Palestras Inspiradas Revisado

[Pages:99]Swami Vivekananda

Palestras Inspiradas

Swami Vivekananda

Palestras Inspiradas

Tradu??o de Dilze Pragana Organiza??o e formata??o de D.D.

Um ver?o bendito.

Naquele ver?o, Swami Vivekananda aceitou o convite de uma disc?pula para passar o ver?o em Thousand Island Park. Nesse santu?rio de Mil Ilhas, ele viveu 44 dias, instruindo aqueles que chamou de *disc?pulos ?ntimos*. Os textos seguintes foram registrados por esse pequeno grupo de privilegiados e cont?m tudo o que foi dito em 44 encontros di?rios com o Mestre. Suas confer?ncias, dirigidas a um grande p?blico, ?s multid?es, s?o largamente conhecidas. Suas palavras aos que lhe eram mais chegados, est?o na s?rie de palestras que se seguem.

Resid?ncia em Thousand Island Park, onde passou os 44 dias entre devotos.

Relato Preliminar

No ver?o de 1893, desembarcava em Vancouver, um jovem sannyasin hindu. O prop?sito da sua viagem era assistir ao Parlamento das Religi?es, em Chicago, embora n?o fosse delegado oficial de nenhuma organiza??o religiosa reconhecida. Desconhecido e inexperiente, havia sido eleito para esta miss?o por alguns jovens adeptos, de Madras.

Estes, firmes na sua cren?a de que ele, melhor do que qualquer outro poderia representar dignamente a antiga religi?o da ?ndia, foram de porta em porta, arrecadando dinheiro para sua viagem. A soma assim coletada, mais a contribui??o de um ou dois pr?ncipes, permitiram, ao jovem monge, o ent?o obscuro Swami Vivekananda, p?r-se a caminho para sua longa travessia.

Era preciso uma tremenda coragem para se aventurar numa miss?o de tal natureza. Deixar o solo sagrado da ?ndia para ir para um pa?s estrangeiro, significa, para um hindu, muito mais do que os ocidentais podem imaginar. Ainda mais no caso de um sannyasin, j? que sua educa??o est? completamente afastada do lado pr?tico e material da vida. N?o estava habituado a manejar com dinheiro, nem a viajar de outro modo que n?o fosse p?r seus pr?prios p?s.

Assim, o Swami foi saqueado e enganado a cada etapa do caminho, at? achar-se p?r fim, quando chegou a Chicago, quase desprovido de tudo quanto levava. N?o levava consigo carta de apresenta??o, nem conhecia ningu?m na grande cidade. Desta maneira, s?, entre estranhos, a milhas e milhas do seu pa?s natal, viu-se numa situa??o que teria acovardado ao homem mais forte. O Swami deixou o assunto nas m?os do Senhor, firme em sua f?, de que a prote??o divina jamais lhe faltaria.

Durante uns quinze dias, pode enfrentar as exorbitantes exig?ncias de seu hoteleiro e de outros. Logo, a pequena soma que possu?a ficou reduzida a t?o magras propor??es, que chegou a dar-se conta de que, se n?o queria morrer de inani??o em pra?a p?blica, devia procurar, imediatamente, um lugar onde o custo de vida fosse menor. Era muito penoso para ele, abandonar a tarefa, que t?o valentemente, havia come?ado.

P?r um instante, uma onda de des?nimo e de d?vida o invadiu e come?ou a se perguntar p?r que havia cometido a insensatez de dar ouvidos ?queles exaltados escolares de Madras. N?o lhe restando outra coisa a fazer, com o cora??o entristecido, partiu para Boston, determinado a telegrafar pedindo dinheiro e, se preciso fosse, regressar a ?ndia. Por?m o Senhor, em quem confiava t?o firmemente, disp?s as coisas de outro modo. No trem, travou rela??es com uma velha senhora, em quem despertou t?o amig?vel interesse, que o convidou para se hospedar em sua casa .

Ali conheceu um professor da Universidade de Harvard que, depois de ter conversado quatro horas, certo dia, com o Swami, ficou t?o profundamente impressionado com seu extraordin?rio talento, que lhe perguntou p?r que n?o assumia a representa??o do hinduismo, no Parlamento das Religi?es, em Chicago.

O Swami explicou sua dificuldade: n?o possu?a dinheiro nem carta de apresenta??o para ningu?m que estivesse relacionado com o Parlamento.

- O Senhor Bonney ? meu amigo; darei a voc? uma carta para entregar a ele - replicou prontamente o professor. Em seguida, se pos a escrev?-la, expressando, no curso da mesma, que considerava a este desconhecido monge hindu "mais s?bio que todos os nossos s?bios juntos."

