A morte do escritório [ E home office funciona



Prof. Cláudio de Almeida Fernandes – Gestão de Pequenas e Médias Empresas - PME,s

A morte do escritório [ E home office funciona? ]

Por Adriano Silva | 17/09/2009 - 15:26 FONTE: PORTAL EXAME

 

Trabalhar em casa é mesmo uma arte. Só que (ao menos para mim e ao menos até aqui) bem menos difícil de operar do que sempre imaginei. Há que seguir umas regrinhas. Como, aliás, tudo na vida. Tem o que dá certo e o que dá menos certo. (É interessante como este tema, que comecei a roçar ontem, gerou comentários bacanas. Gente que já experimentou, que tem opinião formadíssima a respeito, que é a favor e que é contra, de modo bem fundamentado. Um debate maduro para uma questão que a meu ver é premente. Apareceu a questão do controle do processo e dos funcionários, do autocontrole necessário, da expectativa de clientes e fornecedores. Muito interessante.)

 

Para mim, até agora, tem funcionado assim:

 

1. Home office pressupõe um espaço de trabalho dentro de casa. Um espaço físico isolado. Que ajude a demarcar um espaço mental bem definido. A porta tem que estar fechada. A cabeça tem que estar focada. A rotina da casa da casa não pode interferir. As questões domésticas têm que ser resolvidas fora do horário de trabalho. Você não está disponível. Você está trabalhando.

 

2. É preciso tirar o pijama. A roupa é um signo importante. E vestir-se para trabalhar é um ritual de passagem igualmente necessário. Você está indo trabalhar. Você não está doente, nem vai para a piscina, nem está no quintal ou de férias. Você está indo para o escritório. Só que ele fica na sua casa: você vai andar alguns passos ao invés de vários quilômetros.

 

3. É preciso ter hora para começar e hora para acabar. É preciso acordar na hora devida. E desligar o computador e desconectar-se do escritório, do trabalho, na hora certa.

 

O que eu mais tenho curtido até agora, além de não perder tanto tempo de vida trancafiado dentro do carro, são os breaks com meus filhos. Faço um ou dois ao longo da tarde. São cinco minutos de alegria, de farra, de presença.Acho que é isso o que querem dizer com o conceito de "quality time". É a hora do beijo, do abraço, da luta no chão, das cócegas, dos cheiros, de uma ou outra brincadeira rápida. (Meu filho está curtindo agora um filme novo que apresentei a ele esses dias e que ele chama de "Guerra de espadas nas estrelas"...) Depois troco de universo de novo, de dimensão, e o dia de trabalho segue. Eles têm 4 anos e, acredite, entendem e respeitam. E acredito que sintam quase tanto prazer nessa nova rotina do papai quanto eu. Temos almoçado juntos ao menos três vezes por semana. Temos tomado banho juntos no mínimo esse tanto de vezes. Daqui do meu lado, decidi que não serei um daqueles caras que afirmam, chateados: "não vi meus filhos crescerem". Estou vendo tudo bem de perto. De olhos bem abertos. E o home office tem me ajudado muito com isso.

 

A morte do escritório [ E a equipe? ]

Por Adriano Silva | 16/09/2009 - 19:03

Há uns dois meses, deixei de freqüentar o escritório. Estava amadurecendo essa decisão e, de repente, a tomei. Passei a trabalhar em casa. Meu editor-chefe, no Gizmodo, também estava louco para trabalhar de casa. E aproveitou a minha deixa para fazê-lo. Segundo o próprio, tem uma máquina e uma conexão melhores em casa do que tinha no escritório. E o trabalho dele, o serviço que me presta, depende grandemente de velocidade de máquina, de processamento e de conexão. Mas o ponto não é esse. Embora seja notável que as pessoas físicas hoje, não raro, estejam melhor equipadas do que as jurídicas. O ponto é que ele está mais feliz por fazer seu trabalho sem perder duas ou três horas por dia no trânsito de São Paulo. E parece render melhor mesmo trabalhando de lá, onde pode ouvir música alta enquanto apura, escreve e edita. Ele aproveitou a minha deixa e o estagiário aproveitou a deixa dele: também está trabalhando de casa. Nossos tradutores e nossos colaboradores já trabalhavam de modo remoto desde sempre.

