UEL



ISBN 978-85-7846-455-4

A INFLUÊNCIA DOS DESENHOS ANIMADOS NA VIDA INFANTIL: TECENDO BREVES CONSIDERAÇÕES

Gabriela Fernanda Correa Ribeiro, Universidade Estadual de Londrina, gabifc89@

Eixo 1: Formação e Ação Docente

Resumo

Este texto objetiva apresentar as discussões iniciais realizadas a partir dos estudos vinculado ao Projeto de Pesquisa “Indústria Cultural, Educação e Trabalho docente: da semiformação à emancipação humana” da Universidade Estadual de Londrina. O estudo se justifica pela necessidade de caracterizar reflexivamente a sociedade atual e o cenário marcado pela indústria cultural e lógica do consumo, tecendo análise crítica deste cenário na constituição e formação humana, especificamente na vida infantil, com a influência dos desenhos animados no comportamento das crianças. A metodologia para este momento é de caráter qualitativo com estudo bibliográfico sobre os autores que discutem a temática. Como resultado, há a necessidade da reflexão sobre o comportamento das crianças mediante aos impactos negativos do desenho animado e as inúmeras informações e influências transmitidas pelos mesmos na constituição do pensamento e aprendizagem das crianças.

Palavras-chave: Indústria Cultural; Infância; Desenhos Animados.

Introdução

As mudanças que acontecem conforme apontamentos históricos, sociais, culturais e educacionais, o que leva a influenciar novos olhares, ideias e comportamentos dos sujeitos envolvidos, nos fazem refletir muito sobre os motivos que influenciam as mudanças na formação intelectual dos seres humanos. Com o surgimento do capitalismo tardio, percebemos mudanças significativas nesse novo tempo social, marcado pela lógica do consumo, individualismo exacerbado e o pensamento crítico reduzido a racionalidade técnica e experimental, além das características de generalização e unificação do pensamento conforme os padrões de mercado.

Diante de um cenário marcado pela indústria cultural e a lógica de consumo, se faz necessária uma análise crítica e reflexiva das influências que esses fatores estão trazendo para as crianças, visto que refletem na constituição, formação humana e intelectual da vida infantil. Compreender essas influências do mercado na é importante para os educadores, pois possibilita toda a formação intencional de uma metodologia de ensino, pautada no desenvolvimento intelectual das crianças, desenvolvendo o seu senso crítico diante dos inúmeros fetiches sedutores dispostos pela indústria cultural. Assim, será apresentado a diante, uma análise crítica acerca das influências dos desenhos animados no comportamento da criança, discussões iniciadas e realizadas a partir dos estudos vinculado ao Projeto de Pesquisa “Indústria Cultural, Educação e Trabalho docente: da semiformação à emancipação humana” da Universidade Estadual de Londrina.

Metodologia

A metodologia utilizada nesta pesquisa é de caráter qualitativo com estudo bibliográfico sobre os autores que discutem a temática. O estudo bibliográfico contribuirá com o embasamento e compreensão dos apontamentos ao decorrer da análise de forma clara e objetiva sobre a influência da mídia na vida das crianças, no caso específico “os desenhos animados”, permitindo novos olhares, argumentações e problematizações próprias, tecendo uma análise crítica a respeito do papel do educador como mediador na formação do senso crítico da criança diante das inúmeras informações dispostas nesse meio de entretenimento e comunicação.

Referencial Teórico

No modelo de sociedade atual, com o surgimento do capitalismo tardio, percebemos as mudanças significativas nesse novo tempo social, mudanças que refletem no comportamento das pessoas e nas suas relações pessoais. O capitalismo passa a ser um sistema econômico pautado, exclusivamente, na obtenção de lucro e utiliza de vários fetiches e métodos sedutores para atrair seu público alvo que podem ser tanto adultos como crianças. O mais agravante é que em busca do seu objetivo, o regime capitalista aliena as pessoas e as manipulam a consumir compulsivamente “coisas”, mesmo que desnecessárias, para sua sobrevivência.

Segundo Oliveira (2011), esse novo tipo de sociedade é marcada pela lógica do consumo, individualismo exacerbado e o pensamento crítico reduzido a racionalidade técnica e experimental, além das características de generalização e unificação do pensamento conforme os padrões de mercado.

