Eu nesta primeira entrevista, o que costumo perguntar …



PRIMEIRA ENTREVISTA: Júnior (Brasileiro)

Data e hora de realização:

Local da entrevista: Casa – Moscavide

Tipo de contacto: Informal (por um outro entrevistado brasileiro)

Eu nesta primeira entrevista, o que costumo perguntar às pessoas é: quando eu digo a palavra “justiça” o que é que as pessoas pensam logo, ou lembras-te logo do quê, ou o que é que a palavra te faz sentir?

Bem, a justiça para mim é o seguinte, é aquela velha frase “só existe para os pobres” e eu acho que sim. Eu acho que quem leva mais desvantagem nisso tudo são os … são os… é… são as pessoas pobres.

As pessoas pobres são mais justas ou…

São mais prejudicada.

Ah, são mais prejudicadas.

Eu acho que a pessoa rico… para o rico não existe justiça… Enquanto que ele fez…

Ah, estás a falar de justiça do género… de eles serem culpados de algum crime e…

De um crime e… para passar para o nosso fim e a gente nunca consegue e… e o rico do jeitinho dele…

Pois.

Ele passa por cima.

E como é que é esse “jeitinho”? Como é que será esse jeitinho? É com dinheiro?

Deve ser com dinheiro. Só pode.

Com conhecer pessoas?

Com conhecer pessoas, ter contactos… então a pessoa que… tem muito contacto, tem muito dinheiro, acho que… rico nem conhece a palavra justiça.

Portanto, a justiça funciona com… só com os pobres. Estás a falar de “justiça” de tribunal, polícia?

Sim.

Ao nível mais das instituições, é? E essa tua ideia tem a ver com… Tu vieste de que zona do Brasil?

Eu? Minas Gerais.

Minas Gerais. Estás cá há quanto tempo?

Dois anos.

Dois anos. Essa tua ideia tem a ver… da zona onde foste criado?

Eu acho que… eu acho que em geral…

Tem a ver com Brasil? Ou…

Tem a ver com o Brasil ou… eu acho que em geral, em geral. Eu acho que uma pessoa, uma pessoa com…. com outra classe cometeu um erro, não é julgado. Não vai ser julgado, ele passa por cima. Agora uma pessoa cometeu um simples erro, se roubou porque está com fome, porque tem fome, ali o já caem em cima dele. Como tal, a justiça pega pesado.

Mas isso… quer dizer, então a classe dos juízes é um bocado corrupta?

É sim, acho que sim. É um bocado corrupta.

E o que é que isso te faz sentir? Porque… Não sei, quer dizer, uma pessoa apela à justiça, não é? Á justiça dos tribunais. Podes ser tu a estar a ser julgado ou podes ser tu que vai a procura… que essa pessoa… Como é que é? Não se confia? Deixa-se de ir? A tua desconfiança já está assim tão…?

É… quer dizer, se for… se for levado assim entre um caso entre eu e uma pessoa com classe, com classe alta, se for nós dois no julgamento, a pessoa com classe alta tem mais hipóteses de passar por cima de mim.

Mas isso não tem necessariamente a ver com a corrupção dos juízes? Pode vir do facto de, por exemplo, ele ter dinheiro para pagar a um bom advogado e tu teres de ficar com os advogados do Ministério.

Ah… acho que…acho que…

Achas que a defesa dos advogados é igual, o juiz é que vai olhar de maneira diferente?

Sim, eu acho que sim. Eu acho que sim. Seguramente, quem tem classe social nunca erra. E é quem não tem. Entendeu? A pessoa que tem um cargo social por mais que seja… (nós chama-mos “filho de papai”) O “filho de papai” que cometeu um erro, vai lá, o pai vai lá, esconde aquilo lá não aconteceu nada. Agora um pobre coitado que foi lá cometeu um erro, vai, sai em todos os jornais.

Mas cá em Portugal às vezes as pessoas costumam brincar que é assim: quando uma pessoa poucas possibilidades tira dinheiro, diz que “roubou”, mas quando é assim pessoas de empresas, directores de empresas, dizem já “desviou” o dinheiro, não é? Quer dizer, é exactamente a mesma coisa “roubar” o dinheiro, mas o próprio termo é diferente. E depois também vai com uma questão da mentalidade das pessoas, não é? Achas que as pessoas hoje em dia também já… nem chegam a ir ao tribunal porque já sabem que vão perder?

É, é. Muitas vezes sim. Muitas vezes sim.

Isso que estavas a falar do pai ir lá resolver… Eu não sei se tu sabes, há um tempo atrás, houve dois rapazes que em Brasília incendiaram…

Deitaram fogo num índio…

Sim.

Isso aí foi uma injustiça. Se fosse um outro qualquer que chegasse lá para roubar ou para tacar fogo, entendeu? Já seria preso na hora.

Pois.

Entendeu?

Pois. Então e se tu um dia tivesses uma aflição. Como é que fazias?

Ah… É… (pausa longa)

Isto depois vai… lá está, das várias pessoas que eu vou encontrando. Como eu te disse, (a primeira vez que nós estivemos eu estive-te a explicar o que é que é este trabalho) estou a entrevistar as pessoas brasileiras, pessoas africanas e imigrantes de… que vieram dos países de leste. E já entrevistei africanos que, pela cultura deles, pela, pela história, pela situação em que vivem, que não confiam na polícia… (principalmente pessoas angolanas). Não confiam na polícia nem nos tribunais nem nada. E que, em Angola, sempre quando há um crime ou uma zanga as coisas resolvem-se pelas próprias mãos. Quer dizer, isto foi uma pessoa que eu entrevistei. Se calhar outra pessoa acha que não. No Brasil também há essa mentalidade de…

Há… isso fica dividido… eu sempre tive esse pensamento: dois… dois emprego se fosse o último do mundo eu não queria ser: político e polícia. (risos)

Isso é se calhar é um problema com a letra “p”…

Não sei… Só é ruim quem é que tem nessas duas profissões. Eu acho que se… nisso aí… a pessoa pode ser… pode ser a pessoa mais honesta no mundo. A partir do que o momento entrou nesse meio, o meio… aquele meio de sítio faz virar corrupto. A pessoa pode ser honesta seja quem for, mas aquele convivência ali, os próprios colegas do meio ali, te obriga. Se não fizer você fica discriminado no meio ali, entendeu? Se tu ficar fora do meio deles, senão eles te põe para fora. A regra é essa.

Agora vamos por partes. Vamos começar com a polícia. De facto, não és o primeiro brasileiro que diz que a polícia é muito corrupta no Brasil. Mas eu já tive pessoas que me disseram que elas acham que a polícia é corrupta porque ganham muito pouco, porque as coisas que eles têm… sei lá, os carros… são muito fracos… que os bandidos têm pistolas melhores do que as deles…

E é assim…

Talvez se ganhassem mais, se as condições fossem melhores, que não…

Eu acho que é assim: em termos de salário eu acho que não, acho que não. Acho que um policial chega… tira o caso, tira o horário de trabalho… acho que devia ganhar… Agora em termos de armamento, sim. O bandido esse que é o manda. O bandido inclusive nas armas é melhor que o policial.

Mas não achas que é um trabalho (estou agora aqui a fazer de advogada do diabo), não achas que é um trabalho que também envolve algum nível (eu não estou a dizer que justifique), mas que envolve algum nível de frustração…

Envolve, envolve… É assim, eu creio que o trabalho deles assim tem tudo: ele tem acesso a psicólogo, ele tem acesso a médico… Entendeu? Ele tem… o trabalho dele assim envolve um grupo bom. Pô, um policial em cidade ganha o quê? Um salário de mil, mil e duzentos euros. Pô, e o varredor de rua ganha duzentos. Entendeu? E o varredor de rua trabalha doze, doze horas e o policial trabalha seis.

