Militares do regime de Angola apostam na «razão» da força
Militares do regime de Angola apostam na «razão» da força
- 20-Feb-2008 - 22:43
Notícias Lusófonas
Kopelipa, da Casa Militar de Eduardo dos Santos, é o novo dono do semanário
Independente. Assassinato de William Tonet é o próximo passo
O que muitos desconfiavam e foi aqui noticiado no Notícias Lusófonas, começa a
ficar mais visível, em Angola, quanto às motivações que estão na origem do
ressuscitado semanário Independente, que lidera, com a chefia da Casa Militar
da Presidência da República e do secretário para a Informação do MPLA,
Norberto dos Santos Kwata Kanawa, uma campanha visando o assassinato do
jornalista William Tonet, director do Folha 8. Não se trata de um órgão de
comunicação social privado, mas sim dos Serviços da Segurança de Estado de
Angola.
Por Norberto Hossi
A composição dos seus proprietários, todos agentes de topo na estrutura do
SINFO (Serviços de Informação do Estado), nomeadamente; Fernando Manuel (que
chegou a ser vice-ministro da Segurança), Luís Fragoso - Loy, ligado às
Análises e Informação, Pena Fernando, operativo de sistemas e actual director
de gabinete de Joaquim Mande, inspector-geral do Estado (homem ligado a Kundi
Pahiama), Estevão Kauanda e Cristóvão A, afectos as operações especiais, não
deixa dúvidas.
Estes homens com vista a apresentarem trabalho e depois de terem arruinado o
título, com a exoneração intempestiva do antigo director, o jornalista Pedro
Narciso, ex-correspondente da Revista Visão de Portugal, que tentou dar uma
lufada de ar fresco à publicação, aliaram-se há cerca de seis meses, ao todo
poderoso general Hélder Vieira Dias Kopelipa (foto), chefe da Casa Militar da
Presidência da República, que com o general José Maria e o Presidente José
Eduardo dos Santos, constituem a Junta Militar, que desde Fevereiro de 2006,
tomou o poder real do país, com o desmantelamento dos Serviços de
Inteligência Externa.
Com o denominado Independente, Kopelipa pensa ter conseguido uma aliança
importante, capaz de melhorar a sua imagem, com vista a contrapor as críticas
da maioria da comunicação social, face à sua arrogância e mau desempenho
governativo.
“O director injectou capital do Estado, mais concretamente da linha de
financiamento da China, para suportar este órgão, um apêndice, da Segurança
de Estado, objectivando, nesta fase do período pré-eleitoral, a calúnia e a
difamação de jornalistas e membros da oposição”, disse ao NL, uma fonte digna
de crédito, junto da Casa Militar, acrescentando que “o dinheiro injectado a
fundo perdido, cerca de 1,5 milhões de dólares, aos proprietários, pela
cedência de parte das acções do Independente e USD 600.000,00, para o jornal,
saem do montante de 10 milhões de dólares, afectos mensalmente, ao Gabinete
de Reconstrução Nacional (GRN), para as obras de reconstrução de Angola, do
qual Manuel Hélder Vieira Dias, Kopelipa é também director, mesmo sem estar
cabimentado”.
E para consumar a lamacenta estratégia, foram buscar, segundo a nossa fonte,
Armando Benguela, formado em jornalismo numa escola do KGB, na ex-União
Soviética, com a recomendação expressa de recrutar agentes transformando-os
em jornalistas da rolha.
O actual director, que mostra a “plástica facial”, Epinelas Mateus é agente
camuflado do SINFO, que antes havia trabalhado num outro órgão ligado à
Segurança, o ex-Actual Fax de Leopoldo Baio. Epinelas, no quadro da mesma
estratégia, tentou antes, sem êxito, infiltrar-se na redacção de alguns
jornais privados, nomeadamente a Capital e Folha 8.
É pois esta matilha que se propõe liderar uma campanha contra William Tonet,
visando não só denegrir a sua imagem, como atentar contra a vida do
jornalista e director do jornal independente Folha 8, com base num plano
secreto de assassinato, “antes do período eleitoral, para calarem a voz, que
mais se tem batido pela denúncia das arbitrariedades e corrupção” endémica do
sistema.
