LÍNGUA E PENSAMENTO



LÍNGUA E PENSAMENTO

Pensar sem linguagem é impossível. O pensamento ocorre em formas lingüísticas; é preciso definir linguagem e pensamento temos que considerar os fenômenos musicais. Temos também, que levar em conta as operações espirituais sem termos adequados a elas (por exem-plo, o pesquisador que usa palavras novas). É preciso distinguir sem fala de sem palavras; imaginação, de atos concretos. Em conceitos abstratos, a palavra é um símbolo do conteúdo: liberdade, justiça São feixes de semas, podem ser desmembrados A memória sem palavras ocupa uma grande parte do pensamento, mas, para transmiti-las, precisamos de meios lingüísticos. Distinguir, comparar, ordenar são atividades mentais, assim como julgar - incluem. obrigatoriamente a linguagem?

A gente chama "universais lingüísticos, as propriedades comuns a todas as línguas faladas. Ex: todas as línguas opõem verbo a substantivo, ao menos com flexões; todas começam pela linguagem oral; todas têm que ser ensinadas; todas estão em constante mudança; cada comunidade tem uma linguagem; nenhum outro ser vivo tem linguagem comparável à humana; toda língua tem sua gramática; o número de fonemas varia de 10 a 70; Há, sempre, no mínimo 2 vogais; em todos os sistemas fonológicos há oclusivas e não-oclusivas; há, pelo menos, 2 pontos de articulação de oclusivas; há um sistema de entonação e de não entonação; há, sempre, elementos de conexão; há, sempre, dêiticos; sempre um sistema fonológico e um sistema morfológico ( só a linguagem humana os tem ); há línguas em que o verbo fica, obrigatoriamente, antes do objeto; outras, ao contrário, dependendo da frase ser ou não interrogativa; o mesmo se pode dizer da questão substantivo + adjetivo; se uma língua tem distinção de gênero para substantivo, tem, também, para pronome; quando há pronome demonstrativo, numeral e adjetivo, antes do substantivo, vão sempre nessa ordem; há, sempre, nomes próprios e comuns; há, sempre dêiticos para o falante e outros para o ouvinte; quase sempre o sujeito precede o objeto.

A pesquisa dos universais lingüísticos é também a pesquisa da tipologia lingüística. Em 1808, Schlegel publicou sua obra Sobre a língua e sabedoria dos hindus que é considerada o ponto de partida dos estudos comparativos. Reforça a tese do parentesco do sânscrito com as línguas européias. Foi Bopp, em 1816, que demonstrou, pela comparação da morfologia verbal dessas línguas, as correspondências sistemáticas que há entre elas. O estudo comparativo estabelece o parentesco entre as línguas, não lhes traça o percurso. O estudo histórico foi estabelecido pelos irmãos Grimm em 1819. O dinamarquês Rask, também desenvolveu trabalhos comparativos importantes, de 1814 a 1818. Diez publicou, entre 1836 e 1844 uma gramática histórica e comparativa das línguas românicas e, em 1854, um dicionário etimológico dessas línguas. Schleicher, botânico, influenciado por Darwin, quis traçar uma "história natural" das línguas, como se essas se realizassem em um fluxo, por princípios invariáveis, como as leis da natureza. Fez a "árvore genealógica" das línguas indo-européias. Não levou em conta variações dialetais. Os neogramáticos, em 1878, publicaram obra que é tida como seu manifesto. Introduz uma orientação psicológica na interpretação dos fenômenos de mudança ( a língua existiria no indivíduo, as mudanças começam nele ). Sua perspectiva é diferente dos comparativistas; antes querem criar uma teoria da mudança que estabelecer correspondências. Seus critérios são um tanto rígidos, só admitem exceções por empréstimos ou por analogia. Hermann Paul, em 1880, lançou um texto que serve de referência para os diacronistas. Negava a importância de unia lingüística que não fosse histórica. A lingüística carece de duas disciplinas auxiliares ( segundo Paul ) a psicologia e a fisiologia. W Meyer-Lübke publicou, entre 1890 e 1902 uma gramática e um dicionário etimológico das línguas românicas. (o REW).

