9 - Conhecimento é o Segredo: Parte IX



1 “Cybernomics”, o nome do jogo: Parte I

(Gazeta, 30/set/96), por Pam Woodall, do The Economist

A tecnologia da informação (TI) e a globalização serão arautos de uma era de prosperidade ou trarão a catástrofe econômica? As implicações dessa revolução são o tema deste relatório de The Economist. (Gazeta, 30/set/96)

Durante as duas últimas décadas, a rede global de Computadores, telefones e televisões aumentou sua capacidade de transportar informações em 1 milhão de vezes. A potência dos computadores duplica a cada 18 meses, mais ou menos, de acordo com a Lei de Moore (recebeu esse nome por causa de Gordon Moore o co-fundador da Intel, dos EUA). Atualmente, um computador lap-top de US$ 2.000 é muitas vezes mais poderoso do que foi um computador de grande porte de US$ 10 milhões, em meados da década de 70. Há 25 anos, existiam apenas cerca de 50 mil computadores no mundo inteiro; hoje, o número disparou para cerca de 140 milhões (a tabela mostra como eles estão distribuídos, por vários países). E isso não inclui os chips que há dentro de automóveis, máquinas de lavar roupa, e até mesmo cartões falantes de felicitações. Um carro normal de hoje tem mais capacidade de processamento de computadores do que a primeira nave a pousar na lua, em 1969.

Em 1844, Samuel Morse lançou a era da comunicação instantânea ao telegrafar as palavras proféticas: “O que Deus fez!”. Em 1960, um cabo telefônico transatlântico podia transportar apenas 138 conversações simultaneamente. Agora, um cabo de fibra ótica pode transmitir 1,5 milhão de conversas.

E muito em breve uma fibra do diâmetro de um fio de cabelo humano terá condições de transmitir, em menos de um segundo, o conteúdo de cada edição já impressa da The Economist em seus 153 anos de história. Nenhum meio de comunicação, jamais, teve um crescimento tão rápido quanto a Internet. Ela já possui cerca de 50 milhões de usuários em todo o mundo, com o número duplicando a cada ano. Qualquer pessoa com um computador, um modem e um telefone pode "telecomprar", "teleaprender" e se fazer transações bancárias, 24 horas por dia.

Os fatos e números sobre a globalização são igualmente impressionantes. Durante a última década, o comércio cresceu duas vezes mais rapidamente do que a produção, e o investimento estrangeiro direto, três vezes mais depressa. Mais economias do que nunca abriram seus mercados ao comércio e aos capitais. No mercado global de capitais, vastas somas de dinheiro cruzam fronteiras velozmente, ao toque de um botão. O pregão diário típico de uma bolsa de valores subiu para US$ 1,3 trilhão. As transações além-fronteiras em bônus e ações tiveram uma drástica elevação de 3% do PIB dos Estados Unidos, em 1970, para 136%, em 1995.

1.1 Admirável Mundo Novo?

Os aficionados da tecnologia argumentam que a TI provarse-á mais importante do que qualquer revolução tecnológica anterior. George Gilder, escritor e consultor de tecnologia dos EUA, acredita que a TI "é a força mais poderosa em tecnologia que jamais se formou" e a encara como um mecanismo para o crescimento e a prosperidade. Mas muitos analistas têm uma visão mais sombria: a economia digital global vai causar um desemprego cada vez mais elevado, a escassez de empregos “adequadamente” seguros e bem-remunerados e uma crescente desigualdade e pobreza. Ethan Kapstein, do Council on Foreign Relations de Nova York, alega, em um artigo recente na revista Foreign Affairs, que a “rápida mudança tecnológica e acrescente concorrência internacional estão erodindo os mercados de trabalho dos mais importantes países industrializados... A economia global está deixando milhões de trabalhadores descontentes atrás de si. A desigualdade, o desemprego e a pobreza endêmica tornaram-se suas criadas. Ao mesmo tempo que as economias mudam da era industrial do aço e dos automóveis para a era da informação dos computadores, redes e idéias, alguns estudiosos se convenceram de que as antigas normas econômicas não são mais aplicáveis. Tome-se como exemplo essas cinco teses populares.

1. A TI, ao contrário de qualquer tecnologia anterior, destruirá mais empregos do que cria.

2. A globalização e a mudança tecnológica estilhaçaram os contratos sociais entre trabalhadores e patrões: todos os benefícios do aumento da produtividade estão indo para os donos do capital às custas dos trabalhadores, levando a uma mudança sem precedentes na renda, dos salários aos lucros.

3. A teoria da vantagem comparativa, que sustenta a tese do livre comércio, tem sido solapada pela nova mobilidade da tecnologia e do capital, que permite às empresas nos países ricos localizar o que quer que exista de mais barato no mundo.

4. A inflação acabou. O livre comércio e a nova tecnologia liberaram as economias das antigas restrições à capacidade, e dessa forma os bancos centrais estão aplicando desnecessariamente suas políticas monetárias super-rígidas.

5. A TI provocará uma concentração monopolista de empresas, aniquilando a concorrência, o fundamento das economias de livre mercado.

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A mensagem em comum que há por trás dessas idéias é de que a economia mundial, em mudança, exige nada menos do que um novo paradigma econômico. As políticas que foram irrefletidas, ou até mesmo perigosas segundo o modelo antigo, podem agora ser exatamente aquilo de que se necessita. Se a tecnologia destrói empregos, então talvez os governos devam dificultar a demissão de trabalhadores pelas empresas. Se não existir mais uma coisa como a vantagem comparativa, então pode ser que as barreiras comerciais e os subsídios para indústrias domésticas tenham sua razão de ser. Se a inflação acabou, então talvez os bancos centrais deveriam parar de ser tão cautelosos: está na hora de reduzir as taxas de juros e partir para o crescimento.

1.2 Exagero e Realidade

Mas não rasgue ainda seus velhos manuais de economia. Uma análise mais atenta das implicações da revolução da TI na produtividade, serviços, comércio, inflação e a organização de empresas e mercados sugere que muito deste pensamento que está na moda é simplesmente equivocado. A TI bem pode estar anunciando, uma outra revolução industrial mas compreender e lidar com esta revolução não exige uma revolução na economia. A escala tanto da globalização quanto da mudança tecnológica tende a ser vastamente exagerada. Em certa medida, as economias da virada do século eram tão abertas e integradas quanto hoje. O comércio internacional da maioria dos países industrializados, enquanto parcela do PIB, não é muito maior agora do que era há um século. E enquanto o capital certamente ganhou uma mobilidade incomparavelmente maior nas últimas décadas, os fluxos líquidos de capital entre os países eram na verdade maiores em relação ao PIB no final do século XIX. Na época, a Grã Bretanha investia 40% de sua poupança no exterior.

Do lado da tecnologia, também, pode-se argumentar que as estradas de ferro, navios a vapor e o primeiro cabo telegráfico submarino transatlântico, em 1860, foram muito mais revolucionários do que as conexões via satélite, a Internet e outras "magias" modernas. A diferença é que a globalização do século XIX era impulsionada principalmente pela queda dos custos de transportes, e agora ela está sendo conduzida pela queda nos custos de comunicação, que tornam possível uma integração internacional muito mais profunda. Redes de comunicação baratas e eficientes permitem que as empresas instalem partes diversas de seus processos de produção em diferentes países e, ao mesmo tempo, permaneçam em contato estreito.

A tecnologia de informação e a globalização certamente terão enormes implicações para empresas, trabalhadores e governos. Mas porque essas implicações seriam ruins? Esta série de artigos, embora escrita por um "tecnófobo" confesso, argumentará que a TI dará um impulso significativo ao crescimento e, conseqüentemente, ao padrão de vida nas economias industrializadas (mas esses ganhos serão difíceis de medir, porque a estatística econômica convencional, concebida para a era industrial, está fora de seu elemento na era da informação). E também não há nenhuma justificativa para as previsões apocalípticas de crescente falta de emprego e salários decrescentes, na medida em que os trabalhadores nas economias ricas são substituídos por computadores ou mão-de-obra estrangeira. Alguns trabalhadores e empresas serão de fato excluídos, mas no conjunto a era da informação, como toda revolução tecnológica anterior a ela, gerará pelo menos tantos empregos quantos destruirá e no total esses empregos serão melhor remunerados do, que os antigos.

Enquanto isso, entretanto, ela deverá promover temor e incerteza, como sempre acontece nos períodos de mudanças rápidas. A mudança desequilibra e sempre enfrentará a resistência de alguns. Entretanto, a mudança é simplesmente outro nome para o crescimento econômico. Em 1820, três-quartos dos americanos lavravam a terra. Agora, a porcentagem é de apenas 3% (ver gráfico). Os demais estão empregados de forma muito mais produtiva em outros lugares.

O crescimento sustentado em rendas e emprego depende de mudança contínua de recursos dos setores em declínio para os setores em expansão, em um processo notavelmente descrito por Joseph Schumpeter, um economista australiano, como “destruição criativa”. Em contrapartida, um mercado de trabalho congelado, sem contratação ou demissão, seria realmente causa para preocupação. Da mesma forma, se os governos tentam proteger as empresas e os empregos contra mudanças por meio de tarifas de importação, subsídios ou proteção de empregos, eles impedirão não apenas a mudança, mas também o crescimento econômico.

Para as economias como um todo, a rápida mudança tecnológica é uma bênção, porque a longo prazo é a principal fonte de padrões de vida mais altos. Para os indivíduos dentro destas economias, as vantagens não são sempre tão óbvias, porque os custos e benefícios da IT e da globalização não são distribuídos igualitariamente. Mesmo se a longo prazo ela realmente cria muitos empregos novos, as vagas para programadores de computação em Londres, por exemplo, de nada servem para os siderúrgicos desempregados da Escócia. Haverá vencedores e perdedores e isso pode levar ao aumento das desigualdades em perspectivas de empregos e renda entre trabalhadores qualificados e não qualificados.

Isto pode ser uma situação difícil de resolver, mas é exatamente o que a teoria econômica tradicional nos levaria a esperar. Da mesma forma, a expansão da economia com base no conhecimento, em que a produção será cada vez mais na forma de produtos intangíveis, tais como serviços de informação, publicidade e entretenimento em lugar de bens materiais, fará uma grande diferença para o formato das economias, mas não para a forma da ciência econômica. A teoria econômica se provou suficientemente forte e versátil para fornecer um projeto tanto para o futuro digital como para o passado mecânico.

Mesmo assim, isso não significa que os governos deveriam apenas esperar e assistir. Há muita coisa que eles podem fazer para ajudar suas economias a se ajustar à mudança, e dar uma mão àqueles que perderem os empregos. Em períodos de mudança tecnológica, são as economias com os produtos e mercados trabalho mais flexíveis que apresentam melhor desempenho. Portanto, para a emergente economia cibernética, é ainda mais importante a necessidade de os governos liberarem suas economias.

2 - A Última Das Grandes Ondas Tecnológicas: Parte II

(Gazeta, 01/out/96)

Por ser aplicável em todos os setores da economia, a tecnologia da informação (TI) tem conseqüências bem diferentes das que tiveram as tecnologias que a precederam.

O progresso tecnológico era visto como algo que simplesmente caía do céu. Estudos mostram que, na maioria das economias, uma maior utilização de trabalho e capital mal foi responsável por metade do crescimento total da produção neste século. O imenso resíduo inexplicado foi denominado de "mudança tecnológica", mas na verdade na verdade se tratou de uma medida da ignorância dos economistas.

Depois foi a vez da "nova" teoria do crescimento, elaborada em meados da década de 80 pelo trabalho inovador de Paul Romer, um economista da Universidade Stanford. A teoria tentou incorporar a tecnologia diretamente nos modelos de crescimento econômico, explicando como o conhecimento tanto na forma de tecnologia quanto na de capital humano é criado e difundido por meio da economia. Idéias, ao contrário de insumos materiais, não são escassas em si mesmas. Novas idéias para processos mais eficientes e novos produtos podem, portanto, tornar possível o crescimento contínuo.

2.1 Nova Sensação

Até esse trabalho recente, Joseph Schumpeter era um dos poucos economistas que haviam tentado explicar o crescimento sobretudo em termos de inovação tecnológica, e o interesse por sua teoria foi retomada nos últimos anos. Na década de 30, ele apresentou um modelo que postulava crescimento por meio da interação de surtos de desenvolvimento tecnológico e competição entre empresas. Schumpeter via o capitalismo se movendo em longas ondas: a cada 50 anos, aproximadamente, revoluções tecnológicas podiam causar " vendavais de destruição criativa", durante os quais velhas indústrias seriam varridas e substituídas por outras novas. Cada onda de tecnologia alimentaria um aumento súbito dos investimentos e forneceria uma porção de empregos novos em novas indústrias.

Como evidência, os adeptos de Schumpeter apontam a história moderna. A primeira grande onda, dos anos 1780 aos anos 1840, trouxeram a energia a vapor, que conduziu a revolução industrial; a segunda, dos anos 1840 aos anos 1890, introduziu as ferrovias; a terceira, da década de 1890 à década de 1930, produziu a energia elétrica; e a quarta, da década de 1930 à de 1980, foi alimentada por petróleo barato (e pelo automóvel). Agora, argumenta-se, a quinta longa onda está sendo alimentada pela tecnologia da informação (TI) .

Prever as conseqüências de uma nova tecnologia é extraordinariamente difícil. A história está repleta de exemplos de pessoas aparentemente sensíveis e organizações respeitáveis que se tornam desvairadamente iníquas. Em 1876, a Western Union, uma companhia telegráfica, recebeu uma oferta para comprar a patente do telefone de Graham Bell. A empresa rejeitou a oferta porque "o aparelho é inerentemente sem valor para nós". Em 1899 o Comissário da Agência de Patentes dos EUA recomendou que seu organismo fosse extinto, porque “tudo que podia ser inventado já foi inventado”. E, na década de 1940, Thomas Watson, então “chairman”da IBM, previu um mercado mundial para talvez cinco computadores; ele não foi capaz de prever quaisquer possibilidades comerciais para eles.

A Tecnologia da Informação (TI), por sua vez, já atraiu sua parte de previsões que provaram estar bem afastadas do alvo. Vinte anos atrás, falava-se muito mais sobre o escritório sem papéis e a sociedade sem dinheiro que a nova tecnologia traria. Mas papel e dinheiro ainda estão conosco - no caso do papel, ainda mais que antes.