De novo sendo advogada… é assim: o risco de vida que o policial corre não é o risco dum varredor, não é?

Não… Não disse isso. É assim… eu digo assim: você…

Eu estou a dizer isto porque a pessoa pode pensar “Eu vou sair de casa agora de manhã. Eu não sei se chego à noite…”

É assim: todo o trabalho tem risco. Mesmo… se você abre um armário da EDP sem luva, você vai tomar um choque e vai morrer. Se o bandido enfrentar um… se eu enfrentar sem colete, vou morrer. Entendeu?

Portanto, não justifica?

Não justifica… é perigoso, mas pô, o salário deles lá é como se você trabalhasse policial aqui, como se fosse recebesse cinco mil euros, entendeu?

E como é que a população, como é que os brasileiros vêem essa… porque cá a polícia também é muito mal vista. Principalmente a polícia de trânsito. Aqueles que andam aí…

Fora o que… fora o que fez por fora. Se ele pegou uma multa, ele pega o dinheiro, rasga a multa, fica para ele.

Mas os brasileiros também no geral têm uma má imagem da polícia?

Tem… Tem…

E portanto, não olham para eles e não pensam, “São pessoas que servem…”, quer dizer, “São dos utensílios da justiça”, não é?

Sim, sim…

Há policia… que serve para nos proteger, para…” Nada disso?

Não, eu não. Tem…

Tu também és daqueles que tem mais segurança com o bandido do que com o polícia, é?

É assim… Eu tenho um cunhado… tenho um cunhado que é policial e já discutimos isso o suficiente, entendeu? A polícia dali do Brasil, a polícia de Minas Gerais…

Estamos a falar quê? Policia federal? Ou polícia… porque vocês também têm a polícia militar…

Tem militar e tem a federal. A minha região é considerada, entre aspas, a polícia mais honesta que tem e que há no país… e à mais honesta. Piores são de… são de São Paulo, Rio… esses são muito mais corruptos do que de Minas Gerais. Minas Gerais são um pouco mais… um pouco mais honestos. Faz um trabalho, faz um trabalho mas sempre ganhando dinheiro por fora. Sempre estão levando por fora.

Pois. Então agora vamos para o outro “p”, vamos para os políticos.

Isso daí…

Ainda é pior?

É pior. Reclama, reclama, reclama que ganha pouco. Pô, o cara chega… chega senta na mesa lá para ganhar um absurdo de 5 mil reais. Para o que o Prefeito ganha, o que é que ele faz? Assina papel e quando assina, se isso for para o bem dele.

Pois…

Entendeu? E quando falam um garimpeiro (incompreensão) rouba, (incompreensão) está um dia inteiro em baixo do sol quente… para ganhar 200 reais, enquanto o outro ganha 5 mil… e não faz nada.

Pois. Mas esta mudança política que houve agora no Brasil foi um grande voto de confiança ou de esperança que a população… Eu acho que nenhum Presidente da República em nenhuma parte do mundo (bem, tirando aqueles que falsificam os resultados das eleições), mas não me lembro de ouvir nenhum Presidente ganhar com tanta percentagem.

É. Porque é assim: o… o PT nunca entrou…para Presidente.

Ele era o eterno candidato, não é?

Então, sempre foi candidato, mas ele não conseguiu entrar. Então, o que é que toda a população no pensamento pensou “Pô, vamos dar uma chance para ver como é que é… Já colocamos todo o mundo: quem tinha dinheiro, quem não tinha. Então vamos colocar uma pessoa que nunca trabalhou, que não teve dinheiro…” Que eles fazem.

Não achas que esse então que nunca teve que é mais fácil ser corrompido do que um que já veio do meio? Ou não?

Não, não. Porque é assim… (isto pode desligar um bocadinho?) Me desculpe, mas não me estou sentindo bem.

(pausa na gravação)

Então, mas achas que por vir de baixo que não… que se vai maravilhar com aquilo tudo?

Pode ser que sim. Depende da cabeça dele. A primeira que eu acho do Brasil é que ele é muito grande para uma pessoa só.

Devia ter mais presidentes?

Isso. O que eu acho? Eu acho que um Prefeito, um deputado, é que esse cara eles ganham muito para nada. Entendeu? Pô, se cada um… se tirasse mil euros do salário dele e colocassem em obra, a cidade em um ano ia crescer bastante. Esse cara ganha um absurdo para parar sentado falando assim “aprova, não aprova, aprova, não aprova”…

Vocês têm presidente, depois têm os senadores, e depois… quer dizer, não achas que, se houvesse mais presidentes que a coisa ainda… os políticos ainda aumentavam mais e coisa ainda ficava mais…

Eu acho que é assim: acho que… devia ser… devia ser dividido e ter dois presidentes e os dois sempre em contacto em cada metade do país, entendeu? Eu acho que tem muito, muito deputado, muito senador sem nada, só para receber. Um deputado-senador recebe 3, 4 mil lá para fazer nada, só para assinar papel. Porquê uma pessoa só não pode fazer isso? Eu…

E quando… diz.

É muito dinheiro. Eu se fosse… quando você vai, quando não dá para pagar o Prefeito, o deputado de estado vai pedindo emprestado. Então, a divida do país só vai crescendo. Outra coisa que eu acho muito errado, e sou contra, completamente contra, foi a construção de Brasília. A gente deve a Portugal hoje por causa da construção de Brasília. Construir Brasília é um brinco. Mas quem é que… foi do dinheiro que pegou emprestado dos Estados Unidos, pagando até hoje. Para quê? Para construir o quê? Fazer coisa bonita. Para quê coisa bonita? Se ainda fosse feita em … tivesse pegado o dinheiro e construído fábricas, isso e tal, coisa úteis, hoje estaria no…

Porque até então a capital era o Rio de Janeiro?

Era o Rio de Janeiro. Depois tiveram que afastar porque era próximo do mar, então se fosse guerreada…

Ai é? Foi por isso?

Então foi levado para o meio do país. Se houvesse a tal guerra.

Portanto o governo estava sempre protegido?

Exacto.

Não sabia que tinha sido por isso.

O motivo principal foi esse. Então, o quê? Gastou aquele monte de dinheiro para construir Brasília, está lá uma cidade mas bonito, bonito, bonito, ele está a dever.

Mas está a pagar?

Está pagando, e a cada ano cresce mais a dívida interna. É, acho que foi dinheiro jogado fora, foi aquilo…

Porque o Brasil é o país da eterna promessa. Eu ontem estava a ver o Jô Soares e foi lá o Ministro da Agricultura, do PT. E disseram que a área de cultivo do Brasil é muito grande e mesmo assim, menos de metade é que está a ser cultivada. Mas se toda a área de cultivo do Brasil fosse utilizada, o Brasil, por si só, podia alimentar o mundo inteiro.

É, o Brasil é muito grande. Eu admiro muito os portugueses… é… mais ao Norte aqui… eu acho que o terreno daqui muito ruim para a agricultura e eles plantam (incompreensão) não dá nem areia… Aqui…No Brasil se tacar três, quatro carolos de milho numa cova nasce quatro pés. Aqui tem de ser de um em um, senão não nasce.

Pois.

O povo de vocês aqui para apanhar areia, não é em qualquer lugar que pode. E no Brasil não. É muita terra. Toda a terra brasileira pode ser produtiva. E o povo taca aquele monte de terra…

E o Jô Soares perguntava como é que a terra sendo tão boa há pessoas a passarem fome no Brasil…?

