Samora Machel



A morte de Samora e a desinformação Sul-africana

Foi numa manha de céu limpo, há 20 anos que a nação moçambicana ouviria de Marcelino dos Santos da FRELIMO o anunciou da queda de um avião que trazia o Presidente Samora que regressava de uma encontro em Mbala, Zâmbia com seu homólogo da Zâmbia, Kenneth Kaunda e de Angola, José Eduardo dos Santos visando confrontar Mobuto acerca do apoio a UNITA.

Samora não quis passar a noite do dia 19 de Outubro, na Zâmbia porque tinha pressa em fazer as mudanças radicais nas altas patentes do exercito marcada para o dia 20 do mesmo mês, porém estas mudanças nunca tiveram lugar porque para alem de naquela noite, o avião presidencial nunca ter chegado aterrar no aeroporto de Maputo, o Ministro da Segurança Sérgio Viera recebia uma chamada do Ministro Sul Africano dos negócios estrangeiros Pik Botha, as 06.50 da manha do dia seguinte, avisando que um avião vindo da Zâmbia havia desterrado na província do Natal. Na verdade o avião tinha caído numa localidade de Mbuzini, na província de Mpumalanga próximo a fronteira entre os dois países. Estava registada a primeira “má-fé ” do regime do Apartheid.

Na altura, o observatório meteorológico moçambicano indicava que na passada noite havia bom tempo para sobrevoar, não obstante, a experiente tripulação soviética que tripulava o avião, ter no seu historial cerca de 65 voos aterrados de noite no aeroporto de Maputo, por isso as autoridades do país da “Marrabenta” não tinha duvida que o avião Tupolev 134 tinha sido induzido a sair da rota por um rádio -farol pirata.

Por outro lado, o regime do Apartheid, na voz de Pik Botha anunciara que havia álcool nos cadáveres da tripulação soviética dando assim, inicio a uma onda de desinformação que seriam desmentidas por Vasco Langa, um dos 11 sobreviventes do acidente. Botha anunciava também estar em posse de um documento encontrado no avião que indicava uma conspiração entre Maputo e Harare contra o governo de Malawi que no entender do governo moçambicano, as autoridades Sul-africanas estava a fazer de tudo para transformar a vítima em réu.

Na verdade, para prosseguir as investigações do acidente, o governo de Maputo queria entender porque Pretoria não usou o sistema de controlo aéreo para avisar ao piloto que o Tupolev 134 estava fora da rota e em risco de entrar em espaço aéreo sul-africano. Segundo dados, Pretoria reagiu dizendo que o avião estava a voar a tão baixa atitude que saiu dos monitores do radar e os controladores aéreos assumiram portanto que tinha aterrado em Maputo. Um intenso clima de falsas informações atribuídas ao regime de Pretoria seria consequentemente registado.

No primeiro dia de Novembro Pik Botha aparecia novamente mas desta vez dizendo que o Tupolov: “simplesmente desapareceu dos monitores. Ninguém em controlo do radar podia ou teria imaginado que houvesse alguma coisa anormal nisso”. Para os moçambicanos, Pik Botha pintava um quadro que dava o sistema de radar sul-africano de primitivo e ineficiente., mas entretanto uma investigação conduzida pela AIM (agencia de informação de Moçambique) na altura dirigida pelo Jornalista Carlos Cardoso dava conta que, a mais de 10 anos, o regime do Apartheid havia montado sofisticados monitores de radar em algumas áreas com sistemas de aviso concebidos a alertar sobre “aviões hostis aproximando-se a Africa do Sul”.

As investigações de Cardoso eram sustentadas por um artigo do “Star” de Joanesburgo de Fevereiro de 1975 que relatava sobre um sistema “que pode detectar a maior parte dos movimentos numa vasta circunferência entre o oeste do Botswana, o norte da Rodésia, o sul de Moçambique e o leste do Natal. Calculadores de altitude poderiam calcular a altura de qualquer aeronave detectada pelo scaner”.

Já em 1982, Segundo, dados de Paul Fauvet e Marcelo Mosse, o sistema tecnológico Sul Africano sofisticou-se com aquisição do sistema de radar computarizado plessey AR- 3D :“um quadro completo, não um quadro parcial, donde um objecto do tamanho do Tupelov-134 podia desaparecer misteriosamente”. Sem esquecer, a uma nova rede de radar de baixa altitude que monitorizava voos ilegais que sobrevoavam ao nível do mar, na época em que Pretoria declarava o seu “espaço aéreo especialmente restrito” e Pik Botha vangloriava desse novo sistema.

