2 - Inicial — UFRGS
A trajetória dos radialistas políticos em Santa Maria/RS: do rádio de serviços ao assistencialismo
Janine Marques Passini Lucht (professora da ESPM-SP e doutoranda em Comunicação pela UMESP)
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo resgatar a trajetória dos radialistas políticos no município de Santa Maria-RS, localizado a 270 KM da capital gaúcha, em especial a partir da década de 80, quando o fenômeno ganhou força com a reabertura política. Ao longo do trabalho, baseado em documentos históricos, entrevistas e acervos pessoais dos próprios comunicadores, fica clara a prevalência dos gêneros de prestação de serviços, policial e esportivo na composição das carreiras desses profissionais. A pesquisa recupera o trabalho deles, desde o popular Ivory Gomes de Mello, o “Cerejinha”, até o jovem Marcelo Bisogno. Muitos desses radialistas tiveram relevantes atuações no campo político local, com sucessivos mandatos eleitorais.
Palavras-chave: história do rádio, radialistas políticos, Santa Maria, Rio Grande do Sul.
A relação entre Rádio e Política em Santa Maria
Na eleição do dia 03 de outubro de 2004, dos cento e quarenta e três candidatos a vereador em Santa Maria- RS (localiada a 270 KM da capital Poarto Alegre), doze eram radialistas e um jornalista[1], o que corresponde a 9,02% do total. Três conseguiram uma vaga na Câmara Municipal: João Carlos Maciel, do PMDB, foi eleito pela primeira vez; Isaías do Amaral Romero, do PDT, e Cláudio Rosa, do PMDB, foram eleitos para o quarto mandato cada um. Porém, Cláudio Rosa está afastado do rádio desde a primeira vez em que foi eleito, em 1992. Até aquela oportunidade, era funcionário de uma emissora em São Pedro do Sul, pequeno município localizado a cerca de 30Km de Santa Maria.
No pleito anterior, em 2000, foram treze candidatos da chamada “bancada do microfone”, que engloba radialistas e jornalistas, correspondendo a 9,09%. Desses, cinco foram eleitos[2]. A redução de cadeiras, de 21 para 14, acirrou a disputa eleitoral, mas a proporção de radialistas eleitos cresceu, de 23,80%, em 2000, para 28,57% em 2004.
Um levantamento do jornal A Razão[3] mostrou a redução da bancada dos radialistas, contabilizando os votos destinados a esse tipo de candidato: a cada 100 votos, 14,69 foram dados a “quem fala, ou esbraveja, em alguns casos, pelos microfones radiofônicos da cidade”. A cifra equivale a 21.662 dos 147.412 votos válidos no município. Na matéria, o colunista considera Loreni da Silva Maciel como radialista, mesmo sabendo que o rádio não influiu na sua eleição, já que o candidato é ex-policial ferroviário, ex-diretor geral da Secretaria de Viação e Transportes em Santa Maria e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Dilermando de Aguiar, antigo distrito de Santa Maria.
Panorama do rádio em Santa Maria
Em Santa Maria, existem hoje cinco emissoras AM (Imembuí, Santamariense, Guarathan, Medianeira e Universidade), seis FM’s (Atlântida, Medianeira, Pampa, CDN – Central Difusora de Notícias - , Nativa e Pop Rock), uma em Ondas Curtas (Transmundial), dois canais de televisão (RBS TV e Rede Pampa) e dois jornais diários (A Razão e Diário de Santa Maria), além do periódico editado semanalmente, chamado “A Cidade”. Entre as de Amplitude Modulada, duas são consideradas de audiência popular (Medianeira AM e Santamariense AM), conforme conceito proposto por María Cristina Mata (1988). As demais são segmentadas em jornalismo e esporte. Entre as FM’s, apenas uma, a CDN (Central de Notícias), adota o estilo talk and news e é afiliada da Rede Gaúcha Sat de Porto Alegre.
Da prestação de serviços ao assistencialismo: a trajetória dos radialistas políticos em Santa Maria
Em Santa Maria/RS, o uso do rádio - esse meio popular e massivo - para conquistar ouvintes e seus votos remonta à década de 60. Nas eleições de 08 de novembro de 1959, o músico e apresentador de rádio, semi-analfabeto, Ivory Gomes de Mello, o “Cerejinha” concorreu pela primeira vez a um cargo público. A decepção nas urnas (obteve apenas 208 votos, quando o coeficiente eleitoral era de 1.548 votos) o deixou de fora da disputa em 63. Nesse pleito, Fernando Adão Schmidt, jornalista e economista, foi eleito[4].
Nas eleições subseqüentes, “Cerejinha” obteve excelentes votações pela Arena, conquistando seu espaço na Câmara de Vereadores em 1968, 1972 e 1976. O comunicador, que faleceu em 1994, é reconhecido até hoje como o maior fenômeno que o rádio santa-mariense já teve. Sua trajetória inspirou inúmeros sucessores, que eram crianças ou jovens durante seu apogeu. Depois dele, outros tantos surgiram e muitos obtiveram fama. Fernando Adão, depois de um longo período afastado das urnas, retornou à Câmara no início da Nova República, como suplente em 1992.
Outro jornalista cuja atuação eloqüente no rádio teve influência sobre o resultado nas urnas foi Arnaldo Souza, o “Sabe-tudo”, falecido em 1992. Baseado no discurso denunciatório e combativo, tanto atraía a simpatia dos ouvintes (e potenciais eleitores) quanto causava repulsa em seus opositores. Em três legislaturas, foi o candidato mais votado pelo MDB, em 1976, com 4.908 votos; o 21º colocado no cômputo geral em 1982, pelo PDT, com 866 votos e, em sua última candidatura, recuperou o prestígio, chegando a segundo mais votado, pelo PDT, com 2.088 votos.
Vicente Paulo Bisogno, Clédio Callegaro e Isaías Romero são outros exemplos de radialistas cuja atuação profissional condicionou o ingresso na política ainda na década de 80. Mas ao contrário do resto do país, onde o fenômeno perdeu força com o fortalecimento da democracia, em Santa Maria ele ainda tem um espaço privilegiado. Prova disso é o número de candidatos radialistas que se aventuram nas urnas em eleições sucessivas. Em 2004, dos 133 candidatos, doze eram radialistas e um jornalista. Paulo Sidinei e Marcelo Bisogno também são exemplos desse tipo específico de profissionais. Eleitos no final da década de 90, Sidinei obteve uma votação expressiva (3.409 votos) e Marcelo chegou à Câmara de Vereadores aos 26 anos. Em comum, todos têm a paixão pelo rádio e o fato de que dele tiram seu sustento.
Neste trabalho pretende-se, portanto, recuperar a trajetória desses profissionais que, ao longo de cinco décadas, utilizam o meio rádio como forma de fortalecer a comunicação com a população, prestar serviço e contribuir para o resgate da cidadania dos santa-marienses, ao mesmo tempo em que se beneficiam politicamente dessa relação.