Ainda assim os sábios persistem em argumentar que a TI é diferente, em gênero, das tecnologias anteriores e, portanto, terá conseqüências econômicas vastamente diferentes. Sua primeira característica peculiar é sua difusão absoluta. Ela não apenas pode ser aplicada por todos os setores da economia (o que também foi verdadeiro no caso da eletricidade), como também pode afetar cada função dentro de uma empresa. Para citar apenas alguns exemplos, a TI pode melhorar o desempenho de um trator numa fazenda, o projeto, a fabricação e a comercialização de um carro; também melhora o diagnóstico e a ministração de assistência médica. Ao contrário da energia a vapor ou da eletricidade, a TI pode ser tanto um insumo quanto um produto final; é capaz d revolucionar a produção e distribuição de outras indústrias e serviços, mas também oferece uma vasta faixa de novos produtos e serviços próprios.

Uma segunda característica importante é o vertiginoso declínio dos preços do poder do processamento do computador, que caiu, em média de 30% ao ano em termos reais durante as duas últimas décadas. Segundo uma estimativa, o trabalho do computador custa agora apenas um centésimo de 1% do que custava no início da década de 70. Muitos especialistas esperam que os preços continuem a cair rapidamente durante pelo menos os próximos dez anos. Se os automóveis tivessem se desenvolvido no mesmo ritmo dos microprocessadores durante as duas últimas décadas, um carro comum custaria, hoje, menos de US$5 e teria rendimento de cerca de 105 mil quilômetros por litro de combustível.

Jamais o mundo viu uma queda tão significativa no preço de um insumo industrial. Quando a energia a vapor foi aplicada pela primeira vez, não era tão barata quanto a força hidráulica, e seu preço real quase não mudou desde a década de 1790 até meados da década de 1830. Foi necessário esperar até 1850 para que seu preço caísse para a meta e de seu nível em 1790. Da mesma forma, entre 1890 e 1930, o preço da eletricidade caiu cerca de 65%, um declínio de apenas 2 a 3% ao ano.

Preços em queda, uma das melhores medidas da rapidez do progresso tecnológico, confirmam a impressão de que o ritmo da mudança se acelerou. O rápido declínio dos preços também encoraja mais pessoas a comprar computadores, permitindo a difusão acelerada da tecnologia. Em comparação, o alto custo do telégrafo inibiu seu uso por décadas: nos anos 1860, a uma libra a palavra, um telegrama transatlântico (equivalente a 40 ou 60 libras, US$ 62 a US$ 93 hoje), poucas empresas poderiam se dar ao luxo de usá-lo. Ciclos de produtos contam a mesma história de mudança mais acelerada: 70% das receitas do setor de computadores são geradas por produtos que não existiam há dois anos.

2.2 Um Mundo Encolhido

Uma vantagem especial da TI é que ela reduz os custos das comunicações e das transações, ajudando os mercados a funcionar com mais eficiência. Uma chamada telefônica de três minutos entre Nova York e Londres custa, atualmente, cerca de US$2. Em 1930, teria custado mais de cem vezes os preços de hoje. A queda dos custos deverá se acelerar na próxima década, graças a enormes avanços técnicos, maciço aumento na capacidade de transmissão e concorrência crescente competição. Alguns prevêem que os custos marginais das telecomunicações cairão para algo próximo a zero, para chamadas internacionais e também para chamadas locais. Simon Forge, da consultoria Cambridge Strategic Management Group, prevê, no estudo “As Conseqüências das Tendências das Telecomunicações para a Competitividade dos Países em Desenvolvimento”, feito para o Banco Mundial em 1995, que até o ano 2005 uma chamada de videofone custará apenas alguns centavos por hora.

Talvez uma das mais importantes características da TI é que ela lida com o conhecimento. Mais e mais conhecimentos agora podem ser codificados: informações, na forma de números ou voz, podem ser reduzidas à forma digital e armazenadas em computadores, como uma série de zeros e números 1. Isso permite que o conhecimento seja difundido mais rapidamente, e fica mais fácil para os países em desenvolvimento alcançarem os outros. A codificação do conhecimento e os baixos custos e transmissão também facilitam as transações dos serviços, pela eliminação da necessidade de contato direto entre produtores e consumidores, e também liberam a produção, permitindo que as empresas sediem diferentes partes de seus negócios em países diferentes e façam a conexão entre eles por redes de computadores.

Os entusiastas da TI citam outro ponto a seu favor: ela exige menos recursos do que as tecnologias anteriores e é potencialmente mais favorável ao ambiente. Enquanto os automóveis, ferrovias e motores a vapor usavam matérias-primas e energia em grande escala, a TI acelera a mudança para uma economia "sem peso", na qual uma parcela crescente da produção toma a forma de bens intangíveis. A TI oferece também, enorme potencial para reduzir a poluição e os congestionamentos, por meio do "teletrabalho" e das "telecompras", que tornarão muitas viagens desnecessárias. Forge afirma, com otimismo, que por volta de 2005 um quinto de todos os trabalhadores dos países ricos estará "teletrabalhando", seja em horário parcial, seja integral.

Mas vale a pena lembrar que, quando surgiu o automóvel, foi visto como uma alternativa mais favorável ao ambiente do que os veículos puxados a cavalo, que, no final do século XIX causavam sérios engarrafamentos de tráfego em Londres, e inundavam as ruas com esterco. Os carros pareciam reduzir drasticamente a poluição, embora hoje sejam vistos como inimigos do planeta.

Neste ano, coincidentemente, completa-se tanto o centenário do primeiro automóvel produzido em massa quanto o cinqüentenário do primeiro computador. Como a história julgará a revolução da TI daqui a 50 anos? O que a TI pode fazer pela produtividade - e por que ainda não fez mais?

3 - O Computador Deve Até Ajudar O Emprego: Parte III

(Gazeta, 02,03/out/96)

Apesar de todas as transformações que acarretou, a tecnologia da informação (TI) ainda não consegue ser avaliada estatisticamente como fator de aumento da produtividade.

A aparente ausência de um incentivo à produtividade originado da nova tecnologia chegou a ser conhecido entre os economistas como o paradoxo da produtividade.

Apesar de centenas de estudos, os cientistas mais lúgubres continuam profundamente divididos quanto às razões que levaram a revolução dos computadores a fracassar no incentivo à produtividade. Uma explicação possível, embora deprimente, é que não houve revolução alguma, e que os computadores não são exatamente produtivos. Paul Krugman, economista no MIT que jamais se esquivou de controvérsias, argumenta que os recentes avanços tecnológicos não pertencem ao mesmo grupo daqueles conquistados no começo deste século. Voltando no tempo, às décadas de 50 e 60, quando a produtividade teve um aumento repentino, ele indica que as mudanças tecnológicas na época afetaram cada um dos aspectos da vida. Em 1945, cruzar os Estados Unidos de trem poderia demorar três dias, e os produtos alimentícios eram vendidos em mercearias familiares; em 1970, a viagem de uma extremidade à outra do país levava cinco horas de avião, e os alimentos vinham dos grandes e eficientes supermercados. Em comparação, ele afirma, a TI tem menos efeito sobre a vida da pessoa comum. "A compra de passagens por computador é ótima, mas a viagem de um canto ao outro do país ainda leva cinco horas; os códigos de barra e scanners a laser são excelentes, mas o comprador ainda precisa entrar na fila do caixa. Krugman tem uma certa razão. Só porque os computadores de hoje são 50 vezes mais potentes do que eram há dez anos, não serão necessariamente 50 vezes mais produtivos. E quanto mais baratos se tornam os computadores, mais as pessoas acabam usando-os para tarefas nada vitais, tais como jogar paciência. Uma das razões pelas quais os gastos com computadores são altos é que o equipamento é substituído com uma freqüência cada vez maior por modelos mais potentes, mais novos, bem antes de estarem ultrapassados.

Além disso, o investimento em novas tecnologias pode nem sempre ter a intenção de aumentar a produtividade. Em um estudo recente, "Tecnologia, Produtividade e Empregos", a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) assinala que uma parcela crescente de gastos com P&D e TI é dedicada à diferenciação de produtos e ao marketing, em uma batalha por participação de mercado, não para tornar a produção existente mais eficaz.

3.1 Dínamo Do Século XXI

Embora possa haver uma boa dose de verdade na alegação de que parte dos gastos com TI é "desperdício", isso não resume a história toda. Da história se extrai uma segunda explicação, mais esperançosa, para o paradoxo, mostrando que geralmente existe um atraso de várias décadas antes que os grandes avanços tecnológicos revertam em ganhos de produtividade em toda a economia. As empresas levam um certo tempo até identificar as formas mais eficientes de utilizar a nova tecnologia e fazer as mudanças em sua organização. É a difusão ampla de uma tecnologia, em vez da sua invenção, que traz os maiores benefícios.

Paul David, historiador da economia na Universidade Stanford, explica em um estudo clássico ("Productivity, R&D and the Data Constraint") de que forma a invenção do dínamo elétrico, nos primeiros anos da década iniciada em 1880 (que abriu o caminho para o uso comercial da eletricidade) levou 40 anos para render ganhos significativos em produtividade. O aumento da produtividade nas economias industriais, na realidade, sofreu uma desaceleração depois de 1890 e não se reanimou até a década de 20. Isso reflete, em parte o prazo demorado para adoção da eletricidade. Em 1899, a eletricidade representava menos de 5% da energia usada na produção americana; só em 1919 sua participação alcançou 50%. E mesmo quando as empresas haviam instalado eletricidade, ainda demorou um bom tempo para que elas aprendessem a organizar suas fábricas em torno da energia elétrica e se aproveitassem de sua flexibilidade. Anteriormente, as máquinas precisavam ser instaladas ao lado de rodas hidráulicas ou máquinas a vapor; a eletricidade permitia que elas fossem postas ao longo da linha de produção, para elevar ao máximo a eficiência do fluxo de trabalho.

Da mesma forma, gastar um bocado de dinheiro em TI não é o suficiente; as empresas também precisam aprender a usá-la com eficácia. Quando os computadores apareceram nos escritórios, na década de 70, eram usados para a automação de tarefas existentes, tais como datilografia. Levou tempo até que os administradores compreendessem que os computadores não só permitiam que eles fizessem as mesmas coisas de forma diferente, mas também que fizessem coisas completamente diferentes. Além disso, cerca de três quartos de todos os gastos em TI foram para setores de serviços, tais como telecomunicações e serviços financeiros. Até recentemente, estes eram quase sempre protegidos da concorrência; portanto, tiveram pouco incentivo para usar a TI com eficiência.

Embora o computador tenha sido inventado há 50 anos, a revolução dos computadores só começou, na realidade, depois que a Intel introduziu o rnicroprocessador, em 197 1. O PC da IBM só foi introduzido em 1982. Se demorou 40 anos até que a energia elétrica começasse a mostrar ganhos em produtividade, talvez não seja surpresa se os benefícios dos computadores ainda precisem se materializar, Por outro lado, graças aos preços, que estão despencando, os computadores estão sendo difundidos em toda a economia com maior rapidez do que o foi a energia elétrica. Cerca de metade de todos os trabalhadores americanos usam, atualmente, alguma forma de computador (apenas um quarto deles o fazia em 1984). Como a pesquisa de David parece sugerir que os benefícios de produtividade comecem a ser colhidos uma vez que o índice de difusão de tecnologia supere os 50%, os ganhos em produtividade podem estar muito próximos.

De fato, em termos de empresas, mais do que em termos da economia em geral, já existem evidências de que os computadores estimulam a produtividade. Erik Brynjolfsson e Lorin Hit, do MIT, em um estudo que analisou 367 grandes empresas dos EUA nos setores de produção e prestação de serviços, entre 1988 e 1992, descobriram que o investimento em computadores rendeu, em média, um retorno de mais de 50% ao ano.

3.2 Buraco Negro Estatístico

Se o retomo é tão bom, por que ele não aparece na economia global? A explicação, dizem alguns, é que os computadores representam apenas 2% do total do capital social dos Estados Unidos. Em contrapartida no pico da era das ferrovias, no final do século XIX, as ferrovias representavam 12% de seu capital social. Superficialmente, isso pode fornecer uma terceira explicação para o paradoxo da produtividade: o de que o capital social dos computadores, no momento, é pequeno demais para representar uma grande diferença no crescimento global da produtividade. No entanto, o número de 2% cobre apenas computadores. Acrescente-se a isso o equipamento de telecomunicações e software, e o total aproxima-se dos 12%, o mesmo das ferrovias. Além disso, se, como muitos acreditam, a revolução da TI ainda está em seus estágios iniciais, com alguns setores ainda praticamente intocados por ela, então, enquanto ela vai-se disseminando pela economia, o mesmo acontecerá com o seu potencial para elevar a produtividade.

Segundo uma quarta explicação para o paradoxo da produtividade (e talvez o mais persuasivo de todos), os benefícios já estão surgindo, mas os modelos de estatísticas econômicas não estão conseguindo captá-los. As ferramentas usadas para medir a produtividade são mais adequadas à produção das oficinas satanicamente sombrias do século XIX, do que às magias eletrônicas do século XXI.

Zvi Griliches, economista da Universidade Harvard, chama a atenção para um indício no paradoxo da produtividade: a desaceleração no crescimento da produtividade foi muito maior no setor de serviços, onde ela é notoriamente difícil de se medir, Na produção, onde as estatísticas são mais confiáveis, o aumento de produtividade resiste bem melhor às análises. Isso é significativo, porque muitos setores de prestação e serviços investiram proporcionalmente mais em TI do que em produção. Em transportes aéreos, telecomunicações, varejo, serviços de saúde, serviços bancários e seguros, os investimentos em TI têm sido equivalentes a uma média de quase 6% da produção, comparados a menos de 3% no setor industrial. Segundo Griliches, o problema da medição é duplo: em primeiro lugar, as economias estão mudando para a prestação de serviços, que sempre foram complicadas de se medir; e em segundo, a natureza dos ganhos decorrentes da TI é, freqüentemente, difícil de ser quantificada.

Em muitos serviços é difícil até mesmo definir a unidade de produção, em parte por causa da produção mais elevada, que em geral vem na forma de melhorias na qualidade. Em áreas como finanças, serviços de saúde e educação, os estatísticos do governo costumam partir do princípio de que a produção se eleva de acordo com o número de horas trabalhadas. O efeito grotesco é que a medição do aumento de produtividade é zero, por definição. Da mesma forma, a produção em telecomunicações é medida em minutos gastos em telefonemas, deixando de lado o imenso aumento nas informações transmitidas via fax ou pelos modems mais rápidos. Ou imagine-se que uma transportadora introduza um sistema de computadores que ajude os motoristas a escolher a rota mais rápida e, dessa forma, possa fornecer um serviço melhor para seus clientes, Se a quilometragem cai como conseqüência disso, as estatísticas oficiais vão mostrar uma queda na produção real.

