Filme: O Grande Truque



DESVENDANDO OS GRANDES TRUQUES

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Luisa da Fonseca Tavares(

Tabita Caroline dos Santos Bastos**

RESUMO

Este artigo vem tentar esclarecer algumas questões presentes no filme “O Grande Truque”. Pretende explorar a relação entre a mágica e a ciência: o uso de aparelhos para se fazer o truque; o que ocorre na mente das pessoas enquanto assistem uma mágica. Além de esclarecer a sobre a arte mágica, o mágico e os elementos fundamentais para a elaboração de um truque.

Palavras-chave: Ciência, mágica, mágico, objetos.

O Grande Truque é um filme feito por Christopher Nolan. Um diretor que teve como filme comercial de estréia, que lhe rendeu vários prêmios, “Amnésia” e apresenta a peculiaridade de iniciar seus filmes com flash-backs ou com cenas do final da história. Característica presente no filme a ser abordado nesse artigo. Nolan ainda atua como roteirista em alguns dos seus filmes.

O filme lançado em 2006 se passa no ano de 1897, no final do século XIX e inicio do século XX época de descobertas e do positivismo. “O Grande Truque” narra a história de dois jovens mágicos inicialmente amigos mas com as circunstâncias que vão ocorrendo, começam a construir uma rivalidade que os leva a um fim trágico. Robert Angier e Alfred Borden são os mágicos interpretados por Bale e Hugh Jackman. Alfred apresenta um truque espetacular; Robert fica obcecado em descobrir qual o segredo no truque do rival. Dessa forma o filme vai se desenvolvendo no meio de vários espetáculos de mágica. O cineasta conduz o filme com cuidado mostrando a trama e os personagens levando o espectador a pensar e a refletir mesmo sem ter um tempo seqüencial. O filme mescla cenas de passado e do presente sem aviso e com narrações de vários personagens.

Este artigo pretende esclarecer algumas questões que não ficaram claras no filme. Além de abordar temas relacionados com a mágica como os elementos fundamentais para sua elaboração e também explicar a relação da mágica com a ciência.

A Mágica

A mágica é a ciência que trabalha com a surpresa e o espanto. Ela atrai o público por nos enganar, não revelar seus truques e acaba nos deixando muito curiosos.

Hoje em dia a mágica só funciona mesmo se for surpreendente, algo extremamente extraordinário. No filme “O Grande Truque” percebemos a dificuldade do personagem de Christian Bale, Alfred Borden, logo após se separar de seu parceiro para conseguir agradar o público. Os truques apresentado por Borden eram considerados velhos e repetido, como exemplo, a mágica de juntar duas argolas. Isso no século XIX. A mágica, segundo o Dicionário Aurélio é “arte ou ciência oculta com que se pretende produzir efeitos e fenômenos contrários a leis naturais”. Ela faz acreditar que o impossível é possível de alguma forma e as provas são os truques. As melhores ilusões devem ultrapassar a lógica e desafiar a explicação. O que se esquece de dizer é que cada truque é baseado em princípios claros da ciência, algo como a psicologia de distração. Ilusão de ótica: um efeito que acontece por si só, independente do artista. Manipulação da realidade: nossas mãos são capazes de fazer movimentos pequenos, sutis, que escondem pequenas coisas que não queremos que outras pessoas vejam. Sendo assim todo mágico é conhecedor de um pouco de ciência.

Vários artifícios da ciência são usados nos truques de mágica, como esse de John Thompson, que usa de uma teoria neurocientista e aplica em palco: O refletor se acende sobre a assistente. A mulher de vestido branco curtíssimo é uma fonte luminosa que irradia beleza do palco para o público. O Grande Tomsoni anuncia que irá transformar a cor do vestido dela em vermelho. Tensos, sentados nas poltronas, os espectadores se concentram na mulher, gravando a imagem dela nas retinas. Tomsoni bate palmas e os holofotes se apagam rapidamente, antes de criarem uma atmosfera vermelha. A mulher agora está inundada pela vermelhidão dos projetores.