A seguir os oito radialistas políticos de Santa Maria serão retratados, caso a caso, conforme uma ordem cronológica de ingresso na Câmara de Vereadores.
Ivory Gomes de Mello – “Cerejinha”
Em 1955, Ivory forma a primeira dupla caipira do interior do Rio Grande do Sul: “Cerejinha e Guavirova”. A atração permaneceu durante quinze anos no ar, até se transformar em “Ranchinho Beira-chão”. O programa dominical foi o primeiro a ter auditório e ia ao ar das 9h às 10h. Um ano depois, desfizeram a dupla. Foi preciso encontrar outro parceiro: surgia assim, “Cerejinha e Santinho”.
Em 1957, Ivory criou o programa “Alvorada na fazenda”, veiculado de segunda a sábado, das 6h às 7h, inicialmente. A década de 50 foi bastante promissora para Cerejinha. A cada ano, surgia um novo programa, ganhando sempre mais espaço. Isso era reflexo do sucesso que fazia aquele caipira semi-analfabeto, que se comunicava com o público de maneira simples, mas com grande cumplicidade. Em 1958, surge o “Rodeio na Querência”, programa que atraía multidões do interior para visitar e acompanhar a transmissão no estúdio. Com o auditório de capacidade para 400 pessoas, sempre lotado, agitava a cidade das 14h às 15h de domingo.
Numa época em que o correio praticamente não existia, o programa “Violeiros e Cantadores” fazia o serviço por meio de ondas eletromagnéticas. A quantidade de músicas era pequena. Em compensação, recados, avisos e pedidos não faltavam. Segundo relato de Mário Manarin[5], amigo de Ivory, durante a ditadura o serviço de utilidade pública foi “censurado”. Como o correio tentava estabelecer uma rede de distribuição na cidade, o apresentador foi comunicado que não poderia transmitir recados de determinadas regiões da cidade, para não formar concorrência com a estatal.
O ingresso na política: “a fama que elege - a celebridade que virou vereador”
Devido à sua popularidade, foi convidado a entrar na política em 1959, pela UDN (União Democrática Nacional). A estréia foi frustrante. Para a eleição a uma das 15 vagas na Câmara de Vereadores, seriam necessários, no mínimo, 400 votos, mas Ivory só obteve 208.
Em 1963, não concorreu e no pleito seguinte, em 1968, foi eleito com 2.691 votos, tornando-se o primeiro apresentador de programa radiofônico de Santa Maria a conquistar uma vaga na política[6]. Iniciava, neste momento, uma vocação da cidade, conhecida até então como a “cidade cultura”, “cidade universitária”.
Na manchete de capa do jornal local, o título “Santa Maria elege um violeiro” provocou a ira de Ivory, como conta Manarin.
Em 1972, foi reeleito para o período 1973/1976, sendo o mais votado com 3.816 votos. Foi a primeira legislatura a ter 21 vereadores. Até outubro de 75 o mandato era gratuito, ou seja, os vereadores não recebiam para exercer o cargo.
Manarin recorda que a campanha à época era feita de porta em porta. Através do programa de rádio conseguia alimentos e arrecadava fundos a fim de comprar equipamentos para os ouvintes necessitados, como aconteceu com o acordeom para “Chiquinha”, uma moça cega. A adesão foi tão grande por parte da população, que o programa juntou dinheiro para comprar vários instrumentos. Através do rádio, Cerejinha também ajudava o asilo “Lar das Vovozinhas”.
Em 1976, foi o quinto vereador mais votado pela Arena, que elegeu dez edis, com 1.486 votos.
Arnaldo Francisco Rosado de Souza
Arnaldo Souza nasceu em Porto Alegre, no dia 11 de julho de 1944. Começou a carreira profissional como locutor e animador de circo. Numa das viagens pelo estado com o grupo, conheceu Santa Maria. De lá, nunca mais saiu.
Arnaldo teve várias passagens pelas emissoras santa-marienses e também na capital gaúcha. Iniciou na Santamariense com o programa “Disparada”, uma atração poético-musical, em 1974. Em seguida, transferiu-se para a Imembuí, onde criou o programa mais famoso de sua carreira, o “Sabe-tudo”. O apelido ficou conhecido em toda a cidade, pelas características do apresentador. De volta à Santamariense, era responsável pela produção, já que não contava com o apoio de reportagem na equipe. Polícia, educação e saúde eram os temas prediletos do apresentador. A veemência com que declarava suas opiniões atraía ouvintes, conforme lembram contemporâneos de Arnaldo.
“Prato do dia” e “Polícia e justiça” também foram programas comandados por Arnaldo na Imembuí, durante o horário do meio-dia até o início da tarde.
Um problema da comunidade logo era transformado em polêmica e a questão era resolvida. Apesar de dar ênfase à informação jornalística, o comunicador também fazia assistencialismo. Mas, segundo Roberto Souza[7], naquela época as doações de alimentos, remédios, cadeiras de rodas, material de construção e até geladeiras eram feitas com o próprio dinheiro do apresentador, que não ganhava salário como vereador[8]. Hoje, pelo contrário, muitos radialistas apenas intermedeiam as trocas, ou então, conseguem lojas patrocinadoras, que também vêem no assistencialismo uma forma de capitalizar opinião pública favorável.
O ingresso na política: cobrança e denúncia – o “Sabe-tudo em ação”
Arnaldo Souza foi um dos fundadores do antigo PTB na cidade. Com a perda da sigla, ajudou a fundar o PDT em Santa Maria. Brizolista “de carteirinha”, era contra a troca de sigla. Por esse motivo, chegou a brigar com outros políticos da cidade. Mas o novo partido surgiu forte no município: já em 1988 tinha seis vereadores na bancada. A forte identificação com o trabalhismo contribuía para que os políticos do partido tivessem a simpatia do eleitorado, ainda sob os efeitos da ditadura.
Em 1976, concorreu pela primeira vez a uma vaga na Câmara de Vereadores, tendo obtido a maior votação da história da cidade até então – 4.908 votos –, proporcionalmente, e também um recorde de votação no estado, conforme o jornal A Razão do dia 20 de novembro de 1976.
Em 1982, a primeira eleição geral depois da abertura política em 79, Arnaldo obteve 866 votos, sendo o último colocado entre todos os candidatos eleitos. Nessa oportunidade, o PDT compôs uma bancada com seis vereadores.
No pleito seguinte, em 1988, o radialista político recuperou o prestígio e conseguiu a segunda colocação da bancada pedetista, com 2.088 votos. Ao todo, Arnaldo representou a população santa-mariense na Câmara de Vereadores por 12 anos, de 1977 até seu prematuro falecimento, no início da década de 90.