A parcela da economia que pode ser medida com algum grau de precisão está encolhendo. Em 1947, calcula Griliches, cerca de metade da produção americana estava na agricultura, na mineração e na indústria e, portanto, era facilmente mensurável. Até 1990, essa parcela havia declinado para apenas 30%. E, mesmo assim, os outros 70% de produção contêm alguns dos setores de crescimento mais acelerado.

Um dos maiores problemas é o cálculo das mudanças de preços, que são usados para deflacionar aumentos em produção nominal entre dois períodos, para obter alterações no volume da produção. Isso é relativamente fácil para commodities básicas, tais como trigo ou aço, mas muito mais difícil para bens e serviços onde produtos novos e melhores estão sempre surgindo. Uma tonelada de aço é praticamente a mesma coisa que era há 20 anos, mas a qualidade de um aparelho de televisão, por exemplo, teve um imenso aperfeiçoamento. Portanto os aumentos nos preços precisam ser ajustados para a melhoria na qualidade.

Os índices oficiais de preços exageram a taxa da inflação e, assim, subestimam o crescimento, em um certo número de formas. Por exemplo, os estatísticos do governo, tendem a retardar a inclusão de novos produtos ou serviços no índice de preços ao consumidor, até que eles estejam no mercado há vários anos, deixando de fora, portanto, a rápida queda de preço que geralmente ocorre nos primeiros anos de um novo produto. Quando os videocassetes apareceram no mercado, no final da década de 70, eram vendidos por preços em torno de US$ 1.000. Em meados da década de 80, o preço havia caído para US$ 200 e muitas novidades haviam sido acrescentadas, tais como controles eletrônicos e capacidade de programação. No entanto, foi apenas em 1987 que eles foram incluídos no índice de preços ao consumidor; então, a imensa queda no preço em sua primeira década de vida não foi registrada. Da mesma forma, os computadores pessoais só foram incluídos 13 anos depois que o primeiro computador doméstico foi lançado no mercado.

Outro exemplo é que o preço dos serviços médicos é medido pelo custo das entradas, tais como honorários dos médicos e despesas de hospitais. Mas isso não reflete as melhorias em tratamentos, que reduzem o consumo de tais entradas. Por exemplo, no começo da década de 60, um paciente típico de catarata passaria sete dias no hospital, enquanto agora a operação pode ser feita em um dia, sem internação. Nada disso aparece nas estatísticas oficiais. Aumento.

3 Riqueza Além das Medidas?

Um estudo de Leonard Nakamura, economista do Federal Reserve Bank da Filadélfia, calcula que a taxa de inflação nos Estados Unidos tem sido exagerada, em média, em dois ou três pontos percentuais por ano desde 1974, principalmente porque novos produtos ou aperfeiçoamentos em produtos foram omitidos. Se isso estiver correto, então o aumento da produtividade nas ricas economias dos países industrializados tem sido bem mais elevado do que sugerem os números oficiais.

Isso teria menos importância se novos produtos e alterações de qualidade fossem introduzidos num ritmo constante. O aumento exagerado da inflação (e, como conseqüência, a diminuição do crescimento) seria constante com o tempo, portanto não iria distorcer o relativo crescimento da produtividade entre dois períodos, e dessa forma não poderia explicar o paradoxo da produtividade. No entanto, existe uma boa razão para se acreditar que o grau de erro em medições tenha piorado na medida em que os ciclos dos produtos tenham diminuído. Nakamura calcula que o erro no cálculo da inflação tenha sido mais alto em 1,7 ponto percentual por ano, desde 1974, do que nos 15 anos anteriores. O maior desaquecimento do crescimento que isso abrange poderia ser quase que suficiente para explicar toda a aparente desaceleração do aumento na produtividade nos Estados Unidos nas duas últimas décadas. E se os erros nas medições têm piorado durante esse Período, então o crescimento real na produtividade pode agora estar tendo uma alta acentuada, e não estar decaindo.

O problema de medições errôneas toma-se mais agudo quando a produção muda para produtos e serviços, onde a qualidade é um fator importante. Henry Ford ofereceu aos seus clientes um carro de qualquer cor, desde que fosse preto. Mas a TI permite que se torne econômico fornecer uma escolha maior, mesmo para produtos personalizados, para as necessidades de clientes individuais. Uma grande parcela dos benefícios da TI vem não através da economia de custos, mas na forma de aperfeiçoamentos em qualidade, uma escolha mais variada por parte do consumidor, melhores serviços de atendimento ao cliente, economia de tempo e conveniência. Essas coisas são importantes para os consumidores, mas difíceis de serem medidas. Por exemplo, os caixas automáticos que funcionam 24 horas certamente tornaram a vida mais conveniente para os clientes de bancos, mas essa conveniência agregada não aparece nas contas do país. Ao contrário, como há um processamento menor de cheques, a produtividade medida parece cair.

Muitos economistas dos Estados Unidos acreditam que as revisões feitas no começo deste ano na metodologia usada para calcular o PIB americano (uma mudança de ponderações fixas para as ajustadas anualmente), embora defensáveis por si próprias, tiveram o efeito de subestimar ainda mais o crescimento. Mesmo que os especialistas em números estejam tentando, acertar as estatísticas é, com certeza, difícil. Uma das razões é que os departamentos de estatísticas dos governos em muitos países estão sem fundos. E, mesmo onde há dinheiro disponível, ele em geral é mal destinado. O orçamento para as contas estatísticas nacionais dos EUA, por exemplo, é menos do que um terço do destinado às estatísticas agrícolas.

No entanto, pode ser que exista um motivo ainda maior para a impropriedade das estatísticas oficiais: pode ser que a economia esteja, simplesmente, se tornando impossível de ser medida. Os métodos convencionais de medição da economia não estão mais à altura da tarefa, e os economistas não entram em acordo sobre como aperfeiçoá-los. Pouco ajuda também o fato de que, dentro da profissão de economista, a

estatística seja considerada um assunto muito menos interessante do que teoria econômica; portanto, ela não consegue atrair a quantidade de pessoas talentosas das quais necessita.

De qualquer forma, porém, seja o que for que os estatísticos possam no final apresentar, é enganoso julgar o valor da TI comparando-se o aumento de produtividade nas duas décadas passadas com o das décadas de 50 e 60. Esse foi um período excepcional, quando o crescimento, em muitos países, estava substituindo o tempo perdido na depressão da década de 30 e na Segunda Guerra Mundial. Adotando-se uma visão mais ampla, o crescimento recente tem sido bastaste respeitável (ver gráfico). Levando-se em conta o fato de que os erros em medições sejam atualmente muito piores do que no começo deste século, a produção per capita das economias mais ricas pode muito bem estar crescendo mais rapidamente do que em qualquer revolução tecnológica anterior. Mas o que isso representa para os empregos?

4 - O Computador Deve Até Ajudar O Emprego: Parte VI

(Gazeta, 05/out/96)

Da mesma forma que as tecnologias que a precederam, a tecnologia da informação causou a eliminação de muitos postos de trabalho, mas também significa a criação de novos.

Publicado por G.P.Putnam's Sons, afirma que três em cada quatro empregos nos EUA - tanto no setor de serviços quanto no industrial - poderão ser automatizados. Ele prevê que, em meados do século XXI, centenas de milhões de trabalhadores serão permanentemente relegados à ociosidade.

E verdade que milhões de empregos serão destruídos pela tecnologia, assim como ocorreu nos últimos 200 anos. Mas no passado essas perdas de emprego foram sempre compensadas por ganhos de emprego, de forma que o emprego total continuou crescendo de acordo com a população. Quando ferreiros e cocheiros desapareceram, mecânicos e vendedores de carros tomaram seus lugares. A tecnologia mudou os tipos de empregos em oferta, mas o volume continuou crescendo.

Ah, dizem os modernos adeptos de Ludd, mas a tecnologia da informação (TI) é diferente das tecnologias anteriores, assim suas conseqüências para o emprego também serão diferentes. Destacam-se três diferenças específicas:

1. Primeiro, a TI é muitos mais difusa em seu impacto do que a energia a vapor ou eletricidade, afetando todos os tipos de empregos, administrativos ou manuais, na manufatura ou em serviços. Rifkin está especialmente preocupado com o potencial da TI para substituir empregos no setor de serviços, onde o crescimento do emprego tem sido aproximadamente equivalente a todos os novos empregos criados nos últimos 50 anos. nos timos 50 anos. Computadores que podem reconhecer a voz estão substituindo operadores de telefone, os caixas automáticos substituíram os caixas de bancos. Em alguns hotéis, registro eletrônico de entrada, canal de voz e registro automático de saída substituíram o balcão; os hóspedes jamais precisam falar com alguém. À medida que a tecnologia de reconhecimento de personagem-e-voz se desenvolve, outros milhões de empregos como esses poderão desaparecer, diz Rifkin. As máquinas inteligentes também estão invadindo as profissões liberais. Computadores podem diagnosticar algumas doenças, e robôs podem agora ser programados para realizar operações tais como transplantes de ossos ilíacos. Máquinas sintetizadoras high-tech podem exercer a função de músicos, e, com computadores engenhosos, os filmes já não exigem astros. Nem os escritores podem se considerar indispensáveis, de acordo com Rifkin: um romance gerado por computador - um enredo tórrido, aparentemente não pior do que muitos elaborados por um cérebro humano - foi publicado em 1993.

2. Segundo, a TI está sendo introduzida com muito maior rapidez do que as tecnologias anteriores, em parte porque seu preço está caindo mais rapidamente. Isso deixa menos tempo para substituir os empregos perdidos e para reciclar pessoal.

3. Terceiro, a TI torna o trabalho mais móvel. Em alguns serviços, telecomunicações sofisticadas substituíram o contato com clientes. As empresas podem transferir empregos tais como programação de computadores ou processamento de pedidos de pagamento de seguros para países onde os salários são mais baixos. Nesse sentido, a TI não só reduz a demanda por trabalhadores, mas também aumenta a oferta abrindo postos de trabalho em todo o mundo. A TI pode até criar uma porção de empregos novos, dizem os pessimistas, mas é mais provável que isso aconteça no Leste da Asia do que nas ricas economias industrializadas.

4.1 Fantasma na máquina

A resposta de um economista ortodoxo poderia ser aproximadamente esta: sim, uma nova máquina provavelmente reduzirá a quantidade de trabalho necessária para gerar um dado volume de produção. Mas concluir daí que o emprego geral declinará é sucumbir à falácia do limite-do-trabalho: a idéia há longo tempo desmentida de que existe apenas uma quantia fixa de produção (logo, de trabalho) em circulação. A própria tecnologia estimula a produção e cria demanda nova, seja aumentando a produtividade e, portanto, as rendas reais, seja pela criação de novos produtos. Videocassetes, telefones móveis, Walkmans Sony e lentes de contato flexíveis praticamente não existiam há 20 anos. Tais indústrias novas criaram nova demanda e novos empregos.

Se a nova tecnologia for aplicada na produção mais eficiente daquilo que já existe, em vez de ser empregada na criação de novos produtos, então o emprego pode cair a curto prazo. Mas a longo prazo essa eficiência ampliada também aumentará a demanda e os empregos. Geralmente, a introdução de uma nova tecnologia gera uma alta no investimento, que cria mais em pregos em empresas que produzem bens de capital. Mas os efeitos sobre receita e preço são até mais importantes. Se a nova tecnologia reduzir custos, isso deve conduzir a uma entre três coisas: quedas do preço do bem ou serviço em questão; aumentos salariais no setor que utilizar a nova tecnologia; ou aumento dos lucros. Salários mais altos ou preços menores aumentarão o poder de compra do consumidor e estimularão a demanda, conduzindo a ampliação da produção e do emprego em outras partes da economia.

Tudo isso segundo a teoria; e quanto aos fatos? Identificar os efeitos imediatos da nova tecnologia sobre a economia de trabalho é mais fácil do que identificar os efeitos compensatórios na demanda. Estudos da OCDE descobriram pouca evidência de que se possa atribuir a culpa pela elevação do desemprego à mudança tecnológica. De acordo com os estudos, na indústria como um todo a nova tecnologia cortou o número de empregos; entretanto, os EUA e o Japão - os maiores usuários de tecnologia de computação no setor industrial - estão se saindo melhor na frente de trabalho. Desde 1980, o emprego total nos EUA aumentou 24%, no Japão 17%, mas na União Européia aumentou menos de 2%. Isso parece confirmar que a nova tecnologia é boa, e não ruim para os empregos. O impacto da TI sobre os serviços é mais difícil de avaliar, mas a OCDE descobriu que, nos anos 80, os empregos em serviços aumentaram mais rapidamente em países que fizeram maiores investimentos em TI.

Tanto a teoria quanto a experiência sugerem que, num prazo mais longo, a nova tecnologia criará pelo menos tantos empregos quantos destruirá. Entretanto, esse processo está longe de ser automático, instantâneo e indolor. Sempre existirão defasagens entre a perda de empregos antigos e a criação de novos, assim como incompatibilidades entre as habilidades exigidas respectivamente pelos antigos e pelos novos empregos. A maior parte das perdas de empregos se concentrarão entre os pouco qualificados, enquanto muitos dos empregos do futuro estarão abertos apenas àqueles que tiverem boa educação e especializações.

Na medida em que a TI é mais difusa do que as tecnologias anteriores, pode realmente destruir mais empregos do que no passado, mas, graças a sua difusão, os efeitos compensadores na geração de demanda também deverão ser mais vigorosos. Da mesma forma, se a difusão da TI é mais rápida do que a das tecnologias precedentes, ela também deverá distribuir os benefícios mais rapidamente. O problema é que, se o abalo do mercado de trabalho for mais difuso e mais rápido, as inadequações poderão ser ainda mais penosas a curto prazo do que nas revoluções tecnológicas anteriores. A terceira preocupação a respeito da diferença entre a TI e as tecnologias que a precederam - a de que facilita, para as empresas, a transferência de empregos para o exterior - será discutida numa seção posterior deste relatório.

4.2 Carreiras no ciberespaço

Portanto, se a TI gerará uma porção de empregos novos, onde eles estarão? Ninguém sabe realmente. Muitos dos postos que estão sendo anunciados hoje - para, digamos, especialistas em derivativos ou treinadores físicos pessoais - não existiam 20 anos atrás. Em meados dos anos 70, dificilmente alguém trabalhava em software para computador; agora, cerca de dez milhões de pessoas em todo o mundo o fazem. A Agência de Estatísticas Trabalho dos EUA, que fornece previsões regulares sobre mudanças no mercado de trabalho o país (ver tabela), espera que, até 2005, haja uma redução de 20-30% nos empregos para datilógrafos, caixas de bancos e operadores de telefone, em relação 1994. Por outro lado, empregos para programadores de computador, enfermeiras e auxiliares de enfermagem para atendimento doméstico e professores se expandirão rapidamente. Também se espera que os empregos para guardas de segurança e funcionários de polícia se expandam, como resposta às crescentes tensões sociais. Os novos empregos também florescerão no setor de multimídia, à medida que a convergência das tecnologias de entretenimento, telecomunicações e computação crie novos tipos de serviços. A indústria cinematográfica americana criou mais empregos desde 1990 do que os fabricantes de carros, indústrias farmacêuticas e hotéis combinados. E serão abertas novas oportunidades para gerentes de informação e técnicos em Internet.