Mas esperem! Mudar a cor com um holofote não era exatamente o que o público tinha em mente. O mágico pára na lateral do palco, olhando alegremente para sua brincadeirinha. Sim, ele admite ter sido um truque barato; o que ele prefere, explica diabolicamente. Mas temos de concordar, o vestido dela ficou vermelho – junto com todo o resto. Então, o perdoe, e preste atenção mais uma vez em sua bela assistente enquanto ele acende a luz para o próximo truque. Ele bate palmas e as luzes baixam de novo; depois, o palco é coberto por uma imensidão de branco.

Espere! O vestido dela realmente ficou vermelho. O Grande Tomsoni conseguiu mais uma vez! (Martinez-Conde; Macknik, 2009)

O truque e a explicação dada por John Thompson (conhecido como o Grande Tomsoni) revelam um profundo conhecimento intuitivo dos processos neurais que acontecem no cérebro dos espectadores. Veja a explicação de Susana Martinez-Conde e Stephen L.Macknik (2009) de como o truque funciona.

Quando Thompson apresenta sua assistente com o vestido branco e justo dela, os espectadores a acreditam que nada poderia estar escondido sob o vestido branco. Sendo que essa suposição está errada. A mulher atraente em seu vestido apertado também ajuda a atrair a atenção das pessoas para onde Thompson quer – o corpo da mulher. Quanto mais olham para ela, menos percebem os dispositivos dissimulados no chão, e mais adaptados se tornam seus neurônios retinais à brancura da luz e à cor que percebem.

Durante a rápida fala de Thompson depois da pequena “piada”, o sistema visual de cada espectador passa por um processo cerebral chamado de adaptação neural. A reação de um sistema neural a um estímulo constante (como medida pela taxa de disparo dos neurônios importantes) diminui com o tempo. É como se os neurônios ignorassem efetivamente um estímulo constante para guardar energia e sinalizar que um estímulo está mudando. Quando cessa o estímulo constante, os neurônios adaptados disparam uma resposta “de ricochete”, conhecida como pós-descarga.

Nesse caso, o estímulo de adaptação é o vestido iluminado de vermelho, e Thompson sabe que os neurônios retinais dos espectadores irão ricochetear por uma fração de segundo antes de as luzes se apagarem. O público continuará vendo uma imagem residual vermelha na forma da mulher. Em menos de um segundo, um alçapão se abre no palco, rapidamente, e o vestido branco, preso levemente ao corpo com velcro e amarrado a cabos invisíveis sob o palco, é retirado do corpo dela. Depois, as luzes se acendem.

Dois outros fatores fazem o truque funcionar. Primeiro, a luz é tão intensa antes de o vestido ser retirado que, quando apagada, o espectador não consegue perceber os rápidos movimentos dos cabos e o vestido branco desaparecendo sob o palco. A mesma cegueira temporária pode nos dominar quando saímos de uma rua ensolarada e entramos em uma loja mal iluminada. Segundo, Thompson faz o truque verdadeiro só depois de o público pensar que já acabou. Com isso ele ganha uma vantagem cognitiva importante – os espectadores não estão procurando um truque naquele momento crítico, e por isso relaxam brevemente seus olhares atentos. (Martinez-Conde; Macknik, 2009)

O truque de Thompson demonstra bem a essência da mágica de palco. Continuando com Susana Martinez-Conde e Stephen L.Macknik no artigo “Mágica e Truques que iludem o cérebro” os mágicos são artistas da atenção e da consciência. Eles manipulam o foco e a intensidade da nossa consciência. Isso é feito em parte pelo uso de combinações desconcertantes de ilusões visuais (como as imagens residuais), ilusões ópticas (fumaça e espelhos), efeitos especiais (explosões, tiros falsos, controles de iluminação regulados com precisão), prestidigitação, recursos secretos e artefatos mecânicos (“apetrechos”).

Nos truques, os mágicos utilizam o chamado 'misdirection', que são técnicas para desviar a atenção do objeto da mágica. Pode ser uma careta, uma brincadeira, um objeto maior ou qualquer outra coisa que chame mais a atenção do que o componente do truque. Há séculos os mágicos usam essa fórmula para fazer com que cachecóis ou animais apareçam fora do lugar de origem ou 'ajudem' outros objetos a desaparecer. Mas foi só nas últimas duas décadas que os cientistas descobriram que apenas uma pequena parte da informação que entra através da visão - a parte que tem o foco de atenção - entra na consciência.