Pelo rádio, podia denunciar aquilo que considerava errado na sociedade. Julgava-se um representante da comunidade. Como o trabalho na Câmara era limitado e acessível a poucos – como acontece até hoje – Arnaldo usava a tribuna eletrônica. Em seus discursos, costumava reclamar que o povo não tinha conhecimento das discussões travadas em plenário, desconhecendo as próprias leis do município.
Arnaldo faleceu em 08 de maio de 1990, menos de 20 dias depois de perder a convenção do PDT, realizada em 20/04/90, por um voto, na qual era pré-candidato à Câmara Federal.
Clédio Callegaro
Clédio Callegaro[9] nasceu em Jaguari, em 12 de março de 1961. Dez anos mais tarde, mudou-se para Santa Maria. Seu primeiro emprego foi na antiga joalheria Casa Masson, no centro da cidade. Sua carreira teve início a partir da sugestão de uma cliente da loja onde trabalhava como empacotador. O incentivo da cliente foi o primeiro passo. A partir daí, dedicou seu horário de almoço a brincar com a aparelhagem de som da empresa, lendo poesias, comerciais publicados nos jornais e, claro, narrando futebol.
Em pouco tempo, recebeu um convite para trabalhar na Rádio Guarathan. O primeiro teste foi em 1976. O proprietário da emissora pediu que Clédio lesse o noticiário da hora, ao vivo, no estúdio principal, prática comum à época. Aos 22 anos, foi contratado pela Rádio Santamariense, onde trabalhou por um ano como locutor. Teve passagens por 17 emissoras de vários estados, entre eles, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Trabalhou como locutor noticiarista, repórter e apresentador. No início, cobria a área policial.
Callegaro sempre teve grande inspiração no trabalho desenvolvido pelo radialista Sérgio Zambiasi, apresentador do “Comando Maior” na Rádio Farroupilha, em Porto Alegre, desde 1983[10]. Em 1987, Clédio começava o programa “Show Maior”, das 7h às 14h30, na Rádio Medianeira, numa alusão ao programa do ídolo, eleito em 1986 para deputado estadual, pelo PMDB, com a maior votação da história da Assembléia Legislativa: 365.381 votos.
Em 1997, voltou para a Santamariense, onde passou a apresentar o Show da Tarde, programa diário, com duração de duas horas. A atração mantinha os moldes do programa anterior, procurando voltar a comunicação à comunidade, com quadros que exaltavam a fé e a assistência social.
Durante o programa, distribui cadeiras de rodas, colchões d’água, muletas, óculos, etc. A participação do ouvinte por telefone é fundamental para Clédio: “quando não há a possibilidade de usar este recurso, o programa perde 50% da atratividade”.
Há dois anos, a programação da emissora sofreu uma reformulação. Callegaro passou, então, a apresentar o Show da Noite, das 20h às 23h. E, em março de 2004, com a saída de Isaías Romero da emissora, o apresentador “ganhou” mais uma hora de programa, ficando no ar até a meia-noite.
O ingresso na política: “o rádio é uma alavanca”
Clédio Callegaro é hoje o radialista vereador com o maior número de mandatos em Santa Maria. Foi eleito pela primeira vez em 1988, com 1.410 votos, e reeleito em 1992, com 1.365 votos. Na eleição seguinte, em 1996, assumiu como suplente, tendo obtido 1.023 votos, ou 0,84% do total válido. Em 2000, retornou à Casa como vereador eleito por média, ao receber 1.129 votos, ou 0,84% dos votos válidos. Ao tentar o quinto mandato, no pleito de 03 de outubro de 2004, foi derrotado com apenas 605 votos, sendo o 65º mais votado no cômputo geral e o oitavo mais votado do partido, que só elegeu um vereador para a legislatura 2005-2008.
Conforme Clédio, o rádio teve e tem participação fundamental em todas as eleições que participou. Para ele, mais da metade dos votos foram decorrentes do empenho em seu programa diário. O início do trabalho assistencialista e comunitário coincide com sua primeira eleição. O comunicador tem consciência de que o meio serviu de alavanca para sua candidatura, mas diz que hoje procura separar o profissional do político, embora não seja fácil. “Os ouvintes confundem as atuações”, completa.
Vicente Paulo Bisogno
Nascido em 20 de setembro de 1951, como todo menino, gostava de futebol e, em casa, jogava sozinho, enquanto narrava os momentos decisivos da partida. Aos poucos, percebeu que mais do que jogar, queria transmitir aquelas emoções para um público ainda maior.
A oportunidade surgiu em 1966, quando ele tinha 15 anos e ainda cursava o “científico”. Como tinha ingressado na escola um ano antes do normal, decidiu arriscar e apostar na carreira que aparentava ser promissora. Foi contratado pela Rádio Santamariense como locutor, mas só em 1º de novembro de 1967 teve a carteira de trabalho assinada.
Em 1969, foi para a mais importante emissora da época, a Rádio Imembuí, realizando também um sonho, já que, segundo Bisogno, a estação exercia certo fascínio sobre os jornalistas da época, pela qualidade de programação e estrutura. Sua primeira tarefa foi fazer a locução comercial do programa do Cerejinha, o campeão de audiência na época. Lá ficou até 1973, quando decidiu tentar a vida na capital do estado, Porto Alegre.
Dois anos antes, ao saber de um concurso para narrador na Rádio Gaúcha, juntou as economias e viajou a Porto Alegre para fazer o teste. Quando chegou, surge a frustração. As inscrições já eram mais de quinhentas e a emissora não estava mais aceitando nenhuma naquele momento.
Na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, trabalhou durante dois anos no departamento de esportes. Chegou a substituir José Aldair na locução do Correspondente Gboex (hoje Ipiranga), o mais importante da emissora. Também fez coberturas esportivas para o jornal Zero Hora e apresentou durante três meses o segmento esportivo do Jornal do Almoço, na RBS TV.
Em 1975, recebeu uma proposta da Rádio Guarathan para voltar a Santa Maria. Enquanto acertava os últimos detalhes da contratação, o diretor da Imembuí, Antônio Abelin, ficou sabendo e fez uma proposta irrecusável: criar um novo programa para fazer frente ao sucesso de Arnaldo Souza com o “Sabe-tudo”, que estava deixando a emissora pela Santamariense. Assim surgiu o “Controle Geral”, no ar até hoje. A idéia inicial era a de fazer um programa de variedades, diário, com 3 horas de duração, (das 7h às 10h), voltado ao jornalismo, com espaço para reportagens e entrevistas, mesclando com atrações musicais. Mas com o passar do tempo, a música foi sendo reduzida, de duas canções a cada meia hora, passou para uma e depois só para encerrar o programa. Isso, na opinião do apresentador, foi uma conseqüência à necessidade de informação dos próprios ouvintes.
