Identificação Inicial: (Sexo, Idade, Naturalidade, Local ...



Resumo do Projecto:

No âmbito da realização do Seminário/Projecto do 3º ano do curso de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pretendemos questionar a identidade do “retornado”, o Português que retorna das ex-colónias Africanas, no período pós 25 de Abril, na fase posterior ao processo de descolonização. É relevante enquadrar este tema no seu contexto histórico, fazendo a ligação à explicação que explicitaremos adiante.

Dada a descolonização, é reaberto o ciclo da imigração em Portugal, tendo lugar o “repatriamento” de cerca de meio milhão de Portugueses até então radicados nas colónias. “Do número de retornados recenseados pelo INE em 1981 61% são oriundos de Angola, 34% de Moçambique e apenas 5% das restantes colónias. Quase dois terços desses retornados nasceram em Portugal (63%), embora esta proporção se inverta nas camadas mais jovens - 75% dos menores de 20 anos eram naturais das colónias” (in Diário de Notícias: 14/08/05). A grande maioria destes “retornados”, chegam a Portugal após uma saída de África com contornos, de um modo geral, trágicos, com uma chegada abrupta a Portugal, despojados dos seus bens, incertos quanto ao futuro, saudosos do passado deixado em África, lugar onde (não será certamente especular), a grande maioria pretendia permanecer. A reentrada em Portugal é difícil, mas a evolução do “retornado” ao longo da sua vida, aos níveis social e económico revela-se positiva, sobretudo apoiada em redes familiares, e num conhecimento adquirido nas ex-colónias (experiência profissional) que se tornam essenciais para a sua reintegração, apesar de muitos “retornados” não considerarem o processo de descolonização “exemplar”, ou “um caso de sucesso”, nomeadamente no que diz respeito aos apoios concedidos pelo Governo de então, pela não reposição dos bens perdidos, entre outros factores.

É nosso objectivo compreender de que forma a “passagem” pelas ex-colónias e o regresso a Portugal influenciaram a construção de identidades daqueles que ficaram conhecidos como “retornados”, numa tentativa de salientar as “marcas” que advêm dessa vivência, de ir ao encontro dos “traços” de alguém que, na sua vida, sofre uma alteração “brusca” no seu modo de vida, passando de um país Europeu, com valores transportados consigo, de carácter socialmente mais “estóico”, para uma ambiência Africana, de uma congruência entre homem e natureza, assimilando de forma quase obrigatória, todo um modo de vida, que diverge de forma substancial daquilo que anteriormente conhecia, passando a coexistir com um novo clima, novos cheiros, cores, hábitos, em suma, um novo “lugar” até então desconhecido, onde acaba por “absorver” uma nova perspectiva. Após uma experiência de vida tão dissemelhante daquela que anteriormente conheceu, pretendemos compreender, com a realização deste projecto, com que se identifica actualmente o “retornado”, se possui uma visão diferente daquilo que o rodeia devido a essa experiência, em que consiste essa visão, se é uma visão magoada (“marcada” pela forma como sai de África), uma visão romantizada, se o seu modo de vida de alguma forma se alterou, hoje, longe de África, se há uma proximidade relativamente àqueles que viveram experiência semelhante à sua, que “imagem” retém de África, como se sente um “retornado”. Este estudo é, assim, voltado para a experiência pessoal destas pessoas, que se dispersaram na sociedade, que a integram, que se tornaram “invisíveis” no meio de outras vidas que não passaram por África, mas que, contudo, trazem consigo um passado vivido que consideramos pertinente analisar.

O facto de este projecto visar apresentar o ponto de vista de Europeus que estiveram em África, não significa contudo que seja obrigatoriamente uma visão “Eurocêntrica” dos factos, ou pelo menos, a visão que Edward Said explora em “Orientalismo” (1978). Não fazemos tenção em acentuar qualquer interpretação de carácter crítico por parte do Europeu relativamente a África, mas sim enfatizar qual a influência que África tem, actualmente, nas percepções pessoais do “retornado”, Português, Europeu.

É um projecto voltado para as memórias, para a noção de identidade, para a compreensão de características híbridas na mente destas pessoas, ou de uma cissiparidade de sentimentos, como “assimilaram” as suas experiências.

“Distância tem conotação de graus de acessibilidade e também de preocupação” (Tuan, 1977), assim, quão perto estarão África (imaginada ou real) e o “retornado”?

Entrevista

Identificação Inicial: (Sexo, Idade, Local de residência em África, Local de residência em Portugal, Situação Profissional em África, Situação Profissional actual em Portugal)

Questões:

1 – Que idade tinha quando chegou a África?

2 – Para onde foi viver em África (cidade, plantação, fazenda, “musseque”)?

3 – Quais os motivos que o/a levaram até África?

4 – Ao chegar a África, o que mais o/a “marcou”?

5 – Quais foram os aspectos que tiveram maior impacto em si (paisagem, hábitos...)?

6 – Foi fácil a sua habituação a um novo lugar?

7 – Passou a preferir estar nesse novo lugar em comparação com Portugal?

8 – Foram circunstâncias difíceis, de um modo geral, que caracterizaram a saída de África por parte dos Portugueses. Foi difícil para si? Porquê?

9 – Tendo tido a oportunidade de escolher, teria permanecido em África?

10 – Como avalia a sua reintegração em Portugal?

11 – Foi um “processo” fácil ou existiram dificuldades?

12 – Recebeu apoio nessa reintegração? De quem (apoio estatal, família...)?

13 – Quando ouviu pela primeira vez a expressão “retornado”?

14 – O que significa para si?

15 – O que acha que as pessoas queriam dizer com essa expressão?

16 – Ao chegar a Portugal, sentiu-se alguma vez discriminado/a?

17 – Quando chegou a Portugal, procurou estar junto daqueles que tiveram um passado semelhante ao seu, em África, ou isso não tinha importância para si?

18 – Actualmente, passa-se o mesmo?

19 – Como acha que os “retornados”, em geral, vêem os negros que hoje estão em Portugal?

20 – E os que foram ocupar o poder em África?

21 – E você, como vê os negros que estão hoje em Portugal e os negros que foram ocupar o poder em África?

22 – Ao pensar em África, particularmente no lugar onde esteve, quais as suas principais memórias?

23 – Considera que a sua passagem por África influencia algumas das suas escolhas actualmente? Onde gosta de passear, destino de férias, onde habita, o que lê...

24 – Possui objectos ligados a África “expostos” em sua casa? Artesanato tradicional, quadros, fotografias...

25 – Acha que ainda mantém hábitos dos tempos em que viveu em África?

26 – Gosta de estar actualizado relativamente à realidade que se vive actualmente em África, particularmente no lugar onde esteve, ou prefere pensar no tempo em que lá vivia?

27 – Quando pensa naquilo com que mais se identifica (paisagem, hábitos, música, gastronomia...), pensa mais em África ou em Portugal? O quê? Explique como.

28 – Sente-se um Europeu que viveu em África, ou um Africano que vive na Europa?

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