Introduction



Curso: Moda, Cultura de Moda e Arte

Disciplina: Arquitetura das coleções

Professor: Miron Soares.

Instituição: UFJF - IAD

Introdução

Somos atraídos pela moda, não somente como uma maneira de expressar nossa própria individualidade pelo modo de vestir, mas também como um método de expressão criativa através do design.

Moda é uma constante busca pelo novo ou pela novidade. É voraz e impiedosa. Mas estar apto a criar roupas, pode ser muito excitante e gratificante.

Para os designers, o trabalho não é apenas uma questão de se sentar para desenhar belos vestidos. Eles precisam pesquisar e desenvolver um tema, os tipos de tecidos e criar uma gama coesiva com eles. Um bom designer deve entender as diferentes propriedades dos tecidos e que efeitos pode-se atingir com eles. O bom entendimento das técnicas de construção das roupas é essencial para o design de moda. Quando estiver desenhando uma coleção, um designer precisa entender para quem ele está criando, que tipo de vestuário está desenvolvendo e para qual estação.

O processo criativo no design de moda requer habilidades específicas, uma inquietação e curiosidade contínuas na busca de elementos que alimentam a imaginação.

É preciso acreditar fortemente no poder que as roupas têm de tornar o mundo das pessoas mais lúdico, bem humorado, fascinante, com glamour, atraente, mágico, frente a realidade que muitas vezes é bastante dura. Todo o processo passa por várias etapas, desde a pesquisa até a apresentação e neste caminho é preciso ter muita coragem para enfrentar os desafios de uma indústria voraz, que lida com os desejos subjetivos das pessoas ao mesmo tempo que exige resultados bem estabelecidos e concretos.

Terminar uma coleção de roupas é apenas o começo; depois disso vem a etapa da promoção e comercialização. O designer de moda é somente um dos muitos profissionais ligados à cadeia da indústria da moda. Nem todas as pessoas que têm paixão por moda, têm a habilidade para ser um talentoso designer. Uma pessoa precisa se descobrir neste universo e saber para qual carreira ela melhor se adapta dentro desta instigante indústria. Existem pessoas criativas com muita paixão por moda, profissionais que podem ser compradores, gerentes de venda, jornalistas, fotógrafos, stylists, ilustradores e todos eles são essenciais para o sucesso de um designer.

Moda é um universo em constante mutação em movimentos cíclicos, com propostas várias, de releituras de um passado remoto ou recente e também tentativas de adivinhar o futuro, tudo isso para manter funcionando no presente a máquina desta lucrativa indústria, que opera investigando e incentivando os desejos mais abstratos e concretos das pessoas.

Pesquisa e design

“Fashion design is almost like mathematics. You have a vocabulary of ideas which you have to add and subtract in order to come up with an equation right for the times.”

Vivenne Westwood

Fashionistas

Uma roupa ou um conjunto de roupas só estará “na moda” se a indústria julgar que ela tem o espírito do tempo vigente. Portanto uma moda precisa captar este ar do tempo, aquilo que esteja em conformidade com a contemporaneidade. Este é um espírito muito frágil, efêmero e mutante.

Moda quer dizer: a roupa ou o estilo que torna-se popular num determinado espaço de tempo. Essencialmente é um estilo que deve estar atualizado e consequentemente sua maneira de estar em conformidade com o tempo é subjetiva e ligada a vários fatores. Por exemplo, o movimento punk foi o reflexo de como os jovens se sentiam no final dos anos 70, na Inglaterra, desencantados com a política e com a cultura da época. Foi quando Malcolm McLaren, inglês, empresário e produtor da banda Sex Pistols e a designer inglesa Vivienne Westwood, de certa forma, criaram as bases deste movimento. Não que ele tenha surgido com o intuito de estar “na moda”, seu objetivo era ser subversivo, de periferia, era afinal um movimento cultural. Isto reforça a idéia de que tentar forçosamente entrar na moda não significa nenhum fator de garantia.

