requirements’. By acknowledging the need for such causal explanations, Veblen rejected both the assumption of the given individual in neoclassical economics and the opposite error of regarding human agency as entirely an outcome of mysterious social forces” (HODGSON, 2004b, p. 350).Nesse sentido, ambos os autores se direcionam à busca por uma resposta analítica que se posicione entre esses extremos e se afaste dos supracitados extremos. Se para Veblen essa resposta seria a “Economia Evolucionária”, para Hodgson, a resposta seria a “Causalidade Reconstitutiva Descendente”. Embora este último se apoie no primeiro, ele busca desmistificar um caráter abstrato e generalista da proposta vebleniana, preenchendo lacunas deixadas:Veblen outlined the problem of reconciling human volition and causality but failed to develop an adequate and non-reductionist philosophical framework in wich human intentionality, monism and causality could be reconciled; without reducing mind to matter, or matter to mind (HODGSON, 2004b, p.351).Sendo assim, a partir dessa deriva??o, Hodgson (2003a) clarifica esse processo dialético mostrando indícios da triangula??o entre as categorias instintos, hábitos e institui??es, que espera incorporar às análises. Os hábitos, nesse contexto, ao conectarem instintos aos aspectos reguladores da sociedade, s?o mais do que simples comportamentos, eles representam a compreens?o da realidade por parte dos agentes. Com isso, a mudan?a institucional afeta n?o só as a??es, mas também o entendimento de mundo de uma determinada sociedade. Conforme exp?e Hodgson:“Institutions are social structures with the capacity for reconstitutive downward causation, acting upon ingrained habits of thought and action. The downward causation of institutional structure upon agents results in a reconstitution of purposes and preferences. Causal powers and constraints associated with institutional structures can encourage changes in thought and behaviour (…) It is not simply the individual behaviour that has been changed: there are also changes in habitual dispositions. In turn, these are associated with changed individual understandings, purposes and preferences” (HODGSON, 2003a, p.172).Com isso, buscou-se demonstrar como a similaridade entre os arcabou?os teóricos de Hodgson e Veblen se complementam. Outrossim, Hodgson avan?a nesse conteúdo ao passo que transcende à lógica mais abstrata e indica possíveis aplica??es da proposta de Causalidade Reconstitutiva Descendente.CONSIDERA??ES FINAISO Institucionalismo, no ?mbito das Ciências Sociais, surgiu como uma alternativa à teoria neoclássica, que tradicionalmente desconsiderava a influência dos contextos socioecon?mico e institucional sobre as decis?es dos indivíduos. Essa alternativa, muito além de se constituir em oposi??o ao neoclacissismo, forneceu um aparato teórico para análises robustas e consistentes com a realidade, sobretudo na esfera das Ciências Econ?micas. Nesse sentido, a reaproxima??o da Economia com a Psicologia e a Sociologia muniu tais análises de aplicabilidade empírica, ao mesmo tempo em que promoveu o afastamento do paradigma deliberativo presente nesse campo.Thorstein Veblen, principal representante do Institucionalismo norte-americano, ao entender as institui??es como hábitos estabelecidos de pensamento comuns à generalidade dos homens, enfatizou o tripé “instintos – hábitos – institui??es” e o processo de retroalimenta??o entre essas categorias. Ao compreender a Economia como uma “ciência evolucionária”, o autor sustenta que as análises nesse campo prescindem considerar os contextos sociais e econ?micos nos quais s?o concebidas, pois estes s?o din?micos e encontram-se em constante muta??o. Geoffrey Hodgson, herdeiro da tradi??o institucionalista original, definiu as institui??es como sistemas duradouros de regras sociais que estruturam as intera??es humanas. Ao reprovar tanto as análises que preconizam o individualismo metodológico quanto as que sustentam o coletivismo metodológico, o autor sugere o resgate da abordagem vebleniana e, sobretudo, o conceito central de “hábitos” para a compreens?o de que os indivíduos afetam as institui??es, mas que também s?o afetados por elas. A “causa??o descendente reconstitutiva” da estrutura em dire??o ao agente só é possível através da modifica??o prévia dos hábitos individuais, pois é este mecanismo que permite que as regras culturais e institucionais de fato adentrem na mente humana.N?o obstante os cem anos de desenvolvimentos teóricos que os separam, as abordagens empreendidas por Veblen e Hodgson parecem caminhar em uma dire??o bastante convergente: a rejei??o das análises que preconizam os indivíduos sem considerar as estruturas sociais e institucionais nas quais est?o inseridos e, ao mesmo tempo, daquelas que inferem que tais estruturas s?o a tal ponto determinantes do comportamento individual que s?o capazes de retirar o seu poder de agência. Nesse sentido, para ambos os autores, as disposi??es habituais emergem como fundamentais para o entendimento da retroalimenta??o entre indivíduos e institui??es.REFER?NCIASBECKER, G. S. Habits, addictions and traditions. Nancy Schwartz Lecture. Northwestern University. May, 1991.CAMPBELL, D.T. Downward causation in hierarchically organized biological systems. In: Ayala, F.J., Dobzhansky, T. (Eds.), Studies in the Philosophy of Biology. Macmillan, London. 1974.CAVALIERI, M.A.R. O surgimento do institucionalismo norte-americano de Thorstein Veblen: economia política, tempo e lugar. Economia e Sociedade, v. 22, n.1, pgs. 43-76, 2015.CONCEI??O, O. A. As abordagens Institucionalistas. In: Institui??es, crescimento e mudan?a na ótica institucionalista. Teses FFE, n. 1. Porto Alegre, 2002.CONCEI??O, O. A. C. Além da transa??o: uma compara??o do pensamento dos institucionalistas com os evolucionários e pós-keynesianos. Revista EconomiA, v. 07, n. 3, pp. 621-642. 2007.CONCEI??O, O. A. C. Há compatibilidade entre a “tecnologia social” de Nelson e a “causalidade vebleniana” de Hodgson? Revista de Economia Política, v.32, n.1. 2012.HODGSON, G. M. Economia e institui??es: manifesto por uma economia institucionalista moderna. Oeiras: Celta Editora, 1994.HODGSON, G. M. Reconstitutive Downard Causation: Social structure and the development of individual agency. In: Fulbrook, E. Intersubjectivity in Economics: agents and structures. Routledge. London and New York, 2003a.HODGSON, G. M. The hidden persuaders: institutions and individuals in economic theory. Cambridge Journal of Economics. V. 27, p. 159-175. 2003b.HODGSON, G. M. Darwinism, causality and the social sciences. Journal of Economic Methodology. 11:2, 175-194. June, 2004a.HODGSON, G. M. Veblen and Darwinism. International Review of Socioloy. Vol. 14, n. 3, 2004b.HODGSON, G. M. What are institutuions? Journal of Economic Issues. Vol. XL, N. 1, March, 2006.HODGSON, G. M. The revival of Veblenian Institutional Economics. Journal of Economic Issues. Vol. XLI. n. 2. June, 2007a.HODGSON, G. M. Institutions and Individuals: interaction and evolution. European Group for Organization Studies. February, 2007b.HODGSON, G. M. Institutional Economics into the Twenty-First Century. Studi e Noti di Economia. Ano XIV. 2009.HODGSON, G. M. Choice, habit and evolution. Journal of Evolutionary Economics. 2010.HODGSON, G. M; KNUDSEN, T. The complex evolution of a simple traffic convention: the functions and implications of habit. Journal of Economic Behaviour and Organization. Vol. 54, 2004.MONASTERIO, L. M. Guia para Veblen: um estudo acerca da economia evolucionária. Pelotas: EDUFPEL, 128p, 1998. SPERRY, R. W. A modi?ed concept of consciousness. Psychological Review. V. 76, 532–536. 1969.VEBLEN, T. B. Why is economics not na evolutionary science. Cambridge Journal of Economics, v. 22, 1898.VEBLEN, T. B. A teoria da classe ociosa: um estudo econ?mico das institui??es. S?o Paulo: Pioneira, 1965. (1a. ed. 1899).VEBLEN, T. The limitations of marginal-utility. Journal of Political Economy. v. 17, n. 9. 1909.VEBLEN, T. B. The instict of workmanship and the state of industrial arts. New York: Viking Press, reimp. 1914. ................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download