Isso porque… não consigo entender. Os caras, os caras tem lá…

Vem da política? Más políticas?

Sim, vem da política. Quer dizer o quê? Tem a reforma agrária lá. Os caras do “sem Terra”. Pô, só que invadiram um cara que tem fazenda… Mas também os cara que tem fazenda são tudo muito político. Chegam político assim… chegam num estado lá, compram… finge que compra. Eu acho que não compram, não pagam, finge que compra um pedação de terra. Coloca no nome dele, aquilo lá fica para ele. Pô, porque em vez de ficar naquele político lá, não fica na mão de quem quer produzir, de quem quer plantar? Entendeu? Mas ele é isso. No Brasil, aquele monte de terra… o pessoal (incompreensão) Os político vai lá compra para eles e coloca no nome deles… Compra não. Finge que compra.

Também para nada?

Para nada. Fica lá parado…

Pois. Então falámos de justiça de tribunais, não é? Depois falámos dos polícias e dos políticos e depois já começámos a falar da injustiça que é a desigualdade social (que é haver pessoas com muito dinheiro e pessoas muito pobres e a passarem fome, não é?) Portanto, isto é tudo o que a palavra te faz lembrar?

Sim.

Basicamente, é isto? Quando olhas para cá, a palavra faz-te lembrar a mesma coisa ou…?

Não, aqui também tem muita… tem muita injustiça também. Eu acho assim: o povo só vê… o povo aqui só vê Lisboa… Lisboa e Porto. E o Sul.

Para férias.

O Norte… Para mim, é o melhor lugar de Portugal, é o norte.

O norte…

O norte não existe. O povo é super educado… te recebe bem… entendeu? São pessoas mais humildes. Porque tem dificuldades. Tem povo no norte que passa dificuldades… Povo que não tem para comer. Aqui no norte é não, o pessoal… o povo é ignorante…

Aqui em Lisboa…?

Aqui em Lisboa. Essa parte que é muito ignorante, trata mal, não te recebe bem… entendeu? E tudo… assim, tira onda. O povo aqui deixa de comer para ter um carro. Para vestir bem… Você vê que esse cara lá que… é muita pessoa lá que só anda de terno e gravata e de carro novo… e… tem nada… entendeu? O povo muito assim… Como nós chama lá playboyzinho, vai ver que esse cara tira onda, entendeu? O povo do norte é um povo super educado. Muito mais educado que o povo daqui. Porquê? Porque é mais educado? Porque sabe o que é que é ralar, ralou na vida, dá valor ao que tem…Quando a pessoa rala e dá valor ao que tem, é uma pessoa humilde. Agora a pessoa que tem tudo na mão… não precisa trabalhar… quando a pessoa assim mais.. mais ignorante, vamos dizer.

Pois.

Aqui é o oposto, que eu gosto muito do norte de Portugal.

É mais parecido com as tuas origens?

É mais parecido com as minhas origens do Brasil.

Pois… Mas essa ideia de que a justiça só funciona para os pobres, não funciona para os ricos, cá mantém-se?

Sim.

Tens essa mesma ideia?

Acho que sim… Acho que quando a pessoa… se a pessoa (incompreensão) em si… Se a pessoa de classe alta, como se diz, cometeu um vacilo. Eu, se você estiver no café que faça um lanche e sai sem pagar… Entendeu? Essas pessoas… acho que não (incompreensão) se essa pessoa fosse mais simples. Classe média. Porque se no café sai sem pagar, o dono chama até a polícia vir fazer escândalo para essa pessoa.

Pois. Então e se eu tiver uma aflição a quem é que se pode recorrer, no meio disto tudo? Não se pode ir à polícia, não se pode ir aos tribunais…

Eu acho que tem de ter um pouco de… para se socorrer, aí à policia e pedir a Deus que dê certo, entendeu?

E são mais os casos que não dão certo do que aqueles que dão certo?

Eu… eu acho que sim… As expressão social acho que manda muito, nesses casos.

Então vamos pegar de novo por aí, e vamos falar de outra coisa que se passa no Brasil (não estou a falar mal, estou a falar da realidade). Estavas a dizer que o tratamento, se uma pessoa vai à polícia já é diferente, se chega a ir ao tribunal já é diferente, mas, no Brasil, se for preso, cá também acredito que se passe qualquer coisa dentro desse género, mas não é um dado adquirido. Mas no Brasil é. Que se tu chegares a ir preso as tuas condições de cela também são diferentes… por exemplo quem tem um curso superior…

Isso já é diferente…

Porque cá não. Cá é má à partida para todos.

Cá… cá esse cara cometeu um erro não tem…

Cá são muito más as condições mas… não são muito humanas, mas… depois há assim a prisão da judiciária que é onde até estes da pedofilia têm estado a aguardar julgamento mas, quer dizer, depois são… são prisões com melhores condições, mas são prisões de passagem… ou seja, estás ali a aguardar julgamento, depois se és condenado segues para outra. Mas, no Brasil, há essa diferença?

Há.

Se tu tiveres um curso superior tem…

Tem uma cela especial… tem cela especial… E eu acho uma coisa muito errada no Brasil é o tal da…Faz muito é cela dentro de casa… se o cara tem… Se o cara é deputado e cometeu um erro, fica preso em casa, e fica o guarda de vigia, não pode sair de casa.

Mas se eu por exemplo cometesse um erro no Brasil, ia estar numa cela especial em relação a outra pessoa. As pessoas, no Brasil (estou-te a perguntar) para eles isto é… porque isto vai da lei, não é? Isto não…

Sim… muita gente…

É contra.

É contra, mas fazer o quê? Se for um político roubou lá. Desviou dinheiro duma obra.

“Desvia”, estás a ver? “Roubou” dinheiro.

Roubou dinheiro da obra… Tá. Ele vai ficar o quê? Numa prisão especial… Ele roubou do mesmo jeito. O roubo dele foi pior porque já tinha. Se ele tinha para quê foi roubar?

Claro.

Agora o pobre coitado que não tem, foi roubar, fica preso, fica condenado. Agora esse não. Esse fica lá. Igual o Collor. Quem diz o Collor foi preso?

Pois.

A polícia foi tirar do Governo, mas ele roubou, não roubou? Então o pobre coitado que roubou lá porque foi preso e o Collor não foi?

Pois.

É para isso que…

Pois.. Portanto, há duas medidas… de justiça. É isso?

Isso.

Olha-se para o caso com duas medidas. Se é rico…

Só serve justiça para pobre. Rico não tem justiça… não vê justiça.

Pois.

Se a pessoa for rico e cometer um crime… se for rico… sai dali. Se for pobre, não.

Pois. Claro. E como é que são as prisões no Brasil? Tens alguma ideia? Tirando essas pessoas que têm condições melhores, como é são as outras?

Ah… Prisões são tão… são péssimas… são péssimas. São péssimas… mas é assim, é um dinheiro é um dinheiro que se gasta muito com prisão. Acho que se fosse eu faria diferente, entendeu? O que é que eu faria, se fosse no meu caso? Construía uma fábrica em forma de prisão, que então aí estaria trabalhando. Agora o cara fica lá, o cara matou fica não sei quantos, roubou não sei quantos, fica lá comendo e bebendo de graça. Quanto é o que o governo gasta por mês? É o quê? 200 Reais por preso. E para um trabalhador que vive fora ganha isso, praticamente. O cara fica lá comendo… Eu sei que é ruim, mas isso que acontece. Eu acho que se fizessem indústria com prisão, entendeu? Como prisão e colocassem ele… ensinassem ele uma profissão… O cara ficar preso lá, o que é vai sai… ele ficar preso, vai perder sua vida, vai sair fora, vai roubar de novo. Então, o que falta a prisão ensinar uma profissão para o cara, depois pegar na fábrica para trabalhar. E devia ser isso. Agora fica o cara lá o dia inteiro lá só pensando… aprendendo mais coisa errada, que está aprendendo mais coisa errada.