Exposições de arte, eventos culturais em geral, filmes e a música podem ter uma grande influência no que se julga estar na moda num determinado tempo. Em 2001, por exemplo, o filme Moulin Rouge, teve uma influência direta nas passarelas e muitos designers inspiraram-se no burlesco, no caricato, para criarem suas coleções.

Para o design de moda, é importante desenvolver uma consciência de seu próprio gosto e estilo, aprimorar sua visão particular em relação ao vestuário, aos acessórios e com tudo que se relaciona com este universo. Não são todos que têm uma aptidão ou desejo para desenharem roupas anti-convencionais, por exemplo. Assim como alguns designers focam numa narrativa incompleta, desconstruída ou apenas nos detalhes das roupas. Outros se miram em roupas convencionais, mas a maneira peculiar de colocá-las juntas, estilizá-las ou combiná-las, é que dará ao conjunto uma forma original e moderna.

Saber o que se faz melhor é essencial, mas isto não significa que é proibido experimentar. Leva-se um pouco de tempo para se conhecer melhor, ou seja, qual é sua real aptidão, e geralmente este período de descobrimento acontece quando se está na faculdade. Mas cada um tem seu tempo e a vida prática costuma trazer surpresas e fazer descobrir outros caminhos nunca pensados. Deve-se gastar energias buscando o que se tem na alma, onde está sua verdadeira paixão. Não é que se tem de buscar o designer que se quer ser, mas descobrir o designer que se é. É preciso ser verdadeiro em sua própria visão de como se quer vestir as pessoas.

Além disso, o restante da decisão estará nas mãos da indústria e do público comprador de moda. Para cada pessoa que gosta de seu trabalho, existirá também alguém que realmente não gosta. Isto é comum, trabalhar num campo tão subjetivo pode ser confuso, mas eventualmente aprende-se a navegar de maneira própria através das críticas e também a desenvolver um escudo de ferro para se proteger ou reconhecer quais opiniões há de se respeitar e quais há de se ignorar. Uma vez aceito e compreendido isto, haverá a liberdade necessária para se fazer o que se faz de melhor: por exemplo, desenhar roupas... acessórios... ou jóias.

Conhecer seu assunto

Se você quer realmente seguir a carreira de moda, então você tem de conhecer bem seu assunto, ou seja, aquilo que você realmente quer desenhar, qual o tipo de trabalho que você quer desenvolver. Parece óbvio, mas é algo que precisa ser dito, pois muitas pessoas ficam perdidas exatamente neste ponto.

Você talvez pode declarar, “mas eu não quero ser influenciado por outros designers!”. A menos que você saiba o que tem acontecido na moda antes de você tomar esta decisão, como você saberá que não está ingenuamente reproduzindo o trabalho de alguém?

Tornar-se um expert em moda ou um “fashionista” consciente, não acontece da noite para o dia. E se você é apaixonado pelo assunto é natural que queira descobrir mais sobre isto. Se você quer entrar para uma universidade para estudar moda, você deverá demonstrar que tem um conhecimento rudimentar sobre os designers e seus estilos. Eventualmente poderão perguntar a você de quem você gosta e não gosta, no universo fashion, para que possam qualificar sua resposta.

As revistas de moda são um bom começo para sua pesquisa. Existem uma infinidade de títulos, as nacionais e as internacionais. Cada uma tem seu próprio nicho de mercado. Não se limite apenas nas maiores publicações tais como Elle, Vogue ou Marie Claire. Outras revistas menos conhecidas focam-se em sub-culturas que podem abrir seus horizontes e enriquecer seu repertório literário e imagético. Pesquise quantas mais puder, todas são parte do universo da moda.

Estas revistas de moda não somente contribuirão para torná-lo informado sobre os diferentes designers, mas também sobre “lifestyle”, comportamento, outros segmentos da indústria do design e eventos culturais que geralmente influenciam a moda ou são influenciados por ela. Além disso estará inteirado sobre os novos “stylists”, jornalistas, fotógrafos de moda, artistas do make-up, modelos, musas, marcas e lojas, tudo o que é importante para o sucesso de um designer.