Mas, mesmo se a TI criar tantos empregos quantos destrói, eles não serão empregos apropriados, dizem os pessimistas: serão postos de trabalho falsos, de má qualidade, meio período, mal pagos, temporários. Americanos e europeus estão igualmente convencidos de que a insegurança no emprego é freqüente, não apenas entre trabalhadores manuais, mas também entre ocupações da administração. Mas, estranhamente, há pouca evidência de que seja mais provável do que costumava ser a perda do emprego pelo trabalhador médio.

Talvez seja assim porque, mesmo nos velhos bons tempos, um emprego por toda a vida era a exceção, mais do que a regra. Mas a rotatividade no mercado de trabalho tampouco aumentou perceptivelmente. Nos EUA, o tempo médio que um homem de meia-idade passa no mesmo emprego na verdade aumentou ligeiramente, de pouco mais que seis anos, em 1966, para sete anos, em 1991. Por outro lado, a permanência média para os trabalhadores mais jovens e mais velhos declinou ligeiramente. Estatísticas oficiais também desmentem o argumento de que a maioria dos empregos novos são de má qualidade. Durante os últimos dez anos, mais ou menos, o crescimento líquido do emprego em serviços nos EUA tem sido predominantemente em bem pagas posições gerenciais e profissionais. Na Grã-Bretanha, também, um estudo feito por Simon Burges e Hedley Rees nada descobriu que sugerisse que tecnologia e competição abalam mais o mercado de trabalho. A permanência média nos empregos para todos os homens caiu ligeiramente, de 10,5 anos, em 1975, para 9,4 anos em 1992, mas na faixa dos 31-45 anos permaneceu aproximadamente a mesma. Foram os homens mais velhos, especialmente os desqualificados e mal pagos, que sofreram com uma rotatividade mais rápida. É fato que a parcela de empregos de meio período aumentou na maior parte dos países industrializados, mas o aumento durante a última década não foi mais rápido do que nas décadas de 1960 e 1970, e a principal força motriz tem sido a freqüentemente expressa preferência das mulheres por trabalhos em meio período, e não algum sinistro colapso do mercado de trabalho. O último relatório sobre Perspectiva do Emprego da OCDE também produziu cifras que mostram, contrariando a opinião convencional, que na maioria dos países não tem havido aumento significativo dos empregos temporários. As principais exceções são França e Espanha, onde empresas têm usado contratos de curto prazo para contornar leis rigorosas de contratação e dispensa.

A difundida crença no declínio da qualidade e segurança da maior parte dos empregos pode ter sido encorajada pela pesada cobertura da mídia sobre as perdas de emprego em grandes empresas, enquanto a expansão nas pequenas passa despercebida. Inegavelmente, alguns trabalhadores se deram mal, mas isso é verdadeiro sobretudo para os desqualificados; os riscos para os trabalhadores de escritório têm sido grandemente exagerados. Cínicos poderiam concluir que a culpa pelo sentimento de insegurança deveria ser atribuída a perdas de empregos permanentes na mídia e na academia.

4.3 Euroneurose

Além disso, a segurança não é necessariamente uma coisa boa se significa rigidez no padrão de empregos. Numa economia saudável, tal padrão deveria estar evoluindo evolvendo, com alguns setores em expansão e outros em declínio. Apenas se os recursos forem livres para se mover para novos setores os efeitos de estimulação da nova tecnologia sobre a demanda excederão os efeitos da economia de trabalho. Países com mercados flexíveis de trabalho e produtos, tais como EUA e Grã-Bretanha, deverão ter capacidade para fazer uma transição suave de setores em declínio para setores em expansão, enquanto a Europa continental descobrirá que seus mercados de trabalho e produtos muito mais rígidos, planejados para proteger empregos, também bloqueiam a criação de empregos.

Um relatório feito pelo McKinsey Global Institute concluiu, em 1994, que barreiras a mercados de produtos são tão importantes quanto a inflexibilidade dos mercados de trabalho para explicar por que a expansão do emprego se dá em ritmo mais lento na Europa continental do que nos EUA. Na Europa, normas rigorosas para os mercados de produtos, tais como horário de abertura das lojas, leis de zoneamento e restrições a produtos financeiros, têm atrapalhado a criação de novos setores e empregos. Por exemplo, normas governamentais retardaram o desenvolvimento do cabo e da televisão em vários países; uma regulamentação pesada conteve a concorrência e, portanto, novos empregos nos serviços financeiros europeus. Nos EUA, onde perdas de emprego em atividades bancárias tradicionais, tais como pagamentos, depósitos e empréstimos estiveram entre as mais pesadas, graças em parte à rápida introdução das caixas automáticas, o emprego total no setor bancário tem crescido mais rapidamente, por causa de uma expansão explosiva em áreas mais novas, tais como hipotecas e valores mobiliários.

O relatório McKinsey conclui que, em muitos serviços, as restrições ao mercado de produtos podem ser mais importantes do que as inflexibilidades do mercado de trabalho na contenção do crescimento do emprego. Mas empregos de salários menores, tais como vendas a varejo e construção, o estudo destaca os altos salários mínimos, que desencorajam a admissão, pelos empregadores, de trabalhadores sem qualificação.

Na França e na Alemanha, os salários médios no varejo são aproximadamente iguais aos da indústria; nos EUA eles giram em torno de apenas dois terços da média na manufatura. Dificilmente surpreende, portanto, que o número de empregos no setor varejista tenha se expandido no país, enquanto na França e na Alemanha declinou.

As regulamentações para os mercados de produtos e trabalho são sempre planejadas para proteger empregos, mas em vez disso elas tolhem a criação deles. A pior coisa que os governos podem fazer é tentar diminuir o ritmo do processo de ajuste através de regulamentação, subsídios ou protecionismo. Eles podem poupar algumas pessoas do sofrimento, mas deprimirão os padrões de vida e o crescimento do emprego para o país como um todo. Em vez disso, os governos deveriam fazer o possível para estimular o ajuste - enquanto reduziriam o sofrimento para os mais atingidos pela mudança. Eles também precisam garantir, melhorando a qualificação de seus trabalhadores, que mais pessoas estarão aptas a aproveitar as novas oportunidades. Tanto a tecnologia da informação quanto a globalização favorecem os altamente qualificados. Para os não qualificados, o futuro poderá ser realmente implacável.

5 - O Computador Eleva Os Salários: Parte V

(Gazeta, 07/out/96)

Será que a tecnologia da infomação (TI) e a globalização são culpadas pela desigualdade salarial? Na verdade, a nova tecnologia enfatiza a necessidade da educação e da qualificação.

A maior parte dos leitores deste artigo é suficientemente afortunada para ter empregos relativamente qualificados; eles provavelmente também freqüentaram a universidade. Se o fizeram, possivelmente prosperaram financeiramente durante a década passada. Em 1979, o homem americano médio, com diploma universitário, ganhou 49% mais do que o formado apenas no segundo grau; em 1993, a diferença havia aumentado para 89%. Os 10% de americanos homens mais mal remunerados tiveram uma queda em seus salários reais de quase 20%, desde 1980; os 10% mais bem pagos desfrutaram de um aumento salarial real em torno dos l0% (ver gráfico). E durante os últimos 20 anos, o salário médio dos principais executivos aumentou, de 35 vezes a mais que o do trabalhador médio da linha de produção, para 120 vezes. A desigualdade salarial nos EUA inegavelmente cresceu. E muitos culpam a TI (tecnologia da informação) e a globalização por isso.

Em outros países também, principalmente na Austrália, Grã-Bretanha e Nova Zelândia, a diferença de renda entre os trabalhadores mais instruídos e mais qualificados e os demais se ampliou desde o começo da década de 80. Na maior parte da Europa Continental, porém, continuou praticamente a mesma; na verdade, na Alemanha ela diminuiu. Os altos salários mínimos, os poderosos sindicatos de trabalhadores, a negociação salarial centralizada e os generosos benefícios da seguridade social estabeleceram um piso para salários em todo o continente. Em contrapartida, ao mesmo tempo em que a procura por trabalhadores não qualificados diminuiu, o desemprego se elevou mais acentuadamente do que em países onde os diferenciais de salário se ampliaram e sofreram pressões (ver o gráfico). Na Europa, a porcentagem de homens em idade produtiva que não estão trabalhando mais do que dobrou nas duas últimas décadas, para cerca de 30%, enquanto nos Estados Unidos essa porcentagem permaneceu praticamente inalterada, em 18%.

A procura por trabalhadores braçais caiu claramente em toda parte, em relação à procura por trabalhadores instruídos. No entanto, os economistas não estão de acordo se isso se deve à nova tecnologia ou à crescente competição, decorrente dos fabricantes que operam em países em desenvolvimento, com salários baixos. Essa divisão tende a acompanhar linhas geográficas: muitos economistas europeus afirmam que o comércio é o principal culpado por esse aumento nas diferenças salariais, enquanto os americanos culpam principalmente a tecnologia. Uma torrente de estudos explorando a ligação entre comércio e salários não conseguiu resolver essa controvérsia.

As importações americanas de produtos rnanufaturados de países em desenvolvimento aumentaram de 14%, em 1970, para mais de um terço de todas as importações manufaturadas, hoje. Isso é citado como uma comprovação de que a concorrência por parte dos produtores de países com baixos salários está empurrando para baixo os salários de trabalhadores americanos não-qualificados. De fato, uma diferença mais ampla entre o salário de trabalhadores com baixa e alta qualificação é exatamente o que a teoria internacional do comércio previa que poderia acontecer.

De acordo com o teorema de Stolper-Samuelson (proposto por Paul Samuelson e Wolfgang Stolper, em 1941), o comércio internacional vai reduzir a renda do fator de produção usado de uma forma relativamente intensa em produtos importados e aumentar a renda do fator usado intensivamente em exportações. Se um país como os EUA, onde o trabalho qualificado é relativamente abundante, aumenta seu comércio com um país como a Índia, onde esse trabalho é relativamente escasso (mas o trabalho não-qualificado é abundante), então o país com abundância de trabalhadores qualificados vai exportar produtos que utilizem esse trabalho qualificado e importar produtos que utilizem o trabalho não-qualificado. Dessa forma, enquanto os EUA transformam sua produção de indústrias que ,exigem baixa qualificação para outras que exigem elevada qualificação, a demanda por trabalhadores não-qualificados e, em conseqüência, os seus salários, vão cair em relação aos de seus colegas mais gabaritados.

5.1 Eliminar O Impossível

Adrian Wood, um economista da Sussex University, da Grã-Gretanha, admite que o comércio com os países em desenvolvimento é, na verdade, o principal suspeito pelo aumento da desigualdade. Ele calcula que isso reduziu em mais de um quinto a procura por trabalhadores de baixa qualificação nas economias mais ricas. Como evidência, Wood cita os números, mostrando que, entre 1970 e 1990, esses países que apresentaram os maiores aumentos em importações de manufaturas de países em desenvolvimento também sofreram a queda mais acentuada na participação da indústria no total de empregos.

No entanto, estudos feitos por vários economistas americanos argumentam que o impacto do comércio sobre os salários foi pequeno, representando um declínio na procura por trabalhadores não-qualificados de não mais de uns poucos pontos percentuais. Eles baseiam essa conclusão principalmente no fato de as importações de países em desenvolvimento desempenharem um papel relativamente pequeno nas economias dos países ricos (são equivalentes a menos de 5% do PIB nos Estados Unidos e na Alemanha), e os empregos menos qualificados estão nos setores não-comerciais, sob a proteção da concorrência internacional.

Sherlock Holmes acreditava que a forma de solucionar um crime era "eliminar o impossível, portanto, o que sobrar deve ser a verdade." Muitos economistas têm usado a mesma técnica para explicar a desigualdade salarial: se o comércio parece ser inocente, então a tecnologia é considerada culpada por omissão. Existem poucas evidências diretas, porque a tecnologia é muito difícil de ser mensurada, mas economistas entrevistados para uma pesquisa durante uma conferência do Federal Reserve de Nova York, no ano passado, concordaram, com uma margem de diferença de quatro para um, que a tecnologia era mais importante do que o comércio para explicar o aumento na desigualdade salarial. Outros discordam. Como por exemplo Jeffrey Sachs, da Harvard University, para quem o comércio e a tecnologia são provavelmente de importância quase igual.

Existem três formas pelas quais a TI poderia estimular a procura por trabalhadores gabaritados em relação aos menos qualificados. Em primeiro lugar, novas máquinas executam as tarefas anteriormente feitas por trabalhadores não-qualificados; em segundo, o mais instruído tende a se adaptar com maior facilidade à mudança tecnológica; e em terceiro, os computadores aumentam a produtividade de trabalhadores altamente qualificados, que têm mais condições de usá-los. Um trabalhador com instrução universitária tem duas vezes mais probabilidade de utilizar um computador do que um formado no segundo grau.

No entanto, de um ponto de vista político, na realidade não importa se o comércio ou a nova tecnologia devem receber a culpa pelo aumento das desigualdades, uma vez que tanto as barreiras protecionistas quanto um neo-ludismo destruidor de máquinas seriam igualmente soluções inadequadas. Tarifas sobre importações poderiam ajudar a preservar empregos e elevar salários em setores de baixa qualificação, mas apenas às custas tanto dos consumidores quanto dos empregos mais bem remunerados, em setores de elevada qualificação. Fazer a tecnologia parar é provavelmente impossível; e se não for, isso simplesmente empobreceria, e não enriqueceria as pessoas.

5.2 Aprender, Aprender

Será que os governos deveriam se preocupar com o aumento da desigualdade? Os números da desigualdade precisam ser julgados em conjunto com os dados sobre a mobilidade da renda; e estes mostram que não existe uma divisão fixa entre os que têm e os que não têm. Um estudo feito pelo Federal Reserve Bank de Dallas descobriu que cerca de 95% dos domicílios americanos que em 1975 estavam entre os 20% mais pobres haviam melhorado sua situação, em 1991; destes, 29% haviam conseguido alcançar os 20% mais bem-remunerados. (No entanto, existem evidências de que a mobilidade pode ter diminuído de certa forma nos últimos anos.)

