AS MIGRAÇÕES NO Brasil - PÉRICLES.GEO



AS MIGRAÇÕES NO BRASIL

1- As migrações, ou deslocamentos da população no espaço, podem ser de vários tipos: migrações internacionais (imigração e emigração); nomadismo; transumância; migrações internas, ou inter-regionais; migrações pendulares, ou diárias, das populações nos grandes centros urbanos.

No caso do Brasil, são quatro os principais tipos de migração:

Imigração – muito importante no período de 1850 até 1934, hoje em dia é menor que a emigração;

Migrações internas, ou inter-regionais – ocorreram durante toda a nossa história, mas assumiram maior importância após 1934, com o declínio da imigração e uma maior integração entre as diversas regiões do país;

Migração rural-urbana, ou êxodo rural – acelerou-se após 1950;

Migrações pendulares nas grandes cidades – também vêm aumentando desde a década de 1950, acompanhando o aumento da urbanização.

Imigração

A razão principal para incentivar a vinda de imigrantes para o Brasil, uma iniciativa do Estado e de particulares (notadamente fazendeiros), foi à necessidade de conseguir mão-de-obra para a lavoura cafeeira. Quando o tráfico de escravos cessou, a partir de 1850, a imigração intensificou-se. Antes disso, ela já ocorria, mas em pequeno número. Pode-se afirmar que começou mesmo em 1808, com a vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas.

O Brasil tornou-se, então, a sede do reino, abrigando os governantes portugueses, que fugiam do exército de Napoleão. Aqui instalado, D. João VI, o rei de Portugal, passou a preocupar-se com a numerosa e ostensiva população negra. Achando que isso na ficava bem em uma área, que, na época, era sede da monarquia – e não se sabia por quanto tempo ainda seria, pois os franceses poderiam ocupar Portugal indefinidamente –, D. João VI tratou de incentivar a vinda de colonos açorianos em 1808. Em 1824, 1927, 1829 e 1930 vieram alemães, agora estimulados por ação de D. Pedro I. Mas o volume total dessa imigração até 1850, é insignificante e sensivelmente inferior à vinda de africanos como escravos.

Com a intensificação das pressões inglesas para o fim do tráfico negreiro e com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, os proprietários de terras, especialmente de fazendas de café (atividade predominante no país na segunda metade do séc. XIX e primeira metade do séc. XX), começaram a promover a vinda de imigrantes como substitutos para a mão-de-obra escrava.

O período áureo da imigração para o Brasil deu-se de 1850 até 1934, ocasião em que ela diminui muito em virtude, principalmente, da constituição desse ano, que estabeleceu certas medidas restritivas à vinda de estrangeiros, como o sistema de cotas. De acordo com essa medida, a cada ano, não poderiam ingressar no país mais de 2% do total de entradas de cada nacionalidade nos últimos cinqüenta anos.

O maior incentivo à vinda de imigrantes foi a abolição da escravatura (1888), que compeliu o governo a buscar nova força de trabalho na Europa ou no Japão. As maiores entradas anuais de imigrantes ocorreram no período que se estende de 1888 ate 1914-18.

Após a guerra, com o avanço da indústria paulista, que já se tornava a mais importante do país e expandia o seu mercado consumidor até outras partes do Brasil, do nordeste e do sul, o deslocamento de imigrantes nordestinos para a cidade de São Paulo e para as áreas cafeeiras começou a tornar-se mais importante que a entrada de imigrantes. Isso porque a expansão da indústria paulista provocou, algumas vezes, pela competição, a falência de algumas empresas têxteis nordestinas. A par disso, ocorreu nessa época o declínio de atividades tradicionais do Nordeste que dependiam do mercado externo, fato que agravou o problema do desemprego e provocou, conseqüentemente, a saída de pessoas dessa região.

Em 1934, quando o sistema de cotas restringiu drasticamente a imigração para o Brasil, esta já não era mais importante para suprir as necessidades de mão-de-obra da lavoura cafeeira, pois o deslocamento de migrantes nordestinos a ultrapassava numericamente.