O investimento da Rádio Imembuí foi grande. No início, a equipe era composta por vinte pessoas, entre produtores, repórteres e correspondentes. A estrutura permitia manter diversos correspondentes, em Brasília, Porto Alegre e São Paulo. Pelo menos três vezes por semana personalidades nacionais eram entrevistadas no programa.
As vinhetas e chamadas do novo programa foram todas gravadas por renomados locutores de Porto Alegre, impondo mais qualidade ao novo produto que surgia. O primeiro programa foi feito na Cohab Tancredo Neves, um dos maiores núcleos habitacionais da cidade. Como entrevistado, foi convidado o Comandante Geral da Brigada Militar. O grupo também inovou, utilizando uma unidade móvel para a reportagem.
Tempos depois, o próprio Arnaldo Souza integrou-se à equipe do “Controle Geral”, fazendo reportagem policial e geral.
O início na política - “o rádio ajuda, mas não elege”
Vicente acredita que concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez pela força que obteve através do rádio.
Por meio do Controle Geral, propunha debates muito “fortes” sobre diversos temas, visitando bairros e vilas da cidade, trazendo autoridades e pressionando-as por soluções rápidas e consistentes.
Em pouco tempo, o programa passou a cumprir a função de, não apenas apresentar os problemas da cidade, mas apontar soluções. Com o sucesso do programa, passou a ser assediado por partidos. Foi convidado pelo então prefeito José Haidar Farret (PDS), que exercia seu segundo mandato, para trabalhar como assessor de imprensa da prefeitura. Como fazia muitas críticas à administração municipal, em princípio, não acreditou que o convite era verdadeiro.
Com o Controle Geral no ar há mais de uma década, na metade da década de 80 foi-se dando conta de que a atividade pública tinha o poder de resolver os problemas levantados no programa de rádio. O assédio era grande por vários partidos. Antes de decidir em que partido ingressar, permitiu-se uma grande reflexão, que culminou com a escolha pelo PDT.
Vicente afirma que foi cobrado por muitas pessoas a ingressar na política, já que durante o programa apontava as falhas do sistema e quando surgia a oportunidade de fazer alguma coisa pelo povo ele não estava aceitando o desafio.
Em 1988 concorreu, então, pela primeira vez a uma vaga na Câmara de Vereadores. Obteve 968 votos, ficando como primeiro suplente pelo PDT. Depois da morte de Arnaldo Souza, assumiu a vaga como titular. O insucesso da estréia é atribuído por ele à inexperiência em efetuar a campanha: “tudo o que eu tinha era a experiência no comando do programa ‘Controle Geral’ por 13 anos e a força do rádio. Não sabia buscar ou fazer votos”. No entanto, na reeleição, em 1992, o candidato não era mais só “radialista”, segundo afirma, pois a população já conhecia seu trabalho como vereador. Assim, conseguiu conquistar 1.884 votos pela coligação PDT-PTB, sendo o oitavo mais votado entre os 21 eleitos. O resultado trouxe, também, mais respaldo dentro do próprio partido, que passou a considerá-lo como forte candidato às eleições seguintes. Em 1994, concorreu à Assembléia Legislativa, obtendo 16.565 votos pela coligação PDT – PMN – PAN. E em 2002, tentou uma vaga na Câmara Federal, sem sucesso, com 24.879 votos, pela coligação PDT – PAN. Em seu currículo estão presentes também as duas candidaturas a vice-prefeito de Santa Maria: em 2000 e em 2004.
Isaías do Amaral Romero
Natural de Santa Maria, nascido em 03 de setembro de 1957, Romero afirma que descobriu cedo sua vocação. Ainda criança, narrava jogos imaginários, desejando um dia se tornar repórter. O primeiro emprego como radialista foi na Rádio Imembuí, em 1977. O comunicador lembra da dificuldade encontrada logo nos primeiros momentos da vida profissional, mas diz que superou os obstáculos. Considera-se uma pessoa “predestinada” ao sucesso.
Nunca quis investir na função de locutor. Como repórter, orgulha-se de fazer entrevistas sobre qualquer assunto, principalmente na área policial. Afirma que já leu muito sobre a técnica radiofônica, considerando-se um excelente profissional. Mas que para fazer sucesso, é preciso ter o “dom”.
Quanto ao estilo empregado na locução, diz que nunca copiou ninguém, procurando sempre criar uma marca própria. Sua característica mais marcante é a de mesclar as gírias dos policiais, “malandros” e “bandidos” no seu discurso.
Como começou a trabalhar na área policial durante o apogeu de Arnaldo Souza, teve um pouco de dificuldade no início, já que todas as “fontes” davam prioridade a Arnaldo. Romero conta que era preciso, então, escutar pela Santamariense as informações do “Sabe-tudo”, para transmiti-las, em seguida, na Imembuí.
O ingresso na política: “assistencialismo desde a infância – o reflexo de uma vida dedicada ao rádio”
Desde criança, afirma, tinha um senso de solidariedade acima dos colegas de escola. Todos os dias, distribuía entre os amigos o lanche (um sanduíche “farroupilha”) que a mãe preparava, ficando, muitas vezes, sem um pedaço para si. A história altruísta é lembrada para dizer que nunca teve pretensões políticas, e que sempre quis ajudar os mais necessitados. Neto de um curandeiro, conta que aos cinco anos de idade ouviu do avô que era predestinado a ajudar os outros.
Foi eleito pela primeira vez em 1992, com 1.798 votos, exercendo o mandato de 1993 a 1996. Na reeleição, obteve 1.505, não sendo suficiente para garantir uma vaga como titular. Na suplência, assumiu em diversas oportunidades. Em 2000, retornou a Casa, desta vez pelo PDT, com 1.488 votos, sendo o segundo mais votado pelo partido. Na reeleição, no último dia 03 de outubro, foi o único radialista vereador a manter o status, obtendo 1.999 votos, ou 1,39% do total válido. Além dele, apenas o novato João Carlos Maciel foi eleito.
Para Romero, o sucesso no rádio é conquistado com muito esforço contínuo. “Não adianta apenas falar bonito, é preciso desenvolver um trabalho em prol da comunidade, sem demagogia para manter a credibilidade”, comenta.
Seu programa, afirma, é voltado a todas as camadas da sociedade, independente de gênero e credo. Na Câmara, considera-se um representante de todos, podendo homenagear, por exemplo, a Umbanda numa semana e a Igreja Católica em outra.
Para ele, o comunicador tem tanta chance de ser eleito quanto um médico ou advogado que ajudam a comunidade. O rádio, então, não seria decisivo para sua eleição. Segundo Romero, nem todos os que ouvem o “Repórter” votam nele. Para o apresentador, mais importante do que comandar um programa de rádio, o radialista político precisa “agradar” ao eleitor, mostrando coerência em sua atuação como vereador. A falta de sincronia entre os dois discursos, conforme Isaías, seria a causa do insucesso de muitos de seus colegas, que uma vez na Câmara de Vereadores, passariam a votar contra o trabalhador.