Não devemos esquecer da infinidade de livros sobre moda disponível no mercado. O Brasil hoje tem importantes autores que escrevem com muita propriedade sobre o assunto, exemplo disso é o João Braga, que vocês já devem conhecer. Os livros dele são disputados nas escolas de moda.

Existem também muitos websites para pesquisa na internet, onde pode-se inteirar dos últimos eventos de moda e tudo o que há de mais atual. Em alguns, inclusive, pode-se ver os desfiles quase simultaneamente à sua realização. Um bom site internacional e grátis é o , da revista Vogue, ou . No Brasil temos também outros sites o da SPFW, do Fashion Rio, da Érica Palomino, o da Glorinha Kalil, o , entre muitos outros.

Começar a pesquisa

A moda se move incrivelmente rápido se comparada a outras indústrias da criatividade. Os designers estão sempre à procura de algo novo para transformar e inserir como elemento de moda em suas coleções. Existe uma pressão muito grande para que se reinvente o que já foi exaustivamente feito a cada estação. É preciso estar continuamente buscando novas inspirações de forma a manter o frescor da contemporaneidade no trabalho que se faz, e sobretudo a fim de manter os designers estimulados.

Neste sentido, pesquisar significa investigação criativa. Um bom design implica obrigatoriamente em alguma forma de pesquisa. Ela alimenta a imaginação e inspira mentes criativas.

Existem basicamente duas formas de pesquisa. A primeira delas direciona-se aos tipos de materiais e elementos práticos. Muitos designers novatos esquecem-se de que encontrar tecidos e outros ingredientes – rebites, zípers ou acabamentos especiais para tecidos, por exemplo – obrigatoriamente fazem parte do processo de pesquisa, assim como é essencial ter uma apreciação devida do que está disponível no mercado, onde encontrar e quanto isso custa.

A segunda forma de pesquisa tem a ver com o tema ou o conceito escolhido para desenvolver a coleção. Estes temas podem ser pessoais, abstratos ou mais literais. Designers podem transmitir um certo humor ou eleger uma musa como inspiração. Galliano correntemente citava Gwen Stefani como sua musa, mas também baseou coleções inspiradas na dançarina dos anos de 1920, Josephine Baker e na imperatriz de Napoleão, Josephine. Ronaldo Fraga fez toda sua coleção primavera-verão 2002, baseada no trabalho da estilista mineira Zuzu Angel.

Usar um tema ou conceito faz sentido pelo fato de manter coeso o corpo do trabalho desenvolvido, dando continuidade e coerência. Também ajuda a estabelecer fronteiras – que obviamente poderão ser quebradas – mas que colabora a manter o foco bem ajustado.

Escolher um conceito

Quando escolher um tema, seja honesto. Precisa ser algo em que você possa trabalhar e viver com isso durante todo o tempo de duração da coleção. Algo que realmente interesse a você, que o estimule a criar e que entenda bem o significado disso.

Alguns designers preferem trabalhar com conceitos bem abstratos aos quais querem expressar-se através das roupas (por exemplo, isolamento, encasulamento), enquanto outros preferem usar alguma referência mais orientada ao visual, ao imagético (por exemplo, o circo, um filme, uma etnia etc).

O conceito precisa fluir na imaginação de quem cria. Se após o período em que o designer já entrou na pesquisa e as idéias ainda não estão fluindo, não estão vindo à tona, deve-se questionar a escolha do tema.

Deve-se lembrar sempre de que a imprensa e os compradores geralmente estão muito mais interessados no resultado final do processo. As roupas são bonitas? Elas agradam ao público? Elas causam excitamento? Elas vendem? Eles não estão necessariamente interessados na sua excelente performance em expressar “física quântica” através de uma jaqueta. Mas se isso é o que deseja expressar, então faça-o.