 

Minha experiência gerindo uma equipe virtual? Absolutamente tranquila. Nos falamos por telefone sempre que preciso. Ou por sms. Ou por e-mail. E, se precisássemos, ainda teríamos à disposição o MSN, o Skype, o GTalk. (Eles, claro, já operando corriqueiramente com essas novas ferramentas. Eu é que ainda resisto um pouco. Sou da geração e-mail. Que, reconheço, já é um formato bem antiquado.) Nos reunimos presencialmente semanalmente, para uma reunião de avaliação da semana que passou, de planejamento da semana que está por vir, de olho no olho, de solução de problemas, de ajuste de expectativas, de reafirmação de metas e compromissos. Essa reunião é bem necessária para que as coisas não fiquem muito soltas. O trabalho remoto requer, é o que estou aprendendo, um momento periódico de proximidade física. O que é interessante é que o fato de não nos vermos todo dia, confinados em baias vizinhas, respirando o mesmo ar, tem feito com que esses encontros sejam bem, bem agradáveis. Não digo que eles sintam saudades de mim. Mas acho que nunca estivemos tão à vontade, chefe e subordinados.

 

Ou seja: o escritório simplesmente deixou de fazer sentido para a gente. Perdeu a função. Virou um negócio anacrônico. Custoso em termos de grana e de tempo e de desgaste de relacionamentos. Fazemos todos o que temos que fazer melhor sem ele. E com muito mais alegria. Tendo que conviver, cada um de nós, somente com as suas próprias neuroses, não com as dos outros. Estou gostando muito.

 

Ode aos assistentes que trabalham até tarde

Por Adriano Silva | 16/09/2009 - 01:34

Dou o braço a torcer. Quando eu era executivo, e tinha uma equipe de marketing trabalhando para mim, eu não sabia o que era montar propostas. Eu achava que sabia. Era assim: eu ia em reunião com cliente e tinha uma assistente tomando nota, fazendo a pauta. Eu no máximo anotava os tópicos. Depois voltava para o escritório, reunia o time, fazíamos o brainstorming para encontrar a melhor solução ao briefing passado pelo cliente. Eu no máximo rabiscava alguma coisa. Um esquema visual, uma lista de bullets. Então passava o papel de pão amassado, o guardanapo com as garatujas para uma brava gerente de produto ou assistente de marketing. E a próxima coisa que eu enxergava era uma bela apresentação no PowerPoint. Com fundos, animações, imagens, efeitos. Aquilo, para mim, era default. E por isso eu dava de barato. Já tinha esquecido dos tempos em que eu mesmo era um assistente de marketing. Na minha época, quando comecei, no início dos anos 90, não havia PowerPoint. Os computadores tinham tela de fósforo verde, não havia mouse e o máximo em sofisticação era o Lotus 123. Mas isso não me serve de desculpa. Eu trabalhava muito. Não devia ter esquecido disso. Nem minimizado o tanto de sangue que se dá na trincheira operacional.

O ponto é que agora, como empreendedor, como empresário de uma start-up, voltei a ter um contato corporal com a operação. Nenhum dos confortos da vida executiva acompanha quem decide avançar pelo caminho do negócio próprio. Ao menos no começo. Ao menos no soft opening pouco capitalizado que foi o caminho que se apresentou para mim. Aí você faz tudo. Não dá mais para ficar só bolando. Você prospecta, você vai à reunião, você bola o projeto, você precifica, você monta a apresentação, você vende, você faz o follow-up, você assina o contrato. E aí é que o trabalho começa de verdade: você é que tem que entregar o que você vendeu. E depois, ainda, fazer o pós-venda. Montar a proposta de renovação. E começar tudo de novo. Você, você, você. Tudo você.

