Guia de Pais para a Intervenção Precoce



Índice

Introdução_____________________________________________________________4

Programa Portage: Guia de Pais para a Intervenção Precoce______________________5

Conclusão____________________________________________________________13

Bibliografia___________________________________________________________14

Introdução

O presente trabalho, foi realizado no âmbito da unidade curricular Problemas Graves de Comportamento em Contexto Escolar, leccionado pela docente Mestre Maria Isabel Cunha do Curso Pôs Graduação em Educação Especial, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, no decorrer do ano lectivo 2010/2011.

É nossa intenção realizar uma breve abordagem ao conceito de intervenção precoce, reforçando o actual conceito centrado na família. De facto, “a intervenção precoce centrada na família é um dos princípios orientadores da intervenção precoce” Cordeiro e Sanches (2005). Este pressuposto de uma intervenção precoce centrada na família está intimamente relacionado como o programa Portage e com o seu surgimento.

É pois nosso propósito apresentar de forma uma explicita e sucinta o Programa Portage, percebendo o seu origem, assim como, o seu surgimento em Portugal sob a forma do denominado Guia de Pais para a Educação Precoce.

Tentaremos ainda perceber ao nível deste programa, quais os componentes principais, quais os passos principais para a sua aplicação. Salientando-se o facto de que com este programa é assumido como um instrumento educativo eficaz e de grande utilidade quer para pais, quer para técnicos.

Por fim, terminaremos com uma abordagem muito sucinta das diferentes áreas de desenvolvimento integradas no programa.

Programa Portage: Guia de Pais para a Intervenção Precoce

A evolução do conceito de intervenção precoce deixou de incluir apenas a perspectiva educacional dirigida exclusivamente à crianças e aos seus défices, para integrar um conjunto de serviços interligados de apoio à criança, passando por definição a ser centrado na família e de base comunitária.

Desta nova perspectiva destaca-se a necessidade de adopção de um modelo transdisciplinar de trabalho em equipa em que a mesma decorre da consciência que, actualmente é impensável a actuação de uma única classe de Profissional neste campo social. A complexidade e multiplicidade das variáveis em presença conduzem, a uma convergência de saberes e experiências profissionais e diferenciadas.

A importância deste trabalho em equipa e a parceria contrapõem-se às sobreposições, às lacunas, às compensações que advêm do reconhecimento da ineficácia das acções segmentarizadas, perspectivando uma complementaridade fundamental entre os diversos parceiros sociais.

Bronfenbrenner (1974, citado por Luís Correia e Francisco Leitão, 2000, p.179), na sua abordagem sobre o desenvolvimento humano, encara a criança como parte integrante de um conjunto de níveis ancorados no ecossistema, em que cada um está relacionado com os outros. Sameroff (1975, citado por Luís Correia 2000, p.179) argumenta, numa perspectiva mais abrangente, que estas influências são bidireccionais e transicionais, em que cada nível influência necessariamente o outro, mudando e sendo mudado pelo outro numa série contínua de interacções.

De acordo com esta abordagem, Leitão (1994, p. 19) acrescenta que o sistema de interacção mãe/criança é a base das estratégias de intervenção precoce, atendendo a que “o ser humano está (… ) geneticamente preparado para a interacção social (…), só o envolvimento social, nomeadamente a mãe, pode proporcionar de forma consisente experiências interactivas contingentes e reciprocamente reguladas que desenvolvem na criança um sentimento de competência como parceiro social”.

No mesmo sentido, as recomendações do grupo de trabalho coordenado por Bairraão e Tiezte (1994. p.77, citados por Luís Correia e Francisco Leitão, 2000, p.179) salientam a necessidade de valorizar o envolvimento familiar: “ as famílias diferem muito nos aspectos mas, em qualquer dos casos, os pais devem ser os elementos mais consistentes e estáveis na vida da criança (…) os pais têm um interesse na criança e uma responsabilidade que não pode, de modo algum, ser substituída por qualquer outra pessoa. Um pré-requesito dos programas pré-escolares eficazes é o encontrar formas apropriadas de envolver os pais, reconhecendo que tal envolvimento terá de ser adaptado às necessidades, interesses e capacidades”.

Nesta perspectiva, surgiu a necessidade de implementar um programa que permitisse uma verdadeira intervenção centrada na família. É pois neste sentido que surge o Programa Portage – Guia de Pais para a Educação Precoce.