“Este sistema mata mesmo, apesar da imagem de anjo do Presidente Eduardo dos
Santos, o número de assassinatos não têm parado de crescer e Tonet é visto
como uma pedra no sapato do regime, e que por isso não pode continuar ou em
liberdade ou com vida”, assegura a nossa fonte que solicitou o anonimato.
Entretanto, Epinelas e Kopelipa, na sua visão barroca da situação, não se
deram conta dos prejuízos que estão a causar à própria imagem de Eduardo dos
Santos, pois colocam-no como um dirigente frio e ditatorial da estirpe de
Adolfo Hitler ou Idi Amin Dada, disposto a qualquer recurso para eliminar
adversários políticos. Vieram ainda confirmar a existência de um mau clima no
seio das Forças Armadas e da Polícia Nacional, que têm sido denunciadas pelo
F8 e NL.
E os exemplos estão à mão de semear, quando o Independente acusa o antigo
comandante geral da Polícia Nacional, Alfredo Ekuikui de, alegadamente, ter
dado 4 milhões de dólares para a construção de uma pousada, para a Polícia no
Mussulo, uma ilha em Luanda, que não teria sido construída pela empresa de
construção civil, onde William Tonet é um dos administradores.
“Ora se isso é verdade então estamos a provar que o regime é mesmo corrupto e
que os seus gestores podem delapidar a seu bel prazer o erário público. Se
deram dinheiro a uma empresa para um fim ela tem de o fazer, sob pena de
procedimento criminal, a não ser que estejamos a mostrar o lado perverso da
administração do regime do MPLA”, diz uma fonte.
É que o dinheiro não pode ser visto como sendo do antigo comandante, mas do
órgão; Polícia Nacional, do qual era gestor, num dado momento. Quatro milhões
não são quatro tostões, logo se Ambrósio de Lemos e a sua corporação não se
pronunciam é porque estão, tal como Kopelipa, na estratégia de diabolização
de Ekuikui, apontado como sendo homem de Fernando Miala, antigo patrão do SIE
(Serviços de Inteligência Externa), preso por ordens expressas de Eduardo dos
Santos, o senhor todo poderoso, o único poder real em Angola, sem que
houvesse capacidade de ser apresentada alguma prova em tribunal, para os
crimes que estiveram na base da sua exoneração.
Por outro lado, a obra para a qual a empresa de William Tonet foi contratada,
concluiu-se em tempo recorde (quatro meses) e o seu valor, não ultrapassou
nem chegou perto de 1 (um) milhão de dólares.
“Nós estamos tranquilos e o contrato e os pagamentos podem ser consultados
juntos da direcção de Finanças da Polícia Nacional”, disse uma das
responsáveis da Jango’s - Construção Civil e Decoração Africana.
A obra é hoje um condomínio de arquitectura africana de referência, na zona,
que preservou o ambiente natural da região, composto pelo maior jango (sala
oval, com mais de 1000 m2) de Angola, 13 suites, uma piscina, uma cascata em
gruta, como porta de entrada, uma ponte cais, uma vivenda com 4 quartos e uma
suite, uma cozinha industrial, duas cabines de som e tradução, duas lojas,
uma praia com cerca de 300 metros, três sombreiros, uma grande
espreguiçadeira, lavandaria, churrascaria, casa de máquinas, um heliporto.
Foi ainda fornecido mobiliário rústico, fabricado pela empresa, com garantia
de 30 anos.
Como o peixe morre pela boca, eles esqueceram-se ter sido a obra inaugurada,
em Novembro de 2005, pelo falecido ministro do Interior, Osvaldo Serra
Van-Dúnem, que surpreendido pela obra feita por uma empresa angolana,
solicitou a implantação da segunda fase do projecto.
