Traduções e adaptações: Diálogos Francês-Português no ...

[Pages:115]UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Tradu??es e adapta??es: Di?logos Franc?s-Portugu?s no Clube Intercultural

Europeu

Gon?alo Mendes Henriques

Relat?rio de Est?gio orientado pela Prof.? Doutora Guilhermina Jorge, elaborado para a obten??o do grau de Mestre em Tradu??o

2017

Agradecimentos

Gostaria de expressar os meus mais sinceros agradecimentos ? Professora Doutora Guilhermina Jorge por todo o apoio prestado em todos os passos na elabora??o deste Relat?rio de Est?gio Profissional e por toda a disponibilidade demonstrada. ? Doutora Nat?lia Telega-Soares, representante do Clube Intercultural Europeu, pela amabilidade demonstrada e por toda a confian?a depositada em mim durante todos os meses em que estagiei na sede do Clube. A todos aqueles que trabalham, ou j? trabalharam, no Clube Intercultural Europeu, em especial a Doutora Ana Sousa, por me terem ajudado a sentir-me bem-vindo nas vossas instala??es, pela vossa amabilidade e bom humor demonstrados todos os dias. Aos meus pais por acreditarem em mim desde o princ?pio e por estarem sempre dispon?veis em ajudar em tudo o que lhes fosse poss?vel e em esclarecer todas as d?vidas lingu?sticas que iam surgindo pelo caminho.

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?ndice

?ndice de siglas....................................................................................................................................4 Introdu??o ..........................................................................................................................................5 Cap?tulo 1: Enquadramento Te?rico ............................................................................................12 Cap?tulo 2: Primeira Tarefa de Tradu??o ...........................................................................................26 2.1 Tradu??o e Adapta??o.................................................................................................................26

2.2 Adapta??es culturais ...........................................................................................................27 2.3 Adapta??es lingu?sticas........................................................................................................33 Cap?tulo 3: Segunda Tarefa de Tradu??o ...........................................................................................57 3.1 Siglas, Acr?nimos e Nomes de Institui??es...........................................................................58 3.2 Identifica??o de Alguns dos Principais Problemas de Tradu??o ............................................64

3.2.1 Problemas de Ordem Morfossint?tica .......................................................................64 3.2.2 Erros bin?rios e n?o bin?rios......................................................................................75 3.2.3 Estruturas Fr?sicas de Especialidade ..........................................................................78 Cap?tulo 4: Terceira Tarefa de Tradu??o ......................................................................................98 4.1 Apresenta??o Geral .............................................................................................................98 4.2 Principais Problemas de Tradu??o .......................................................................................99 Conclus?o .......................................................................................................................................109 Bibliografia .....................................................................................................................................113 Sitografia ........................................................................................................................................115

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?ndice de siglas

ESS ? Economia Social e Solid?ria Clube ? Clube Intercultural Europeu LP ? L?ngua de Partida LC ? L?ngua de Chegada N. do T ? Nota do Tradutor OFAJ ? Office franco-allemand pour la Jeunesse (Ag?ncia franco-germ?nica para a Juventude) TP ? Texto de Partida TC ? Texto de Chegada

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Introdu??o

Este relat?rio visa descrever todos os passos importantes ocorridos durante o per?odo de nove meses em que estagiei como tradutor no Clube Intercultural Europeu (Clube). Durante o per?odo em que l? estagiei, foi-me pedido para realizar tr?s tradu??es a partir da l?ngua francesa. Os textos que traduzi abordavam diversos temas e objetivos diferentes e enquadravam-se nas metas e prop?sitos do Clube: o desenvolvimento de compet?ncias pessoais, sociais, profissionais, c?vicas e relacionais nos associados do Clube e nas pessoas em geral.

Os textos trabalhados apresentavam diversos tamanhos e estruturas e cada um tinha desafios e particularidades que fui experienciando e ultrapassando ? medida que ia traduzindo cada um dos textos. O primeiro assemelhava-se mais a um manual explicativo com instru??es pois relatava e explicava como realizar uma anima??o lingu?stica em encontros binacionais entre jovens e os objetivos do encontro; o segundo texto era um relato sobre as origens da economia social e solid?ria (ESS) e como esta pode ser usada atualmente e at? mesmo nos anos vindouros; o terceiro texto era um documento sobre o ass?dio nas escolas ? explicava quais as causas do ass?dio, quem eram os eventuais intervenientes, como identific?-los e o que fazer para acabar com isso de forma pac?fica.

Neste relat?rio, a primeira experi?ncia de tradu??o realizada no Clube, pela sua extens?o e pelo tipo de problemas tradutolol?gicos que apresentava, ocupar? um lugar mais importante. Essa primeira atividade foi n?o s? um trabalho de tradu??o de franc?s para portugu?s, mas tamb?m foi um trabalho de adapta??o, de um texto pensado inicialmente para um p?blico binacional franc?s e alem?o, para um novo texto que estar? direcionado para jovens franceses e portugueses.