Tipos de pesquisa

Para onde ir ao iniciar sua pesquisa dependerá da sua escolha do tema ou conceito. Para um designer curioso e determinado, o ato da pesquisa é como um trabalho de detetive, caçando informações valiosas, ilusórias, impalpáveis e materiais que irão fazer deflagrar o processo criativo.

O lugar mais fácil para começar a pesquisa é a internet. A rede contém uma gama fantástica de imagens e informações a seu alcance de maneira rápida e gratuita. É também um modo prático para se pesquisar nos sites das empresas fabricantes de tecidos ou serviços especializados.

As livrarias conceituadas são um verdadeiro tesouro. Hoje elas oferecem uma gama cada vez maior de títulos, inclusive com a possibilidade de encomendar, caso não haja o título que você precisa. Ainda é possível visitar o site das livrarias e comprar diretamente de sua casa. Enfim, sem livros você não vai ficar se puder comprar. Se não, passe um dia nas livrarias (ou bibliotecas) onde há locais para os clientes se sentarem e pesquisarem. Em universidades, nas escolas de moda, teoricamente, deverá ter os melhores títulos para pesquisa em suas bibliotecas.

Os mercados de artigos usados, de segunda mão, os antiquários, os famosos “mercados das pulgas”, como são chamados em todo o mundo, são também uma grande e inestimável fonte de pesquisa. Além de encontrar peças históricas, étnicas, uniformes militares e toda sorte de quinquilharias, temos a possibilidade de através de uma roupa antiga, descobrir e revitalizar processos de construção de vestuário já esquecidos, tal como técnicas de confecção, detalhes interessantes, tipos de costuras etc. Todo tipo de objeto que não é mais popular ou é considerado como kitsch pode ser apropriado, redescoberto e usado ironicamente para o design de roupas.

Os museus e galerias são, sem dúvida, outra relevante fonte de inspiração e pesquisa. Seja através daqueles especializados em arte, seja de design de objetos, de indumentária, de moda, de tecidos etc. Um bom designer deve conhecer e visitar todos os museus de seu interesse, seja os históricos ou os contemporâneos, pois sabemos que a moda anda de mãos dadas com a arte. A arte influencia a moda e vice versa.

As viagens de pesquisa são muito importantes. Grandes empresas, aquelas que tem poder de investir grandes somas em investigações criativas, estimulam seus designers a viajarem pelo mundo, para outros países ou mesmo aqui no Brasil a fim de que eles possam buscar inspiração. A informação hoje vale tanto quanto uma moeda corrente. As grandes feiras de moda localizadas nos grandes centros difusores de tendências de estilo, fornecem informações valiosas que geram muito lucro para as empresas. Uma viagem a um país exótico pode gerar uma infinidade de boas idéias para uma nova coleção. Mesmo numa viagem de férias, um bom designer estará sempre a procura de inspiração, seus olhos devem estar sempre atentos para encontrar pistas para uma nova cartela de cores, um desenho de estampado, uma forma ou textura interessante.

Atenção ao que se passa ao seu redor é o que um bom designer jamais poderá se esquecer. Um exemplo disso é manter um olhar bem atento e crítico nas ruas, nas pessoas, o que elas vestem e como estão se vestindo. Sempre existe alguém subvertendo as normas do vestir, ao sabor do próprio gosto, sem se importar com tendências ou conceitos estabelecidos. Personagens anônimos que cruzamos no dia a dia podem também nos trazer muitas boas idéias.

Todo tipo de material pode servir como inspiração, cartões postais, fotografias, lenços, retalhos de tecidos, botões antigos, brinquedos, máscaras africanas, papel de parede, etiquetas velhas, fitas bordadas, jóias de família, enfim qualquer material que te remeta ao seu tema ou ao seu conceito.

Segundo Doris Treptow, podemos classificar a pesquisa em seis tipos diferentes:

1) Pesquisa de comportamento: acompanha os hábitos de consumo do público alvo e seus interesses atuais, tais como locais onde freqüentam, seus ídolos e temas de preferência.

2) Pesquisa de mercado: estilos e preços praticados pela concorrência, produtos paralelos direcionados ao mesmo público-alvo, novas marcas.