A linguagem escrita é sempre mais conservadora que a linguagem falada.Exemplo, no Francês: Séc. XI - rei ; Séc. XIII - roi ; Séc. XVI - roé; Séc. XIX - ruá. (pronúncia figurada)

A escrita se fixou no século XIII. Essas mudanças são inconscientes, as conscientizamos em comparação com outras línguas. Os ingleses, a partir da Idade Média, “inglesaram” o latim, introduzindo-o ao seu sistema fonológico (caesar, tres...) a ponto de não se entender o latim falado pelos ingleses. O valor fonético de cada sinal foi, na Europa medieval, estabelecido de acordo com a pronúncia latina. Houve mudanças posteriores, que só a comparação com outros sistemas de pronúncia, tornam observáveis. Através do desenvolvimento histórico ou por influência de outras línguas formam-se discrepâncias entre sistema ia grafemas e fonemas. Há mais de um grafema para um fonema e vice-versa.

DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA:

A maneira mais primitiva de escrever foi por meio de desenhos. Essa escrita é inarticulada, pode ser lida por quem não conhece a língua e é anti-econômica. Daí a necessidade de criar símbolos para o som da coisa representada e não para a coisa em si. O próximo passo é a mudança e a sistematizaçao de escrita por palavras e por sílabas. Nas línguas que se constituíram em sílabas com sinais próprios, esses não são mais que 60-80. São habituais as escritas em palavras e sílabas, concomitantemente. Os sinais das escritas por figuras perdem lentamente a possibilidade de reconhecimento e são substituídas por valores simbólicos. Nesses sinais, pode-se reconhecer, às vezes, a figura que lhes deu origem.

Por exemplo: a escrita cuneiforme dos sumérios que chegou até nós em blocos de argila. Enquanto, independentemente, as escritas em palavras e palavras e sílabas desenvolviam-se entre os sumerianos, egípcios e maias, as línguas alfabéticas tem uma só raiz - a escrita semítica em consoantes. A escrita cuneifome tinha cerca de 2.000 sinais. Há, portanto, 3 tipos de sinais: ideograma, fonograma (em regra, representa uma sílaba) e determinativo (com escrita de sinais de palavras ou sílabas; a uma raiz aglutinam-se elementos que indicam sexo, profissão, nacionalidade, etc.). Não muito mais jovem é a escrita por hieroglifos dos antigos egípcios, que se escreviam gigantescamente nos monumentos até séc.III a IV DC. Para a escrita em papiros havia 2 formas: hierática e demótica que viveram até 500 DC.

A escrita egípcia tinha os mesmos tipos de sinais que a escrita sumeriana. Por exemplo: o sinal para casa passa a significar ir para fora se for acrescentado um par de pés caminhando.

A escrita mais antiga ainda hoje em uso é o chinês (comprovado desde 2.000 AC). Essas escritas por palavras desenvolveram derivadas, a maioria escrita por silaba, como o japonês. Para nós, as mais interessantes são as escritas por sílaba, semitas do leste, descendentes do egípcio Essas podem ser representadas por só a consoante, como ainda hoje no hebraico é no árabe, para simplificação. A passagem da escrita silábica para a escrita alfabética realizou-se no contato dos fenícios com os gregos, quando se formou o que se chama alfabeto. Derivados do alfabeto fenício são também o aramaico e o hindu. As línguas ocidentais atuais remontam aos gregos. Esses representaram sistematicamente todos os sons fenícios que lhes eram necessários, inclusive as vogais. Provas:

os gregos próprios nomeiam fenícia sua escrita;

- a seqüência é a mesma;

- a direção da escrita em tempos remotos era da direita para a esquerda.

Do alfabeto grego derivaram-se os itálicos, dos quais o latino, pela expansão do Império Romano, estendeu-se à maior parte das terras ocidentais A princípio escrevia-se para direita ou para esquerda. Havia no tempo dos imperadores a escrita capital ou maiúscula, para gravar em pedra (quadrada ou não) e a cursiva, para escrita mais rápida. A cursiva era minúscula, dela se formou (sec. IV- V DC) uma outra maiúscula, a unguial.

Com a queda do Império Romano, a escrita perdeu a unidade, formaram-se escritas locais como o gótico ocidental na Espanha, o merovíngio na França e o itálico. O reinado de Carlos Magno pôs fim à variedade da escritas, estabelecendo como básica a semi-unguial.

