A LONGITUDE DA CHINA E O TRATADO DE MADRI: o saber ...



A LONGITUDE DA CHINA E O TRATADO DE MADRI: o saber científico jesuítico em conflito com os interesses mercantis do império.

Renato Pereira Brandão(

Resumo

O estabelecido pelo Tratado de Madri de 1750, mesmo sendo posteriormente anulado, foi decisivo na legitimação do processo de expansão territorial da América Portuguesa. A demarcação da nova divisa de fronteira, contudo, deflagrou diversos conflitos com os jesuítas das missões do Grão-Pará e Paraguai, resultando na expulsão da Companhia de Jesus do reino e colônias de Portugal, em 1759. O nosso objetivo é discutir de que modo a ação dos matemáticos jesuítas na corte imperial da China no século XVIII possibilitou fornecer, paradoxalmente, a fundamentação técnica dos argumentos reivindicatórios ao direito de posse dos territórios a serem incorporados aos domínios da Coroa de Portugal.

Abstract

The terms that were established by the Treaty of Madrid in 1750 -even if the Treaty was later annulled- were decisive in legitimizing the process of territorial expansion by the Portuguese America. However, the demarcation of the new border resulted in various conflicts with the Jesuits missions in Paraguay and the Amazon. Resulting in the expulsion of the Society of Jesus of Portuguese Kingdom and its colonies, in 1759. Our goal is to discuss how the action of Jesuits in the court of imperial China in the eighteenth century had provided the basis for the technical arguments that made claim to the possession of the territories incorporated into the Portuguese America.

A Longitude e a Divisão do Mundo

Procurando reservar para os reinos unidos de Castela e Aragão, posteriormente Espanha, o domínio exclusivo das Índias Ocidentais, recém descobertas por Colombo e reivindicada pelo rei de Portugal D. João II, por força do Tratado de Alcáçovas[1], o papa aragonês Alexandre VI promulgou em 3 de maio de 1493 a bula Inter Coetera. Nesta concedia aos reis de Aragão e Castela o domínio das terras a serem descobertas dos Açores e Cabo Verde cem léguas para o ocidente e o meio-dia. Na recusa de D. João II em aceitar os termos desta bula, os representantes dos reis ibéricos se reuniram na cidade de Tordesilhas, a fim de se chegar a um consenso. Os representantes de Portugal propuseram que a linha divisória fosse deslocada para oeste, passando de 100 para 370 léguas de Cabo Verde. Como para os representantes espanhóis este avanço se daria somente sobre o mar, a proposta encaminhada em nome do rei de Portugal foi aceita, resultando na assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494.

Contudo, ao se transferir a raia divisória de paralelo para meridiano criou-se um problema insolúvel para a época. Apesar de já bem desenvolvido o processo do cálculo da latitude, era ainda praticamente impossível a determinação precisa da longitude[2]. Este obstáculo, além da imprecisa maneira em que o tratado foi redigido (Cf Tratado de Tordesilhas. In CORTESÃO, 1956: 3-21), possibilitou o avanço dos portugueses não só sobre áreas onde se havia dúvidas a qual Coroa pertenceria, como também sobre territórios que, incontestavelmente, estavam dentro dos domínios da Espanha.

Em setembro 1519, dando início à primeira viagem de circunavegação da Terra, Fernão de Magalhães, português a serviço de Espanha, partiu de Sevilha no comando de uma pequena expedição em demanda ao arquipélago das Molucas, centro produtor de cravos, pela rota ocidental. A expedição espanhola conseguiu chegar ao almejado arquipélago em novembro deste mesmo ano. Contudo, somente dezoito homens em uma única embarcação, sob o comando de Sebastião Del Cano, conseguiram retornar à Espanha, em 1522.