Além disso, a elevação na desigualdade de renda nos EUA não está refletida na elevação da desigualdade de consumo (ver gráfico). Desde 1985, a desigualdade no consumo tem permanecido quase estática. A explicação pode estar nos dados sobre a mobilidade; muitos dos trabalhadores mais mal-remunerados têm condições de defender temporariamente seu nível de consumo recorrendo às poupanças ou tornando empréstimos, na esperança e na expectativa de que sua sorte venha a melhorar.

Não obstante, muitos trabalhadores de baixos salários nos EUA e na Grã-Bretanha realmente sofreram na última década e parece que não terão melhores chances no futuro próximo. Se os governos querem minorar uma situação em que as pessoas qualificadas e escolarizadas prosperam em função da TI e do comércio externo, mas os não-qualificados e de pouca escolarização ficam para trás, eles terão de combinar flexibilidade de salários com outras medidas, para evitar que os trabalhadores fiquem presos na armadilha dos empregos de baixo salário. A única solução de longo prazo é garantir que a força de trabalho seja melhor equipada com educação e qualificação.

Teoricamente, diferenças mais amplas de salários deveriam tornar a educação e o treinamento mais atraentes aos indivíduos e, portanto, aumentar a quantidade de trabalhadores 'qualificados e reduzir a diferença. Mas a melhoria em educação básica poderia levar uma geração inteira para aparecer no mercado de trabalho. E embora a maioria dos "experts" concorde que a educação precisa ficar mais flexível, com freqüentes “retreinamentos" durante a vida de um indivíduo, eles também concordam principalmente que os esquemas de retreinamento não são muito úteis para os trabalhadores mais velhos e de baixa qualificação.

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Enquanto isso, a melhor política é os governos permitirem que os salários sejam livremente determinados no mercado de trabalho, enquanto oferecem algum apoio aos de baixo salário, semelhante ao crédito de imposto sobre renda no,, EUA, uma espécie de imposto de renda negativo atrelado ao salário. Isto aumenta o incentivo para se aceitar um emprego sem distorcer o mercado de trabalho da forma provocada pelos salários mínimos. Na última década, os EUA permitiram que seu salário mínimo caísse em termos reais para 34% do salário médio (embora estejam em vias aumentá-lo). Na França, ao contrário, o salário mínimo está perto de 60% do médio.

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Nem todos estão convencidos de que a compressão do pagamento através de salários mínimos ou pela de negociação centralizada de salários reduza a oportunidade de trabalho para trabalhadores de baixa qualificação. Um artigo no relatório Perspectiva de Emprego em 1996, da OCDE, publicado em julho, concluiu experimentalmente que o emprego para trabalhadores não-qualificados não parecia ser muito mais baixo, ou o desemprego mais alto, nos países onde a desigualdade de salários era relativamente baixa. Alguns comentaristas saudaram esse fato como prova clara de que um mercado de trabalho flexível não era necessário para reduzir o desemprego.

Entretanto, o estudo da OCDE simplesmente examinou correlações brutas entre o nível de desigualdade de renda e o nível de desemprego. Isso não é um teste apropriado de uma barganha entre empregos e igualdade, porque os, níveis de emprego são afetados por muitos outros fatores, tais como padrões de escolaridade e treinamento. Estes variam entre países e, assim, ninguém esperaria uma perfeita correlação entre desemprego e desigualdade. Um teste melhor do valor de mercados de trabalho flexíveis é como eles respondem a mudanças com o passar do tempo na demanda por, diferentes tipos de trabalho, como resultado de nova tecnologia, por exemplo. E nesse teste, países que permitiram que os salários relativos de trabalhadores não-qualificados caíssem, apresentaram menor aumento de desemprego, embora também neste caso a relação esteja longe de ser perfeita (ver gráfico) Talvez a melhor conclusão seja a de que a flexibilidade do salário seja uma condição necessária, porém insuficiente para se ter menor desemprego.

5.3 Ao Vencedor, Tudo

Além das crescentes diferenças salariais entre trabalhadores qualificados e não-qualificados, as diferenças de salários crescem também dentro de certas ocupações. Entre os operadores de títulos ou diretores executivos, por exemplo, pequenas diferenças em habilidade podem levar a astronômicas diferenças em pagamentos. O salário dos operadores ou diretores executivos de melhor renda parece desproporcional em relação ao do operador médio.

Pacotes desproporcionais de pagamentos há muito são familiares no mundo dos esportes e entretenimentos. Em 1981, Sherwin Rosen, economista da Universidade de Chicago, escreveu um estudo clássico, "A Economia dos Superstars", no qual ele explicou por que, em setores como esporte e cinema, algumas estrelas amealhavam grandes somas, enquanto os coadjuvantes ficavam bem atrás. Mais recentemente, dois economistas americanos, Robert Frank e Phillip Cook, popularizaram este argumento no livro "The Winner-Take-Society" (A Sociedade Onde o Vencedor Leva Tudo), publicado pela Free Press. Eles dizem que em parte devido à globalização da TI, o padrão de "o vencedor leva tudo" está se espalhando para cada vez mais profissões, como advogados, médicos, banqueiros, acadêmicos e diretores executivos.

Em tais empregos, os mercados pagam aos indivíduos não de acordo com seus desempenhos absolutos, mas de seu desempenho em relação ao dos outros. Enquanto a renda de um limpador de janelas depende de quantas janelas ele limpa, o salário de um operador de investimentos depende da classificação de seu desempenho. Um limpador de janelas um pouco mais talentoso fará apenas uma pequena diferença no estado das janelas do cliente, mas nos mercados de vendas de títulos ou onde a vida das pessoas está em jogo, essa pequena margem significa tudo. As compensações no topo são, portanto, desproporcionalmente altas.

O que mudou foi que a nova tecnologia e a globalização expandiram o mercado de qualificações de local para global, aumentando as oportunidades para os ricos ficarem ainda mais ricos. O evento esportivo, que antes podia ser assistido apenas por aqueles fisicamente presentes, agora pode ser acompanhado em telas em todo o mundo. O mais recente concerto de rock ou filme de horror rapidamente fica disponível a uma audiência mundial, e um enorme aumento da demanda pode ser satisfeito a um custo pequeno, uma vez que o custo marginal para produzir um CD ou vídeo extra é mínimo. Igualmente, o maior cirurgião cardíaco pode agora prestar assistência no diagnóstico e tratamento de pacientes a milhares de quilômetros de distância, através de redes de transmissão de dados em alta velocidade.

Em um mercado normal, essas fantásticas rendas de grandes estrelas atrairiam mais pretendentes ao setor onde estão em oferta, o que tenderia a trazer de volta os salários para níveis menos exóticos. Mas em mercados onde o vencedor-leva-tudo, este mecanismo de ajuste não consegue funcionar de forma adequada. Um banco de investimentos quer o melhor analista e operadores. O segundo melhor não serve. E o banco pode pagar por isso.

5.4 Colher Conhecimentos

Então o que poderá acontecer aos salários relativos no futuro? A transformação tecnológica nem sempre favorece aqueles com a melhor qualificação. No início do século XIX, justamente os artesãos qualificados foram substituídos pelas máquinas. Paul Krugman especula se (eis aí um grande se) a inteligência artificial cumprir sua promessa, os computadores poderiam, no futuro, substituir mais facilmente o trabalho de rotina dos advogados e contadores do que o dos jardineiros, faxineiros, e outras atividades, cujas tarefas são mais difíceis de programar em computadores. Os computadores se provaram melhores para resolver complexos problemas de matemática do que para desempenhar tarefas mais comuns, como empilhar tijolos de brinquedo para formar uma torre.

Advogados e contadores, sugere Krugman, poderiam ser as modernas réplicas dos tecelões, cujos salários subiram vertiginosamente depois que a máquina de fiar foi mecanizada, e depois caíram na mesma proporção quando novas máquinas imitaram a habilidade deles. É uma visão interessante, mas improvável. Na medida em que as economias se tornam cada vez mais baseadas no conhecimento os mais escolarizados desfrutarão de uma vantagem cada vez maior. Tudo indica que colher conhecimentos sempre pagará mais do que colher repolhos.

Comentários de tabelaTabela:

(*) "Comércic) Norte-Sul, Empregos e Desigualdade," de Adrian Wood. Ciarendon Press, Oxford, 1994.

(**)(Do termo Luddites, que .eram grupos de trabalhadores industriais ingleses que, no final do século 19 defendiam a destruição das máquinas que, segundo eles, lhes roubava empregos)

6 - As vantagens do computador: Parte VI

(Gazeta, 08/out/96)

A maior parte dos economistas tem concordado, há muito tempo, com o fato dê que o livre comércio é uma coisa boa, mas alguns políticos, empresários e economistas adotam, hoje, uma opinião diferente. A nova tecnologia, dizem eles, está prejudicando a causa do livre comércio, ao facilitar a transferência de capital e tecnologia através das fronteiras, dando ao países em desenvolvimento, onde os salários são baixos, acesso às melhores técnicas de produção. Ao mesmo tempo, indicam eles, as telecomunicações modernas permitem que empresas - não apenas na indústria, mas também nos serviços - transfiram a produção para onde quer que o trabalho seja mais barato, sem perda de contato com o escritório central.

Alguns economistas dizem que isso invalida a clássica teoria de comércio, segundo a qual capital e tecnologia não se movimentam com facilidade entre os países. Isso costumava significar que os países desenvolvidos produziam bens capital intensivos, de alta tecnologia; os países em desenvolvimento estavam confinados a produtos de baixa tecnologia, trabalho-intensivos. Mas um mercado global de capital melhorou o acesso dos países pobres ao capital, e a tecnologia se tomou mais transferível do que nunca. A tecnologia da informação (TI) permite que mais conhecimento seja codificado e, portanto, difundido mais rapidamente através das fronteiras, facilitando sua assimilação pelos países em desenvolvimento. Superficialmente, portanto, poderia parecer que a mistura de salários baixos e tecnologia de Primeiro Mundo tornaria as economias do Terceiro Mundo supercompetitivas. É inevitável, prossegue o argumento, que venha a ocorrer uma maciça transferência de produção e empregos dos países de altos salários para os de salários baixos. A única solução, argumentam pessoas como Ross Perot, Pat Buchanan e James Goldsmith, é que os países ricos fechem suas fronteiras às importações dos países em desenvolvimento.

Mas a idéia de que países de baixos salários com acesso à mais moderna tecnologia serão capazes de comprimir os salários dos trabalhadores em quase todos os setores nos países desenvolvidos se baseia em dois equívocos. O primeiro é a respeito da ligação entre salários e produtividade. O comércio internacional tende a nivelar os custos do trabalho por unidade de produção, assim as diferenças de salários entre países refletem diferenças na produtividade dos. setores de bens que podem ser importados e exportados.

Atualmente, os salários baixos dos países em desenvolvimento caminham lado a lado com a baixa produtividade. De acordo com o estudo "Comparative and Absolute Advantage in the Asia-Pacific Region" (Vantagem Comparativa e Absoluta na Região da Ásia-Pacífico), feito por Stephen Golub, um economista do Swarthmore College, Pensilvânia, os salários da indústria na Malásia correspondiam, em 1990, a apenas 15% dos americanos; mas a produtividade média também era apenas 15% da americana. Em parte, isso reflete uma maquinaria mais simples (porque o trabalho é barato em relação ao capital), mas a inferioridade da infra-estrutura e da educação nos países pobres também desempenham um papel importante. Como mostra o gráfico, as diferenças em custos da unidade média de trabalho entre países são muitos menores do que sugerem apenas as diferenças salariais.

Isso pode ser verdade agora, admitem os catastrofistas, mas à medida que a tecnologia superior dos países ricos se difundir pelos países de salários baixos, sua produtividade disparará, dando aos países em desenvolvimento

uma imensa vantagem de custo. Não é bem assim. A teoria sugere, e a experiência confirma que aumentos de produtividade serão acompanhados por elevações reais de salários ou por uma taxa de câmbio real mais vigorosa. Os salários reais na Coréia do Sul, por exemplo, subiram oito vezes em termos de dólar desde 1977. Além do mais, mesmo com tecnologia idêntica, a produtividade dos países em desenvolvimento não será igual à dos países ricos, porque provavelmente a educação e a infra-estrutura permanecerão vários anos atrasados.

Que utilidade tem uma tecnologia moderna se os trabalhadores do Terceiro Mundo não podem ler as instruções em um saco de fertilizantes?

Entretanto, embora os custos médios da unidade de trabalho em diferentes países tendam a convergir, a diferença de produtividade variará de um setor para outro. Em alguns setores, tais como confecções ou produtos eletrônicos de consumo, a produtividade de um país em desenvolvimento pode ser quase tão alta quanto no mundo rico, e assim seus salários baixos (determinados pela produtividade média do total da indústria) darão realmente às empresas daqueles setores uma vantagem de custo com relação aos mesmos setores nos países ricos. Mas diferenças entre setores no padrão de produtividade são exatamente o que a teoria econômica padrão indica como fonte de vantagem comparativa, uma idéia exposta pela primeira vez por David Ricdo, no início do século XIX

6.1 Absolutamente Confuso

O segundo equívoco por trás do medo dos supercompetitivos países do Terceiro Mundo repousa numa confusão entre vantagem absoluta e vantagem comparativa. Por exemplo, um advogado deve não apenas ser um jurista melhor do que sua secretária, mas também um datilógrafo mais rápido (ou seja, ele tem uma vantagem absoluta nos dois aspectos). Entretanto, provavelmente a secretária terá uma margem menor de inferioridade - ou seja, uma vantagem comparativa - em datilografia. Inversamente, a vantagem comparativa do advogado está na jurisprudência, na qual sua margem de superioridade é maior. A defesa do livre comércio deve repousar na vantagem comparativa, não na absoluta. Se os países se especializam em coisas que fazem relativamente bem, então todos ganharão com o comércio. Mesmo que a China possa produzir tudo com custos menores, os EUA ainda terão, por definição, uma vantagem comparativa em alguns produtos. Enquanto persistirem algumas diferenças entre países, tais como a especialização dos trabalhadores, que ao contrário da tecnologia não podem se mover facilmente para o exterior, a lei da vantagem comparativa continuará válida. A vantagem comparativa da China tende a se apoiar em setores trabalho-intensivos de baixa especialização, e a dos EUA em produtos conhecimento-intensivos que aproveitam sua relativa abundância de trabalhadores especializados.