Ah, se eu pudesse pedir desculpas àquelas meninas e àqueles meninos que me atendiam, pelos tantos momentos de insensibilidade e de cobrança possivelmente exagerada, acelerada, impaciente, eu o faria agora. Diria assim: me desculpem. Agora eu sei por que as apresentações não ficavam prontas de um dia para o outro. Agora eu compreendo os serões.

 

 

A arte da sobrevivência corporativa

Por Adriano Silva | 14/09/2009 - 19:27

 

Conheci um cara que era mestre nisso: sobreviver na empresa. Se você imagina que a sua receita incluía construir uma obra inegável, inatacável e indelével dentro da companhia, errou. Se você imagina que a sua maneira de se perpetuar era carpir o próprio talento, gerar resultado, melhorar os negócios pelos quais passou, também errou. Assim como está errado também quem imagina que a fórmula de sucesso desse expoente na arte da sobrevivência corporativa passava por descobrir gente, formar gente, inspirar gente. Ou por se tornar necessário e insubstituível à custa de competência pura e simples. Nada disso. Muito ao contrário. Saiba, acredite, esse sujeito é uma lição ambulante de como as coisas funcionam na maioria das empresas.

 

A primeira regra: não ter espinha dorsal. Ser como água: adequar-se ao invólucro. Ainda que adaptar-se de tal modo ao contingente signifique não ter conteúdo. Ser flexível como geleca. Ser invisível, amorfo. Não ter grandes convicções. Ou estar pronto para revê-las rapidamente, de modo a concordar sempre com quem interessa no momento. Esse tipo de cara não expressa jamais as próprias idéias. E só confronta quem lhe parece um adversário seguro, quem está alguns degraus hierárquicos abaixo e, portanto, indefeso. Aí ele se esbalda. E vomita sobre o subordinado tudo que engoliu dos superiores e pares. Empresas adoram esse tipo de gente. Os Yesmen. As Yeswomen. Empresas buscam mantenedores. E têm asco de quem cria, questiona e pergunta por quê. Gente assim é incômoda. Gente bacana cumpre ordens, não tem second thoughts, não enche o saco. Esperar que seu chefe o convença é demandar demais dele. É exigir que ele seja um líder e não um chefe. Isso não é coisa bem vista. Então chefes e corporações gostam mesmo é de funcionário tarefeiro. O gerente que nunca vai virar um diretor é, para a maioria dos diretores, o gerente ideal. 

 

Este meu pobre amigo rico, esse miserável e bem-sucedido executivo, compreendeu tudo isso melhor do que ninguém. E executa no seu dia-a-dia a sua arte de ser invertebrado com especial competência. Ele faz sempre a conta de chegada, não a conta certa. Ele pensa sempre no que é conveniente, não no que é correto. Ele diz sempre o que seu superior quer ouvir, não o que está pensando de verdade. Ele decide sempre pensando no que o chefe vai achar, não pelo que é melhor.

 

A arte de dar a cara a tapa

Por Adriano Silva | 11/09/2009 - 08:00

Esta semana a gente discutiu um pouco o caminho editorial do blog. Eu abri meu plano de vôo. Para que ninguém se sinta desiludido por estarmos indo para o oeste quando na verdade imaginou que iríamos para o lado oposto. O destino desse blog é o coração da mata. É desbravar territórios virgens, selvagens, melífluos, obscuros. Eu não sei onde tudo isso vai dar. Mas o convido a vir junto mesmo assim. Ajudar a procurar. É nessa busca que a gente tem mais chance se encontrar.

Para quem fica constrangido de ver um homem do meu tamanho se mostrando tão obscenamente, republico aqui um artigo que escrevi há pouco mais de um ano. Como afirmação da ingenuidade que dá nome e que está na essência desse blog. E também da utilidade que isso possa ter em sua vida. Ótimo findi. Sigamos juntos.