Sabedor da presença espanhola nas Molucas, D. João III, rei de Portugal, questionou junto a Carlos V, seu primo e rei de Espanha, o direito dele em tomar posse deste arquipélago. Alegava que o estabelecido por este Tratado não se restringia unicamente à partilha das Índias Ocidentais. Devido à esfericidade da Terra, o prolongamento deste meridiano, o contra meridiano, dividiria o espaço de domínio português e espanhol também no Oriente. Apesar de não haver como fazer, na época, observações astronômicas para determinar se o contra meridiano de Tordesilhas passava aquém, ou além, das Ilhas Molucas, os monarcas ibéricos estabeleceram um novo tratado, formalizado na cidade de Saragoça em 22 de Abril de 1529. Neste ficou acordado que a Espanha desistiria temporariamente de suas pretensões às Molucas em troca de 350 000 ducados de ouro, até que peritos pudessem determinar a qual Coroa pertenceria de fato. Caso viesse a constatar a procedência da reivindicação de D. João III, Portugal, seria reembolsado da soma estipulada (Ferreira, 1963:791-2). Contudo, a Espanha se manteve em um outro arquipélago descoberto por Magalhães, situado ao norte das Molucas, posteriormente denominado Filipinas.

Os portugueses, por sua vez, conseguiram o privilégio único, dentre as nações ocidentais, de estabelecer uma colônia na China, em Macau. Sua importância estava não só como entreposto mercantil, mas também por funcionar como base de apoio da soberania e do comércio português nas ilhas de Solor e Timor, na Oceânia. Com a Restauração, apesar da tentativa do governador das Filipinas em manter o arquipélago sob a autoridade espanhola e da ameaça holandesa, os macauenses conseguiram se manter unidos à Coroa de Portugal[3].

A América e os Interesses Mercantis na Ásia.

Após D. João III assumir o mestrado da Ordem de Cristo, em 30 de dezembro de 1550, por força de um breve do Papa Júlio III, os monarcas portugueses passaram a ter não só o poder temporal como o espiritual nos domínios ultramarinos. Dentre os diversos privilégios, estava o controle da ação missionária no ultramar. Deste modo, toda designação de missionários para a China, assim como para o Brasil, deveria ser referendada pelo rei. Em 1659, chegou a Macau o jesuíta Ferdinand Verbiest, astrônomo flamengo. Sua ida para a China teve como partida o porto de Lisboa, em obediência ao trâmite de todos os missionários que se deslocavam para dentro da jurisdição do Padroado Português. Instalado inicialmente no Colégio da Companhia de Jesus de Madre de Deus, no ano seguinte é transferido para Pequim. Em 1667 se integra à missão diplomática enviada pelo rei de Portugal, Pedro II, a corte do imperador Kangxi. “A actuação do Pe. Verbiest, nessas negociações, saldou-se para Portugal deveras positivamente na medida que ele tinha um particular reconhecimento pela acção missionária que a Coroa portuguesa vinha implementando também em terra da China”. (MATOS, 1999: 158-9). Ao ganhar confiança e admiração do imperador, é nomeado, em 1669, Presidente do Tribunal das Matemáticas de Pequim. A partir de 1672 acumula a direção do observatório astronômico de Pequim.

Contudo, no ano seguinte, em 1673, o papa Clemente X emite um breve reafirmando os termos da bula de Urbano VIII de 21 de fevereiro de 1633, autorizando os membros das ordens religiosas e do clero secular de embarcarem para as regiões sob o domínio do Padroado Português em navios e portos que não fossem necessariamente portugueses. Desta maneira, a Santa Sé retirava do rei de Portugal a prerrogativa de escolher os missionários que partiriam para seus domínios ultramarinos.

Neste mesmo ano, o jesuíta português Antonio Viera alerta, em carta de Roma, ao representante português em Paris de que o rei de França estava agindo junto a Santa Sé para obstruir os privilégios da Coroa de Portugal, concedidos pelo Padroado.

Já disse a Vossa Senhoria que elRey Christianissimo com os seus exércitos a primeira cidade que tem conquistado he Roma, onde lhe concederão, quanto seus ministros quizerem sobre os Bispos Franceses mandados ao Oriente pella Propaganda querem agora que para se evitarem discórdia se lhes dividão Diecesis, e se revoguem as Bullas antigas de Portugal. Roma, 8 de Agosto de 673. (VIEIRA, 1810 [1673] : 158)

Por outro lado, o jesuíta flamengo Verbient passa então agir, na China, como um verdadeiro agente do rei de França, apesar de militar dentro dos domínios do Padroado Português.