Com esta carta e uma passagem que lhe foi entregue pelo professor, o Swami voltou a Chicago e, imediatamente foi aceito como delegado. P?r fim chegou o dia da abertura do Parlamento e o Swami Vivekananda ocupou seu lugar entre os delegados orientais, alinhados sobre o estrado, na se??o inaugural. Seu prop?sito estava cumprido; por?m, quando estendeu sua vista sobre a vasta audi?ncia, se sentiu tomado p?r um repentino nervosismo.

Todos os outros haviam preparado seus discursos. Ele nada tinha. Que podia dizer a esta grande assembl?ia de seis ou sete mil pessoas? Durante toda a manh? esteve adiando o momento de fazer sua apresenta??o, sussurrando ao presidente:

- Deixe que algum outro fale primeiro.

Assim continuou at? que, p?r volta das cinco, o Dr. Barrows (presidente) levantandose, o designou como o pr?ximo orador. A press?o do momento firmou os nervos, estimulou o valor de Vivekananda, e em seguida, se sobrep?s ?s circunst?ncias. Era a primeira vez em sua vida que se punha de p? para falar ou que se dirigia a um grande audit?rio.

Quando olhou para aquele mar de rostos expectantes, estava cheio de for?a e eloqu?ncia; e come?ando com sua voz musical, se dirigiu a seus ouvintes assim:"Irm?os e irm?s da Am?rica".

Seu triunfo foi imediato e durante todo o resto do Congresso, sua popularidade nunca diminuiu. Era escutado sempre ansiosamente e as pessoas permaneciam para ouvilo at? o final de longas se??es, em dias de forte calor. Este foi o come?o de sua obra nos Estados Unidos da Am?rica do Norte. Depois da clausura do Parlamento, e para prover as suas necessidades, o Swami aceitou a oferta de uma ag?ncia para fazer uma viagem pelo oeste. Embora continuasse a reunir grandes audit?rios, renunciou a esta ocupa??o com a qual n?o tinha afinidade. Ele era um Mestre religioso, n?o um conferencista popular de temas seculares.

P?r isso abandonou muito r?pido esta nova e proveitosa profiss?o e no in?cio de 1894 voltou a Nova Yorque para iniciar sua verdadeira miss?o.

Primeiramente visitou os amigos que havia feito, em Chicago. Estes pertenciam ?s classes mais abastadas e de vez em quando, falava em seus sal?es, mas isto tamb?m n?o o satisfazia. Sentia, que o interesse que despertava n?o era o que desejava; achava-o muito superficial, uma simples busca para passar o tempo.

Portanto, resolveu procurar um lugar adequado para si, onde todos os que buscassem, fervorosamente, a verdade, fossem ricos ou pobres, pudessem chegar livremente.

Uma confer?ncia dada na Brooklyn Ethical Association, o conduziu, rapidamente, a este independente magist?rio. O Dr. Lewis G. Janes, presidente da Association havia escutado o jovem monge hindu e, singularmente atra?do p?r seu talento e p?r sua mensagem aos homens do hemisf?rio ocidental, o convidou para falar naquela institui??o. Assim foi feito, no ?ltimo dia do ano de 1894.

Um audit?rio enorme chegava a Pouch Mansion, onde a Ethical Association realizava suas reuni?es. A confer?ncia tratava do Hinduismo e, a medida que o Swami, vestindo sua larga t?nica e turbante, explicava a antiga religi?o de sua terra natal, despertava t?o profundo interesse que, ao final da tarde haviam pedidos insistentes para que se organizasse um curso regular, no Brooklyn.

O Swami aceitou de boa vontade e realizou uma s?rie de reuni?es, assim como v?rias confer?ncias p?blicas, a Pouch Mansion e em outros lugares. Alguns dos que o tinham escutado, no Brooklyn, come?aram a acorrer para o lugar onde ele vivia, em Nova Yorque.

Era uma habita??o comum, no segundo piso de uma casa de h?spedes, e como a assist?ncia aumentava rapidamente, excedendo a capacidade das cadeiras e de um canap?; os disc?pulos se sentavam sobre o aparador, sobre as quinas do lavat?rio de m?rmore, e outros at? no ch?o, do mesmo modo que, fazia o pr?prio Swami, que sentado com as pernas cruzadas, como ? h?bito em seu pa?s, ensinava a seus ?vidos ouvintes, as grandes verdades da Vedanta.

P?r fim se sentiu totalmente iniciado em sua miss?o de entregar ao mundo ocidental a mensagem de seu Mestre, Sri Ramakrishna, que proclamava a unidade fundamental de todas as religi?es. As turmas cresciam t?o rapidamente que logo os estudantes transbordaram da pequena casa do segundo andar e foi necess?rio, ent?o, ocupar os dois grandes sal?es do andar de baixo.