As desinformações prosseguiam quer através da imprensa sul africana quer através dos discursos dos seus governantes. Ainda de acordo com Fauvet e Mosse, “A mais caricata foi a alegação de que havia três aldeias no bantustao do Kangwane com uma configuração que a tripulação soviética podia ter confundido com uma pista”. Em “C. Cardoso e a Revolução Moçambicana” Mosse e Fauvet citam dados de Cardoso, integrante da equipa que foi reconhecer os cadáveres, alertando que “Nenhuma destas aldeias tem luz eléctrica, todavia quiseram-nos fazer acreditar que um piloto experiente podia confundir uma série de fogueiras e candeeiros de petróleo com as luzes de uma pista de aterragem”.

Transcrições do registo de voz da cabine dos pilotos da caixa preta do avião mostrava que quando o avião fez a viragem fatal para sudoeste, o capitão ficou surpreendido e perguntou: “Não devia ser em frente?” e o co - piloto respondeu: “O VOR indica esta via”. Estes dados segundo Carlos Cardoso que investigava o incidente, eram evidência de que algumas fontes estavam certa de que havia um outro rádio – Farol, suficientemente potente para se sobrepor ao rádio -farol de Maputo e atrair o avião para o desastre.

Na altura Carlos Cardoso escreveu um artigo concluindo que: “o crime que a tripulação soviética cometeu não derivou de incompetência muito menos de embriaguez. O seu crime foi excesso de confiança, que os fez acreditar mais nas suas capacidades do que nos instrumentos a bordo ”.

“Na invenção da História, parece que saiu um novo opúsculo em Maputo com a versão do Apartheid sobre o assassinato de Samora Machel e dos seus colegas” observaria, o antigo Ministro da Segurança Sérgio Viera ao reagir a versão dos acontecimentos narrada no livro “A morte de Samora Machel” de João Cabrita, o investigador Moçambicano , que na altura do acidente se encontrava a trabalhar para os serviços de escuta e monitorização da BBC a partir da Suazilândia onde vive.

No livro alegadamente fundamentado no relatório da comissão de inquérito no acidente, Cabrita conclui que “a secreta moçambicana falhou ao não garantir que o voo se mantivesse afastado do espaço aéreo sul africano” uma vez que “o Ministério da Segurança estava em posse de informações de que a Africa do Sul preparava um ataque directo contra Maputo e o derrube do Regime de Samora Machel”.

Cabrita que é acusado de ter estado ao serviço do apartheid por alguns "históricos" da FRELIMO, reconhece que os tripulantes não estavam embriagados como atestam os resultados da autopsia mas denuncia o comportamento da tripulação soviética que acusa de estar "distraída com questões estranhas ao voo". De acordo com o autor “:O comandante procurava por uma caneta para anotar o número de cervejas e coca-colas a encomendar do bar da aeronave para a tripulação levar para casa após a aterragem em Maputo (…) o co -piloto escutava uma estação de rádio da União Soviética, que transmitia um boletim de notícias, seguido de um programa musical", refere Cabrita sobre o ambiente no ``cockpit´´, numa altura em que já havia sinais contraditórios sobre a rota seguida.

De recordar que a 11 anos atrás Sérgio Viera enumeraria num artigo de opinião, oito factos verificados depois do crime, que para si, constituíam provas de que o extinto regime do Apartheid, estaria por detrás do assassinato. Dentre os pontos, o hoje deputado e empresário, iniciaria por frisar o anuncio 9 horas depois, por parte da Africa do Sul, da queda do avião. A trânsfuga de Paulo Oliveira antigo Representante da RENAMO em Portugal que ao abandonar o antigo movimento rebelde denunciara, ter recebido ordens de Pretoria para preparar um comunicado em nome da RENAMO e assumir a responsabilidade do acto, não obstante, a contra ordem que recebe a 20/10/86. As palavras de um comandante da Forca aérea sul africana afirmando que os seus radares tinham acompanhado o avião presidencial desde Mbala bem com dos helis e aviões de Busca. Outro ponto apresentado por Sérgio Viera seria o facto de que a caixa negra analisada em Pretoria indicava que o rumo do avião estava a ser ditado pelo VOR, porem quando a comissão quis identificar o VOR a Africa do Sul, segundo Viera, unilateralmente deu por encerrado o inquérito declarando que o acidente tinha sido causado por incompetência e desleixo dos pilotos.

Entretanto comentários ao artigo de Viera, ouvidos na altura pelo “NocMoc”, apontavam para o facto de o antigo Ministro não se referir acontecimentos interno que se verificavam antes da morte de morte do Presidente Samora com realce a sua intervenção no exercito, demissões e mudanças que fez e colaborações internas que teria existido.

Obras Consultadas:

MOSSE & FAUVET, Carlos Cardoso e a revolução Moçambicana

CABRITA, João, A Morte de Samora

Diário de Noticias

NotMoc, Edição 66, 29/10/95

José Gama, Secretario Geral do Clube dos angolanos no exterior (CLUB-K)

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