Sendo Verbienst um cidadão flamengo-e em estreita relação intelectual (também) com a Corte da França- evidencia-se neste período da sua vida, uma notória aposta no sentido de que os padres jesuítas franceses e outros se venham implantar na grande China. Esta questão acarreta, obviamente, sérios problemas ao Padroado Português do Oriente (...) O padre flamengo lançará um veemente apelo no sentido de que fossem enviados para a China, com urgência, o maior número possível de missionários, em particular astrônomos e matemáticos. O rei de França Luís XIV, em resposta a tal pedido -sob a iniciativa de Colbert- decidiu encarregar o director do Observatório Astronômico de Paris de “preparar um plano para a China”. (Matos, idem : 167-8)

O diretor do Observatório Astronômico de Paris, citado por Matos, era ninguém menos que Cassini, um dos mais importantes astrônomos de todos os tempos. Foi então preparada na França uma missão científica tendo à frente o padre matemático jesuíta De la Chaise, para quem Colbert outorgou, por decreto de 28 de janeiro de 1683, o titulo de Matemático do Rei. Esta missão científica partiu do porto de La Rochelle em 3 de março de 1685, dela fazendo parte, além de De la Chaise, mais seis matemáticos e astrônomos jesuítas, dos quais cinco chegaram à China (Ibidem: 168).

Acreditamos que a razão do envolvimento pessoal de Colbert neste projeto, a princípio de cunho exclusivamente científico, se revela na participação de Verbiest, já como superior da Companhia de Jesus em Pequim, nas negociações do tratado de Nerchinsk.

Um dos episódios mais importantes na historia da comunidade missionária na corte de Pequim encontra-se indissociavelmente ligado à história das relações sino-russas: a assinatura em 1689, com a participação dos padres Tomás Pereira e François Gerbillon, na cidade fronteiriça de Nerchisk, do famoso tratado que ainda hoje constitui uma referência fundamental nas relações entre as duas potências em matéria de regulação e controle de fronteiras. (...) E todavia, o mais importante objectivo do belga Ferdinand Verbiest, superior da Companhia de Jesus em Pequim, ao assumir o risco de deixar envolver os dois missionários nas delicadas negociações políticas entre os dois impérios (e prestando em resultado disso relevantes serviços à diplomacia moscovita, tal como o próprio embaixador, príncipe de Golovin, reconhecerá) não foi atingido: obter do czar a autorização para o estabelecimento de uma rota terrestre segura entre a China e o Ocidente através da Sibéria, em alternativa à via marítima habitual Lisboa-Goa e/ou Macau – rota obrigatória e do controle português exclusivo, de acordo com os direitos ao Padroado Português do Oriente. (MIRANDA, 1993:111)

Assim, o trabalho de mapeamento e determinações das coordenadas geográficas das diversas regiões do Império Celeste era de fundamental importância não só para o Imperador aumentar o controle de seus domínios como para a concretização do plano de estabelecer uma nova rota mercantil com o Oriente. Tendo Cassini à frente do Observatório Astronômico de Paris, associado aos astrônomos jesuítas franceses liderados por Verbiest, responsável pelo Observatório Astronômico de Pequim, nenhuma outra nação européia poderia concorrer com a França na realização deste trabalho cartográfico. Por outro lado, evidente que Colbert saberia tirar partido desta situação, fazendo da França a principal receptora e distribuidora dos produtos chineses na Europa Central, além da abertura do vasto mercado consumidor chinês para os produtos franceses. Apesar desta nova rota mercantil não ter sido estabelecida, e mesmo após a morte de Verbiest em 1688, o trabalho dos astrônomos matemáticos jesuítas franceses teve continuidade.

No início do século seguinte, em 1701, a França se vê novamente em estado de beligerância com a Inglaterra na Guerra de Sucessão Espanhola, consequencia da morte de Carlos II de Espanha, que legou em testamento a sucessão do trono espanhol para Felipe de Anjou, neto de Luis XIV. Devido aliança estabelecida, o rei de Portugal, Pedro II, se vê obrigada a acompanhar a Inglaterra contra a França neste conflito que se estenderá por grande parte da Europa Ocidental. Em 1713 é assinada o Tratado de Utrecht, onde é reconhecido o direito da dinastia Bourbon em suceder a Habsburgo no trono de Espanha.