Uma razão mais válida para que algumas pessoas temam a supercompetição, talvez, é que a TI permite que serviços anteriormente não comercializáveis sejam comercializados, exatamente como aço ou sapatos. Isso é assim porque a crescente codificação do conhecimento reduz a necessidade de contato físico entre produtores e consumidores. Qualquer atividade que possa ser conduzida através de uma tela e um telefone, de escrever um software a prestar serviços de secretariado, pode ser realizada em qualquer parte no mundo. A queda dramática dos custos da comunicação permite que empresas do setor de serviços, corno bancos transfiram sua equipe de suporte para lugares mais baratos, ligados ao escritório central por satélite e computador.

Empresas do mundo rico “terceirizaram” todos os tipos de coisas para os países em desenvolvimento de programação de computadores e contabilidade das receitas de empresas de transporte aéreo ao processamento dos registros hospitalares dos pacientes e pedidos de pagamentos de seguros. Mais de cem das 500 maiores empresas dos EUA compram serviços de software de empresas na índia, onde de modo geral os programadores recebem menos do que um quarto do salário americano. À medida que expande o alcance do comércio de serviços, a TI inevitavelmente expõe trabalhadores de setores anteriormente protegidos à competição internacional, inclusive trabalhadores qualificados, como programadores, além dos não-especializados.

6.2 Vantagens Adaptáveis

Digam os pessimistas o que quiserem, mas a tecnologia da informação não invalida a idéia de vantagem comparativa. Pelo contrário, ao permitir que as empresas descentralizem sua produção e se especializem por país, a TI torna possível explorar as vantagens comparativas muito mais amplamente e maior eficiência. Num período de 20 anos, uma empresa comum pode ter um escritório avançado em Londres e um escritório de apoio em Pequim. Mas isso não invalida a teoria econômica; na verdade, mostra o quanto a teoria é adaptável.

Enquanto os mercados permanecerem flexíveis, o comércio - assim como a mudança tecnológica - não terá efeitos duradouros sobre o nível de emprego, apenas sobre a estrutura dos empregos. Diferenças de vantagens comparativas com base nas ofertas relativas de trabalho qualificado e não-qualificado continuam sendo o fator decisivo. A maior parte dos serviços exportados eletronicamente dos países pobres para os ricos envolve atividades pouco qualificadas, tais como processamento de dados ou programação de rotina, ao passo que as economias ricas exportam serviços mais sofisticados, tais como pacotes de software e desenho mecânico. E a TI permite que os países ricos, assim como muitos dos países em desenvolvimento, exportem serviços anteriormente não negociáveis. Consulta médica ou educação podem agora ser vendidos a longas distâncias, pelas redes de telecomunicações.

As vantagens comparativas entre países dependerão cada vez mais da habilidade com que os trabalhadores aplicarem conhecimento. A Intel pode ter uma fábrica de chips Pentium na Malásia, mas é improvável que uma equipe malaia desenvolva um chip Pentium num futuro próximo. As economias industrializadas ricas continuarão usufruindo de vantagens em setores conhecimento-intensivos, mas os limites entre países ricos e pobres estão se tornando mais fluidos. Depois de anos de investimentos pesados em educação, a qualificação está aumentando nos países asiáticos. Na Coréia do Sul e em Taiwan, os gastos com Pesquisa & Desenvolvimento, corno parte do PIB, aproximam-se, atualmente, da média da OCDE, e crescem com maior rapidez (ver gráfico). No futuro, os trabalhadores com qualificação intermediária dos setores conhecimento-intensivos dos países ricos também enfrentarão uma competição mais feroz dos tigres asiáticos, enquanto estes se movem em direção às faixas mais sofisticadas do mercado, em resposta à crescente competição de países mais baratos, como a China.

Enquanto o capital se torna mais móvel, e a difusão da tecnologia através das fronteiras ganha velocidade, as vantagens comparativas também começaram a ser transferidas mais rapidamente. Foram necessárias três ou quatro décadas para que o Japão se tornasse um líder no setor automobilístico, e uma década para se tomar líder em chips de memória. Mas Taiwan, comprando tecnologia pronta, abocanhou uma grande fatia dos negócios mundiais de montagem de PCs em apenas cinco anos. A globalização e a TI continuarão transferindo empregos por todo o mundo, mas os países ricos com populações altamente educadas não devem ter nada a temer: o mercado de trabalho será transferido para empregos de maior qualificação e melhor pagamento. Apenas os países que deixarem seus padrões educacionais caírem se arriscam a ficar para trás.

7 - As vantagens do computador: Parte VII

(Gazeta, 09/out/96)

O ritmo acelerado das mudanças tecnológicas favorece o surgimento de novos produtos e, assim, a entrada de novos concorrentes no mercado.

Em 1958, a Harvard Business Review previu que os computadores levariam a uma maior concentração de poder nas empresas americanas, porque permitiriam aos chefes acompanhar melhor as informações dentro das grandes corporações. Com o tempo, seguia a previsão, a economia seria dominada por algumas poucas empresas gigantescas. Em 1967, o economista J.K. Galbraith afirmou que a nova tecnologia conduziria, inevitavelmente, ao domínio crescente pelas grandes empresas, imunes às forças de mercado. Essas previsões, até agora, não se confirmaram: o porte das empresas, em média, tem diminuído e a concorrência aumentou desde os anos 60. Agora, porém, as cassandras estão de volta. De acordo com um artigo publicado recentemente na revista Wired, "a economia da competição monopolista é a economia da era da tecnologia".

Brian Arthur, um economista da Universidade Stanford, é o principal proponente da chamada teoria de lucros crescentes ("Increasing Retums and the Two Worlds of Business", por Brian Arthur, Harvard Business Press, julho de 1996). Ele diz que, em um número cada vez maior de setores, existe uma tendência natural para o líder de mercado avançar ainda mais, causando uma concentração monopolista de negócios.

Segundo Arthur, a economia tradicional, por sua vez, funciona na suposição de retornos decrescentes. À medida que uma empresa se expande, sugere a teoria, em determinado ponto ela atinge um limite, no qual os custos por unidade de produção começam a subir e os lucros unitários a cair. Por exemplo, um agricultor utiliza sua melhor terra primeiro; se ele quiser aumentar a produção, terá de usar cada vez menos terra produtiva, de maneira que seus ganhos diminuirão. Da mesma maneira, à medida que uma empresa industrial se expandir, ela chegará a algum limite, como a capacidade de sua administração ou o porte de seu mercado regional, além do qual os custos unitários crescerão. Cada produtor ampliará sua produção até atingir custos unitários crescentes. Nenhuma empresa consegue controlar o mercado, de modo que a concorrência prospera. Arthur admite que setores tradicionais, como produção de trigo e aço, são sujeitos a retornos decrescentes, mas insiste que os novos setores, baseados em conhecimento, são diferentes.

Segundo Arthur, essas empresas tendem a ter três coisas em comum. Primeiro, têm custos fixos elevados, como os de pesquisa e desenvolvimento (P&D), mas baixos custos variáveis. Por exemplo, o custo para criar um programa de computador é o mesmo, não importa o número de cópias vendidas, de modo que, quanto maiores as vendas, maior é a margem de lucro. O mesmo acontece com muitos outros setores que dependem intensamente de know-how e pouco de recursos materiais, desde a indústria farmacêutica até a bélica.

Uma segunda característica comum é o que Arthur chama de "externalidades de rede". Na indústria de software, por exemplo, isso significa que, quanto mais amplamente um sistema operacional é usado, maiores as probabilidades de o sistema se tomar um padrão para o setor e mais pessoas quererão usá-lo para garantir que seu software seja compatível com o de outros usuários de rede. Isto dificulta a concorrência das empresas rivais.

O terceiro fator que fortalece o controle de um líder sobre um mercado é o efeito de vinculação do cliente. Muitos produtos de alta tecnologia são de utilização difícil e, por isso, uma vez que o cliente aprenda a usar um programa de computador, por exemplo, ele relutará em trocá-lo por outro. Se todos os três fatores estiverem presentes, afirma Arthur, os retornos crescentes ampliarão a vantagem do líder de mercado. Ao reduzir seu preço, o líder consegue capturar uma parcela maior do mercado, obter lucros maiores e gastar mais em pesquisa do que seus concorrentes acentuando ainda mais sua vantagem.

Os economistas têm estado há muito tempo cientes da possibilidade de retornos crescentes, mas acreditavam que, na prática, essa possibilidade era rara. Entretanto, a tecnologia da informação (TI) e a mudança geral das economias, de processamento de produtos tangíveis para o processamento de informações e idéias, estão fazendo com que um número cada vez maior de setores tenha ganhos crescentes, segundo Arthur. Em empresas de alta tecnologia, os elevados custos em P&D, as redes e os efeitos de vinculação são comuns. A TI e a globalização também permitem que as empresas vendam a baixo custo em um mercado mundial maior e, dessa maneira, explorem maiores economias de escala. Arthur calcula que os setores bancário e de seguros estão ficando sujeitos a retornos crescentes brandos. A medida que os bancos adotarem computadores de baixo custo e redes on-line para processar as operações dos clientes, explica ele, os custos variáveis despencarão.

7.1 Poder Limitado

O banco com a maior base de clientes conseguirá distribuir seus custos fixos mais amplamente do que seus concorrentes e, portanto, oferecer as melhores taxas de juros, o que lhe permitirá atrair ainda mais clientes. Em um mundo de rendimentos cada vez maiores, as empresas poderiam, teoricamente, crescer sem limite, acumulando enorme poder monopolista. A falta de concorrência poderia elevar os preços e obstruir o desenvolvimento tecnológico. Felizmente, a realidade não se iguala ao modelo. É verdade que uma empresa como a Microsoft consegue conquistar um mercado - pelo menos por algum tempo - ao explorar retornos crescentes, mas sua capacidade de abusar de seu poder é limitada.

Embora o porte de empresas com retornos decrescentes possa ter aumentado em alguns setores, há bons motivos para se questionar a idéia de que os retornos crescentes estão se generalizando. Um dos motivos é que a vantagem do efeito de vinculação do cliente é abrandado pelo ritmo acelerado da inovação, que favorece o surgimento de novos produtos e, conseqüentemente, abre as portas para novos concorrentes. Se um líder de mercado se toma complacente e eleva seus preços ou negligencia a P&D, ele corre o risco de ser ultrapassado por concorrentes com melhores produtos. Além disso, a concentração da produção não precisa ser nociva, desde que as barreiras ao ingresso no mercado sejam baixas: a mera ameaça de concorrência pode levar uma empresa a se comportar de maneira competitiva. A Microsoft tem um virtual monopólio em softwares para computadores pessoais, mas continua inovadora porque seus mercados são disputados. A redução dos custos das comunicações e a Internet estão ajudando a baixar as barreiras ao ingresso em muitos mercados. No passado, somente grandes empresas podiam ter condições para instalar grandes redes de dados e uma presença mundial de marketing; agora, empresas pequenas podem ter o mesmo acesso.

. Outro fator que favorece as pequenas empresas é que as novas tecnologias tendem a ser menos complexas do que as antigas. Ao contrário das fábricas de automóveis e das siderúrgicas, novas empresas industriais baseadas em conhecimento podem freqüentemente ser instaladas com custo mínimo de capital: apenas um computador pessoal e uma linha telefônica. A TI também reduz o porte mínimo que uma companhia precisa ter para funcionar com rentabilidade, tornando os custos administrativos mais divisíveis. Conhecimentos legais e contábeis, por , exemplo, estão hoje disponíveis on-line a custo relativamente baixo.

7.2 Porte Diminuiu

Um estudo dos economistas Erik Brynjolfsson e Thomas Malone, do MIT, concluiu que o tamanho da empresa americana média, seja em ternos de número de funcionários, de faturamento, seja no valor agregado, tenha diminuído desde a década de 70, e que as empresas que mais investiram em TI tenderam a ser maiores do que as outras. Durante as duas últimas décadas, o número médio de funcionários por empresa, nos EUA, declinou em 20%. Uma análise da OCDE mostra que, na maioria dos países industrializados ricos, o porte da empresa média diminuiu na maioria dos setores, exceto os de serviços de computação, medicamentos e supermercados. Isso não se deve ao fato de os trabalhadores terem sido substituídos por computadores, mas porque as empresas estreitaram seus objetivos. Os computadores fizeram com que se tomasse mais barato o envio de trabalhos a especialistas externos do que se tudo fosse feito no mesmo lugar.

Em teoria, os computadores poderiam eliminar de vez a necessidade de empresas no sentido tradicional. Em 1937, Ronald Coase, um economista ganhador do Prêmio Nobel, perguntou por que os trabalhadores foram organizados em empresas, em vez de agir como compradores e vendedores independentes de produtos e serviços em cada estágio de produção. Ele concluiu que as empresas eram necessárias devido à falta de informações e à necessidade de se minimizar os custos das transações. Um mundo sem empresas, em que a produção fosse totalmente organizada por meio de mercados, exigiria informações completas e nenhum custo de transação; mas no mundo real exige-se tempo e dinheiro para se descobrir dados sobre o produto a ser comprado ou vendido. Uma empresa resolve esses problemas. Coase sustentou que o tamanho das empresas é determinado pelos custos. relativos de compra de serviços de terceiros e o custo administrativo de seu fornecimento no interior da empresa.

Por exemplo, uma indústria de automóveis pode fabricar ela própria pneus, Ou comprá-los de um fornecedor. Os pneus provavelmente custarão menos se forem comprados no mercado competitivo, mas parte dessa economia pode ser anulada pelos custos elevados de transação e coordenação. Quanto mais altos forem esses custos, maior a probabilidade de as empresas julgarem mais rentável fornecer serviços internamente, o que aumentará seu porte. Entretanto, a TI - na forma de e-mail, Intemet, fax e faturamento computadorizado - reduz esses custos e, assim, aumenta a atração pela compra de produtos e serviços de fora da empresa.

À medida que esses custos declinam, afirma Peter Huber, um especialista americano em telecomunicações, a lógica tradicional da empresa fica menos convincente. Todos os tipos de produtos e serviços podem ser adquiridos de terceiros, e muitos empregados substituídos por pessoas de fora, ligadas por redes eletrônicas. Desta maneira, a TI estimula empresas gigantescas verticalmente integradas (como a AT&T) a se fragmentarem em firmas menores e mais eficientes, conectadas sem muita rigidez por redes.

Duas forças opositoras, portanto, estão em funcionamento. Em setores como software e entretenimento, em que "externalidades de rede" são poderosas, a TI promove uma maior concentração de negócios para explorar maiores economias de escala, de modo que as empresas tendem a expandir seu porte. Em outras áreas, a queda dos custos das comunicações incentivará a descentralização,

7.3 Futuro On-Line

Uma previsão correlata sobre a nova tecnologia é que esta possibilitará o "capitalismo sem atritos": os intermediários (empresas ou indivíduos que são a ponte entre produtores e consumidores) serão desnecessários. Esta opinião é fortemente defendida por Bill Gates, da Microsoft, em seu livro "A Estrada do Futuro". Através da Internet, os consumidores terão acesso direto a informações sobre produtos e serviços sem ter de pagar a intermediários. Agentes de viagens, corretores imobiliários, corretores de seguros, varejistas e até agências de namoro, estão condenados. A Internet tomará mais fácil às empresas fazerem suas próprias reservas para viagens e encontrar seus próprios imóveis. As empresas de seguros poderão vender diretamente aos clientes e não por meio de um corretor. As lojas serão eliminadas, porque os fabricantes poderão vender através de lojas eletrônicas na Internet, com clientes que farão suas escolhas on-line, em casa.