Dos radialistas políticos atuantes em Santa Maria, Romero foi o único que trocou de partido ao longo de seus mandatos, tendo migrado da “direita” para a “esquerda”. O ex-prefeito José Haidar Farret também teve participação no início da carreira política de Romero, bem como na de “Cerejinha”, Vicente Paulo Bisogno e, como veremos mais adiante, na de Paulo Sidinei. Embora tenha sempre se considerado de “esquerda”, Romero filiou-se ao PDS cinco minutos antes do fim do prazo previsto pelo Tribunal Superior Eleitoral para concorrer em 1992. Um motivo não revelado o teria feito desistir da filiação pelo PMDB. Acabou sendo eleito pelo PDS, onde cumpriu os quatro anos de mandato. O programa “O Repórter” existe há 22 anos. Tinha uma hora de duração, de segunda a sexta-feira, das 23h à meia-noite. Por falta de dinheiro e infra-estrutura, o trabalho de produção, captação e apresentação é todo feito por Romero. Faz visitas diárias ao Fórum, às delegacias de polícias, Brigada Militar, para se manter bem informado e poder acompanhar o desenrolar de processos judiciais. A participação de ouvintes é constante, mesmo quando emitem opiniões e fazem críticas contra o próprio apresentador.
Fernando Adão Schmidt
Fernando Adão Schmidt[11] nasceu em 03 de março de 1935, em Venâncio Aires. Começou a trabalhar muito cedo, como correspondente do jornal A Folha Esportiva, de Porto Alegre. Em 1954 mudou-se para Santa Maria, onde serviu ao Exército e completou os estudos (fez o terceiro ano do curso técnico em contabilidade e passou no vestibular para Economia). Fez concurso para o Banco da Província, onde atuou até 1960. Durante o período que trabalhou como bancário também foi repórter do extinto “Diário do Estado”. No início da década de 60 foi atuar como assessor político na prefeitura.
Seu primeiro contrato na Rádio Imembuí aconteceu em 1969. Ingressou fazendo redação do noticiário nas manhãs de domingo. Depois passou a apresentar um programa no mesmo horário e, mais tarde, ganhou outro, diário, às 7h, chamado “Sermão na estrada”. Em pouco tempo, já fazia a locução comercial no programa de maior audiência da Imembuí, “Alvorada na fazenda”, comandado por Ivory Gomes de Mello, o “Cerejinha”. Quando este se aposentou, há dezoito anos, em 1986, Schmidtão assumiu o horário, com um programa novo: “Alvorada - a cidade acorda bem informada”, das 4h às 6h30min. O espaço é terceirizado e o próprio jornalista é quem vende a publicidade, como forma de complementar a renda. Além da informação jornalística, o apresentador também se orgulha das informações referentes ao meio rural, veiculadas em seu programa, como a posição do sol, fases da lua, etc. Isso, segundo ele, que também é produtor rural, ajuda aqueles que tiram seu sustento da terra.
A compra do espaço, no entanto, não impede que o comunicador tenha contrato com a Rádio Imembuí. De segundas a sextas-feiras, às 11h15 min, o funcionário apresenta o “Conversando com Schmidtão”, no qual faz comentários sobre as notícias em destaque no dia durante quinze minutos. Nos anos 70 morou fora do país por três anos, nos Estados Unidos, onde a esposa buscava aperfeiçoamento profissional.
O ingresso na política: “boa visibilidade, pouca votação”
Fernando Adão Schmidt assumiu como vereador suplente[12], pela primeira vez, em 1964, pelo PSD (Partido Social Democrata), sendo o último colocado da bancada. Até então, não atuava no rádio.
Depois de 30 anos militando nos bastidores da política, retornou ao Legislativo Municipal em 1993, mais uma vez como suplente, só que agora em função da renúncia de José Manuel Silveira Filho[13], assumindo a vaga em definitivo.
Foi o primeiro secretário da fazenda do município e presidente da Câmara de Vereadores por duas ocasiões, tendo assumido a prefeitura em uma oportunidade. Por três anos, na década de 60, atuou como secretário de obras.
Atualmente, é membro do diretório do PP em Dilermando de Aguiar e se diz decepcionado com a política.
Paulo Sidinei Schmidt
Paulo Sidinei[14] nasceu em Santa Maria, em 09 de setembro de 1954. Por volta dos 15 anos, jogava futebol mirim em um clube chamado Ideal. A equipe era comandada pelo radialista Bento do Carmo Machado, da Rádio Guarathan, hoje falecido. Toda semana, ia até a emissora, onde ficava fascinado com o trabalho realizado lá. A primeira oportunidade como radialista não veio rápido. Durante algum tempo, Sidinei foi auxiliar de serviços gerais na emissora, fazendo faxina, cafezinho, etc. Depois, foi convidado pelo gerente na época, Luiz Carlos Coser (hoje proprietário da emissora) para trabalhar como operador de áudio. Exerceu a função durante 10 anos. Nesse período, Sidinei aproveitava para observar o trabalho de grandes nomes da emissora, como Pedro Wolmar Machado, Domingos Martins, Osvaldo Nobre e Ogair França. Este último apresentava um programa popular, diário, a partir das 11 da manhã, com grande participação de ouvintes, ao vivo, por telefone.
Quando saiu da Guarathan, foi trabalhar na Rádio Farroupilha, onde conheceu Marne Barcellos. Dali, transferiu-se para a Rádio Independência, em Caxias do Sul, para assumir seu primeiro programa como apresentador, chamado “Tudo Bem”. A atração ia ao ar das 9 ao meio-dia. Em seguida, migrou para a Rádio Caxias, onde trabalhou como repórter. Em 1980, mudou-se para Santo Ângelo, para atuar na Rádio Sepé Tiaraju.
O sonho de retornar a Santa Maria como apresentador foi conquistado um ano depois, no dia 16 de abril de 1981, quando assumiu um programa na Rádio Imembuí. De lá pra cá, apenas durante um ano esteve fora da cidade, em 1988, para trabalhar como locutor esportivo pelo Sistema Tríade de Comunicações, de Caxias do Sul.
Em setembro de 1994 foi para a Rádio Medianeira AM, para fazer o programa “Show da Manhã”. Três anos depois, foi convidado a integrar uma nova equipe na Rádio Santamariense, que passava por reformulações e mudanças de posicionamento mercadológico.
Em 1º de abril de 1997, estreava, então, o programa “Show da Manhã”, na 630 AM, das 8h ao meio-dia. Lá, diz ter encontrado espaço para se expressar como gosta, fazendo denúncias, acusações, elogios e, também, ajudando a população carente.