Este é um modelo de educação precoce, domiciliário (que pode ser igualmente realizado noutros contextos: creches, jardim de infância, hospitais, etc.) dirigido para pais e crianças com Necessidades Educativas Especiais (atrasos de desenvolvimento).

Surgiu em 1969, em Portage, cidade do estado de Winscosin (comunidades rurais, onde levar uma criança a uma escola, clínica, hospital, para receber qualquer forma do programa educativo, implicava geralmente longas e difíceis deslocações), nos EUA, como forma de ajudar à educação de crianças com N.E.E, tal como a legislação em vigor o exigia (PL.94-142), ou seja, o facto de não existir recursos suficientes para a intervenção precoce e conjugação com os locais de residência foi determinante para o seu surgimento. Este foi criado por David e Marsha Shearer.

Em Portugal, o Programa Portage, surgiu em 1992, através da criação da Associação Portage Portuguesa, embora fora desenvolvido desde os anos 80 por técnicos do centro de estudos e apoio à criança e a família. Este serviço foi pioneiro na aplicação e adaptação do Programa Portage em Portugal, que lançou os alicerces e foi construindo progressivamente as paredes-mestras de um modelo de intervenção precoce. Deste modo, a sua publicação, constitui um suporte decisivo para prosseguir no desenvolvimento, disseminação e consolidação do mesmo. Esta Associação garante igualmente um melhor atendimento precoce tanto as crianças como as famílias.

Em Portugal o programa é intitulado de, Guia de Pais para a Educação Precoce (baseado na versão inglesa), e o qual contém os componentes principais do material Portage: as fichas de actividade e a lista de registo de comportamentos.

Este guia, é pois um instrumento educativo eficaz e de grande utilidade quer para pais, quer para técnicos. Estes últimos, encontram nele um importante recurso para o planeamento das diversas actividades. Por sua vez, os pais poderão perspectivar de forma positiva e encorajadora o desenvolvimento das potencialidades dos seus filhos, bem como encontram uma ajuda para a estimulação e educação destes.

Nesta perspectiva, tem como objectivo: levar os serviços a casa das crianças, local que será de ensino por excelência e, os pais os seus educadores privilegiados, embora sob a orientação dos profissionais, dotar os pais de competências que lhes permitam ajudar os filhos no desenvolvimento máximo das suas capacidades (os pais são encarados como companheiros/parceiros dos técnicos e indispensáveis no ensinamento dos seus educandos) e desenvolver um vínculo entre as prioridades dos pais e as necessidades que o técnico domiciliário considera imprescindível para a criança, de modo a apoiar a família na identificação dos problemas e na busca das melhores soluções.

Este programa comporta três passos na sua aplicação. Num primeiro momento, o técnico começa por utilizar a Lista de Registos de Comportamentos do programa Portage, de modo a avaliar o nível de competências da criança nas várias áreas de desenvolvimento, e base nessa avaliação, define os objectivos de ensino. Seguidamente, estabelece os objectivos de ensino, socorrendo-se do apoio das Fichas de Actividades, onde se inserem novas competências. A Folha de Registo de Actividades contém um resumo detalhado do objectivo semanal de ensino que servirá de orientação para os pais e que permite, simultaneamente, o registo dos resultados obtidos. Por fim, surgem as visitas domiciliárias regulares, onde analisa os progressos que a criança e define novos objectivos de ensino. Momento privilegiado de apoio aos pais, entre - ajuda e partilha de ideias. Por consequente é deixado em casa da criança um quadro de referências e de recomendações, bem como metas a atingir, que serão alvo de atenção na visita seguinte.

Após ficarmos com uma ideia geral, sobre o que consiste o programa, é importante abordar em mais pormenor os componentes do mesmo.

Assim sendo, começamos por fazer referência a Lista de Registo de Comportamentos. Esta permite avaliar o nível de desenvolvimento da criança, através de uma lista de 619 comportamentos organizados segundo seis áreas de desenvolvimento: Estimulação do Bebé, Socialização, Linguagem, Autonomia, Cognição e Desenvolvimento Motor. Por sua vez, cada área está sequencializada por idades ou níveis de desenvolvimento.

A cada comportamento corresponde uma Ficha de Actividades que tem uma numeração idêntica e que contem pelo menos três sugestões detalhadas sobre ajudarão o ensino dos comportamentos correspondentes.