Neles, o Swami ensinou suas turmas at? o fim da temporada. O ensinamento era inteiramente gratuito, enfrentando-se, os gastos essenciais, com as contribui??es volunt?rias. Sendo estas insuficientes para pagar o aluguel e atender ?s necessidades elementares do Swami, as classes estavam fadadas a terminar por falta de apoio financeiro.

Ent?o, o Swami anunciou um ciclo de confer?ncias p?blicas sobre temas seculares, pelas quais receberia remunera??o. Desta maneira obteve dinheiro para sustentar o ensinamento religioso.

Ele esclarecia que os hindus consideravam como dever de um Mestre Religioso, n?o s? dar gratuitamente seus ensinamentos, mas tamb?m, se podia faz?-lo, arcar com os gastos do seu trabalho. Em tempos passados, na ?ndia, era tamb?m comum que o mestre proporcionasse casa e alimento para os seus disc?pulos.

Naquela ?poca, alguns dos estudantes haviam chegado a se interessar t?o profundamente pelos ensinamentos do Swami, que manifestaram seu desejo de continuarem durante o ver?o. No entanto, como se sentisse cansado depois da rigorosa temporada de trabalho, a princ?pio fez obje??es ao prolongamento deste, durante a esta??o quente.

P?r outro lado, muitos dos estudantes saiam da cidade nesta ?poca do ano. O problema se resolveu p?r si mesmo: uma disc?pula do nosso grupo possu?a um pequeno chal? em Thousand Island Park, a maior ilha do rio Saint Lawrence, e o ofereceu ao Swami e ?queles entre n?s que pud?ssemos ir para l?. O plano agradou ao Swami que concordou em reunir-se a n?s, ali, depois de uma breve visita ao Maine Camp, propriedade de um de seus amigos.

A senhorita D, a estudante a quem pertencia a casa, considerando necess?rio preparar um santu?rio especial para o acontecimento, mandou construir, como carinhosa oferenda para seu Mestre, uma nova ala no edif?cio, quase t?o grande quanto o chal? j? existente.

A casa estava idealmente situada sobre um terreno alto, de onde se dominava uma ampla extens?o do lindo rio, com muitas de suas famosas Thousand Island (mil ilhas).

Ao longe, se percebia vagamente Cayton, enquanto as pr?ximas e agrestes costas canadenses limitavam a paisagem, ao norte. A casa se levantava sobre a falda de uma colina, que ao norte e a oeste, descia de forma abrupta at? as margens do rio para uma enseadazinha semelhante a um pequeno lago estendido atr?s da casa.

A casa mesmo estava literalmente constru?da sobre uma rocha e grandes penhascos apareciam estendidos ao seu redor. A nova ala do edif?cio se erguia sobre o lado rochoso como um grande farol, com janelas para os tr?s lados. Tinha tr?s pisos atr?s e s? dois na frente. A sala inferior estava ocupada p?r um dos disc?pulos.

A de cima, acess?vel pelas principais partes da casa, p?r v?rias portas, como era grande e c?moda, foi convertida em nossa sala de aula, onde todos os dias, durante horas, o Swami nos dava, familiarmente, seus ensinamentos. Em cima desta sala, estava outra, dedicada exclusivamente ao Swami. A fim de que pudesse estar inteiramente isolado, a senhorita D. providenciou para este lugar, uma escada especial, externa, embora houvesse ali, tamb?m, uma porta que dava para o segundo piso da galeria.

Esta galeria superior desempenhou um papel importante em nossas vidas, j? que ali, foi onde o Swami nos deu todas as palestras da noite. Era ampla e coberta e se estendia ao largo das costas sul e oeste do chal?.

A senhorita D. tinha o lado oeste da mesma, cuidadosamente separada p?r uma divis?o, de modo que nunca, nenhum estranho dos que freq?entemente visitavam a galeria para contemplar a magn?fica paisagem que se dominava dali, pudesse introduzir-se em nosso recinto reservado.

Ali, perto da porta da sua casa, nosso amado Mestre sentava-se todas as noites, durante nossa perman?ncia e falava para n?s que, sentados silenciosamente na obscuridade, beb?amos avidamente suas inspiradas palavras. O lugar era um verdadeiro santu?rio.

A nossos p?s, como um mar de verdor, ondulavam as copas das ?rvores, pois todo o lugar era rodeado p?r espessos bosques. N?o se divisava uma ?nica casa da grande aldeia. Era como se estiv?ssemos no cora??o de uma densa floresta, afastados por milhas e milhas, do contato com os homens.

Al?m das ?rvores, se estendia a vasta amplid?o do St. Lawrence, aqui e ali salpicado de ilhas, em algumas das quais brilhavam as luzes dos hot?is e das casas. Todas elas estavam t?o distantes que mais pareciam um quadro do que uma realidade. Nem um som humano penetrava em nosso retiro; n?o ouv?amos mais do que o zumbido dos insetos, o doce canto dos p?ssaros ou o suave suspiro do vento atrav?s das folhas.