3) Pesquisa de tendências: identifica temas de inspiração de outros designers, informações sobre cores, tecidos, aviamentos, elementos de estilo.

4) Pesquisa tecnológica: acompanha lançamentos de técnicas e maquinários que possam ser aplicados à confecção.

5) Pesquisa de vocações regionais: visa obter fontes para materiais e técnicas, conforme a disponibilidade de insumos e mão de obra.

6) Pesquisa de tema de coleção: a partir da inspiração escolhida reúne informações que possam ser usadas criativamente no desenvolvimento de coleção.

Caderno de pesquisa

Como designer você irá eventualmente desenvolver uma forma pessoal para processar toda sua pesquisa. Alguns designers preferem coletar pilhas de fotocópias e tecidos e montá-los numa parede do estúdio de forma bem livre. Outros decidem compilar a pesquisa em cadernos de esboços onde imagens, tecidos e aviamentos são colecionados e colados, contando a origem e a evolução da coleção. Ainda outros, tomam a essência da pesquisa e produzem um “storyboard”, ou seja, um painel de conceito.

Um caderno de pesquisa não é utilizado somente pelo designer. Mostrar a pesquisa para outras pessoas é útil quando tenta-se transmitir o tema da coleção. Será de grande utilidade para vender sua idéia ao seu chefe, seu cliente, seus empregados ou para o stylist.

O caderno de pesquisa não é apenas um caderno de recortes. Um caderno de recortes infere que a informação foi coletada, mas não processada. Não tem nada mais enfadonho do que olhar páginas sem vida, imagens cuidadosamente recortadas, mas sem um apelo estético com uma linguagem inovadora. O caderno de pesquisa deve refletir o magnetismo do processo de criação e uma aproximação evidente ao projeto do designer. Tudo fica mais pessoal quando desenha-se e escreve-se nele, mesclando com imagens e materiais que foram manipulados de maneira a formar belas colagens. O caderno deve refletir a poesia do projeto.

Desenhar, colar e justapor imagens no caderno de pesquisa ajuda a gerar alternativas gráficas para o design das roupas da coleção. Ele já é um exercício para se chegar a certas resoluções e efeitos. É uma ação de análise que é parte do processo criativo.

“Storyboard” – Painel de conceito

Storyboard é essencialmente a pesquisa destilada. De certa forma ele é a versão para a “apresentação” do caderno de pesquisa. Normalmente feito por colagens e montado num painel mais resistente. Usado pelo designer para comunicar o tema, o conceito, as cores e os tecidos que serão usados na próxima coleção. Ele também deve mostrar palavras chave que sugerem um “feeling”, tal como conforto ou sedução, por exemplo. Se a coleção for direcionada a um cliente específico, as imagens devem ser mais especificamente relacionadas ao estilo de vida e identidade do cliente em potencial.

“ I never saw any point in stopping at the way in which a conventional wisdom decreed a jacket should be cut. Early on, I realized how important it is just to be curious. You mustn’t be frightened or hide behind pre-conceived ideas. You have to experiment. You just do it and it’s beautiful because you discover an energy there which feeds you. There are no rules.”

John Galliano

Desenhando

Uma vez que sua pesquisa foi feita, você poderá começar a desenhar propriamente. Não existe nada mais intimidante do que uma página em branco. O processo inicial pode ser bem frustrante. Mesmo quando os desenhos começam a surgir, leva-se um tempo até eles se tornarem muito satisfatórios. Esta é uma parte natural do processo de criação. Muitos desenhos iniciais serão descartados – e você poderá inclusive questionar suas habilidades. É preciso de tempo até você acertar o passo e depois de suar um pouco sobre o papel, algumas boas idéias começarão a emergir. Explore cada possibilidade que venha em mente e não descarte nada neste estágio. Você certamente descobrirá o potencial de uma idéia mais tarde quando você der uma olhada panorâmica em todos os desenhos.