Ao ser utilizada a Lista de Registo de Comportamentos deve contemplar a consulta da Ficha de Actividades, pois só assim poderá ser preenchida com precisão. Esta situação torna-se mais evidente quando se avaliam as competências emergentes ou adquiridas recentemente. Outro dos seus objectivos é funcionar como um guia para o planeamento de actividades de ensino para cada criança individualmente, ou seja, na fase inicial pais e técnico verificam em conjunto quais os comportamentos já adquiridos pela criança. Os últimos comportamentos adquiridos representam o nível actual de competência. Competências que a criança ainda não domina completamente, ou só utiliza em determinadas ocasiões, são designadas como competências emergentes. Comportamentos que não são realizados pela criança e que se situam, na Lista de Registo anterior ao definido como o seu nível actual de competências são consideradas como competências não adquiridas.

O planeamento das actividades de ensino implica diferentes finalidades e procedimentos consoantes se pretenda trabalhar as competências actuais da criança, as emergentes ou as não adquiridas. As actividades planeadas correspondentes as competências adquiridas, deverão promover a adaptação e generalização a novas situações e estimular a sua utilização no dia-a-dia. As actividades correspondentes às actividades emergentes, deverão ser planeadas no sentido de reforçar essas competências e levar a criança a utilizá-las com maior regularidade e consistência. Quanto ao planeamento e desenvolvimento das actividades de ensino correspondentes a competências não adquiridas pela criança deverá ser muito cuidadoso, dado que estas envolvem áreas em que a criança apresenta dificuldades específicas. As sugestões das respectivas fichas de actividade deverão ser devidamente adaptadas e modificadas tendo em conta actividades e materiais que reforcem a crianças.

Para ensinar qualquer comportamento não é necessário utilizar todas as sugestões das Fichas de Actividades. Contudo, é importante não esquecer que cada comportamento da lista necessita de ser praticado de diferentes modos antes que se possa dizer que a criança domina esse comportamento. Para este efeito os pais e educadores deverão utilizar um leque variado de sugestões, previstas ou não nas Fichas de Actividades.

Deverá ser utilizada ao longo do programa, de modo a verificar as competências progressivamente adquiridas. Nesta poderão ser incluídos comentários, ou aspectos característicos do comportamento observado.

Outros dos componentes do programa refere-se, as Folhas de Registo de Actividades. Estas devem ser utilizadas de forma conjugada com a Lista de Registo de Comportamentos, para planear e registar os seus objectivos de ensino e as actividades a desenvolver com a criança, bem como os seus progressos. Após definido um objectivo de ensino e as actividades para os atingir, o técnico e os pais acordam entre si detalhes quanto ao método de ensino mais adequadas as necessidades específicas da criança, como por ex: qual deve ser a reacção dos pais quando a criança é bem sucessiva, que brinquedos devem usar, etc. Os pais utilizam-na para registar os progressos da criança.

Tal como foi mencionado anteriormente, as Fichas de Actividades e a Lista de Registo de Comportamentos estão divididos em seis áreas de desenvolvimento. Uma vez, que estas apenas foram referenciadas superficialmente, iremos agora aprofundar um pouco mais cada área.

Nesta perspectiva, abordaremos em primeiro a Estimulação do Bebé. Nos primeiros meses de vida, o bebé vai integrando a informação apreendida através dos sentidos e adquirindo progressivamente um maior controlo dos movimentos. As actividades contidas nesta área ajudarão a criança a tomar consciência daquilo que vê, ouve e toca, bem como, dos movimentos do seu próprio corpo. Elas são de extrema importância para todo o processo ulterior de aprendizagem, na medida em que incluem as competências básicas, subjacentes a tudo aquilo que a criança irá aprender mais tarde.

As competências de socialização dizem respeito ao modo de estar da criança e ao modo como esta se relaciona com outras pessoas. Durante os primeiros anos de vida as competências sociais estão em jogo, quando a criança, por exemplo, realiza tarefas e brinca com os pais, irmãos e amigos. Inicialmente, é no contexto da família que a criança aprende as competências sociais, adquire segurança na forma de se relacionar com os outros e vai respondendo de acordo com as expectativas de outrem. Mais tarde, a criança poderá utilizar estas mesmas competências ao confrontar-se com novas situações, tais como grupos de crianças no contexto de brincadeiras ou no contexto da escola.

Aprender a falar e compreender a linguagem são algumas das principais tarefas que a criança vai realizando desde o seu nascimento ate aos seis anos de idade. Ao longo deste período, a criança vai progredindo do estado inicial em que não é ainda capaz de compreender ou produzir uma conversa até a um nível que se aproxima já do tipo de linguagem e de competências linguísticas do adulto.