O uso de aparelhos nos truques de mágica já foi criticado no século XX. O Dr. Frederico Carlos da Costa Brito, discípulo direto do famoso ilusionista húngaro C. Hermann, criticou todos os mágicos daquela época que se valiam de aparelhos durante as suas apresentações. Segundo ele, tais mágicos estavam fadados ao fracasso porque pertenciam a uma "escola antiga" e os aparelhos utilizados não mais serviam para enganar o público porque tiravam o brilho da ilusão. Brito defendia uma nova escola intitulada por ele como sendo a "escola moderna" sem o uso de aparelhos. Atualmente os mágicos têm se utilizado cada vez mais de aparelhos em suas apresentações; e pouquíssimos são os que se utilizam apenas da agilidade mental e habilidade manual para produzirem efeitos. Os que defendem o uso de aparelhos afirmam que o público vai assistir um truque de ilusionismo esperando ser enganado e não estão preocupados em saber se a ilusão é feita com auxílio de caixas, mesas, etc. Os acessórios usados pelos mágicos são chamados de gimmicks. Gimmicks são dispositivos que ajudam a apresentar uma mágica.

A História da mágica

Acredita-se que a palavra “mágica”, ou “magic” em inglês, vem do grego “magi”, palavra usada para descrever os prestigiados membros e seguidores de “Zoroaster” vindos da Pérsia. Zoroaster foi um líder religioso e profeta da antiga Pérsia e fundador da religião Zoroastrianismo. Assim, os “magis” eram vistos como homens sábios, possuidores de grandes poderes e controle sobre os demônios. Apenas a partir do século 16 d.C., a palavra magic começou a perder seu caráter religioso e passou a ser associada a “sujeito que engana através de truques feitos pela habilidade com as mãos”.

Na verdade não se sabe ao certo quando a arte da mágica surgiu. Já foram encontrados objetos mágicos trucados e desenhados em grutas da era pré-histórica. No Egito em uma tumba de Beni Hassan de 1.500 a.C, são encontrados desenhos de um dos mais antigos truques de mágica: Cups and Balls.

Existe um antigo papiro egípcio escrito por volta de 2000 a.C que conta da existência de um mágico chamado Dedi. Esse é o mais antigo registro de um número de mágica e está exposto no Berlin State Museum. O relato, escrito aproximadamente mil anos depois da morte de Dedi, nos conta a história de seu incrível desempenho perante a corte do faraó Cheops. Dizia-se que era capaz de colocar a cabeça de volta em corpos decapitados fazendo-os voltar a vida, entre outros truques. De acordo com tal papiro, Dedi realizou a decapitação de três animais: um ganso, um pato e um boi. Dedi, na frente de todos, restaurava a cabeça dos animais e depois com palavras mágicas o animal levantava vivo e andava em direção ao mágico. O faraó Cheops desafiou o mágico a realizar o truque com um humano mas ele recusou. O registro foi escrito mil anos depois da performance, o que nos deixa suspeitas do que realmente aconteceu, porém o truque de decapitar animais e lhes dar vida novamente foi e é um clássico até os dias de hoje.

A prática de truques de mágica demorou muito mais para difundir-se na Europa. A esmagadora maioria da população européia da Idade Média era ignorante, sem estudo, e muito influenciada pelos padres da época, que em tudo viam bruxaria. Portanto, para a maioria da população, um indivíduo que fosse capaz de fazer uma moeda sumir em sua mão ou decapitar uma galinha e ressuscitá-la certamente tinha um pacto com o diabo. Esse aspecto da sociedade da época não permitiu que a mágica se difundisse em grande escala. Mesmo assim, na Inglaterra e em partes da Europa Ocidental existem registros de mágicos que executavam truques muito simples para pequenas platéias em tabernas, bares e que obtinham bastante êxito.