Pois.

Quando sair vai ser pior do que entrou.

Pois.

Porque não fazem uma pequena indústria, põe o cara para trabalhar, ensinam uma profissão nele.

Na agricultura se calhar…

Isso, na agricultura… Depois sai cá fora, dá emprego, entendeu? Acho que devia ser isso que devia ser feito.

Mas não é isso que sucede?

Não é isso que sucede.

E corrupção dentro das prisões? Porque com aquele Fernandinho Beira Mar, não é? Aquilo estava… parecia que estava tudo… na palma da mão.

O cara está lá dentro como se estivesse cá fora. De lá de dentro comanda tudo cá fora.

Telemóvel… É celular, como dizem…

Ele tem tudo… Então…

Também não dá para confiar muito então nos guardas prisionais?

Não, não dá, não dá…

Ou no director da prisão?

Não dá… É assim: oferecem dinheiro… Também o cara está lá dentro, se recusar morre lá dentro mesmo. A própria prisão dá segurança para ele, entendeu?

Pois.

Muitas vezes ele tem de aceitar, aceitar suborno, para a sua própria segurança.

Ah, estás a falar do guarda?

No guarda… está segurando. Nuns casos sim, noutros não.

Pois.

Que ele tem que aceitar suborno que se não pode sofrer ali dentro.

Pois. Então e como é que tu achas que as coisas poderiam melhorar e a justiça ser para todos? Eu já entrevistei uma brasileira que me disse que ela acha que, se as pessoas estiverem a contar com os políticos, com a polícia, com a parte institucional toda, as coisas nunca vão mudar. Ela acha que a única maneira (ela estava-se a referir à sociedade brasileira, mas tu, se discordares ou não, podes também referir à portuguesa), ela acha que a única saída que o Brasil tinha era se a sociedade civil, se as pessoas se organizassem, e se fizessem grupos e se começassem as chamadas às vezes organizações não governamentais ou associações mais… Achas que também passa por aí, maior participação das pessoas?

Isso. Acho que passa por aí… Acho que o brasileiro…o povo brasileiro, muitas vezes, é muito acomodado. Se ele fosse evoluindo… quando o povo acordou… viu que foi único país do mundo que tirou presidente, entendeu? O povo brasileiro tem poder. Se unir, não há ninguém que segure ele.

Pois.

Se ele unir e falar “quer isso”, ninguém… ninguém… tirou o presidente, pode fazer qualquer coisa.

Tirou o presidente?

O Collor…

Ah! Sim, sim, sim…

O Collor foi o impeachment, a gente tirou…

Pois.

No mundo o único país que tirou o presidente o povo tirou… Você vê que… a… foi qual foi o país? A Argentina… um país também lá, tentou tirar, quer dizer…

Não conseguiu.

Só que não conseguiram. Então o povo brasileiro é um povo que quando fala que quer alguma coisa consegue. Mas que se fizesse esses grupos e fosse… deixasse de ser acomodados que o Brasil seria muito melhor. O povo também é muito acomodado. Metade disso é culpa do povo… o político fala, fala e povo aceita.

Sim, diz.

Se o povo… se o povo disputasse mais, fizesse mais coisas, acho que seria melhor o Brasil.

Mas é complicado, não é? Essa coisa das pessoas lutarem mais… porque quando… há muitas pessoas que estão a lutar pela própria sobrevivência, quanto mais ainda pensarem nelas e pensar, “Olha, vamo-nos juntar para melhorar…”

Eu acho que é assim, eu acho que cada um…

Se calhar porque há grandes diferenças, não é? Há zonas no Brasil quer dizer, não podes comparar São Paulo com outra zona…

Muita desvantagem…

Exacto. Ou do nordeste, por exemplo…

Isso, o nordeste… É assim: no nordeste é o seguinte, é o meu ponto de vista mas muitas pessoas pensam o mesmo… Aquilo ali é uma mina de… de eleger político. Eu acho que se os político quisessem acabar com a seca ali, já podiam acabado. Então, o quê? Se acabasse ali, o nordeste é grande, então o quê? Entrou ali é um galo de votos. Acho que se eles quisesse mesmo acabar com seca, ele acabaria. Causa de quê? Chegam ali fazem uma coisa “Ah, elege ele”, chega ali fazem uma coisa “Elege ele”… Aquilo ali ficou… ficou indústria de voto. Eu acho que se quiser acabar com a seca, acho que acabaria.

Já tinham acabado…

Já tinham acabado. Incrível isso…

Portanto passa… também, concordas com…

Concordo…

Com essa outra brasileira que eu entrevistei, que passa pelas pessoas?

Muita coisa também que eu faria que se eu fosse presidente é o seguinte: pessoas assim que… vamos dizer assim que… que… gosta de maconha, que se enrola para roubar… O que é que eu faria? Eu arrumaria uma ilha, plantar maconha para todo mundo. “Pronto quer morrer? Morre e força lá”. É simples. Entendeu? Uma ilha lá, em vez de plantação de maconha, pode fumar à vontade. Deixa para lá, não perturba ninguém. Deixa na ilha lá, plantando e fumado à vontade.

Tipo Fernando de Noronha ou assim ou coisa qualquer.

Fernando Noronha, não. (risos)

Está bom, Júnior, muito obrigada.

SEGUNDA ENTREVISTA

Data e hora de realização:

Local da entrevista: Casa – Moscavide

Nesta segunda entrevista, nós na primeira falámos sobre o que é que tu achavas que era a justiça, e eu nesta queria saber… Tu quantos anos é que tens?

Eu… vinte e cinco.

Vinte e cinco. Queria saber…e estás cá há dois anos?

Dois anos.

Queria saber é: olhando para toda a tua vida, desde que tu nasceste até agora, até hoje a este dia horroroso de calor. Olhando para todas as experiências que tiveste… ou para experiências de familiares teus ou de amigos ou de coisas que tu vias na televisão ou qualquer coisa… Portanto, olhando para toda a tua vida, se a ideia que tu me deste de justiça… (na primeira entrevista), se já foi outra? Se já foi diferente?

Não.

Por exemplo. Diz…

Eu acho que não… não…

Sempre foi a… sempre foi a mesma?

Sempre foi a mesma.

É porque, às vezes, nós passamos por experiências, quer dizer, a gente passa sempre por experiências… a vida…

Ela é cheia de… feito furacão, ela é bem…

Exacto. E há experiências, mal a pessoa sai de casa de manhã começa logo… Mas, às vezes, há situações ou há coisas que nós vivemos ou pessoas que nós conhecemos que não têm necessariamente de ser coisas muito graves. Às vezes, não são coisas assim muito sérias. Às vezes, são coisas mais ligeiras mas que, de alguma maneira, nos fazem pensar. Por exemplo… Imagina… Tu sempre… Se calhar, às vezes, as pessoas podem achar, quando são pequenas ou quando já estão na adolescência, podem achar que as coisas são fáceis ou que as pessoas são todas boas, que não há injustiça ou… “Eu até gostava de ser polícia, quando fosse grande” (Já sei que tu não gostas nada de polícias)

(risos)

Mas imagina. E depois às vezes coisas que nós vamos passando na vida é que nos… “Ah, mas espera aí, olha afinal as coisas não são bem assim”.