Esse texto corresponde a uma adapta??o do texto bilingue franc?s-alem?o com o t?tulo L'Animation Linguistique dans les rencontres franco-allemandes de Jeunes/SprachAnimation in deutsch-franz?sischen Jugendbegegnungen que, conforme o pr?prio t?tulo sugere, explica e relata os passos para se criarem atividades de anima??o e dinamiza??o lingu?stica entre jovens de origem francesa e alem? e os seus objetivos. O trabalho final ser? uma vers?o unilingue em portugu?s: uma vers?o traduzida do franc?s com uma adapta??o ao

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contexto sociocultural entre franceses e portugueses. O formato final da vers?o em portugu?s foi pensado e discutido diretamente com os respons?veis do Clube.

A adapta??o deveu-se ? dificuldade e ? estranheza de apresentar um texto desse cariz na l?ngua portuguesa sem que o mesmo estivesse cultural e linguisticamente adaptado para ser apresentado ao p?blico portugu?s e assim poder cumprir o seu objetivo comunicativo. Atentando ao facto de a rela??o sociocultural entre Portugal e Fran?a n?o se assemelhar com a rela??o entre Fran?a e Alemanha, revelou-se necess?rio utilizar aquilo a que a te?rica de tradu??o Christiane Nord chamou "tradu??o instrumental" (Nord 1997: 49) que consiste em traduzir um texto de uma l?ngua estrangeira para outra, mas adaptando o seu contexto cultural estrangeiro para um que ser? reconhecido e compreendido pelos leitores nativos da l?ngua para a qual se traduz. Mais especificamente, tratou-se de fazer a tradu??o de um texto francogerm?nico e adapt?-lo para um texto que ser? lido por um p?blico portugu?s.

Com efeito, pode-se acrescentar que, no caso deste texto, a adapta??o revelou-se como uma estrat?gia de tradu??o necess?ria. Fez-se uma transposi??o cultural, mais especificamente, notou-se que o texto de partida (TP) apresentava particularidades de cariz cultural, lingu?stico e estil?stico que chocariam com a l?ngua e com a cultura de chegada. Apenas transpor as palavras de uma l?ngua para outra, levaria o trabalho final a correr o risco de falhar na sua "fun??o apelativa" (Nord 1997: 51) pois apenas apelaria ? cultura de partida. Assim, tornou-se necess?rio levar o texto a ser apelativo para o p?blico-alvo portugu?s e a ?nica forma de o conseguir foi adaptando-o para as normas e conven??es da cultura de chegada, "fun??o referencial" (Nord 1997: 51), e para as necessidades e expetativas do p?blico de chegada (encontros binacionais com franceses). Como o foco desse manual era a promo??o de encontros binacionais, a adapta??o n?o se tornou numa atividade diferente da de tradu??o porque se ela n?o tivesse sido feita geraria uma forte sensa??o de estranheza e de deslocamento, no leitor portugu?s, e originaria um texto em portugu?s sem p?blico-alvo definido e sem uma "fun??o f?tica" (Nord 1997: 51) ou seja, sem atrair a aten??o do p?blico de chegada.

O texto apresentava muitos aspetos culturais e lingu?sticos relacionados com a Fran?a e com a Alemanha para ilustrar as atividades, as dificuldades e os objetivos apresentados pela anima??o lingu?stica que os animadores pretendiam conseguir atrav?s do seu trabalho com jovens destas duas nacionalidades distintas. Aquele "outro" texto preservou todas as ideias,

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pensamentos e expetativas que o original continha, limitando-se somente a adaptar todas as refer?ncias ? l?ngua e ? cultura alem? e transferi-las para a l?ngua e cultura portuguesa.

Faz-se notar que, apesar de grande parte do texto ter sido submetida a adapta??es culturais e lingu?sticas, n?o foi poss?vel proceder ao mesmo tipo de altera??es no cap?tulo 3 e em metade do cap?tulo 4 do mesmo manual que se dedicam a relatar a evolu??o da anima??o lingu?stica nos encontros franco-germ?nicos, com exemplos e resultados espec?ficos conseguidos durante a dita evolu??o. Essa evolu??o conseguiu-se devido aos financiamentos do OFAJ e a um estudo levado a cabo pela Universidade de Bielefeld, na Alemanha, durante a d?cada de 90. Considerando que se trata de um tema relatado para fins do TP e de ainda n?o ter sido realizado nenhum encontro franco-portugu?s entre jovens, n?o havia motivo para adaptar esses dois cap?tulos espec?ficos para a evolu??o da anima??o lingu?stica que puderam, no entanto, ser generalizados: ou seja, em vez de estar frequentemente a mencionar que o objetivo do projeto eram os encontros franco-germ?nicos p?de-se antes fazer uma adapta??o consciente e explicar que o objetivo era organizar encontros binacionais entre jovens de dois pa?ses.