Sem dúvida, muitos intermediários serão pressionados pela Internet, mas a espécie não deverá desaparecer completamente. A redução dos custos de comunicação e transação na Internet também facilitará aos intermediários instalarem seus negócios, fornecerem serviços de informação ou boletins sob medida, por exemplo. Para ter sucesso nesse mundo mais competitivo, entretanto, os intermediários terão de ficar mais eficientes e encontrar novos meios de fornecer benefícios adicionais. Não será mais suficiente a um agente de viagens, por exemplo, vender apenas passagens e pacotes de férias. À medida que os serviços melhoram e os custos de transação despencam, os consumidores só têm a ganhar.

8 - Computador Não Teme a Inflação: Parte VIII

(Gazeta, 10/out/96)

A mudança tecnológica pode ter influído para que a taxa inflacionária média nos países ricos tenha caído, mas não eleimina a necessidade de prudência monetária.

Lembra-se da inflação, a besta que devastava salários, pensões e poupanças nas décadas de 1970 e 1980? Você pode esquecê-la, dizem muitos sábios economistas; graças à nova tecnologia e à globalização, ela foi exterminada.

Lester Thtirow, do MIT, argumenta que poderosas forças estruturais transformaram a inflação "num vulcão extinto". Roger Bootle, principal economista do grupo bancário HSBC, enterrou-a com um livro intitulado "The Death of Inflation" (A Morte da Inflação, publicado por Nicholas Brealey, Londres). O que esses especialistas parecem estar dizendo que as economias poderá usufruir de crescimento rápido sem inflação, bastando que os bancos centrais adotem uma postura moderada e parem de travar as batalhas antigas.

A tecnologia da informação (TI) e a abertura crescente das economia ao comércio, segundo argumento, mudaram as regras do jogo da inflação: o preço de muitos bens e serviços de alta tecnologia, de videocassetes a chamadas telefônicas, está caindo rapidamente; os trabalhadores estão mais hesitantes em exigir salários mais altos, por medo de que máquinas que poupam trabalho ou o trabalho barato estrangeiro roubem seus empregos; e a competição internacional impede que as empresas elevem seus preços. Tudo isso contribui para um crescimento rápido sem risco de inflação elevada.

A inflação nem sempre esteve entre nós. Como mostra o gráfico, os preços permaneceram estáveis de modo geral na Grã-Bretanha, de cerca de 1600 até o início deste século. Em alguns anos, eles subiram ou caíram cerca de 10-20%, mas durante o período como um todo, eles não mostraram tendência geral a subir. Nos EUA, os registros não são tão antigos, mas os preços seguiram, ali, um caminho semelhante. Bootle prevê que estamos prestes a retornar para esse mundo.

A inflação recente tem sido, de fato, mais baixa do que a maior parte das pessoas esperava. A taxa média nas sete maiores economias industrializadas (2-3%) está próxima da maior baixa em 30 anos. A mudança tecnológica e a competição internacional podem muito bem ter desempenhado um papel nisso. Mas a idéia de que a inflação foi derrotada de uma vez por todas apresenta falhas profundas, de várias formas:

6. As importações de bens das economias de baixos salários não são muito maiores agora do que eram no final da década de 1980. As mudanças tecnológicas foram tão rápidas então quanto são agora. Mas, naquela época, elas não impediram que a inflação decolasse em muitos países, principalmente na Grã-Bretanha.

7. O comércio com os países em desenvolvimento deveria afetar apenas preços e salários relativos, não a taxa geral de inflação. Se os preços dos bens manufaturados trabalho-intensivos, importados de países de baixos salários, diminuírem, os gastos com outros bens e serviços deverão aumentar, puxando seus preços para cima. Além do mais, à medida que os países em desenvolvimento gastam seus lucros com exportações em bens de trabalho qualificado intensivo produzidos pelos países ricos, os preços desses bens deverão subir. Do mesmo modo, os salários dos trabalhadores pouco habilitados deverão cair, mas os dos trabalhadores qualificados deverão aumentar.

8. A integração global não significa que o trabalho estrangeiro e as importações atenuarão, automaticamente, gargalos internos de trabalho e capacidade. Como indica Charles Lieberman, principal economista do Chase Bank, a maior parte dos empregos se encontra em setores não-intercambiáveis. Uma escassez de motoristas de caminhões nos EUA não pode ser aliviada por motoristas de caminhões desempregados na China. E mesmo para os 16% dos trabalhadores americanos que ganham a vida na indústria, a sobreposição de produção com países de baixos salários é relativamente pequena. Os principais competidores dos EUA, na maior parte dos setores, são outros países de salários elevados. Assim, se surgirem limitações de capacidade no setor, digamos, farmacêutico, os EUA poderão importar medicamentos da Alemanha, mas a um preço mais alto.

9. A escola da "inflação está morta" afirma, corretamente, que os cálculos oficiais superestimam a inflação. A verdadeira taxa de inflação em muitos países pode estar, hoje, próxima de zero. Mas isso em si não diz nada a respeito da trilha inflacionaria futura.

8.1 Ilusão Monetária

É concebível que a nova tecnologia e a globalização possam ampliar o "limite de velocidade" de uma economia, aumentando o limite da taxa até onde ela pode crescer antes que a inflação decole. Mas se uma economia rompe esse limite de velocidade relaxando demais suas políticas, a inflação ressuscitará. A longo prazo, inflação é basicamente um fenômeno monetário: o resultado de dinheiro demais em busca de poucos bens. Ninguém acredita seriamente que a taxa de inflação da Alemanha seja menor do que a da Itália porque sua economia é mais aberta. A razão óbvia é que a Alemanha tem adotado políticas monetárias e fiscais mais razoáveis. Do mesmo modo, é a prudência monetária, não tecnologia ou globalização, que tem mantido a inflação baixa na maior parte dos países ricos nos últimos anos.

Os temores dos trabalhadores sobre a insegurança no emprego num mundo em mutação podem ter ajudado a manter os salários baixos, facilitando, assim, a tarefa dos bancos centrais. Em 1994, por exemplo, o Fed achou que, para amenizar as pressões inflacionarias, precisava elevar as taxas de juros a um nível menor do que o esperado. Mas neste ano o “chairman” do Fed, Alan Greenspan, advertiu o Congresso de que, em algum ponto, a disposição dos trabalhadores para negociar salários mais baixos em troca de maior segurança no emprego provavelmente desaparecerá.

Entretanto, a inflação baixa em si mesma pode ser parcialmente responsável pelos sentimentos de insegurança dos trabalhadores, que são comumente atribuídos à nova tecnologia e à globalização. A razão é um fenômeno que os economistas chamam de "ilusão monetária". Durante períodos de inflação alta, aumentos salariais de dois dígitos e grandes altas no valor de suas casas podem fazer com que as pessoas se sintam mais ricas, mesmos se elas não estiverem realmente em melhor situação. Quando a inflação é baixa, pode ser difícil registrar o crescimento das rendas reais.

O risco principal, atualmente, é que a inflação baixa e os preços em declínio de muitos bens de alta tecnologia encorajem cada vez mais pessoas a acreditar que o monstro foi realmente liquidado de uma vez por todas, levando a exigências para taxas de juros mais baixas, com o fim de estimular o crescimento. Mas o combate à inflação é uma tarefa interminável. Se a inflação realmente permanecer baixa, não será por causa da globalização ou da TI, mas por causa da pronta ação dos responsáveis pelas decisões de política econômica.

Obviamente, os mercados de títulos públicos não acreditam que a inflação esteja morta: o rendimento dos títulos de 30 anos do Tesouro americano ainda está próximo de 7%, sugerindo que os investidores esperam que a inflação futura seja em média de 3-4%. Em muitos países, o único modo de evitar a tentação e manter a inflação baixa permanentemente é dar aos bancos centrais não apenas maior independência mas também, mais importante, uma autoridade inequívoca para garantir a estabilidade dos preços.

Aqueles que estão dançando prematuramente sobre o túmulo da inflação fariam bem em refletir sobre 1968, quando o então ministro da Economia da Alemanha, Karl Schiller, proclamou que a inflação estava "morta, tão morta quanto um prego enferrujado". Em cinco anos, a inflação havia decolado novamente nos países industrializados. Mas então, o guru da paz e amor, Timothy Leary, disse: "Se você pode se lembrar dos anos 60, você não estava realmente lá".

9 - Conhecimento é o Segredo: Parte IX

(Gazeta, 11/out/96)

A tecnologia da informação torna cada vez mais indistintos os limites entre os setores da economia, que cada vez mais produz bens “intangíveis”.

Você deve estar cansado de ouvir pela enésima vez que vivemos na "era da informação" ou da economia baseada no conhecimento", mas é verdade. As economias ricas começam a depender cada vez mais da criação, distribuição e uso da informação e do conhecimento, que envolve tanto a tecnologia quanto o capital humano. A característica mais evidente da economia que se baseia no conhecimento não é que ela produz muita informação para os consumidores embora faça isso também -, mas que usa o conhecimento de forma disseminada, como insumo e produto em toda a economia.

Um estudo recente da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), "A Economia Baseada no Conhecimento", calcula que mais de metade do PIB nos países ricos, atualmente, tem base no conhecimento, inclusive setores como telecomunicações, computadores, software, indústria farmacêutica, educação e televisão. Os setores de high-tech quase dobraram sua participação na produção industrial nas duas últimas décadas, para cerca de 25%, e os serviços de conhecimento intensivo estão crescendo de forma ainda mais rápida. De acordo com uma avaliação, "trabalhadores da área de conhecimento", desde neurocirurgiões até jornalistas, são responsáveis por oito de cada dez novos empregos.

Então, qual é a novidade? O conhecimento, isto é, encontrar formas melhores para fazer as coisas, sempre foi a fonte principal de crescimento econômico a longo prazo, desde a revolução agrícola até os dias atuais. A diferença desta vez é, primeiro, que a tecnologia da informação (TI) apressou a mudança em direção a uma economia com base no conhecimento, ao permitir que uma maior quantidade de informação fosse codificada de forma digital, facilitando a transmissão através de longas distâncias, a baixo custo. A segunda diferença é que a produção é feita cada vez mais na forma de intangíveis, com base na exploração de idéias em lugar das coisas materiais. A conversa da moda hoje é a respeito da economia "imaterial" ou "sem peso". Na medida em que a produção de aço, fios de cobre e tubos de vácuo mudou para microprocessadores, fios de fibra óptica e transistores e, enquanto os serviços aumentaram sua participação no total da economia, a produção se tornou mais leve e menos vsível. Em pronunciamento feito no início deste ano, Alan Greenspan, do Fed, ressaltou que a produção dos Estados Unidos, medida em toneladas, não é muito mais pesada agora do que era há cem anos, muito embora o PIB tenha multiplicado seu valor em 20 vezes. E, à medida que a produção se toma mais leve, toma-se também mais fácil de se movimentar. O peso médio do valor real de um dólar das exportações dos EUA é agora menos de metade do peso de 1970.

Charles Goldfinger, consultor econômico, argumenta que a mudança de bens materiais para intangíveis é a característica que define a nova economia. Não apenas serviços como finanças, comunicações e a mídia, se multiplicaram em tamanho, mas mesmo os bens tangíveis têm cada vez mais conhecimentos embutidos: pneus inteligentes que informam quando a pressão está alterada, máquinas de venda ("vending machines") que informam aos distribuidores quando necessitam de novo estoque. As inserções de intangíveis são agora responsáveis por 70% do valor do carro. E, de acordo com uma estimativa, o valor das ações de investimentos em intangíveis nos Estados Unidos (pesquisa e desenvolvimento, educação e treinamento) ultrapassou o valor das ações de capital físico durante os anos 80.

A teoria econômica tem um problema com o conhecimento: ela parece desafiar o princípio econômico básico da escassez. O conhecimento não é escasso no sentido tradicional quanto mais ele é usado e transmitido, mais ele prolifera. É diferente das mercadorias tradicionais no sentido de ser, como dizem os economistas, "infinitamente expansivo", ou "sem rival", no consumo, isto é, por mais que seja usado, ele não se esgota. Ele pode ser duplicado de forma barata e consumido muitas e muitas vezes: se alguém usa um pacote de software, não está impedindo que milhões de outras pessoas também o usem. Mas a escassez não acabou de todo. O que é escasso na nova economia é a habilidade de compreender e usar o conhecimento.

Ironicamente, nesta era da informação, a informação sobre a economia baseada no conhecimento é também escassa. O conhecimento é mais difícil de medir do que os insumos tradicionais como aço ou mão-de-obra e a falta de números confiáveis significa que áreas importantes como a conexão entre o conhecimento e o crescimento são mal-compreendidas. As estatísticas oficiais não conseguiram acompanhar o ritmo dessas mudanças, não porque os estatísticos não estivessem tentando, mas porque medir a nova economia está realmente ficando mais difícil. Aprender a medir o desempenho da economia baseada no conhecimento será um enorme desafio, de acordo com a OCDE, que agora está fazendo um esforço para coletar melhores dados sobre os insumos do conhecimento (isto é, P&D, números e cientistas), produção e taxas de retomo sobre o investimento no conhecimento. Os departamentos nacionais de estatística também precisam pôr as mãos à obra

A medida que as economias se tomam mais difíceis de ser mensuradas, também fica mais difícil tributá-las ou regulamentá-las. Um amálgama de átomos é mais fácil de classificar do que um conjunto de "bits" ou "bytes". Transações levadas a efeito via Internet podem escapar ao fiscal de impostos. A TI pode também enganar as autoridades regulamentadoras. O governo francês, por exemplo, não mais poderá proteger sua indústria de cinema da concorrência dos Estados Unidos por meio de restrições à importação. Os filmes estrangeiros penetrarão através de janelas eletrônicas que não podem ser fechadas.