Em meados do século XVI foi escrito um livro fundamental na história da mágica: The Discovery of Witchcraft (A Descoberta da Bruxaria). Esse livro foi escrito por um fazendeiro chamado Reginald Scot, que vivia no condado de Kent, na Inglaterra. Indignado com a crueldade das condenações por bruxaria e com a superstição tola da época que associava tudo que parecia inexplicável com o diabo, Scot decidiu aprender fundamentos da arte mágica com os artistas da época. Seu professor foi um francês chamado Cautares, que o ensinou que um truque mágico, quando executado na frente de ignorantes, se torna sobrenatural. Após ter adquirido conhecimento suficiente, escreveu seu livro com 560 páginas, o qual explicava vários dos fundamentos usados pelos mágicos da época, colaborando imensamente para o surgimento de uma distinção entre bruxaria e truques de mágica. Os princípios citados em sua obra são usados até hoje. Porém sua obra foi considerada profana tempo depois por James VI, que assumiu o trono inglês e mandou queimar todas as cópias do livro de Reginald Scot. Sendo que para a sorte dos estudantes de mágica, muitos sobreviveram e algumas versões originais podem ser encontradas ainda hoje.

Na virado do século XIX, os cartazes de publicidade dos mágicos freqüentemente os mostravam trabalhando com pequenos demônios sussurrando segredos úteis em seus ouvidos. Apesar das possibilidades exóticas e sobrenaturais que tais cartazes insinuavam, os mágicos deixavam claro que seus efeitos eram o resultado de mecanismos de truque, prática e trabalho de palco. A negação deles do status "oculto" ofereceu vários ganhos. Primeiro, desviou a fascinação do público do Espiritualismo e o oculto para seus próprios atos. Segundo, os artistas não corriam mais o perigo das autoridades trancafiá-los como feiticeiros. Finalmente, estabelecendo-se como as contrapartes honestas das fraudes Espiritualistas da época, os mágicos se posicionaram como aliados da ciência, ajudando a livrar o público da superstição.

O filme se passa na mesma época e em Londres. Mais especificamente na Era Vitoriana, período de rápidas mudanças. Este foi um longo período de prosperidade e paz (Pax Britannica) para o povo britânico, como os lucros adquiridos a partir da expansão do Império Britânico no estrangeiro, bem como o auge e consolidação da Revolução Industrial e o surgimento de novas invenções, permitiu que uma grande e educada classe média se desenvolvesse. Percebemos essas inovações no “O Grande Truque” no desenvolvimento das mágicas de Angier e Borden. Devido a competição entre eles, ambos entram no reino das descobertas científicas. Angier chega a utilizar os novos e fantásticos poderes da eletricidade trabalhados pelo cientista Nikola Tesla.

Nikola Tesla

Nikola Tesla (1856-1943) foi um inventor radical, engenheiro e cientista. Nasceu na Croácia, mudou-se para os Estados Unidos e sonhava com robôs, computadores, fornos de microondas, radares e máquinas de fax, muito antes de alguém imaginar essas tecnologias “mágicas”.

Ele registrou mais de 700 patentes e ajudou a forjar a nossa moderna sociedade de alta tecnologia. Descobriu o campo magnético rotativo, que se tornou a base para toda a maquinaria que usa corrente alternada; também inventou a Bobina de Tesla, usada na tecnologia do rádio. Foi na verdade sua tecnologia que ajudou a transformar o mundo de uma infindável cadeia de comunidades desconectadas numa unidade liderada pela informação e pela comunicação.

Era tão excêntrico que dizem que foi a inspiração para o cientista louco nos quadrinhos originais do Super-Homem, de Max Fleischer. Tesla forçou todas as fronteiras da ciência, foi até onde ninguém mais tinha ousado. No seu laboratório de Colorado Springs, descrito no filme, ele fazia toda espécie de experimentos, inclusive forjando raios. Diz-se que estudava viagens no tempo, raios da morte e comunicação interestelar.

Durante uma cena na parte do filme, Thomas Edison é citado no momento em que Tesla parte da cidade rapidamente deixando o telespectador sem entender. O recepcionista do hotel ainda pede a Angier para não contar sobre a “caixa” ao homem de Edison. Na verdade essa cena é baseada na história real. Tesla foi empregado na Companhia Continental Edison em Paris. O primeiro encontro entre os dois não foi nada harmonioso. Tesla faz um acordo de aumentar em 25% a eficiência da companhia em dois meses. Edison não acreditando aceita tendo que pagar cinqüenta mil dólares caso Tesla conseguisse.