O ingresso na política: “o povo não é burro”
Em 1996, concorreu pela primeira vez, sendo o mais votado da legislatura, com 3.409 votos, ou o equivalente a 2,79% dos votos válidos. Na eleição seguinte, em 2000, foi eleito com 1.490, sendo o sexto mais votado de seu partido, o PPB.
A redução de votos na segunda eleição é atribuída por ele a um problema de saúde durante a campanha. Não culpa os eleitores nem ouvintes pelo resultado. Aliás, espera que o trabalho no rádio seja reconhecido pela comunidade, mesmo sabendo que o “povo não é burro e não se deixa enganar com promessas de campanha ou troca de favores”.
Quanto à vantagem que os radialistas têm em relação aos demais candidatos, com a campanha que dura praticamente 4 anos no rádio, Sidinei diz não se sentir culpado por ser radialista. Assim como ele, outros profissionais utilizam-se do ofício para ganhar votos, como médicos, engenheiros e advogados.
Em toda a carreira pública, nunca trocou de sigla, mantendo-se fiel ao Partido Progressista, que o acolheu há mais de vinte anos. Para Sidinei, o partido deve ser respeitado. Se foi eleito pela sigla, precisa respeitar as ideologias, apesar de afirmar que muitos cidadãos são personalistas, votando no candidato e não no partido.
Marcelo Zappe Bisogno
O rádio sempre esteve presente na vida de Marcelo Bisogno[15], nascido em 24 de agosto de 1974. Filho de Vicente Paulo Bisogno e afilhado de batismo de Cláudio Zappe, seu tio e proprietário da Rádio Imembuí, cresceu acompanhando de perto a evolução do meio na cidade. Além de observar o trabalho do pai em grandes coberturas jornalísticas, também se inspirou na questão política, participando ativamente de campanhas desde a infância. Isso contribuiu de forma significativa para sua própria trajetória, que será traçada a seguir.
Começou no rádio em novembro de 1994, controlando a planilha de anunciantes da Rádio Imembuí, sem receber salário. Naquela época, ainda não pensava em ser comunicador. Marcelo conta que nunca foi cobrado pelo pai para que seguisse na profissão. Mas a primeira oportunidade veio logo em seguida, em fevereiro de 1995, quando foi escalado para fazer a cobertura do carnaval na unidade móvel, ainda sem registro profissional.
Com contrato de experiência de seis meses, passou a integrar a equipe de esportes, fazendo reportagem com o público que assistia aos jogos em Santa Maria. Já como profissional, ganhou um espaço aos sábados na emissora, com o programa “Motovelocidade”, produzido, apresentado e comercializado por ele mesmo. A facilidade de expressão e a excelente memória são as principais características destacadas por Marcelo para seu “sucesso” no rádio.
Em 1997, já na Santamariense, apresentava o “Sambalanço”, aos sábados, das 10h às 13h. A atração musical animava a programação das manhãs na emissora, com participação de ouvintes e promoções especiais. Nesse período, durante a semana, era o responsável pela reportagem com unidade móvel no programa de Afonso Martins (à tarde) e por boletins de esporte no Controle Geral, apresentado por Vicente Paulo Bisogno.
Já com alguns anos de experiência, ganhou um programa diário, passando a dividir o espaço da tarde com Afonso Martins e Clédio Callegaro. De 1999 a 2000, comandou o “Show da Alegria”, atração musical com participação de ouvintes, das 13h às 15h.
Em 2003, o radialista assumiu a direção de esportes na Rádio Medianeira AM, arrendando o espaço junto com um grupo de profissionais. Durante o ano, fizeram grandes coberturas, inclusive dos jogos do Grêmio na Libertadores da América.
Durante 2004, até se licenciar para concorrer à reeleição na Câmara de Vereadores, mantinha um programa de esportes, aos sábados, na Rádio Imembuí. Entre os planos de Marcelo para o futuro, está o de retornar ao rádio com um programa diário.
O ingresso na política: “o rádio não é fundamental para a eleição”
A primeira chance de concorrer a uma vaga na Câmara surgiu em 1996, quando Vicente estava na iminência de assumir como suplente de deputado estadual. No entanto, devido a pouca experiência, o sonho de atrelar sua candidatura à história política do pai, teve de esperar: Vicente acabou não assumindo na Assembléia Legislativa.
No final da década de 90, segundo Marcelo, houve uma dissidência interna no PDT, o que acabou levando-o para o Partido dos Trabalhadores.
Em 2000, foi eleito pela primeira vez, pelo PT, como o vereador mais jovem da legislatura, aos 26 anos. Obteve 1.695 votos, sendo o quarto colocado no partido.
Similaridades e diferenças na conquista do público
Ao longo de quase cinco décadas, Santa Maria-RS teve um expressivo número de radialistas voltados para a política. Em determinados momentos, como em 1988, 1992, 1996 e 2000, o número de eleitos foi igual ou superior a três. Em comum, todos têm o trabalho no rádio voltado à comunidade, com grande participação de ouvintes, seja ao vivo, ou no estúdio. O contato direto com o público receptor é fundamental para que esses profissionais consigam subsídios que, mais tarde, serão aproveitados no plano político. Embora a maioria não reconheça, o rádio os coloca à frente dos demais concorrentes, uma vez que a campanha eleitoral inicia muito antes do tempo previsto em lei. Diariamente, em todos os meses do ano, os comunicadores têm à sua disposição uma ferramenta simples, mas poderosa: o microfone. Em questão de minutos, o apresentador pode, além de transmitir sua opinião, criticar, desabafar, denunciar, enfim, influenciar o que pensam os ouvintes.
Desde o pioneiro, Ivory Gomes de Mello, até o jovem Marcelo Bisogno, todos aproveitaram sua popularidade adquirida no campo radiofônico para conquistar uma vaga na Câmara de Vereadores. Mas, ao contrário do que aconteceu em outros municípios e estados brasileiros, os radialistas políticos santa-marienses não atingiram uma maior projeção política. Nenhum desses profissionais conseguiu – pelo menos até hoje – sequer chegar à Assembléia Legislativa.
À exceção de Vicente Paulo Bisogno e Fernando Adão Schmidt, que sempre atuaram em programas jornalísticos, os demais se dividem nos três gêneros apontados por Nunes (2000) como os principais para manter um “contato íntimo e privilegiado entre o radialista e o povo”: esportivo, policial e de prestação de serviços (2000: 119). Ivory Gomes de Mello, Clédio Callegaro e Paulo Sidinei, cada um a seu estilo, sempre voltaram suas atuações para a prestação de serviços, embora os dois últimos tenham preferido a vertente do assistencialismo, ainda incipiente na época de Cerejinha. Arnaldo Souza e Isaías Romero sempre trabalharam na área do jornalismo policial. E, por fim, Marcelo Bisogno é o único cujos programas são, preferencialmente, voltados ao esporte, embora o apresentador tenha começado a carreira em atrações musicais. Essa divisão em gêneros também permite uma segunda avaliação: aqueles que têm suas carreiras voltadas ao assistencialismo e prestação de serviços e também ao trabalho de radiojornalismo policial são também aqueles que mais se mantêm no poder. Ivory Gomes de Mello foi eleito três vezes, Arnaldo Souza, também. Clédio Callegaro e Isaías do Amaral Romero[16], conquistaram quatro mandatos cada um.
