Nos últimos anos, o Brasil tem ocupado o primeiro lugar na ...



MELHORAMENTO GENÉTICO DO FEIJOEIRO-COMUM NA EMBRAPA

Leonardo Cunha Melo

Helton Santos Pereira

O Brasil, tradicionalmente, tem ocupado o primeiro lugar na produção e consumo mundial de feijão, Phaseolus vulgaris L., que é um dos alimentos básicos e uma das principais fontes de proteína na alimentação diária da população brasileira. No ano de 2010 foram produzidas mais de 2,7 milhões de toneladas desse grão em cerca de 2,1 milhões de hectares. Entre os diversos tipos comerciais de grãos do feijoeiro-comum, merece destaque o tipo carioca, que representa, aproximadamente, 70% do mercado consumidor brasileiro. O feijoeiro comum é cultivado em quase todos os estados brasileiros, em diferentes sistemas de cultivo e épocas de semeadura e, portanto, a cultura está submetida às mais diversas condições ambientais. A demanda constante por cultivares mais produtivas, com melhor qualidade de grãos, plantas eretas com alta inserção de vagens e com resistência aos principais fatores bióticos e abióticos restritivos da produção, tem orientado os programas de melhoramento do feijoeiro-comum da Embrapa Arroz e Feijão e parceiros. No período de 1984 a 2010 este programa lançou 50 novas cultivares de diversos tipos comerciais de grão, com média de 1,9 cultivar por ano, sendo que somente após a lei de proteção de cultivares, foram lançadas 28 cultivares, sendo 11 de grãos carioca, seis de grãos pretos, três de grãos roxos, duas de grãos mulatinhos, duas de grãos rajados, uma de grãos jalo, uma de grãos rosinha, uma de grão dark red kidney e uma de grãos cranberry. Estimativas feitas pelo IFPRI e Embrapa da relação custo x benefício deste esforço indicaram que para cada dólar investido no desenvolvimento de cultivares, houve um retorno de 10 dólares. Neste período conseguiu-se evoluir no melhoramento de algumas características, com destaque para o potencial produtivo, porte da planta, resistência a algumas das principais doenças, aliado ao tipo de grão comercial direcionado para o mercado interno.

Por aproximadamente 20 anos a cultivar de feijão “Carioca”, lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) no início da década de 70, dominou o mercado, ocupando a maioria da área brasileira plantada com feijão, e seu tipo de grão se tornou um novo tipo comercial – “carioca”. Na década de 90 existia demanda dos produtores por uma nova cultivar de feijão de tipo de grão carioca, que fosse mais produtiva, com arquitetura de planta mais ereta e resistente às principais doenças. Esta demanda foi parcialmente atendida pela equipe do programa de melhoramento genético do feijoeiro comum da Embrapa Arroz e Feijão, com o lançamento da cultivar com tipo de grão carioca, denominada “Aporé”, em 1994. Entretanto, o tipo de grão dessa cultivar ainda deixou a desejar, em relação à cultivar “Carioca”, por apresentar tegumento mais escuro e halo amarelo. Desta forma, era necessário melhorar o tipo de grão dessa cultivar e então se iniciou a seleção de linhas puras na cultivar “Aporé”, aproveitando suas características de alto potencial produtivo, rusticidade, adaptabilidade e resistência às principais doenças. Este trabalho de melhoramento resultou no desenvolvimento da cultivar Pérola em 1996 para 15 estados da federação. Essa cultivar apresentou, em 57 ambientes, superioridade de 16% para produtividade em relação a “Aporé” e “Carioca”, além de resistência à mancha angular e murcha de fusário e porte de planta mais ereto. Apresentou, ainda, tipo de grão superior em termos de massa de 100 grãos e cor mais clara do tegumento. Sua resistência à mancha angular permitiu redução no número de aplicações de fungicidas no sistema de produção e sua adoção pelos agricultores, inclusive os familiares, foi imediata. Três anos após seu lançamento, já ocupava 43% da área plantada com feijão e 37% da produção de sementes no país. Esse cultivar, em 2000/2001, no seu auge de adoção, chegou a representar 70% da área cultivada com feijão com tipo de grão carioca, repetindo o sucesso alcançado pela cultivar Carioca, no entanto, em uma época em que já existiam vários programas fortes de melhoramento de feijoeiro no Brasil e um grande número de cultivares melhoradas disponíveis no mercado. A cultivar Pérola teve como diferencial o crescimento bastante vigoroso, adaptação a diversos sistemas de produção e tolerância à murcha de fusário, uma doença de difícil controle e muito comum em cultivos de feijoeiro-comum, principalmente em sistemas irrigados. Além disso, tornou-se também referência de tipo comercial de grão carioca nas bolsas nacionais de comercialização de feijão com a demominação “Carioca Pérola” e por consequência, referência também de seleção para tipo comercial de grão carioca dentro dos programas de melhoramento genético do feijoeiro-comum. Do ano de lançamento da Pérola, em 1996, até 2007 ocorreu um aumento da produção total de feijão comum no Brasil de 33% em uma área 19% inferior, devido ao aumento da produtividade de grãos em 68%. Esse cenário se consolidou durante o período no qual a Pérola foi a principal cultivar de feijoeiro-comum dentro do sistema de produção e desta forma teve grande parcela de contribuição para a significativa evolução de produtividade de grãos observada nessa cultura. Ainda hoje, 16 anos após seu lançamento, está entre as cultivares mais plantadas em várias regiões do Brasil e continua sendo referência em tipo de grão carioca no mercado e está recomendada para 17 estados do Brasil, sendo também cultivada em outros países da América do Sul como Colômbia, Bolívia e Paraguai e em alguns países do continente africano, introduzindo nesses países o hábito de consumir o feijão de tipo de grão carioca. Desta forma, o desenvolvimento da cultivar Pérola pela equipe de melhoramento de feijão da Embrapa representa um marco na produção e consumo de feijão no Brasil e no mundo.

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