DICA DE ESCRITA Como pontuar diálogos

[Pages:14]DICA DE ESCRITA Como pontuar di?logos

No livro Como escrever di?logos: A arte de desenvolver o di?logo no romance e no conto (Editora Gutenberg), Silvia Adela Kohan diz que o bom di?logo ? uma forma narrativa das mais convincentes, uma estrat?gia liter?ria que aproxima o leitor dos personagens por ser uma maneira de apresentar suas falas sem intermedi?rio aparente.

Dependendo do tipo de discurso escolhido, a formata??o adequada do texto se torna importante pra garantir a clareza do enunciado. Apesar de ser um recurso presente na grande maioria das obras de prosa de fic??o, minha breve experi?ncia com textos de autores iniciantes -- em especial durante a an?lise do material enviado para o primeiro processo de sele??o da Revista Mafagafo, da qual sou editora -- mostra que pontuar e formatar corretamente os di?logos ainda ? uma dificuldade comum.

Por isso, resolvi compilar todas as quest?es importantes sobre o tema, incluindo exemplos. A ideia ? que esse texto seja um guia pr?tico pra consulta em caso de d?vida, mas tamb?m achei importante tocar nos aspectos mais te?ricos da quest?o. Pra facilitar a consulta desse texto de acordo com a sua necessidade, os t?picos abordados est?o divididos segundo o sum?rio com links abaixo:

1) DEFINI??ES E REGRAS GERAIS 1.1 Verbos de elocu??o (dicendi ou sentiendi) 1.2 Tipos de discurso 1.3 Quebra de par?grafos 1.4 Posi??o dos sujeitos (pronomes pessoais ou substantivos) 1.5 Escolha de travess?o, aspas ou di?logo sem sinaliza??o tipogr?fica

2) USANDO O TRAVESS?O PARA SINALIZAR O DI?LOGO 2.1 H?fen, tra?o m?dio e travess?o 2.2 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo com verbo dicendi/sentiendi 2.3 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo comum 2.4 Como pontuar di?logo precedido por trecho narrativo terminado em verbo dicendi/sentiendi 2.5 Como pontuar uma fala dividida em m?ltiplos par?grafos 2.6 Como pontuar di?logo dentro de di?logo

3) USANDO ASPAS PARA SINALIZAR O DI?LOGO 3.1 Posi??o das aspas 3.2 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo com verbo dicendi/sentiendi 3.3 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo comum 3.4 Como pontuar di?logo precedido por trecho narrativo terminado em verbo dicendi/sentiendi 3.5 Como pontuar uma fala dividida em m?ltiplos par?grafos 3.6 Pensamentos 3.7 Diferen?a entre a pontua??o de di?logos no ingl?s e no portugu?s brasileiro

4) AGRADECIMENTOS E REFER?NCIAS

Os exemplos apresentados ao longo desse texto foram extra?dos dos livros:

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Os Luminares, de Eleanor Catton (edi??o da Biblioteca Azul, com tradu??o de F?bio Bonillo)

Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues, de Eric Novello (Editora Gutenberg)

As marca??es especiais (negrito e sublinhado) nos textos usados como exemplos foram feitos apenas para destacar o que foi explicado -- e, portanto, n?o est?o presentes no texto original.

1) DEFINI??ES E REGRAS GERAIS Antes de falar sobre as regras de pontua??o do di?logo, que dependem do estilo de pontua??o escolhido pelo autor, editor ou tradutor de um texto -- uso de travess?o ou aspas --, achei v?lido introduzir algumas defini??es presente nestas regras e apresentar tamb?m regras que possuem aplica??o geral.

1.1 Verbos de elocu??o (dicendi ou sentiendi) Segundo Othom M. Garcia, autor de Comunica??o em Prosa Moderna (Editora FGV), verbos dicendi s?o aqueles verbos de elocu??o que indicam qual interlocutor est? com a palavra. Em outras palavras, s?o os verbos que explicam um ato oral, como dizer, perguntar, responder, retrucar, continuar, finalizar, concordar e exclamar, entre outros. Verbos sentiendi, por sua vez, s?o aqueles que exprimem emo??es, estados de esp?rito ou rea??es psicol?gicas do personagem, como por exemplo balbuciar, berrar, gaguejar, gemer, suspirar ou lamentar.