De 800 a 840 essa escrita começou a se afirmar, terminando de se impor na metade do séc. XI. Dela se derivou a escrita gótica, a primeira a ser impressa, no séc. XV.

O mais antigo material de escrita conhecido era o papiro, a princípio usado só pelos egípcios, a seguir por outros povos antigos; é extraído da planta papiro e preparado em folhas.

A escrita sobre tábuas cobertas de cera usou-se da Antigüidade, pela Idade Média até séc. XIX, para breves anotações. No Ocidente usou-se o pergaminho, de pele de animais, desde o séc. II AC. Mais tarde, apareceu o costume de reuni-los em códices. O papiro só deixou de ser usado no Ocidente a partir do século VIII ( só raramente). Escrevia-se com caninhos ou penas de ganso. No séc. II DC, na China, já se usava o papel, feito de trapos de linho que só foi introduzido na Itália em 1276 e na Alemanha em 1390. Da peneira, por onde se passava a pasta de papel, ficava a marca d’água.

TIPOS DE IDIOMAS:

Podem ser classificados segundo vários critérios:

_ morfo-sintáticos: Em geral, estabelecem-se os idiomas em: monossilábicos, aglutinantes e flexionais. A classificação por critérios gramaticais nada nos diz sobre a orientação e o parentesco das línguas. Por exemplo: o inglês, pouco flexivo, descende do indo-europeu, rico em flexão.

_ As línguas também se classificam em analíticas e sintéticas, mas isso não diz o seu parentesco, pois uma língua analítica pode ter tido uma fase anterior sintética.

_ Há critérios fonológicos como as consoantes surdas e sonoras considerarem-se traço distintivo ou não.

Os critérios geográficos nada mais valem, pela expansão dos impérios.

_ As línguas podem ser classificadas por critérios de parentesco. Há cerca de 200 famílias lingüisticas, das quais 120 são faladas pelos índios americanos. Uma das famílias mais conhecidas é a semita à qual pertencem o arábico, o hebraico. e as línguas do antigo Egito, Assíria e Babilônia, das quais existem testemunhos de 3.000 anos AC.

Contam-se cerca de 2.500 a 3.O0O línguas no mundo, a maioria falada por pequenos grupos. Só 14 línguas tem mais de 50 milhões de falantes. As mais faladas são: chinês, inglês, espanhol, hindi, russo, árabe, português, bengali, japonês, alemão, malaio, francês, italiano, telugu.

A nossa família lingüística é uma das maiores, com cerca de 1 bilhão de falantes (o indo-europeu). A princípio, limitada à índia e à Europa, com a colonização e o comércio espalhou-se à América, à Africa e à Oceania. O sânscrito (antiga língua da Índía) foi descoberto no fim do século XVIII, quando se observaram suas semelhanças com as línguas européias e chegou-se à conclusão de que houve uma fonte comum que pode ser reconstruída, com base nos elementos comuns às línguas derivadas.

Por exemplo: a partir do indo-europeu *Pater, formaram-se: pater (lat.), pater (gr), father (ing.), Vater (al. ) etc.

Estabeleceram-se leis fonéticas: indo-europeu, ramo itálico, p→p; ramo germânico, p→f. Nem sempre a reconstrução é tão fácil. Alguma coisa podemos saber desse povo que originalmente falava o indo-europeu. Partiu da região ao norte do Mar Negro; foi ampliando seu domínio (sabido pelos achados cerâmicos); tinham muitos nomes para animais domésticos, muito valorizados; não conheciam o ferro; não tinham muitos nomes de árvores (a região original não as tinha);o regime era patriarcal (*potia = marido ou senhor); conheciam o bronze.

Entre 3.000 e 2.000 AC. esse povo (o indo-europeu) perdeu sua unidade e sua identidade com as sucessivas migrações.

Leia mais:

AUERBACH, Erich. Introdução aos estudos literários. S. Paulo: Cultrix, 1972.

BASSETO, Bruno. Filologia Românica. S. Paulo: EDUSP, 2000.

CÂMARA Jr. J. M. História e estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1980.

MELO, G. C. de. Iniciação à filologia e à lingüística portuguesa. Rio: Ao Livro Técnico, 1997.

MIAZZI, M. L. Introdução à lingüística românica. S. Paulo: Cultrix, 1976.

WALTER, H. A aventura das línguas no ocidente. S. Paulo: Mandarin, 1997.

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