Tesla depois de um esforço massivo, virtualmente sem paradas conseguiu cumprir com a promessa, melhorando até mesmo mais do que havia prometida a Edison. Mas, quando pediu por seus cinquenta mil dólares, Edison recusou-se a honrar o acordo, dizendo que estava apenas brincando. Irado, Tesla demitiu-se e nunca mais trabalhou com Edison. Dizem que Thomas Edison invejava o sucesso de seu antigo empregado com a corrente alternada, e efetivamente liderou uma campanha para destruir o nome de Tesla. Ele organizou demonstrações nas quais animais eram eletrocutados letalmente com equipamentos AC.

No filme “O Grande Truque”, Angier, depois de várias tentativas de descobrir o método de um dos truques de Borden, procura Tesla para desenvolver um número chamado Em Um Flash, que tem um resultado similar, mas usa um método totalmente diferente. Para o truque de Angier, Tesla desenvolveu um aparelho realmente capaz de transportar um ser de um local para outro com o uso da eletricidade. Na verdade o aparelho recriava o ser como se fosse um clone. Porém não há fontes que confirmem o envolvimento de Tesla com a clonagem. A transmissão sem fio de energia elétrica tornar-se-ia a maior pesquisa de sua carreira. . “Wireless”, na linguagem moderna. Ele inventou um dispositivo que aumenta a tensão elétrica em milhares de vezes, permitindo que raios e centelhas quebrem a resistência do ar e possam servir para alimentar aparelhos situados a quilômetros de distância. Esse fenômeno é citado em uma cena do filme. Ressonância elétrica era a chave desta descoberta. Ao determinar a frequência da corrente elétrica necessária, Tesla era capaz de ligar e desligar séries de lâmpadas diferentes de metros de distância.

Com relação a criar vida a partir de eletricidade, Andréia Guerra, Marco Braga e José Cláudio Reis autores no artigo “Frankenstein: pode a eletricidade gerar a vida?” dizem que no século XVIII a população européia tinha esperanças de restituir a vida através da eletricidade. Isso surgiu devido ao desenvolvimento dos estudos sobre a eletricidade e principalmente dos trabalhos do médico italiano Luigi Galvani.

O médico trabalhava com a idéia da existência de eletricidade animal, representada por um fluido vital mais conhecido como neuroelétrico. Galvani refez e criou novas experiências que utilizavam descargas elétricas como forma de reviver órgãos e pedaços de corpos de animais.

Suas invenções demonstraram ser possível produzir contrações musculares em rãs sem que fosse necessário descarga elétrica. Segundo os autores bastava unir dois fios de metais diferentes ao corpo da rã, fechando assim um circuito, que as contrações eram percebidas. Esses resultaram reforçaram a tese de que a eletricidade era a responsável pela vida.

Contudo, na época existiam filósofos naturais que discordavam da tese de Galvani. Dentre eles está outro italiano Alessandro Volta que defendia uma posição mecanicista, em que atribuía a forças internas às fibras musculares a responsabilidade pelo comando dos músculos, sendo esse absolutamente involuntário. Apesar das críticas, Galvani permaneceu exercendo influência na virada do século XVIII ao XIX.

O Mágico

Para ser um mágico não basta apenas ler sobre o assunto, comprar os aparelhos ou mesmo executar efeitos mágicos. Um mágico deve ter a postura de ator, a criatividade de um escritor, a sensibilidade do poeta, o senso estético do pintor e a habilidade manual do artífice. Algumas vezes necessita ainda da comicidade do humorista e sempre deve ter o domínio de público do comunicador de massas. Necessita também alguns conhecimentos básicos de física, de química, de fisiologia e, principalmente, de psicologia. Acrescente ainda o respeito pelo mistério, que é a base da sua arte, e ética e a honestidade.