1.2 Tipos de discurso Em sua Moderna Gram?tica Portuguesa (Editora Nova Fronteira), Evanildo Bechara apresenta os discursos direto, indireto e indireto livre em fun??o da maneira com que os verbos dicendi e sentiendi s?o inseridos nas ora??es. O discurso direto ? aquele em que o autor reproduz as palavras do interlocutor com ajuda expl?cita ou n?o dos verbos dicendi e sentiendi.

O discurso indireto ? aquele em que, segundo Bechara, "os verbos dicendi se inserem na ora??o principal de uma ora??o complexa tendo por subordinada as por??es do enunciado que reproduzem as palavras pr?prias ou do nosso interlocutor. Introduzemse pelo transpositor que, pela dubitativa se e pelos pronomes e adv?rbios de natureza pronominal" (p?gina 482).

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Por fim, o discurso indireto livre introduz a fala do personagem sem nenhum elo com os verbos dicendi, e tem a particularidade de poder manter as interroga??es e exclama??es da ora??o origin?ria.

1.3 Quebra de Par?grafo Independente do estilo de pontua??o escolhido, toda troca de turno conversacional -- ou seja, toda altern?ncia de locutor -- deve ser marcada pela mudan?a de par?grafo. ? recomendado manter a fala de um mesmo personagem em um s? par?grafo, mas exce??es podem ser abertas em caso de 1) falas interrompidas por trechos narrativos ou 2) falas muito extensas. No primeiro caso, o par?grafo pode ser quebrado e, depois do trecho narrativo, pode ser retomado com alguma indica??o de continuidade como continuou, prosseguiu ou retomou.

O segundo caso ser? abordado nos itens 2.5 e 3.5.

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1.4 Posi??o dos sujeitos (pronomes pessoais ou substantivos) A posi??o dos sujeitos (pronomes pessoais ou substantivos) ? uma quest?o de escolha do autor, tradutor ou editor do texto: o pronome pode aparecer antes do verbo, depois do verbo ou pode at? ser suprimido, caso o interlocutor j? tenha sido apresentado antes.

1.5 Escolha de travess?o, aspas ou di?logo sem sinaliza??o tipogr?fica Esta tamb?m ? uma quest?o de escolha do autor, tradutor ou editor do texto. Por?m, a tradi??o tipogr?fica brasileira prop?e o uso do travess?o, sistema de di?logo que ? definido como padr?o nos manuais de reda??o e guias de estilo da maior parte das maiores editoras do pa?s (isso se aplica, em geral, a todas as l?nguas latinas). Em O Livro: manual de prepara??o e revis?o, Ildete Oliveira Pinto diz que as aspas ficam restritas a dois casos: para real?ar a fala que n?o segue uma r?plica ou para assinalar um discurso direto dentro de outro discurso indireto.

O segundo caso ser? abordado no item 2.6. Outra possibilidade ? n?o utilizar sinaliza??o tipogr?fica alguma para demarcar os di?logos. Nesse caso, estes s?o introduzidos no meio da prosa sem demarca??o alguma ou seguindo os padr?es de pontua??o de di?logos que utilizam as aspas, conforme itens