Embora a idade em que as crianças começavam a falar possa variar, a maioria das crianças seguem um mesmo padrão de desenvolvimento da linguagem, padrão esse descrito na Lista de Registo de Comportamentos Portage.

As crianças começam a sua aprendizagem da linguagem ouvindo os outros falar e observando os acontecimentos sobre os quais se fala. Todas as crianças necessitam de ouvir muito os outros antes de conseguirem elas próprias falar e dizer coisas com sentido. Daí que seja tão importante falar muito com a criança. As crianças inicialmente produzem sons, depois sequências de sons e por fim palavras. Numa fase seguinte juntam as palavras para finalmente formarem frases completas. Quando a criança começa a falar ela tem de ser muito estimulada e recompensada pela pessoa que ouve e deve obter sempre uma resposta da parte desta.

No que respeita a autonomia, esta contém competências que permitem à criança aprender a cuidar de si própria, alimentar-se, vestir-se, lavar-se e adquirir hábitos de higiene. O desenvolvimento destas competências ajudam a criança a tornar-se progressivamente um elemento mais feliz e autónomo no seio da família e da comunidade, e por sua vez, proporciona um relacionamento mais fácil dos membros da família com a criança, permitindo-lhes assim uma maior liberdade de acção.

Por sua vez, a cognição ou pensamento é a capacidade de recordar, reconhecer semelhanças e diferenças naquilo que se vê e ouve e descobrir relações entre ideias e coisas. Esta área inclui também competências básicas ou pré requisitos necessários para a entrada na escola, tais como contar, conhecer as cores e desenhar.

Por fim, o desenvolvimento motor é a coordenação dos movimentos dos músculos largos e finos do corpo. Os movimentos relacionados com os músculos largos são os seguintes: sentar-se, gatinhar, andar, correr e lançar objectos. Por sua vez, as competências envolvidas no movimento dos músculos finos são competências manuais primárias do seguinte tipo: agarrar coisas, empilhar cubos, fazer puzzles, escrever e desenhar.

Ajudar a criança a desenvolver e a planear os seus movimentos permite que esta se torne cada vez mais independente e livre para se movimentar com autonomia. Esta liberdade de movimentos, quer seja, na corrida quer no desenho, é necessária para o desenvolvimento progressivo da criança.

Pode-se assim concluir que este guia permite aos profissionais uma reflexão mais aprofundada e adequada ao atendimento dos alunos com N.E.E, e ao mesmo tempo intervir de uma forma mais abalizada e mais criteriosa, tendo por base uma nova realidade de educação para todos.

É importante não esquecer que a intervenção precoce através das diferentes estratégias que poderá recorrer deverá ser sempre “ entendida essencialmente numa perspectiva preventiva, devendo essa prevenção actuar ao nível da criança, da família e da sociedade em geral”. Cordeiro e Sanches (2005)

Conclusão

Na intervenção precoce é essencial intervir junto das crianças o mais cedo possível, tendo em conta as suas dificuldades e suas competências, garantindo a sua segurança e bem-estar nas actividades propostas por forma a promover o seu desenvolvimento global e a sua inclusão junto das outras crianças.

A necessidade de estabelecer uma planificação, com objectivos e estratégias específicas e adequadas ao desenvolvimento de cada criança, garantindo sempre o envolvimento de todos os que participam na intervenção.

A atenção em ouvir as famílias, quanto as suas necessidades e preocupações, envolvendo-as sempre em todo o processo, consolidando uma colaboração com a família, ajudando-a a encontrar respostas para os problemas com que se deparam tendo sempre no horizonte o desenvolvimento harmonioso da criança.

Necessidade em se reflectir permanentemente sobre a acção de modo a se avaliar o trabalho que vai sendo desenvolvido e os resultados que daí advêm planificando novas acções.

Deste modo a articulação entre todos os técnicos das diferentes áreas é importante por forma a ir ao encontro de uma intervenção adequada as necessidades das crianças e das famílias.

Bibliografia

• Bluma, Susan, Frohman, Alma, Hiliard, Jean, et al., (1994), Guia de Pais para a Educação Precoce, Lisboa, Associção Portage Portugal;

• Correia, Luís, Miranda, Leitão, Francisco (org.), et al,(2000), A Intervenção Precoce e a Criança com Sindrome de Down: Estudos sobre Intervenção, Porto, Porto Editora;

• Cordeiro, Madalena; Sanches, Isabel (2005). Práticas de Educação Inclusiva: O Envolvimento da Familia em Intervenção Precoce. Cadernos de Educação de Infância, nº 75.

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