Não, eu acho que não. O meu sonho quando era pequeno era outro… (risos) Não seria ser… (risos)

Nem em pequeno sonhavas em ser da polícia.

Não, não… Meu sonho foi diferente. Eu sempre tive de… Eu desde pequeno tive… para mim uma profissão teria que ser uma profissão que ajudasse os outros. Eu quando era pequeno sempre sonhava em ser médico. Eu lembro que o meu sonho era ser médico. Sempre profissões… para mim pessoas que… se eu posso ajudar é o próximo, entendeu? O próximo homem necessitado que está ali. Sempre tive esse pensamento, entendeu?

Não achas que esse sonho de tu teres profissões que pudesse ajudar os outros era uma forma de tu fazeres justiça?

Justiça. Eu creio que sim. Eu creio que… O modelo que tenho de justiça é o que eu vejo… no dia-a-dia, que sempre… vejo o jornal sempre dia-a-dia… é o que eu vejo no mundo…

Desde sempre?

Desde sempre, entendeu? Em termos de justiça…

Nem a experiência de imigração, por exemplo, te fez pensar sobre isso? É porque às vezes é uma experiência…

Não.

Por exemplo há pessoas, há pessoas que vêm com os pés bem assentes na terra e já sabem que… pronto. Vêm com aquela coisa de vir ganhar o dinheiro… Mas vêm com calma. Mas há pessoas às vezes que podem vir assim a acharem que isto vai ser facilidades, ou que vai ser muito bom.

Eu sempre achei isso aqui como… sempre vi isso aqui como… tipo… como experiência de vida. Porque eu… meu irmão está mais tempo que eu. Que eu era para ter vindo há muito tempo. Não vim porque… por causa da minha mãe.

Ah, mas o teu irmão estava cá?

Meu irmão já estava aqui quando eu vim. E eu era para ter vindo primeiro que ele. Meu colega me chamou, “Vamos no Portugal…” E aí… na hora animei. Depois pensei “Pô, deixar família e tudo aqui… acho que não tem dinheiro que pague isso.” Entendeu? Aí, depois o meu irmão veio. Aí minha mãe faleceu, eu fiquei sozinho… E eu pensei “Agora que eu estou sozinho mesmo, não tenho ninguém assim mais apegado. Isso meus irmãos… meus dois irmãos e as minhas tias, mas não sou tão pegado como com a minha mãe. Aí resolvi. Vou lá. Se gostar, fico, se não for, volto. Aí estou aqui, a experiência de vida aqui estou... ficar aqui mais uns três anos, depois eu volto para o Brasil para fazer a minha vida de novo.

Mas não é uma experiência que… do género de… Porque às vezes são, são coisa do género: podem ser várias coisas. Já me disseram pessoas que quando eu pergunto se já pensaram de uma maneira diferente, ou seja, se já pensaram esta coisa de maneira diferente, às vezes o que as pessoas me têm dito, inclusive brasileiros, é: “Eu quando estava no Brasil, não”, pensava da mesma maneira, era as coisas que viam, não é? Mas que, ao virem para cá ou outros países, que aí deu uma mudada. Porque não era tão fácil arranjar emprego quanto achavam que devia ser. Depois há o problema da legalização. Depois houve pessoas, nem todas, mas, por exemplo, houve pessoas a dizerem que os portugueses são muito racistas e que discriminam.

É.

E que ouviram comentários na rua do género “Vai para a tua terra”…

É…isso… Antes de eu vir eu até achava que Portugal seria… seria… não seria o que eu imaginei… seria melhor. Sem ofender. Não digo todos…

Não, podes ofender, não há problema! (risos)

(risos) É porque é assim: eu acho os portugueses um povo muito ignorante, entendeu? Não sabe tratar bem a pessoa. Achei um povo… nem todos, mas a maioria acho que sim…

Mas ignorante, no sentido mal educado?

Mal educado. Um povo muito mal-educado. O povo… o povo brasileiro não. Em qualquer sítio que você for, seja qualquer pessoa, você é bem recebido. Ele trata com carinho. Entendeu? Aqui, vocês mal dá um bom dia um para o outro, entendeu? Vocês se fecham para si. O português se fecha para si. Só vivem no seu meio ali. Não entram em convivo, igual tem no Brasil. Você não vê gente… aquela galera… (incompreensão sonora)

Bolinho. Bolinha ou bolinho?

Bolinho.

Ah, bolinho.

O povo brasileiro é um povo amável. Entendeu? Já te recebe bem seja você quem for… chega lá sempre te trata bem. O povo português é um povo mais fechado, um povo mais ignorante. O povo brasileiro não…

Mas é fechado para todos ou é fechado para aqueles que vêm de fora?

Ah… eu creio que… Em termos geral, para todos. Para os de fora, mais. Porque… porque o povo daquele convívio dele, um pouco menos, entendeu?

Mas achas que tem a ver com o quê? Têm medo ou…dos de fora… ou não é medo é outra coisa qualquer?

É outra coisa qualquer. Medo, eu creio que não é, entendeu?

Portanto é difícil os brasileiros conhecerem um “bolinho” português?

É difícil, é difícil. Eu tenho… eu tenho uns colegas português muito gente fina, entendeu? Assim, conheceu eles… um óptimo cara, me tratou super bem… Mas há outras pessoas que são mais fechada, entendeu? Te tratam… Se você chega… Igual a esse… foi que dia? Foi ontem. Eu peguei um táxi… Pô… eu quase desci do táxi, porque o motorista pô acha que está ali por obrigação. Foi super grosso, entendeu? Ele viu que eu era estrangeiro já começa a tratar mal, entendeu? Não é um povo amável, feito o brasileiro. A gente recebe ele tem…

Pois. Mas isso foi assim a experiência mais marcante? Foi isso?

É, assim em Portugal… a desilusão que eu tive em Portugal acho que… acho que era isso…

Foi em relação ao povo?

Foi em relação ao povo… Por ser considerado país do primeiro mundo, lá fora, por estar na Europa, eu acho que a mente, a mentalidade está muito atrasada. Para ser considerado país do primeiro mundo… Acho que a mentalidade muito atrasada…

Mas isso não te fez pensar sobre a palavra em si?

Não… Não… desde pequenino… É o pensamento já…

Por exemplo, nem em termos de trabalho? Porque há pessoas que dizem “Eu, por ser brasileiro, acabo por fazer o trabalho que não dão aos portugueses, acabo por trabalhar mais horas…”

É… eu acho o seguinte… (risos)

Tenho de ouvir coisas do patrão e tenho de ficar calado…

É tem…

Tem esse lado também?

Tem esse lado. Uma coisa que eu acho muito errado aqui é (incompreensão) trabalho na república, é o patrão existe, chamam de “chefe”… Entendeu?

Trabalhas na EDP?

Eu trabalho na EDP, mas quando eu…

Mas estás com contrato?

Contrato. Quando eu estou aqui, quem entra… quem entra… como é que o meu colega trabalha, então se manda eu faço, que eu não gosto de ficar parado. Que eu tenho um pensamento “corpo parado, mente poluída”… Então sempre está fazendo uma coisa para não estar com pensamento… entrar em depressão. Então quando eu não estou aqui geralmente eu vou trabalho na… lavar prato, lavar panela, lá num restaurante… Então, quer dizer… O responsável ali exige que lhe chamem de chefe! Pô, no Brasil não tem, entendeu? Exigir que lhe chamem de chefe! E também outra coisa… o português, em termos assim… posso falar? (risos)

Podes falar eu não vou ficar nada chateada.