É notória a presença da distorção de valores humanos uma vez que, o processo de mercadoria e consumo vai conduzindo o indivíduo para a vida consumista preenchida em detrimento da vida humana vazia. Conforme aponta Marcuse (1973, p.17), “[...] com a crescente integração da sociedade industrial, essas categorias estão perdendo sua conotação crítica, tendendo a tornar-se termos descritivos, ilusórios ou operacionais”.

No que se trata das relações afetivo-sociais entre pais e filhos, podemos inferir que a maioria das vezes por causa da correria do dia-a-dia, as pessoas permanecem longos períodos ausentes de suas casas, pois precisam trabalhar e, quando tem um pouco de tempo preferem não questionar ou indagar sobre tudo aquilo que lhe é jogado na sociedade por intermédio da mídia.

Há, neste contexto, uma crise de autoridade, em que há a ausência de limites dos pais aos seus filhos. Devido a isso nos deparamos com um perfil de criança autoritária, pois estão muito mais antenadas nas inovações tecnológicas que são cada vez mais atraentes e expostas pela Indústria Cultural e querem cada vez mais adquirir objetos como celular, tablet, computadores, roupas de marca (de personagens de desenhos animados, filmes, programas infantis ou tendências de telenovelas).

Dessa forma Oliveira (2011, p. 48), nos descreve que:

Um dos aspectos mais evidentes do mundo contemporâneo é o lugar central ocupados pelos meios tecnológicos de produção, reprodução e difusão de informações audiovisuais. Desde o início do século XX, sistemas como o rádio, os toca-discos e o cinematográfico; posteriormente a televisão e vídeo; mais recentemente os recursos de processamento digital de som e imagem tem um papel enorme e crescente em todos os âmbitos de nossas vidas, tendo se tornado verdadeiros catalisadores de nossa afetividade e de nosso posicionamento diante do mundo e das coisas em geral.

Diante de tantas transformações na sociedade e na vida das pessoas, podemos compreender que a cultura industrial é um produto do sistema capitalista que surge para “controlar” os comportamentos sociais, distinguir padrões de vidas, transformando aquilo que deveria ser expressão de um povo, em mera mercadoria, alimentando cada vez mais os ideais capitalistas. O conhecimento passa a não ter lugar, pois a falta dele cria sujeitos conformados com a situação que vivem.

Adorno (2002, p. 46) já dizia:

O conhecimento efetivo dos temas não era primordial, mas sempre um produto secundário, e quanto mais falta ao crítico esse conhecimento, tanto mais essa carência passa a ser cuidadosamente substituída pelo eruditismo e pelo conformismo.

De todas as possibilidades dessa disseminação desenfreada, a fonte cultural mais acessível na vida das pessoas é a mídia televisiva, sem falar que consegue ser de influência para outros meios, como por exemplo, o mercado, cinema, rádio, teatro e até no âmbito educacional, não sendo diferente para a vida infantil. Sabemos que é uma fonte de comunicação rica, no entanto, nos repousar nessa fonte de cultura tomando-a como totalmente indagável, nos faz cair ao erro, visto que, muitas coisas, precisam ser avaliadas sobre suas verdades, que significa o próprio processo da reflexão e crítica. O homem precisa questionar sobre o que lhe é imposto e não tomar as coisas em sua aparência como única fonte de verdade e conhecimento.

Debord (2003, p.18), relata o quanto a indústria moderna influencia as pessoas de maneira que a sociedade acaba sendo refém:

A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espetacular, ela é espetacularmente espetaculista. No espetáculo da imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenvolvimento é tudo. O espetáculo não quer chegar a outra coisa senão a si mesmo.

Sabemos que, muitas vezes, a realidade não é essa. Hoje, por exemplo, a Indústria Cultural representativa de uma classe dominante permite deixar as crianças expostas a mídia, ao mercado e as redes sociais, desde de cedo, meios de comunicação que possuem artimanhas sedutoras para atrair seu público, que não bastava ser somente adultos, agora também o público infantil, pois a criança passou a ter influência cada vez mais nas decisões de consumo dos adultos, assim o mercado passou a ser voltado para o público infantil, pois buscam formar futuros adultos alienados, voltados apenas a atividades operacionais sem qualquer senso crítico.