A identidade de um designer ou seu estilo vem com o tempo, mas assim como esta, as próprias roupas também precisam de uma identidade ou fazer parte de uma visão de forma a se destacar frente à concorrência. A identidade de uma coleção poderá vir baseada na silhueta, nos detalhes e nos tecidos de uma única coleção – por ex., Junya Watanabe, primavera-verão 2005.

Alguns designers são identificados através dos elementos construtivos em suas coleções. Eles conseguem ser coerentes em suas linguagens, em sua estética, de maneira que são imediatamente reconhecidos pela forma visual de seus trabalhos.

Silhueta

Nossa primeira impressão de uma roupa quando ela aparece na passarela é formada pela sua silhueta, o que significa que primeiramente nosso olho faz um percurso da forma total, antes de nos interrogarmos acerca dos detalhes, tecido ou a textura da roupa.

A silhueta é uma consideração fundamental no momento de uma decisão. Quais partes do corpo você quer enfatizar e por quê? Uma saia volumosa despertará atenção para a cintura, apontando para uma forma de seta entre a cintura e a bainha. Ombros largos podem produzir o mesmo resultado, fazendo com que o quadril se pareça menor. A cintura não tem necessariamente de ser fixada como ela é anatomicamente colocada. Ela pode ser deslocada de acordo com a proposta conceitual de silhueta da coleção. A silhueta também poderá ser alterada, usando-se tecidos para criar volumes em torno do corpo ou o contrário, fazendo formas justas para acentuar o próprio corpo. Parece uma consideração óbvia, mas muitos designers trabalham com formas bem inusitadas, baseadas no conceito de suas coleções.

Escolher bem as sutilezas da silhueta e o corte é essencial, mas alguns designers preferem optar por outras fronteiras, explorando territórios que estão no limite entre arte e moda. Exemplo disso é o artista australiano performático e designer Leigh Bowery, que trabalhava alterando as formas do seu próprio corpo com os mais variados tipos de materiais. Sua idéia de reformar o corpo ao invés de deformar, tem como objetivo perturbar, entreter e estimular os espectadores.

Proporção e linhas

A proporção de uma roupa é conseguida a partir da silhueta. Se a silhueta tiver a forma total da roupa, então a proporção poderá ser divida através de linhas (horizontal, vertical, diagonal ou curva) ou por blocos de cores ou tecidos. Toda vez que compramos uma roupa, estaremos inevitavelmente jogando com nossas próprias proporções, ou seja, como e onde nós fragmentamos nosso próprio corpo com linhas de bainhas horizontais. Comprimentos de calças, decotes, posição e ênfase da cintura dependerão do que nos veste bem.

As linhas de uma roupa geralmente se referem ao seu corte, onde costuras e alinhavos estão colocados no corpo e o efeito visual que eles proporcionam.

Saber equilibrar as linhas de uma roupa requer talento, perspicácia, acuidade visual, técnica de construção e modelagem. Deve-se julgar as linhas contrapondo-as umas contra as outras para obter um efeito de equilíbrio desejado, se é que seja esta a proposta do conceito do trabalho.

De qualquer forma, existem algumas regras gerais:

- linhas verticais alongam o corpo;

- linhas horizontais enfatiza a largura;

- linhas retas sugerem dureza e masculinidade;

- linhas curvas são consideradas mais tênues e femininas;

- costuras e alinhavos não são padronizados e podem se mover ao longo do corpo;

- roupas podem ter qualquer comprimento, criando linhas horizontais através do

corpo

- camadas de tecidos criam múltiplas linhas.

Importância nos detalhes

Uma roupa pode ter uma silhueta dramática e uma linha bem desenhada, mas se não tiver um ótimo detalhamento, ela pode parecer amadora e mal resolvida. Roupas com acabamentos não satisfatórios, podem sobreviver nas passarelas, mas não suportarão um exame minucioso – por exemplo, nas araras das lojas. Detalhes perfeitos em roupas são geralmente argumentos decisivos quando se tem que persuadir alguém na hora da compra. Nas roupas masculinas, particularmente, os detalhes são muito importantes. Há de se ter muito cuidado com silhuetas mal construídas, linhas desarmônicas, tecidos desapropriados e padronagens estranhas, para o que é uma clientela largamente conservadora. Vale lembrar que para tudo existe um público alvo e que os detalhes dependem de para quem se desenha.