Eu acho um pouco preguiçoso. Entendeu? É um tipo assim… Na nossa firma, na nossa firma por exemplo…

Na EDP?

Nós não fazemos serviço para a EDP, trabalhamos para CME, só que…

Trabalham para?

Para a CME que presta serviço para a EDP.

Desculpa lá?

CME.

C… M…

E.

CEM?

CME.

Ah, ok.

Então que é… quando a gente divide, geralmente tem duas indústria aqui: tem a nossa e tem uma outra. A nossa divisão, pô, são duas equipes, mais ou menos seis… Porque nessas duas equipes, quando eu comecei, havia quatro portugueses. Agora só há um.

Despediram-se?

Despediram… Porquê? Isso é assim: o nosso serviço é seguinte, é muito andado. É tipo galinha, onde a galinha vai, você tem que ir atrás dela. Então vê no mapa, os portugueses não vai. Só vai na linha, só vai nos postes se for de carro. Se o carro for ele vai, se não for ele não vai. (risos) Então no final do trabalho surge muita correcção, entendeu? Ele… serviço pesado ele não gosta de fazer. Ele acha que é feio para ele fazer. Entendeu? É por isso que há esses imigrantes que acham o serviço fácil. Por causa disso.

Pois.

Ele fala que… “Ah, português tem muito desempregado…” Pô, mas se tem serviço de mais, porquê ele não trabalha? Entendeu? Você fala que cá e, Lisboa são todos desempregado, mas vê quanto serviço tem aí.

Pois.

Entendeu? Pô, onde é que o meu colega trabalha, na… na… Pô, onde é que ele trabalha não tem um português, apenas o chefe que é português. O que é que acontece, às vezes é necessário fazer hora extra, muitos horas extra. Porquê? Não tem ninguém.

Então aquele discurso que os imigrantes vêm para cá para roubar o trabalho é mentira?

Não, isso eu acho… acho mentira. Porque serviço tem. Só se é… aqui em Lisboa tão muitos desempregados por si. Você vai num restaurante, num café tem “Precisa de empregados”, e precisa na hora. Porque eles não trabalham? Porque para eles aqui eles preferem… eles preferem vestir um terno (que se vê muita vez), vestir um terno e ganhar 400 euros por mês e andar de terno e gravata. Porque ganhar mil ralando… mesmo ralando … prefere andar de terno. Se falar que está com terno e ganhar 400 do que ganhar mil ralando.

É esse tipo de mentalidade que…

Mentalidade, entendeu?

Ainda por cima… das aparências?

Das aparências…

Vale mais aparentar…

Do que… do que estar recebendo muito.

Pois.

Negócio de imigrante (incompreensão)… Agora vão… vários portugueses estão lá no Brasil ver se conseguem trabalho fácil? Porque é difícil que todos os brasileiros trabalham… Entendeu?

Estão cá?

Tanto aqui é como lá, entendeu? Abre uma vaga num emprego, pô, vai 100 fazem a inscrição. Entendeu? Muito pouco trabalho. Aqui há muito emprego, em Portugal. Se há muitos desempregados portugueses (risos)… Não, há excepções, não é? Há excepções, logicamente. Só porque às vezes a fábrica fecha… há excepções. Há muitos portugueses também que não trabalham porque… têm coisa…coisa assim, tipo, não estudou para isso…

Pois.

Entendeu? Aqui o que eu vejo muita dificuldade aqui é muita pessoa que não tiram 12º, como se diz aqui, entendeu? Muitas pessoas desistem.

Não levam…

Não levam até ao final. E querem um emprego bom. O problema está é aí.

Pois. Voltando… eu vou voltar mas não é por causa da piada…

(risos) Eu sei…

Eu ouvi, mas há bocado disseste uma coisa que agora quero voltar atrás que era esse sonho de tu… a tua família era quê? Classe média, classe média-baixa?

É… família é classe média…

Classe média. Que no Brasil… é bom? É muito bom…

É muito bom…

Não é?

É muito bom…

Não sei se tu concordas, mas já houve pessoas que me disseram que, ao longo dos anos, a classe média no Brasil foi desaparecendo?

É, é.

Não é? Passaram muito poucos para a classe alta e a maioria desceu para a classe baixa, não é? Mas isso teve a ver quê? Com políticas?

É… O sistema político atrapalhou muito.

E houve uma altura que a moeda brasileira, quer dizer, de mês a mês mudava o nome quase…

É… porque foi muita a auto-inflação, então isso acabou com o povo…

Pois. Foi aquela coisa de ir para a cama com o leite a um preço e acordar e já estava….

Teve uma época que o povo estava com dinheiro no banco e depois o governo prendeu e não liberou o dinheiro ao povo mais embora… Isso acabou com o povo.

Pois. Um pouco como fizeram com a Argentina há pouco tempo, não é? Então, pronto. A tua família, são muitos irmãos?

Não. Somos quatro: dois homens e duas mulheres.

Tu és o mais novo ou és do meio? Mais velho.

Do meio.

Do meio.

As duas são mais velhas….

As duas raparigas. Então pronto. Mas tinhas esse sonho de ajudar o próximo, ser médico…

É…

Porque é que depois isso não foi avante?

Ah, eu creio que é assim, depois que falo… eu que sou uma pessoa muito… como eu digo… individualista, entendeu? Eu não gosto de receber ajuda de família. E se eu quisesse eu podia estar no Brasil agora a fazer a minha faculdade de matemática, à custa do meu pai. Mas isso eu não quero. Se eu tiver de conseguir é pelo meu suor. Estou aqui, vou ralar por mais três anos aqui, depois eu volto para a minha faculdade. Se eu quisesse eu podia estar lá para mim… trabalhar, entrar no lugar que ele aposentou, para pagar uma faculdade para mim, e eu lá numa boa. Fazendo a faculdade. A vida a fazer isso… tem… tem menos valor. Do que pegar e ralar e fazer como aqui, com meu suor. E foi por isso.

Mas estudaste até que grau?

Lá eu tirei até ao 12º aqui…

Até ao 12º.

Isso. Quando eu voltar agora ver se faço a faculdade de matemática.

Mas tu entre o 12º e vir para cá estiveste a trabalhar algum tempo lá, não é?

Estive a trabalhar…

Se tens 25…

Trabalhei, trabalhei… (incompreensão) assim, para valer. Trabalhei como soldador, como traccionista e depois surgiu a oportunidade de vir para cá… de fazer uma nova experiência de vida… o meu irmão está lá…

E o teu irmão ainda continua cá?

O meu irmão continua. Trabalha com a gente.

Ah, na EDP. Também anda pelo país fora?

É…país a fora (risos)

E que conversas é que… Portanto, estavas para vir primeiro, veio ele primeiro… Depois o que é que… Telefonaste-lhe a dizer, “Olha, vou”, e ele disse, “Não, não venhas”?

Ele estava… estava muito sozinho aqui… Então ele que começou assim, “Vem, vem, vem…” e eu pensei, “Então eu vou”. Aí eu vim.

Achas que esse aspecto de estar sozinho, de não ter a família é muito importante?

É, muito. Pesa muito.

Pesa muito para os brasileiros?

Isso. Para todos os imigrantes em geral. Estar longe da família é… a pior coisa que existe. Para ele foi muito porque quando mãe faleceu ele estava aqui. E a gente não deixou ele voltar que se voltasse não adiantaria nada, ele não ia ter mais casa, ia-se dificultar para ele.

Pois.