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3.2, 3.3 e 3.4. Os di?logos inclusos no meio do discurso livre indireto tamb?m n?o s?o demarcados, conforme mostrado no item 1.2. 2) USANDO O TRAVESS?O PARA SINALIZAR O DI?LOGO 2.1 H?fen, tra?o m?dio e travess?o A primeira coisa a se notar no caso da escolha desse padr?o tipogr?fico ? o uso do sinal correto para indicar os di?logos. O h?fen, a meia-risca e o travess?o costumam ser frequentemente confundidos entre si, mas como o Rodrigo van Kampen fala nesse texto, "existe um motivo pra sinais gr?ficos existirem" e ? essencial utilizar cada sinal em sua devida aplica??o. Veja a diferen?a entre os tr?s sinais: H?fen ou tra?o de uni?o: Tra?o m?dio ou tra?o de divis?o: ? Travess?o: -- O h?fen ? usado para ligar duas palavras, como em bem-vindo, e apresenta uma tecla direta no teclado com padr?o brasileiro. A meia-risca pode ser usada para ligar valores extremos de uma s?rie, como em 0?10, e geralmente pode ser inserido atrav?s de atalhos no processador de texto (no Microsoft Word, o atalho ? Alt + 0150). O travess?o tamb?m pode ser inserido por um atalho (Alt + 0151 no Microsoft Word) e, al?m de ser utilizado para indicar mudan?a de interlocutor na transcri??o de um di?logo, tamb?m pode substituir v?rgulas, par?nteses e colchetes para isolar palavras ou frases em um contexto ou ainda destacar enfaticamente o fim de um enunciado, conforme explicam Celso Cunha e Lindley Cintra na Nova gram?tica do portugu?s contempor?neo.

Eventualmente, manuais de reda??o e guias de estilo padronizam o tra?o m?dio (Alt + 0150) como sinal de transcri??o de di?logos, mas o h?fen jamais ? utilizado nessas circunst?ncias.

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Alguns processadores de texto substituem automaticamente o h?fen duplo (--) por travess?o. De qualquer maneira, se o autor n?o quiser utilizar os atalhos ao longo da escrita pra inserir travess?es ou o tra?os-m?dios no texto, o uso do h?fen duplo ? indicado pois, posteriormente, ? poss?vel substituir todos os hifens duplos pelo sinal gr?fico de escolha. Isso ? imposs?vel no caso do uso do h?fen simples pra demarca??o de di?logos, j? que nesse caso a substitui??o autom?tica tamb?m substituiria os hifens aplicados corretamente, transformando, por exemplo, bem-vindo em bem--vindo, uso inadequado do travess?o. 2.2 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo com verbo dicendi/sentiendi No caso de di?logo seguido de trecho narrativo com verbo dicendi ou sentiendi, o di?logo n?o deve ser pontuado com ponto final e o trecho narrativo subsequente deve sempre come?ar com letra min?scula, mesmo quando o di?logo termina com ponto de exclama??o, ponto de interroga??o ou retic?ncias, pois se entende a parte dial?gica e a parte narrativa juntas comp?em uma ?nica frase.

Uma linha de di?logo pode ser interrompida no meio por uma ora??o contendo um verbo dicendi ou sentiendi. Se entre o primeiro e segundo elemento desta uma fala houver uma v?rgula, ela ? colocada ap?s o segundo travess?o. Em ambos os casos, a ora??o intercalada contendo o verbo dicendi ou sentiendi n?o ? pontuada.

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2.3 Como pontuar di?logo seguido de trecho narrativo comum No caso de di?logo seguido de trecho narrativo comum, sem um verbo dicendi ou sentiendi, o di?logo deve ser pontuado (com ponto final, interroga??o, exclama??o ou retic?ncias) e o trecho narrativo deve ser, necessariamente, iniciado com caixa alta.

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Em alguns desses casos, o trecho narrativo comum pode vir em um novo par?grafo ao inv?s de vir diretamente depois do di?logo, com uso do travess?o.

2.4 Como pontuar di?logo precedido por trecho narrativo terminado em verbo dicendi/sentiendi No caso de di?logo precedido por trecho narrativo terminado em verbo dicendi ou sentiendi, este trecho deve ser terminado com dois pontos. Se o trecho terminado em verbo dicendi ou sentiendi for um par?grafo n?o iniciado em di?logo, depois dos dois pontos pode ou n?o haver uma quebra de par?grafo para introdu??o do di?logo.

Caso o trecho seja uma interpola??o do narrador, n?o h? quebra de par?grafo.

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