“A notícia do Independente visou somente afastar a Jango’s da II fase, pois
Kopelipa e Ngongo pretendem na sua política de discriminação retirar
trabalhos a empresas que sejam de pessoas que não bajulem o nosso governo e
defendam o Miala”, garantiu a nossa fonte.
Quanto à calúnia de tentativa de extorsão a Kopelipa no valor de 100 mil
dólares anos, Tonet prefere não comentar, mas desafia o chefe da Casa Militar
e os seus cães de fila, a apresentarem a misteriosa pessoa que dizem ter
tentado a extorsão e as razões de não o terem preso, porquanto na sua
opinião, só uma empresa de bonecos animados poderia pedir USD 100.000,00 (cem
mil dólares ano) para limpar uma imagem que carece de toneladas excessivas de
lixívia.
“Isso é de maníacos. Tenho ideais e nunca pediria esmola a Kopelipa, aliás USD
100.000,00/ano, para ele seria uma gorjeta. Mas em Tribunal estarei na
disposição de abrir o rosário, para mostrar e demonstrar com provas
irrefutáveis os dados em nossa posse. Estamos serenos! Vamos até ao fim para,
em sede judicial, esclarecermos situações escabrosas e deploráveis, que o
país e a maioria dos angolanos desconhecem e uns poucos querem esconder”,
disse William Tonet, que se escusou a fazer mais comentários.
Entretanto o NL soube ter o Dr. Moreira Pinheiro, que é o advogado do
jornalista/jurista, nesta causa, apresentado já uma queixa-crime, contra o
semanário Independente e todos os seus proprietários e direcção, em função
das mentiras e calúnias publicadas.
Porta-voz do MPLA também faz parte da rede
O secretário para a Informação do MPLA, Norberto dos Santos, Kwata Kanawa,
também entrou no grupo de “homens bomba”, disposto a calar alguns jornalistas
da imprensa privada, pois terá sido contactado por Kopelipa, para orientação,
tendo fornecido, segundo a nossa fonte, o pacote editorial a ser seguido
pelos agentes da Segurança, infiltrados na comunicação social e para lhes dar
alento, inaugurou o seu primeiro número.
“Na política não há coincidências e se não tivesse implicado, Kwata Kanawa,
não daria uma grande entrevista a um órgão desconhecido, que iria reentrar no
mercado”, salienta a fonte do NL.
Recorde-se que Kanawa é também um dos homens fortes da New Mídia, empresa de
comunicação do MPLA, que recentemente lançou um novo título, denominado “Novo
Jornal”, apresentado como órgão independente, mas dependente da política dos
donos; MPLA e BES (Banco Espírito Santo), este último, que para continuar a
ter relações financeiras privilegiadas no mercado angolano, funciona como
financiador do regime, até mesmo em operações espúrias.
O “Novo Jornal” apareceu no mercado com uma capacidade financeira invejável,
disposto inclusive a debilitar outros órgãos, aliciando com salários muito
acima da média, os seus principais jornalistas, depois de terem contratado
alguns jornalistas de referência, como o seu director geral, Victor Silva,
correspondente da Voz da América e Gustavo Costa, director-adjunto,
correspondente do Semanário Expresso de Lisboa, ambos ligados a Aldemiro Vaz
da Conceição e a Manuel Helder Vieira Dias Kopelipa, os homens de mão de José
Eduardo dos Santos, para a implementação de subversão política na fase
pré-eleitoral.
É este o clima da comunicação social em Angola, onde o MPLA e o seu regime,
tentam eliminar todos quanto pugnem por uma imprensa livre, liberdade de
expressão e a implantação de uma verdadeira democracia.
Com os milhões do petróleo Eduardo dos Santos, ao invés de trabalhar para uma
verdadeira reconciliação nacional, pretende consolidar o seu regime com a
eliminação física dos seus adversários políticos, como aconteceu com o
jornalista Ricardo de Melo, Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA, Jonas
Savimbi, todos assassinados e Holden Roberto, morto devido ao corte ilegal do
subsídio do seu partido, por ter deputados no parlamento, devido a não
bajular o chefe do regime angolano.
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