Então, isso é muito ruim. Por mais que você ganha, você ganha rios de dinheiro…

Nada paga…

Para algumas pessoas não paga, a parte da família… embora eu tenha… tenho três sobrinhos, estou perdendo… eles estão crescendo agora.

Ah, eles vão crescer, garanto-te! Eles não param! (risos)

(risos) Mas eu queria estar lá para ensinar umas coisinhas erradas para o meu sobrinho. E da família eu sou… sou viciado em vídeo game, então minhas irmãs deixa todos, deixa todos os sobrinhos para não viciar em vídeo game (risos)

Vais dizer, “Vou voltar”, “Não, fica mais um tempo!” (risos)

O meu sobrinho (nome) quando eu vim, toda a hora perguntava por mim, “Mãe, cadê tio Júnior”, “Ah, está no avião”, aí só falava que eu não ia descer do avião mais não… (risos) Tadinho…

Isso custa?

É.

Essa parte. Mas pronto, tu vieste para cá, estava cá o teu irmão, portanto foi mais fácil?

Foi mais fácil… A transição. Que um ajuda o outro. Um dá apoio ao outro.

(pausa) E têm muitas conversas sobre isso?

É… às vezes…

Quem é que tem a opinião pior? Ou melhor? Sobre o…

É assim… a dele… Ele às vezes pensa em ficar…

Ai é?

Ele às vezes pensa em ficar, que não vai para lá e eu já falo que volto. Estás a ver? Uns pensa em ficar, outros pensa em voltar…

Normalmente os brasileiros não ficam. As pessoas que vieram de África, vieram já hão muito mais anos. Vieram logo em 1975, no final da guerra colonial. Vieram com as famílias, então vão já ficar. As pessoas que vieram de leste também me dá a sensação que vão ficar porque já estão a ter filhos. Mas dá-me a sensação que os brasileiros vêm, ganham dinheiro, vão enviando o dinheiro, mas depois voltam.

É… É uns noventa por cento dos brasileiros volta. Uns dez por cento fica.

Porque é que achas que isso é assim? Porque é que não achas que é, por exemplo, como outro tipo de imigrantes que vêm para ficar?

É como eu falo. O Brasil é… o povo mais amável, então dá muito valor à família… é muito amável… Então aqui por mais que façam amigos aqui nunca será igual é no Brasil, entendeu? Não será aquele bem recebido, aquela amizade mesmo que é no Brasil… Então, muitas pessoas voltam por causa da família, dão muito valor à família.

Pois.

Vão voltar lá… acho por causa da família…

Pronto. Voltando ao início, disseste que a maneira como tu pensas nunca mudou… porque sempre pensaste desta maneira: quem tem dinheiro safa-se, quem não tem é que sofre a consequência da justiça. Foi sempre assim porque foi nessa realidade que tu cresceste, foi essas coisas que tu ias lendo no jornal e vendo na TV?

Sim…. Não tem justiça... Porque a gente vê muito… Quem lê muito jornal vê. Vê muito isso. Sei lá “fulano assaltou fulano” por causa de… roubou esse. “Fulano rico matou esse, não foi preso”, “político roubou esse, não foi preso”… entendeu? É um…

Ah, sim…

Isso em todo o mundo tem esse tipo de benefício. E você vai vendo que…

Eu nunca estive no Brasil. Obviamente em todos os lugares do mundo pessoas que têm dinheiro à partida não são tão rapidamente postas na prisão como outras pessoas. Porque ou têm conhecimentos, ou têm dinheiro para pagar a um excelentíssimo advogado ou… e obviamente também há políticos corruptos cá em Portugal e também há polícia corrupta. Mas dá-me a sensação que no Brasil, ou as coisas são muito mais visíveis, ou as pessoas sabem muito mais desses casos do que nós sabemos… Estás a perceber? Pode ser uma questão de visibilidade, não é? Pode acontecer a mesma quantidade nos dois países mas no Brasil saber-se mais. Ou então, se no Brasil acontece mais realmente as pessoas não são presas. Estás a perceber a pergunta?

Estou… é assim, no Brasil… praticamente o…

Como é que o povo brasileiro se sente? Não sei… não sei se é assim. Às vezes, isto pode ser da minha cabeça, eu é que se calhar posso estar a pôr a corrupção assim num tamanho grande que ela na realidade não tem…

É porque… Não… O Brasil assim em termos de corrupção vai ser sempre mau… vai ser sempre grande porque o país é um… o Brasil é país muito grande…

Ah, Está bem. É um país grande, está bem.

Então fazer o quê? Para dividir o país, ali tem muitos estados, entendeu? Então fazer o quê? Que ele vai… São muitos político, por isso, são muito mais coisa. Então, quer dizer, eu creio que… eu acho que… que a imprensa do Brasil… a crise vem do Brasil é muito… muito em cima. Eu acho que a Rede Globo, para mim, acho que é a melhor emissora do mundo em termos de rede aberta. Qualquer coisa que acontece ela está em cima e na hora. Em termos de público, entendeu? Eu acho que, por exemplo, o telejornal, aqui de Portugal, é um pouco fraco.

De que canal?

Os canais é todo um pouco fraco…

De todos os canais?

Entendeu? No Brasil, no Brasil já cai em cima, tudo na hora. Aconteceu aqui, já tem um repórter (risos) praticamente (incompreensão) tudo.

Então… Diz.

Então as coisas no Brasil são mostradas com muito mais…

É isso que eu ia dizer. As coisas podem acontecer 10% ali, 10% cá, mas aqueles 10% no Brasil são mostrados e aqui só mostram 1. Tanto que a gente aqui pode ficar com sensação que cá acontece menos. Achas que não é isso? Não tem a ver com a quantidade, tem a ver que no Brasil sabe-se mais e mostra-se mais esses casos, é isso?

Sabe-se mais, sabe-se mais… Todo o mundo pega em cima. Mesmo que às vezes não aconteça nada, a televisão pega em cima. Tem vezes em que não acontece nada mas ela parece…

Então agora responde-me a isto: isso, esse trabalho que a televisão faz, ou a Rede Globo é trabalho público, é trabalho de informar, é trabalho de tentar mudar as coisas, de fazer alguma justiça ou é sensacionalismo à cata das audiências? É que é assim: tudo bem que há um caso, há corrupção, mas há maneiras e maneiras de dar esses casos, não é?

É, há maneiras e maneiras. Só que é assim: ela tanto… ela… vamos pôr assim: há pessoas… há pessoas que fazem, fazem para si mas com um propósito. Ela caça audiência mas ela leva o povo a sério. Entendeu? Mesmo ela procurando sempre ter audiência ali, ela vai, ela leva o serviço a sério. É igual o político. No meu pensamento é o seguinte: todos os políticos são ladrões. Mesmo que você seja um cara honesto, você entrou lá, você vai roubar. Mas existe aquele político que rouba e faz para o povo, e aquele que rouba e não faz.

Não faz nada…

Entendeu? Qualquer pessoa que… até eu que estou por fora disso (risos), começava a ter bom dinheiro, é preciso ter coragem, não é? Mas há aquele político que rouba e faz e aquele que rouba e não faz. Entendeu? Tanto a Rede Globo, a SBP (nome televisão), a (nome televisão) caçam audiência, procura audiência. Mas o quê? Tudo o que ela faz ela faz com seriedade. E isso é isso. Tudo para punir.

Então já que estamos a falar de televisão, eu entrevistei uma senhora aqui em Moscavide, brasileira, e estávamos também a falar nisto. A televisão pode servir para fazer justiça, não é? Na opinião dela podia ajudar para fazer justiça como aos tribunais ou a polícia e isso e ela falou em particular dum programa, que eu não sei se tu conheces que é a Linha Directa.