9.1 Limite Tênue

Um dos problemas que os estatísticos enfrentam é que os produtos intangíveis confundem as antigas fronteiras estatísticas entre indústria e serviços. A distinção sempre foi tênue. Um jornalista de TV e rádio, por exemplo, é contado como parte do setor de serviços, mas o colega que trabalha em um jornal aumenta a estatística do setor manufatureiro. O software para automóveis que é produzido pela própria montadora é considerado parte do setor industrial, mas se for comprado de um fornecedor externo será computado como um serviço. Cerca de três quartos do valor de um típico produto "manufaturado" já tem a contribuição de atividades de serviços, tais como design, vendas e publicidade.

Andrew Wyckoff, economista da OCDE, argumenta que a TI está encorajando a convergência da indústria com os serviços. A manufatura, diz ele, está se tomando mais semelhante aos serviços. O serviço ao consumidor está ficando mais importante e os produtos estão cada vez mais sendo feitos especialmente para as necessidades individuais dos consumidores. Um exemplo é o serviço da Levi Strauss, que oferece jeans feitos sob medidas para as mulheres. As medidas são transmitidas através da Internet para a fábrica, a que permite que os jeans recebam acabamento e sejam entregues ao cliente em poucos dias.

Ao mesmo tempo, argumenta Wyckoff, os serviços estão se tomando mais parecidos com a fabricação. No passado, a produção e o consumo dos serviços tinham de coincidir no tempo e no espaço. A maioria dos serviços era como um "check up" médico: um paciente tem de ir ao departamento médico e esperar a vez. Mas agora a codificação do conhecimento em alguns serviços toma desnecessário o contato direto entre produtor e consumidor. Tais serviços podem, portanto, ser mantidos como estoques e comercializados internacionalmente. Os exemplos incluem sistemas especificados de computação que possam desempenhar tarefas legais de rotina, tais como fazer um rascunho de testamento e pacotes de contabilidade que planejam as finanças dos clientes e arquivam suas restituições de impostos. Wyckoff também espera que a TI tome os serviços mais capital-intensívos e mais produtivos, ou seja, semelhantes ao setor industrial. A má notícia é que eles também ficarão mais suscetíveis aos ciclos econômicos.

Tradicionalmente, os serviços tiveram uma trajetória mais suave no ciclo econômico do que o setor de transformação, em parte porque eles tinham uma tendência a serem protegidos da concorrência, e em parte porque os serviços não podiam ser armazenados. Por isso, os gastos sobre serviços eram menores do que, por exemplo, bens de consumo duráveis. Mas graças tanto à TI quando à maior concorrência, os serviços já estão começando a exercer um papel mais importante nos altos e baixos da economia. Por exemplo, o PIB total da Grã-Bretanha na recessão do início dos ano 90 caiu na mesma proporção da recessão de dez anos antes, mas, enquanto no início dos anos 80, os serviços eram responsáveis por menos de um décimo do volume, no início dos anos 90 eles constituíam até dois quintos da queda total da produção.

A fusão de fabricação e serviços não apenas confunde as divisões estatísticas, mas também acaba com o desacreditado velho argumento de que as políticas do governo deveriam favorecer a indústria, porque apenas o setor de transformação cria riqueza "real" e empregos "adequados". No futuro, as empresas de melhor desempenho não serão aquelas cujos governos ajudam determinados, setores, mas aquelas que desenvolvem e administram seus ativos de conhecimento com maior eficiência

9.2 Saber é Poder

Portanto, o que poderão fazer os governos para estimular a criação e a difusão do conhecimento? À primeira vista, os benefícios ampliados para outras empresas, a partir do aumento do conhecimento, seriam um bom exemplo para subsídios do governo ou para gastos em P&D. Há estudos sugerindo que a taxa anual de retomo em P&D à sociedade, de uma forma global, pode estar próxima dos 50%, o dobro do retorno privado a uma empresa individual. Incapazes de capturar todos os benefícios de seus investimentos em P&D, as empresas, portanto, podem investir muito pouco. Mas existem dúvidas quanto ao valor do envolvimento direto dos governos no incentivo à inovação. No passado, eles se provaram ruins na seleção dos vencedores e, talvez mais importante, ao descartar os perdedores. Se esse envolvimento tiver um papel no apoio à P&D, este será na pesquisa científica básica, em vez dos projetos de tecnologia de grande porte. A melhor coisa que os governos podem fazer, porém, é fornecer um ambiente econômico que seja um condutor da inovação.

A forma de se fazer isso é desregulamentar os mercados para incentivar a concorrência e remover barreiras ao desenvolvimento de novos produtos e, depois, deixar que os empresários explorem as oportunidades. Em muitos países, por exemplo, o desenvolvimento dos setores de multimídia está sendo restringido por monopólios ou restrições sobre o acesso em telecomunicações e transmissões de TV. Os governos também precisam elevar os padrões da instrução e capacitação, para deixar que suas economias tirem total proveito da TI e da expansão dos setores que dependem do conhecimento. A educação é um dos poucos setores que até agora ficou de fora da revolução tecnológica. E, no entanto, existe um enorme potencial para o uso de TI para aperfeiçoar a educação. A tecnologia jamais substituirá os professores, mas poderá dar aos estudantes das escolas mais pobres o acesso eletrônico aos melhores professores e tomar os livros mais acessíveis, por intermédio das bibliotecas eletrônicas.

9.3 Liga de Nações

Qual das grandes economias industrializadas está em melhor posição para colher os benefícios do crescimento com base no conhecimento? Os Estados Unidos estão quilômetros adiante no uso da TI (ver tabela). O país tem quase o dobro de computadores per capita de sua população, em comparação com os grandes países europeus ou o Japão, e não só em escritórios. Quase 40% dos lares norte-americanos estão equipados com um computador, três vezes mais do que o Japão e mais do que o dobro da França. O Japão está sendo contido por seu idioma, que possui milhares de caracteres, nada fáceis de se adaptar num teclado. As barreiras de mercado também mantiveram os computadores pessoais mais caros do que deveriam ser. Os EUA também lideram a olimpíada de surfistas: no início de 1996, tinham 24 conexões com a Internet para cada mil pessoas, em comparação com uma média de cerca de cinco nos grandes países europeus e apenas duas no Japão.

Os EUA também têm a imensa vantagem de um mercado de telecomunicações altamente competitivo, enquanto a Europa continental e O Japão estão sendo vagarosos na desregulamentação. A falta de competição refreou o surgimento de novos serviços de empresas de telecomunicações. As empresas americanas também são líderes na maior parte das principais tecnologias e software. O Japão tradicionalmente tem sido fraco em inovação, dependendo, em vez disso, do aperfeiçoamento das idéias de outros povos. Mas ogov6erno japonês está agora planejando aumentar o financiamento da pesquisa básica em ciência e tecnologia nos próximos cinco anos, de O,6% para 1 % do PIB, aproximando-se dos níveis americanos e europeus. Os gastos com P&D por parte das empresas japonesas, porém são consideravelmente mais elevados do que nos EUA ou na Europa, o que aparece no seu sucesso em setores de high-tech.

O verdadeiro retardatário em tecnologia é a Europa continental. As indústrias de alta tecnologia, que representam quase 40% das exportações de manufaturas dos EUA e do Japão e 33% da Grã-Bretanha, representam apenas 20% da parte da Alemanha e da França. Por este motivo, a Europa continental não apresenta um bom resultado no índice da OCDE de "vantagens comparativas demonstradas", que mede a relativa especialização das exportações de um país. (Um número acima de 100 indica uma vantagem comparativa naquele determinado setor e um número abaixo de 100 uma desvantagem comparativa). O gráfico mostra que, enquanto Estados Unidos, Grã Bretanha e Japão possuem uma vantagem comparativa em produtos de alta tecnologia, a vantagem comparativa da Alemanha está nos produtos de médio uso de tecnologia e os da França nos de baixo uso de tecnologia. O trabalho da OCDE mostra que os países que mudam para a nova tecnologia tendem a desfrutar rapidamente de maiores ganhos em empregos do que os retardatários. Se isso se confirmar, as conseqüências futuras para empregos e renda dos europeus podem ser assustadoras.

A prosperidade futura das economias dos países mais ricos vai depender tanto de sua possibilidade de inovar quanto de sua capacidade para se ajustarem à mudança. A adaptação à mudança é algo no qual os EUA tendem a ser muito bons, enquanto a Europa continental é mais inclinada a resistir a ela. A Europa tem, no momento, uma escolha evidente: pode se encolher dentro de seus mercados mais protegidos e mais rígidos, à medida que a avassaladora onda tecnológica toma impulso, ou pode saltar para bordo e embarcar numa expedição de descobertas.

10 - Parem o Mundo Que Eu Quero Descer: Parte X

(Gazeta, 14/out/96)

As mudanças trazidas pela tecnologia da informação e pela globalização ultrapassam o alcance das estatísticas oficiais e causam preocupações entre os trabalhadores e empresas, mas é essencial adaptar-se a elas.

"Estamos sofrendo, não do reumatismo da velhice, mas das dores crescentes de mudanças rapidíssimas, com os penosos reajustes entre um período econômico e outro. O aumento da eficiência técnica tem ocorrido mais velozmente do que nossa capacidade de lidar com o problema de absorção do trabalho." Um comentário sobre o cenário contemporâneo? Recuemos algumas décadas: John Maynard Keynes disse isso em 1930. O comentário serve para mostrar que o mundo já viu tudo isso antes. As pessoas sempre reclamam que o ritmo da mudança é rápido demais, quer se trate de ferrovias, quer do automóvel, quer do computador. Mas no mundo desenvolvido, graças a mudanças sempre muito rápidas, o cidadão médio de hoje goza de um padrão de vida mais elevado do que o de um rei, 200 anos atrás. Só que, freqüentemente, ele não desfruta tanto esse padrão quanto poderia: teme que tudo isso desapareça ao clicar de um mouse.

Neste mundo novo e às vezes ameaçador, a idéia que vem sendo defendida pelo manual de economia parece oferecer uma explicação útil. Na verdade, cada um dos argumentos a respeito de como a economia convencional é falha se baseia em um pouco de verdade. Entretanto, suas conclusões são erradas. É verdade que a globalização e a tecnologia tenderão a ampliar as desigualdades salariais; mas não é verdade que apenas uma pequena elite se beneficiará. Como a tecnologia da informação (TI) é mais difusa do que as tecnologias anteriores, mais empregos poderão ser perdidos; mas mais empregos também serão criados. Se capital e tecnologia podem hoje ser transferidos através das fronteiras com maior rapidez, dando às economias de baixos salários acesso a melhor maquinaria do mundo rico, vantagens comparativas também podem ser transferidas mais rapidamente do que no passado, mas isso não prejudica a causa do livre mercado.

Dois erros mais comuns estão na base de muitos dos equívocos econômicos de hoje. Em primeiro lugar, as economias estão se ajustando melhor a mudanças, por meio de movimentos relativos de preços, do que as pessoas reconhecem. E, em segundo lugar, tais transferências de preços relativos não deveriam ser entendidas erroneamente, como sinais de que a teoria é falha. Mudanças em salários relativos como um resultado da TI e da globalização, por exemplo, são exatamente o que a teoria convencional teria previsto.

Ao mesmo tempo, a fé na economia convencional pode, até certo ponto, ser minada por estatísticas econômicas enganosas. Há bons motivos para se acreditar que os números oficiais, em todo lugar, subestimam o crescimento por ampla margem. A medição estatística não é apenas uma aborrecida questão acadêmica. Afeta decisões na vida real. Os governos traçam suas políticas, o investidores apostam bilhões de dólares, com base em números talvez enganosos. Além do mais, na medida em que subestimam a verdadeira taxa de crescimento das rendas reais, as cifras oficiais tendem a exacerbar o temor de que a TI contenha muitas ameaças e ofereça poucos benefícios aos trabalhadores, aumentando, assim, sua resistência à mudança. Se o mundo precisa de novos manuais, é sobre estatísticas econômicas, não economia. Afinal de contas, se a TI realmente estimula as rendas reais, será uma pena não saber disso.

10.1 Novas Exigências

A teoria econômica nunca descreveu o mundo real completamente; é provável que jamais o faça. A competição perfeita não existe, e persistem muitas dúvidas a respeito do papel preciso da tecnologia e do capital humano no crescimento. Nessas duas áreas, os economistas estiveram fazendo algumas sérias reavaliações nos últimos anos. Entretanto, nem a TI nem a globalização subvertem as regras econômicas básicas. Na verdade, a TI resulta no oposto, fazendo com que as economias funcionem mais de acordo com o que dizem os manuais. A teoria da competição perfeita, um elemento básico do manual convencional de economia, presume com otimismo que a informação é abundante, o custo das transações é zero e não há barreiras à entrada no mercado. Computadores e telecomunicações avançados ajudam a tomar esses pressupostos menos improváveis.

A TI, e a Internet em particular, torna abundantes as informações sobre preços, produtos e oportunidades de lucros, servindo-os mais rapidamente e reduzindo seus custos. Isso, por sua vez, torna os mercados mais transparentes, permitindo que compradores e vendedores comparem preços com maior facilidade. Ao mesmo tempo, avanços em telecomunicações diminuíram o custo das transações, ao reduzir os custos das comunicações entre partes distantes do globo e ao permitir o contato direto entre compradores e vendedores, dispensando o intermediário. A TI também diminuiu as barreiras à entrada no mercado, melhorando as bases econômicas de unidades menores. Em outras palavras, as hipóteses básicas da competição perfeita estão começando a se tomar verdade. Melhor informação, baixos custos de transporte e barreiras reduzidas ajudam a tornar o mercado mais eficiente e competitivo. Ajudando a garantir que os recursos sejam alocados a seus usos mais produtivos, deverá a longo prazo estimular o crescimento econômico.

O problema é que, se as economias começarem a seguir mais de perto os manuais de economia, muita gente pode não gostar dos resultados. Exemplos de mercados eficientes, com informação abundante e custos baixos de transporte já existem nos mercados financeiros, onde os preços mudam rapidamente em resposta a mudanças de oferta e demanda. Se os mercados de produtos e trabalho se tomarem mais eficientes e começarem e se comportar mais como os mercados financeiros, os preços e salários relativos também poderão se mover mais rapidamente (e, portanto, mais penosamente), dando às empresas e trabalhadores menos tempo para se ajustarem.

Embora nem a TI nem a globalização exijam que as normas básicas da economia sejam reescritas, exigem que os responsáveis pelas instâncias decisórias compreendam melhor os fundamentos econômicos, para responder à mudança rápida e à maior incerteza do modo mais apropriado. O modo errado é os governos usarem protecionismo e subsídios para resguardar trabalhadores e empresas da mudança; isso também protege as economias de poderosas fontes de crescimento. Em vez disso, a tarefa dos governos é dar às pessoas as ferramentas de que precisam para enfrentar melhor as mudanças. Só então as economias desfrutarão plenamente dos ganhos de produtividade que a TI é capaz de distribuir.

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