Contudo, para ter seu neto no trono da Espanha, o Rei Sol fez grandes concessões à Inglaterra. Portugal, aliado desta, acabou também beneficiado em questões de fronteiras na América. Com a França obteve o reconhecimento do rio Oiapoque como a fronteira natural entre o Brasil e a Guiana. Por parte da Espanha, obteve a devolução da Colônia de Sacramento, fundada pelos portugueses em 1680 no estuário do Rio da Prata, e tomada pelos espanhóis em 1704.

Felipe V, casado em primeiras núpcias com Maria Luisa de Sabóia, com ela teve seu sucessor Fernando VII, que veio a casar com a Infanta de Portugal, D. Maria Bárbara. Falecida Maria Luísa de Sabóia em 1714, Felipe V casa então com a filha do Duque de Parma, Isabel Farnésio, “que via com maus olhos a influência que sobre Fernando, príncipe das Astúrias, exercia a corte de Lisboa, por intermédio de sua mulher, D. Maria Bárbara” (Peres e Ribeiro, 1934:190). Em 1735, um incidente menor, o refúgio de um prisioneiro em fuga no palácio da embaixada de Portugal em Madri, devido à interferência falaciosa da rainha acabou por resultar em um grave conflito entre as duas Coroas. Apesar de não se chegar à declaração de guerra, houve combates no Rio da Prata, onde a Colônia de Sacramento foi sitiada pelo Governador Salcedo, de Buenos Aires.

Com a intermediação da Inglaterra, França e Holanda, em 16 de março de 1737 é assinado em Paris um convênio de restauração das relações entre Portugal e Espanha, dispondo o encerramento das hostilidades na América.

Com a morte de Felipe V em 1746, o Príncipe das Astúrias assume o trono de Espanha como Fernando VI. Maria Bárbara, agora rainha de Espanha, pode então agir para a superação dos conflitos decorrentes das disputas territoriais na América, imprescindível para a efetiva reaproximação das duas Coroas ibéricas.

Gusmão, a Companhia de Jesus e o Utis-Possidetis.

Neste contexto, as duas cortes começam negociações para redefinir a fronteira entre a América Espanhola e Portuguesa, já que não se contava ainda na América com observatórios para auxiliar nas observações astronômicas necessárias para o cálculo das longitudes.

Tendo como objetivo maior retomar o controle do estuário do Rio da Prata, o negociador por parte da Coroa de Espanha, o Marques de Carvajal, argumentava que, mesmo com a dificuldade em se materializar o meridiano estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas, era evidente o avanço feito pelos portugueses nos territórios espanhóis. Contudo, em nome da estabilidade política entre as Coroas ibéricas, apresentava uma proposta, a princípio, generosa e conciliadora. A troca da posse da Colônia de Sacramento pela região das minas de Cuiabá e Goiás, ambas evidentemente dentro da área reservadas ao domínio da Espanha.

Apesar de não ter sido designado como o representante oficial de Portugal em Madri, o brasileiro Alexandre de Gusmão, desembargador do Conselho Ultramarino e secretário do Rei, assume a responsabilidade pelas negociações, se correspondendo diretamente com Carvajal. Lança ele, então, mão de uma argumentação inesperada e desconcertante. Os mapas da China feitos pelos jesuítas patrocinados pela “missão cientifica” de Colbert, publicados em Paris em 1735, demonstravam que o arquipélago das Filipinas, principal entreposto mercantil da Coroa de Espanha no Oriente, estava indubitavelmente, dentro dos limites estabelecidos para Portugal pelo contra meridiano do Tratado de Tordesilhas, referendado ainda pelo Tratado de Saragoça.