O uso inteligente dos detalhes pode também ser usado para conferir identidade à coleção, uma assinatura. A forma singular como se corta ou como se costura um bolso, por exemplo, pode tornar-se uma forma emblemática para se diferenciar dos outros designers. Forma e função podem ser discutíveis e seus valores podem ser alterados. Na moda, não há regras que não possam ser quebradas.

Tecidos, cores e texturas.

É preciso entender as diferentes variedades e qualidades de tecidos antes de você usá-los no processo de seu trabalho. Na verdade, somente a experiência o fará um expert na utilização correta de cada tipo de tecido. Para começar, não é tão complicado saber que, com um chiffon, não se faz uma jaqueta estruturada, assim como um tecido de lã não é recomendado para fazer drapeados.

A escolha dos tecidos será ditada pelo tema e pela estação. Seu tema deve sugerir um certo temperamento, uma ambiência ou uma paleta de cores que podem ser interpretadas através dos tecidos. A estação para a qual você estará desenhando irá direcionar os pesos (gramaturas) e texturas. Tecidos mais leves tendem a ser usados no verão. Tecidos mais pesados são aconselháveis para o inverno. Estações também influenciam as cores. As mais leves para o verão e mais escuras para o inverno. No nosso país, tudo isso é muito relativo, devemos estar atentos às nossas regiões, onde cada qual tem suas peculiaridades. Atualmente, com o encurtamento do inverno, pode-se usar cores vibrantes, claras e suaves praticamente o ano todo. Cores para o dia e para a noite, sim, podem ter suas diferenças.

Com as novas tecnologias, os tecidos chamados de “inteligentes”, construídos a partir da nanotecnologia, têm dado grandes possibilidades de inovação. Aliás o que há de novo na moda atual tem muito mais a ver com a tecnologia dos materiais do que com a forma. Há muito que se descobrir sobre novos materiais, tratamentos e funcionalidades. Certamente as novas invenções, saídas dos laboratórios das grandes empresas, já estão abrindo novos caminhos e idéias para o processo criativo dos designers. A quem interessar sobre o assunto, acesse o site da AMNI ou Rhodia poliamida.

Quanto às combinações de cores, deve-se ter cuidado. Não há regras rígidas, mas algumas combinações poderão ser de gosto duvidoso, portanto é aconselhável evitá-las, se puder. O que deve prevalecer é o gosto do designer somado à crítica impiedosa do mercado. Para quem afinal se está desenhando, para si mesmo ou para o mercado? Algumas regras podem ser seguidas sem com isso suprimir a criatividade. Por exemplo, usar muitas cores combinadas entre si, pode ser complicado. Trabalhar com menos cores, equilibradas com tons neutros pode ser mais vantajoso. Mais uma vez, há de se levar em conta o conceito, o tema e o mercado. Se conseguir harmonizar tudo isso, sua coleção será um sucesso.

Quando se trabalha para empresas, adota-se um método industrial que exige um grande conhecimento do público consumidor. Quando se trabalha em um atelier, com peças exclusivas, séries limitadas ou sob encomenda, o trabalho se torna mais autoral, pessoal, onde existe mais liberdade de criação. Quem procura um designer em seu atelier, está buscando estilo, diferenciação, tem afinidade com o gosto do profissional. Este tipo de trabalho pode ser muito gratificante.

Cada estação tende a valorizar as cores especificas da moda. Os “bureaux de estilo”, ou seja, os escritórios especializados em estudar, divulgar e comercializar as tendências, predizem quais cores irão prevalecer analisando os desfiles e selecionando as cores da estação que foram mais populares, mais utilizadas.