Souza, centroavante do Flamengo, disputou 40 partidas com a camisa rubro-negra até o final do ano passado [ 2007 ], marcando 15 gols. Uma média de 0,37 gols por partida. A torcida adora vaiar Souza, pegar no pé de Souza, espezinhar Souza. Obina, o outro centroavante do Flamengo, jogou 106 partidas pelo clube até o último dezembro e marcou 32 gols. Média: 0,30. A torcida adora Obina, incensa Obina, clama por Obina. Quanto mais gols Souza marca, mais forte ecoa pelas arquibancadas o nome de Obina. Tem sido assim. Aconteceu recentemente contra o São Paulo no Maracanã.

 

Esse descompasso entre o desempenho objetivo de Souza e a imagem que ele projeta, entre os resultados que ele produz e o que recebe em troca não é de agora. Souza já foi artilheiro do Brasileirão, vice-artilheiro do Brasileirão, já decidiu no bico da sua chuteira campeonatos estaduais para Goiás e Inter. Já foi decisivo em várias partidas pelo próprio Flamengo. No entanto, nunca deixou de ser atazanado pelas torcidas com que conviveu. Nunca ganhou a confiança dos clubes, nunca foi alçado ao panteão dos goleadores aos quais somos eternamente gratos. Souza tem deixado gols e conquistas por onde passa. Contraditoriamente, não tem deixado saudades. Não tem conseguido formar laços emocionais consistentes, por mais que, racionalmente, tenha feito a sua lição de casa.

 

Alguém dirá que Souza irrita porque erra mais do que acerta. Um argumento fácil e frágil. Talvez Souza erre mais simplesmente porque tenta mais, porque não se esconde em campo com medo de não acertar uma jogada ou uma finalização. A verdadeira questão, para Souza, é outra: ele tem o dom de chamar para si a ofensa, a injúria, o achincalhe. Trata-se de um viés subjetivo que a análise fria dos fatos não ajuda a deslindar. Souza é daquelas pessoas com tendência a serem pegas para cristo. E nisso temos, ele e eu, algo em comum. Somos de uma estirpe cujo tom de voz, o jeito de olhar, de caminhar, os gestos, o penteado, os trejeitos, as expressões faciais, a postura corporal, o modo de se posicionar diante de certas questões e de certas audiências, enfim, alguma coisa, qualquer coisa, funciona aos olhos dos outros como um convite à agressão, à farra do linchamento moral, como uma licença para enfiar a faca até o cabo sem sofrer represália ou retaliação. Esses sinais são decodificados e fazem a alegria especialmente de uma certa estirpe de gente - os perversos, os canalhas, os pusilânimes, os mal-intencionados em geral.

O ponto, para Souza e também para mim, é que tem gente com carisma, com facilidade para se fazer querida, para ser aceita, para seduzir, para encantar e conquistar sem esforço. Gente com habilidade para sentar sempre nos melhores lugares, freqüentar só as melhores turmas -- e assim se blindar contra a crueldade alheia. E há gente que nasceu para ser gauche na vida. Que pode fazer tudo certinho mas não tem o charme, esse importante élan social. Viola, com seu jeito de Cuba Gooding Jr. de Itaquera, sacava uma pistola imaginária do bolso ao comemorar um gol - ou um arco e flecha, a la John Rambo - e a galera ia ao delírio, e a crítica ficava mesmerizada com aquela erupção de charme do gueto. Souza, ano passado, comemorou um gol com uma espingarda virtual e foi execrado nacionalmente. Faltou pouco para ser responsabilizado por toda a violência do Rio de Janeiro. A você, portanto, bravo companheiro de sina, minha solidariedade. E votos de que o paradoxo que o assola se aguce ainda mais: quanto mais injustos e covardes forem com você, que mais gols você marque e mais faixas você pendure no peito. Só não espere aplauso e tapinha nas costas. Eles não virão para você.

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