O elevado número de veículos de comunicação na cidade – 05 AM’s, 06 FM’s, duas TV’s e dois jornais diários – dá uma idéia de como a audiência precisa se subdividir, para poder apreciar ou fruir os conteúdos ofertados pelos veículos. Em se tratando da população com menor instrução (o IDHM-E, o índice de educação no município é de 0,93%[17]), a oferta é ainda menor, ficando, pois, restritos às emissões das rádios e tevês.
No auge do sucesso de Ivory Gomes de Mello, a hegemonia da Rádio Imembuí contribuiu para que o músico e apresentador encantasse as platéias, principalmente, vindas das zonas rurais. Como não havia concorrência no plano radiofônico, nem no político - Cerejinha foi o único radialista vereador até a eleição de Arnaldo Souza, em 1976 –, a votação obtida por ele (3.816 votos, em 1972) só foi batida por Arnaldo Souza, em 1976 (4.908 votos) e por João Carlos Maciel (6.575 votos) em 03 de outubro de 2004.
A ascensão de Isaías Romero só se deu na eleição seguinte ao falecimento de Arnaldo Souza, em 1990. Na própria entrevista concedida por Romero a esta pesquisadora, ficou claro como o trabalho dele dependia do de Arnaldo, que por ser mais experiente e ter mais trânsito junto às fontes policiais, conseguia obter furos de reportagem e desvendar crimes até mesmo antes da própria polícia. O estilo contundente de Arnaldo, o “Sabe-tudo”, não deixava margens para a atuação de mais ninguém no radiojornalismo investigativo na cidade.
Clédio Callegaro, por sua vez, foi o grande nome do rádio assistencialista e comunitário no final dos anos 80 e início dos 90, atuando na emissora de audiência popular por excelência[18], a Rádio Medianeira. Paulo Sidinei ainda trabalhava na Rádio Imembuí, onde ficou até 1994. Foi quando o horário nobre da Medianeira passou de Callegaro para Sidinei, um sinal de que a popularidade de Clédio estava caindo. O resultado da readequação da programação refletiu-se no pleito de 1996: Paulo Sidinei foi eleito pela primeira vez, pelo PPB, com 3.409 votos e Clédio Callegaro, terceiro suplente pelo PDT, com 1.023 votos.
Vicente Paulo Bisogno e Fernando Adão Schmidt começaram no rádio no mesmo ano, em 1969, como locutores comerciais no programa de Cerejinha. Em pouco tempo, passaram a atuar como jornalistas provisionados, sem serem concorrentes diretos, ou seja, atuando em horários distintos. Em 1975, Vicente passou a comandar o “Controle Geral” e, em 1987, Schmidtão assumiu o horário de Cerejinha, com o programa “Alvorada: a cidade acorda bem informada”, ambos na Imembuí. Como sempre trabalharam com informações jornalísticas, com pouco espaço para opinião, a proximidade com o público foi também menor, se comparada a dos demais radialistas políticos. Fernando Adão concorreu a vereador em duas oportunidades: em 1963 e 1992, sendo eleito suplente nas duas vezes.
Já Vicente foi eleito primeiro suplente de vereador, pelo PDT, em 1988, e reeleito em 1992, sem obter êxito em outras candidaturas, como a de deputado estadual, em 1994, deputado federal, em 2002, e vice-prefeito em 2000 e 2004. Aliás, Vicente é o típico político “sem grande cacife eleitoral para um cargo de governo, mas cuja imagem é tão positiva que se torna excelente em fotografias”, como afirma Gomes (2004:126). Como sua boa imagem pública agrega valor às candidaturas, é sempre cotado pelo partido para concorrer, independente do cargo almejado.
Por seu turno, Marcelo Bisogno foi o único que atuou na área musical e esportiva. A primeira experiência de relevo na Rádio Santamariense, com o programa “Sambalanço” e depois com o “Show da Alegria” ocorreu justamente no período pré-eleitoral, quando o apresentador ainda estava se firmando como profissional[19]. Nesse período, mantinha contato direto, diário e ao vivo com o público por telefone, fortalecendo sua imagem junto aos ouvintes. Ao deixar a Santamariense, ingressar na Medianeira e depois na Imembuí, o comunicador se distanciou dos receptores, passando a atuar apenas em coberturas e na apresentação de programas esportivos.
O abandono do rádio depois da eleição é apontado por Nunes (2000) como a principal razão do insucesso de radialistas eleitos, pois perdem a popularidade e o contato com o ouvinte-eleitor. De todos os profissionais analisados neste trabalho, apenas Marcelo Bisogno optou por trocar o programa diário para se dedicar com mais intensidade à política, já que não acredita que o veículo tenha tamanha relevância no resultado das urnas. O afastamento do rádio pode ter contribuído para o fracasso eleitoral no pleito em 03 de outubro de 2004, embora o candidato tenha obtido 2.028 votos, 333 votos a mais do que em 2000.
Outro ponto confluente na trajetória dos radialistas políticos em Santa Maria-RS é a decisiva participação do ex-prefeito e atual deputado estadual, José Haidar Farret, como incentivador de novos políticos, principalmente aqueles vindos do rádio. Foi assim com Vicente Paulo Bisogno, Isaías Romero e Paulo Sidinei. Arnaldo Souza, embora numa posição ideológica contrária a de Farret, manteve uma amizade profunda com o ex-prefeito.
A relação pode ser explicada pela própria carreira profissional de Farret, que é médico comunitário. Em seu trabalho cotidiano, sempre se valeu das consultas gratuitas para conquistar eleitores. Como o público almejado por ele é o mesmo dos radialistas políticos, a simbiose torna-se perfeita, na medida em que os ouvintes reclamam ou pedem ajuda ao comunicador e este se socorre dos serviços do ex-prefeito, que, com seu “altruísmo”, auxilia os mais necessitados.