Segundo Brougère (2004), diferente do passado que os desenhos transmitiam mais um simbolismo sem sentido, nos dias atuais ele tem poder de fazer a criança sair da posição de observadora para ator da atividade lúdica, como se esse meio de comunicação tivesse o poder de impregnar a cultura da sociedade atual. Assim o desenho animado passa a influenciar no comportamento de muitas crianças, não apenas divertindo-as, mas também as ensinando, construindo valores significativos na interação social, noção de moral, construção do senso crítico, noção de certo ou errado, entre outros.

Se o desenho tem o poder de influenciar no comportamento das crianças, não podemos deixar de nos preocupar com os aspectos negativos que ele pode também proporcionar. O que mais nos deparamos nos dias de hoje são desenhos que tem se distanciado de padrões saudáveis e educativos, apresentando forte influência de agressividade nas crianças referente ao comportamento que os personagens apresentam e também ao consumo desenfreado de produtos relacionados aos seus personagens favoritos, como bolsas, roupas, materiais escolares, a chamada Cultura de Massas que está cada vez mais impregnando nas pessoas atitudes consumistas e padrões sociais pré-estabelecidos.

Fernandes e Oswald (2005, p.37-38), refletem sobre a intencionalidade do consumismo que o desenho animado carrega, fazendo com que essa criança se tornem clientes, fortalecendo cada vez mais o mercado consumidor.

[...] Neste sentido, estamos ciente que a concepção de infância que a contemporaneidade vem esboçando, que elevou a criança ao status de consumidora, não é uma dádiva do progresso, mas é fruto do lugar que o mercado reservou à infância, destinando-lhe, inclusive o papel de ser cliente de desenhos animados que irão gerar, em escala vertiginosa, o fortalecimento da cultura do consumo.

Os desenhos animados podem ser uma ferramenta importante de aprendizagem e formação de personalidades, porém, quando falamos do ambiente educacional é extremamente importante que constantemente professores e escola façam o trabalho de mediar situações de aprendizagem, questionando junto as crianças os desenhos que assistem e quais as interferências no pensamento infantil, visto que suas atitudes e comportamentos são expressados dentro desse ambiente.

Vigotsky (2001, p. 65-66), reflete muito bem a importância do educador como mediador e contribuinte na formação da constituição do pensamento da criança:

Como um jardineiro seria louco se quisesse influenciar o crescimento das plantas, puxando-as diretamente do solo com as mãos, o pedagogo entraria em contradição com a natureza da educação se forçasse sua influência direta sobre a criança. Mas o jardineiro influencia o crescimento da flor aumentando a temperatura, regulando a umidade, mudando a disposição das plantas vizinhas, selecionando e misturando terra e adubo, ou seja, mais uma vez agindo indiretamente, através das mudanças correspondentes do meio. Assim faz o pedagogo que, ao mudar o meio, educa a criança

Desse modo, é necessário avaliar e analisar as informações que são lançadas pela cultura midiática e, orientar as crianças a fim de desenvolver o senso crítico e a compreensão do que assistem e do que interpretam, visto que os desenhos da atualidade não servem apenas para o entretenimento, mais também influenciam na formação moral, ética e intelectual dessa criança refletindo futuramente na sua concepção como adulto.

Referências

ADORNO, THEODOR W, 1903‐1969 Indústria cultural e sociedade / Theodor W. Adorno; seleção de textos Jorge Mattos Brito de Almeida traduzido por Juba Elisabeth Levy... [et a1.]. — São Paulo Paz e Terra, 2002.

BROUGÈRE, G. Brinquedo e companhia. São Paulo: Cortez, 2004.

FERNANDES, A.H.; OSWALD, M.L.B.M. A recepção dos desenhos animados da TV e as relações entre a criança e o adulto: desencontros e encontros. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 65, p. 25-41, jan./abr. 2005.

MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

OLIVEIRA, Marta Regina Furlan de. A Lógica de Consumo na sociedade contemporânea e sua influência na mediação do professor no processo de formação do pensamento infantil. 293 F. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de Maringá. Orientador: Prof. Dr. João Luiz Gasparin. Maringá, 2011.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001a.

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