Numa nota introdut?ria, que decidi adicionar ao texto adaptado, expliquei aos leitores que as adapta??es lingu?sticas e culturais introduzidas em nada iriam interferir na compreens?o do texto e das descri??es das atividades propostas aos jovens pois a maior parte das mudan?as efetuadas n?o implicaram altera??es substanciais que pudessem ir contra a l?gica do texto e contra os objetivos visados.

Mais especificamente, os principais desafios nesta tarefa de tradu??o/adapta??o consistiram em adaptar todas as especificidades culturais "Culture is not something people have; it is something that fills the spaces between them. And culture is not an exhaustive description of anything; it focuses on differences, differences that can vary from task to task and group to group" (Agar 1992: 11, em Nord 1997: 44-45) e lingu?sticas encontradas ao longo do texto: num subcap?tulo em que ? explicada a rela??o sociocultural entre Fran?a e Alemanha, com alguns estere?tipos, clich?s, diferen?as culturais entre os dois pa?ses e semelhan?as/diferen?as entre as duas l?nguas, revelou-se necess?rio adaptar grandemente essas partes.

Para come?ar, a rela??o entre a Fran?a e a Alemanha ? diferente da rela??o entre Fran?a e Portugal. A primeira come?ou a ter origem nos anos p?s 2? Guerra Mundial e, atualmente, a

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Alemanha, os alem?es e a l?ngua alem? s?o frequentemente alvo de tro?a por parte dos franceses e vistos como motivo de riso; os pr?prios alem?es n?o deixam de se sentir desconfort?veis com esses pontos de vista enquanto eles pr?prios chegam a admirar os franceses pelo seu estilo de vida mais livre e mais solto; n?o obstante, tamb?m se d?o conta dos muitos defeitos dos franceses. Por?m, ? diferente a rela??o entre Portugal e Fran?a; durante as d?cadas de 50, 60 e 70 foram muitos os portugueses que se viram obrigados a emigrar para fora de Portugal e muitos deles escolheram a Fran?a como novo destino. ? grande o n?mero de portugueses que vivem em Fran?a desde essa ?poca at? hoje; no entanto, a popula??o francesa nem sempre foi muito calorosa para os emigrantes que se tornavam cada mais. Recentemente, nota-se que os franceses j? se habituaram aos novos habitantes, apesar de muitos estere?tipos e clich?s ainda estarem presentes nas mentes dos gauleses, como se pode ver no filme luso-franc?s La Cage Dor?e (2013)1: os portugueses continuam a ser associados ao bacalhau (para os franceses, a alimenta??o dos portugueses ? muito ? base de bacalhau), continuam a ser vistos como porteiros e/ou oper?rios de constru??o civil (eram os empregos dispon?veis para a maioria dos emigrantes portugueses) e Portugal continua a ser associado a um pa?s de f?rias pelas suas praias e pelo seu clima ameno que atrai muitos franceses durante o ver?o. Por outro lado, os portugueses admiram a Fran?a pelo seu passado hist?rico, pela sua riqueza cultural e pela beleza das suas paisagens; mas tamb?m s?o muito mal vistos por serem nacionalistas, arrogantes e com tend?ncias para a xenofobia.

Para al?m de diferen?as culturais entre os dois pa?ses, o manual tamb?m estava repleto de palavras e frases em ambas as l?nguas que serviam de exemplo aos animadores enquanto estivesse a decorrer o encontro binacional. Por exemplo, em algumas das atividades propostas durante o encontro, o manual sugere que o animador ensine aos jovens uma ou duas palavras/frases da l?ngua do parceiro para facilitar um pouco mais os di?logos entre eles. No TP, as palavras/frases sugeridas nessas partes estavam em franc?s e em alem?o; obviamente o trabalho de adapta??o consistiu em manter a palavra/frase francesa intacta e adaptar a palavra/frase alem? para portugu?s. Houve tamb?m outras ocasi?es em que as atividades propostas exigiam que os jovens formassem frases e escrevessem poemas na l?ngua do parceiro; mais uma vez foi necess?rio adaptar as palavras/frases alem?s para portugu?s. No

1 La Cage Dor?e (A Gaiola Dourada, t?tulo portugu?s), 2013, realiza??o de Ruben Alves, distribui??o "Path?". Tem-se tamb?m o exemplo do Museu das Migra??es e das Comunidades, sedeado em Fafe. Cf. os seguintes livros sobre a imigra??o portuguesa em Fran?a: Jos? Lu?s Peixoto (2010), Livro, Lisboa: Quetzal Editores. J?lio Magalh?es (2010), Longe do meu cora??o, Lisboa: A Esfera dos Livros.

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