“Porem a boa fé com que se procede me fes preferir a todas as outras observações as dos Jesuítas da China, como as mais exactas, e bem fundadas, que athé agora aparecerão para conhecimento as situação daquelle Império, e dos Paízes a elle vizinhos. E sendoeste ponto tão essencial para se formar cabal juízo do direito de ambas as partes, e da equidade de regulamento, que se houver de fazer, espero que se me desculpe o expedelo, e provalo com alguma Largueza. / Os dittos Jezuitas pois ( como sepode ver nos seis Mapas da descripção da China impressa em Paris em 1735) situarão a ponta Meridonal da Ilha de Formosa em 138 graos contados do primeiro Meridiano da Ilha do Ferro p.a o Oriente. Ora a extremidade occidental da Ilha de Luçon fica mais ao Poente que a ditta ponta de Formosa quatros grãos Meridianos como mostra a mayor parte dos Mapas Modernos. (GUSMÃO. In CORTESÃO , 1950: 175)

De posse, então, dos precisos mapas da China feitos sob a égide de Luis XIV, bisavô do rei de Espanha, pode Alexandre de Gusmão sustentar sua reivindicação do princípio do utis-possidetis. Assim, em troca da cessão definitiva da posse das Filipinas e da Colônia de Sacramento, propunha um novo espaço territorial para a América Portuguesa. Este teria como limite extremo meridional o regato que sai ao pé do Monte de Castilhos Grande, a partir de onde a linha de fronteira seguiria em direção à Lagoa Mirim, ao rio Negro, ao rio Ibicuí, até sua foz no rio Uruguai. Após subir por este, a linha de fronteira se estenderia de tal modo que não só englobasse a região das minas do Cuiabá, no centro-oeste, como também a maior parte da bacia amazônica, na região norte, a favor da América Portuguesa.

Procurando justificar sua proposta, Gusmão argumentou que os rendimentos auferidos pela Espanha com a posse das Filipinas seriam muito superiores aos futuramente auferidos por Portugal nos novos territórios, por ele reivindicados.

“Que igualdade tem o domínio, e o comercio das Filippinas como o de hum retalho de sertão quase todo inútil no interior da América! Que proporção há do ouro que abunda na Filippinas, e dos grandes rendimentos que nellas cobra a Coroa de Espanha, para a tenuidade das Minas do Cuiabá (...) Portugal se contentaria com que o distrito de Cuiabá, e Matto grosso, e tudo quanto ocupa pello Rio das Amazonas acima, lhe rendecem no tempo prezente a decima parte do que já há mais de cem annos rendião a Espanha as Filippinas. (Ibidem: 180).

Despido o Marques de Carvajal do recurso de uma contra argumentação tecnicamente consistente, a proposta apresentada por Gusmão foi finalmente aceita. Porém, a extensão da fronteira oriental da América Portuguesa ao rio Uruguai fez com que uma parte das missões jesuítas da Província do Paraguai passassem para a jurisdição do Padroado Português, o que muito desagradou à cúpula da Companhia de Jesus.

O rei de Portugal D. João V veio a falecer pouco após a assinatura do Tratado de Madri, ainda em 1750. Em represália a Alexandre de Gusmão, os jesuítas influentes na corte de Lisboa usaram seu prestígio junto à rainha viúva, Maria Luísa da Áustria, para impedir que este permanecesse no novo ministério, patrocinando ainda a ascensão de um desafeto de Gusmão, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal. (Cf. PERES e RIBEIRO, 1935:195; SORIANO, 1867:195).

Com a instauração do conflito entre Pombal e os jesuítas em decorrência da demarcação da nova fronteira, Gusmão, segundo testemunho do P. Balthazar da Silva Lisboa, chegou alertar ao padre jesuíta José Moreira o perigo que corria a Companhia de Jesus em Portugal e “que se a Companhia não tivesse obstado a sua elevação ao Ministério, para o qual preferiria a Sebastião José de Carvalho, elle a havia de conservar, sollicitando apenas a reforma de seus estatutos”. Os jesuítas, contudo, não deram créditos ao alerta de Gusmão do risco que a Companhia de Jesus iria correr em Portugal com a ascensão de Sebastião José de Carvalho ao Ministério e “zombou da profecia da sua extinção, visto o seu credito, idade, e confirmação” (LISBOA, 1835:254).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CLEMENTS, Jonathan. O Rei Pirata: Coxinga e a queda da dinastia Ming. São Paulo: Madras, 2005.