Dessa forma, desde o fim do séc. XIX até princípios do XX, o Brasil foi um país de imigração bastante intensa, embora sem nunca se comparar a países como os Estados Unidos, Canadá, Austrália ou mesmo a Argentina. E o período de maior imigração coincidiu com o fim da escravidão e com o esforço do governo e de particulares em trazer força de trabalho para ocupar o lugar do escravo. Portanto, essa imigração não foi espontânea, mas fruto da propaganda brasileira no exterior. E essa propaganda era muitas vezes enganosa, oferecendo vantagens fictícias.

O total de imigrantes que entraram no Brasil de 1850 até 2000 foi superior a cinco milhões; aproximadamente três milhões fixaram-se aqui e os dois milhes restantes deixaram o país.

O movimento de brasileiros que deixam o país

Hoje em dia existe mais emigração, saída de pessoas do Brasil para residirem no estrangeiro, do que imigração, vinda de estrangeiros para viver no país. Nas últimas décadas – do final dos anos 1960 até 2000, inclusive –, o número de imigrantes foi com certeza superior ao de imigrantes, tanto por motivos políticos, quanto, principalmente, por razoes econômicas.

É muito difícil obter dados estatísticos precisos sobre o total de emigrantes porque muito ingressaram clandestinamente nos países de destino. Na atualidade, não é muito fácil conseguir visto de entrada como imigrante nos Estados Unidos ou nos países da Europa ocidental. Não obstante, sabe-se que muitos brasileiros deixaram o país nas últimas décadas, calculando-se que cerca de um milhão estejam nos Estados Unidos, 500 mil no Paraguai, por volta de 200 mil no Japão e um número pouco menor em outros países, como França, Itália, Inglaterra, Canadá, Austrália, etc.

Migrações internas, ou inter-regionais

As migrações internas, entre áreas ou regiões do Brasil, vêm ocorrendo desde a época colonial, embora se tenham intensificado a partir do séc. XX, notadamente após a Primeira Guerra Mundial.

Durante toda a sua história, a economia brasileira caracterizou-se pela existência de fases ou ciclos, nos quais um determinado produto despontava como o mais importante. Assim, tivemos a fase da cana-de-açúcar nos séc. XVI e XVII, a mineração no séc. XVIII, o café no final do séc. XIX e inicio do séc. XX, e o surto da borracha de 1870 a 1910.

O período áureo de cada produto, que era determinado por sua valorização no mercado internacional, sempre necessitou de mão-de-obra, atraindo para a região que o produzia grandes contingentes humanos, oriundos de outras regiões do país. Mas essas migrações inter-regionais eram relativamente fracas e só se intensificaram na década de 1920.

Com a abolição da escravatura, a mobilidade espacial da população aumentou, uma vez que, até então, só o trabalhador livre ou assalariado podia deslocar-se livremente pelo território, ao contrário do escravo, que era objeto de compra e venda. Outro fator que dificultava essa mobilidade era a precariedade das estradas que ligavam as diversas partes do país, o que fazia com que muitas vezes fosse mais barato comprar escravos na África que em outra região do país, o que fazia com que muitas vezes fosse mais barato comprar escravos na África que em outra região do Brasil. Só na fase do café, especialmente a partir do fim do século XIX, é que se iniciou a construção de uma rede de transportes mais extensa – no começo as ferrovias e depois, já no séc. XX , as rodovias –, que facilitou bastante as migrações inter- regionais do Brasil.

As mais numerosas migrações inter-regionais de nossa história foram as populações nordestina e mineira para as grandes cidades do Centro-Sul. Essas migrações começaram no fim do séc. XIX, aceleraram-se no séc. XX e prosseguem até nossos dias, embora não to intensamente que há algumas décadas.

Esse movimento, como vimos, deveu-se ao crescimento econômico do Centro-sul – no início, com o café, depois, com a indústria – e também ao declínio econômico do Nordeste, causado tanto pela diminuição da demanda internacional por seus produtos agrícolas de exportação tradicionais, como pela estagnação de seu setor industrial. Entretanto, nas últimas décadas, especialmente a partir de 1980, algumas regiões do nordeste começaram a receber migrantes, e no total da região começa a haver um pequeno ganho.