Parte do tempo, a cena estava iluminada pelos t?nues raios de luar, cuja face se refletia ali embaixo, nas ?guas brilhantes. Neste cen?rio de encantamento, "esquecendo o mundo e p?r ele sendo esquecido", permanecemos sete venturosas semanas com nosso amado Mestre, escutando suas palavras inspiradas.

Imediatamente ap?s o jantar, todos os dias de nossa perman?ncia ali, ?amos para a galeria superior, e esper?vamos sua chegada. N?o t?nhamos muito que esperar, pois logo que est?vamos reunidos, abria-se a porta de sua casa e saia ele, com seu passo cadenciado, para ocupar seu assento habitual.

Permanecia sempre duas horas conosco e freq?entemente muito mais. Uma gloriosa noite, em que a lua chegava a sua plenitude, esteve nos falando, at? que ela desapareceu no horizonte.

Parecia estar t?o inconsciente do passar do tempo, quanto n?s. Dessas conversas, n?o foi poss?vel tomar notas, s? ficaram gravadas nos cora??es de seus ouvintes.

Nenhum de n?s poder? jamais esquecer a eleva??o, a intensa vida espiritual daquelas santificadas horas. Nestes momentos o Swami nos mostrava todo o seu cora??o, expondo tamb?m, para n?s, suas pr?prias lutas. O verdadeiro esp?rito de seu Mestre parecia falar p?r seus l?bios, para esclarecer todas as d?vidas, para responder a todas as perguntas, para dissipar todos os temores. Muitas vezes o Swami parecia n?o estar de todo consciente de nossa presen?a e ent?o, quase cont?nhamos a respira??o p?r temor de perturb?-lo e interromper o fluir dos seus pensamentos.

Levantava-se de seu assento e percorria pausadamente de um a outro extremo, os estreitos limites da galeria, jorrando uma perfeita torrente de eloq??ncia. Nunca foi mais suave, mais am?vel do que durante estas horas. Muito semelhante devia ser a maneira como seu pr?prio Grande Mestre, ensinava a seus disc?pulos, deixandoos, simplesmente escutar as efus?es de seu pr?prio esp?rito em comunh?o consigo mesmo. Era uma perp?tua inspira??o viver com um homem como Swami Vivekananda.

Desde a manh? at? a noite, sempre viv?amos numa mesma e constante atmosfera de intensa espiritualidade. Em geral brincalh?o e espirituoso, cheio de tiradas joviais e r?plicas prontas, nunca esteve, nem p?r um momento, afastado da nota dominante da sua vida. Todas as coisas lhe proporcionavam um tema ou uma ilustra??o e, num instante nos encontr?vamos passando das divertidas f?bulas da mitologia hindu, para a mais profunda filosofia.

O Swami tinha um estoque inesgot?vel de erudi??o mitol?gica e, seguramente, nenhuma ra?a ? mais dotada de mitos do que a dos antigos ?rios. Gostava de falar disso e o escut?vamos com deleite, pois nunca deixava de focalizar a realidade oculta atr?s de cada mito ou narra??o e extraia delas valiosas li??es espirituais.

Nunca existir?o estudantes t?o afortunados e com maiores motivos para se felicitar, p?r ter um Mestre t?o talentoso! P?r uma singular coincid?ncia, exatamente doze estudantes seguiram o Swami a Thousand Island Park; disse-nos que nos aceitava como verdadeiros disc?pulos e que esta era a raz?o de nos ter ensinado com tanta const?ncia e sem restri??es, dando-nos o melhor de si.

N?o pod?amos reunir os doze ao mesmo tempo; o maior n?mero dos presentes era dez, de cada vez. Posteriormente dois do nosso grupo se converteram em sannyasins, sendo ambos iniciados em Thousand Island Park.

Na oportunidade da consagra??o do segundo sannyasin, o Swami iniciou cinco de n?s como brahmacharias e mais tarde, na cidade de Nova Yorque, o resto do nosso grupo recebeu inicia??o, junto com outros disc?pulos que o Swami tinha, ali.

Foi decidido, quando fomos para Thousand Island Park, que viver?amos como em uma comunidade, fazendo cada um sua parte nos trabalhos casa, para que nenhuma presen?a estranha perturbasse a serenidade do nosso retiro. O Swami mesmo era um grande cozinheiro e muitas vezes nos preparava deliciosos pratos.

Havia aprendido a cozinhar quando, depois da morte de seu Mestre, teve que servir a seus irm?os, um grupo de jovens, seus amigos disc?pulos, a quem ensinou e manteve unidos continuando a instru??o come?ada por seu Mestre, para que eles fossem capazes de divulgar para o mundo, as verdades ensinadas p?r Sri Ramakrishna.

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