Atualmente, Farret exerce o cargo de deputado estadual pelo PP. Sua carreira política iniciou em Santa Maria-RS, quando em 1968, foi eleito vereador. Entre seus pares estavam o radialista Ivory Gomes de Mello e o atual Ministro da Educação, Tarso Fernando Genro. Foi seu único mandato para a Câmara Municipal. Em 1972 foi eleito vice-prefeito, junto com Arthur Pfeifer, pela Arena. Em 1982, retornou ao Executivo, desta vez como prefeito, pelo PDS. Seu vice era Erony Paniz. Dez anos mais tarde, em 92, foi eleito prefeito pela coligação PDS/PFL, que tinha como vice Sérgio Roberto Cechin. Em 1998, foi eleito deputado estadual, com 38.258 votos e reeleito em 2002, com 46.380 votos. Desde 12 de março de 2003, atua como presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado. Em 2004 concorreu novamente à prefeitura, mas perdeu para Valdeci Oliveira, do PT, que concorria à reeleição.
Quanto à atuação na Câmara de Vereadores, no exercício legislativo, os radialistas políticos objetos deste estudo também apresentam grandes semelhanças. A média de projetos de lei apresentados por eles é de 43,8, sendo que o campeão é Arnaldo Souza com 109 proposições em 13 anos, seguido por Marcelo Bisogno com 50 projetos em apenas um mandato. Já Cerejinha foi quem menos propostas de lei apresentou: 22 no total, também em 13 anos.
Quanto ao aproveitamento, Arnaldo foi o que mais projetos aprovados obteve, com 73,3% deles transformados em lei. Em seguida, aparece Ivory Gomes de Mello, com 63,6% de êxito; Paulo Sidinei conseguiu aprovação em 57,5% das propostas; Vicente, em 40%; Marcelo Bisogno – apesar de se autodenominar o “campeão de projetos” – obteve apenas 38%; Isaías Romero, 34,3%; por fim, Fernando Adão Schmidt e Clédio Callegaro apresentaram o pior aproveitamento, com 22,5% e 14,7% dos projetos transformados em lei, respectivamente.
Como em Santa Maria os empresários da comunicação têm optado por não aferir audiência, alegando que a pulverização dos investimentos publicitários praticamente inviabiliza a atividade, não podemos inferir, ao certo, qual o programa mais ouvido na cidade, nem qual o apresentador mais popular. No entanto, o resultado das urnas pode, sim, dar pistas sobre quem detém a maior parcela de ouvintes.
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Entrevistas
BISOGNO, Marcelo Zappe. Radialista e vereador. Em 24 de agosto de 2004.
BISOGNO, Vicente Paulo. Ex-vereador, jornalista e advogado. Em 25 de agosto de 2004.
MANARIN, Mário. Amigo e contemporâneo de “Cerejinha”, funcionário da Rádio Imembuí. Em 31 de agosto de 2004.
MATTOS, Miramal. Ex-vereador, bancário aposentado. Em 12 de agosto de 2004.
ROMERO, Isaías do Amaral. Radialista e vereador. Em 19 de agosto de 2004.
SCHMIDT, Fernando Adão. Ex-vereador; radialista e economista. Em 26 de agosto de 2004.
SCHMIDT, Paulo Sidinei. Radialista e vereador. Em 24 de agosto de 2004.
SILVEIRA, Clédio Callegaro da. Radialista e vereador. Em 26 de agosto de 2004.
SOUZA, Roberto Abbis de “Arnaldinho”. Filho de Arnaldo Souza; assessor parlamentar na Câmara de Vereadores de Santa Maria-RS. Em 13 de agosto de 2004.
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[1] Conforme dados do T.R.E.-RS, João Carlos Maciel, Isaías do Amaral Romero, Paulo Sidinei Schmidt, Luiz Bittencourt de Lima, Plínio Araújo Barcellos e Clédio Callegaro da Silveira informaram ao Tribunal a profissão de radialista, locutor e comentarista. Já Marcelo Zappe Bisogno, Cláudio Francisco Pereira da Rosa e Loreni da Silva Maciel assinalaram a opção “outros”, embora sejam radialistas. Amândio Rodrigues Jobim é jornalista; Cleri Quinhones de Lima declarou-se funcionário público municipal, pois atua como professor de educação física, paralelamente ao exercício de radialista; Itaúba Siqueira de Souza, antes de ser radialista, é advogado e Paulo Ricardo Siqueira Pedroso informou ser professor de primeiro e segundo graus.
[2] Os cincos são, por ordem de votação: Cláudio Rosa, Marcelo Bisogno, Paulo Sidinei, Isaías Romero e Clédio Callegaro. Para efeitos desta pesquisa, foram analisadas apenas as trajetórias dos últimos quatro, já que Cláudio Rosa nunca atuou em emissoras santa-marienses.
[3] Claudemir Pereira, “Quarteto radiofônico vira trio”. Jornal A Razão, 30.31 de outubro de 2004.
[4] Os dados referentes à eleição de 1963 não constam nos arquivos do Tribunal Regional Eleitoral do RS, nem no acervo do Cartório Eleitoral em Santa Maria. Daí a dificuldade em quantificar a eleição.
[5] Entrevista concedida à autora em 31/08/04, fonte das informações a seguir.
[6] Embora Fernando Adão Schmidt tenha sido eleito em 1963 e 1993, Cerejinha é considerado pioneiro porque Fernando Adão ainda não trabalhava em rádio quando da primeira eleição.
[7] Entrevista concedida à pesquisadora em 13 de agosto de 2004, fonte de parte das informações a seguir.
[8] Até 1975, os vereadores exerciam o mandato de forma gratuita.
[9] Entrevista concedida à pesquisadora em 26 de agosto de 2004, fonte das informações e declarações a seguir.
[10] Aliás, o carisma de Zambiasi foi o responsável por tornar a emissora líder de audiência em apenas 60 dias após sua contratação, elevando a Farroupilha do quarto para o primeiro lugar em número de ouvintes.
[11] Entrevista concedida à pesquisadora em 26 de agosto de 2004, fonte das informações e declarações a seguir.
[12] Os dados referentes ao resultado do pleito de 1963 não constam nos arquivos do Tribunal Regional Eleitoral-RS. O acervo do Jornal A Razão referente ao período da eleição (novembro de 1963), que também poderia servir de fonte, foi destruído em um incêndio.
[13] José Manuel da Silveira Filho mudou-se para o Mato Grosso, para gerenciar negócios da família. Recentemente, faleceu em um acidente de automóvel.
[14] Depoimento concedido à pesquisadora em 24 de agosto de 2004, fonte das informações e declarações a seguir.
[15] Entrevista concedida à pesquisadora em 24 de agosto de 2004, fonte das informações e declarações a seguir.
[16] No caso de Romero, contando a eleição de 2004.
[17] Conforme a Federação das Associações dos Municípios, acessada em 10/11/2004: .br
[18] Naquela época, a Rádio Santamariense estava voltada à programação mais erudita, voltada à cultura e à informação, com espaços arrendados para diversas igrejas.
[19] Marcelo Bisogno foi eleito o vereador mais jovem da legislatura em 2000.
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