A partir de 1970, outras unidades da federação, na Amazônia e no centro-oeste, começaram a ter um crescimento demográfico superior ao do Centro-Sul. Com a chamada “marcha para o Oeste”, ocupação dessa região iniciada nos anos 1940, e com a ocupação mais intensiva da Amazônia brasileira nas décadas de 1970, 1980 e 1990, Goiás, mato grosso, Rondônia e Roraima passaram a receber grande quantidade de migrantes oriundos do Nordeste, do sul e até do Sudeste do país.

As principais migrações inter-regionais dos nossos dias ocorrem em direção à Amazônia e ao Brasil central; desde 1970, as unidades da federação que vêm alcançado maior crescimento percentual em sua população são Rondônia, Roraima, Amapá, acre e Mato Grosso.

Migração rural-urbana, ou êxodo rural

As migrações rural-urbanas no Brasil, também conhecidas como êxodo rural por se tratar de vultosa saída de pessoas do campo para as cidades, envolvem atualmente milhões de indivíduos.

De 1970 a 2000 ocorreu não apenas uma diminuição relativa da população rural, que passou de 44% para cerca de 19% do total, mas também uma diminuição absoluta: de aproximadamente 41 milhões de habitantes em 1970, declinou para 31,8 milhões de habitantes em 2000. Nas décadas anteriores já vinha ocorrendo um declínio da proporção dos habitantes do campo em relação aos das cidades. No entanto, declínio, que se acentuou a partir de 1950, era relativo e não absoluto. O êxodo rural foi mais acentuado nas décadas posteriores a 1970.

As causas dessa saída de grandes contingentes humanos do meio rural em direção às cidades podem ser classificadas em:

• Fatores de mudança → constituem as transformações sofridas no meio rural em virtude da modernização e mecanização da agricultura. Essa modernização dispensa mão-de-obra, já que eleva a produtividade do trabalho pela introdução de maquinas ou técnicas modernas de cultivo. Esses fatores prevalecem nos países desenvolvidos e foram, juntamente com a Revolução Industrial, a principal causa das migrações rural-urbanas. No caso do Brasil, manifestam-se em algumas áreas, principalmente no Centro-Sul do país, mas não são a principal explicação para o êxodo rural.

• Fatores de estagnação → constituem a pressão exercida pelo crescimento demográfico sobre a disponibilidade de áreas cultiváveis, que é limitada tanto pela insuficiência física de terras quanto pela sua monopolização por grandes proprietários. Esses fatores não estão ligados à industrialização, como ocorre com os fatores de mudança, mas sim a um crescimento populacional que não é absorvido no local, porque a oferta de trabalho é inferior à procura. É o principal motivo de a terra são sustentar o grande número de novos trabalhadores que surge a cada ano pretende-se à estrutura social, isto é, ao monopólio de extensas áreas por grandes proprietários ou latifundiários.

Migrações pendulares nas grandes cidades

As migrações pendulares ou diárias nos grandes centros urbanos constituem um movimento de ida e volta dos trabalhadores de sua residência até o local de trabalho, geralmente localizado longe da moradia. Esse tipo de migração aumenta com o crescimento da cidade, que desloca as camadas trabalhadoras ou, então, para as cidades-dormitórios ou cidades-satélites. Em alguns centros, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, é comum gastar três ou quatro horas por dia nesse movimento de vaivém.

Os transportes coletivos (ônibus, trens, metrô) tornam-se um problema fundamental para os trabalhadores dessas grandes cidades. Como o transporte coletivo há muito tempo vem sendo relegado a segundo plano, pois se dá prioridade ao automóvel particular, as camadas de renda mais baixa sofrem intensamente com esse problema: conduções precárias, altos preços das tarifas, atrasos freqüentes, superlotação de ônibus, trens de subúrbios, etc.

Algumas pesquisas realizadas em favelas de São Paulo e do Rio de Janeiro demonstram que boa parte de sua população é constituída por trabalhadores que preferem residir em barracos próximos ao local de trabalho a construir uma casa simples na periferia, pois o custo do transporte seria alto demais para seus salários.

ATIVIDADES

I- Procure explicar por que o Brasil, um país de imigração no final do século XIX e nas primeiras décadas do XX, passou a ser um país de emigração no fim do último século.

II- O que são migrações internas e quais foram as mais intensas na história do Brasil?

III- Por que existe uma intensa migração rural-urbana, ou êxodo rural, no Brasil?

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download