O mágico além de além de ter a preocupação diária de ensaiar suas rotinas e ter pleno domínio das mágicas que realiza precisa criar um personagem conforme seu estilo de trabalho. Ele precisa criar um estilo interessante e condizente com o personagem e com o tipo de mágica realizada. No filme ao retornar aos palcos, antes mesmo de pensar no show, Angier escolhe seu personagem e dá-lhe o nome de “O Grande Danton”.

Outras questões devem ser levadas em consideração também. O vestuário é uma delas. A roupa do mágico deve estar de acordo com o estilo dele. O corpo é uma das partes mais difíceis e trabalhosas na criação de uma personagem logo deve ser bem trabalhada e ensaiada. Por isso o profissional da mágica deve dar a atenção aos mínimos detalhes da sua personagem observando o jeito de andar e a postura, definindo os trejeitos físicos e trabalhando olhar.

Com o personagem criado, este deve entrar no contexto de uma peça teatral. Numa apresentação de mágica, os truques devem estar acompanhados de um espetáculo de teatro. Contar uma história é essencial para tornar uma apresentação cativante, pois de nada adianta ter uma técnica avançada e uma idéia mirabolante e ela não transmitir emoção no que está realizando.

A parte mais importante da apresentação é a finalização. Neste momento todos esperam um final que supere tudo o que foi , e é nesta hora que criatividade do mágico tem que ser explorada ao limite. O clímax de toda a história deve ser algo inesperado que surpreenda as pessoas. Isso é retratado no filme quando Angier deixa seu melhor truque para o final. Notamos o público bem apreensivo esperando esse momento. A mente brilhante por trás dos truques, o engenheiro Cutter interpretado por Michael Caine, mostra a Angier uma mágica nova que iria atrair todos os olhares e tirar a audiência de Borden. Essa mágica era a mesma apresentada no início do filme por Borden. No truque, um pássaro preso na gaiola some e reaparece. Na verdade o pássaro era esmagado e outro era apresentado a platéia. Uma criança ao assistir esse truque começa a chorar pois sabia que o mágico matara o pássaro. Borden mostra o pássaro ao menino tentando convencê-lo que não tinha assassinado o animal mas nada faz a criança mudar de idéia. O truque reformulado por Cutter não matava o bicho. O pássaro era colocado numa gaiola que não o esmagava. Angier usada uma máquina por dentro da roupa que fechava a gaiola deixando um espaço para o pássaro. O melhoramento da mágica está atrelado ao desenvolvimento da ciência, nesse caso das máquinas. Angier ao apresentar o truque para o dono da casa de espetáculos pergunta a ele se já conhecia esta mágica. O homem responde que sim mas espera que o animal não seja morto. O público também espera inovação ainda mais no século XIX em que as idéias estavam borbulhando e a tecnologia crescendo.

O engenheiro foi fundamental na formulação dos truques de Angier e Borden. Ele é a figura que cria os truques com habilidade técnica. Era ele que compartilhava os segredos que faziam os mestres da magia desaparecer, invocar espíritos, flutuar, morrer e ressuscitar, por fim. Ao seu mágico ele dedicava exclusividade. Era uma relação profissional perfeita e financeiramente vantajosa. Cutter quem recoloca Angier nos palcos e traz um novo truque. Como ele disse deveria ser cativante, ser o apogeu do show. Cutter sempre tinha algum método com grande dose de engenharia aplicada para por em prática.

Outra figura essencial no espetáculo é a assistente: são mulheres charmosas e sensuais que servem como uma forma de distrair o público. Ela dever ser destemida também para poder participar de alguns truques. Antes da briga entre os mágicos, logo no início do filme, a mulher de Angier é morta por um descuido de Borden. No truque a assistente era amarrada nas mãos e nos pés e posta dentro de um aquário cheio d’água. Ela se soltar e sai do aquário sozinho. Porém num dia Borden faz um nó diferente, a moça não consegue se soltar e acaba morrendo. Daí a relação de Borden e Angier se desfaz e a rivalidade começa.

O segredo

A mágica nunca deve ser revelada como é feita. Ao contar o mágico corre o risco de perder sua audiência. O público não acreditará mais que ele seja capaz de fazer coisas incríveis. Talvez nunca mais seja visto como mágico. A completa essência da mágica vem do mistério e dos segredos que ela guarda. Quando você descobre o segredo, a essência se perde e a fascinação pelo efeito não volta mais.