FERREIRA, Maria Emília Cordeiro. “Tratado de Saragoça”. In Joel Serrão (org.) Dicionário de História de Portugal. Lisboa: Iniciativa Ed., 1963, v. 3, pp. 791-2.

GUSMÃO, Alexandre. “Réplica ao Marques de Carvajal”. In CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri. t 1 Negociações. Documento nº XLVI. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1950, pp: 173-84.

LISBOA, Balthazar das Silva. Annaes do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Segnot-Plancher, 1835.

MATOS, Manuel Cadafaz de. “Ferdinand Verbiet. A defesa dos interesses da Coroa Portuguesa em Macau e o contributo dado à história da imprensa missionária”. Revista Camões. Lisboa: Min. Dos Negócios Estrangeiros, n° 7, 1999, pp156-175.

MIRANDA, João. “A missionação portuguesa e a Rússia nos séculos XVII e XVIII”. In Actas do Congresso Internacional de História: Missionação Portuguesa e Encontro de Culturas. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 1993, Vol. III, pp. 103-122.

PERES Damião e RIBEIRO, Ângelo. “História política”. In PERES, Damião e CERDEIRAS Eleutério. História de Portugal. Barcelos: Portugualese Ed., 1935, v. 6, Quarta Época ( 1640-1815)

RAMOS-COELHO, José. Alguns documentos do Archivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e conquistas portuguezas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1892.

SORIANO, Simão José da Luz. História do reinado de El-Rei D. José e da administração do Marques de Pombal. Lisboa, Typ. Universal, 1867.

“Tratado de Tordesilhas, segundo o original em português, existente no Arquivo de Índias de Sevilha”. In Jaime CORTESÃO (org.). Pauliceae Lusitana Monumenta Historica. Lisboa, Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, 1956, v 1 (1494-1600), I-IV partes, p. 3-21

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VIEIRA, Antonio P. “Carta a Duarte Ribeiro de Macedo, ministro em França”. In MONIZ, Jaime Constantino de Freitas (org). Corpo diplomático portuguez contendo os actos e relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potencias do mundo desde o século XVI até os nossos dias. Lisboa: Academia Real de Sciencias de Lisboa, 1810, t. 14, p. 158:

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( Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro

Doutor em História – UFF

[1] Tratado de paz perpétua celebrado entre o rei de Portugal Afonso V e os reis de Castela e Aragão; assinado em Alcáçovas, Portugal, em 4 de Setembro de 1479, e ratificados em Toledo, 6 de março de 1480. (Cf. RAMOS-COELHO, 1892: 42-5).

[2] Até o início do século XVIII, a determinação da longitude estava fora de alcance dos navegadores, que conseguiam somente estimá-la em função da distancia percorrida em um determinado rumo. Em terra, era feita por um complexo processo de determinação do momento de conjunções planetárias, principalmente da Lua. No início do século XVII, Galileu (1564-1642) desenvolveu um método de calcular a longitude a partir dos eclipses das luas de Júpiter que ocorrem de forma previsível. O método desenvolvido por Galileu foi aperfeiçoado Cassini (1625-1712), astrônomo e astrólogo do rei de França Luís XIV, que foi também o primeiro diretor do observatório de Paris, inaugurado em 1671. No mar, o problema só ficou resolvido em 1762, quando o inglês John Harrison inventou um relógio que, mesmo oscilando, mantinha um erro de apenas um segundo por mês. (Cf BRANDÃO: 2008)

[3] Macau está situada no sul da China, em uma península na parte meridional da ilha de Hiasan, no Golfo de Cantão. Após a concessão de Macau aos portugueses, em 1557, os chineses não permitiram que nenhuma outra nação européia se estabelecesse na China. Durante a União Ibérica, em 1622, os holandeses prepararam uma grande expedição para tomar Macau. Contudo, os portugueses conseguiram resistir aos diversos assaltos. Apesar dos holandeses, em 1624, terem conseguido se instalar em Formosa, em 1661 o célebre corsário Coxinga os expulsa definitivamente, deixando aos portugueses o privilégio único de ter uma colônia na China. (Cf. CLEMENTS, 2005).

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