Linha Directa.

Que ela achava o melhor programa do mundo porque muitos casos de assassinos ou de roubos ou não se quê, casos que a polícia já tinha arquivado e que não voltou a pegar neles que os repórteres iam lá e que resolviam o caso e que passava às vezes uma data de anos os casos eram reabertos e as pessoas presas.

É, por que é o seguinte. Isso… O cara… vamos supor assim, matou ali, não tem número, mas quando a polícia, quando a polícia resolve, ela resolve para si. Entendeu? E não divulga foto…se divulga é em pouca quantidade, entendeu? Agora Linha Directa não. Pega ali. Você sabe que o Brasil inteiro está vendo. Mostra a foto do cara, conta o caso real…

Estás a dizer de ter a sorte de alguém ver, conhecer?

Ver, conhecer e denuncia, entendeu, por isso é que Linha Directa é um óptimo programa por causa disso, mostra como foi o crime, mostra o retrato falado e praticamente o Brasil inteiro vê, entende, e assim alguém pode reconhecer o sujeito.

Eu percebo esse lado, mas por exemplo cá em Portugal há programas que são assim mais ou menos desse género, que há pessoas que dizem que têm problemas e vão àquele programa de televisão e falam e as pessoas que estão no público dão opinião mais não sei o quê. Esses programas são falsos, porque as pessoas que eles contratam para ir lá são actores, as situações são inventadas. Não achas que esse tipo de programas pode ser perigoso, eu não estou a dizer isto com a linha directa, mas às vezes não dizerem a verdade ou achas que mesmo assim ajudam?

Você fala de Portugal quando não dizem a verdade?

Sim eu não sei se no Brasil há esse tipo?

Há. Às vezes quando é assim é tudo mentira, geralmente dá para reconhecer, reconheço o programa quando é real e outro quando não é, quando começa, quando começa aliás…

Isto eu lembrei-me porque é que disse isto, é porque há muitas pessoas agora que dizem que ir à policia e ir ao Tribunal que demora muito tempo, três anos, quatro anos, cinco anos e às vezes a situação não se resolve, e que se telefonar para a televisão, a televisão vem logo as pessoas dão logo a entrevista e coisa resolve-se muito mais depressa, é verdade?

É, a maioria da vezes sim, quando quer dizer há seriedade naquele assunto

A televisão?

A televisão

Tem de ter um papel como um juiz? Mas imagina teres tu a razão, mas eu ser daquelas que mente?

É, isso geralmente que ali ainda tem isso

Não é? Pode ser perigoso nesse sentido se não for um jornalista sério, qualquer pessoa pode aparecer.

Não, mas geralmente não, nesse caso no meio desse nesse programa há um advogado por fora, eles fazem o quê, eles fazem um parecer naquele programa todo, aquele caso todo e depois vê se vai a audiência ou não, entendeu, porque se tem uma coisa falsa ali, com certeza que a outra emissora cai em cima daquilo, então concorrência entre emissoras no Brasil é muito grande, então geralmente as emissoras não podem vacilar um segundo. Vacilou, a outra já vais estar em cima.

Portanto, mesmo que se seja uma pessoa anónima que telefone para a Rede Globo e diga estou chateada com o meu vizinho porque fez não sei o quê.

Eles vão lá, vão pesquisar se isso é verdade ou não depois e que

Vão apurar primeiro?

Vão apurar primeiro, porque lá são quê, ... briga ou não directa só a rede Globo .... porque aqui errou, a outra cai em cima do erro, entendeu

Mas achas que as pessoas agora estão a ter esse maneira de, olham para a televisão e vêm que aquilo é um instrumento de fazer justiça muito mais rápido do que é o tribunal.

É muitas vezes é isso que a pessoa pensa.

É, e como é que tu achas que os tribunais se sentem? Eu estou-te a perguntar isto porque num destes programas que entretanto foi cancelado que dava na TVI, onde as pessoas a quem tinham acontecido situações desse género e que tinham ido a tribunal e as coisas não tinham resultado da maneira como que eles queriam, iam lá e queixavam-se. E no primeiro ou no segundo programa, o apresentador disse que aquilo era uma vergonha e agarrou na sentença do tribunal, e em frente às câmaras rasgou a sentença a dizer que os juízes não valiam para nada. Aquilo foi muito grave porque a Ordem dos Juízes ficou chateadíssima, porque as pessoas têm que respeitar porque é um Órgão de Soberania. Achas que isso são exageros que não têm a ver com tipo de programas mais sérios, é?

É tem um exagero que não tem a ver. Há os programas que são sério e há os programas que não são sérios. Então por vezes a pessoa tem de tentar separar isso, separa, você pode ver o que não é sério e não dura muito. O que é sério dura, você vê que a Linha Directa dura até hoje, tem onze anos a Linha Directa, e já surgira, uns programas depois a imitar mas não duram, não vão para a frente.

Eles ao fim ao cabo estão também a fazer um trabalho de polícia? Porque é que tu achas que eles fazem a investigação e descobrem e a policia faz a investigação e não descobriu?

O Programa?

Disseram-me que eles acabavam quase a descobrir o culpado, não é, de qualquer coisa, de um roubo ou de um homicídio enquanto a policia não tinha descoberto.

Porque é engraçado… porque a policia procura aqui, entendeu, o cara roubou o aqui procura nesse estado aqui, o país é muito grande, o cara se ele pegar uma coisa aqui ele vai para o Sul. Entendeu? A polícia não vai procurar lá. É que a televisão chega aqui, chega a todo o sítio, depois a imagem do cara vai para todo o sítio e depois há alguém que vai reconhecer. E o programa… para mais quando o país é grande.

Então, foi a crescer e a ver programas destes e os noticiários e o jornal que tu elaboraste essa ideia de justiça, foi?

Foi

E tu um dia gostavas de ter outra ideia de justiça?

Se ela for realmente diferente, aí eu mudo o modo de pensar, agora se ela continuar essa palhaçada que é, aí não tem como mudar não.

E como mudar?

Como mudar? (risos)

Imagina que tinhas o poder de mudar. Começavas a mudar por onde?

Primeiramente, eu acho que o que tinha de ser mudado passado em pano fino acho que seria os políticos e os polícias. Passado em pente fino neles eu acho que igual a eu te falei… O político recebe salário bem alto, entendeu, está ali por causa do salário, não está ali por pura profissão. Eu acho que quando a pessoa trabalha e dá valor pela profissão, dá muito mais valor, não pelo salário. É igual a jogador hoje não existe futebol mais, porquê, os jogadores hoje jogam por dinheiro e não jogam por amor ao team, à bola, então o cara está lá, é tipo Prefeito hoje recebe cinco mil reais e não é porque quer ajudar o povo. Então, quer dizer o salário de Perfeito é X, quem quer ajudar o povo, quem quiser vai candidatar. O salário de Deputado é X, quer? Quer ajudar o povo? Então vai. O negócio, cada ano que entra o salário de Prefeito sobe, e todo o mundo quer ir para lá. As pessoas que não ligam para nada mesmo, não tem ética, não tem carácter, vai para lá fazer o que quiser com o dinheiro. Eu acho que é isso.

Portanto começava por aí?

Por aí.

Mas passava mais por alguma coisa? Ou se tirasses os maus da polícia e da política as coisas mudavam logo?

Mudavam 70%.

Setenta. Já está bom

Sim

Está bom, mais alguma coisa a acrescentar? Estás cansado?

Não

Está bom Júnior.

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