No caso do filme os dois mágicos escondem seus truques num criptograma. O objeto era um caderno que apenas poderia ser lido com uma palavra. Criptograma é um gênero de quebra-cabeças matemáticos com operações aritméticas onde os algarismos foram substituídos por letras do alfabeto ou outros símbolos.

O primeiro criptograma registrado nos E.U.A. foi publicado em 1864 no periódico American Agriculturist. Em todos os tempos, os estadistas e diplomatas utilizaram o que se chama linguagem cifrada, para assegurar - de modo bem ilusório - o segredo de suas comunicações, caso caíssem em mãos adversárias ou rivais. Os sistemas para isso usados, desde a origem dos tempos, são inumeráveis; mas a despeito de sua variedade, não há cifra que não possa ser descoberta por uma pessoa de espírito arguto. O criptograma vem dos tempos de Homero. A Grécia possuía um sistema de cifra chamado scytale. O scytale era um bastão confiado aos generais lacedemônios para sua correspondência militar. Enrolava-se em torno desse bastão uma estreita tira de papiro e escrevia-se nela, assim enrolada em linha reta, ao longo do bastão. Uma vez desenrolada, a escrita não tinha sentido e só podia tê-lo enrolada em um bastão perfeitamente igual. Depois disso a criptografia (do grego kruptos - secreto e graphos - escrever ) fez consideráveis progressos. O criptograma ficou mais visível ao aparecer no filme “O Código da Vinci” de Dan Brown. Neste filme diversos segredos estavam codificados ficando a cabo culta Sophie, neta do curador do Louvre, Jacques Saunière, do Departamento de Criptografia da Policia Judiciária de Paris, de desvendar os códigos para descobrir a verdade sobre sua história e o assassinato de seu avô.

Conclusão

Mágicos são artistas que usam artifícios e efeitos que fogem ao raciocínio comum. Trata-se de uma arte baseada primordialmente na sua habilidade e na sua capacidade de persuadir. Seus efeitos são como um quebra-cabeça, que além de alegrar e divertir, torna-se um desafio à inteligência dos espectadores, que não conseguem explicações lógicas para aquilo que vêem. Eles ainda se utilizam de aparelhos criados e desenvolvidos pela ciência. Por isso eles têm um pouco de noção sobre essa área.

Muitos mágicos estão à frente dos cientistas quando se trata de compreender algumas das peculiaridades da percepção humana. Um estudo, publicado na última edição do jornal Trends in Cognitive Sciences (Tendências em ciências cognitivas), nos mostra como elementos da cognição humana - como a consciência e a percepção - poderiam ser explicados pelo sucesso de algumas técnicas utilizadas por mágicos. Truques de fazer com que objetos desapareçam, por exemplo, contam com a idéia de que só estamos conscientes de uma pequena parte do que está no nosso campo visual. "Apesar de que algumas tentativas foram feitas no passado para desenhar ligações entre magia e cognição humana, o conhecimento obtido por mágicos tem sido largamente ignorado pela psicologia moderna", disse o pesquisador Ronald Rensink, especializado em visão e cognição na University of British Columbia, no Canadá, segundo publicação da Live Science.

O mágico não está sozinho apenas com sua habilidade. Diversos outros elementos estão por trás dele para que um espetáculo ocorra. O filme “O Grande Truque” mostra bem os bastidores de um show de mágica por meio de uma história intrigante de disputa entre dois grandes mágicos. E este artigo tentou abordá-los para esclarecer ao grande público.

Referências:

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▪ MATINEZ-CONDE, Susana; MACKINIK, Stephen L. Mágica e Truques que iludem o cérebro. Revista Scientific American Brasil, n.80, 2009. Disponível em: Acesso: 09/06/2009.

Bibliografia:

▪ GUERRA, Andréia; BRAGA, Marco; REIS, José Cláudio. Frankenstein: Pode a eletricidade gerar a vida? Ciência em foco: o olhar pelo cinema. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

Dicionário:

MÁGICA. In: MINI-AURÉLIO Século XXI Escolar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

( Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: lu_ftavares@.

** Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: tabitabastos@

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