Há sempre uma curiosidade por quem escolhe as cores da moda. A grande verdade é que as tendências de cores são objeto de estudos dos grandes fabricantes de corantes do mundo, que se organizam em grupos setoriais. Os principais grupos que controlam o estudo da evolução da oferta de cores são o British Textile Colour Group, O International Colour Authority (ICLA), a Colour Association of the United States (CAUS) e o Color Marketing Group (CMG). Eles realizam acompanhamento das preferências do mercado em relação a cores e estudo da disponibilidade mundial de corantes. Duas vezes ao ano, na Europa e Estados Unidos, esses grupos se reúnem para conferências, cujo resultado é uma paleta de cores que servirá como tendência para a indústria da moda, decoração, cosméticos a até automobilística. A previsão de tendência ocorre com até 24 meses de antecedência à estação para a qual a paleta se destina.

As padronagens dos tecidos também podem conferir identidade a um designer ou a uma marca. Criar uma “assinatura” através de um desenho em tecidos pode ser facilmente reconhecível. Assim como faz a marca italiana Missoni, reconhecida mundialmente pela sua malharia em desenhos zigue-zague.

“Some people focus on retro, meaning sixties or seventies revivals. Some people stick to very traditional classic clothing, what we call “real” clothes, very easy to put on, simple clothes. I wanted to create something that didn’t belong to any of those categories, and go forward.”

Rei Kawakubo.

Renderizando suas idéias

Desenhar é uma ferramenta para comunicar suas idéias – literalmente pegar o que você tem na cabeça e colocar no papel. As idéias também podem ser trabalhadas tridimensionalmente num manequim, pela técnica do “moulage”, por exemplo, mas mesmo assim o método do design requer desenvolvimento no papel em algum estágio. Não é essencial ser um ótimo desenhista para ser um bom designer, mas ajuda muito.

Existem três tipos de desenho, o desenho de moda, a ilustração de moda e o desenho técnico

Desenho de moda:

- técnica simples, básica e objetiva;

- precisa ter estilo, a marca do designer, sua fatura;

- saber representar as proporções do corpo humano;

- comunicar suas idéias em design;

- uma forma figurativa usada para capturar as idéias rapidamente;

- não é necessário ser muito prolixo, nem exige muita habilidade representativa;

- deve ter uma boa noção de proporção;

- respeitar as formas do corpo humano real;

- ser de rápida execução;

- conter informações a respeito da silhueta, detalhes, cores e tecidos.

Ilustração de moda:

- técnica apurada, esmerada através de materiais diversos, inclusive multimídias;

- ter estilo, a marca do designer, sua fatura;

- ser capaz de transmitir o design e também o espírito da roupa;

- usado para expressar um sentimento, um estado de espírito;

- deve comunicar o conceito e o tema;

- expressar o contexto, a cena onde o design está inserido;

- expressar estilo, make up, penteados e pose;

- representar a roupa de forma total e artística;

- tentar expressar da melhor forma o caimento da roupa no corpo;

- pode ser mais livre no que diz respeito às proporções;

- é um desenho prolixo, mais elaborado, de nível artístico mais elevado.

Desenho técnico:

- é um desenho plano, que mostra a frente e as costas da roupa;

- pode conter detalhamentos construtivos se necessário;

- deve conter todas as especificações de materiais e cores;

- proporcionalmente correto:

- desenho geométrico estruturado, detalhado e estilizado por linhas;

- deve-se usar de duas a três espessuras diferentes de canetas ou grafites;

- ser claro e objetivo para o uso do modelista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MACKRELL, Alice. Art and fashion: The impact of art on fashion and fashion on art. Londres: Bastford, 2005.

QUEIROZ, João Rodolfo; BOTELHO, Reinaldo (orgs.) Coleção Moda Brasileira: Ronaldo Fraga. São Paulo: Cosac & Naif, 2007.

MORRIS, Bethan. Fashion Illustrator. Londres: Laurence King Publishing Ltd. 2006.

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TREPTOW, Doris, Inventando moda : Planejamento de Coleção / Doris Treptow, Brusque, 2007.

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